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História Meu errado professor - No ensino médio, não faça acordos com o diabo


Escrita por: Fiona57

Notas do Autor


OLÁAAAA, tô muito animada hoje gente, bebi 5 litros de café e comi chocolate. Alguém me amarra na cadeira que eu não tô me aguentandooooooOOOUUOooUouoOOOuuu

Babies, chega mais, eu me atrasei. EU SEI, NÃO PRECISA ME ACUSAR. AHUSHAU, tive uma semana porreta de trabalho, mal me aguentei em pé, só queria minha cama e ainda fui obrigada a estudar como uma louca condenada (valeu Agatha). Resumindo, não postei foi nada e ainda demorei horrores p editar. PORÉM, aqui estou.

Agradeço demais os comentários, a cada dia me surpreendo mais! Você que fica se escondendo nas sombras das visualizações, VEM FALAR CMG, os comentários dessa fic estão sempre abertos p você.

Divirtam-se :*

Capítulo 5 - No ensino médio, não faça acordos com o diabo


Fanfic / Fanfiction Meu errado professor - No ensino médio, não faça acordos com o diabo

Sakura Haruno

 

— Acha que eles vão recuperar? — Ino perguntou, derrubando metade de suas batatas fritas enquanto se sentava ao meu lado, na arquibancada de ferro.

— Não dá mais tempo. Outro jogo para o mural da vergonha. — respondi, erguendo as sobrancelhas, analisando a surra que o time de futebol da Sombra da Folha estava levando.

Kiba, encharcado de suor, corria pelo campo com uma expressão de quem mataria um quando saísse dali.

— Eles deram muito duro pra isso — Ino não estava prestando atenção no jogo pelo apreço a esportes. Tinha algo a mais naquela sua intensa concentração — Nem todos na verdade — revirou os olhos.

E à nossa esquerda, na parte inferior da arquibancada, o grupo das líderes de torcida estava reunido, com seus lábios brilhosos de gloss de morango e cabelos perfeitamente penteados em marias-chiquinhas. Óbvio que Ino estava marcando território, ninguém assiste quarenta e cinco minutos de um amistoso com a ferocidade que ela carregava nos olhos. Nem os jogadores.

Shino Aburame, o geek da nossa 3001, levou uma bolada na cara depois de passar segundos babando nas roupas escandalosas — e indecentes — das garotas de pompons.

— Idiota! — Yamanaka berrou sobressaltada e fez o palerma do Shino se assustar de novo — Garotos são tão nojentos!

Cruzou os braços e se sentou. Eu, como já pretendia fazer quando aceitei o convite para assistir à partida, permaneci mastigando Bisuko — escondendo o potinho de biscoito da vista das meninas, que sempre devoravam meu lanchinho — observando o fluxo de alunos despistarem de suas responsabilidades usando a desculpa do jogo de futebol.

Parados perto dos grandes placares de led desativados, o técnico do time Sombra da Folha, senhor Maito, discutia com o professor de matemática, e sisudo ao lado de ambos estava Kakashi.

Eu não detestava história, só preferia quando não era ensinada fervorosamente, a ponto de me fazer suar gotas de sangue. O que era exatamente o que o professor Hatake estava fazendo se tornar.

— A falta de controle hormonal durante a adolescência agrava o quadro, por quanto as meninas possuem acompanhamento em ginecologistas, os garotos são criados como animais irracionais que não precisam de travas — Temari parou o discurso para suspirar e repuxar o canto dos lábios, trevosa com seu conjunto preto de cropped e calça esportiva.

Eu e Ino nos entreolhamos discretamente, e meu intervalo em mastigar o biscoitinho recheado falou por si só.

— Homens são babacas — se rendeu, traduzindo para o nosso idioma.

— Isso! Babacas! — Ino se empolgou, levantando da arquibancada e salivando entredentes — Concentrem no jogo!

Mirei meus olhos com mais afinco e lá estava a razão daquilo: Sai cochichava à chefe das líderes de torcida, Karin Uzumaki. Pois o barraco estava armado, Ino iria fatiá-lo com um machadinho. Ela era como a Rihanna em seus videoclipes.

— Eles não vão ter muita chance nas finais — murmurei. Não sou especialista em futebol, mas aquilo não me parecia certo.

— Sakura, eles nem vão chegar nas finais — Temari puxou a bolsa preta, completando o visual gótico do dia e ficando em pé. O apito de Gai marcou o final exato da partida.

Infelizmente, 3x0 eles. Torci o nariz, guardando o recipiente cilíndrico do biscoito enquanto procurava meus amigos entre os jogadores que saíam desanimados do campo. Pelo menos, as senhoritas de saias curtas pareciam felizes. Desconfio de que nem de futebol elas entendiam — menos do que eu até — e estavam ali pela pura desculpa de poderem mostrar suas calcinhas publicamente.

— Nem pense em falar isso pra eles! — direcionei à Temari, descendo a arquibancada junto dos alunos, que de maneira unânime saíam do campo esportivo a céu aberto, sem esboçar reação pela perda do jogo. Comparecer aos jogos era mesmo uma desculpa para matar aula.

Lá embaixo, esperei Kiba e Sai. Meus amigos vieram cabisbaixos, com seus uniformes branco e verde ensopados de suor.

Que eles não esperem de mim um abraço acolhedor, porque não o terão.

— Muito bom rapazes! — Gai, o técnico e também professor de educação física, se achegou com o apito balançando em seu peito e um sorriso inadequado para a perda da partida — Continuem assim! Isso é o que eu chamo de dar um sacode! O grande Imperador já disse que a derrota precede vitórias grandiosas!

O professor Gai era do tipo que não sabe muito bem o que está dizendo na maioria das vezes.

— Espero vocês no treino amanhã! Vocês são o orgulho da Academia! — continuou, realmente animado. Por sorte a Academia Sombra da Folha formava universitários de excelência, porque se dependêssemos dos nossos atletas, seria um fiasco.

— Hey — ergui a palma da mão, recebendo um apático Kiba.

Ele bateu a mão na minha, mas colocou as mãos no quadril, com aquela cara de quem sabia que estava ferrado.

— Melhor do que na última temporada?! — soergueu uma sobrancelha, esperançoso.

Cutuquei Temari, que prontamente se desprendeu do celular e sorriu.

— Claro! Você andou melhorando sua corrida, né?!

Por deus, Temari era uma desgraça mentindo. Kiba assentiu, e já não havia mais nada que eu pudesse fazer. Enquanto a Ino ciumenta sussurrava no ouvido do coitado do Sai, as líderes de torcida passavam num desfile meio “câmera lenta” lançando seus olhares proibidos para menores de dezoito anos jogadores. Juro que não sei como elas continuavam tendo aval para fazer essas coisas, tão semelhante ao que assistia na televisão depois da meia noite em canais eróticos. Parecidíssimo.

— Você estava olhando pra ela? — Ino ergueu a voz, de braços cruzados e parecendo ser capaz de arrancar as bolas de Sai.

Puta que me pariu, alguém salve o coitado.

— Vamos embora — ordenei, cansada do odor de suor.

— Espera. O treinador quer que a gente vá para a comemoração —Kiba me segurou, contrariado, mas se sentindo obrigado a isso — Atrás do campo.

— Mas vocês perderam.

— Obrigado, Temari — Sai reclamou, passando pela mais alta e tendo uma dor de cabeça constante e de baixa estatura, chamada Ino Yamanaka — Vamos pra qualquer lugar onde não tenha mulher — Dedicou um olhar de esguelha para a loirinha atrás de si.

— Onde as líderes de torcida não estejam — o corrigi, com uma pena sincera. Ino era chata pra cacete.

— Vão se foder, eu não estou falando disso! — não refutei a argumentação da Yamanaka, porque quando Ino cismava de rebater o óbvio, era porque ela estava mesmo fora de si.

Depois do festival complicado no domingo, enfrentamos uma fase delicada. Ino fora devidamente tratada no hospital, o que não significava paz; bem o oposto a isso na verdade. A mesma disse que preferia ter passado mais tempo no hospital. Seus pais não deram trégua um dia sequer, e agora ela vivia uma prisão domiciliar. O ponto positivo a ela nisso tudo — se assim posso denominar — era a aproximação de Sai, a visitando quase todos os dias e acompanhando sua recuperação.

É, a transa dos dois estava evoluindo rapidamente, e eu tentava não me preocupar com o fato. Tinha coisas mais urgentes.

— Sakura — Temari andou ao meu lado, com uns olhares bem sugestivos — Por que não aproveita o tempo vago para resolver o lance com o Suigetsu?!

Deus, eu nem sabia o que pensar a respeito.

O festival terminou igualmente merda pra mim, sendo acompanhada até em casa por uma Shizune descontrolada e ganhando um sermão antecipado. Desde então, tenho me concentrado em não pisar na bola, e quem sabe me abster de ter as visitas da louca cirurgiã cardiovascular na minha casa toda tarde. Estava sendo um porre. E não é exagero, Shizune conseguia ser o capeta quando queria, ou seja, o tempo todo.

— Você precisa sair dessa seca, rosinha — Kiba endossou, sem camisa e parecendo incomodado com as meias até a canela.

Na entrada dos portões de ferro atrás da arquibancada, onde o professor de natação tinha liberdade para conduzir suas aulas na piscina olímpica ao fundo; eu parei de andar, sentindo um frio na barriga. Coisa que não era comum. Nunca tinha tido dificuldade em saciar as vontades. Quando começava a ficar aborrecida pela falta de orgasmos, resolvia do jeito mais prático: ligando para algum falso-inocente, como Suigetsu Hozuki. Só que já havia dias que não me sentia em meu estado típico, e recusar a proposta de sair com alguém como ele era a prova real disso.

— Valeu, mas com um Suigetsu suado eu não vou querer nada não — melhor desculpa improvisada, por favor, respeitem.

— Pelo menos fala com ele, e marca alguma coisa. — estranhamente preocupada com a minha vida amorosa, Temari deixou de mexer em seu Iphone para me fitar.

— Ou então conversa com outra pessoa — Ino também participou da jogatina, colada ao ombro de Sai. O que era desagradável porque ele também estava suado e fedendo.

— Tenho uma lista de amigos interessados, se quiser — Sai sugeriu, dando um passo para o lado e sendo seguido pela loirinha. Uau, que mala.

— Gente, muito obrigada pelo momento cupido, mas eu estou bem.

— Claro que não está. Ninguém é feliz sem foder — depravado como só ele sabia ser, Kiba refutou numa entonação alta e embaraçosa.

— Nem fala — Sai revirou os olhos, deixando Ino ainda mais irritada. A abstinência de sexo da garota também era parte de seu castigo.

— Se eu quisesse sair com alguém, já teria saído — aleguei, e tudo o que recebi em troca fora uma porção de olhares que me diziam “conta outra, sua encalhada”. Aparentemente, perdi a moral com os meus amigos — Vão entrar nessa palhaçada ou não?! — sinalizei ao campo, onde os demais jogadores e colegas estavam bebendo e se distraindo. Fugir era o meu plano B.

— Depois vai ficar na fossa e ter uma recaída chamada “Sasori” e não vai saber porquê não conseguiu se conter — ácida, chata e intrometida, Temari passou a frente acabando de vez com a indecisão do grupo sobre entrar ou não no momento relaxante do professor Maito Gai.

— Bocetas não mandam em tudo — pontuei, distante dos ouvidos de Temari. Deus me livre começar um debate sobre vaginas aqui, no campo atlético da escola.

— Mandam — Kiba e Sai uníssono responderam, retoricamente.

Dei de ombros e entrei no campo, serpenteando entre vários estudantes. Do lado oposto, a turma de calouros se espremia e tentava ganhar atenção a qualquer custo. Eram cabelos exóticos, coloridos, chuva de piercings e roupas escandalosas. Os novatos levavam a sério esse negócio de ganhar fama entre as centenas da Academia, e se eu pudesse dar um conselho diria: parem!

Eu não fazia porra nenhuma de diferente, e conseguia ter um dos nomes mais comentados entre os corredores arcaicos desse lugar. Ou seja, ser natural era a chave da popularidade.

Tá. Meu nome não era positivamente comentado.

— Sakura! Que surpresa — é, a vida não jogava limpo comigo, e de repente eu tinha de lidar com Suigetsu sem camisa, com a bermuda folgada vermelha e branca — Não sabia que acompanhava os jogos.

Não sabia porque não te dei tempo de me conhecer. Falei com Suigetsu na aula de artes, dei meu número na semana seguinte, em dois dias de conversas marquei de sair, na primeira sexta feira acabei sentando nele. Foi radical, e bom. Mas acabou. Ele era divertido até demais, na minha concepção, e eu não procurava por nada sério.

— Oi! Suigetsu — sorri, e devia ter uma cara de fodida icônica — pois é, os meninos jogam desde o primeiro ano, vim dar um apoio moral.

Suigetsu olhou de relance para Kiba e Sai atrás de mim, depois bufando e passando a mão por seus cabelos grudados pela correria. Seus olhos eram divinos, mas não superiores ao seu corpo, altura média e braços fortinhos. Caralho, Suigetsu era um pedaço exímio de mal caminho, péssimo e horroroso caminho. E ponto para a sua maestria em segurar quadris.

— Eles vão continuar precisando — sorriu, exibindo aquele rosto travesso que comumente expressava — perder pro time de novatos é foda.

Sai me puxou para trás, ficando cara-a-cara com o platinado.

— O time de novatos é treinado por fora! Nós só temos o Gai-sensei. — argumentou — E vocês também perderam o último jogo.

— O importante era conseguir a classificação — se defendeu, cheio do charme abusado que o Hozuki dava e distribuía à vontade — Mas e então, Haruno, o que acha de uma bebida?

Isso também significava: o que acha de uma conversa sugestiva que pode acabar numa rapidinha mais tarde?! Declaradamente, eu não queria isso.

Precisava de tempo para pensar, dar um jeito nas minhas notas vermelhas e no tempo desgastante que estava levando em casa; aguentar um apegado Suigetsu estava fora de cogitação.

— Por que você não pega alguma coisa pra gente e me espera?! Eu preciso ir ao banheiro.

E fugir pela janela.

O desatento Suigetsu — cujas notas do boletim não andavam tão bem, pelo que eu sabia — saiu sorridente, buscando uma bebida gelada.

Desviei ainda mais apressada no sentindo oposto, fitando o prédio simples que dividido ao meio formava o vestiário masculino e feminino. Dei a volta no prédio, como se urinar nunca tivesse passado pela minha cabeça.

E eu de verdade pretendia seguir minha vida medíocre, perambulando pelos corredores até me enfiar num debate aleatório sobre o corpo estudantil e, por fim, não ter de encarar meus dilemas.

— Sim diretor, mas receio que não será possível usar a arena!

— Providenciem mais verba! — gritando despreocupado durante horário de aula, o diretor dobraria o corredor que eu estava e me daria um flagrante inevitável.

Foi aí que eu abusei dos meus reflexos aposentados e girei a primeira maçaneta que vi na minha frente.

O cheiro de mofo me inundou, pressionei o nariz e rezei para que a minha rinite não me denunciasse, pelo amor. Escorada na porta, vi diversas prateleiras de metal abarrotadas de livro. Numa placa à esquerda estava a explicação: acervo literário de mitologia Uno e Celta. Uma sala abandonada.

Andei mais um pouco e esbarrei numa réplica do busto de Alexandre, O Grande.

— É só uma estátua, Haruno, não costuma fazer mal.

Como um morcego escondido numa caverna mórbida, a voz me delatou quem era o único homem plausível de ser encontrado num lugar como esse. Kakashi estava de costas, segurando um grande e velho livro de capa vermelha e negligenciando olhar para saber quem era a escaldada aluna a entrar no cômodo.

 — Olá — refutei, curvando os lábios num sorriso invertido.

Eu pretendia amenizar minhas dores de cabeça, mas pelo jeito as aumentaria.

— Não devia estar lá fora participando da comemoração?

Era quase engraçado o modo como Kakashi não nos olhava diretamente, a menos quando queria impor alguma de suas influências bestas. Se não fosse esse seu objetivo, ele nos tratava como fantasmas facilmente evitáveis.

— Vim dar um descanso a mente — iniciei um movimento de vai e vem com as mãos, muito confortável pelo encontro repentino. Só que não.

— No acervo de mitologia?! — Kakashi fechou o livro num baque, e soltou um riso curto, seco e sarcástico — Que dedicada.

Desgraça, filho de uma mãe mal amada e peste viral. Tinha que me enfiar num cômodo fedorento e desleixado justamente com o cão chamado Kakashi?!

— Eu me interesso por mitologia — admiti, mesmo que ele não acreditasse.

— Então seja sincera como Atena e me diga do que está fugindo? — o professor vivia com respostas na ponta da língua, como uma serpente.

Sei que não poderia fazer nada a respeito, então caminhei de costas visando dar o fora dessa merda antes que ele me olhasse de frente.

— Você sabe como é a pressão esportiva, nada legal — arrisquei, quase à porta — e tem também aquela competitividade entre os caras, coisa de garoto babaca, eu não sou fã.

Segurei a maçaneta escondendo minha mão, e vi que o professor parecia distraído comparando a capa de dois livros.

Minha chance, ai merda, só vai!

— Uma pena. Sempre foi uma exímia jogadora de vôlei — certo, se ele queria atrapalhar minha fuga e chamar minha atenção, conseguiu.

— Como? — estreitei os olhos.

— No segundo ano, você entrou para o time feminino de vôlei da Academia, uma das melhores temporadas do esporte — como se não estivesse comentando sobre coisas esquisitas, Kakashi escolheu outro livro, de capa preta e mais fino, dando meia volta, mas mantendo-se concentrado no encadernado — Devia continuar jogando, senhorita Haruno.

— Isso é alguma tática educacional para melhorar meu desempenho?! — ironizei, porque odiava quando os professores forjavam empatia.

Ficaria mais bonito para ele, como adulto e professor, ser sincero e explicar que estava me impulsionando a extravasar nos esportes ao invés de continuar cometendo burradas para justificar meu espírito selvagem.

— Considere um conselho gratuito — e moveu-se debaixo dos feixes de luz que atravessavam a única janela, no alto da parede — quer alguma coisa do acervo?

Hum, quero sim, que você vá embora e me deixe a sós para pensar com as estátuas tristes da época de Ouro na China.

Eu não queria sair por baixo. Agarrei novamente a maçaneta, desejando pular para fora, com só mais um comentário a ser dito.

— O compilado de quadros sobre a Era Medieval — ergui uma sobrancelha, mui desafiadora.

Duvidando completamente da capacidade de Kakashi em achar alguma coisa nessa bagunça empoeirada que ele chamava de acervo, esperei com paciência seu silêncio de dez segundos terminar, e enfim ele ergueu o queixo, me olhando nos olhos. Seus pelos do rosto estavam ressaltados pela luz naquele ângulo, onde fios esbranquiçados nasciam pela linha do seu maxilar.

— Eu sabia que você não gostava da história geral desse período, mas que sua nota melhoraria no próximo bimestre, com a entrada das Invasões Celtas — podia ser só impressão minha, mas aquilo soou como um elogio?! — O livro está na estante mais alta, na quarta fileira, em ordem alfabética. Boa sorte nos estudos — Kakashi andou até a porta, parando a um braço de distância — E pare de matar tempos de aula, ainda que sejam ao ar livre. Sua frequência está tão ruim quanto suas notas em Geopolítica.

Dei espaço para o grande babaca, quase o chutando para fora, e pensando em cochichar para Alexandre, O Grande que ele não estava perdendo nada por não ter mais que viver nos dias de hoje, aonde professores malvados nos torturavam psicologicamente. Foi aí que Kakashi envolveu a maçaneta redonda com seus cinco grandes dedos, e quando a puxou, a peça saiu em sua mão.

Oh, porra.

— Isso não deveria estar na porta, professor? — falei pela primeira vez, depois do momento vergonhoso que Kakashi teve olhando para a porta como se ela fosse uma vagabunda traiçoeira.

— Quieta, por favor. — ele ainda se mantinha em pose, mas agora com um conserto a ser feito.

Dei dois passos atrás assistindo Kakashi forçar a peça de metal contra a porta, piorando o caso e comprovando que essa sala precisava ser interditada.

— Não está funcionando — notei o óbvio — pelo amor de deus, tenta arrombar a porta!

— Se acalme — me repreendeu, concentrando em enroscar a maçaneta de volta — Isso acontece as vezes.

Respirei fundo. Se ele está dizendo que acontece às vezes, e é certamente o único sem noção a frequentar essa sala esquecida pela Academia; então deve ser verdade. Não surta Haruno, você só está confinada num espaço limitado com o professor mais insuportavelmente arrogante da Academia, de novo.

Kakashi ficou mais uns minutos querendo esmurrar a porta, subliminarmente, empurrando a maçaneta de volta ao encaixe. E quando eu já estava pensando no quão calor essa merda de sala chegava a estar, escutei o ferrinho que segurava a maçaneta cair contra o chão. Do lado de fora. É, pega esse seu talento manual e enfia no cu, querido professor.

— Deixa eu tentar — tomei a frente, irritada e com sede. Desidratação era um sintoma preocupante.

— Vai magicamente recuperar o suporte da maçaneta? — Kakashi ralhou, não me encarando.

Olhei sua altura incrivelmente abençoada e quis dizer que pior não ficaria, graças a ela. Pensei melhor e mordi a língua.

— Vou pedir ajuda — cerrei o punho e desenhei mentalmente o focinho dele naquela porta, passando a socá-la — Socorro! Estamos presos! Socorro! Alguém?!

— Ótima ideia gritar para um corredor vazio.

Trinquei os dentes e apertei mais as palmas das mãos, típico quem reclama e não ajuda.

— Alguma ideia?! Tipo, voltar no tempo e não tentar abrir a porta com raiva? — o olhei inquisitiva, querendo que dessa vez ele enfrentasse meus olhos e finalmente compreendesse que ser babaca não ajudaria em nada.

Todavia, ele não o fez.

Porque ser desagradável era a sua essência. Kakashi deve ter nascido no dia trinta e um de outubro, queridos. Feliz Halloween.

— Você tem algum grampo de cabelo ou presilha? — perguntou, retrocedendo numa quase assumida feição de “fiz merda”.

— Acha que tenho quantos anos? Sete?

— Com esse temperamento, quarenta e cinco — revidou, e caralho como eu quis jogar aquele livro dele pela janela. Porra! A janela!

— Já sei! — passei por ele, batendo os pés contra o piso encerado e parando rente a parede. O basculante devia estar a dois metros do chão, então peguei impulso e coloquei um dos pés numa estante de ferro.

— Você vai cair daí, senhorita Haruno.

— Vou sobreviver.

Se caísse e continuasse presa com você, já não sei se poderia sobreviver. Enchi o pulmão de ar e peguei impulso, me agarrando as enferrujadas prateleiras de uma estante pesada. Escutei Kakashi arfar lá atrás, com certeza duvidando do meu potencial, como sempre fazia. Usei da teoria reversa como motivação, e estiquei meu corpo até senti-lo doer, e por fim, toquei na janela aberta.

— A-HÁ! — Berrei, muito animada.

Eu tinha feito algo certo no dia, e particularmente isso representava um avanço gigantesco nessa minha fase de recaída. Mas a pessoa de Kakashi existia para me trazer de volta a realidade, e ser o balde de água fria nos meus sonhos excitantes.

— Vai passar pela janela? Você não cabe aí — falou com essa sua voz irritante, de professor chato e mal humorado. Sério, Kakashi deve ser um virgem de quarenta anos, que mora com os pais e assiste Animal Planet. Rabugento!

— Vou chamar alguém, essa sala dá para o lado externo — expliquei entredentes, ainda pendurada nos ferros do basculante — o campo está cheio de gente.

— Não sei se vai ser o suficiente para ouvirem você.

— Tenho que tentar alguma coisa! — pontuei, e comecei a gritar.

Anotem um conselho: se você anda com alguém que tem um mantra ruim, então toda a sua áurea se converte em negatividade. Pois estava feito, Kakashi calou-se e sua voz foi substituída pelo som ensurdecedor do sinal da escola, anunciando que o tempo vago tinha acabado e agora deveríamos estar rumando para a sala de vídeo.

Eu nunca quis tanto andar a caminho da sala de vídeo, puta merda.

— SOCORRO! — gritei ainda aturdida pelo som persistente do sinal — ALGUÉM?!

Por quase um minuto inteiro, essa porcaria ficou tocando e atrapalhando meu pedido de socorro. Depois que o silêncio fora restituído na sala, Kakashi me fulminava com os olhos, de braços cruzados.

— Poderia descer daí, em invés de cair e se tornar mais um problema para mim?

Pulei, batendo os dois pés no chão e sentindo meu corpo tremer de ódio.

Determinada a não ajudar em mais nada, sentei ao lado da porta, ignorando a presença autoritária do professor.

Kakashi encarou a porta, desdobrou os braços e os colocou no quadril, provavelmente pensando em alguma saída alternativa. Seria bárbaro descobrir que existem passagens secretas pela Academia, mas duvido que esse tonto saiba de algumas delas. E mesmo que soubesse, ele não as atravessaria porque “é errado de acordo com seu código de conduta” e blá, blá, blá.

Revirei os olhos e funguei, com espirros a caminho.

— Tá — ele se manifestou depois de ficar como um idiota olhando para a porta — esse corredor leva para a saída principal a área externa, e às onze e cinquenta a turma 2005 tem aula de Educação Física.

— Vamos esperar até onze e cinquenta?! — arqueei as sobrancelhas, puta da vida.

— Sim — determinou, irredutível.

— Não podemos tocar o alarme de incêndio?!

— E causar um caos na escola inteira? — olhou-me como se eu fosse uma retardada — Claro que não.

— Não posso ficar aqui dentro, tenho alergia a poeira.

Kakashi suspirou, tão chateado quanto eu por estar preso num canto com alguém que fosse declaradamente o oposto a si mesmo.

— Então saia do chão, e fique perto a janela — indicou o lugar onde eu tentei escalar para alcançar o basculante.

— Não adianta, não tem circulação de vento nessa merda! — bati o pé no chão.

— Olha a língua, senhorita Haruno!

Oh deuses, por que estão pegando tão pesado comigo?!

Sentei de pernas cruzadas, batendo a unha no chão durante os dois minutos de mudez que se seguiu.

— Pode parar de ser tão irritante? — Kakashi coçou a nuca, perdendo sua postura recatada e exemplar.

— Pode fazer alguma coisa e me tirar daqui?! Eu tenho aula agora — salientei meus braços, querendo gesticular e arrumar uma bela de uma briga. Embora ainda houvesse resquícios de sanidade em mim.

— Desde quando isso é uma preocupação para você? — consternado, professor Hatake se apoiou sobre uma cômoda de madeira antiga, onde mais estátuas ficavam expostas.

— Estou tentando melhorar minha frequência — ciciei, desgostosa por assumir isso a ele.

Justamente a ele, que vinha pegando tão firme no meu pé. Num momento constrangedor, Kakashi soergueu uma de suas sobrancelhas, ficando com aquela cara que as safadas da turma chamavam de “olhar-molha-calcinhas”. Desviei os olhos por pura raiva ao pensamento repentino.

— Isso é ótimo — ele retomou a conversa, com uma voz que era totalmente embasada em forjar interesse no meu desempenho — É ótimo mesmo, Haruno.

— Valeu, mas não precisa fingir que se importa.

— Fingir? — Kakashi estalou a língua na boca, transfigurando seu olhar-molha-calcinha para algo meio olhando-para-a-minha-aluna-mais-decepcionante — Eu não brinco com esse tipo de conversa, senhorita Haruno. É ótimo que esteja tentando melhorar sua frequência.

Ok, as palavras Kakashi e condolências não cabiam na mesma frase. Ele não estava feliz pela minha inesperada atitude sensata, senão quem colocaria em contínua detenção?! Eu era o objeto de estudo mais versátil nas mãos dele.

— É, mas não vai ser possível se eu ficar aqui, trancada — mudei de assunto, porque um Kakashi dócil era uma porra estranha de se ver.

— Mais quarenta e cinco minutos — olhava para o relógio de couro em seu pulso — E sairemos daqui.

— Não tem outro jeito? — perguntei amena, erguendo bandeira branca.

— Infelizmente não — ajeitou a manga de sua camisa social grafite, uma das minhas preferidas no mundo gótico da moda.

— Não está com o seu celular?

— Nós não usamos o celular pela Academia. — disse como se fosse óbvio, mas soou tão estúpido que eu ri. Perdão, precisei desabafar — O que?

— Por que não usam celular? — olhei para Kakashi apontando uma explícita cara de “seus doentes mentais”.

— Porque é contra as regras — se defendeu, e posso jurar que notei uma entonação mínima em sua voz, como quem se sente ofendido — Isso é assunto do diretor.

— Tá bem — Maneei a cabeça pro lado, porque tudo bem, vocês são mesmos malucos e regrados.

— Se me permite dizer, ficar sem celular durante os horários de aula é bastante eficiente para obter progresso

— Não estou em progresso nenhum professor — suspirei — Apenas deixando de faltar aulas, não fique animadinho.

Num ângulo superior, Kakashi ficou em silêncio por segundos, tentando ler a intrépida pessoa que ele chamava de aluna.

— Quase esperei mais de você.

Subitamente o olhei nos olhos, porque isso sim soava como uma ofensa.

— Como? — agucei a voz, intrigada — Está me desmerecendo?!

— Não, eu apenas prefiro lidar com vocês da maneira que se apresentam. Não estou aqui para levá-los além de suas predisposições.

— Você é muito esquisito — repliquei depois de tentar compreendê-lo, mas sem sucesso. Kakashi era como um livro escrito em dialeto antigo.

— Obrigado — sorriu brevemente, depois olhando para o contexto da sala.

— Você estava mesmo fazendo algo de útil aqui, ou só matando tempo?

— Acha que professores matam tempo?

— Acho — direta e objetiva, eu o questionei com o olhar.

— Você não é a dona da razão, sabe disso, não sabe?! — respondeu minha pergunta com outra pergunta, como os professores gostavam de fazer — Você tem uma língua muito solta, senhorita Haruno. — por algum motivo, isso soou algo que meu ex-namorado diria — Mas não, não estava matando tempo. Estava estudando.

Professor Kakashi estudando através de livros?! Deus o que será do mundo daqui a um tempo, falta só o professor Asuma anunciar que parou de fumar ou o professor Gai abandonar seu boné verde.

— Estudando maneiras de torturar seus alunos nas masmorras da Academia?! — ironizei, desfazendo a postura armada e me sentando mais confortavelmente. Kakashi riu da minha piada. Ou então ele riu porque sabia que realmente torturava alunos e eu estava sendo ingênua. Bizarro.

— Estudando para o semestre da turma de segundo ano — apoiou ambas as mãos na estante, abrindo uma postura um por cento menos recatada — Por que acha que eu torturo alunos, senhorita Haruno?

Estreitei os olhos, analisando cada detalhe físico daquele professor, que me conheceu quando eu tinha quinze anos, espinhenta e mil vezes mais rebelde do que me denominam agora. Desde aquele tempo, Kakashi possuía a fama de irredutível e implacável, sabendo desse boato, entrei em sua aula erguendo a firme bandeira da presença feminina, e decidi que não estaria entre as que cochichavam sobre sua bundinha fofa ou sobre como ele deveria ser na cama. Não. Me coloquei como parte da resistência — composta em sua maioria pelas lésbicas e garotos.

— Você tem cara de que gosta de nos ver sofrer — resumi piedosamente, temendo que contar para ele sobre os meus achismos não fosse acabar bem.

— Estereótipo — se defendeu no mesmo segundo, inclinando um pouco a cabeça. A luz o ressaltava, saindo pelo basculante às suas costas — Não faço nada que meus outros colegas não façam.

— O professor Hozuki nos conta piadas de humor negro e nos passa séries da Netflix como dever de casa — o olhei de volta, na mesma intensidade, entretanto sem uma luz sequer para me dar esse ar angelical.

— Mangetsu tem suas próprias maneiras de lecionar. — ralhou, meio balançado.

— E o senhor Itachi — segui, atropelando sua justificativa barata para ser tão durão — Sempre nos dá conselhos amorosos, e traz fotografias antigas de si mesmo para a aula.

Touché. Kakashi se viu contra a parede.

Quando pensei estar ganhando sua confiança, ele endireitou a cabeça e, metaforicamente, foi fortificado pela luz do quase meio dia.

— Eu considero meus métodos mais arcaicos, embora mais eficientes — pressionou seus orbes avermelhados sobre mim.

— Mas ainda continua sendo um dos professores com maior índice de reprovação — insinuei um sorriso, convencida — Meus parabéns.

Nós nos desprendemos da conversa por um minuto, enquanto Kakashi pareceu nada gostar do meu comentário, fiquei internamente me praguejando por ser tão linguaruda. Talvez ele tivesse razão.

Estiquei os joelhos e relaxei os ombros. E tirando-me do quase conforto, uma série de espirros começou. Um atrás do outro, levei as mãos ao nariz sabendo que não poderia controlar. Rinite era uma merda absurda de chata.

— Você está bem? — Kakashi contraiu o maxilar.

— Estou — ergui a mão, pedindo um segundo, e espirrei mais três vezes — Alergia — expliquei, envolta numa nuvem de catarro vaporizado.

— Senta aqui, perto da janela — se ergueu, desencostando da estante abaixo da janela de vidro e me cedendo privacidade.

Me levantei, a mercê da rinite, e fui até a estante espirrando mais umas cinco vezes. Kakashi parecia achar graça, decerto que se escondia com o livro na altura do rosto.

Dei impulso e me sentei sobre a estante, mais preocupada em ser alcançada pelo mínimo de frescor que pudesse circular ali dentro.

— Deviam climatizar todas as salas — protestei.

— Era o objetivo inicial — Kakashi me respondeu, coisa que eu não esperava, e apoiou um dos braços numa outra estante — Mas depois essa sala foi sugerida para ser quebrada e refeita, como uma cafeteria.

Olhei de relance todas as estátuas e quadros empilhados pela sala cumprida e estreita, conjecturando um desarrumado cenário histórico, que apesar de sua indisposição por falta de manutenção, parecia importante. Ao menos eu sabia reconhecer o valor da história do meu país.

— Não podem demolir o acervo cultural pra colocar cafeteiras — espremendo os olhos pela luz que vinha sobre mim, tentei achar a silhueta enegrecida de Kakashi, nas sombras — Isso é ridículo.

— Eu sei. Disse a mesma coisa — palpitei que aquilo nos seus lábios fosse um quase sorriso. Mas preferi deixar passar e, inquieta, balancei meus pés pendurados.

— Então a sala ficou do jeito que estava?! Isso também é errado — olhei para as paredes rachadas e os sinais de infiltrações no teto.

— Infelizmente, é só questão de tempo até que a coordenação consiga o que quer, e faça disso um recanto para caprichos e ponto de Wi-Fi — soando muito como um protestante do greenpeace, Kakashi falou irritado, olhando para as mesmas características de abandono que eu olhava.

— Por que não pede para assumir a sala? — refutei, voltando a procurá-lo pela escassa iluminação — Quer dizer, você é o professor de história, deve ter mais interesse do que qualquer outro nisso aqui. Distante dos meus olhos curiosos, escutei ele bufar.

— Não é assim que funciona, Haruno. A Academia tem donos e investidores. Se, pelo menos, a sala fosse frequentemente usada, eu teria mais razões para interceder por ela, mas os alunos acham que essa porta dá num armário de vassouras.

Caralho, eu também não esperava encontrar um acervo invés de vassouras e esfregões. Encolhi os ombros, mas Kakashi devia ler pensamentos, e soltou uma gargalhada rouca e máscula, me deixando acuada.

— Eu sei que você também achava que era um depósito — disse pausadamente, como se explicasse o ABC para uma criancinha.

— Tá, mas isso é porque fica sempre fechado! — me defendi — se abrissem a porta, dessem uma limpeza geral — olhei em volta — tem coisas legais aqui. Talvez se tirasse umas fotos e usassem o Instagram oficial da Academia para divulgar, dava até para atrair exposições dos Museus da cidade, como rápidas apresentações.

Parei de tagarelar quando percebi que Kakashi me olhava como se tivesse encontrado um poço de petróleo. Passei umas mechas do cabelo para detrás da orelha, me esquivando de seus olhos insistentes.

Notando que eu estava evitando sua encarada indiscreta, ele pigarreou e deu passos na direção da estante oposta.

— Já pensou em se voluntariar para o grêmio estudantil?

Aí foi a minha vez de gargalhar, alto e escrachada. Minhas risadas não eram das melhores e mais sensuais, admito.

— Estou quase reprovada na metade das matérias do ensino médio, e acha que devo me candidatar a essa baboseira de Grêmio? — soergui minha sobrancelha rosa, esperando que ele fosse muito bom com argumentos, caso contrário passaria a olhá-lo como um idiota formado.

— É uma pena que tornem a frequência do aluno como nota de reprovação, senão você seria uma das alunas mais brilhantes dessa Academia.

Graças a deus que ele estava de costas, porque senti minhas bochechas se esquentaram, decerto que ficaram vermelhas. Olhei para o chão, muito interessada no piso de madeira. Meu coração batia mais rápido, e um embrulho tomou conta do meu estômago; até a rinite tinha se tornado minúscula.

— Apenas pense em considerar — falou depois do vazio ensurdecedor que ficou entre nós dois — Não é uma cobrança. E nem uma tortura.

— Tá. — fiquei sentada como uma demente, com os braços sustentando minha cálida postura e as pernas juntinhas, em discrição.

Kakashi passou mais minutos lendo e relendo os nomes das obras literárias da História antepassada do Japão e Oriente, e pela primeira vez me permiti pensar no quão dedicado ele era em sua matéria. Na verdade, dedicado nem se aplicava, Kakashi estava num nível de inteligência superior até mesmo dentre os professores. Podíamos odiá-lo por ser um capeta vestido de preto e com relógios caríssimos, mas o respeitávamos porque ele tinha sabedoria até a próxima geração.

O sol nas minhas costas começou a me incomodar, trazendo um calor cansativo na minha pele e grudado levemente o tecido em mim.

Aquiesci, fugindo da luz do sol. Em segundos, o perdi de vista, entre as estantes mal posicionadas e estátuas em tamanho real das mais variadas figuras históricas, Kakashi sumiu dentro da sala. Eu somente escutava seu sapato social batendo contra o piso, calmo e sereno, ele não tinha pressa.

Inclinei o pescoço, tentando achá-lo, mas o confundi com uma das personificações de Ares, o deus grego da guerra, que se tornou um símbolo japonês depois das invasões ocidentais. Pensando a fundo, eles se pareciam. Suspirei, exaurida de não mais vê-lo e brigando internamente com o medo de estar sozinha numa sala cheia de antiquarias, quando senti o retorno do fatídico perfume. O mesmo cheiro de alguma sexta-feira passada. O cheiro que impregnou na minha roupa a ponto de me fazer querer levá-la até uma perfumaria e perguntar pela fragrância.

Eu sabia que era o cheiro de Kakashi. Armazenado num canto cuidadoso do meu cérebro, e que involuntariamente reagia aos meus pelos, eriçando todos eles.

Enquanto eu marejava entorpecida pelo cheiro viciante, senti uma sombra se achegar no meu lado direito.

— Senhorita Haruno, já são quase onze e cinquenta.

Ele estava ali, felizmente. Seria mórbido ficar a sós com as estátuas de mármore e pedras ocas. Assenti balançando a cabeça e engolindo para mim mesma o estado contemplativo acerca do cheiro do meu professor. Não Sakura, seja firme. Isso é estranho.

Pulei da estante, espreguiçando os braços meio dormentes e me achegando a porta.

— Acha que o seu plano — levantei um dedo, muito convencida — Que é idêntico ao meu, aliás, vai dar certo?

— Se não der, uma hora terão de notar nossa falta — deu de ombros, encarando a porta como eu estava, como dois alienados.

— Notarão a sua falta, professor — balancei sobre meus calcanhares, indo para frente e para trás — sobre mim, vai ser só mais uma fuga.

Antes que o silêncio do constrangimento ganhasse território, Kakashi se virou bruscamente na minha direção. Uau, eu não reparava muito na altura dele. Ele nem ia precisar da ajuda da estante para alcançar o basculante, de verdade.

— Faça alguma coisa a respeito — em seus olhos um reflexo distorcido de mim mesma cintilava, boiando em seu vermelho intimidador, que quando se esforçava para ser suave ficava como o bicho papão apaziguador, bizarro — Que tal acabar de vez com sua má reputação?!

Apenas sinalizei com as sobrancelhas que desistisse, era um caso perdido.

Ainda mais excitado com a própria proposta, Kakashi exigiu que o olhasse.

— Haruno, se você me ajudar a pelo menos monitorar seus amigos, eu já agradeceria.

— Traidores morrem cedo, professor — neguei balançando a cabeça. Esse cara devia estar conturbado pelo excesso de poeira.

— Não quero uma informante, quero alguém em quem confiar, para que os garotos da 3001 se mantenham na linha — insistiu.

— Quer que eu seja babá dos meus amigos?! Pelo amor de deus — revirei os olhos, quanta insanidade.

— Sei que isso parece um saco pra você e nada parecido com as coisas incrivelmente radicais — envergou a boca, debochando na cara dura — que você faz por aí, mas pode, por favor, pensar só por um segundo que o pescoço de vocês está sendo requisitado?! Hum?

Comecei a achar que estava delirando também, talvez por muito olhar para a porta de madeira, ou pelo efeito questionável que o perfume de Kakashi causava em mim. Será que tem alguma droga nesse aroma?!

Só que se ele estivesse falando sério — o que provavelmente estava, Kakashi não era o tipo de professor que parava pra conversar com alunos o que estava dialogando comigo — isso significava que estávamos bem perto de tomarmos no cu, coletivamente. Uma chance, mínima, de salvar meus amigos era algo que merecia atenção.

— De vocês quem? — hesitei.

— Kiba Inuzuka, Ino Yamanaka, Temari Sabaku, Sai Shimura e Sakura Haruno.

— recitou como se fossemos condenados e presidiários.

Oh, eu odiava o mundo escolar e sua semelhança com o sistema carcerário. Olhei por três segundos nos olhos de Kakashi, o tempo alegado cientificamente para se notar uma mentira, e baseada no meu intelecto investigativo, ele estava sendo franco.

— O que quer que eu faça? — comprimi meus lábios, borbulhando de algo que era nervoso, ansiedade e embaraço. Tudo misturado dentro da minha barriguinha.

— Que os impeça de ganharem mais suspensões até o final do semestre, pelo menos isso — Kakashi falava sério e retornando a seu tom de professor, o que me fez repensar sobre a entonação diferente que ele usava comigo minutos atrás — Se for desse jeito, posso conseguir uma maneira de mantê-los vivos no conselho de classe.

Conselho de Classe, em outras palavras: reunião para xingar os alunos pestinhas e elogiar os babacas puxa-saco.

— Por que está tentando nos ajudar? Tem a ver com o pedido da turma para ser nosso paraninfo?! — estreitei os olhos, desconfiada — Porque se for, acredite, isso não tem nada a ver com a gente, é coisa das garotas depravadas da turma.

Era mesmo. Todas queriam ver o professor Kakashi recebendo destaque na formatura por alegar que ele ficaria uma gracinha no smoking.

Não estou dizendo que não acho lá no fundo — bem no fundo mesmo — que ele não vá ficar ajeitadinho na roupa formal. Mas e daí?!

— Obrigado por estragar a surpresa, mas não. É algo… — hesitou apertando os lábios e mexendo com aquela pequena pinta no queixo, que deixava as senhoras da secretaria loucas — Pessoal.

— Isso só piora o quanto é estranho, se falasse a verdade seria mais fácil de ajudar você.

— Pode ou não?! — engrossou a voz, nervoso pela falta de tempo.

Fingi que estava pensando no assunto por minutos, só pela efervescência do drama. Eu gostava de grandes finais.

— Posso — ele expirou aliviado, mas o interrompi pigarreando — Contanto que, fique só entre a gente. Eles não podem nem imaginar uma coisa dessas. Kakashi conteve um sorriso, e só uma covinha se formou na sua bochecha esquerda.

— Está bem. Feito — estendeu a mão.

— Que velho. — murmurei, aceitando sua mão e relevando sua feição de ofensa.

Eu esperava mesmo fazer a coisa certa, considerando que podia foder de vez com os meus amigos, ou pelo menos salvá-los, mas ainda sim me fodendo. Afinal, mentira tinha data de validade. E conseguem imaginar uma pessoa como eu me abstendo de fazer as cagadas que prezava por fazer durante os tempos de aula?! Ah, não.

Não sabia muito no que estava me enfiando. Talvez fosse a escassa oxigenação dentro da sala, ou o cheiro convidativo de Kakashi que já estava começando a me deixar louca. Aceitei o fardo.

Ele conseguiu que alguém a abrisse — no caso seu amigo, o professor Gai, assim que o segundo sinal bateu. Com a premissa de não levantar suspeitas, fiquei mais alguns minutos escondida entre as estantes de ferro, e saí bem depois dele. Passei o restante do dia repensando no quão errado era o cenário em que nos encontramos, cinquenta minutos presa numa sala com o ordinário do Kakashi Hatake.

Se eu fosse oportunista, usaria isso a meu favor e me tornaria uma das garotas mais sortudas da Academia. Mas eu não era. Não. Eu era burra mesmo, e em invés de só sair de lá com sonhos pervertidos, saí com um sigiloso tratado entrelaçado ao mesmo professor, perdurando meu castigo divino por me meter com alguém da laia dele.

É por isso que só me fodia na vida.


Notas Finais


Oieeeeeeeee, eu amo esse capítulo asahsuhah, sério, amo mesmo.
Vem falar o que achou nenê, que daqui por diante vai ser tiro, bomba, soco no pulmão e xose

kakashi tá vendo vc sair sem comentar.... :x

Até a próxima :D


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