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História Meu Inferno Particular - Capítulo 3 - Who's That Girl There?


Escrita por: Alaska_sKa e Nara20050

Notas do Autor


Oi, meus bebês! Tudo bem? Desculpem a demora, infelizmente fiquei um pouco desapontada por conta da falta de comentários no capítulo passado, mas tudo bem agora!

• Caso tenham dificuldade de imaginar o cenário desçam para as notas finais e visitem meu perfil no Pinterest, lá tem uns mapas originais sobre o espaço de Columbia, algumas partes da universidade e até alguns perfis de nossos personagens — ainda tenho que fazer todos, mas a preguiça está enorme.

Então é isso, boa leitura!

● Capítulo Revisado.

Capítulo 4 - Capítulo 3 - Who's That Girl There?


Fanfic / Fanfiction Meu Inferno Particular - Capítulo 3 - Who's That Girl There?

Capítulo 3

Quem é essa garota aí?

Ele deve estar aprontando algo

Quais as chances? Com certeza mais do que provável

Eu sinto algo no meu estômago

Eu começo a pensar qual pode ser a história dele

Qual pode ser a história dele?


New York; Brooklyn


Pop's Up Kurama; 9:40 PM 

— Meu nome é Sakura Haruno, sou muito mais que a amiga dele — a voz feminina saiu levemente raivosa, fazendo com que um lampejo de desagrado passasse pelos orbes que iluminavam sua face, mas da mesma maneira que o lampejo apareceu, também sumiu.

Os belíssimos olhos verdes, que carregavam um tom que pendia pro musgo escurecido, passaram com preguiça pela figura do famoso capitão dos Lions jogado em cima dos sacos de lixo de uma lanchonete fajuta na parte menos conhecida do Brooklyn. E claro, o lugar onde ela trabalhava desde seus dezesseis anos.

Era interessante o contraste em New York, o conhecido bairro de classe média — que pendia para a classe pobre, mas que o governo ignorava por completo esse detalhe — ficava ao lado do famosíssimo bairro da elite; Upper East Side que roubava todas as atenções para si, fazendo com que todos esquecessem que bem ali ao lado, a alguns quarteirões de distância, ficava uma das partes mais perigosas do Brooklyn e onde, com toda certeza, Sasuke Uchiha jamais havia pisado.

E para Sakura aquilo era muito mais do que uma mera coincidência catastrófica.

Sasuke engoliu em seco. O suor seco incomodava em sua pele e seus cabelos molhados estavam jogados em frente ao próprio rosto, enquanto observava a garota a sua frente que o olhava com indiferença — da mesma maneira que o olhou quando o viu pelo campus e na fatídica festa de Sasori. Bem, por mais que naquela madrugada o olhar feminino estava mais raivoso do que indiferente. — Os longos cabelos róseos estavam presos em um rabo de cavalo, enquanto a mesma trajava um vestido azul que batia a dois palmos acima de seu joelho e que carregava um pequeno avental branco em frente a sua barriga, no busto o vestido era fechado por botões, mas tinha os dois primeiros abertos e as mangas eram curtas e discretas.

A roupa de uma garçonete.

— Claro... — o capitão se ergueu com dificuldade do lixo, seu corpo doeu em protesto já que aos poucos a adrenalina ia se esvaindo e com isso deixando para trás as consequências de suas atitudes infantis e que seu pai jamais poderia suspeitar. Bateu nas próprias roupas, como se isso fosse mudar o fato de que estava jogado em uma pilha de lixo e voltou a olhar para a jovem que estava aparecendo mais do que o necessário na sua vida. — Bem, onde estou?

Sakura pareceu não ter escutado. Fazendo a mesma rotina de todas as noites — menos aos domingos — deu mais dois passos e colocou o saco de lixo dentro da lixeira ao lado da qual o homem estava e arrumou aquela que ele havia derrubado. Os olhos pretos observam atentamente a garota que fazia o próprio trabalho e o estranhamento que sentia pela jovem só se intensificou — a amiga do Nar-... Sakura, quer dizer, não lhe dava a mínima. Era como se ele fosse só mais um daqueles nerds que andavam em bandos de CDFS pelo campus e sempre pareciam tremer quando topavam com o Famoso Uchiha pelos corredores. — Sasuke constatou que a garota só poderia ter algum problema mental. Talvez estivesse fazendo o joguinho de desinteresse? Ele era Sasuke Uchiha! Não seria a primeira vez que as garotas tentariam chamar a sua atenção de maneiras inusitadas.

Sakura deveria achar que estava estrelando um clichê, onde ela era a triste nerd solitária e que estava cultivando uma atração pelo capitão, adotando o papel de moça sem preocupações além da vida acadêmica ela iria roubar a atenção do Uchiha por se diferenciar de todas as outras que o cercavam! — os pensamentos do moreno borbulhavam naqueles poucos segundos em que Sakura seguia fazendo seu trabalho, alheio aos vários poréns que sua teoria carregava e esquecendo por completo um fato que Sakura Haruno estava longe de ser uma nerd desesperada por atenção e que ela conhecia muito bem o tipo de playboy que Sasuke Uchiha era.

Ela se virou. A face branca brilhando por uma fina camada de oleosidade — coisas que ele não estava acostumado a ver, já que as líderes de torcida sempre estavam impecavelmente belas quando iam conversar com o moreno do curso de direito — e evidenciando as sardas que salpicavam pelo nariz e maçãs do rosto, mostrando a ausência de maquiagem no rosto feminino. Batendo as próprias mãos uma na outra, como se retirasse a poeira que havia ali e soltando um suspiro cansado — seu expediente de oito horas estava acabando e seu corpo já mostrava as marcas do primeiro dia em que iniciava sua nova rotina de estudos e trabalho. — Os olhos verdes olharam para seu recém trabalho feito, analisando bem para ver se não havia deixado nada bagunçado, antes de voltarem para a figura que a observava com atenção.

Sakura levantou a cabeça e olhou em volta, como se enfim tivesse se lembrado da pergunta feita a si. Passando os orbes verdes pelos fundos de uma lanchonete térrea e que carregava uma temática anos oitenta e noventa, que era bem conhecida por aqueles que frequentavam aquela parte da cidade — onde havia um sofá velho e o cheiro forte de fritura, enquanto o estabelecimento era cercado por outros prédios, alguns sendo onde famílias menos abastadas moravam e outros que também eram outros estabelecimentos — Sakura abriu os braços, como se fosse um mestre de cerimônias ou uma artista que estava prestes a apresentar sua obra, e falou com uma falsa animação:

— Bem-vindo ao Pop´s Up Kurama, no Brooklyn! — ela citou como se aquele lugar que cheirava a fritura e que tinha todas as paredes de concreto pichadas, fosse um restaurante digno de cinco estrelas e o mais conhecido de New York.

O Uchiha não precisou nem desviar seus olhos para observar ao redor, quando desceu seus olhos para o sofá surrado ao lado da porta teve quase certeza que a inspeção sanitária não passava por ali.

Os orbes negros varreram em volta, levemente mais abertos e buscando reconhecer aquele lugar — mas sua cabeça pouco se recordava de qualquer lanchonete chamada Kurama e muito menos se lembrava da última vez que havia pisado no Brooklyn — em sua frente estava uma construção achatada que algum dia havia sido de um laranja forte, uma pequena portinha vermelha de ferro estava aberta, fazendo com que a luz amarelada de dentro e o som costumeiro de uma cozinha chegasse até eles, assim como o cheiro enjoativo de fritura. Ao lado da porta estava o sofá velho e de procedência duvidosa, puído demais para Sasuke tentar adivinhar a cor do objeto, ainda mais com a iluminação fraca e amarelada que as poucas lâmpadas espalhadas ali proporcionavam e mais ao lado, bem ao extremo, havia uma entrada fechada por um portão com grades de ferro — assim como no outro extremo, à esquerda, mas desse lado só havia as grades.

Ele não sabia onde era aquilo.

— Brooklyn? — sua voz saiu meio perdida enquanto os olhos negros ainda observam perdidos os prédios que os cercavam. Algumas das pequenas janelas estavam iluminadas, outras completamente às escuras e nas poucas que estavam abertas havia alguém fumando ou um gato preguiçoso dormindo no parapeito. Mas nem as pessoas e muito menos os gatos estavam preocupados em lhes dirigirem a atenção. Eram invisíveis para eles.

 Na mente masculina, atrás dos orbes negros e que estavam perdidos, nublados pela preocupação, o único pensamento que enfeitava sua cabeça e atormentava seus sentidos brilhava fortemente em luz neon e em letras garrafais em tons vermelhos.

Como voltaria para casa?

— Sasuke? — a voz feminina puxou a atenção dos olhos perdidos, fitando a garota que o olhava com o mais puro e genuíno desinteresse. — Agora preciso que dê o fora daqui, não estou afim que o velho Sarutobi me pegue falando com um cara que... — os olhos verdes que tinham grossos cílios negros os desenhando mediram a figura masculina de cima embaixo, passando lentamente pelas calças negras surradas e que tinham um rasgo recente no joelho, pela camiseta preta que estava colada no corpo bem trabalhado e na jaqueta negra que estava branca devido a poeira do concreto. Passou a língua pelos próprios lábios, umedecendo a carne vermelha e franzindo levemente as sobrancelhas rosadas, não havia adjetivos suficientes para definir aquilo que estava a sua frente.  — Bem, só precisa ir embora. O portão de ferro sempre fica aberto no fim do expediente, pode vazar por ali.

Sakura se virou, voltando para dentro do estabelecimento e deixando para trás o Uchiha.

Os olhos negros se prenderam nas costas estreitas e com a sensação assombrosa de desespero após constatar o óbvio quando enfiou a mão no bolso traseiro de sua calça e pegou o seu próprio celular, vendo a tela completamente rachada. A saliva desceu secamente em sua garganta quando seu aparelho não ligou e seus olhos subiram rapidamente para a garota que já estava em frente à porta aberta e que caminhava com despreocupação para dentro da lanchonete — sabia muitas coisas, mas andar por aquela região sozinho até encontrar um taxi era algo que Sasuke ainda não havia tido a experiência e esperava que nunca fosse precisar, até aquele momento.

E na situação que estava sua única salvação tinha cabelos róseos e ele chutava que 1,60 de altura — para o seu desagrado, ou obra do destino.

— Sakura!

A garota parou faltando somente mais alguns passos para entrar e revirou os olhos antes de soltar um suspiro audível ao ponto de até Sasuke, que estava no fim daquele espaço, pudesse ouvir. Ela poderia o ignorar, era boa nisso, mas não sabia qual seria a reação do Uchiha caso ela não atendesse ao pedido, talvez voltasse a gritar seu nome? Isso sem dúvidas estava fora de cogitação — era expressamente proibido contato com qualquer pessoa além do ambiente de trabalho durante o horário do expediente e ela tinha coisas demais para pagar para poder ter o privilégio de ter um desconto em seu miserável salário.

Ela olhou para dentro da lanchonete, podendo ver que após o estreito corredor que havia antes da porta a cozinha funcionava a todo vapor e o velho de olhos duros e centrados estava ocupado demais com os pedidos que chegavam — entre às 21h as 22h era o horário em que mais vendiam, quando os cansados moradores que ocupavam os prédios de concreto pichados e tijolos antigos voltavam para suas casas e passavam pela famosa lanchonete barata e que sempre conseguia fazer os pedidos rápidos e com o máximo de dez minutos de espera. — Ela fechou a porta vermelha com marcas de ferrugem o mais discretamente que conseguia e olhou para Sasuke; os olhos verdes voltaram a brilhar raivosos enquanto caminhava em largos passos duros em direção ao homem que exalava um odor horrível até para ela que estava acostumada a limpar o banheiro daquele lugar após o fim dos turnos.

— Que foi, Uchiha? Qual parte de você ter que ir embora não entendeu? — ela falava entre dentes, se esforçando ao limite para não gritar com aquele ser que de uma maneira bem peculiar, conseguia tirá-la do sério. Não podia perder nem dois dólares de seu salário, diferente do playboy a sua frente que tinha como gastar a própria grana como bem entendesse e sem pensar no dia de amanhã.

E, no caso da Haruno, pensar no final do mês.

Todas as vezes que os olhos musgos pousavam em Sasuke, Sakura tinha lampejos da trágica noite em que havia destruído o carro do veterano ruivo e que ela havia conhecido nas férias — uma escolha péssima, mas nunca havia sido conhecida por fazer boas escolhas quando o assunto eram homens —. Lembrava-se vagamente do capitão Sasuke Uchiha se apresentando com toda sua falsa humildade, enquanto a arrogância e o olhar faminto brilham nos olhos de azeviche, da mesma maneira a qual Sasori a olhava. Os olhares em cima de si estavam suportáveis, até a mesma ver a dó brilhando naqueles belos olhos negros e sua fúria arder como as chamas do Hades em seu peito — foi como jogar álcool em uma labareda e, instantaneamente, ela explodiu.

— Sakura, não é? — ela confirmou com a cabeça, cruzando os braços em frente ao peito e rezando para que ninguém fosse vir atrás de ti. Conseguia pensar em diversas colocações para a mesma frase caso a achassem ali, mas todas se resumiam em: estaria fodida. — Eu estou sem carro, como pode ter percebido e com a queda meu celular, bem... — Sasuke ergueu a própria mão pálida e marcada por grossas veias, mostrando o celular negro e que exalava luxo com a tela completamente trincada, estilhaçada seria o termo mais apropriado, e que quando ligado, tudo ficava branco. O coração de Sakura se apertou ao pensar no preço do aparelho destruído. — Você poderia pedir um Uber para mim?

Os olhos verdes subiram para os orbes negros que a observavam com extrema atenção e expectativa, e se fixaram ali por alguns segundos enquanto a face feminina se mantinha impassível e indiferente, sem nem ao menos uma sobrancelha erguida ou um fungar descontente. Sasuke não estava acostumado a ser tratado de maneira tão indiferente, mas enquanto seu sangue corria nervoso em suas veias e seu subconsciente clamava por qualquer vício que acalmaria seu corpo — por mais que ele soubesse qual era o preferido de seu organismo —, os olhos negros também se mantiveram duros e a face masculina e marcada pelos traços agudos também se manteve estática, como se o pedido que a pouco havia saído de seus lábios de nada importava para si. 

Sasuke sabia muito bem jogar os jogos das máscaras, principalmente por estar familiarizado a usar uma todos os dias.

Mas para a surpresa de Sasuke — e desagrado também — um sorriso nasceu nos lábios carnudos e que não eram pintados de nenhuma cor, além do salmão natural, antes que ela balançasse a cabeça suavemente e levasse a própria mão aos lábios, fechando em um punho e tentando esconder a risada que teimava em sair de seus lábios — os olhos verdes se fecharam levemente, enquanto a risada rompia da garota e a tentativa fajuta de conter suas risadas de nada fracassou. — Sasuke passou sua própria língua por suas bochechas, fechando seus punhos no bolso de sua jaqueta e observando com frieza a garota, antes de trincar o próprio maxilar e esperar que a estudante contivesse aquela maldita crise sem precedentes.

O orgulho que ele tanto prezava gritava em seu peito e mostrava suas consequências na própria pele enquanto o mesmo fincava as próprias unhas bem cortadas na palma de sua mão. Aquela era a segunda vez, no mesmo dia, que a garota fazia com que ele ardesse como brasa em seu peito.

— Então, capitão — o título que estava acostumado a carregar antes de seu sobrenome e ser por ele que era conhecido nunca soou com tanto deboche igual aquele momento. — Uber não vem para este lado da cidade, muito menos os táxis após às 20h.aNa próxima vez, tente fugir da polícia um pouco mais cedo.

Sasuke deu um passo a frente, os dentes trincados e com o olhar nublado por sentimentos que nem ele sabia definir — raiva, frustração ou até mesmo desespero? Era difícil dizer —, mas em sua mente o perigo de Sakura saber sobre aquilo, uma caloura qualquer e que era só conhecida pelo circo armado na festa do Akasuna, brilhava florescente. Ela havia constado o óbvio, o erro havia sido seu em achar que algo tão nítido iria passar despercebido pelos sagazes olhos verdes.

— Olha aqui garota, você não vai abrir a boca disso para ninguém! — ele praticamente rosnou, olhando para Sakura como um lobo que estava prestes a abocanhar sua presa e isso não era de nenhuma maneira sexual.

Tinham coisas demais em jogo ali do que a jovem de estranha madeixas coloridas poderia saber, coisas que iam muito além de um desconto no salário e o posto de aluno perfeito; se ele era capitão tinha um motivo, se era um prodígio que estampava os discursos acadêmicos e era uma das caras do campus havia um motivo, se era parte do grêmio tinha um motivo e se estava quase se tornando vice-presidente da Alpha Kappa Gama havia um grande motivo e tudo isso poderia ruir assim que o maldito boato sobre o incidente corresse pelos corredores de Columbia e pelos prédios de Administração e Economia — onde o diretor Hiashi espreitava, esperando qualquer falha sua para usar contra seu próprio pai.

Seu nariz coçou pelo nervosismo, ele precisava ir para casa.

Sakura ergueu seu próprio queixo e olhou nos fundos olhos negros, mantendo os braços cruzados em frente ao corpo e com a língua ardendo para xingar o playboy Uchiha de todas as maneiras que havia aprendido desde que começara a fazer suas andanças pelas ruas de New York com dez anos.

— Olha aqui você, garoto! — ela retirou um de seus braços do aperto em volta do próprio tronco e usou o indicador que tinha a unha comprida sem qualquer esmalte bater no peito do homem que era alguns bons centímetros mais alto que si. — Quem tem que exigir alguma coisa aqui sou eu! São cinco minutos para eu ligar para a polícia e dizer que um estranho usando preto pulou nos fundos de uma lanchonete e que me ameaçou implicitamente!

Os olhos negros puderam ver o próprio reflexo nos revoltos mares verdes que a garota carregava. Ela estava certa e isso fazia com que tudo que houvesse dentro de si remoesse. Os ombros largos caíram, assim quando a constatação do óbvio se tornou nítida; estava nervoso, sem saber o que fazer e com o orgulho ardendo em sua pele, mas não era irracional e muito menos um bárbaro, por mais que por muitas vezes agisse no calor da emoção e era levado pela raiva — mas ali, sendo observado pelos raivosos olhos verdes sabia que não era um daqueles momentos.

Na verdade, estava longe de ser.

— Como eu saio daqui? — perguntou novamente, fazendo com que os ombros da jovem também caíssem e as expressões se tornassem mais leves, mas não menos tensas. As mãos magras subiram para os próprios fios rosados, colocando os fios que caíam em sua face atrás da orelha.

Sakura suspirou novamente, já cansada daquela conversa e daquela pessoa.

— Olha, o metrô mais próximo fica na avenida a um quilometro daqui, é só virar a esquerda e depois a direita e tomar cuidado para não passar em frente aos becos escuros. Você exala dinheiro, por mais que esteja fedendo — ela fez uma careta por conta do cheiro que fazia seu nariz arder.

Ele era bom em disfarçar suas emoções, mas ali, com o estresse causado pela breve conversa com seu pai e com o cansaço após ter tanta adrenalina correndo por seu corpo ele não conseguia disfarçar nem um mísero olhar sequer. Então, quando o lampejo de dúvida passou pelos orbes negros e a secura desceu por sua garganta, assim como seu pomo de adão quando Sakura terminou de proferir suas palavras, ele não teve outra escolha ao não ser falar o óbvio para si, mas não para os outros milhões de nova-iorquinos que não faziam parte da nata elitista a qual ocupava.

— Eu não sei andar de metrô.

Sakura estava olhando para o próprio relógio — simples, longe das novas versões que mais pareciam mine celulares postos nos pulsos — quando sua atenção foi automaticamente puxada para as palavras proferidas baixo. Primeiro o olhou risonha, como se ele contasse uma piada — e para ela, de fato era — mas quando os segundos se passaram e os olhos negros se mantiveram atentos a qualquer coisa, menos os olhos verdes, e uma carranca se apossava do jovem, o sorriso aos poucos foi sumindo e a seriedade se apossou dos olhos femininos.

— Isso é um problema.

Ele não precisou responder, mas ele sabia que era um problema.

Um grande problema.

Estavam em uma região que o Uchiha pouco conhecia — e as partes que ele conhecia eram coincidentemente as partes mais nobres, se que podiam se chamadas assim, do Brooklyn — onde ele não carregava nada além de uma carteira com seus documentos e dinheiro o suficiente para fazer com que os delinquentes daquela área ficassem surpresos caso apanhassem a carteira de couro e que custava mais que o salário da rosada. Logo ligariam os pontos que o jovem era um dos riquinhos do Uper East Side e, dependendo com quem Sasuke esbarrasse, isso seria um problema — e não seria a primeira vez que isso aconteceria, na verdade, havia um motivo plausível para que aqueles que ficavam além dos prédios pichados e as ruas de asfalto rachado terem o receio de conhecerem aquele ponto da cidade — além do óbvio preconceito social, é claro.

— Naruto saiu daqui faz algumas horas, posso lig-

— Não — ele nem ao menos deixou que a frase fosse completada.

As sobrancelhas rosadas se franziram enquanto ela media o estranho homem que até a menos de uma hora atrás pouco se lembrava da existência. As palavras vieram até a ponta da sua língua onde iria dizer em alto bom som qual era o problema dele e pouco importava se o velho Sarutobi iria escutá-la, ela não era paga para aguentar uma pessoa tão arrogante! Mas assim que passou seus olhos pelos buracos negros que Sasuke carregava em seus orbes, esses que estavam direcionados para as paredes pichadas dos prédios que em algum momento da história daquele bairro — há muito tempo atrás, talvez nos primeiros dias em que foram inaugurados — tiverem suas paredes limpas de qualquer depredação, mas que agora carregavam a arte urbana — ou poluição visual — em toda a sua superfície, dando o famoso ar “brooklyn-niando” para todo aquele lugar.

O moreno estava cansado, com seu corpo beirando a exaustão enquanto seus próprios pensamentos faziam com que sua mente se tornasse um campo minado e ele não sabia se seria forte o suficiente para não ceder aos seus demônios — enquanto olhava para qualquer ponto, menos os escuros olhos verdes, sua mente ganhava mais uma nova preocupação; essa tinha cabelos loiros e grandes olhos azuis, além de uma personalidade que ele não tinha ânimo o suficiente para encarar e muito menos a coragem de ter que dar uma explicação.

Mas o que os olhos verdes viram fizeram com que sua índole ardesse assim como seu caráter, ela não era covarde o suficiente para virar as costas para ninguém, mesmo esse ninguém carregado a postura de um qualquer do Upper East Side e que acreditava que o dinheiro poderia comprar tudo.

— Eu saio daqui vinte minutos, me espere na frente da lanchonete.

Eu sei que vou me arrepender... — a voz feminina ecoava na própria cabeça enquanto os passos duros a dirigiam em direção a porta enferrujada, mas antes de enfim ser levada para trás da porta de um tom vermelho gasto e ir de volta para a cozinha movimentada da lanchonete, ela se virou e olhou para Sasuke, medindo ele desde  os pés até os olhos que a observavam apreensivos.

Parado com seus 1,80m — um chute, já que Sakura não duvidava que ele beirasse os 1,90m — com as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta de couro, com os cabelos negros úmidos jogados para trás, deixando somente uma fina mecha caindo em frente ao seu rosto, e uma calça levemente folgada igualmente negra. Era uma imagem estranha, Sakura constatou.

— Na verdade, vou te arrumar umas roupas. Tenho certeza que o capitão na vai querer ser visto fedendo a lixo, já basta ter que andar de metrô.

E ela entrou, deixando dois olhos de azeviche, presos na porta de ferro, por baixo de duas sobrancelhas franzidas.

•••

Quando os relógios marcaram 22:40, as luzes da lanchonete foram apagadas.

Pelas principais portas de vidro um grupo de funcionários saiu em meio a risadas altas e comentários divertidos, mesmos carregados de semblantes cansados e vozes pesadas pelo dia de trabalho — a rua já perdia o movimento e os outros estabelecimentos também tinham suas postas fechadas e luzes apagadas, tendo os funcionários cumprimentados por aqueles que acabavam de sair da lanchonete laranja. — Atrás do grupo de quatro pessoas caminhava um senhor que beirava os sessenta, mas que fazia questão de se vestir bem já que usava um blazer casual e sapatos negros bem lustrados; os olhos castanhos pousaram sob a sua estranha funcionária de madeixas coloridas, alheia a toda a algazarra que os colegas faziam e tendo seus olhos atentos ao redor.

Sarutobi achava a garota estranha, mas gostava dela mesmo assim.

— Haruno, você fecha os fundos?

— Claro, senhor Sarutobi.

— Por Deus garota, eu fiz cinquenta e cinco semana passada! — os olhos castanhos se viraram raivosos para trás, mas Sakura já estava de costas para si e caminhava calmamente em direção ao portão de grades de ferro que levava até os fundos da lanchonete. Sarutobi suavizou seu olhar quando escutou a risada feminina e um acenar breve para ti.

— Bom descanso, senhor!

Sakura se esgueirou sob as poças de água que haviam ali e tomou cuidado para não pisar em nada que pudesse sujar mais ainda seu all-star branco — o velho precisava limpar aquele lugar, mas caso se atrevesse a comentar sobre aquilo, com toda certeza sobraria para si ter que passar umas boas horas limpando todo aquele lugar. — A mão feminina se fechou entorno da alça da mochila jeans carregada de broxes enquanto a outra empurrava o portão de alumínio que rugiu alto, denunciando sua chegada.

Sentado no sofá surrado e que ninguém se atrevia a perguntar a idade do móvel ou como havia chegado ali — por mais que todos tivessem grandes suspeitas que aquilo devesse  competir em quesito velhice com o velho Sarutobi. — Sasuke tinha seus cotovelos apoiados nos próprios joelhos enquanto as mãos seguravam sua cabeça — em uma delas, entre o dedo indicador e o central, um cigarro amassado pendia e sua fumaça se perdia em meio ao ar, enquanto o dono parecia ter esquecido de sua existência — os cabelos negros mesmo que curtos conseguiam cobrir seus olhos ou qualquer semblante que pudesse denunciar o que o capitão pensava.

Quando o ruído agudo cortou o ambiente precariamente iluminado por luzes amarelas e cercado por complexos feitos pelo governo anos atrás, o Uchiha ergueu sua cabeça e deixou seu tronco cair para trás, indo de encontro ao encosto do sofá — os olhos negros rapidamente se prenderam em Sakura e ela caminhou até si com rapidez, os pés vestidos por um tênis branco e surrado e as pernas brancas ainda desnudas por baixo do vestido. — O cigarro foi levado de volta aos lábios masculinos e tragados com veemência enquanto Sakura revirava os olhos, achando a mania de encarar do Uchiha ridícula.

— Vamos? Não quero pegar o metrô depois da meia noite, então vamos rápido! — ela foi até a porta vermelha e retirou um molho de chave do bolso da sua mochila, e não demorou para que a porta fosse devidamente trancada e, quando se virou, viu o moreno em pé e próximo do portão.

Ele usava uma muda de roupas que Sakura havia lhe entregado antes do fim do expediente; a calça de moletom cinza havia servido sem problemas em seu corpo, mas a blusa branca e do mesmo material havia ficado um pouco folgada — quando Sasuke pegou as roupas, nem ao menos teve tempo de perguntar para a rosada como ela tinha aquilo ali, já que a garota se enfiou atrás da porta vermelha assim que o mesmo tinhas as peças em mãos. Mas fora inevitável não estranhar. — Ele entrava em contraste com as peças claras, por mais que em seus pés o tênis preto ainda estivesse bem colocado e com o símbolo de uma famosa marca, mostrava que aquilo não havia sido nada barato. Os cabelos escuros, assim como os olhos, se destocavam de todas as cores cleans das peças levemente surradas.

Era como pontos pretos em meio a uma tela completamente branca.

Chamava a atenção.

E os olhos verdes viram muito bem isso.

— Vamos então, Sakura.


•••

New York; Ponte Brooklyn Bridge


Fronteira entre Brooklyn e Manhattan; 11:10 PM 

— Você estava fugindo da polícia por quê? — a pergunta veio inesperada, repentina e que causou um olhar perdido de Sasuke, enquanto ele mantinha sua cabeça ereta olhando para frente, observando as paredes escuras passarem pela janela.

O caminho até a estação havia sido mais rápido do que ele esperava e silencioso, muito silencioso. Enquanto cortavam as ruas de asfalto antigo e as calçadas largas com um fluxo admirável de pessoas naquele horário — por mais que todas andassem na direção contrária a qual eles iam —, os ônix masculinos puderam observar aquele lugar que ele pouco conhecia, cortando entre as pessoas que pareciam apressadas para voltarem para suas casas e os estabelecimentos sendo fechados, tendo suas fachadas cobertas pelas paredes de metal e suas portas trancadas por trás de outras portas, só que essas feitas de grades.

Era um lugar muito diferente do que estava acostumado.

Sakura percorria todo o caminho calada, tendo suas mãos por dentro do casaco de moletom preto que cobria só a parte superior de seu corpo e a mochila jeans bem posta em suas costas, ela carregava um olhar atento enquanto tinha Sasuke ao seu encalço — nas mãos masculinas uma sacola escura era quase esquecível, mas ali dentro estava às peças que exalavam um odor horrível e que ele enfim havia sentido.

E esse silêncio que trouxe uma curiosidade ao qual o famoso Sasuke Uchiha não estava acostumado.

Mas só depois de chegarem a estação, de entrarem no vagão que também carregava as peculiares artes urbanas, se sentarem em dois bancos — tendo um vazio no meio separando eles — e ficarem calados durante os cinco minutos de viagem e com os olhos de cada um presos em seus próprios pontos. — Os verdes em seus próprios pés e os negros nas pichações pelo lugar e pelas poucas pessoas que haviam ali (sete contando com eles) — a voz de Sakura finalmente veio a tona.

— Eu não deveria responder isso para alguém que estava me ameaçando — ambos agora olhavam para as janelas amplas e que davam a visão para os túneis escuros ao qual passavam.

— Válido, mas eu deveria saber caso estou sendo cúmplice de algo que possa me ferrar no futuro — ela disse com tamanha calma que Sasuke não conseguiu conter os próprios olhos em irem em direção a ela.

Os cabelos róseos ainda estavam presos, mas alguns fios se soltavam do penteado. A pele ainda brilhava lustrosa e a boca carnuda tinha marcas de sangue seco — ela havia passado o caminho todo até ali se auto-mutilando enquanto arrancava pequenos pedaços de pele seca dos seus próprios lábios. — Ela não expressava nada, além de uma seriedade que poderia ser interpretada de varias formas — talvez como um humor pleno com uma pitada de indiferença, ou uma seriedade que premeditava seus próximos passos, como uma mente calculista que estudava sua vítima.

— Eu não fiz nada grave.

— Isso pode ser interpretado de várias maneiras, mas diferente de você e como deve ter reparado, eu não tenho grana para bancar um advogado caso você tenha feito alguma merda e eu esteja entrando como cúmplice — os olhos verdes se viraram para si, os tons escuros e apáticos com um pouco mais de vida, mas que era convertida em uma singela raiva. — Eu estou te ajudando, acho que mereço no mínimo uma explicação convincente e que garanta que eu não tenha que me preocupar com a possibilidade de estar envolvida em um crime cometido por um playboy com síndrome de adrenalina!

Os olhos verdes se tornaram mais claros, as pupilas negras diminuíram e seu foco estava preso nos orbes negros que a olhavam compenetrados. Sasuke umedeceu os próprios lábios, seus dedos ansiosos batucavam na própria perna de maneira discreta, enquanto seu pé seguia o mesmo ritmo denunciando a ansiedade que corria por seu corpo. Sua mente viajava, formando em sua própria cabeça as consequências de contar a verdade para uma caloura que havia estrelado o primeiro cenário de caos do ano, mostrando uma personalidade um tanto quanto estourada e um humor que vacilava de maneira oscilante entre a imprevisibilidade e o fervor explosivo que se apossava do corpo feminino todas as vezes que se via entregue na mais genuína raiva.

Era como guardar seu segredo em uma caixa — bem bonitinha, até — mas que estaria cercada por uma bomba relógio que ele pouco conhecia e não fazia ideia de como desmaiar.

Era suicídio.

Os dois estavam sentados nos bancos gelados no vagão, sendo completamente ignorados pelas poucas pessoas ali e tendo seus rostos iluminados pela luz branca que vacilava todas as vezes que passavam em certos pontos dos túneis — o barulho das rodas correndo pelos trilhos era alto, assim como o chacoalhar que faziam com que os corpo balançassem levemente. Diferente do que muitos pensavam, os metrôs nova-iorquinos só se tornavam decentes dependendo da linha que pegasse, mas como aqueles que moravam no Brooklyn e para depois dele eram irrelevantes para os governantes daquela cidade faziam pouca questão de arrumarem os poucos transportes que muitos tinham como  única opção.

Os olhos não se desviaram, presos em um embate silencioso e que podia gerar consequências que iam muito além de um status social ou uma fama de garoto perfeito que o Uchiha carregava, quase como uma marca forjada em sua pele e que o impedia de cometer qualquer mísera falha.

— Eu estava perdido, não estava fugindo de nada — a voz masculina saiu baixa e os olhos negros se desviram, nem ele mesmo acreditaria em uma mentira tão óbvia como aquela.

Sakura suspirou e se levantou no momento em que uma voz estática e quase pouco compreensível cortava o silêncio pesaroso do vagão, anunciando a estação que estavam chegando — e por sorte, muita sorte, Sasuke conseguiu identificar o que a voz repleta de ruídos dizia, fazendo com que o corpo masculino também se erguesse.

Ela parou em frente as portas, segundo em uma barra de apoio e olhando para o reflexo do jovem alto, ombros largos e maxilar marcado que o olhava da mesma maneira.

E antes que as portas se abrissem, quando pararam na estação, e os reflexos se perdessem para abrir espaço para que pudessem descer para o lugar que tinha poucas pessoas espalhadas por ali e que carregavam em seus corpos casacos leves e olheiras profundas por baixo dos olhos — embora perto da escadaria que os levaria a superfície houvesse um homem tocava com destreza um violino —, os orbes verdes subiram até encontrarem os negros na superfície reflexiva.

— Péssima escolha, Uchiha.

As portas foram abertas e Sakura foi rápida em descer, sendo acompanhada por Sasuke, mas antes que o capitão pudesse dizer algo para a menor, a rosada se moveu em passos rápidos e deixou para trás dois orbes sérios do homem que observava a garota subir as escadas enquanto os cabelos rosas balançavam por conta de velocidade e tendo como último vislumbre as grossas pernas brancas e os all-stars surrados subindo as escadas antes de desaparecem na superfície.


•••

New York; University Columbia


Lottus Coffe; 9:40 AM

O dia amanheceu com uma temperatura mais baixa, fazendo com que as cinturas de modelos que circulavam pelo Campus tivessem que ser cobertas por casacos mais pesados e os braços musculosos fechados pelas mangas das jaquetas. O costumeiro clima imprevisível de New York dava seus primeiros sinais durante aquele dia, enquanto os jovens conversavam enquanto saíam de seus próprios prédios e caminhavam até as cafeterias abertas que ficavam próximas ao campus.

Columbia era dividida em vários complexos, tendo partes de si espalhada por vários quilômetros quadrados e que só poderiam ser alcançados com alguns bons minutos de caminhada ou alguns minutos caso fosse de carro — os prédios afiliados da instituição variavam, alguns ficavam próximos das isoladas casas das fraternidades, sempre ocupando as extremidades no imenso lugar, e outras ficavam próximas ao centro do campus, onde os prédios de características mais centenárias se mantinham e a onde ficava a imensa estátua sentada em frente a cúpula do prédio mais importante da instituição. — Os prédios afiliados e os que faziam parte do campus, mas que se afastavam do terreno principal, carregavam fachadas mais modernas, fazendo com que os desavisados pensassem que a universidade se localizava somente naquela parcela de terra com os prédios antigos e os cursos mais requisitados — belo engano, pois Columbia ocupava um espaço onde até mesmo os próprios veteranos tinham dificuldade em se localizar.

O vapor do café quente subia dos corpos de isopor, esquentando as palmas gélidas daqueles que necessitavam da cafeína para poderem seguir com mais aulas após os intervalos. A cafeteria mais conhecida do Campus, Lottus Coffe, ficava depois da larga avenida 114th Street — logo na frente dos grandes portões que davam ao bloco 1, aquele que estampava os folhetos da universidade e que tinha a famosa estátua conhecida, além de ser onde ocorriam os principais eventos e onde se localizava o famoso campo de futebol — e era um dos pequenos comércios da instituição, sendo bem conhecida por ter uma temática mais aberta e além de tudo, tendo um grande pátio ao lado do pequeno estabelecimento em tons pasteis, onde quiosques e mesas simples se espalhavam pelo chão de concreto e acima de suas cabeças alguns galhos finos de árvores faziam sombras sobre as mesas.

Era um lugar que transmitia uma paz em meio a cidade de pedra e a maioria dos estudantes que freqüentavam o bloco um sabiam muito bem disso.

Caminhando por entre as mesas com o grande copo de cafeína em mãos, o corpo feminino cortava por entre os grupos de jovens enquanto tentava de todas as maneiras chegar até a mesa que ficava mais ao centro do pátio bem conhecido por si, onde a superfície descoberta era tocada completamente pelos raios solares — mesmos os esguios galhos de árvores não conseguiam alcançar a mesa redonda e que tinha capacidade para meia dúzia de pessoas no meio do pátio, deixando ela livre para que os mornos raios pudessem aquecer os corpos que estavam ali.

Os cabelos vermelhos chamavam a atenção por onde passavam, fugindo dos tons ferrugens que as outras ruivas pareciam se orgulhar. Karin Uzumaki fazia questão de mostrar suas madeixas de fogo e que quando iluminadas pelo sol pareciam brilhar mais ainda. Os lábios livres de qualquer maquiagem estavam rosados, assim como a pele de seu nariz que já carregava os tons rubros por conta das brisas mais frias que a atingia quando caminhava em partes do campus que não eram tocadas pelo sol.

Colocou o copo de café na superfície branca e se sentou no banco comprido e que rodeava toda a mesa. Os olhos castanhos avermelhados se fecharam rapidamente, sentindo o calor da deliciosa luz esquentar sua pele que ainda sofria com o frio, mesmo tendo a maior parte de suas extensões coberta pelo sobretudo negro e que acentuava suas curvas.

O cheiro delicioso da cafeína chegava a seu nariz, enquanto ao seu redor, quase sendo ocultado pelas vozes estudantis que ecoavam baixo pelas mesas espalhadas, o canto dos pequenos passarinhos que sobrevoavam as árvores de copas altas e estreitas chegava aos seus ouvidos. Mesmo de olhos fechados, com o vapor que saía do copo de isopor com o líquido fumegante tocando sua face, a luz amena do sol aquecendo seu corpo e o som das pequenas aves escandalosas, Karin se sentia em paz — aquele era seu lugar preferido em todo o extenso campus, ela poderia passar toda a sua manhã ali, sentindo-se em completa paz enquanto tinha o grande copo de café em mãos e com o som terapêutico, mas que havia tido que aprender a apreciar, dos pássaros que voavam animados pelos galhos estreitos.

— Eu já te disse, a professora de finanças olha para mim como se eu fosse um pedaço de carne!

— Não viaja, não! Ela têm olhos apenas para o marido dela e, se você não se lembra, ele trabalha no prédio de engenharia!

E o momento de paz que tinha acabou.

Abriu os olhos e viu os rapazes sentarem em frente a ela, todos carregando em suas mãos os próprios copos de isopor e com os corpos cobertos por casacos pesados, mas que não pareciam ser grossos igual ao que ela usava — a fama de friorenta ficava para si, já que não era de hoje que qualquer mínima brisa fria já deixava seu corpo próximo a uma hipotermia. — Os orbes castanhos se reviraram quando viu o semblante impagável do estudante de Engenharia de Software quando olhou para o moreno que estudava física. Suigestsu nem ao menos tinha aquela aula, mas havia feito questão de se inscrever quando viu a oportunidade, por mais que ninguém naquele grupo soubesse o que o platinado fazia lá além de cismar com a professora.

Aquele era a cafeteria que eles mais frequentavam, sendo absurdamente próxima do bloco 1, onde o curso de todos daquele grupo se localizavam e sendo próximo ao bloco 2, onde o curso de publicidade da Uzumaki ficava, aquele lugar havia se tornado o ponto de encontro de todos ali, sendo só esquecido quando a ruiva não estava presente — então o grupo de marmanjos rumava para os pátios que haviam dentro do próprio bloco, por mais que o café que vendiam viesse de um carrinho e o lugar fosse só um espaço aberto com bancos e pequenas mesas para o descanso ou área de estudos.

— Não são nem dez e meia e você já está nisso? — o outro moreno murmurou, os claros olhos azuis pousaram no platinado que parecia crente naquilo que ele dizia, por mais surreal que fosse. — Suigetsu, por favor, combinamos que você só pode ser estranho depois das duas da tarde!

Karin riu, fazendo com que os três pares de olhos se voltassem para ela — os azuis claríssimos do Hyuüga, os orbes de carvalho do Nara e os estranhos olhos azuis escuros do Hozuki, mas que eram tão escuros e de uma maneira tão peculiar que dependendo da meia luz a qual olhasse veria tons púrpuras nos orbes do platinado — e uma sobrancelha arqueada mostrava que o estudante de engenharia não estava feliz com aquilo, aparentemente.

— Bom dia para vocês!

— Karin, coloque juízo na cabeça desse acéfalo! — Shikamaru disse por cima do próprio copo, se deliciando do seu maravilhoso vício enquanto sentia sua pele sendo tocada pelo vapor e o som calmante dos pequenos pássaros que rondavam aquela área durante aquele horário se sobressaindo aos resmungos do platinado.

— Acéfalo é seu cú!

— Por Deus — ela riu enquanto passava seus olhos ao redor, buscando o resto do bando que pareciam estar sempre juntos. As sobrancelhas ruivas tiveram um pequeno vinco formado entre elas quando seus olhos não viram o homem alto de olhos negros que estava acostumada a ver desde que entrara na faculdade, no ano passado.

Lembrava-se bem do primo apresentando todo aquele grupo para ela. Naruto nunca havia sido discreto, mas naquele dia em específico ele fez questão que todos estivessem presentes para conhecer sua prima mais nova que estava vindo de uma cidade mais afastada do centro — claro que ele não iria chamar a garota de caipira na frente dela — para poder cursar seu amado curso dos sonhos. Todos ali a recepcionaram muito bem, mas diferente do que pretendia quando atravessou os portões do centenário campus nova-iorquino, Karin Uzumaki não esperava ser rodeada pelos famosos membros da KAY, a fraternidade que era disputada com unhas e dentes por 80% da população masculina que frequentava a instituição.

E antes que pudesse perceber, carregava títulos antes de seu nome e qualquer garoto que pudesse ter interesse nela não tinha coragem nenhuma de aproximar da protegida dos Alphas e as garotas que poderiam ser suas amigas, caso seu debute naquele lugar houvesse ocorrido de outra maneira, olhavam para ela como uma se não passasse de umazinha qualquer que estava colada com os meninos por conta da popularidade — em parte gostava de todo o reconhecimento, era como ter seus sonhos infantis quando assistia séries adolescentes e via a mocinha sendo conhecida por todos e consequentemente amada por todos, sendo em parte realizados.

Desejava que um dia pudesse estrelar sua própria história clichê. E, é claro, em todas as rainhas tem seu reis, e ela desejava ao seu lado alguém que pudesse carregar o título.

E todas as vezes que pensava nisso sua mente a levava até os olhos negros que carregavam os mais profundos tons de petróleo e para o corpo esguio e bem marcado por conta de sua posição de Quarterback: Sasuke Uchiha, o colírio dos olhos de Columbia e dono de um dos sorrisos mais perversos que teve o prazer de vislumbrar e, também o rei, daquele lugar — ele mandava ali, com seu charme e com sua fama que poucos poderiam se equiparar, ele não precisava dela da mesma maneira que ela precisava dele.

E era isso, esse pequeno detalhe, que fazia com que Karin não tivesse — ainda — seus objetivos alcançados.

— Onde está o resto de vocês? — ela murmurou passando seus olhos pelos meninos, vendo que agora o tópico da conversa havia mudado e recebendo olhares confusos dos três que pareciam terem notado somente agora a ausência dos outros três que completavam aquele grupo.

— Sasuke já deveria ter chegado, foi falar com algum professor sobre o tema dos seminários... — Neji respondeu, com os belos orbes varrendo o pátio em busca do capitão dos Lions. — Naruto disse que passaria na sala do treinador e Gaara deve estar com o Uchiha, já que está fazendo algumas aulas complementares naquele prédio.

— Mas já passaram os temas? Puta merda — Suigetsu revirou os olhos, já cansado da universidade.

Mesmo sendo quarta-feira da primeira semana de aulas.

— Eles estão demorando.

O Nara abriu a boca para adicionar um comentário, mas foi interrompido quando uma voz aguda em meio as mesas abarrotadas de estudantes citar os dizeres que não esperavam escutar na primeira semana de aulas — por mais que durante o ano  passado não haviam sido muitas as vezes que escutaram tais palavras.

— ESTÁ TENDO BRIGA NO BLOCO 1, NO PRÉDIO DE ADMINSTRAÇÃO!

E quando a manada de pessoas se ergueu como animais e rumaram sedentos em direção aos portões largos do bloco 1, atravessando a avenida de maneira apressada e pegando o caminho de concreto que levava até o prédio de administração, os olhos castanhos pousaram nas três figuras masculinas que olhavam a confusão com atenção antes de olharem para a garota.

O entendimento mútuo brilhou nos quatro pares de olhos antes do pequeno grupo se erguer e correr em direção ao lugar.


•••

University Columbia; Bloco 1


Prédio de Administração; 10:05 AM

Os orbes verdes passavam com rapidez pelo próprio celular. O aparelho negro vibrava incessantemente e o vinco que se formava entre as claras sobrancelhas ruivas deixava claro que o que lia, ou via, não o agrava de nenhuma maneira — seus dedos digitam rapidamente uma resposta, sua atenção voltada unicamente para a tela brilhante e o teclado que emitia sons agudos e pequenas vibrações conforme os dedos ágeis percorriam por suas teclas. — Os orbes se erguiam vez ou outra para garantir que não estava prestes a esbarrar em alguém, mas sua cabeça estava avoada demais para garantir que via alguma coisa além do chat aberto e os balões de conversa que subiam a cada segundo.

Não esperava receber aquelas mensagens, muito menos em seu horário de aulas e no meio da semana. Achava Kankuro inconsequente, mas Temari conseguia ser mais ainda e de uma maneira que não condizia com o status que carregavam — ele de irmão mais novo e ela de mais velha — e que sempre sobrava para si arrumar as grandes merdas que a loira fazia. — Não sabia  o motivo que a irmã usou para entrar no carrasco curso renomado de Economia, mas sabia muito bem que mulher de vinte e três anos não estava pronta para lidar com o peso que aquele curso fazia nos estudantes.

Os dedos finos passaram pelas próprias madeixas ruivas, bagunçando mais ainda os fios alaranjados que brilharam ainda mais claros quando tocados pelos mornos raios solares, assim que saiu do frio prédio de administração e desceu as largas escadas de pedra seca. O suspiro audível saiu de seus lábios enquanto levava o indicador e o dedão até seu nariz, pressionando o osso que ficava próximo aos olhos e fechando seus orbes momentaneamente.

As roupas simples e que não condiziam com o seu curso, já que não era costume ver os famosos filhinhos de papai — já que todos que faziam aquele curso ou estavam perdidos e não sabiam o que fazer, ou aqueles que iriam assumir as respectivas empresas que seus pais haviam construído — vestidos tão despojadamente. A calça jeans clara casava com o moletom em tons areia, por mais que sua face e seus orbes não condissessem com as roupas cleans que usava.

Temari vai acabar me matando — seus pensamentos voavam, voltados para a garota que deveria estar em mais uma aula interminável e próxima a ter um colapso de nervosismo se não recebesse uma resposta positiva do irmão caçula. A Sabaku sabia que o papel deveria ser ao contrário, ela deveria livrar o ruivo das enrascadas que ele se metia, mas o jovem de vinte anos sempre foi responsável demais e que dificilmente fazia algo que não poderia ser resolvido.

Na verdade, o cargo de filho problema era ocupado com deleite pela mulher.

Seu corpo esbarrou em outro e seus olhos subiram automaticamente, prestes a xingar o infeliz que havia entrado em sua frente, mas suas próprias palavras morreram assim que seus olhos passaram por toda a cena que desenrolava a sua frente — e que ele nem ao menos havia notado, até agora.

Parado a sua frente — e sendo o corpo que havia esbarrado, fazendo com que quase derrubasse seu celular — as costas largas de Sasuke eram cobertas pela jaqueta azul e branca do time, onde o sobrenome Uchiha era escrito em belas letras negras extremamente legíveis sobre o tecido branco e logo acima do escudo da universidade. Os cabelos negros estavam jogados para trás e mesmo que estivesse de costas para os olhos verdes, ele sabia que o Quarterback estava furioso.

E ele nem ao menos sabia o motivo.

Os claros orbes subiram para além da barreira que o Uchiha fazia — mas parecendo estar alheio a sua presença — varreu o lugar e listou tudo aquilo que seus olhos captavam, tentando descobrir o motivo do surto do estudante de administração. E não demorou mais do que alguns milésimos de segundos para entender, mesmo que parcialmente, aquela situação. — Se é que havia alguma maneira de entender aquela situação.

Parada a pouquíssimos centímetros do Uchiha, com a cabeça erguida e as mãos na própria fina cintura, Sakura o olhava com os límpidos olhos verdes brilhando em sua mais pura raiva. Uma sobrancelha arqueada, assim como o queixo erguido, fazia até mesmos os olhos espectadores de Gaara notassem todo o deboche que o corpo feminino exalava. Os orbes verdes continuaram a sua leitura do ambiente, tentando entender o que acontecia ali de qualquer maneira e foi uma surpresa notar que assim como ele dois olhos de jade observavam a cena com o mesmo estranhamento — por mais que Gaara duvidasse que estivesse com uma cara tão assustada igual a loira tinha.

Passou os seus olhos ao redor, notando que além deles que estavam bem próximos da confusão, e os estudantes que caminhavam por ali, provavelmente indo para as cafeterias ou lanchonetes mais próximas, paravam pouco a pouco e olhavam para a cena a frente do ruivo.

Aquilo não era bom.

Ergueu sua mão, se fechando em cima do ombro do amigo e tentou chamar a atenção do moreno. Antes que os orbes negros se voltassem para o ruivo a suas costas, a voz feminina surgiu novamente e o resto de paciência que o moreno tinha se esvaiu.

— Você. É. Um. Babaca! — as palavras saíram pausadamente enquanto o dedo feminino batia no peito do moreno, fazendo com que a unha machucasse sua pele mesmo por cima do tecido de sua camiseta. — Eu tenho nojo de gente igual você, seu escroto! Eu não tenho o porquê falar sua merda de segredinho para ninguém! Mas agora estou tentada a fazer isso só para esse maldito campus ver a bunda entupida de dinheiro de Sasuke Uchiha não é perfeita igual ele faz parecer!

O ruivo sabia da fama da estudante de arquitetura. Quem não sabia da louca de cabelos rosa que havia estourado o carro do estudante de direito e um dos jogadores do Lions? Sasori tinha uma fama extensa, principalmente por ser um veterano que fazia parte da fraternidade rival dos KAY — uma rivalidade que só se pendurava durante o ano letivo, durante as férias todos os integrantes das fraternidades conviviam em harmonia. Bem, eles tinham que manter as aparências de que viviam em harmonia. — Gaara não negava, achava a caloura espirituosa e com peito suficiente para fazer uma coisa daquelas, afinal, não era todo mundo que humilhava abertamente um dos integrantes da BKE — Beta Kappa Epsilon.

Mas ele não esperava aquilo. Muito menos a quantidade de xingamentos que saíram dos lábios rosados.

Os olhos negros mediram a mulher em sua frente e as expressões de deboche serviram de combustível para a ira da Haruno antes mesmos de suas palavras abandonarem seus lábios. A postura masculina mudou, ele se aproximou mais da figura que era ridiculamente pequena comparada a si e a mão do ruivo abandonou seu ombro — ele não pôde ver, mas os olhos verdes passavam ansiosos ao redor e pequena aglomeração que se formava. —  A voz de Sasuke saiu baixa, rouca e quente. Mas completamente audível para a dona das longas madeixas róseas e o entendimento passou pelos olhos verdes, que brilharam mais ferozes ainda.

— Você é tão estúpida, Sakura. Você não é ninguém nesse lugar e eu sou o rei daqui! Você não entende? — ele se aproximava como um felino, mas diferente das pobres pessoas que estava acostumado a lidar, Sakura Haruno nem ao menos moveu um pé para trás e manteve sua postura ereta enquanto o fuzilava com os seus próprios orbes. — Ninguém vai acreditar em você! — o sorriso mordaz que brilhou nos lábios masculinos fez com de uma maneira que Ino, que observava toda a cena quase tendo um ataque de ansiedade, achava impossível. Enfurecer mais ainda a mulher. A raiva que a rosada mostrava estava prestes a chegar a um nível que até a Yamanaka que a conhecia a menos de uma semana sabia que não teria como acalmá-la. — Você, Sakura, é só a pobre ex-namorada de um dos jogadores do Lions, só uma caloura louca pela popularidade e que agora está criando boatos insanos, só para ser notada por mim! Você só é uma vadia louca por popularid-

O tapa cortou a fala antes de ser terminada. O som ardido da agressão fazendo com que os olhos ansiosos recaíssem sobre a dupla e puxando um eco de “Oh!” enquanto mãos eram levadas até as bocas que estavam abertas, mostrando a total descrença daqueles que assistiam o espetáculo. Eles estavam mesmo assistindo aquilo? Sasuke Uchiha, o Quartebeck, capitão dos Lions e dono da maior ficha de galinha de todo o campus, levando um tapa na cara?

Sim, era verdade. E os curiosos estudantes já sentiam a ansiedade crescendo em seus peitos enquanto desejavam ver o desenrolar daquela cena.

Aqueles que faziam parte do blog da universidade se deliciariam em escrever aquela noticia — Queridinho dos Lions e de toda Columbia se mete com caloura e acaba sendo agredido! — e a grande coincidência foi que naquele momento, enquanto andava apressada em direção ao próprio dormitório, a estudante de jornalismo pôde ver toda a cena que se desenrolava em sua frente. Os claros olhos de caramelo se prenderam com curiosidade na cena, enquanto a sobrancelha que tinha um piercing em sua extremidade se erguia. O quão sortuda Konan poderia ser por ter a chance de vislumbrar a primeira briga do ano e principalmente, sendo estrelada por ninguém menos que Sasuke Uchiha e a caloura que já dava o que falar mesmo antes de começarem as aulas?

Ela era uma fodida que havia nascido com a bunda pra lua — e era só isso que brilhava em sua mente enquanto pegava o próprio aparelho celular e digitava rapidamente em seu bloco de notas os acontecimentos a sua frente.

— O que você fez? — a voz rouca saiu dos lábios masculinos, mas a face ainda se mantinha virada na direção a qual havia sido empurrada pela pequena mão feminina. Ela tinha dedos esguios e unhas compridas que haviam arranhado sua pele no momento do tapa.

Ino gemeu temerosa enquanto Gaara suspirava novamente, aceitando que agora não havia mais como voltar atrás. Aquele dia só se tornava mais problemático para o ruivo.

E aqueles que observam a cena só se sentiam mais eufóricos com o que iria acontecer.

Abutres., Gaara pensou.

Correndo ao fundo mais pessoas se aproximavam, sedentas por vislumbrarem a cena que estavam todos sedentos para ver. Os comentários corriam rápidos pelo imenso campus, ainda mais quando haviam grupos com mais de 100 pessoas e estudantes completamente eufóricos por uma distração da entediante vida universitária. Os comentários sobre aquela briga durariam até o fim da semana, no melhor dos casos, já que poucos ali duvidassem que aquilo seria esquecido mesmo antes da principal festa do ano.

Caralho, era Sasuke Uchiha ali! — isso estava longe, muito longe, quilômetros e mais quilômetros, de ser algo normal! — Konan que faltava rir sozinha, se sentia uma criança que havia acabado de ganhar um grande pirulito. (Aqueles que todas as crianças olhavam, que ficava em destaque na doceria, mas que jamais era comprado). Ela estava tão eufórica!

Entre as pessoas ansiosas em busca de entretenimento para suas rotinas maçantes, o resto dos integrantes de um dos grupos mais conhecidos do campus, corria na mesma direção que todos iam. Porém, diferente dos olhares que todos os outros ao redor davam e as risadas que saíam dos lábios dos jovens estudantes, os olhares daqueles que faziam parte do famoso grupo passavam longe da animação e da euforia. Os orbes castanhas de Karin viram o exato momento em que o tapa acertou a face do Uchiha e assim como seus amigos, ela sentiu uma raiva arder como lava em seu peito — Suigetsu que corria ao lado da ruiva, assim como Shikamaru e Neji, puderam compartilhar do mesmo sentimento. O moreno fazia parte da fraternidade que todos ali moravam e haviam feito um juramento, eram irmãos e ninguém iria fazer aquilo com seu irmão. — Mas a atenção dos protagonistas daquele caos estava presa somente ali.

Quando o pequeno grupo alcançou a confusão, tiveram seus campos de visão limitados pela aglomeração de pessoas que rodeavam as quatro figuras no centro. Karin gemeu frustrada antes de se envolver em meios aos corpos e sair distribuindo cotoveladas por onde passava.

A voz de Sakura soou novamente, embargada da mais pura raiva enquanto as maçãs salpicadas por sardas tomavam as colorações rosadas, e conforme falava, seus olhos se tornavam mais claros e sua pele se tornava mais rubra. Talvez mais um sinal de que seu estado de fúria havia ultrapassado os limites humanos para que não houvessem homicídios envolvidos — era o pensamento que rondava a mente da Yamanaka. Ino teve a certeza no momento em que os olhos verdes fitaram o moreno novamente que alguém ali acabaria morto e ela nem ao menos sabia o que fazer.

Minessota nem tinha pessoas suficientes para brigar... meu Deus, quanta gente! — a loira hiperventilava, tentando encontrar sua voz para tentar trazer sanidade para a figura rosada a sua frente. — Talvez fossem essas as más influencias que seus pais haviam falado antes de embarcar para aquele lugar.

— Você é apenas um mimadinho de merda! Chega desse papel ridículo de playboy perfeitinho! Você é igual a todos, a única diferença é que você é rico e por esse motivo todos te suportam! — ela gesticula exasperada, o corpo tremendo pela raiva enquanto as palavras saíam cortante de seus lábios. — O que te leva a ser assim, hein!? Quer a atenção do seu pai? Quer reafirmar sua masculinidade frágil? Pouco me importa! Lide com suas merdas sozinho e vá para puta que pariu!

Os olhos brilhavam do mais puro verde, alcançado um tom completamente distinto dos frigidos tons musgos que coloriam as pedras que ela carregava nos orbes. Gaara observava tudo com atenção, principalmente as atitudes da rosada que mais parecia uma gata raivosa prestes a lançar suas garras em cima do cachorro a sua frente — que estava mais para lobo. Um lobo prestes a devorar a gatinha sem ao menos lhe dar a chance de defesa.

O rosto masculino virou-se lentamente. As madeixas completamente negras, mesmo tendo os raios solares da manhã iluminando os fios escuros, foram jogadas para trás pela mão masculina repleta de anéis e somente uma fina mecha de manteve em frente a face, mas que foi ignorada com mestria pelos penetrantes olhos negros. O foco era somente ela. E os olhos verdes raivosos viram que naqueles profundos olhos de petróleo não havia mais nenhum tom de deboche. Ele não a olhava mais com desprezo, na verdade o pouco que conseguia ver naqueles ônix era raiva.

Muita raiva.

E então foi a vez dela sorrir. Carregada do seu mais insuportável deboche.

Sakura era como uma explosão. Completamente instável.

Mas Sasuke era como fogo. Não havia como apagar quando inflamado.

Sasuke passou sua linha pelos próprios dentes, sentindo seus caninos arranharem a superfície úmida enquanto tombava a cabeça levemente para o lado. Saboreava o gosto do próprio veneno antes de destilado.

— Você só é mais uma pobre coitada interesseira.

E assim tudo que estava próximo a explodir, explodiu.

Tudo aconteceu rapidamente, nada que não passasse de poucos segundos, mas os orbes cristalinos do Sabaku observavam tudo em câmera lenta — talvez um mecanismo de defesa de seu próprio cérebro, o poupando de participar daquele caos.

O sorriso que dançava nos lábios carnudos sumiu.

Sakura foi pra cima do Sasuke.

Karin apareceu, assim como Suigestsu, Shikamaru e Neji.

Ino parecia estar pintada de vermelho, enquanto tremia.

A ruiva não hesitou em pular na rosada, agarrando os longos cabelos róseos e soltando xingamentos incompreensíveis.

E a plateia de abutres gritou quando o caos se desencadeou, completamente ansiosos em ver o que mais gostavam: brigas.

Karin segurava com força as madeixas rosadas, fazendo um bolo do cabelo de tons pasteis em sua mão, enquanto a outra tentava de todas as maneiras acertar a face feminina que estava ocultada pela confusão de fios que haviam ali. Os olhos castanhos avermelhados já mostram sua confiança, enquanto raspavam no couto cabeludo da Haruno e faziam a pele da outra arder. Ela já sentia o gosto da vingança salpicando em seus lábios, assim como a satisfação que já se alastrava pelo seu corpo.

— Você não está tão abusada agora, não é vadia?! — o sorriso presunçoso iluminou os lábios da Uzumaki enquanto ela erguia sua mão livre, descendo com fúria em direção a face feminina.

A mão foi segurada antes de acertar o alvo.

O sorriso da ruiva sumiu.

— Garota... — a mão com longas unhas pintadas de vermelho sangue se fechou entorno do pulso da ruiva e antes que os olhos castanhos pudessem assimilar o que acontecia, seu pulso foi virado com força e seu grito agudo de dor fez com que os espectadores gritassem ainda mais alto. O aperto de Karin se afrouxou dos cabelos rosados, liberando a Haruno de seu agarre e deixando com a cabeça que tinha suas madeixas bagunçadas se erguesse e olhasse no fundo dos olhos castanhos da ruiva, que gemia pelo seu pulso que latejava. Dessa vez foram os cabelos ruivos que foram puxados, fazendo com que a cabeça se abaixasse e olhasse para Sakura de baixo. — Você está fodida!

E Karin não duvidou nem um pouco daquela ameaça.

A pequena multidão de jovens gritou. Incentivos saíam entre os gritos ansiosos daqueles que mais pareciam animais enquanto observavam as mulheres engranfinhadas como gatas selvagens.

Diferente do aperto de Karin, Sakura enrolou os fios médios da ruiva em sua mão, deixando sua mão rente a raiz da ruiva que havia levado suas duas mãos para trás, tentando se desprender do agarre de Sakura. Distraída nem ao menos notou as longas unhas alcançando seu rosto, arranhando com gosto a pele de sua bochecha e fazendo com que um xingamento humilhante saísse de seus lábios, acompanhados de um gemido de dor.

Sasuke segurou a cintura da rosada, tentando fazer com que ela soltasse seu agarre dos fios ruivos, mas antes mesmo que pudesse intensificar seu puxão, um peso em suas costas fez com que ele desse dois passos para trás.  

Ino não sabia o que fazer, não sabia nem ao menos o que falar ou para onde ir. Mas quando as jades que se assemelhavam ao céu acima de suas cabeças focaram na figura masculina que estava prestes a puxar sua amiga, sentiu algo correr pelo seu corpo e mesmo sem se dar ao trabalho de pensar — já que sabia que quando fizesse isso acabaria desistindo — correu até o corpo esguio do capitão e pulou em suas costas.

Sua face estava vermelha, seu corpo inteiro tremia e seu coração estava quase saindo de sua boca, mas ela não deixaria aquele babaca tocar na sua amiga.

— Você é um escroto! — ela gritava enquanto segurava a cabeça do Uchiha, os olhos de jade estavam fechados e ela simplesmente segurava e puxava tudo que suas mãos tocavam, deixando o moreno tendo que puxar as mãos femininas de seus olhos caso não quisesse levar um tombo ali mesmo.

Seria humilhação demais.

Shikamaru, Neji e Suigetsu observavam atônitos, não sabendo quem ajudar. Esperavam encontrar qualquer coisa ali, menos seu amigo com uma loira agarrada em suas costas e cabeça. E Karin quase tendo seus cabelos arrancados de sua cabeça.

Gaara correu até o Uchiha e agarrou a figura da loira que ainda mantinha seus olhos fechados, mas que estava completamente presa no corpo do capitão e mesmo tendo sua cintura puxada pelas mãos do ruivo, não soltava de maneira alguma a face masculina que já estava vermelha e com arranhados por conta das unhas compridas.

Os outros três acordaram de seu transe ao escutarem um grito do Sabaku. Shikamaru correu até o corpo do capitão, enquanto Suigestsu e Neji foram até as duas mulheres que se agarravam sem trégua — por mais que, quando os olhos claríssimos do Hyuüga passaram pela cena, rapidamente souberam que a Uzumaki estivesse mais apanhando do que batendo.

Enquanto o platinado segurava a ruiva que tinha seus cabelos parecendo um ninho de pássaros, o moreno de cabelos longos segurava os braços da figura que parecia estar cega pela raiva. Karin xingou alto quando as mãos femininas ainda puxavam seus cabelos enquanto era afastada de si, mas mesmo assim quando os fios foram soltos do agarre uma boa quantidade deles haviam ficada na mão da Haruno — essa se debatia no corpo do Hyuüga, xingando a ruiva dos nomes mais diversos possíveis e que com toda certeza o moreno nunca havia escutado.

Era um caos.

— EU SOU ALGUÉM QUE VOCÊ NÃO DEVERIA MEXER SE NÃO SABE DAR TAPAS! — Sakura vociferava, atiçando a ruiva que também tentava se livrar do aperto do platinado. — O FROUXO DO SEU AMIGO PRECISA DE UMA GAROTA PARA DEFENDER ELE? CARALHO, UCHIHA! ACHE ALGUMA QUE SAIBA BATER, PELO MENOS! — Sakura sorriu mordaz na direção da Uzumaki.

A fúria que existia na Uzumaki se reascendeu, deixando ela alheia ao silêncio que nascia ao redor e os olhares desesperados de Suigestsu para si.

Ela queria matar aquela mulher.

— SUA PUTA NOJENTA! EU VOU ARREGEÇAR ESSA SUA MALDITA CARA POR TER ENCOSTADO NO SASUKE! ESTÁ ENTENDENDO? EU. VOU. TE. MATAR!

Karin respirava com força, ainda agarrada pelos braços do Suigetsu. Um sorriso pintou seus lábios quando não ouviu uma resposta da Haruno. A garota estava com medo dela!

— O que está acontecendo aqui?

Os olhos castanhos subiram, sendo os últimos que notaram a presença da figura imponente acima da escada. E ali, enquanto via os olhos amarelos sobre si, ela entendeu por que todos estavam calados no momento em que suas ameaças saíram de seus lábios e não demorou para perceber que como estavam todos em silêncio quando gritou suas últimas ofensas, suas palavras haviam ecoados claramente em todo aquele ambiente.

Ela teve vontade de chorar.

Os protagonistas da cena olharam com atenção para o homem que descias as escadas enquanto seus sapatos lustrosos eram os únicos que faziam algum barulho em meio aquele silêncio. Ele parou, com sua postura impecável e passou seus olhos por todos ali.

E antes mesmo que as palavras houvessem saído dos lábios finos, todos os presentes tiveram suas salivas engolidas em seco quando entenderam o óbvio:

Estavam fodidos.


Notas Finais




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