História {Meu} Coração de Veludo - Sorriso Indecente

Imersa na banheira permanecia a fitar o teto, tentando relaxar. Esquecer o dia estressante que tive, com tempero de Alice. Acabei revirando os olhos e me remexendo na banheira, descendo os olhos até o espelho, aonde podia ver meus joelhos despontando na banheira.
Ergui a perna distraidamente, e a girei no ar. Era bonita e torneada, parecia quase estar sendo oferecida à alguém.

"Oferecida à alguém..."

Fechei os olhos e me arrepiei toda, mesmo dentro da água quente, enquanto lembrava da sensação formigante das mãos dele, e em seguida o rosto, com barba rala passando pela pele macia, me beijando os pés, as canelas, até as coxas. O sorriso de canto, indecente estampado no rosto, olhando fixamente minha ansiedade e aflição.

- Uff... - Me remexi novamente e encolhi as pernas, apertando uma contra outra, bem juntas, enquanto tentava tirar as memória de Luke da cabeça - Maldito seja Luke, maldito seja.

Praguejei o nome, com algo de melancólico e doloroso, olhos abertos presos no nada. A dor da morte dele já havia passado, o que incomodava era a falta da aceitação. Havia mais de um ano que a policia deu o laudo da morte dele, suicídio. No início, com o choque, e a agitação de tê-lo encontrado caído no meio de sua sala-de estar, sangrando e mal ter visto de onde aquele sangue todo vinha, pareceu-me lícito.

"Mas não estava certo... Luke andava bem!"

Teimei comigo mesma, desde que ficamos juntos ele melhorava cada vez mais de seu transtorno, cada vez mais parecia um militar inatingível, tanto física quanto psicológicamente. Firme, inflexível.

- Não há possibilidade de ter sido mesmo um surto...

Ponderei sobre aquilo durante muito tempo, revendo as cenas de câmeras de segurança mentalmente, imagens do corpo, laudos períciais, nada se encaixava com um suicídio. Quando me dei conta, a àgua estava esfriando. Suspirei e voltei a ligar a torneira, deixando a àgua fria escoar na mesma proporção, enquanto lavava os cabelos e esfregava o corpo, voltando a divagar naquele sorriso maroto que ele tinha.

" - Fica linda nua... "

Sorri de canto, já estava ouvindo até a voz, grave dele, não rouca e amaciada, como o arranhar de tecido na pele, Luke tinha a voz semelhante à um estrondo. Quando me dei conta já estava com uma das mãos entre as pernas, esfregando demasiadamente o sabonete ali. Neguei com a cabeça e o coloquei de volta em seu lugar, me enxaguando e voltando a relaxar agora na àgua quentinha.

- Podíamos ter feito amor... - Conclui, revirando os olhos a mim mesma, e levantando da banheira, terminando a me secar e enrolada na toalha, recolher as roupas do chão, as pondo no cesto das roupas sujas. - Culpa do meu cu, doce.

Deixei o banheiro, enquanto passava o tecido nas costas, virilhas, seios, e por fim secando os cabelos, então pendurando a toalha e me jogando sozinha na cama, ainda nua. Me estiquei e suspirei longamente.
Agarrando as cobertas com uma das mãos e rolando pela cama até fazer meu próprio casulo. Escondida do frio e encolida ali, sozinha, ao menos até Ruffles chegar, subindo na cama, com suas patinhas felpudas e seu barulhinho de guizo. Encarei o gato, que me encarava de volta, como se dizendo algo em silêncio.

- Eu sei o que quer dizer, que preciso de um namorado. - O maldito miou em resposta e se deitou, ainda me encarando. - Não quero mais namorar. - Outro miado, bufei e virei as costas ao gato, que rebelde se aninhou em minha cabeça. E assim, dormimos.