— M-meu nome é Kirsa...
— Katsuki... — Sussurrei. Não consegui acreditar na semelhança com aquele menino.
— Você...? Haker dissi que... — ele abaixou a cabeça. — Ele queria que voltasse...
Pisquei. Nunca estive nem perto de uma criança. Não em dês anos... Nem depois que... Kirishima... só vi algumas de longe no máximo. — Tem... sete anos não tem? — Consegui dizer.
— Tenho sim... — Percebi que tinha um talho no braço. Um logo tralho que estava sangrando. Minha garganta apertou. Abaixei os olhos passando a mão no meu próprio braço. Eu lembrava disso... Não acredito... Balancei a cabeça. O menino segurou o próprio braço e se encolheu. Levantei. Ele foi mais para trás.
Eu também estaria apavorado se fosse na idade dele. Um estranho. Só isso que eu era para ele, se não soubesse que provavelmente era meu subistituto. Fui para o canto da parede direita do quarto em um pequeno buraco. Nunca descobri como, mas sempre tinha um kit de primeiros socorros ali. Problema se não soubesse usar ou se não alcançasse o corte, mas ainda tinha. Ele não queria que morrêssemos. Não enquanto não terminasse o que quer que estivesse fazendo comigo.
Arranquei a pequena maletinha e tirei algumas gases e um potinho de antibiótico. O menino ficou me olhando com interesse. Sentia aqueles olhos afiados atentos a cada movimento que eu fazia. Suspirei. — Kirisa, né? — Ele assentiu. — Vem cá. — O pequeno se levantou e ficou me olhando. — Está aqui a quanto tempo? — Continuei sentado no chão sem me mover na sua direção.
— Um mês... — Meu coração doeu. Não deixei que me afetasse, não ainda. — Como sabia disso? — Ele apontou para o quite de primeiros socorros. Tentei sorrir, não acho que consegui.
— Eu vivi aqui por dês anos... — Sussurrei. — Aprendi os segredos. — Seus olhinhos se arregalaram e ele se sentou ao meu lado.
— Isso é muito tempo. — Disse baixinho. Estendi a mão.
— é... é sim. Posso fazer o curativo pra você? — Falei. Ele assentiu e colocou a mão sobre a minha. Cada toque daquele menino parecia queimar minha pele por causa da culpa. Ignorei a sensação. — Pode doer um pouquinho, tá?
— Já estou me acostumando. — Abaixei o rosto. Sorri um pouquinho.
— Posso te contar um segredo? — Seus olhinhos brilharam enquanto eu terminava de enfaixar. — Ninguém realmente se acostuma Kirsa... só... fica mais fácil aceita-la. — Sussurrei.
— Kasuki? — Terminei e levantei os olhos. — Ficou mais fácil para você? Aceitar? — Meu folego foi embora.
— Um pouco... — Um estalo me fez levantar. Kirsa continuou sentado.
A porta se abriu com um rangido alto. Meu coração saltou no peito. — Então está acordado.
Narradora On.
Kirsa se encolheu sob os pés de Katsuki. Os dois guardas entraram na cela/quarto. Katsuki se colou na frente de Kirsa entre eles e o menino. Foi mais instinto do que um pensamento. Ele ficou tenso, com as orelhas pra trás. — Você vem com a gente.
— Não vou para lugar nenhum. — Chiou. O guarda revirou os olhos.
— Vai voltar a ser assim? — Disse suspirando. — Era tão mais fácil antes. Venha logo. Harker está te esperando. — Disse o guarda. — Vai por bem ou vai ser a força? — Katsuki trincou os dentes. — Não sei se o menino vai querer ter que limpar sangue do chão.
Ele rosnou. Encarou o menino. Kirsa estava com os olhinhos arregalados e tremendo. Ele suspirou e deixou os ombros caírem.
— Isso mesmo. Agora venha. — Bakugou começou a andar para perto deles.
— Kat... — As orelhas de Katsuki viraram no mesmo momento para o menino. A calda arrepiou. Kirsa foi mais pra trás.
— NUNCA... me chame assim. — Vociferou. Seus olhos brilharam vermelhos de raiva. Os guardas acorrentaram suas mãos na frente do corpo. Um deles puxou as cordas arrastando Katsuki para dentro do corredor.
Kirsa ficou sozinho de novo, a porta foi trancada. O menino começou a chorar.
Katsuki On.
Apertei os olhos quando a porta foi fechada como um barulho enorme. Quase tropecei quando me puxaram mais forte. Xinguei baixinho. Podia andar por aqueles corredores de olhos fechados se precisasse. Não tinha mudado nada. Nem uma parede mudou, quadro, curvas. Nada mudou. Absolutamente nada.
Suspirei. Subimos por uma longa escada em silencio. Nossos passos ecoavam na pedra gelada sob meus pés. Obviamente não usava sapatos, por que me deixariam de sapatos? Qual a lógica de não me deixarem ter um sapato? Não sei.
Uma curva a direita, uma curva a esquerda, três para frente e paramos na frente de uma grande porta de madeira. O escritório de Harker. Engoli em seco.
Bateram na porta. Eu fechei os olhos respirando fundo. — Entrem!
Hesitei. As portas se abriram e eu o vi. Sentado como rei em cima da própria mesa de madeira. Não consegui andar. Tudo me dizia para correr. Correr para o mais longe possível. Dei alguns passos pra trás, me puxaram. Eu não me movi. Não conseguia me mover.
— Kat... — Ronronou. Trinquei os dentes. — Pare de ser idiota. Entre enquanto ainda é um convite. — Engoli em seco. Me puxaram mais forte, quase cai pra frente. Continuei andando contra vontade. As portas se fecharam atrás de mim. Entrapolado, de novo. De novo. De novo. Tentei voltar a respirar. Manter a calma. — Gostou do tempo fora? — Disse.
Harker desceu da mesa num pulo. Puxei as cordas pra trás. Eles se mantiveram firmes.
— Tão assustado... — Meneou a cabeça. — Se divertiu? Soube que fez muita coisa. Eu mesmo vi algumas vezes. Parecia tão feliz no shopping. — Tremi. — Aquele garoto... cabelo vermelho. — Trinquei os dentes. — Não sabia que gostava de caras. Isso é surpreendente.
— Não gosto. — Consegui dizer. O sorriso de Harker aumentou ainda mais, ele veio para mais perto de mim e segurou meu queixo.
— Ainda não aprendeu que não sabe mentir. — Senti uma pontada de dor na parte de trás do meu joelho. Trinquei os dentes, segurei para não gemer de dor. Cai de joelhos no chão sem onde me apoiar. — Devia estar feliz, am? Conseguiu me surpreender. E isso? É incrível. — Ele suspirou. — Agora eu também tenho uma marca dos nossos encontros. Tudo graças as você. — Levantei o rosto. Senti suas unhas na minha garganta. — Isso muda um pouco as coisas. Bastante as coisas na verdade.
Ele se afastou de mim.
Me permiti respirar de novo.
— Eu me diverti enquanto você estava fora. Aquele menino é bem divertido. — Arregalei os olhos. — Sabe como foi difícil concertar os estragos que fez? Sabe? Consegue IMAGINAR? — Fiquei em silencio — Não. Não tem ideia. Como foi DIFICIL encontrar alguém como você. EXATAMENTE como você. Ah... é incrível. Ele tem até os seus olhos... Percebeu isso não percebeu? Ele e você são quase idênticos, mas... ainda não era você. Ainda não era nem perto de você.
Harker parou de andar e se sentou de novo na mesa. Eu consegui levantar.
— Eu tinha tantos planos para você. Te moldei a minha vontade por anos... e num segundo consegue jogar quase tudo no lixo.
— Planos?? — Meu sangue ferveu. — Que planos? Me deixar trancado em uma cela escura? Me deixar apodrecer com cortes que quase necrosaram? Me deixar com fome por dias? Injetar coisas em mim? Me entupir de remédios? Me torturar? ESSES eram seus planos para o resto da minha vida? — Harker piscou.
— Não entende mesmo, não é? A Kat. Você. Nada daquilo foi tortura. Você é meu experimento. — Meus ombros caiíram. — Vieram tantos antes de você. Tantos que falharam. Tantos erros. Você foi o meu acerto. É meu acerto. Nada do que eu fiz foi em vão. Eu pensei em TUDO. — Experimento? C... — Tem os genes dos tigres. Um dia talvez eu te conte... essa história não é para hoje. — COMO ASSIM NÃO É PRA HOJE INFERNO? — Kat, você é meu. Meu tigre. Minha arma de guerra. Meu bichinho... completamente Meu. — Ele sorriu. — Mente e corpo. Só, e unicamente meu.
Me recusei a ceder. Me recusei a tremer. O sorriso maníaco dele aumentou ainda mais. Quase conseguia ver chamas brilhando em seus olhos. Como assim planos pra mim. Tigre?? Do que diabos ele está falando?
— Você já tem idade. 17 anos. Está bem agora. Está pronto. — Engoli em seco. — Vou te fazer meu. De todas as formas possíveis. Igual o seu namoradinho fez. — Meu estômago embrulhou. — Como será a sua cara quando estiver na minha cama? — Disse. Eu quis vomitar. — Vai ser uma ótima continuidade para o experimento.
Avancei contra ele. Malditas cordas, maldita vida. Quase fiz Harker cair da mesa com o susto. Fiquei a centímetros dele. Meus pulsos ardiam, mas não me importei. — Nunca. Eu prefiro morrer a deixar que encoste um dedo de merda em mim. Não me interessa que merda tenha feito comigo que CARALHO de Planos estúpidos sejam esses eu NUNCA, NUNCA vou deixar encostar em mim. NUNCA.
Ele soltou uma risadinha. — Eu sabia que não ia ser fácil. Não é fácil te controlar, mas... aquele cara fazia parecer tão simples. — Avancei contra ele mais uma vez rosnando. Um puxão mais forte me fez quase cair pra trás. Eu quero arrancar esse maldito sorrisinho do rosto desse filho da puta. — Vai fazer o que eu quero, Kat. Vai sorrir posando para as fotos comigo. Vai ser meu de TODAS as formas e vai gostar disso. — Rosnei.
Um som subiu na minha garganta, uma sensação uma fúria fazia meu peito arder, minha garganta arder. Soltei o som. Harker arregalou os olhos, os apertos nas cordas ficaram mais fracos por uma fração de segundo projetei o corpo para frente. Eu rugi.
Parei. Arregalei os olhos arfando. Eu... puta merda como... RUGI??????
Harker estava gargalhando. Ele gargalhava como um louco. Senti sua mão no apertando meu pescoço me fazendo ir um pouco mais pra frente enquanto meu corpo era puxado pra trás. — Meu tigre. — Ele me empurrou.
Ouvi um choro atrás de mim. Um chorinho bem baixo e me deixei ser puxado para trás para ver o que era. Kirsa estava com os olhos arregalados, branco como papel me olhando. Ele ouviu... ele ouviu isso... tudo isso... Arregalei os olhos.
— Por que ele está aqui? — Chiei.
— Por que esse moleque se tornou meu novo bichinho quando você foi embora. Ele era para ser seu substituto no experimento. Escolhi a dedo para ter as mesmas características genéticas, principalmente os fenótipos. Eu ainda não comecei as injeções nele. Você teve sua brincadeirinha de liberdade, mas ele pagou parte do preço. Ele não é compatível. Morreria na primeira injeção sabe como ela foi... — Tremi com a lembrança. — Agora que está aqui eu não preciso mais dele.
Harker gesticulou. Ouvi o barulho das lâminas antes que sequer conseguisse vê-las. Um dos guardas colocou a lâmina no pescoço do menino pressionando. Kirsa Guinchou.
O som me partiu em dois.
— Não. — Arregalei os olhos. Jogaram o menino de joelhos no chão.
— E por que não? Não tem mais serventia pra mim. Era só até você voltar. E eu tenho você de novo. — Kirsa estava chorando. Lagriminhas escorriam pelas suas bochechas. — Matem. — Arregalei os olhos.
— NÃO! Não!!!! — Me impulsionei para frente, as cordas estalaram. Escutei alguns gritos. Toda a minha atenção estava no menino. As cordas rasgaram. Pulei para cima do cara que segurava a faca no pescoço do menino e chutei o peito dele. Arranhei a cara do outro que estava segurando o garoto. Kirsa conseguiu se soltar e veio para perto de mim.
Estava pronto para pular na garganta do que segurava a faca quando ouvi alguém levantar. Harker estava com os olhos arregalados me olhando. Rosnei. Coloquei o menino atrás de mim o enrolando com a calda. Ninguém ia encostar um dedo nele.
— Não vai encostar um dedo ele. — Me mantive firme. Quatro armas estavam apontadas para mim. Kirsa agarrou minha cintura, eu coloquei a mão no seu cabelo. Senti sua calda se enroscar no meu tornozelo.
Narradora on
— Kat... solte o menino. — Harker disse. — Não torne as coisas mais difíceis.
Bakugou engoli em seco e olhou Kirsa. Ele estava com o rostinho escondido na sua blusa que já estava encharcando pelas lágrimas.
— Não. — Chiei.
— Você sabe o que acontece quando me desobedece. — Katisuki mostrou os dentes. — Eu sei que não é tão burro quando se faz parecer. Sabe que assim que largar o menino eu mando matá-lo. Assim que voltarem para o quarto eu mando matá-lo assim que virar as costas ou que alguém encontrar uma brecha, que você vai acabar dando, ele morre. Por que prolongar o terror dessa criança. Solte ele.
— Eu faço o que você quiser. — Disse. Harker levantou as sobrancelhas. — Eu... — O menino soluçou. Bakugou apertou os olhos. — Eu aceito... vou... entrar no seu jogo. Vou posar para o seu teatro... — Os olhos de Harker quase saltaram das orbitas. Com um gesto mandou os guardas abaixarem as armas. — Mas não vai encostar nele. Ele fica vivo e perto de mim.
— Tudo o que eu quiser? — Bakugou mordeu o lábio ficando enjoado. Ele sabia o que aquilo significava. Sabia a promessa que estava fazendo o que estava falando. O que aconteceria se aceitasse.
— Eu vou ser seu marionete nesse maldito jogo doentio... — Disse mais baixo. — Mas ele vive, e fica perto de mim. Se matar ele eu te mato... Eu ME mato e seu experimento acaba.
O sorriso de Harker se tornou faminto. — Perfeito para mim. — Ele se virou os guardas. — Preparem um novo quarto. — Katsuki tremeu. — E as outras coisas. — Kirsa levantou o rosto agarrando sua blusa. — Levem eles de volta. Daqui a pouco tenho uma reunião importante.
Katsuki On.
Rosnei quando deram um passo para perto de nós.
— Não encostem no menino. — Complementou. Harker inclinou o rosto. — Espero que vá de boa vontade Kat. Eu posso muito bem mudar de ideia. — Disse. Se eu apertasse mais os dentes eu quebraria a mandíbula. Se eu pudesse estrangularia esse filho da puta nesse exato momento.
— Kirsa. — Ele levantou os olhinhos, dei um meio sorriso e fiz carinho no seu cabelo. — Vamos. — Saímos escoltados pelos guardas. Não soltei o menino em nenhum momento, e nem ele me soltou.
Entrei naquele mesmo maldito quarto e eles trancaram a porta. Só soltei o menino quando escutei os passos se afastando. Deixei os ombros caírem. Eu me deixei cair sentado na cama. Kirsa estava me olhando. Foda-se que ele estava me olhando. Encolhi o corpo, fechei os olhos apertando as temporas.
Com que caralho eu tinha concordado? Ele... merda... merda, merda, merda, merda, merda. Não...
— Kat... — Minhas orelhas foram pra trás. Estava pronto para gritar quando vi que o menino estava segurando as lágrimas. — O senhor está bem?
Soltei o ar. Bem? BEM? Acha que eu estou bem? Era o que eu queria dizer, o que eu quase precisava dizer, mas... que diferença faria? Nenhuma. Absolutamente nenhuma diferença. Só assustaria ainda mais uma criança assustada.
— Não. — Disse sério. — Mas... vai ficar. — Vai ficar bem. Era o que eu queria dizer. — Kirsa.
— Sim?
— Nunca. Nunca mesmo me chame de Kat outra vez? Entendeu? — Ele franziu a testa.
— Mas... H...
— Harker me chama assim. — Completei. Ele continuou parado ali me olhando e abaixou o rostinho. — É exatamente por isso que nunca pode me chamar assim. — Suspirei. Ele fez bico. — Acha meu nome complicado? — Falei.
Kirsa assentiu. Eu suspirei e apoiei as costas na pedra gelada. — Senta aqui do meu lado. — Ele se sentou ao meu lado. — Se quer me chamar de alguma coisa... pode me chamar de Suki. — Ele levantou o rosto para mim.
— Suki? — Sorri. — Puque? — Suspirei. Encarei o teto.
— Um... uma pessoa. Uma pessoa muito importante me deu esse apelido há pouco tempinho. — Seus olhinhos brilharam quando eu disse isso. — Pode me chamar assim até aprender meu nome. — Ele sorriu.
— Suki! — Disse. Sorri. Esse menino de alguma forma ia tornar as coisas um pouco mais fáceis. Antes de complicar tudo. — Suki... o que aconteceu lá fora?
— Eu... — trinquei os dentes. — Prometi uma coisa, vai garantir nossa segurança. Não tem que se preocupar. Vai... espero que pelo menos as coisas melhorem um pouco para nós.
— E se não melhorarem... — O menino assim você vai acabar comigo.
— Se não melhorarem para nós vai melhorar para você.
As coisas vão melhorar para você.
Pelo menos para você.
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