Natsu pov's
"Havia um túnel, escuro e frio. No fim, a luz branca da esperança brilhava. Podia sentir, estava perto, ela estava perto. Apressei o passo, a luz branca me envolveu, quente e acolhedora. E então, um grito.
- Socorro! Alguém, por favor! - a voz suplicava. Abri meus olhos e tentei encontrar quem gritava, apesar de já saber. Era ela. Sempre ela. - Alguém, por favor, me salve. - a voz caiu para um sussurro. Tentei andar em sua direção, mas algo me impedia de continuar, como se houvessem correntes me puxando de volta para a negritude sufocante. Forcei-me a seguir em frente, lutando contra tudo que havia em mim.
E lá estava ela, em meio a um tornado negro, ajoelhada, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Estendi a mão para tentar alcança - lá. Gritei seu nome, apesar de não ouvir minha própria voz, mas ela sim. Ela levantou o rosto, os cabelos brilhando mais do que nunca, e também estendeu mão. Nossos dedos roçaram de leve. Senti minha pele queimar com a intensidade do seu toque. Agarrei sua mão e relaxei, eu tinha conseguido.
- Não! Vá, fuja! - ela gritou de repente, senti os seus dedos escorregarem, para em seguida se soltarem por completo. Fui puxado para o abismo. Era isso. Eu a tinha perdido. "
- Não! - acordei com um sobressalto. Outro sonho. Mas dessa vez fora diferente, mais real do que os outros. Meu corpo estava coberto de suor e meu peito doía, como se houvessem aberto um buraco. Levei um tempo para perceber que estava chorando, lágrimas quentes caiam dos meus olhos deixando marcas no lençol. Enxuguei-as e olhei para baixo, lá estava a fita azul do cabelo da Lucy, Happy deve tê-la deixado cair quando eu o enxotei da cama.
Segurei-a entre os dedos, o rosto da garota chorando apareceu novamente na minha cabeça. Balancei-a com força para limpar as ideias e olhei para o relógio, não eram nem 4 da manhã. Com um suspiro, abri a janela e fui tomar um banho, o cheiro familiar do sabonete me ajudou a esfriar a cabeça e a água gelada parecia estar fervendo em contato com a pele. Nada fazia sentido. Voltei para o quarto e parei a janela.
A noite - ou quem sabe o dia- estava nublada, tempestuosa, parecia que o céu chorava. Esperei até sentir as gotas de chuva tocarem minha pele para finalmente fechá-la e voltar para a cama, mesmo sabendo que, uma vez acordado, não conseguiria dormir novamente. Encarei o teto, ouvindo o ruído enquanto minha cabeça girava em torno de uma única pergunta: o que esses sonhos significam?
***
- Mas que droga! Por que eu tenho que ir? - reclamei empurrado. Havia dormido pouquíssimo e o que havia, tinha sido um sono povoado por sonhos e pesadelos.
- Você já faltou ontem. - falou Gray enquanto corríamos para a escola, novamente atrasados. - Vai se meter encrencas.
- Isso não explica por que eu tenho que ir hoje. - teimei.
- O professor Gildarts vai ficar uma fera com você. - ele suspirou. - E você não quer ver isso, não é? - Balancei a cabeça, negando. Como se já não bastasse aquele trabalho, ele ainda... Parei de correr. "O trabalho... Esqueci a merda do trabalho!" Droga, a Lucy ia me matar!
- Não posso ir. - falei me virando para voltar. Droga, por que ela não tinha dito nada ontem.
- Tarde demais. - ele falou me agarrando pelo cachecol e me puxando até a sala.
- Me solta! Eu não posso! O professor Gildarts vai me transformar em carne moída. - gritei tentando me soltar.
- Quem vai fazer transformá-lo em carne moída? - uma voz surgiu as minhas costas. Tremi de medo e me virei para ver. Lá estava Gildarts, com os braços cruzados e me encarando de maneira bastante séria.
- O meu gato, senhor. - falei a primeira coisa que me veio à cabeça. - Já disse o quanto as unhas dele são afiadas? - sorri sem graça.
- Hmm... - ele me olhou desconfiado - Enfim, eu só queria te parabenizar pelo ótimo trabalho que você e a Lucy fizeram.
- Trabalho? - perguntei confuso.
- É, aquele que a Lucy me entregou ontem quando você faltou. - ele estreitou os olhos. - Ela disse que você tinha feito a maior parte dele.
- Ah! Sei... Esse trabalho... Foi muito difícil, mas nos conseguimos. - falei suando frio, com medo de ser pego na mentira. - Olha lá, a Lucy está me chamando. Vou indo. - me afastei o mais rápido possível dele. - Lucy, você é incrível! - gritei assustando ela, que estava dormindo sobre a cadeira.
- O quê? - ela acordou com um pulo. - Ah, é só você. - bocejou esfregando os olhos.
- Como conseguiu fazer o trabalho a tempo? - perguntei ainda impressionado.
- Segredo. - ela piscou e sorriu.
- Me conta, vai... - implorei sentando no meu lugar atrás dela. Ela se virou para me encarar com uma expressão pensativa. - Se você me contar, eu te conto um segredo. - ela lá sorriu com a chantagem.
- Fechado. - ela estendeu a mão que eu apertei. - Não fui eu que fiz. - sorriu.
- O quê? - perguntei espantado e decepcionado.
- Foi a Erza. Eu nem estava lembrando. Dessa vez ela salvo a minha e a sua pele.
- FALSA! - me virei desviando o olhar para a janela.
- O quê?! Você que quis saber. - deu de ombros - Agora é sua vez de contar. - fiz uma expressão pensativa, como ela.
- Não sei se devo. - provoquei. Em resposta ela olhou em volta e, quando viu que não havia ninguém prestando atenção, pegou o caderno e bateu com ele na minha cabeça. - Ai! OK, eu conto, mas só na hora do intervalo. - ela me olhou irritada. Dei de ombros.
Pode ser impressão minha, mas as aulas passaram bem mais rápido do que o normal. E quando percebi, já era hora do intervalo.
- Vai Natsu, me conta agora. Você prometeu! - eu ri da cara que ela fez.
- Ok, mas vamos lá pra fora. - ela assentiu e me seguiu até uma árvore mais afastada da escola. Ela fez um sinal de reprovação quando eu me sentei para me escorar no tronco. - O que foi?
- Podemos ir para outro lugar?
- Por quê? - perguntei sem entender. Ela me encarou firmemente.
- Por que foi aqui que tudo aconteceu. - Eu sabia do que ela estava falando. Suspirei, mas não me mexi.
- É sobre isso que eu quero falar.
- E o que tem haver com o segredo? - perguntou confusa, sentando na grama e abraçando os joelhos.
- Eu... - Respirei fundo - Lucy, - chamei fazendo-a olhar para mim. - Eu queria acreditar. Aí depois, a ficha caiu e...
- Você percebeu a verdade, não é? Eu... - a interrompi.
- Por favor, não me venha com essa de "eu te disse"? - resmunguei e ela riu.
- Eu não ia falar isso, mas estava pensando. - acrescentou. Balancei a cabeça, o que foi que eu disse? - Eu só queria pedir desculpas também. Eu falei muita merda pra você, mesmo sabendo que seria um choque tanto pra você quanto pra mim. - assenti. Um silêncio incômodo se instalou entre nós. - Ei, você ainda não me contou o segredo! - ela lembrou.
- É mesmo, né? - falei sem olhar para ela. - Eu terminei com a Lisanna.
- E...?
- Como assim "e"? Você não ouviu o que eu disse?
- Ouvi. Estava querendo saber o que você vai fazer agora.
- Vou chamar você pra sair. - disse brincando. - E então, você aceita? - fechei os olhos, esperando pela tapa que ela daria na minha cabeça. Mas quando esta não aconteceu, abri os olhos e a encontrei olhando para mim com as bochechas vermelhas.
- Quan... quando? - me surpreendi.
- Hoje à noite? - arrisquei. Ela assentiu, abrindo um enorme sorriso. - Se eu soubesse que o resultado seria esse, teria convidado há mais tempo. - suspirei.
- Idiota! - falou se levantando e batendo de leve na minha cabeça. - Vamos entrar?
- Sim, vamos! - me pus de pé com um pulo e corri com ela de volta para a escola. Só esperava que tudo desse certo.
***
Levy pov’s
Finalmente! Eu sempre soube que esse dia chegaria. Desde a primeira vez que os vira juntos. Agora tudo que se precisava fazer era esperar. Era hoje que eu pegaria o Natsu e a Lu-chan juntos. Tinha ouvido muito bom quando ele disse que havia terminado com a Lisanna, e quando a havia convidado para um encontro. Por sorte, a árvore onde eu estava lendo era perto da que eles estavam conversando. É, por sorte.
Virei a esquina sem perceber e parei para olhar onde eu me encontrava. Com certeza não era no meu apartamento. Como já era fim de tarde, o beco estava escuro e um vento forte soprava. Cruzei os braços para me aquecer e me virei para sair dali o mais rápido possível, mas a entrada estava bloqueada por três trogloditas com sorrisos assustadores no rosto e, pra piorar ainda mais a situação, claro que eu tinha que entrar logo em um beco sem saída.
- Olha só o que encontramos... - um deles falou mostrando os dentes. Dei um passo involuntário para trás.
- Ah, mas ela não dá nem pra brincar. – o outro de boné me olhou dos pés à cabeça. Senti um arrepio gelado subir pela minha espinha. - É tão tábua que nem é comível. - meu rosto ardeu de raiva. Quem esses caras pensam que são pra me chamar de tábua?
- Vamos lá, ela é só o aperitivo. - o cara que parecia ser o líder caminhou até onde eu estava.
Encarei-o sem um pingo de medo, a raiva ainda fervendo nas veias. Ele me encarou de volta com um sorriso debochado e deu um passo a frente. Recuei mais um passo. Não foi o suficiente. Sua mão agarrou meu braço com força e eu vi os outros se aproximarem por trás dele.
O pânico invadiu meu peito. Então era assim que tudo ia terminar? Senti suas mãos puxarem a gola do uniforme e lutei para impedi as lágrimas. Fechei os olhos, não queria ver, quanto antes terminasse melhor seria. Onde estava o príncipe encantado numa hora dessas?
- Ei seus filhos da Puta! Deixem-na em paz! - gritou uma voz familiar. Um segundo depois a pressão na minha gola sumiu e meu braço foi solto bruscamente com um puxão. Abri os olhos e fitei a figura alta a minha frente formando uma barreira entra mim e os estupradores. Mas era... Gajeel! - Você está bem, baixinha? - falou sem me olhar. Assenti, ainda muda pelo choque. Não era o príncipe encantado, estava mais para o vilão malvado. - Agora, quem disse que ela era tábua e não comível? - ele deu um passo a frente e o cara que havia me agarrado - que agora ostentava um olho roxo - recuou em direção a saída. - Voltem aqui, eu ainda não acabei.
Gajeel avançou e os outros dois se juntaram para proteger o líder. Um recebeu um soco no rosto e um filete de sangue escorreu do seu nariz, o que o fez recuar alguns passos. O outro tentou socá-lo, mas ele desviou com facilidade e puxou o braço estendido para baixo acertando sua cabeça com joelho. Este caiu no chão, desmaiado.
A essa altura o líder já tinha fugido e o capanga que ainda estava de pé tentou segui-lo, mas Gajeel o segurou pelas costas empurrando seu corpo ao encontro da parede e torcendo seu braço prendendo-o entre os ombros.
- E isso é o que acontece com quem persegue garotinhas indefesas. - falou dobrando o pulso do outro e batendo sua cabeça contra a parede. Gajeel deixou o corpo cair no chão, limpou as mãos na calça e se dirigiu a mim. - Você está bem? - repetiu e eu percebi que minhas mãos tremiam.
- Vou ficar. - respondi, a voz oscilando. - O que está fazendo aqui?
- Você deixou isso cair. - ele puxou um livro do casaco e o estendeu. Reconheci como sendo o que eu havia pegado da biblioteca mais cedo. Estendi a mão e abracei o livro contra o corpo, na esperança de que me passasse algum conforto. - Acho melhor você sentar, esta mais branca que o normal. - ele falou parecendo preocupado enquanto me puxava para longe do beco em direção a um dos bancos da praça ali perto.
Ele sentou ao meu lado e observou enquanto eu abria o livro e buscava nas palavras um momento de fuga da realidade. Não funcionou. As letras começaram a se embaralhar e a girar em um turbilhão furioso. Senti meus olhos se fechando e logo a escuridão se tornou total.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.