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História Meu Inferno Particular - Capítulo 6 - You Cant Change Me


Escrita por: Alaska_sKa e Nara20050

Notas do Autor


Oie babys, vocês estão bem? Eu estou ótima!

● Capítulo Revisado.

Capítulo 7 - Capítulo 6 - You Cant Change Me


Fanfic / Fanfiction Meu Inferno Particular - Capítulo 6 - You Cant Change Me

Capítulo 6

Você não pode me mudar

Imagine-se em um quarto, cheio de vidro quebrado, sangue nos pedaços

Os pedaços que você não pode colar de volta

Um pouco de luz branca em um mar negro

Minha cabeça é o quarto

E a sala está cheia de vidro quebrado

Você não pode me mudar

Você pode me salvar?


New York; Brooklyn


Pop’s Up Kurama; 5:30 PM

A tensão entre eles parecia pesar uma tonelada.

As mãos femininas seguravam o próprio celular com força, apertando o aparelho como se sua vida dependesse daquilo, enquanto seus olhos se mantinham fixos na figura que destoava de todo o ambiente ao seu redor. Sua ameaça – que ela se via capaz de executar sem remorso – havia se perdido entre os dois; Os abismos negros a observavam com atenção, fixos em seus próprios olhos e lendo por completo todas as nuances de sentimentos que surgiam entre o lagos esverdeado e que os iluminavam.

Medo. Ansiedade. Apreensão. Confusão.

O balcão de madeira os dividia, uma muralha entre os dois corpos distintos – ela, com seu uniforme de garçonete e ele, com suas roupas escuras e sua pele tomada por machucados – e que se encaravam como se pudessem ferir um ao outro somente com o ato. Sakura mudou o peso de uma perna para a outra, olhando para cima rapidamente e certificando-se de que a câmera que ficava em uma das quinas da parede estava ligada – a visão da pequena luz vermelha ligada trouxe um ligero alento ao seu coração que já batia ansioso em seu peito.

Ela sabia o que homens poderiam fazer quando estavam com raiva e não se sentia minimamente confortável estando frente a frente com uma figura que, da maneira mais branda, parecia ter acabado de lutar com cinco garotos de rua. Ela não se sentia nada confortável.

Umedeceu seus lábios e logo em seguida os abriu, mas sua voz não saiu imediatamente. Formulava perguntas em sua mente, franzindo suas sobrancelhas a cada nova indagação que aparecia. Sasuke não ousou desviar seus olhos daquela cena, observando com cuidado todas as novas expressões que tomavam o rosto feminino a cada segundo – o moreno observava a cena com certo humor, sentindo um prazer sádico em ver a hesitação da garçonete.

– Tenho certeza que não estou devendo nenhum favor para você. – Sakura falou diretamente, mantendo aquele jogo de olhares que nenhum dos dois parecia disposto a perder.

Orgulhosos.

– Não ia chamar a polícia? – Sasuke sorriu ladino, passando sua própria língua ferina pelos lábios ressecados e machucados. Ele não estava em nenhuma condição de provocá-la, mas a tentação era maior do que ele poderia suportar.

A Haruno o olhou com asco, não fazendo qualquer questão de disfarçar seu sentimento.

– Eu posso fazer isso agora mesmo! – Sakura rosnou, aproximando-se do balcão e espalmando sua mão livre pela superfície recém limpa. – Mas, não sou idiota. Você não iria sair de Manhattan e vir até o Brooklyn sem que tivesse um motivo muito bom! E eu, Uchiha, não devo nenhum favorzinho para você! – A mão feminina enfiou o celular no bolso de seu avental, pegando em seguida o cardápio próximo a si e jogando em frente a ele.

Sasuke arqueou uma de suas sobrancelhas, olhando com indiferença para o cardápio a sua frente e depois subindo somente para encontrar os impassíveis olhos verdes. Sakura cruzou seus braços, sendo a vez dela erguer a própria sobrancelha.

– Quer minha atenção? Tem que pagar.

Novamente alternou seus olhares entre a mulher o cardápio fechado a sua frente. Sakura era louca, isso ele já sabia, mas a faceta orgulhosa estava sendo algo novo para seus olhos. Com um suspiro cansado e retirando as próprias chaves do bolso, colocando-as em cima do balcão, Sasuke sentou-se em um dos bancos dispostos ali e abriu o cardápio com preguiça.

Mulherzinha irritante.

– Bem... Vou querer uma água. – Ergueu seus olhos preguiçosamente, encontrando os felinos olhos o observando com resquícios de raiva. Sakura ergueu novamente sua sobrancelha, apertando seus braços com mais força e o olhando como se fosse o maior imbecil de toda Nova York. Suspirou novamente, fechando o cardápio e jogando em cima do balcão. – Ou será que a garçonete bonitinha tem uma sugestão?

Sakura revirou os olhos, o Uchiha estava testando a pouca paciência que tinha.

– Claro! Tudo para meu melhor cliente! – Pegou um bloquinho do mesmo bolso em que havia enfiado seu celular e uma caneta. Um sorriso digno de comerciais de pasta de dente apareceu entre os lábios carnudos, mas carregando um brilho que estava longe de ser simpático. Sasuke não teve tempo para pensar sobre aquilo, logo ouvia o “click” da caneta. – Uma porção família de fritas com cheddar e bacon, dois milk shakes tamanho adulto, uma porção de frango frito apimentado e uma taça de morangos mergulhados em calda de chocolate. – Sasuke abriu sua boca, descrente, mas antes que pudesse interrompê-la a voz feminina o cortou novamente. – Tudo fica cinquenta e dois dólares, além de uma gorjeta de, no mínimo, sessenta dólares para a garçonete bonitinha.

E então arrancou a pequena folha de papel, andando alguns poucos passos e colocando sobre um pequeno balcão de acesso que dava para a cozinha. O cozinheiro não demorou a apanhar o pedido, deixando para trás um assovio impressionado.

Uau, esse daqui tem bom apetite! – O cozinheiro, um cara de 28 anos e cabelos castanhos, se aproximou da janela e olhou para Sasuke. Os olhos castanhos se arregalaram, medindo rapidamente o rosto destruído do jogador. – Caralho...

– Ren. – Sakura murmurou entediada.

– Saquei! Saquei! Daqui alguns minutos seu pedido vai estar pronto, cara! – O cozinheiro se afastou, sumindo por trás da pequena entrada e começando a mexer nas inúmeras panelas e travessas espalhadas por ali.

Um sorriso frouxo apareceu nos lábios da garçonete enquanto ela andava em direção ao Uchiha, mas não sem antes passar seus olhos pela lanchonete praticamente vazia e vendo o casal ainda sentado. Ambos estavam embalados demais na própria conversa para sequer pensarem em olhar para os dois jovens no balcão.

Ela os invejou naquele momento.

– Você sabe que isso é crime? Extorquir alguém.

Sakura desviou seus olhos para o homem que parecia ter saído diretamente de algum beco após uma surra. Ele estava a olhando com um desagrado nítido, franzindo as delineadas sobrancelhas e tendo uma carranca que seria perceptível a quilômetros de distância.

Só esse detalhe fez com que ela mantivesse o sorriso debochado em seus lábios.

– Sessenta dólares ou a policia, meu bem, você escolhe.

Ele não estava lidado com uma mulher, estava lindando com um maldito demônio que foi envido das profundezas do inferno somente para atormentar sua vida e destruir sua tão prezada reputação. Ele se considerava ateu, mas não poderia haver qualquer outra explicação para aquilo a sua frente – com os olhos brilhosos, o sorriso debochado e o desejo absurdo de limpar sua carteira.

Inferno.

– Vou te pagar uma gorjeta bem gorda, não se preocupe. – A voz grave soou com nítido descontentamento, alimentando mais ainda a pequena besta que Sakura carregava em seu peito. Seu ego, talvez? – Tenho sua atenção agora, caloura?

Os orbes verdes subiram rapidamente até o relógio que ficava preso na parede atrás de si, fazendo com que ela soltasse um suspiro cansado antes de voltar seus olhos para o homem. Faltavam alguns bons minutos para a primeira leva de clientes famintos, para sorte do Uchiha.

– Claro, tem toda minha atenção, capitão. – Os cílios grossos baterem preguiçosamente enquanto as gemas verdes o olhavam com extremo tédio. O quadril largo se acomodou ao lado da pia, deixando seu corpo parcialmente de lado, as mãos ansiosas capturaram o comprido rabo de cavalo e começaram a pentear os fios rosados com seus dedos. – Agora pode falar logo qual seria esse favor que, supostamente, eu estou o devendo.

Sasuke juntou suas mãos, estralando seus dedos e mantendo seus olhos presos naquelas duas pedras esverdeadas. A vontade de ver aquela pose prepotente sumir estava o consumindo, poder ver aquele sorrisinho arrogante sumir dos lábios rosados e aqueles malditos olhos perderem o brilho orgulhoso, mas manteve suas palavras contidas. Sua voz soou grave, mas baixa do que o costume.

– Se lembra daquele dia em que nós dois acabamos brigando, certo? – Ele sabia muito bem que a ela jamais esqueceria aquilo, mas isso não o impedia de provocar. – Eu assumi toda a culpa por meus irmãos, mas isso não significa que eu assumi sua culpa. Livrei sua cara do Orochimaru, mas agora eu vim cobrar esse favor, Haruno.

E o pequeno sorriso sumiu. Pouco a pouco, um milímetro a cada palavra dita, mas após Sasuke terminar de falar já não havia qualquer rastro de que há alguns segundos existia um sorriso naqueles lábios. Agora parecia apenas um a dura linha, enrijecida e crispada. As sobrancelhas desenhadas alinharam-se, fazendo daquele olhar ainda mais inexpressivo.

— Perguntei de você por aí e não foi tão difícil entender quem você é, fez história na festa do Akasuna. — Sasuke não tinha um sorriso aberto, mas um leve vestígio de um sorriso dançava sobre seus lábios machucados. — Me pergunto como vocês começaram a se evolver, uma caloura do Brooklyn e um veterano da BKE, como duas pessoas tão opostas conseguiram entrar em um relacionamento? — Os dedos batucaram no balcão, agora tendo um sorriso mais amplo em seus lábios. — Bem, isso não importa, agora.

Sasuke era uma pessoa pragmática, raramente estendia algum assunto mais do que o necessário, mas ele sentia um prazer peculiar em ver a faceta orgulhosa ruindo a sua frente. Ele estava gostando de prorrogar aquele assunto, de perdurar as reações inéditas da garçonete.

— Perguntando sobre você ouvi uma coisa que muda toda sua situação. Sakura Haruno, dezoito anos, estudante de arquitetura e uma aluna com um histórico impecável desde o ensino médio e que resultou em uma bolsa integral para Columbia. — O sorriso de Sasuke se alargou como se ele acabasse de dizer uma das melhores coisas da sua vida. — Se não me engano, alunos bolsistas não podem ter qualquer falha em seus históricos.

E ele estava longe de estar enganado.

O rosto de Sakura parecia ter sido esculpido em pedra, os delicados traços femininos não mostrando nada além da beleza selvagem que a caloura carregava. Seus olhos estavam duros como esmeraldas brutas, presos nos orbes negrumes do quarterback e buscando qualquer indicio de blefe.

Mas não encontrou absolutamente nada.

O sangue borbulhava em seu corpo, correndo como lava fervente por suas veias e levando por todos os seus membros a adrenalina que a raiva causava em si. Suas mãos, que estavam estáticas desde que o Uchiha havia começado a falar, cruzaram em frente a si – de maneira inconsciente se protegia e protegia o moreno de seu ataque impulsivo.

Já estava fodida demais.

– Eu não pedi isso.

Sasuke deu de ombros, despreocupado. Ele ergueu sua sobrancelha – de novo – e sorriu de lado, da típica maneira que fazia todas as universitárias tremerem suas pernas e molharem suas calcinhas.

Mas isso só enfureceu mais ainda a Haruno.

— Claro, claro... Mas eu fiz, não fiz? E você teve a oportunidade de me desmentir, porém, você não o fez. – Sasuke umedeceu seus lábios ressecados. O gosto ferroso do sangue seco pintou seu paladar, mas ele estava focado somente naqueles grandes orbes esverdeados. – Só vim cobrar esse favor, e somente isso.

As expressões impassíveis deram lugar para os lábios entreabertos e os olhos semicerrados, olhando-o como se fosse um dos animais mais peçonhentos que ela havia tido o desprazer de encontrar. Estava descrente, surpresa, extasiada.

– Você manipulou tudo!

Sasuke novamente ergueu seus ombros com despreocupação, levantando suas mãos em sinal de rendição e olhando-o para a rosada com cinismo. O sorriso arrogante parecia costurado em sua pele, sendo impossível de sumir de sua face.

– Eu uni o desagradável com o útil, querida.

Ela estava fervendo de raiva e ele parecia se deliciar cada vez mais com aquilo.

Calma, Sakura... Muita calma.,  pensou enquanto olhava para o teto. Se olhasse mais uma vez para aquele maldito sorriso iria mandar sua calma para o outro lado do mundo e voaria naquele pescoço com suas próprias mãos.

Conte até dez, Sakura. Conte até dez.

– O que acontece caso eu não queira pagar esse favor? – Os olhos verdes ainda estavam presos no teto, analisando qualquer detalhe na superfície, mas sentia os olhos negros de Sasuke queimando sua pele.

Ela sentiu que ele sorria enquanto falava.

– Bem... Posso mandar uma carta ao conselho exigindo uma nova reunião, dizendo que eu estava confuso demais para qualquer declaração anterior e que você se aproveitou do meu estado debilitado. – Sasuke apoiou seu queixo em uma de suas mãos, o sorriso divertido brincando em seus lábios. – Que coisa feia Haruno, me agride e ainda coloca a culpa em mim, a vítima?

Os orbes verdes desceram com lentidão, parando diretamente nos ônix dele.

A boca feminina secou e seus olhos arderam. Pode escutar seu coração acelerando, pulsando em seu ouvido e seu sangue fervente correndo com mais velocidade por suas veias.

E então estourou.

Aproximou-se como um felino, um jaguar sedento por carne. Os olhos verdes brilhavam possessos, fixos no semblante inabalável de Sasuke e em seus olhos tão escuros quanto suas roupas. As mãos femininas se espalmaram pelo balcão, frente a frente com ele, deixando sua face próxima o suficiente para que suas palavras odiosas – porém baixas – fossem ouvidas com nitidez.

– Uchiha, você não ousaria!

Seu tom tremia tamanha sua raiva contida.

Sasuke sorriu com o leve erguer de um dos lados de seus lábios. Ele estava destruído, com seu rosto carregado de hematomas e com feridas profundas, tomadas pelo tom carmim do sangue seco, mas nem isso era capaz de alterar a beleza que carregava. Pior, os machucados – de alguma maneira que Sakura não se atreveria a tentar entender – casavam com seus traços, deixando toda a sua figura intocável ainda mais bela. Uma beleza selvagem, algo que fugia dos padrões perfeitos que ele estava acostumado a carregar.

Uma beleza que, de uma maneira peculiar, deixava-o mais atraente. Mais humano.

Um Sasuke Uchiha verdadeiro.

Ele se aproximou da mesma maneira que ela, deixando somente dois singelos centímetros de distância entre seus rostos. Ele olhou demoradamente para os grossos lábios rosadas, só para em seguida subir seus olhos e fitar o lago revolto que Sakura tinha em suas esferas.

– Você quer pagar para ver, Haruno?

Os olhos verdes faiscaram.

– Uchiha..

Ela se aproximou mais, fazendo com que aqueles poucos centímetros se extinguissem e tornassem somente um mísero centímetro. Sasuke sorriu mais, umedecendo seus lábios no processo, enquanto Sakura sentia que estava ao ponto de entrar em combustão.

A raiva que corria por seu corpo era algo além do que ela podia imaginar.

– PEDIDO! – O grito seguido de um sino agudo.

Sakura piscou, olhando um última vez para a figura a sua frente e com seus orbes mais claros por conta da névoa de raiva que se dissipava. Se afastou como se Sasuke tivesse alguma doença, indo em passos duros até a pequena bancada.

Sasuke sentiu seu êxtase ruir, extinguindo com uma velocidade assombrosa em seu âmago.

O que você está fazendo? Pensou, levando suas mãos machucadas até seu rosto e apertando suas têmporas. Coçou seus olhos, assim como subiu suas mãos e passou por entre os fios escuros de seu cabelo, bagunçando-os ainda mais.

Puta que pariu!

– Aqui está seu pedido. – Sakura se aproximou com uma bandeja, saindo por de trás do balcão e dando a volta pelo mesmo. Em passos rápidos, calçando o surrado all-star branco e usando o mesmo vestido da noite fatídica que Sasuke conheceu o Kurama, parou ao lado do moreno e começou a dizer o nome de cada prato enquanto os colocava a sua frente. – Uma porção tamanho família de fritas com cheddar e bacon; dois milk shakes tamanho adulto; uma porção de frango frito apimentado e uma taça de morangos mergulhados em calda de chocolate!

Sasuke mediu todas as comidas com assombro, mas não teve tempo para reclamar.

Sakura se virou, rumando em passos rápidos para trás do Uchiha – fazendo com que o moreno tivesse que se virar para acompanhar seus passos – e indo em direção ao casal de idosos que se levantava da mesa que ocupavam.

Sasuke pode observar o sorriso simpático que a Haruno direcionava aos velhos, tendo seus olhos verdes brilhosos e os acompanhando com graça até a porta após o senhor ter pagado a conta – ela se abaixou rapidamente, afagando a cabeça do cachorro que abanava o próprio rabo com animação. – A garçonete abriu a porta para eles e ainda passou alguns segundos observando a pequena família sair em uma caminhada lenta, para em seguida ir até a mesa que era utilizada e limpá-la com um paninho que estava em sua cintura.

Ela voltou até o Uchiha, só que dessa vez tendo a bandeja preenchida por louças usadas. Em um movimento rápido e experiente, debruçou-se sobre o balcão e colocou a bandeja na parte de trás do mesmo antes de sentar ao lado do Uchiha.

Um suspiro saiu dos lábios femininos assim que ela puxou a porção de fritas para ela, pegando uma batata e mordendo com vontade – outro suspiro, mas dessa vez soando mais prazeroso enquanto ela mastigava a batata 

Ela olhou para Sasuke. O moreno a observava com as sobrancelhas franzidas, fazendo a garçonete revirar os olhos em sua direção.

– Funcionários pagam para comer e eu ainda não almocei. – Sakura bateu as mãos, limpando seus dedos e pegando um dos Milk Shakes.

Sasuke abriu seus lábios, mas os fechou antes que começasse a falar.

Começou a comer silenciosamente, acompanhando a Haruno que devorava as comidas sem qualquer vergonha. Estava faminta e o Uchiha havia dado o prazer de pagar sua comida. Os dois estavam sentados lado a lado – calados, é claro – mas os minutos se passaram e nenhum prato foi virado e muito menos um série de xingamentos se iniciou. Eles agiam como pessoas normais, por mais que ainda odiassem genuinamente um ao outro.

Sakura colocou o copo vazio em cima da bancada, soltando um suspiro desgostoso e enfim olhando para o jogador ao seu lado – Sasuke não havia sequer tocado nas comidas doces, mas havia comigo uma quantidade considerável de frango frito.

– Como quer que eu pague esse favor? – Sakura apoiou seu rosto em sua mão, enquanto seu cotovelo era posto em cima do balcão. Os longos cabelos róseos caíam em suas costas, presos em um rabo de cavalo.

Ela sentia seus fios pesarem, oleosos e imundos. Estava louca para ir para Columbia e poder enfim tomar um banho, trabalhar em uma lanchonete tinhas suas desvantagens e essa era uma daquelas.

Sasuke limpou seus dedos em um guardanapo com calma, como se tivesse todo o tempo do mundo ao seu dispor. De maneira vagarosa visou-se em direção a Haruno, ficando frente a frente com a face impassível da garçonete que o fitava com uma de suas sobrancelhas erguidas.

– Sei que deve ter ouvido sobre a One, a festa que acontece todos os anos. Ela acontecerá amanhã, na KAY. Uma fraternidade que compõe um a trindade de Columbia. – Sakura assentiu minimamente, confirmando que já sabia de toda aquela história – Quero que você vá.

Primeiramente, Sakura ergueu mais ainda sua sobrancelha.

Em seguida, riu.

Uchiha Sasuke havia movido sua bunda mimada de Manhattan até o Brooklyn para exigir sua presença em uma festa? O orgulho do Uchiha era grande demais para que ele se rebaixasse ao ponto de convidá-la como um ser humano normal? – A vontade de rir só crescia mais a cada segundo que se passava. – A rosada prensou seus próprios lábios, contendo a eminente crise de riso que se aproximava e a deixava alheia aos questionamentos que apareciam em sua cabeça.

Não entendia o motivo que o fazia querer em sua festa, seria o ego ferido? Ou séria somente uma maneira de se vingar das atitudes que a Haruno havia tido contigo? Ela não sabia e pouco importava para ela naquele momento, ela só sentia vontade de rir.

Se Sasuke já sentia seu ego ferido anteriormente, naquele momento ele estava sendo completamente massacrado. O humor havia iluminado os olhos esverdeados, subindo até as bochechas sardentas e as colorido com um rubor rosado.

Sakura puxou uma grande lufada de ar, forçando-se a manter sua postura.

– Uma festa? Esse é o pagamento? – A descrença ainda era palpável em sua voz.

– Sim.

Ela não conseguiu impedir que uma risada escapasse de seus lábios.

– Uchiha, eu não faço ideia do porquê disso tudo, mas se ir a uma festa vai fazer com que você me esqueça, eu posso fazer esse sacrifico. – Ela deu de ombros, olhando com divertimento para a figura detestável. – Mas é melhor tomar cuidado, eu tenho uma queda por homens babacas e seus carros caros! – E piscou para o mesmo enquanto se levantava da cadeira.

Sasuke revirou seus olhos, pegando sua carteira em um de seus bolsos enquanto a Haruno ia para novamente para trás do balcão e começava a recolher as bandejas usadas.

A ameaça saiu com um tom de humor, mas ele sabia muito bem, independente do pouquíssimo tempo que conhecia mulher, que quando o assunto era Sakura Haruno tudo podia ser possível.

Apanhou uma nota de R$100,00 dólares e mais alguns trocados, e colocou em cima do balcão.

– Começa às dez da noite, seu nome vai estar na lista. – Ele se levantou, vendo a mãos femininas pegarem o dinheiro e o levar pro caixa. – Não se atrase.

Foi a vez das esferas verdes revirarem, quase desaparecendo nas orbitas branca.

– Não se preocupe Uchiha, meia noite eu estarei lá! – Ele já andava em direção a porta, não dando a devida atenção ao comentário da rosada.

Ela o assistiu saindo pela porta de vidro, sumindo entre o mar de pessoas que eram as ruas durante aquele horário. Caminhava como um rei, dando cada passada como se conhecesse todo aquele mundo e que tudo abaixo de seus pés o pertencia. Sakura soltou um riso anasalado enquanto balançava sua cabeça.

Ele não sabia onde estava pisando.

Uma festa não seria tão ruim assim, afinal.


•••

Manhattan; Palace on States; Prédio Universitário


Sábado; 11:10 AM

As delicadas mãos passavam de maneira vagarosa pelos fios negrumes, massageando com calma todo o comprimento do cabelo molhado que caia onduloso em suas costas estreitas. A música francesa soava ao fundo, preenchendo o ambiente abafado e que tinha o cheiro suave de inúmeras fragrâncias; hidratantes corporais, sais de banho, perfumes naturais e cremes de cabelo.

O corpo feminino era ocultado pela espuma da banheira, deixando somente o inicio do colo visível sob a água. Uma travessa de vidro estava próxima a banheira, preenchida com grossos pedaços de frutas e que eram pescados pelos dedos femininos.

Aquele era seu momento de paz.

A sutil melodia francesa embalava seus sentidos, deixando-a alheia ao caos da cidade nova-iorquina e a confusão que sua vida estava sendo. Fechava os olhos por alguns segundos, escutando com completa atenção as notas leves que acalmavam todos os seus nervos cansados e estressados, levando ela para longe daquele cômodo úmido e cheio de vapor.  

Aquilo era tudo que ela precisava, o momento de descanso que seu corpo clamava durante toda a semana. Aproximou-se da borda da banheira, se debruçando sobre o mármore até alcançar a travessa de vidro e pegar uma fruta cortada.

Estava prestes a morder o morango quando escutou passos abafados, chegando cada vez mais rápido até a porta fechada do banheiro. Sequer teve tempo para pensar, quando piscou a porta em tons rose foi aberta de supetão.

– H-Hinata? – A mulher ofegava, apoiando-se nos próprios joelhos e olhando de maneira cansada ao redor.

A Hyuüga revirou os olhos quando notou quem era invasora de seu banho. O delicado corpo feminino relaxou, afundando-a ainda mais entre as espumas brancas e que cobriam quase completamente a água morna em que a morena estava submersa.

– Temari? O que você quer? – A morena apoiou sua nuca em uma parte acolchoada da banheira, deixando seus longos cabelos molhados pela máscara hidratante caindo para fora da cuba branca e mantendo seus olhos na loira ofegante.

Os foscos olhos verdes correram pelo banheiro amplo, passando pelo espelho que ocupava uma parede por completo e pelo chão branco aos seus pés, até chegar até a banheira que suportaria facilmente mais duas pessoas. Os plácidos olhos da Hyuüga a fitavam, austeros e incisivos, aguando a resposta para sua pergunta – Temari engoliu em seco enquanto analisava a mulher de madeixas negras.

Hinata parecia uma pintura renascentista, digna de ser retratada como uma obra divina, iguais aquelas que eram expostas em museus renomados pelo mundo inteiro. Os longos cílios negros emolduravam seus claros, deixando seus orbes ainda mais belos e suaves. A pele branca de seus ombros era a única coisa visível sob as espumas, junto com seu pescoço livre dos finos colares de ouro que costumava usar.

Vamos, você consegue!, pensou, logo após hesitar. Seus passos ecoaram pelo banheiro enquanto escutava a melodia francesa distante, caminhando de maneira contida e evitando em olhar para os orbes cinzentos que estavam fixos em si. Estava nervosa, sentia isso enquanto limpava as palmas de suas mãos suadas em sua calça jeans e quando seu estomago se embrulhou – queria vomitar todo seu café da manhã, mas sequer havia comido corretamente por conta da noticia que havia recebido.

Sentou-se assim que chegou perto da banheira, acomodando-se sobre o mármore dourado que rodeava a banheira oval e frente a frente com a figura austera que a observava. Seus dedos foram automaticamente até seus anéis, rodeando-os e tentando aliviar o nervosismo que corria por seu corpo.

Abriu seus lábios, mas sua voz demorou alguns segundos para sair. O tom hesitante estava nítido no tom ameno, para o estranhamento da Hyuüga.

– ... Como você... Está? – Temari– se recusava a olhar para ela, mas sentia o olhar cinza queimando sua pele como brasas ardentes.

Hinata franziu as perfeitas sobrancelhas, medindo dos pés a cabeça o corpo feminino da Sabaku. A loira usava as roupas de sempre, jeans e uma camiseta justa, os mesmos cachos loiros de sempre e tinha o rosto livre de qualquer maquiagem, mas ela tinha algo que estava completamente diferente. A postura hesitante destoava de tudo aquilo que Temari era, do estilo espalhafatoso e extremamente direto que a universitária tinha.

Algo estava errado, muito errado.

– Estou bem... – Murmurou, ainda a olhando com estranheza.

Que Deus me ajude, Temari pensou enquanto tentava, inutilmente, achar algumas palavras para explicar o que havia lido aquela manhã – Konan havia acordado inspirada naquele sábado, sendo incisiva em seus comentários e que fizeram Temari cuspir todo o seu café. – As mãos ansiosas pararam de se mexer, acomodando-se sobre suas pernas e seus olhos enfim se ergueram; Os profundos verdes fitaram Hinata com pesar, como se já se arrependesse desde já por aquilo que iria fazer.

Hinata só teve tempo de achar tudo aquilo ainda mais estranho.

– E você e... o Naruto?

Dizer o nome do Running Back era o mesmo que dizer o nome de Voldmort em Hogwarts; dito de uma maneira tão pesada que parecia que, a qualquer momento, o homem que estava sendo alvo da maioria dos posts venenosos da estudante de jornalismo poderia aparecer ali, invocado como um demônio após ter seu maldito nome proferido.

Os olhos cinzentos desviaram, caindo sobre a água morna que cobria seu corpo.

Calou-se, deixando que somente o som de seus dedos correndo pela água, dissolvendo a espuma que havia ali, e a melodia suave da música francesa preenchesse aquele banheiro. Os claros olhos fitavam seus dedos enrugados, deslizando com suavidade sobre a água como se não houvesse ouvido a pergunta.

Ela não queria falar sobre aquilo.

Ela nunca queria falar sobre aquilo.

Como? – Seus olhos não se ergueram, mas sua voz soou baixa. O tom abatido, cansado, não passou despercebido pelos ouvidos atentos da Sabaku.

– Konan. Ela postou hoje de manhã. – Temari não conseguiu disfarçar seu semblante, as sobrancelhas loiras se acomodaram sobre seus olhos de maneira sôfrega enquanto observava a morena sob a água. – Ela foi bem cruel com os comentários, como sempre.

Hinata não respondeu mais nada, deixando que um silêncio pesado caísse sobre as duas mulheres enquanto abraçava seus joelhos junto ao peito. Ela parecia mais magra ali, como se a água ao seu redor pudesse engolí-la a qualquer momento, tão pequena ao ponto de parecer que a banheira era grande demais para ela. A pele leitosa de suas costas apareceu livre de qualquer marca ou cicatriz, e seu cabelo começou a escorrer para dentro da água espumosa.

Mas ela nem ao menos pareceu se importar.

Temari se levantou rapidamente, aproximando-se em passos largos até ficar lado a lado da morena. Agachou-se, apoiando seus antebraços na borda da banheira e acomodando seu queixo ali; Os orbes foscos focaram na figura miúda sob a água, tão encolhida quanto um passarinho molhado.

– Hina... – Ela ergueu uma de suas mãos, afastando levemente seu braço e a tocando com suavidade, como se tocasse um animal machucado. Acuado, ferido e desconfiado. – Você não pode guardar tudo para você, fale com alguém! Fale comigo!

Hinata riu nasalmente, balançando sua cabeça minimamente. Havia fugido daquilo, se isolando de todo o mundo em sua pequena redoma e distraindo sua mente de todo aquele inferno que parecia crescer cada vez mais a cada segundo, mas agora estava ali; encolhida em uma banheira, escutando sua amiga tentando de todas as formas fazer com que ela se abrisse.

Havia sido burra o suficiente para achar que conseguiria fugir daquilo, que conseguiria apagar aquele inferno por algumas horas e fingir por um momento que era normal. Como era burra, como poderia ter cogitado fugir daquilo que a atormentava há meses?

Ela não conseguia fugir da sua sina, daquele sentimento que a corroia por dentro.

Ela simplesmente não conseguia.

E aquilo estava a matando.

– Eu não sei mais o que fazer. – Sua voz soou baixa, como um sussurro em que compartilhava um de seus maiores segredos. Os olhos cinza recusavam-se a se erguer, mas sua amiga sequer piscava enquanto a olhava.  – Eu já tentei de tudo, mas ele não me ama. Isso sempre esteve óbvio, sempre esteve ali para qualquer um que quisesse enxergar. Os amigos dele riam de mim, as amigas me olhavam com pena, mas eu sequer fui capaz de perceber isso. – Ela sorriu amarga, permitindo-se ir em direção ao limbo de sentimentos que sempre esteve ali, escondido entre as várias camadas de autocontrole e ego que ela carregava. Encoberto por todas as suas facetas, mas sempre ali, se tornando cada vez mais profundo e escuro.

O buraco que ela sabia que, caso um dia caísse, não conseguiria retornar.

E agora se via caminhando perigosamente na beira da sua desgraça, esperando o golpe de misericórdia que a derrubaria nas profundezas de seu âmago.

– Eu não o conheço, nunca o conheci. – Hinata riu, tendo seu tom cada vez mais amargo. – Precisei que uma bolsista chegasse para eu enxergar o óbvio. Que patético. – Ergueu sua cabeça, pousando seus orbes úmidos sobre os aflitos olhos da Sabaku. Temari engoliu em seco, sentido o peso de cada palavra que saía dos lábios de sua amiga. – Ele não me ama e nunca vai me amar. Essa bolsista fez com que ele tivesse uma crise moral e resolvesse acabar com isso.

A loira sentiu seu próprio coração doer em seu peito. Sentiu a dor de Hinata da mesma maneira que uma mãe sentiria de uma filha. As foscas esferas estavam nubladas pela nostálgica recordação de que um dia havia sido ela da mesma maneira que a Hyuüga, que um dia ela se sentiu vazia da mesma maneira.

Hinata fungou, apertando seus lábios na tentativa de segurar suas palavras e o choro, mas falhou miseravelmente. As sobrancelhas negras franziram e ela fitou Temari com um desespero contido iluminado aquelas esferas tão claras, reluzindo as lágrimas que estavam se acumulando.

– Do que adianta ser perfeita se não posso ter quem eu mais quero? Do que adianta toda essa merda se eu não posso ter o único coração que desejo? Do que adianta ser Hinata Hyuüga, se eu não posso amar a única pessoa que fez eu me sentir viva?! – Ela falou com raiva. Não por Temari, não por ninguém, somente por si. Sentia ódio da sua capacidade de ser tudo, menos a garota que faria o Uzumaki se apaixonar.

Uma fina lágrima escorreu de seus olhos, caindo por sua pele alva e pingando dentro da água que já havia esfriado há muito tempo.

Temari sentiu seu peito apertar enquanto assistia a máscara de Hinata ruir assim como a face de uma boneca de porcelana; repleta de rachaduras profundas, mas que não mudavam as fixas feições perfeitas da boneca. Ela tinha um papel, uma obrigação que vinha junto com seu nome e todos os privilégios, o exercia com mestria e sempre carregando um sorriso singelo em meio aos seus lábios. – Por isso, talvez por esse único motivo, que ninguém sequer jamais cogitou que Hinata Hyuüga, a intocável princesa de Columbia, seria humana e falha como todos.

Ninguém pensava que Hinata poderia ser tão falha e ela não os permitia a tal, então se excluía do mundo atrás das paredes luxuosas de sua fortaleza. Enfiava-se em seu próprio casulo, passava camadas de tinta por suas rachaduras e seguia, ostentando o glorioso sorriso que a fazia ser quem ela era – torcendo para que as camadas e mais camadas de tinta suportassem mais um dia, para que continuasse a ocupar o pedestal que tinha seu nome e todas as regalias que vinham com ele.

– Do que adianta toda essa merda, Temari?! DO QUE?! – As grossas lágrimas desciam pelo rosto oval, pingando sobre a água gélida que encobria o corpo delgado. – Naruto não está aqui, nunca esteve e nunca vai estar.

E mais outras se seguiram, descendo como cascatas e inundando aquele rosto livre de qualquer marca, de qualquer cobertura ou faceta; livre, límpido, puro. Seus sentimentos estavam da mesma maneira, expostos como sua pele desnuda e visível da maneira mais frágil que alguém podia os olhar.

Sussurrou com dor, exausta daquele buraco que crescia em seu peito.

– Por que doi tanto? – O fio de voz saiu embargado pelo choro. As últimas palavras de alguém que beirava o precipício. – Por que doi tanto, Temari? Por quê?

Mas nem ela poderia responder.

Temari ergueu-se desleixadamente, amparando o corpo miúdo em seus braços e a apertando contra si. A camiseta que usava molhou, mas ela não conseguia se importar com aquilo naquele momento – não ali, não agora. – O corpo pálido tremeu com seu toque, estranhando o repente toque mais quente sobre sua pele gélida, mas a mão de Temari foi mais rápida e subiu até os úmidos cabelos negros e que ainda estavam lambuzados pelos cremes.

Sua voz soou baixa, como um sussurro em seu ouvido.

– Isso, coloca tudo que está aí, para fora. Só tem um jeito de curar isso, se permita sentir toda essa dor, ela é necessária. Precisa doer para passar, precisa doer. – O corpo feminino tremeu entre seus braços, sendo acompanhado por altos soluços e sôfregos gemidos. Hinata tentava falar, mas tudo que conseguia fazer era chorar e gritar de maneira muda. – Shhh, não precisa falar, eu sei que dii. Eu sei como doi. Só chore amiga, isso é o melhor que você pode fazer.

Os soluços se intensificaram e Temari, sem saber como, escorregou para dentro da banheira ainda tendo a morena em seus braços. As lágrimas de Hinata caíam quentes em seu corpo, pingando sobre seu braço e despencando até a fria água que as rodeava. A mão suave passava por entre os fios negro, massageando suas madeixas enquanto ouvia o choro cospidoso de Hinata.

Ela sabia que um dia sentiria aquela dor, passou muitas noites pensando sobre seria a temível dor do amor, mas aquilo era infinitamente pior do que ela poderia imaginar. Infinitmente pior do que sua inocente mente adolescente poderia imaginar; se sentia em frangalhos, apenas destroços do que um dia haviam sido seus sentimentos. Sentia-se vazia, de uma maneira que jamais havia sentido antes.

E ela já havia sentido aquilo muitas vezes.

Temari murmurou as palavras em seu ouvido, amparando-a da mesma maneira que uma irmã mais velha faria. Seu corpo estava frio e a posição na banheira fazia suas costas doerem, mas ela precisava daquilo. Ela precisava ajudar a amiga – continuava seu carinho, ouvindo todos os soluços, fungadas e gritos contidos que saíam dos lábios rosados.

– Eu estou com você, vai ficar tudo bem. – Ela sorriu confiante, tocando os as costas curvadas com as postas de seus dedos e olhando para a figura trêmula em seus braços. – Shhh... Vai ficar tudo bem amiga, sempre fica. Eu prometo, entendeu? Vai ficar tudo bem.

Era aquilo que Hinata precisava ouvir, mesmo que fosse uma das maiores mentiras que ela poderia contar.

Ela esperava até hoje que tudo ficasse bem.

Mas ela torceria, pediria todos os dias e esperaria que ela superasse toda aquela ruína. Que ela seria diferente de si e que no final, depois de todo aquele caos e daquela tempestade, tudo ficaria bem.

Ela torceria por isso.


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Toxic Girl - Blog Columbia University

Olá, meus amores.

Saudades? Ora, eu estou super ativa aqui, acho que estou acostumando vocês mal, não é?

Serem breve, pois, assim como a maioria dessa incrível instituição de ensino, tenho que começar a me arrumar para a One!

Acharam que eu não iria? Estavam muito enganados!

Tomem cuidado pequenas crianças, eu estarei com meus olhos bem atentos e amarei fazer um grandeeee post para contar os detalhes sobre esse amado antro do pecado que são as festas universitárias! Entenderam, bebês? Eu vou estar muito empenhada em ver quem são os casais que estarão indo para os quartos e, principalmente, se algum deles for comprometido! (eu amo um barraco causado pelo adultério)

Pois bem, deixemos o fator festa-dedo-no-cú-e-gritaria para depois, vamos ao tópico que fez eu acordar às 6h da manhã e estar escrevendo enquanto espero meu café ficar pronto. (Fatos sobre mim: Eu não vivo apenas de roedores e pequenos animais, muito menos de almas jovens e desesperadas, também ingiro cafeína como uma verdadeira viciada!)

Aparentemente – bem aparente, na verdade – Hinata Hyuüga e Naruto Uzumaki estavam trocando farpas! Isso mesmo, o casalzinho que não é um casal estava em um clima bem pesado perto do prédio do loiro! Opa Hinatinha, talvez tenha perdido o senso quando viu meu último post? Tudo bem, nós a entendemos, quem ficaria em paz enquanto vê seu homem sendo fisgado por outra na cara dura?

Por mais que ele nunca tenha sido seu...

Enfim, o nosso jogador – lutador de boxe amador nas horas vagas – estava exaltado e falou umas verdades bem chocantes na frente de todos, ui! Eu ficaria me tremendo de vergonha! Hinatinha saiu chorando, cena digna de filmes clichês, enquanto seu príncipe rebelde saía em direção ao covil da roubadora de corações; Sakura Haruno.

Nossa querida caloura não deu devida atenção para o jogador, mas faltou ter um ataque quando viu o rosto dele – fontes me disseram que ela ficou possessa e saiu em passos duros até o metrô!

Hyuüga perdeu o homem e sua trindade está ruindo – deveria olhar mais suas seguidoras, Mitsashi Tenten estava zandando pelo dormitório 2 e acompanhada da modelo Yamanaka. – Seria um presságio da futura ruína de seu império?

Não mate essa mera jornalista, minha querida princesa, eu só estou fazendo meu trabalho!

Assim como farei quando sua cabeça for cortada!

Ops, assiste Alice essa madrugada, estou inspirada!

Até a próxima!

E não se matem até a próxima fofoca!

Beijinhos!

Ps: Apostei R$100,00 dólares e ganhei, paguem a vadia, piranhas!  

Autora: Konan Mitsashi

Publicado: 6:22 AM

 

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Columbia University; Fraternidade KAY


Dormitório; 12:56 PM

A porta principal estava encarrancada enquanto homens e mulheres passavam por elas, todos tendo suas mãos ocupadas por caixas de papelão de diversos tamanhos e alguns adereços grandes demais para poderem caber nos caixotes. O caminhão abastecido estava estacionado em frente a propriedade e suas portas traseiras estavam erguidas, deixando que mais e mais caixas fossem levadas para dentro da residência.

O Sol brilhava glorioso acima de suas cabeças, queimando os miolos de todos que tinham suas cabeças expostas e que trabalhavam a todo vapor; as testas alvas eram iluminadas pelo suor e as camisetas cinza eram tomadas por grandes manchas molhadas. Os pobres funcionários cruzavam o gramado em passos rápidos sobre o olhar atento de Karin, supervisionado os caixotes que iam e vinham enquanto mais um punhado de homens estava dentro da fraternidade, começando a decoração de todo o térreo da mansão.

Caixas sendo abertas, ordens diretas, ferragens sendo montadas. Sons instalados, luzes testadas e paredes sendo decorada.

O caótico estado da fraternidade.

Naruto andava por entre as caixas, se esgueirando por entre as decorações que ainda não haviam sido postas e os fios que passavam pelo chão. As esferas azuis varriam a zona a sua frente e sua figura era ignorada por todas as pessoas que trabalhavam rapidamente – passavam por si como se fosse apenas mais um pilar da casa, xingando-o mentalmente quando trombavam consigo.

Mas era só erguerem seus olhos que para seu rosto e todos os xingamentos evaporavam. Os machucados estavam relativamente melhores, mas os tons esverdeados ainda coloriam boa parte de seu olho e algumas cicatrizes ainda se apossavam de seus lábios; os pobres funcionários engoliam em seco quando viam a imagem destrutiva do loiro, fugindo como pobres ratinhos medrosos do Uzumaki.

A carranca de quem havia acabado de acordar só reforçava sua imagem intimidadora.

Estava bem longe dos seus planos acordar antes das 15h da tarde, mas sua querida prima havia feito questão de o tirar da cama em meio a gritos e empurrões – sua bunda ainda doía por causa do maldito tombo que havia levado por culpa do demônio ruivo que Karin era quando adotava a postura de mãe. – Poderia subir escondido para seu quarto, mas assim que olhou para o caminho que ligava a cozinha o hall de entrada viu seu carrasco.

Karin andava por entre as caixas sem tropeçar em qualquer uma, apontando para detalhes que passavam despercebidos por todos, menos para seus olhos analíticos. Esses mesmos olhos se ergueram ao sentirem o olhar do primo – sem dar o tempo para ele fugir dos orbes castanhos – apertando-se enquanto mediam o homem que usava apenas uma bermuda clara de tactel, ameaçando-o antes mesmos que ousasse fazer o que estava pensando.

Como ela sabia que ele iria voltar para sua amada cama, ele não sabia, mas os avermelhados olhos deixaram clara a ameaça de que ela poderia bater nele mesmo com aquela distância – e que Naruto agradeceu por ter um mar de caixas os separando.

Mas se ela quisesse o espancar não seriam meras caixas que a impediram e Naruto dabia muito bem disso.

Suspirou e deu meia volta, andando em passos duros até as portas de vidro que ligavam a ampla cozinha até o deque exterior. Assim que atravessou foi recebido por quentes raios de Sol, cegando-o momentaneamente e fazendo com que tivesse que cobrir seus olhos enquanto andava pela larga faixa de gramado que separava a casa da piscina, ignorando por completo o caminho de concreto mais para frente.

As grandes janelas atrás de si estavam abertas, mostrando a sala – que tinha grandes portas de vidro que ligavam até aquela área – sendo decorada pelos funcionários da empresa que haviam contratado. O som da arrumação caótica chegava de maneira abafada até ali, sendo espalhado pelo ambiente aberto.

Passou pela cozinha externa, coberta por uma cobertura que tinha abaixo de si uma mesa de sinuca e mais algumas poltronas, e se deitou de maneira relaxada a espreguiçadeira em frente a piscina comprida. O Sol não chegava até aquela área por conta da sombra da cobertura da cozinha, mas ainda poderia sentir em sua pele o mormaço do meio-dia.

Apoiou o braço em seu rosto, cobrindo seus olhos e escutando o parcial silêncio que havia ali. Ainda escutava os sons que saíam da casa, mas os pequenos passarinhos que cantavam e a água caiando pela borda infinita da piscina o embalavam em uma sensação calmante de paz.

O sono voltou assim que seu corpo começou a relaxar.

Só queria dormir mais. Muito mais.

– O que caralhos você está fazendo aqui?

Se ergueu em um pulo, retirando seu braço de cima de seus olhos rapidamente e afastando os resquícios de sono que ainda deixavam sua visão embaçada. Demorou alguns segundos para se acostumar com a claridade que escureceu seus olhos com pontos coloridos, não podendo ver a figura que estava parada em frente à espreguiçadeira e que o olhava de cima.

Tentando dormir?! – Murmurou, ainda cego pela claridade que fazia seus olhos arderem.

Não pode ver o semblante consternado que se apossou do rosto comprido do Hozuki assim que terminou sua fala.

– Tentando dormir? – Suigetsu cruzou seus braços em frente ao corpo, erguendo sua sobrancelha direita enquanto observava a patética cena a sua frente. – Enquanto todo mundo está fazendo alguma coisa?

Esperou aquela maldita festa a semana toda e o Uzumaki estava dormindo nos fundos enquanto a casa parecia um depósito?  Tinham decorações para arrumar, luzes negras para espalhar e mais mil coisas para fazer antes que pudessem pensar em descansar alguns minutos antes da festa, mas o desgraçado estava dormindo nos fundos?!

Sim... ? – Naruto respondeu, enfim podendo ver o homem a sua frente.

Suigetsu usava uma simples regata branca e de mangas largas, acompanhado de um calção cinza e que batia na altura de seus joelhos. As tatuagens escuras ficavam visíveis sobre a pele exposta de seus braços e seus cabelos ficavam ainda mais claros sob a luz solar, bagunçados da mesma madeira que as madeixas loiras de Naruto.

Ele se inclinou para frente, olhando para dentro daqueles olhos azulados e murmurando suas palavras como uma ordem:

– Você vai levantar essa bunda magricela, colocar uma roupa e ir comprar as bebidas – Naruto abriu sua boca, mas o Hozuki semicerrou seus olhos em direção ao Running Back e o calou antes que começasse. – , e ir buscar o bagulho com os caras de TI, entendeu? Neji vai com você, quero vocês dois aqui antes das oito.

Naruto já estava sentado, mas se encolheu da mesma maneira que uma criança birrenta faria, olhando de soslaio para o platinado.

– Karin poderia ir, ela sabe dirigir e até gosta daqueles caras da TI. – Ele deu de ombros, como se explicasse uma das coisas mais simples do mundo. – Não tem porquê eu ir.

Suigetsu o olhou como se estivesse falando com um animal. Rapidamente se sentou ao lado do loiro, gesticulando exasperado enquanto sussurrava nervosamente.

Cala a boca! – Olhou para trás, certificando-se que não havia ninguém além dos dois naquela área. Voltou seus olhos para o Uzumaki, ainda descrente pelo que o loiro havia falado – Ela quase comeu minha cabeça hoje de manhã! Falou que, já que eu era o que estava mais empolgado, eu deveria ser o primeiro a começar a arrumar tudo! Cara, eram oito horas da manhã! – Ele apontou para a própria têmpora com o dedo, ainda olhando para Naruto. – Você só pode estar louco em pensar que eu vou arriscar meu pescoço falando para auele demônio ir buscar as bebida! Só. Pode. Estar. Louco!

Naruto riu, espantado todo o sono que ainda restava.

– Um marmanjo com medo de uma caipira? O Toxic ia amar saber disso!

Suigetsu ergueu sua sobrancelha em resposta, sorrindo sadicamente enquanto fitava o maldito preguiçoso a sua frente.

– Medo? Então vai você falar para ela isso daí! – O sorriso de Naruto desmanchou automaticamente e o sorriso de Suigetsu só aumentou. – Vamos, Uzumaki! Não é você o corajoso? Então vai lá falar pra caipira que você está com preguiça de ir comprar as bebidas! 

Naruto estava mais pálido.

– Não brinca com isso, Suigetsu.

– Olha só, o priminho tem medo da caipira! Covarde! – Os olhos de Suigetsu caíram sobre a piscina a frente deles, observando a queda d’água pelas bordas negras. Um sorriso suave nasceu nos lábios fechados assim que suas expressões suavizaram. – Ela só está tentando cuidar da gente do jeito dela, ela é a única que faz isso.            

– É. Ela é meio super protetora, até. – Naruto sorriu da mesma maneira que o amigo, observando a queda d’água pelo design da piscina. – Eu achava que ela se daria bem com a Sakura, não esperava que as duas saíssem de agarrando por causa do Sasuke.

– Ela gostou dela, acho que só está meio apreensiva, já que sua amiga fez um estrago na cabeça dela. – Sugetsu olhou para Naruto pelo canto dos seus olhos, podendo ver o sorriso humorado que cresceu nos lábios do loiro. – Ninguém tinha peitado a Karin daquele jeito, ela se acostumou com todo mundo a tratando como uma princesa por aí.

– Um dia eu ainda te levo no Brooklyn e você vai entender que Sakura Haruno não arrega para ninguém. – Foi a vez de Naruto olhar para Suigetsu. – Elas duas vão se dar bem, é só questão de orgulho e essas coisas.

Suigetsu riu do otimismo do amigo.

– Falando assim, até parece que entende a cabeça delas.

– Só estou falando o óbvio. – Naruto deu de ombros. – São mulheres, quem entende elas?

– Válido. – O platinado se ergueu, esticando seus braços e os alongando atrás de suas costas. – Neji foi tomar banho, daqui a vinte minutos eu espero que vocês dois já tenham saído, entendeu?

Naruto revirou os olhos.

– Sim, pai. – Murmurou para o vazio enquanto via o amigo sair em passos largos para dentro da casa, sumindo após atravessar uma das portas de vidro e deixando-o novamente com apenas o silêncio como companheiro.

Neji demoraria uns bons 30 minutos no banho, poderia muito bem dormir mais uns 20 minutos antes de subir para colocar uma camisa e passar o resto da tarde comprando bebidas para a festa.

Suspirou tentado. Era uma boa ideia, afinal.

Até seu celular vibrar em seu bolso e, após ignorar alguns minutos, atendeu sem olhar a tela.

Fala.

Estava com sono, de mau humor e uma preguiça do cão. Não queria falar com ninguém e a pessoa persistente veria isso da pior maneira possível.

Credo Naruto, olha o jeito que você fala comigo! – A voz suave preencheu seus ouvidos e sendo completamente reconhecível por si, mesmo estando levemente mais aguda por conta da raiva.

Um sorriso singelo surgiu automaticamente em seus lábios e ele só pode se acomodar novamente no encosto em suas costas, observando o céu azulado acima de sua cabeça.

Acabei de acordar, obrigado, interprete essa ligação com meu eu lírico.

Naruto, me poupe! Seu eu lírico é uma mistura trágica entre Karl Marx e aquele gordinho do desenho de lésbicas... Qual o nome dele mesmo?

Naruto riu, revirando seus olhos em seguida.

Steven, Sakura! Steven Universo!

Ai, que seja! – Conseguia ver com clareza a rosada a sua frente, revirando seus orbes esverdeados e mexendo seus lábios enquanto o ouvia. – É sábado, Naruto! Não é dia de acordar depois das três da tarde!

Justamente por ser sábado que eu deveria dormir até às três da tarde! – Resmungou. Mexia distraidamente em um cordão que havia em seu pé, observando com pouco caso a tornozeleira de pano. – Então, vai me contar por que me ligou? Esperava falar com você só daqui duas semanas...

Uou! Eu não sou tão rancorosa assim! – Ele revirou os olhos em resposto, pensando em quem Sakura queria enganar com aquilo; ela mesma ou ele. – Então, lembra que você me convidou para ir nessa tal One? – Murmurou um “uhum” em resposta, ainda atento em analisar sua tornozeleira desgastada – Eu resolvi ir.

Parou seus movimentos na hora.

Como?

Eu mudei de ideia! – Ela riu, só o deixando mais ainda apreensivo. – Acho que vai se uma boa começar o ano outra vez, mudar a primeira impressão que todos tiveram de mim..

Ele olhou para o gramado recém cortado, mas sua cabeça estava bem longe de estar pensando sobre como o jardineiro estava fazendo um bom trabalho. Acharia aquela resposta válida vinda de qualquer pessoa, menos Sakura Haruno.

Sakura nunca se importou com que os outros pensavam, por que iria começar com isso agora? Na faculdade?

Nossa. Eu realmente não esperava essa mudança, achei que íamos ir para aquele pub que fica na frente do metrô.

Aquele pub existe há anos! Podemos ir qualquer outro dia, não é? – Ela falava animada do outro lado, quase contagiando a si próprio com tamanha animação. Quase. – Ainda vamos ter nossa madrugada, prometo que vou fazer você lembrar de tudo!

Eu nunca esqueci nada que tem você, Sakura. – Murmurou, se erguendo e caminhando ao redor da piscina em passos arrastados.

Não minta para mim! Eu duvido que você se lembra do gosto das salsichas empanadas do senhor Z! – Naruto riu nasalmente, fugindo um pouco da tensão que havia se instalado em seus ombros.

Bem, eu posso ter esquecido alguns detalhes...

Eu sabia! – Ela riu como uma criança e Naruto teve que a acompanhar, mas de uma maneira mais contida. – Tenho que me arrumar para o trabalho e almoçar, mas eu e Ino chegaremos depois das onze! Sem preocupação, hein?

Impossível isso. – Não precisava estar frente a frente com ela, mas sabia que ela revirava os olhos.

Você vai se esforçar! – Ela falou autoritária. – E sem ciúmes, Uzumaki!

Vou tentar. – Ele mentiu e ambos sabiam disso.

Sakura suspirou altamente.

Você sempre foi muito protetor.

– Você me obriga a ser!

Culpada... – Ela murmurou, fingindo arrependimento, mas sua voz soava risonha.

Naruto viu seu reflexo na água tremulante, seus lábios ainda mantendo o pequeno vestígio de um sorriso.

Ganhei.

– Claro, Uzumaki. – Ela resmungou orgulhosa. – Até mais tarde vencedor, eu ainda vou virar esse placar.

 É o que vamos ver, Haruno.

– Tchau, idiota.

Ela encerrou a chamada e ele deixou que seu braço caísse ao lado de seu corpo. Os cabelos loiros caíram para trás, balançando com suavidade os fios curtos enquanto uma leve brisa passava por ali.

Um erguer suave de seus lábios poderia ser considero um meio sorriso enquanto os orbes fitavam o infinito azul acima de sua cabeça.

– Sakura, Sakura... O que você está aprontando?


•••

Manhattan; Columbia University


Dormitorios femininos; 7:23 PM

Em todos os seus 18 anos em Minesotta, mesmo com as raras exceções em que tentava ser rebelde e ter uma adolescência normal, Ino jamais vivido aquilo em sua frente.

Roupas espalhadas pela cama, sapatos jogados no chão, maletas de maquiagens abertas e uma música animada tocado ao fundo.

Claro, além da garrafa de vodka que já estava abaixo da metade e era passada de mãos em mãos pelas garotas que ocupavam o dormitório feminino.

Seus longos cabelos estavam molhados, enrolados em uma de suas toalhas brancas assim como seu corpo, enquanto seus olhos passavam pela cama que parecia uma montanha de roupas. Já havia sorvido uns bons cinco goles da bebida russa e que descia quente por sua garganta, mas que se tornava mais suportável a cada novo gole que bebia.

Sakura chamava aquilo de pré-festa, um esquenta para o que estava por vir.

E isso a deixava, relativamente, preocupada. Claro, isso antes do seu terceiro gole na bebida alcoólica.

– Eu acho que o vermelho vai ficar melhor, vai ter destaque na luz Neon. – Tenten falou alto o suficiente para que ela e Sakura pudessem ouví-la de dentro do banheiro. – Seria legal uma maquiagem bem colorida, uma coisa mais artística. – A porta do quarto de Ino estava aberta, assim como a porta do quarto de Tenten, deixando ambos os dormitórios ligados pelo banheiro que as três mulheres já haviam usado e onde a morena se arrumava.

Tenten alisava seus cabelos ondulados com uma chapinha, deixando que os alongados fios castanhos caíssem até o meio de suas costas enquanto a mesma se olhava no espelho. Não estava trocada ainda, mas usava um roupão cinza fechado desleixadamente.

Achou que iria se arrumar junto com Hinata e Temari, mas depois do post de sua irmã, ambas as mulheres estavam a ignorando por completo – havia desistido de tentar contato depois da décima ligação rejeitada assim como suas trinta mensagens. – Sentiu-se descartada, mas seria humilhante demais ir para o apartamento da Hyuüga sabendo que a mesma não a queria perto, então uniu o útil com o agradável; enquanto se arrumava ouviu baterem na porta que ligava seu dormitório ao banheiro compartilhado e encontrou uma Sakura sorridente a convidando para se arrumar junto a elas.

E claro, não recusou.

Agora estava ali; com pilhas de roupas e sapatos espalhados por ambos os quartos, uma garrafa de vodka trazida pela Haruno havia dado a ela uma animação que havia perdido durante a tarde e Cardi B tocava ao fundo para deixá-las ainda mais no clima.

E estava funcionando perfeitamente.

– Eu acho que o azul vai combinar com seus olhos, por mais que eu tenha achado que o marçala tenha combinado muito com você... – Sakura falou por cima da música, buscando sua própria roupa em meio a pilha em sua frente. – Se colocar aquele salto que te mostrei, vai ficar perfeita.

Ino pegou novamente a garrafa, virando-a sem preocupação. A rosada ergueu uma de suas sobrancelhas rosadas quando viu a cena, olhando para a Mitsashi que observava tudo da mesma maneira que si – Tenten deu de ombros e Sakura riu, balançando sua cabeça e voltando a olhar para a bagunça à sua frente.

– Eu não faço ideia do que vestir, nunca fiz isso antes. – Ino murmurou, passando as costas de sua mão sobre sua boca e limpando as finas gotas de álcool que haviam escorrido por seus lábios.

Sakura se aproximou, debruçando-se sobre a pilha a sua frente e olhando para a loira com seriedade. Não era aquele clima que queria para a loira em sua primeira festa universitária.

– Ei, calma! Não vai acontecer nada, certo? Eu era uma rata de festas no Queens desde meus quinze, não vai dar nada errado comigo do seu lado! – A rosada sorriu confiante, alcançando as macias mãos femininas de Ino, completamente diferente das suas calejadas. – Vamos escolher um vestido lindo, um sapato lindo e fazer uma maquiagem mais linda ainda! Agora vai secar esse cabelo, vai levar horas pra arrumar essa juba!

Tenten apareceu na porta, se apoiando no batente e deixando a mostra suas madeixas quase que completamente feitas – um coque ainda separava a lateral que ainda não havia sido alisada, enquanto as que já estavam prontas caiam livres sobre seu peito.

– Quando eu fui caloura também fiquei nervosa, não tem problema nenhum nisso. – Ela apontou a chapinha quente em direção a loira, sorrindo faceira. – Mas se eu tivesse essa cintura e esses peitos eu iria abusar completamente deles com um vestido que faria toda Columbia ficar de boca aberta!

Ino corou, sorrindo tímida em direção as garotas.

Era louco como o mundo poderia ser imprevisível. Em uma semana havia conhecido Sakura e em menos de sete dias já havia criado uma conexão assustadora com a rosada de boca quente e gênio explosivo, sendo amparada em uma cidade nova pelos braços calorosos da caloura nova-iorquina e seus olhos confiantes que estavam fazendo daquela experiência totalmente nova ser algo maravilhoso.

E Tenten, nem ao menos havia trocado algumas palavras nos primeiros dias que se mudara para aquela cidade barulhenta, agora se arrumava em seu  quarto a sorria tão confiante em sua direção.

Era louco dizer que se sentia em casa, mesmo estando há apenas uma semana ali?

Sua voz soou baixa, tímida demais para alguém que carregava traços tão belos iguais o seu.

– Obrigada, garotas. – Passou seus olhos para as duas, alternando entre os castanhos e os esverdeados. – De verdade, muito obrigada.

Sakura sorriu, assim como Tenten. Pegou a garrafa de vodka que estava na mão de Ino e, após de erguer desajeitadamente em cima pilha de roupas que estava em cima, ergueu a garrafa como um troféu enquanto lutava para se equilibrar sobre as roupas.

– Eu, como única representante da classe trabalhadora em meio a burguesia, declaro essa noite como o debute de Ino Yamanaka! – Ela olhou para as duas mulheres que riam sem timidez. – Podem rir, burguesas! Mas eu, Sakura Haruno, irei garantir que essa noite entre para a história! Que venha o álcool, a maconha, as rapidinhas no banheiro e nossas bundas balançando a madrugada toda!

– Amém, irmã! – Tenten ergueu sua mão em direção a Sakura, não tirando seu sorriso do rosto.

– Isso mesmo! Nós podemos curtir! Somos mulheres e somos loucas! – Ela ergueu sua garrafa. – E que o espírito das mulheres que gostam de viver abençoem essa bebida santa! – Virou o líquido alcoólico em sua boca, fazendo uma careta logo em seguida e voltando a erguer a garrafa. – Eu ouvi um amém, irmãs?

– Amém! – As duas que assistiam ao show, responderam.

Sakura as olhou raivosa, balançando sua garrafa de vodka sobre sua cabeça.

– EU OUVI UM AMÉM? – Ela gritou pouco se importando com os vizinhos ao lado. Ela estava feliz e não ligaria para vizinhos amargurados que não iriam aproveitar aquele sábado como deveriam.

– AMÉM, IRMÃ! – As duas acompanharam o tom da rosada, erguendo suas mãos.

Sakura sorriu, virando mais uma vez a vodka pura e gritando mais agudamente assim que bebeu grandes goles da bebida.

– Isso mesmo, caralho! Vamos curtir essa porra de festa!


•••

New York; Manhattan


Fraternidade KAY; 11:56 PM

Neon, música e álcool.

Essa era a melhor definição para a mansão fraterna.

Os corpos colados pulavam, dançavam e se entregavam com prazer a aquele caos imoral. Embalados pela batida frenética do remix de Sweater Weather enquanto sentiam a animação causada pelo álcool correr pelos seus corpos ferventes e coloridos pelas tintas neon. Fechavam seus olhos, sentindo no fundo de seus peitos a batidas eletrônicas que puxavam suas mentes para um tampor de excitação causada pelo êxtase da bebida que subia rapidamente para suas cabeças

A casa estava tomada pela escuridão profunda, as janelas lacradas e impedindo que qualquer luz exterior atravessasse o vidro e iluminasse o mundo alternativo que o térreo havia se tornado, deixando que desde a sala principal e secundaria fossem tomadas pela penumbra e tendo como únicos pontos de luz as compridas lâmpadas negras que estavam espalhadas pela casa; presas as paredes e até mesmo ao teto, fazendo com que o mundo universitário tomasse outros tons.

Todos pulavam, entregando-se a música sensual e deixando-o seus corpos cobertos pela penumbra balassem com prazer cada batida que soava alta ao ponto de serem sentidas em suas próprias peles. Presos naquele estado, vagando entre a linha tênue entre a mais pura insanidade e o puro prazer carnal – os orbes dilatados, fumaça densa e os copos compartilhados deixavam claro que o álcool era uma das coisas mais brandas que havia atrás daquelas paredes.

As sombras ocultavam os pecados daquela sala e os seus pobres pecadores.

Era isso que esperavam quando atravessaram aquela porta, sedentos em descobrirem os maravilhosos pecados que estavam ocultos sob as roupas caras e os perfumes franceses.

Mas ali não havia máscaras, não havia sobrenomes e não havia limites.

E era somente isso que buscavam quando entravam naquele mundo.

Os mais belos e caóticos caos universitários.

– Columbia inteira está aqui! – Suigetsu falou animado, olhando para a sala através do parapeito das escadas. A sala tinha o pé direito alto, deixando que quem estivesse no andar de cima pudesse olhar para o que acontecia abaixo, dentro daquele espaço escuro e repleto de pontos brilhantes. – Porra, eu não vou nem lembrar meu nome quando sair daqui!

Ele falou com empolgação e para confirmar suas palavras virou de uma vez o copo de 500 ml que tinha em mãos.

– Só não pega nenhuma menor, esse ano está cheio delas por aqui. – Shikamaru alertou, encostado na parede atrás de si e olhando de maneira cansada para todo aquele caos que acontecia abaixo de si.

– Realmente, tinha umas calouras de agronomia que tentaram entrar com uma identidade falsa. – Gaara murmurou, levando o baseado até seus lábios e puxando com prazer a fumaça densa. O gosto da erva queimada relaxou seus sentidos automaticamente e ele soltou uma pequena bola por seus lábios, mas que logo foi sugada pelo seu nariz antes que dissolvesse no ar. – Deveriam ter uns dezessete, nessa idade eu já tinha uma identidade falsa de qualidade.

O ruivo estava apoiado de costas no parapeito de vidro, pouco interessado em observar a festa abaixo.

Suigetsu revirou os olhos, pronto para retrucar.

– Escuta aqu-

– Suigetsu, menores são problema. – Naruto, quase oculto pela falta de cores em suas roupas e a ausência de tinta em seu corpo, falou alto o suficiente para que todos pudessem escutá-lo. Estava mais distante do grupo, mas tinha seu quadril apoiado no vidro e seus braços cruzados em frente ao corpo, observava com indiferença a festa. – Uchiha?

Sasuke tinha seus antebraços apoiados no parapeito, sustentando seu corpo curvado e com os profundos olhos negros presos no mar de pessoas abaixo de si. Suas feições estavam duras, atento nos corpos que estavam embalados pela batida eletrônica e a voz remixada de The Weeknd. Usava somente preto, quase se ocultando entre as sombras, mas um ponto de cor se destacava em meio toda aquela escuridão.

A tinta neon em tons azul iluminada em sua pele; nascia em seu pescoço, formando pequenas pétalas que subiam até metade de sua face e coloriam a pele alva que tinham seus machucados ocultos naquele momento.

Todos os principais integrantes da fraternidade estavam ali, com seus profundos olhares superiores e suas belezas que causavam intimidação aqueles que, em meio a curiosidade, ousavam erguer seus olhos para além daquele amontoado de pessoas – encontravam as cinco figuras masculinas, tão sérias que pareciam apenas estatuas esculpidas pelas mãos de Afrodite e com suas belezas compenetradas. – Gaara estava entre Sasuke e Naruto, mas os dois amigos pareciam pouco se lembrarem da existência um do outro.

Até Sasuke responder:

– Ele está certo, Hozuki.

Suigetsu revirou seus olhos, sabendo de cabeça aquela história. Ele olhou para as costas curvadas de Sasuke – sua face colorida como uma caveira mexicana em todos os seus tons coloridos e com seus cabelos tendo destaque em meio aquela luz negra – e se aproximou, apoiando-se da mesma maneira que o Quarterback.

– O que você tem? – Suigetsu ergueu sua sobrancelha assim que o Uchiha levou o cigarro aos lábios, ainda observando toda a pista de dança. – Precisamos falar sobre o que aconteceu Sasuke.

Sua resposta foi somente a suave fumaça saindo pelos lábios dele, juntando-se a densa névoa que pairava sobre a casa.

– Não precisamos e não vamos.

Suigetsu olhou para baixo, analisando todas aquelas pessoas da mesma maneira que o Uchiha. Ambos estavam lado a lado, apoiado em seus braços e fitando os universitários abaixo como felinos.

– Sasuke, você precisa de ajud-

– Não, não preciso. – Ele olhou para o Hozuki de soslaio, mas voltou seus olhos para o mesmo ponto anterior. – Eu vou me virar, como sempre. Não se preocupe.

Suigetsu se calou.

Queria tanto que Sasuke fosse mais fácil de lidar. Que ele não erguesse uma maldita barreira entorno de si próprio e impedisse qualquer pessoa chegasse perto de conhecê-lo verdadeiramente, mas o maldito parecia impenetrável.

E ele não mudava, por mais que você tentasse.

Ele era aquilo, a barreira impenetrável e autodestrutiva, impedindo todos que tentassem ajudá-lo. Pior, ele deixava que você o observasse ruindo em sua frente, cedendo pouco a pouco e beirando a insanidade, mas deixando-o com suas mãos atadas e fadadas somente a observar pouco a pouco a destruição de si próprio.

E aquilo deixava Suigetsu ao ponto de surtar.

– Sasuk-

– O Hyuüga chegou. – Gaara falou, olhando para um ponto que havia acabado de atravessar o corredor escuro que os ligava ao hall de entrada e entrando na sala colorida e barulhenta; assim que pisaram na casa foram recebidos pelas vibrações da música sobre suas peles e o cheiro nauseante de maconha. – Olha só Naruto, parece que a sua princesa veio em outra carruagem.

Neji olhava ao redor, rodeando a cintura de Tenten com uma de suas mãos e a outra enfiada em um dos bolsos de seus Jeans – que foi retirada só para pegar um copo transparente da mão de um calouro. – O caminho era aberto pela multidão enquanto andava em direção a escada que o levaria até junto dos garotos, tendo a mesma pose superior que todos os integrantes daquela fraternidade e o mesmo caminhar confiante e de quem sabia muito bem onde estava pisando.

Mas os impenetráveis olhos negros como azeviche e os profundos azuis como o mar revolto recaíram sobre a figura que vinha mais atrás, lado a lado de uma loira alta e que usava um vestido que parecia colado ao seu corpo; Os pés pequenos calçados por uma dourada sandália de salto, amarrada em seus tornozelos por finos fios da mesma cor, deixando suas grossas pernas livres em seu esplendor até o largo quadril feminino.

O rebolado lento e as farta carne eram ocultados pelo fino tecido negro de um vestido que se apertava em suas curvas, tão fino que beirava perigosamente a transparência em alguns pontos mais avantajados. As mangas longas fechavam seus braços, deixava seus ombros estreitos à mostra no decote, mas o perigo estava em seu busto; uma profunda fenda se acentuava entre seus seios, deixando que o justo tecido negro cobrisse seu tronco só onde era necessário, perigosamente próximo dos bicos de seus seios, mas o fino fio negro impedia de abrir completamente e mostrar mais do que deveria.

Mas ali estava o grande problema.

Os fios trançados estavam tão relaxadamente cruzados que, com o tecido justo que se contentava somente em cobrir o ponto mais delicado se seus seios, um simples puxão seria necessário para trazer a tona sua nudez.

E ela sabia muito bem disso.

O caminhar vagaroso do pequeno grupo os trouxe até o andar superior, sendo acompanhados pelos inúmeros pares de olhos que não faziam questão de disfarçar seus olhares sobre as duas calouras que acompanhavam o Hyuüga. A loira poderia ser mais reservada, mas o caminhar o felino de Sakura casava completamente com sua figura.

E quando ela chegou ao andar de cima, onde todos os membros estavam, Sasuke pode ver de perto toda a beleza selvagem que a Haruno carregava;

Os brilhantes olhos verdes estavam delineados por uma linha neon, vermelha como fogo e que tomava destaque em meio a pele clara do rosto feminino. Pequenos pontos do mesmo tom passavam por cima de uma de suas sobrancelhas, seguindo o desenho bem feito da mesma e seus lábios cheios estavam pintados pelo mais profundo vermelho vivo.

E então ela sorriu, deixando que os carnudos lábios se abrissem em um sorriso como o famoso gato do País das Maravilhas; cheio de significados, mas que sempre pareciam carregar um pequeno resquício de maldade.

– Boa noite, garotos. – As esferas verdes caíram sobre Sasuke com um olhar felino, cirurgicamente sobre os orbes negros enquanto o sorriso maldoso ainda brincava em meio a carne cheia. Ela arrastou seu olhar para trás de Sasuke, indo até o profundo azul escurecido que havia nas esferas do Uzumaki. – Desculpem o atraso, acabei esquecendo que festas assim começam cedo.

E ela sorriu mais, desprovida de qualquer vergonha e pudor, levada pelos seus mais belos instintos manipuladores e sua doce predição em desejar confusão; poderia fugir dos seus desejos ou se jogar neles.

E ela, definitivamente, iria se jogar neles.

Ninguém brincava com Sakura Haruno. Ela começava suas brincadeiras e encolhia quem iria participar. Ela não era um peão, era uma jogadora inteligente e que se deliciava em ver seus adversários cedendo aos seus desejos. Se tornando meros peões em suas mãos.

– Sakura.

– Haruno.

E o jogo começou.

 


Notas Finais




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