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História Meu Melhor Amigo - Despedida


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Primeiramente quero dizer pra vocês uma coisa: Eu sei que ta dando MUITA raiva do Fernando e que vocês estão com vontade de matar ele (eu também estou), mas tem uma explicação para isso HAHA. Então, por favor, não desistam enquanto não descobrirem os motivos dele. Próximo cap tem uma surpresinha.

Capítulo 7 - Despedida


               Na manhã seguinte eu estava disposta a não me preocupar com a estranha reação de Fernando do dia anterior. Queria aproveitar que Antonio estava ali e que alguém poderia me acompanhar em um passeio empolgante, sem pensar em casamento e nem nada do tipo. Quando saí do quarto pronta para chamar Antonio no seu, nós acabamos nos encontrando no corredor, e logo notei que ele estava arrumado para sair.

- Bom dia! – Exclamei sorrindo.

- Bom dia! – Ele me olhou. – Parece muito bem hoje.

- Eu estou. – Sorri. – Estava indo te chamar para darmos um passeio. Conhecermos essa cidade sem graça ou sei lá.

- Ah eu adoraria Lety, mas na verdade estou saindo para um encontro.

- Um encontro? Você já arrumou alguém aqui? – Perguntei perplexa e ele riu. – Eu realmente quero o segredo.

- Não tem segredo algum. Apenas... Charme. – Ele brincou e eu ri. – Você se importa com isso? Se quiser eu posso desmarcar e...

- Não. Pode ir ao seu encontro. Só... Tome cuidado para ninguém te reconhecer. Seria difícil explicar como meu namorado estava em um encontro com outro cara.

- Não se preocupe. – Ele sorriu. – Não há ninguém no mundo mais cuidadoso que eu.

- Sei.

               Ele se aproximou e me deu um beijo no rosto.

- Nos vemos depois, ok?

- Certo. Bom encontro.

- Eu terei!

               Observei Antonio seguir para o elevador e de certa forma o invejei. Ele estava sempre se dando bem em um encontro, e parecia saber exatamente como não se apegar à nenhum dos seus acompanhantes. Ele levava uma vida feliz, e por um momento pensei que minha vida seria mais fácil se eu fosse como ele. Eu não teria cultivado sentimentos por Fernando quando nos beijamos, e nada disso estaria acontecendo.

               Antes de voltar para o quarto, meu celular tocou e eu olhei para o nome que apareceu na tela. Fernando. Pensei por um momento se deveria atender e se ele provavelmente fosse discutir mais sobre a história de Antonio. Mas, outra vez não consegui ignorar uma ligação dele, e o atendi.

- Alo.

- Oi. Sou eu.

- Oi.

- Eu... Preciso de ajuda em uma coisa. Você poderia me ajudar?

               Minha vontade era de responder “não”. Fernando estava sempre fingindo que nada aconteceu e sempre me pedia alguma ajuda depois. Mas, eu não conseguia jamais dizer não para ele.

- Tudo bem. – Respirei fundo. – Sobre o que é?

- Eu te explico quando você descer.

- Descer?

- Estou te esperando em frente ao hotel.

               Ele sabia. Sabia que eu não diria não para ele.

- Está bem. Estou descendo.

- Certo. Tchau.

- Tchau.

               Desliguei o celular praguejando mentalmente. Entrei no elevador me sentindo uma idiota por não conseguir negar nada à Fernando. A cada dia que passava, eu guardava algo novo para mim, e as coisas que eu precisava dizer à ele aumentavam ainda mais. Eu não poderia simplesmente fingir que estava tudo bem, como ele fazia. Saí do elevador à passos firmes pronta para dizer tudo a Fernando assim que entrasse no carro. Quando saí do hotel, vi que ele me esperava escorado em seu carro, e ele estava simplesmente... Lindo. Usava um suéter branco com uma calça bege, e os óculos de sol lhe davam um charme ainda maior.

               Por um segundo me esqueci que estava com raiva e que queria dizer tantas coisas para ele, e assim que me aproximei, ele sorriu de lado.

- Oi. – Falei parando em sua frente.

- Oi. Obrigado por aceitar o meu convite.

               Eu já ouvi isso antes.

- Tudo bem.

- Podemos ir?

- Sim.

               Tentei ser o mais fria possível para que ele percebesse que havia algo errado. Fernando não poderia fingir que nada tinha acontecido como fazia todas as vezes, e dessa vez ele teria que me ouvir. Assim que ele abriu a porta eu entrei em seu carro, colocando o cinto logo depois. Ele entrou pelo outro lado e fez o mesmo, ligando o carro logo depois.

- Para onde estamos indo? – Perguntei.

- Preciso experimentar o terno para o casamento e queria a sua ajuda.

- Ah...

               Assim que deu partida, Fernando dividiu sua atenção entre me olhar e olhar para o transito.

- Onde está seu namorado? – Ele perguntou quebrando o silencio.

- Foi dar uma volta.

- Sem você?

               Eu não tinha pensado em uma desculpa convincente.

- Sim! Achei que você não gostaria que ele viesse.

               Ele pareceu convencido disso.

- Eu queria explicar sobre meu comportamento de ontem...

- Por que? – O olhei me fazendo de desentendida.

- Só fiquei chateado por você não ter me contado sobre o seu namorado.

- Realmente não achei que tivesse importância.

- É claro que tem importância. – Ele me olhou. – Ele te faz feliz?

- Sim! – Respondi mais rápido do que imaginei. – Ele me faz feliz.

               Fernando voltou sua atenção para o transito.

- É isso que me importa. Só quero que você seja feliz e que ninguém te magoe, ou eu sou capaz de matar a pessoa que fizer isso.

               Ele jamais tinha falado daquela maneira, e de certa forma me senti tocada. A raiva que eu sentia dele há pouco tempo não parecia tão importante mais, e seguimos em silencio até o local que iríamos. Quando chegamos à loja de ternos, o vendedor logo nos recebeu e cumprimentou Fernando, já conhecendo-o. Ele pediu para experimentar o terno que estava reservado em seu nome, e rapidamente o vendedor apareceu com ele em mãos. Fernando entrou no provador para vesti-lo e eu me sentei em uma das poltronas esperando por ele.

               Quando ele abriu a cortina do provador, não pude deixar de notar o quanto ele estava bonito e diferente. A ultima vez que vi Fernando em um terno foi em nossa formatura, mas ainda assim não se igualava àquele. O terno era claro, assim como a gravata, e combinava totalmente com ele.

- E então? – Ele perguntou me olhando.

- Ficou ótimo! – Sorri me levantando, seguindo em sua direção. – Você escolheu?

- Sim. Foi a única coisa que pude escolher nesse casamento.

               Não entendi o seu comentário, mas achei melhor não questioná-lo.

- Você tem bom gosto. Ficou muito elegante. – Falei ajeitando alguns detalhes no terno, e não pude deixar de notar a maneira que ele me olhava.

- Eu não sei o que faria sem você aqui. – Ele disse enquanto me olhava. – Estou realmente feliz que esteja aqui, Lety.

               Terminei de ajeitar o terno e o olhei. Estávamos próximos o bastante, e por um breve instante desejei que estivéssemos sozinhos ali. Mas então me lembrei de que estávamos escolhendo um terno para o seu casamento, que aconteceria em alguns dias apenas.

- Você está bem sentimental. – Brinquei quebrando o clima.

- E então? – O vendedor se aproximou e eu me afastei de Fernando. – Já decidiu qual vai ser?

- O que acha? – Fernando me olhou.

- Esse é realmente lindo. – Respondi sincera.

- Então será esse. – Ele sorriu.

- Ótimo! Vou reservá-lo para você. – O vendedor sorriu.

               Fernando voltou para o provador e em poucos segundos saiu com o terno em mãos.

- Fez uma boa escolha. – Falei sorrindo.

- Quer almoçar?

- Ainda são onze horas.

- Podemos conversar até dar meio dia. – Ele sorriu.

- Esperto. – Balancei a cabeça rindo. – Eu aceito.

- Ótimo.

               Fernando resolveu os últimos detalhes do aluguel do terno e depois seguimos para um restaurante próximo. Ao chegarmos, buscamos por uma mesa e nos sentamos. Esperei que o clima não continuasse tenso entre Fernando e eu, já que ele continuava sendo o meu melhor amigo, e eu não suportava aquela distancia que estava surgindo entre nós dois.

- E então... – Ele puxou um assunto para o meu alivio. – O que achou da família da Marianne?

               Não era a minha intenção falar sobre o casamento, mas pelo visto não tínhamos outra coisa para falarmos.

- Você quer minha sinceridade ou quer que eu te agrade? – Perguntei olhando para o cardápio e ele riu.

- Sua sinceridade sempre.

- São pessoas legais, mas acho que precisam de uma aula de diversão. São sérios demais e certinhos demais. Dá pra ver de onde Marianne puxou isso.

- É verdade. – Fernando sorriu escorando-se à mesa.

- A parte mais divertida da festa foi quando Antonio começou a contar suas histórias.

               O sorriso de Fernando diminuiu e ele mexeu-se inquieto à cadeira.

- Por que você faz isso? – Perguntei.

- Isso o que?

- Fica desconfortável quando se trata do Antonio.

- É porque não o conheço direito.

- Se tivesse ficado conosco ontem teria conhecido.

- Não estou acostumado com o fato de você namorar.

- Eu sempre fiquei com outros homens na sua frente.

- Dessa vez é diferente.

- Por quê?

               Ele não respondeu.

- De qualquer maneira, me senti um pouco desconfortável com um comentário da sua cunhada.

- Da Marina?

- Sim.

- O que ela disse?

- Disse que era estranho um homem e uma mulher serem amigos por tanto tempo sem terem se envolvido.

               Fernando me olhou tenso.

- E o que... Você respondeu?

- Nada. Marianne chamou a atenção dela e nós saímos de perto.

- Ah...

- Por quê? O que eu deveria dizer?

- Nada. – Ele respondeu rapidamente.

- Fernando... – Coloquei o cardápio sobre a mesa e ele me olhou com seriedade. – Você vai realmente fingir que nada aconteceu?

- Você concordou com isso.

- Concordei porque você sugeriu.

- E eu sugeri porque você disse que nunca seríamos um casal.

- E realmente não seríamos.

- E por que está tão incomodada?

- Eu não estou. Só quero saber por que você está sempre fingindo que nada aconteceu.

               Ele suspirou, mas não me respondeu.

- Eu entendo que você está noivo, e que está fazendo o possível para que eu me dê bem com a Marianne. Mas acho que o problema aqui é entre você e eu, e não entre nós duas.

               Ele continuou me encarando com seriedade.

- Desde que cheguei você esta agindo estranhamente. Quando estamos sozinhos você parece o Fernando que eu conheci. Você se parece com meu melhor amigo. Mas alguma coisa acontece e você age estranhamente. Por que isso?

- Só não quero complicar as coisas.

- Você me convidou para ser sua madrinha de casamento. Acho que não poderíamos complicar mais as coisas.

               Fernando colocou uma das mãos à testa.

- Você quer me contar alguma coisa?

- Ela sabe.

- Quem?

- A Marianne.

- Sabe sobre o que?

- Sobre o que nós tivemos. – Ele voltou a me olhar. – Ou quase tivemos. Ela sabe que quando voltei para a cidade nós ficamos juntos.

- Ela... Sabe?

- Sim. Eu precisava contar isso à ela. Quando voltei. Eu estava com ela e tinha que ser sincero. Não foi certo o que eu fiz nem com ela e nem com você, e já que você deixou bem claro que nós nunca teríamos nada, eu resolvi contar à ela e ser sincero. Mas... Ela acabou... Aceitando melhor do que eu esperava.

               Eu não conseguia acreditar que uma pessoa pudesse aceitar uma traição daquela maneira. E pior: Mesmo sabendo que Fernando a traiu comigo, ela continuava se esforçando para que nos déssemos bem.

- Ela me perdoou, e disse que entendia o meu lado. Ela perguntou se você e eu poderíamos ter alguma coisa e eu neguei. E foi então que nós... Tivemos um relacionamento sério.

               Continuei olhando-o sem saber o que dizer.

- Talvez seja por isso que ela se importa tanto em ter sua aprovação. Ela sabe que nós já tivemos algo, e acho que isso ainda a preocupa.

- E você já deixou claro que ela não precisa se preocupar, não é? – Perguntei com certa frieza. – Foi você que pediu para que deixássemos isso para trás.

- Eu sei. – Ele me olhou magoado. – Mas eu não consigo fazer isso. Eu ainda me lembro daquele dia, Lety. Todos os dias. Não há um dia sequer que eu não me lembre disso.

               Senti o meu coração se despedaçar. Por que Fernando fazia aquilo comigo? Eu estava tentando melhorar as coisas, e ele apenas piorava tudo.

- Não acontece o mesmo com você? – Ele se aproximou sobre a mesa. – Você realmente esqueceu tudo que aconteceu naqueles dois dias?

               Senti meus olhos marejarem e desviei o olhar para ele que não notasse.

- Não. – Respondi amargamente. – Mas eu preciso. E você também precisa. Você não pode dizer “sim” para Marianne pensando nisso.

- Você realmente acha que isso é uma boa idéia?

- O que?

- O casamento?

               Voltei a olhá-lo, assustada com sua pergunta.

- Eu deveria achar alguma coisa?

- Eu só estou te perguntando.

- A decisão foi sua. Você quem a pediu em casamento. Minha opinião pouco importa.

- Você está errada. – Seus olhos encheram-se de lágrimas. – Sua opinião importa muito para mim.

               Eu não conseguia continuar com aquilo. Estava partindo o meu coração e Fernando provavelmente não notava isso.

- Você acha que esse casamento é uma boa idéia?

- Sim. – Respondi assustada com minha própria certeza. – Você gosta dela. Se não gostasse não teria feito tudo isso.

               Me doía admitir isso, mas de certa forma eu tinha razão. Fernando voltou com Marianne assim que chegou à cidade, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre nós dois. Passamos um ano sem nos falarmos direito, e por fim ele a pediu em casamento. Já estava mais do que óbvio que todas as decisões foram tomadas por ele, e se sua decisão foi que Marianne seria sua futura esposa, então eu nada poderia fazer.

- É que às vezes eu acho que...

               A frase de Fernando foi interrompida pelo toque do seu celular. Suspirando impaciente ele o tirou do bolso, e quando olhou para a tela, fechou os olhos atendendo a ligação.

- Oi Marianne.

               Me mexi inquieta sobre a cadeira.

- Sim, ela está aqui na minha frente. – Ele me olhou. – Não pode ser outra hora? Está bem... Eu vou passar para ela.

               Fernando esticou o telefone para mim.

- O que é? – Sussurrei.

- Ela quer falar com você.

               Peguei o celular de sua mão e o atendi.

- Alo?

- Lety!

- Oi! – Tentei não parecer tão desconcertada com sua ligação.

- Desculpe interromper o passeio dos dois, mas eu queria te fazer um convite.

- Convite?

- Sim! Hoje vai ser a minha despedida de solteiro! Minhas primas e minha irmã planejaram!

- Ah... Eu não sei se...

- Ah Lety, por favor! Vai ser ótimo e eu queria muito que você fosse! Seria importante para mim.

               Olhei para Fernando e respirei fundo.

- Tudo bem. Eu vou.

- Ah! Que ótimo! Eu mando o endereço para o seu celular, está bem?

- Tudo bem!

- Até mais tarde!

- Até.

               Marianne desligou e eu devolvi o celular para Fernando, praguejando mentalmente por ele não ter mentido dizendo que eu não estava com ele.

- O que ela queria?

- Me convidar para a despedida de solteiro que as amigas prepararam.

               Ele riu.

- Boa sorte.

- Por quê?

- Por nada.

- Eu não vou.

- Claro que vai!

- Por que eu deveria? Não vou ter coragem de olhar para ela depois do que você me contou.

- É claro que vai! Marianne não tem nada contra você.

- Não é essa a questão Fernando! A questão é que ela sabe o que aconteceu, e você acabou de me confessar que não consegue se esquecer disso. Com que cara vou olhar para ela?

               Ele não respondeu. Era difícil entender Fernando e principalmente desvendá-lo. Se ele realmente não conseguia se esquecer daqueles dois dias, por que ele estava noivo? E por que ainda continuava com aquilo? E pior: Por que me convidou para ser sua madrinha?

- Você também vai ter uma despedida? – Perguntei quebrando o clima.

- Sim. Contra a minha vontade, mas sim. Os primos dela e o pessoal do escritório planejaram uma, mas já imagino que será um saco.

- Saco vai ser aturar aquelas malucas que ficam me olhando como se eu fosse uma alienígena.

               Ele riu.

- Infelizmente vou ter que concordar.

- Ao menos espero que tenha bebida. Só assim para agüentá-las.

               Fernando sorriu.

- Acha que Antonio aceitaria o meu convite? Se eu o convidasse para a minha despedida?

               O olhei admirada.

- Oras... Resolveu se dar bem com ele?

- Você fez esse esforço por Marianne, farei o mesmo por você.

- Sim, acho que ele aceitaria.

- Ótimo.

               Eu me sentia mal por mentir para Fernando, mas ele precisava sentir o que eu estava sentindo desde que cheguei até aquela maldita cidade.

- Então... Podemos pedir? – Ele perguntou pegando o cardápio.

- Sim. Claro.

               A conversa com Fernando ainda martelava em minha cabeça, mas isso não nos impediu de termos um almoço agradável entre amigos. Ele me contou sobre o seu escritório e sobre como era sufocante trabalhar para o futuro sogro. Não tocamos no assunto do casamento durante toda a refeição, o que me deixou um pouco mais aliviada. Era confuso para mim saber que Fernando estava prestes a se casar, mas ao mesmo tempo assumia não ter se esquecido o que houve entre nós dois.

               Ao fim do almoço, ele me levou de volta ao hotel e nos despedimos, mas de certa maneira ainda havia uma pequena barreira entre nós dois, e eu tentava ao máximo não quebrá-la, ou não saberia o que poderia acontecer. Desci do carro e caminhei rapidamente para o hotel, tentando aliviar toda a tensão que escondi durante todo o tempo que ficamos juntos. Era difícil estar perto de Fernando e segurar a vontade de dizer tudo à ele, mas era ainda mais tentar desvendá-lo e saber se ele estava feliz com aquele noivado ou estava apenas fingindo estar feliz.

 

 

 

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               Às nove da noite eu já estava pronta para ir à despedida de Marianne, mesmo contra a minha vontade. Antonio insistiu para que eu fosse, e disse que só iria à despedida de Fernando se eu aceitasse ir à de Marianne. Quando terminei de me arrumar, me olhei no espelho sem animo algum. Sentia falta de casa, sentia falta das minhas amigas, e sentia falta da minha vida de antes, onde meu melhor amigo não estava prestes a se casar e nós dois nos divertíamos. Senti falta da época da faculdade onde tudo parecia estar em seu devido lugar, e mesmo que Fernando e eu não pensássemos em nossa amizade como algo mais sério, nós éramos felizes juntos, e eu sentia falta do meu melhor amigo ao meu lado.

               Ouvi batidas à porta do quarto e me apressei em abri-la. Antonio olhou para mim de cima a baixo e assobiou logo depois.

- Que gata! – Exclamou.- Estou começando a repensar minha sexualidade.

- Deixa de ser bobo. – Bati em seu ombro rindo. – Acha que eu exagerei?

- Tem certeza que Fernando não vai estar lá?

- Claro que tenho.

- Você esta belíssima!

- Obrigada. – Sorri satisfeita.

- E então... Pronta para aturar aquelas mulheres sem graça?

- Não. – Respondi sincera. – Preciso de muita bebida antes.

- Aposto que lá terá muito champanhe para voce.

- Não quero champanhe. Quero tequila ou algo mais forte.

               Antonio riu.

- É melhor irmos. Não quero deixar os primos da noiva esperando.

- Antonio, pelo amor de Deus, não vá flertar com outro homem na frente do Fernando. Vai estragar todo o disfarce.

- Meu amor, não se preocupe comigo. – Seguimos para o elevador. – Eu já disse que sou discretíssimo.

- E fique de olho nele.

               Antonio me olhou divertido.

- Para a Marianne é claro.

- Você não me engana, Lety. O que fizeram hoje?

- Nada. Só... O acompanhei para escolher o terno e nós almoçamos juntos.

- E não falaram sobre mais nada?

- Mais ou menos.

- Me conte.

- Ele confessou que contou para Marianne o que aconteceu entre nós dois.

- Sobre o beijo?

- Acho que sobre tudo.

- E ainda assim ela aceitou se casar com ele? Uau.

- Pois é. Agora não sei como vou olhar para ela.

- Da mesma maneira que ela te olha. Se ela aceitou se casar com um homem que a traiu com a melhor amiga e que provavelmente tem sentimentos por ela, ela consegue manter muito bem a postura.

- Colocando dessa maneira eu me sinto mal.

               As portas do elevador se abriram.

- Não fique. Fernando também tem culpa nisso, e sinceramente... Não sei o que ele está pensando.

- Ele disse que não consegue se esquecer do que aconteceu.

- Lety, sinceramente... Você precisa conversar a sós com ele. Fernando claramente está confuso e não consegue perceber isso. As coisas não podem ser dessa maneira. Ele está brincando com os seus sentimentos e com os da noiva dele.

- Eu não sei o que pensar, Antonio. As vezes penso que ele realmente gosta de mim, e isso me faz ter coragem de dizer à ele tudo o que eu sinto. Mas... Ao mesmo tempo ele parece querer continuar afastado, e isso me desanima. Eu sinto falta do meu melhor amigo.

- Acontece que ele não é só seu melhor amigo mais, Lety. Ou vocês se resolvem e ficam juntos, ou acabou a amizade para vocês dois. É impossível continuarem amigos dessa maneira.

               Antonio tinha toda a razão, e aquilo me desanimou ainda mais.

- Bom... Mas não vamos pensar nisso hoje, não é? Temos uma festa para irmos, e vamos chutar o pau da barraca!

               O olhei rindo.

- Se você precisar de alguma coisa, me ligue.

               Nós saíamos do hotel e já tinha dois taxis nos esperando. Seguiríamos para lugares totalmente diferentes, e provavelmente isso foi planejado pelos organizadores da festa. Entrei no primeiro taxi e Antonio debruçou-se à janela.

- Juízo. – Ele sorriu.

- Eu que o diga.

- Eu sempre tenho juízo.

               Antonio se afastou do táxi e me mandou um beijo. Coloquei o cinto rindo e informei ao taxista o endereço da festa. Durante todo o caminho tentei juntar o pouco animo que ainda me restava, assim como a coragem de encarar aquela despedida. Que as primas de Marianne não tinham gostado muito de mim era óbvio, a questão seria conseguir olhar para Marianne lembrando de tudo o que Fernando me disse.

- Deu vinte e três. – O taxista disse ao parar no local.

               Tirei o dinheiro da bolsa e o entreguei.

- Obrigada.

- Eu agradeço.

               Desci do taxi e suspirei olhando para o bar em minha frente. Não parecia um bar ideal para uma despedida de solteiro, e sim um bar apenas de damas requintadas, o que não era o meu caso. Caminhei em direção à entrada e cumprimentei o segurança, que fez sinal para que eu entrasse. Quando adentrei o local, não pude evitar em abrir a boca perplexa. O lado de fora do bar era uma total enganação, e quando entrei, percebi que aquilo era o templo da perdição. Havia apenas mulheres ali, provavelmente todas convidadas de Marianne, e vários gogo boys dançando sobre o balcão. Algumas mulheres gritavam enquanto os olhavam, e outras dançavam junto com eles. Os garçons estavam todos sem camisa e com uma gravata borboleta, e estavam todos em forma.

- A LETY CHEGOU PESSOAL! – Marianne gritou e todos me olhavam. Pensei que novamente seria mal recebida e que todas me olhariam com reprovação, mas para a minha surpresa, elas gritaram animadas assim como Marianne.

               Me aproximei de onde ela estava e fui recebida com um abraço, percebendo rapidamente um copo de uísque em sua mão.

- Lety! Que bom que você veio! – Falou com a voz embolada. – Estávamos dizendo que você é a única de todas nós que consegue se divertir.

- Eu não teria tanta certeza disso. – Sorri envergonhada.

- Toma! – Uma das primas de Marianne me entregou um copo de tequila. – Vamos brindar mais uma vez!

               Todas as mulheres se aproximaram e ergueram seus copos. Fiz o mesmo, e elas gritaram meio ao brinde. Virei o copo de tequila na boca pronta para encarar aquela noite, que pelo visto seria longa.

- Viu só? Eu disse que ela é melhor do que todas nós! – Marianne comentou. – Ela virou o copo todinho na boca de primeira!

               A olhei confusa.

- Nenhuma de nós conseguiu fazer isso na primeira tequila. – Ela sussurrou e eu tive que segurar em seu braço para que ela não se desequilibrasse. – Todas cuspiram a tequila no chão.

               Não pude evitar em rir. Notei que Marianne já estava realmente alterada, e que havia abandonado o estilo formal, soltando o seu cabelo que caía até os ombros.

- O que achou da escolha do bar, Lety? – Sua amiga perguntou. – Demoramos semanas para concordar porque Marina não queria que fosse aqui.

               Olhei para a irmã de Marianne que estava em um canto, tomando um copo de suco e provavelmente era a única que não se divertia ali.

- Ela parece realmente animada.

               Todas gargalharam exageradamente do meu comentário.

- Ah Lety! – Marianne voltou a me abraçar. – Eu estou tão feliz que você está aqui.

               Dei leves batidas em seu ombro enquanto ela me abraçava.

- Posso confessar uma coisa? – Ela me olhou.

- Claro.

               Por favor, diga que não gosta do Fernando. Por favor.

- Eu invejo você!

- Você... O que? – A olhei abismada.

- Eu tenho inveja de você, Lety! Você é tão animada! Fernando já me contou todas as aventuras que tiveram na época da faculdade, e você sempre fez tudo o que quis! Você é linda, você é estilosa, e você tem uma tatuagem! Eu sempre quis ter uma tatuagem.

- E por que nunca fez uma?

- Está brincando? Meu pai me mataria! – Ela riu completamente alterada. – As vezes eu queria ser como você. Fazer alguma loucura, sem me importar com nada e nem ninguém.

- Bom... Você já está fazendo isso hoje. – Sorri. – Está em um bar cheio de homens sem camisa e tomando tequila.

- É verdade! – Ela riu.

               De repente o sorriso de Marianne diminuiu, e eu tive certeza de que ela começaria a chorar.

- O que foi? – perguntei preocupada.

- Eu não sou como você, Lety. – Ela choramingou. – Eu não sei ser como você, e... Às vezes... Às vezes eu acho que Fernando fica muito melhor ao seu lado. Eu tento contar alguma piada para ele, mas ele não acha graça como acha das suas. Vocês estão sempre rindo e se divertindo, e ele não faz isso comigo. Eu não sei ser legal como você.

               Ai meu Deus! Era só o que me faltava!

- Não diga isso, Marianne. – Falei seriamente. – Ele se diverte com você sim, do contrário não teria te pedido em casamento.

- Casamento! – Ela bufou. – Fernando foi pressionado pelo meu pai!

               Eu a olhei com seriedade enquanto a segurava para ela não cair para o lado.

- Sinceramente, às vezes eu acho que Fernando não gosta de mim o suficiente para isso. Se não fosse pela pressão do papai, ele jamais teria me pedido em casamento! Na verdade, não sei nem se estaríamos em um relacionamento hoje.

               Obviamente Marianne estava alterada para dizer aquilo, mas não pude deixar de olhá-la perplexa. Se ela que era a noiva de Fernando estava dizendo aquilo, então qual era o motivo de tudo aquilo?

- Eu gosto dele. Realmente gosto. Mas é tão difícil! – Ela balançou o seu copo derramando um pouco de tequila no chão. – Opa!

- É melhor você se sentar. – Falei ajudando-a a sentar-se em um banco ao nosso lado. – Você precisa parar de beber.

- Não! – Ela exclamou escondendo o seu copo de mim. – É a primeira vez na minha vida que posso fazer o que eu quero! Eu preciso aproveitar!

               Suspirei.

- Posso te dizer mais uma coisa? – Ela perguntou.

- Claro.

- Eu acho que você e Fernando combinam muito mais.

- Não, Marianne! Você não sabe do que está falando!

- É claro que sei!

- Não, você não sabe! – Falei com seriedade. – Você e Fernando combinam em... Bom...

- Em que?

- Em...

- Está vendo? Em nada!

- Mas isso realmente importa? Ele escolheu você para se casar com ele. Você é uma ótima pessoa, não deveria pensar tão mal de si mesma.

               Eu não deveria ter sido tão sincera, mas ver Marianne se rebaixando em minha frente era difícil. Eu não poderia permitir que ela pensasse que eu era melhor que ela em alguma coisa, principalmente quando eu estava mentindo tanto para ela quanto para Fernando.

- Quer saber? Fernando tem razão. – Ela me puxou para um abraço. – Você é maravilhosa, Lety.

               Não soube o que responder. Apenas retribuí o abraço, mas com uma culpa enorme sobre o meu corpo.

- Eu... Tenho mais uma coisa para te confessar. – Ela me olhou com seriedade. – Mas isso você não pode contar para ninguém. Absolutamente ninguem! Principalmente para o Fernando.

- O que é?

               Ela olhou em volta.

- Eu... Nunca contei isso para ninguém, mas é que eu... Eu...

- Mari! Chegou a hora da dança da noiva! – Uma de suas primas a puxou pelo braço, tirando-a do banco.

               Marianne se afastou e as mulheres fizeram uma roda em volta dela, no mesmo instante em que uma fila de gogo boys se aproximou delas. Todas gritaram e comemoraram quando eles começaram a dançar, e Marianne estava ao centro, se divertindo provavelmente pela primeira vez em sua vida. Eu não conseguia ficar ali. Não conseguiria ouvi-la dizer todas aquelas coisas de novo. Precisava sair dali o mais rápido possível, e foi o que eu fiz. Saí do bar e finalmente pude respirar aliviada, encostando-me à parede. Estava me sentindo sufocada com tantas coisas acontecendo, e principalmente, com a duvida me perturbando. Ao mesmo tempo que eu sabia que gostava de Fernando e que queria ficar com ele, eu jamais me perdoaria se fosse a culpada pelo fim daquele noivado, principalmente depois de tudo o que Marianne me disse.

               Enquanto tomava um pouco de ar puro, fechei os olhos encostando a cabeça ao muro, tentando aliviar ao menos um pouco os meus pensamentos. De repente senti alguém segurar meu braço e me puxar pela calçada. Antes que eu pudesse dar um belo soco na cara de quem estava fazendo isso comigo, reconheci Fernando assim que ele parou de me puxar.

- O que é que você está fazendo aqui? – Perguntei irritada e ele colocou o dedo sobre a boca, pedindo silencio. – Você me assustou!

- Desculpe. – Ele olhou para a entrada do bar.

- O que você veio fazer aqui? Não deveria estar na sua despedida?

- Eu vim te seqüestrar.

- O que? Ficou louco?

- Shhh! – Ele olhou para os lados. – Vamos para o meu carro. Vem.

               Não tive outra escolha a não ser acompanhá-lo. Seu carro estava parado na esquina ao lado, em uma rua escura. Entramos no carro e ele me olhou, sorrindo maroto logo depois.

- Você perdeu o juízo! – Exclamei.

- Minha despedida estava chata, e imaginei que aqui estaria a mesma coisa.

- Não estava tanto assim... – Respondi sem olhá-lo. – E onde é que está o Antonio?

- Ele ficou no bar, conversando com os primos da Marianne. Eles parecem ter se dado muito bem.

               Tentei não demonstrar minha preocupação. Se Antonio se envolvesse com um daqueles caras, nosso falso namoro iria por água a baixo.

- Não acredito que você deixou o meu namorado em um bar e veio me seqüestrar. – Comentei cruzando os braços.

- Ele está bem. E você também vai ficar. Só preciso sair daqui. Tudo bem?

- Tá. – Concordei sem muito animo. – Para onde vamos?

- Você vai ver. – Fernando ligou o carro e colocou o cinto de segurança.

               Fiz o mesmo, e então saímos daquela rua escura. Durante todo o caminho desconhecido Fernando ficou em silencio, e eu apenas tentava descobrir para onde ele estava me levando. Era um perigo Fernando e eu estarmos sozinhos, principalmente em um local desconhecido. Mas, eu não poderia negar que estava aliviada por estar com ele. Quando nos aproximamos do provável local para onde ele estava nos levando, não pude deixar de ficar decepcionada. Imaginei que ele ao menos me levaria em um lugar especial onde pudéssemos conversar sobre tudo, mas aquele lugar definitivamente não tinha nada de especial.

- Chegamos? – Perguntei perplexa quando ele desligou o carro.

- Sim. – Ele sorriu.

- Por Deus, Fernando! Que tipo de lugar é esse? – Perguntei abrindo a porta do carro. – Pensei que iria me levar para um lugar especial.

- Mas esse é um lugar especial. – Ele deu a volta no carro, caminhando em direção à uma casa que havia ali, provavelmente abandonada.

- Eu só espero que você não tenha me seqüestrado para me manter em cárcere privado nesse lugar.

               Ele riu.

- Fernando, sinceramente esse lugar é uma droga e...

               Fernando virou-se para mim e colocou o dedo sobre minha boca, pedindo silencio.

- Você vai se surpreender.

               Não disse mais nada. Ele segurou minha mão e seguimos em direção à casa. Passamos por ela e acabamos saindo em uma varanda, que para a minha surpresa, ficava direcionada para uma vista no alto. Dava para ver as luzes de metade da cidade, e eu não pude disfarçar minha surpresa.

- Viu só? – Ele me olhou. – Você reclama demais.

- Eu nunca imaginei que um lugar como esse tivesse uma vista como essa.

- Vem, sente-se aqui.

               Fernando segurou em minha cintura e me ajudou a sentar no parapeito da varanda. Ele fez o mesmo e sentou-se ao meu lado, olhando em direção à vista.

- É lindo. – Comentei enquanto a admirava.

- Sim!

- Não quero nem saber como você descobriu esse lugar.

               Ele riu.

- Foi por um acaso. Estava indo para uma reunião e acabei me perdendo, e vim parar aqui. Desde então eu venho até aqui quando quero... Pensar.

- Você já mostrou esse lugar para Marianne?

- Não. Você é a primeira pessoa para quem eu mostro. – Ele desceu do parapeito e eu o olhei.

- Aonde vai?

- Vou buscar uma coisa. Eu já volto.

               Quando ele se afastou, voltei a admirar a vista. Realmente era um lugar muito bonito, mas por que eu era a primeira pessoa a conhecê-lo? A frase de Marianne martelava em minha cabeça, e eu não a esqueceria tão cedo. “Fernando foi pressionado pelo meu pai”. Será que Fernando realmente chegaria à ponto de pedir Marianne em casamento apenas por uma pressão de Gonzáles?

- Voltei! – Ele se aproximou e eu o olhei.

- O que é?

- Roubei da minha festa de despedida. – Ele riu me entregando uma garrafa de tequila.

- Tem certeza que devemos beber aqui?

- E por que não? De certa forma, estamos fazendo uma festa para mim. – Ele voltou a sentar-se ao meu lado. – Vamos lá, faça as honras.

               Olhei para a garrafa e a abri, tomando um gole logo depois.

- Argh! Acho que me desacostumei com esse gosto.

               Ele riu pegando a garrafa da minha mão, virando-a logo depois. Ficamos um tempo em silencio, até ele suspirar e passar a garrafa para mim.

- Está chegando o grande dia.

               Peguei a garrafa de sua mão e a virei.

- É...

               Ficamos mais um tempo em silencio e então eu o olhei.

- Marianne me disse algo hoje que eu... Me senti um pouco estranha.

- O que ela disse? – Ele me olhou.

- Ela... Disse que tem inveja de mim, porque eu faço o que eu quero. Ela disse que na maioria das vezes queria fazer o mesmo, mas não faz por causa do pai dela.

- Ah... – Ele pegou a garrafa. – Ela já comentou isso algumas vezes.

- Que ela queria ser como eu?

- Não. Que ela queria cometer algumas loucuras às vezes.

- E por que você nunca a induziu à isso?

- Porque o pai dela me mataria.

- Você realmente se importa tanto com a opinião dele?

               Ele não respondeu.

- Ela disse que nós dois nos damos melhor do que vocês dois.

- Eu tento ser melhor para ela. – Fernando comentou sincero. – Mas, não sei... Parece que tem algo que me impede de ser... O homem perfeito para ela.

- Por que quer ser o homem perfeito? Por que você não consegue ser você mesmo?

- Não consigo ser assim perto dela. Eu... Ainda não descobri por que. Acho que não consigo ser eu mesmo com ninguém além de você.

               Encarei a garrafa sem respondê-lo.

- Você se sente assim também? Quero dizer... Você consegue ser você mesma com Antonio?

- Não... – O olhei. – Não consigo.

               Fernando respirou fundo.

- Por que não demos certo, Lety?

- Eu não sei... Talvez não era para dar certo.

- Você está realmente me dizendo a verdade? – Ele voltou a me olhar. – Às vezes sinto que você quer dizer algo, mas você parece se segurar.

- Fernando, acho que já deixamos claro aqui que isso não é mais necessário.

- E por que não?

- Porque você está noivo. Foi uma escolha sua.

- Mas foi você que me deu o fora.

- Eu não te dei o fora.

- Eu perguntei se você gostaria de enfrentar os obstáculos comigo, e você disse que não.

- Mas não porque eu quis, e sim porque você tinha mentido para mim.

- Então você simplesmente não quis tentar algo entre nós dois só porque não te contei sobre a Marianne?

- É exatamente por isso! – Aumentei a voz. – Fernando, desde aquele dia você vêm feito coisas que você acha que é certo, e sempre pensa que isso não me magoa de alguma maneira, mas me magoa e muito! Você decidiu deixarmos tudo no passado, e eu de certa forma concordei, mas para manter a nossa amizade. E o que você fez depois? Simplesmente parou de falar comigo, e meses depois recebo um convite dizendo que você vai se casar.

               Ele me olhava em silencio.

- Sabe como eu fiquei quando recebi esse convite? Não, não sabe, porque você não se importa. Você fingiu que estava tudo bem e me convidou para ser sua madrinha de casamento. Por mais que eu quisesse recusar, eu concordei por você. Para ficar do seu lado, assim como você sempre ficou do meu. Quando cheguei, descobri que Marianne estava morando na sua casa, e você nem ao menos se importou em me contar isso. Você pensou em como eu ficaria nessa situação? Não. Não pensou. E agora sabe o que você faz? Me deixa totalmente confusa dizendo que não consegue se esquecer do que aconteceu entre nós dois, mas você se esquece do fato de que está noivo! E vai se casar daqui a dois dias!

               Eu definitivamente estava desabafando tudo o que segurei durante um ano, e desde que cheguei àquela cidade. Fernando me olhava surpreso por tudo o que eu disse, e eu não o culpava. Mas precisava dizer tudo aquilo. Precisava dizer ou eu iria explodir.

- Eu... Não sabia que você sentia tudo isso.

- É claro que não, porque você não se importou em me perguntar.

- Eu achei que você não estivesse tão incomodada com isso! Você deixou bem claro que nunca teríamos nada! – Ele também aumentou a voz.

- Mas eu não esperava que você fosse seguir em frente tão rápido!

- E você queria que eu fizesse o que?

- Eu queria que você tivesse sido sincero, desde o início!

- Acontece que você é confusa demais para eu conseguir entender, Letícia! Ao mesmo tempo que você demonstra que quer ficar comigo, você me diz o contrário!

- O que você quer que eu diga? Você está noivo!

- Quer parar de ficar repetindo isso?

- E O QUE QUER QUE EU DIGA, FERNANDO?

- EU QUERO QUE ME DIGA A VERDADE. – Ele me olhou com os olhos marejados. – Você quer ou não que eu me case com a Marianne?

- É claro que eu não quero que você se case com ela! – Respondi eufórica. – E isso já ficou mais do que claro, não é? Mas o que quer que eu faça? Quer que eu invada o seu casamento e diga para todo mundo que não você não pode se casar?

               Ele não respondeu.

- Que droga, Fernando! Você esperou chegar na semana do casamento para me dizer tudo isso, e agora quer que eu arrume uma solução? Quem causou tudo isso foi você! Desde o dia que você omitiu sobre o seu namoro com a Marianne, até o dia que a pediu em casamento. Isso tudo é resultado de decisões suas, e você não pode me culpar por isso!

               Mais uma vez ele não me respondeu.

- Não cabe mais a mim decidir se você deve ou não casar. Essa decisão é sua, mas sinceramente... Você não pode ficar indeciso.

               Entreguei a garrafa de tequila para ele e desci do parapeito.

- É melhor você ir embora. Marianne vai precisar de alguém para cuidar dela essa noite.

- Por quê?

- Porque ela está caindo de bêbada.

               Fernando suspirou e também desceu do parapeito.

- Vou te levar para o hotel antes.

               Não recusei, porque claramente eu não teria outra maneira de chegar até lá. Não fazia idéia de onde estávamos, e provavelmente nenhum táxi chegaria até ali. Mas, durante todo o caminho de volta, não conversei com Fernando. Depois de desabafar exatamente tudo o que eu precisava, eu já não tinha mais nada o que conversar com ele. Antonio tinha razão. Se Fernando escolhesse se casar com Marianne, nossa amizade jamais seria a mesma.

               Assim que chegamos ao hotel, desci do carro às pressas sem ao menos me despedir. Fernando desceu e me seguiu, segurando em meu braço antes que eu pudesse entrar no hotel.

- Não posso deixar você assim. – Ele disse me olhando.

- Assim como, Fernando?

- Com raiva de mim!

- Eu não estou com raiva de você. Eu só... – Suspirei. – Não te reconheço mais. Você está confuso, e isso não me agrada nem um pouco.

- Eu sei. Mas... Droga, Lety! Não estou confuso porque eu quero! Eu gostaria que você pudesse me entender.

- Acontece que eu não entendo! É impossível te entender, Fernando!

               Ele já não estava mais prestando atenção em mim.

- Fernando! – Chamei sua atenção, irritada.

- Aquele ali é o seu...?

               Me virei para a direção que ele olhava, e Antonio estava escorado ao muro do hotel, em um local menos iluminado. Ele conversava com um dos primos de Marianne, mas não parecia uma simples conversa. Senti minha garganta se queimar e as mãos tremerem, torcendo para que ele não fizesse o que eu imaginei que faria. Mas, para piorar ainda mais a situação, ele fez exatamente isso, e o primo de Marianne se aproximou beijando-o.

- Mas o que...

               Fernando olhou para mim, mas eu não soube o que fazer. Antes que eu pudesse me explicar, ele avançou em direção aos dois e eu o segui, tentando segurá-lo.

- Fernando, espera!

               Mas ele não me dava ouvidos. Caminhava como um touro para cima dos dois, e quando se aproximou, a primeira pessoa que ele pegou pela gola da camisa foi Antonio.

- Fernando! – Exclamei tentando separá-los.

- O QUE É QUE VOCE ESTÁ FAZENDO? – Fernando gritava nervoso.

- Fernando, espera! Eu posso explicar! – Antonio tentava tirar as mãos dele de sua camisa.

- EXPLICAR? EXPLICAR QUE VOCE ESTAVA BEIJANDO OUTRO HOMEM? VOCÊ TEVE CORAGEM DE TRAIR A LETÍCIA COM OUTRO HOMEM?

- Fernando, espera! – Segurei seu braço. – Não é o que você está pensando!

- Não é o que eu estou pensando? Ele estava beijando outro cara, Lety! Outro cara! – Ele dizia nervoso. – E você! – Ele apontou o dedo para o outro cara, que deu um passo atrás. – Quero ver o que sua família vai dizer quando souber disso!

- Fernando, se acalma. – Antonio tentou amenizar a situação, mas Fernando voltou a segurá-lo pela gola da camisa.

- Você não tem que dizer nada! Eu disse que se alguém a magoasse, essa pessoa se veria comigo!

               Eu nunca vi Fernando nervoso em toda a minha vida. Todas as vezes que Omar se envolveu em alguma briga, tudo o que Fernando fez foi apartar a briga e acalmá-lo, mas jamais havia entrado em uma briga. Ao menos até o momento. Ele parecia fora de si, e se eu não interferisse, ele bateria em Antonio a qualquer momento, e eu não poderia permitir isso.

- FERNANDO, ELE NÃO É MEU NAMORADO! – Gritei para que ele conseguisse me ouvir.

               No mesmo instante ele olhou para mim, mas continuou segurando Antonio pela camisa.

- O que? – Perguntou perplexo.

- Ele não é meu namorado! – Exclamei baixando o tom. – Antonio é um amigo do trabalho, e ele aceitou me acompanhar. Mas ele gosta de homens! E ele é um homem solteiro!

               Fernando soltou a camisa dele imediatamente, e continuou me olhando incrédulo.

- Você mentiu para mim? – Ele perguntou parecendo magoado.

- Me desculpe. Eu só... Não queria me sentir deslocada nos eventos do casamento. Eu me sentia mal e achei que... Antonio pudesse me fazer companhia.

- Como seu namorado? – Ele perguntou irritado. – Então achou que mentindo para mim que você tinha um namorado, isso ia me fazer escolher entre você ou a Marianne?

- Não! – Falei de imediato. – É claro que não! Eu nunca te pediria isso!

- Então por que mentiu para mim? – Ele aumentou a voz.

- Eu não sei por quê! Eu só queria que você sentisse o mesmo que eu senti!

               Fernando sorriu sarcástico e balançou a cabeça.

- Quer saber? Você tem toda a razão. – Ele me olhou com os olhos marejados. – Nós nunca daríamos certo.

- Fernando...

               Assim que ele se afastou, eu tentei segui-lo, mas Antonio me segurou.

- Não vai adianta, Lety. Ele está nervoso. Precisa se acalmar antes.

               Suspirei decepcionada e o observei entrar em seu carro e sair cantando pneu pela rua. Continuei parada no passeio, olhando para a direção em que ele havia seguido, sem saber o que fazer. Agora além de tudo, Fernando ainda estava bravo comigo, e definitivamente eu não sabia o que fazer.

- Será que... Você poderia não contar nada sobre isso amanhã? – Antonio perguntou ao primo de Marianne.

- É claro. Se vocês também não contarem sobre... Isso.

- Não contaremos, não se preocupe.

               Continuei em silencio, sem saber o que fazer dali em diante.  


Notas Finais


Pessoas, queria falar algumas coisinhas que me deixam um pouco chateada. Eu realmente AMO todos os comentários, sejam construtivos, sejam elogios ou sejam críticas. Mas, tem algo que me deixa extremamente triste, é a pessoa vir no comentário da fic e ficar cobrando os capítulos como se fosse uma obrigação minha, ou até mesmo reclamando perguntando se eu abandonei a fic (sendo que fico no máximo alguns dias sem postar). Não foi o caso das leitoras dessa fic, mas é que eu gostaria de aproveitar o capítulo para falar isso. Eu amo escrever, e a minha maior paixão. Eu faço de bom grado todas as minhas histórias, e fico sempre lisonjeada quando tantas pessoas gostam e se sentem bem lendo cada capítulo. O meu intuito é esse. Não deixar esse casal maravilhoso "morrer", e enquanto eu puder quero fazer história sobre eles. Mas eu também tenho os meus problemas e responsabilidades pessoais. Eu faço faculdade, e sempre no fim de semestre as coisas começam a apertar. Eu faço o possível para atualizar as fics, tanto essa quanto LIO. Mas a questão é que LIO é uma fic bem grande e detalhada, e não é tão fácil assim escrever um capítulo de um dia para o outro. Eu não deixo de postar um capítulo porque quero, alias, eu fico bem triste quando não posso atualizar a fic todos os dias. Sei que estou devendo isso em LIO, mas eu estou fazendo o possível para postar os capítulos já escritos dessa fic aqui. Eu espero que possam me entender, e por favor, não pensem que eu faço pouco caso das leitoras quando não posto um capítulo novo. Eu não abandono uma fic, e pode ter certeza que se um dia for o caso, eu darei explicações antes. Espero que entendam. E obrigada pelos comentários, espero que estejam gostando ♥


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