1. Spirit Fanfics >
  2. Meu Carma >
  3. Caos

História Meu Carma - Caos


Escrita por: Lyv__

Notas do Autor


Eu tava inspirada, então o capítulo saiu melhorzinho. Spoiler: tá bem clichê. Espero que gostem. ❤

Capítulo 31 - Caos


Foi durante o jantar que Andrew teve um colapso nervoso. Foi estranho, intenso e engraçado ao mesmo tempo. Em meio ao jantar, enquanto comíamos algum prato requintado e fino o qual eu não fazia ideia do que era exatamente, Andrew levantou-se de forma abrupta, segurando fortemente o garfo em uma das mãos.

Charlie, que estava em pé com as mãos juntas uma na outra, ao lado da mesa, lançou-me um olhar preocupado e a correspondi com um olhar parecido. Sem dizer nada, o segui pelo estreito corredor onde exatamente ficava o famoso escritório. O corredor estava vazio e todas as portas estavam fechadas, entretanto, eu sabia que ele estava ali. O escritório era seu porto seguro; sua forma sólida de escape quando as coisas não iam bem. Exatamente como estava acontecendo no momento.

Bati uma vez e esperei em silêncio por uma resposta.

— Não entre! — vociferou Andrew do outro lado.

Convicta de minha escolha, desobedeci seu mandato, fechando cautelosamente a porta às minhas costas em seguida. Olhei para Andrew e pude capturar com o olhar a personificação do caos: o cabelo preto estava completamente bagunçado, deixando vários fios cobrir-lhe as pálpebras; as sobrancelhas estavam unidas, evidenciando sua profunda carranca; seus olhos estavam injetados em sangue; as veias de seus braços e pescoço estavam saltadas de uma forma que eu jamais vira antes; sua respiração áspera era totalmente audível naquele cômodo, que no momento aparentara ter encolhido tanto, retirando de forma quase impossível o ar que antes ali havia.

O garfo ainda empunhado em sua mão transmitia uma mensagem clara e estranhamente hilária: "não se aproxime!"

— Não ouviu o que eu disse? — vociferou Andrew mais uma vez — Eu disse em alto e bom som para que não entrasse.

— É, eu ouvi, mas não costumo obedecer certas ordens de qualquer maneira. — repliquei tentando ao máximo conter um sorriso.

Andrew bufou enquanto caminhava de um lado a outro.

— Que tal largar esse garfo? — indaguei, tentando aproximar-me cautelosamente para que pudesse tirar o maldito talher de sua mão — Sabe como é, não quero ser atacada por alguém empunhando um garfo.

Antes que eu pudesse finalmente segurar sua mão, Andrew largou o garfo para que caísse em um pilha de livros no chão e, ainda claramente furioso, tornou a caminhar de um lado ao outro.

— Ok, por que você não se senta e então, podemos conversar sobre isso? Seja lá o que isso for. — eu disse, murmurando a última parte.

— Você não entende! — gritou, agarrando o cabelo como um lunático — Era para... para eu ter matado Logan. A todo momento a visão da mão dele tocando você invade meus pensamentos.

Respirei fundo, finalmente entendendo o que estava acontecendo.

— Andrew, está tudo bem, estamos aqui agora e...

— Viu?! — interrompeu-me, as sobrancelhas arqueadas, os olhos azuis brilhavam de forma estranha — Você não entende. Era para ele ter o que merecia. A morte. — riu em seguida, mesmo não havendo humor.

— Você está ouvindo o que está dizendo? — indaguei, sentindo a confusão e a irritação crescerem gradativamente em meu peito — Parece a porra de um psicopata.

— Eu preciso bater em alguém. — disse Andrew mais para si mesmo do que para mim, ignorando minha fala dita anteriormente.

Aproximando-me da enorme mesa de carvalho, procurei por algo para ser usado no momento. Algo perfeito e quebrável. Essa palavra existe, certo? Espero que sim.

Em minha pequena busca, encontrei uma taça, a qual Andrew sempre costuma tomar vinho.

— Aqui — eu disse, mostrando para ele a taça perfeita em minha mão — tente isso.

— O quê? — indagou Andrew, a voz soando confusa, porém seu semblante ainda carregava raiva.

— Eu percebi que você quebra coisas quando está nervosinho. — expliquei — Vamos, tente isso. Talvez ajude.

Tomou a taça de minha mão abruptamente, e ainda observando-o, sentei-me sobre a mesa de carvalho. Andrew encarou a taça em sua mão por mais alguns segundos, como se estivesse decidindo mentalmente se era mesmo uma boa ideia arremessar a taça contra o chão.

Em silêncio, Andrew jogou a taça com força sobre o piso perfeitamente encerado. 

— Ótimo! — exclamei, batendo palminhas no ar — Está se sentindo um pouco melhor?

— Acho que sim.

— Então tente outra coisa. — aconselhei.

Decidido, Andrew atravessou o escritório agarrando em seguida um vaso — aparentemente muito caro — e jogou-o contra a parede, estraçalhando-o em míseros pedaços que voaram pelo ar, encontrando-se com o chão em segundos.

Dessa vez, claramente convicto de suas ações, deu continuidade em sua destruição. Migrou diretamente aos livros nas prateleiras, nos papéis e pastas na mesa que, em um piscar de olhos, encontravam-se no chão, cobrindo-o parcialmente de tralhas. Agora, o caos não estava apenas na sua cabeça e em sua aparência. Agora estava ali, cobrindo cada centímetro daquele cômodo.

Olhei para a estante ao meu lado, os livros ali ainda continuavam intactos, juntamente com a coleção — peculiar — de globos de neve de Andrew. Estiquei o braço, pegando um globo qualquer.

— Hey, tente com isso. — balancei o globo à minha frente, para chamar a atenção de Andrew.

De repente, a tensão em suas sobrancelhas — e de todo seu rosto — suavizou, dando lugar a uma expressão... preocupada?

— Ah — começou — mas são meus globos de neve.

— Fala sério! — exclamei — Você é como se fosse o Batman. — Vi a confusão tomar conta de seu rosto por um momento — Você sabe... — expliquei — Em relação ao dinheiro e tudo mais. E de qualquer maneira, são apenas alguns globos. E pelo amor de Deus, você trabalha para Lúcifer, pode ter quantos globos de neve quiser!

— Tem razão. — pegou o globo de minha mão, olhando-o atentamente antes de jogá-lo contra a parede, como se estivesse guardando na memória a última visão que teria do pequeno objeto.

Saí de cima da mesa, pegando em outro globo de neve, jogando-o fortemente contra o chão. Continuamos arremessando-os contras as paredes e piso enquanto ríamos. Se alguém nos encontrassem ali, naquele estado, diria que éramos loucos. E, quem sabe, éramos mesmo.

É claro que, a porta foi aberta, revelando uma Charlotte com a expressão em total horror ao ver a bagunça do cômodo.

— Hey, Charlie! — exclamei, levantando os braços — Junte-se a nós!

— O que está acontecendo aqui? — gritou Charlotte, ainda parada próxima ao batente da porta.

— Uma festa. — respondeu Andrew, sorrindo — Mas se veio ser uma chata, então não está convidada.

— Sr. Andrew! — exclamou ela, a voz soando irritada — Fique sabendo que não irei limpar isso.

— Muito menos eu. — retrucou Andrew, indiferente.

— Foooooda-se. — gritei, exagerando na palavra. — Está se sentindo bem, Andrew?

— Melhor impossível. — respondeu, depositando um selinho em meus lábios em seguida.

***

A noite atravessava a cortina do meu quarto, fazendo-a tremular devido a uma brisa gelada que atreveu-se a entrar. Os lençóis da cama pareciam tão finos, ao ponto de não esquentarem meu corpo.

Mudei a posição do meu corpo sobre a cama para então observar através da janela. Buscava a luz da lua, mas é claro que ela não estava no céu. O céu do submundo não passava de nuvens pesadas que nunca derramam suas gotas de chuva ou quem sabe, sua neve. Eram apenas nuvens, acobertando uma claridade quase nula. Era apenas uma noite escura, sem estrelas e sem a tão querida lua.

Era tudo, sem dúvida, deprimente.

Já era quase meia-noite, provavelmente. Não tinha como eu ter certeza já que o quarto o qual eu estava não continha um relógio sequer, e meu celular estava do outro lado do quarto, descarregado. Ótimo.

Sentei-me sobre a cama, olhando em volta, colocando em ordem meus pensamentos embaralhados. Era certo que uma maldita insônia ameaçava alastrar-se em meu corpo, mesmo com todos os acontecimentos ocorridos em um único dia. O certo era para eu estar exausta e sonolenta, mas, aparentemente, meu organismo não dava-se conta disso.

Pensei, então, sair e vagar pelo castelo. Talvez ir à biblioteca, ler um bom livro e esperar ansiosamente pela chegada do sono. Ou, quem sabe, ir à cozinha e preparar um chá.

Decidida, levantei-me e encaminhei-me em direção à porta, abrindo-a devagar e com cautela, tomando o maior cuidado para evitar ruídos maiores. Meus pés descalços não faziam barulho no tapete vermelho, o que já era ótimo.

Com cuidado, bati lentamente na superfície amadeirada da porta do quarto de Andrew. Contei até dez para bater novamente. Nada. Sabia que no andar de cima éramos os únicos a ocuparem os quartos, de qualquer forma não queria fazer um alarde, já que era tão tarde da noite.

Atrevi-me a abrir a porta. Olhei rapidamente para dentro do quarto apenas para justificar minha suspeita: estava vazio. Pensei em entrar e esperar por Andrew, pois uma hora ou outra ele voltaria ao quarto. Porém, descartei no mesmo instante. Sabia de como funciona sua vida no submundo: durante o dia, simplesmente sumia, pois precisava dormir. E, durante a noite, trancava-se no escritório pondo-se a trabalhar.

Não queria de forma alguma atrapalhá-lo, mas acima de todas as coisas, precisava vê-lo, e quem sabe, conversar um pouco. Porque, simplesmente, amava nossas conversas.

Segui corredor adentro, pisando com cuidado sobre o tapete vermelho felpudo que estendia-se por todo o piso até chegar ao início da enorme escada.

Atravessando o salão principal e entrando finalmente no estreito corredor que dava acesso às outras salas, bati na porta do escritório de Andrew. O barulho das batidas ecoou pelo corredor, aparentando que o barulho fosse bem mais alto. Desejava intimamente que não passasse apenas de uma impressão.

— Pode entrar! — Andrew falou do outro lado.

Obedeci e, claramente nervosa — sem um motivo aparente — adentrei o cômodo, fechando lentamente a porta às minhas costas. Olhei em volta, percebendo que a bagunça feita a apenas algumas horas atrás já havia sido arrumada. Era como se nada tivesse acontecido. Com uma olhadela rápida pela estante de livros impecavelmente arrumada, vi o espaço vago de onde ficava os globos ali e, tive que conter uma risada ao lembrar-me da bagunça um tanto desnecessária que fizemos.

Andrew estava sentado na cadeira do outro lado da mesa, de costas para mim. Uma nova taça havia sido substituída e agora estava ali sobre a mesa, contendo vinho até a metade.

— Está sem sono? — indagou Andrew ainda de costas.

— Aparentemente. — respondi, observando o crepitar do fogo na lareira.

— Aconselho uma xícara de chá quente. Só assim para que o sono venha logo.

— Você não aconselha nada aqui, apenas eu, naturalmente. — pude ouvi-lo suspirar em resposta. — O que está fazendo?

— Nada de interessante. — respondeu, virando finalmente a cadeira para que pudéssemos nos ver. Pude ver um caderno de desenho em sua mão e o momento em que repousou o pequeno caderno sobre a mesa.

— Você desenha? — indaguei, aproximando-me de sua cadeira. — Bom, vou sentar em seu colo, se não se importa. Não pense que estou tentando jogar algum tipo de charme para seduzir você. — mas se pensar assim, ótimo, acrescento em pensamento.

Espera... oi?! Xingo-me intimamente apenas pelo fato de ter pensamentos e atitudes estranhas quando estamos próximos um do outro. Sua presença instiga tudo o que há de mais estranho em mim, e até o momento, não consigo responder a mim mesma se é algo bom ou ruim.

Andrew não retruca quanto a minha atitude — de sentar em seu colo — para observar o desenho. Atenta nos traços perfeitos deixados no papel, percebo, mesmo que ainda não querendo de fato crer, que era um desenho meu. Um retrato ou qualquer coisa parecida. Era eu desenhada ali, com uma assinatura perfeita assinalada rente ao fim da folha: Andy Biersack.

Senti, por um breve momento, meu coração palpitar em meu peito.

— E então — indagou Andrew, a voz saindo em um sussurro — o que achou?

— É bem ruim. Eu faria melhor.

Mesmo que meus olhos não estivessem atentos em seu rosto, sabia que no exato momento, um revirar de olhos havia sido feito.

— Estou brincando. — sorri, voltando a fitá-lo — Está lindo, Andrew. Cada detalhe.

— Você é minha inspiração. — ele diz enquanto encara os próprios dedos empurrando uma mecha de meu cabelo para trás de minha orelha.

— Você é tão brega. — foi a minha vez de revirar os olhos.

— Vai dizer que não gosta?

— Sim, eu gosto. — admito — Apenas não exagere.

— Ok. — cedeu, acompanhado de um sorriso.

Deixamos que um silêncio pairasse o ar. Um silêncio acolhedor que, de certa forma, sabíamos que era o tipo de silêncio o qual estávamos acostumados. O tipo de silêncio que dizia tudo. Tinha vezes, mesmo que poucas, que eu desejava saber o que ele tanto pensava. Mas, em momentos como aqueles, isso simplesmente não importava. Estávamos em um lugar só nosso: um ponto imperceptível no meio do universo, onde não dávamos à mínima para os problemas ou para os pesares que tomavam conta de nossos pensamentos. Ali tudo era infinito, inclusive nossa felicidade.

Mas é claro, o efeito acabou. De repente, não estávamos mais no nosso mundo, nosso ponto imperceptível. Estávamos de volta ali, ao caos, aos problemas, ao inferno. Literalmente ao inferno.

Vi a expressão de angústia tomar conta de seu rosto, fazendo apertar meu coração em meu peito. Suas sobrancelhas antes suaves, estavam agora tensas.

— O que foi? — sussurrei.

— Eu não sei. — respondeu, os lábios estavam trêmulos — É essa merda toda. Os arcanjos, eles...

— Andrew... — interromepi, trazendo sua mão ao pingente do cordão que Beth havia presenteado-me. Antes de prosseguir, tive uma breve guerra interna comigo mesma sobre dizer ou não o poder que o pequeno pingente carregava — Não vamos falar disso agora, por favor. — fechei os olhos, recostando minha testa na dele, sentindo sua respiração quente e compassada próxima ao meu rosto. — Vai ficar tudo bem.

E antes de qualquer outra coisa, nos beijamos. Eu sabia que meu corpo ansiava por seu toque há tanto tempo devido aos músculos que de um segundo a outro relaxaram, ou de como a tensão de minhas sobrancelhas sumiram após meus olhos fecharem-se novamente. Tudo era estranhamente sincronizado quando sua boca estava na minha e nada mais importava.

Não pude conter e, meus braços já encontravam-se ao redor de sua nuca, puxando-o para perto aprofundando o beijo. Memórias aleatórias da minha vida passada vieram à tona quando senti a mão de Andrew em minha cintura. Em seguida, os lugares que desejavam ser tocados por ele afloraram: nuca, cabelo, rosto, coxas, costas... Em silêncio e em pensamento, eu implorava por mais contato físico. Eu implorava por tê-lo mais próximo o possível de mim.

— Ok, ok — sussurrou ao respirar fundo — pode parecer estranho, mas preciso saber se não quer jogar Paciência ou qualquer outro jogo que envolva cartas.

— O quê? — indaguei confusa — O que está querendo dizer?

Por favor, outra história envolvendo uma Santa de novo, não.

— Não acho que seja prudente continuarmos nos beijando dessa forma. Então vamos nos afastar, jogar um pouco e mais tarde voltamos de onde paramos.

— Mas... mas eu quero continuar.

— Está falando sério? — arqueou as sobrancelhas em surpresa. Assenti em silêncio — Certeza? — tornei a concordar — Bom, então acho que não apresentei minha cama corretamente a você.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...