Se alguém me dissesse que, no auge de meus 28 anos, eu estaria largado – sim, largado, porque dizer que estou solteiro seria eufemismo – em minha casa, enquanto converso com meus pais via Skype e eles me perguntam sobre um suposto par romântico, eu daria uma boa risada e diria "não viaja, cara". Mas essa era minha realidade e, eu juro, estou a um fio de ter um surto e matar todas as pessoas que eu ver hoje.
Meus pais sempre foram extremamente ligados nessa coisa de ter netinhos e uma nora maravilhosa, ou seja, eles batem na tecla de "arruma uma namoradinha, Naruto" desde que eu era bem pequeno. Quando cheguei em minha adolescência, fui descobrindo algumas coisas sobre mim mesmo e, então, eu todo inocente, joguei a bomba no colo dos meus familiares. Isso mesmo. Fui lá e disse "sou gay", sem medo nenhum. Porque eu jurava que os bonitos iriam me deixar em paz sobre isso de casar e ter filhos; afinal, eu jamais poderia ter uma namoradinha. Mas, adivinha só? Não adiantou de nada! Dona Kushina e seu Minato ficaram insuportáveis depois de saberem! Agora, ao invés de receber um "e as namoradinhas?" toda vez que conversamos, eu recebo um "já tem namorado?". E, não, isso não melhora a situação. E, para piorar (porque sempre pode ficar pior), não são somente os meus pais que ficam nessa neura. A família inteira está junta nisso, todos em um grande complô para me enfiar em um terno e me obrigar a casar o quanto antes.
Isso é tão frustrante.
E não é que eu não seja uma pessoa romântica. Eu sou. Mas meus relacionamentos parecem nunca dar certo – especialmente o último. Isso não é nem um pouco legal. Além de que eu não acho que minha vida só vai ser feliz e completa quando eu tiver a tampa da minha panela… Mas já não está mais que na cara que eu sou uma frigideira!?
Mas, bem, voltando a minha atual situação.
Pode ser que em meio a um surto de raiva e desespero eu tenha dito aos meus pais que estou namorando e que o cara é perfeito. E, pode ser também que eles estejam me pedindo para dar as caras na minha cidade natal, Konoha, para apresentar o tal rapaz daqui a alguns meses – no natal para ser mais específico. Aliás, pode ser que eu esteja aceitando isso, sorrindo amarelo e sentindo o coração parar de bater.
Hm. Tomei no meu cu, certo? Normal.
— Estamos muito ansiosos para conhecê-lo! — Disse minha mãe, e eu posso jurar que ela está com lágrimas nos olhos — E eu espero que ele realmente seja isso tudo que você está falando, meu filho, já que nem o nome dele, ou a aparência, você quer nos dizer agora.
— Ele é incrível, vocês vão adorá-lo. — Dei um de meus melhores sorrisos, na esperança de que eles acreditassem naquilo tudo — Agora eu preciso ir. Tchau, mãe! Tchau, pai! Amo vocês! — E desliguei.
Sim, eu estou mentindo descaradamente. Não, eu não sei como vou fazer para reverter essa situação. Claro que eu poderia dizer aos meus pais que, sei lá, o suposto namorado me traiu, ou algo assim, e terminamos; mas acho que isso jamais iria colar.
Minha família vai fazer picadinho de mim quando descobrir a minha farsa e eu nem vou julgar, porque até eu quero fazer picadinho de mim. Será que existe alguém mais idiota que eu neste mundo? Que ideia estúpida, meu Deus!
O que eu preciso agora é manter a calma e calcular com 300% de exatidão cada passo que eu vou dar. Tenho a mais absoluta certeza de que meus pais estão, neste exato momento, contando tudo o que eu disse ao restante da família e que não vai demorar muito para que todos comecem a me encher sobre isso. Daqui a pouco todos vão aparecer pedindo fotos, prints de conversas e sei lá mais o que para comprovar o maldito namoro. Eu vou fazer o quê? Alugar alguém?
Opa. Até que não é uma má ideia.
O que eu estou pensando? É claro que é uma má ideia!
Não vou alugar ninguém, que absurdo. Isso está fora de cogitação. Nem ferrando. Um namorado é uma pessoa, Naruto Uzumaki, uma pessoa que tem opiniões e sentimentos próprios; não um objeto inerte que você pode alugar por uma significativa quantia em dinheiro. Mas que coisa.
Nenhuma solução me vem à mente e isso significa somente uma coisa: vou aproveitar que já é noite e me acabarei na bebida, esperando que a morte venha me buscar. Ouvi um amém? Sim, claro que ouvi.
E, não, eu não estou sendo dramático. Ok, talvez eu esteja sendo bastante dramático, mas a situação não está fácil! O que eu vou fazer quando o natal chegar? Me fingir de morto? Aliás, será que tenho dinheiro o suficiente para simular a minha morte, arrumar uma identidade falsa e mudar de país? Puta vida, vou morrer de qualquer jeito mesmo. Dona Kushina não vai deixar essa mentira passar sem nenhum castigo e eu sei que minha adorável mãe não vai medir esforços na hora de me estrangular e esfregar na minha cara o quanto eu sou a desgraça da família. Solteirão e mentiroso, olha que lindo.
Suspirei, indo em direção ao meu quarto. Vou beber até esquecer meu nome? É o que pretendo. Mas não é porque vou me acabar em álcool que preciso estar com essa cara de derrotado. Vou me arrumar e, com um pouquinho de sorte, talvez eu até dê uns beijinhos em alguém antes de ser abraçado pelo capeta.
Ah, eu não vou tentar arrumar um namorado nesses meses que estão por vir, seria idiotice e, no fim, apenas acrescentaria uma pessoa na lista de vítimas da minha família, porque também fariam picadinho de quem me ajudasse a tentar sustentar essa mentira. Sei que vou conseguir pensar em algo mais digno que isso. Talvez as coisas nem acabem tão mal se eu explicar as coisas direitinho, não é? Se eu contar que foi no calor do momento e que não aguento mais ter a família inteira me cobrando um relacionamento sério.
Ok, eu admito. Estou rindo, desesperado, do meu próprio pensamento. É óbvio que não vão aliviar minha sentença se eu simplesmente contar a verdade. Capaz de me punirem de forma mais severa ainda por ter tido a ousadia de dizer que não suporto as cobranças familiares que são feitas "para o meu bem".
Enfim, não posso fazer nada. A merda está feita e me resta apenas a opção de rezar para não ser morto de uma forma muito cruel. Eu sou doador de órgãos, sabe? Eles precisam estar intactos quando eu morrer, pelo bem da humanidade. Aliás, onde está o meu brinco?
[ … ]
Essa é a minha quinta dose, talvez? É, deve ser isso mesmo. Bem! Essa é a minha quinta dose e eu já não sei mais onde estou. O mundo está girando e isso é tão divertido, não é? Apesar de que meu mundo deve ter dado uma bela de uma capotada e agora eu… agora eu estou no chão, morrendo aos pouquinhos.
Dei alguns tapas em minhas bochechas e respirei fundo. Não vou chorar no meio de uma boate, rodeado de desconhecidos. Não mesmo. Até porque essa bebida azul que o barman me deu é muito fofinha, parece até que brilha no escuro. Uma graça.
Terminei de beber e deixei o copo no balcão do bar, não me contendo ao soltar um beijinho para o barman, que me olhou meio esquisito, como se eu fosse um bêbado maluco. Mas eu não sou um bêbado maluco. Sou só maluco, juro. E, por favor, me julgue mesmo.
Fui para a pista de dança, aproveitando a música digna de strip tease. Eu me sinto tão levinho. Acho que vou beber outra dose daquela bebida bonitinha antes de ir embora. Ri alto, balançando a cabeça e meu corpo no ritmo da música. Eu diria que sou um dançarino maravilhoso, muito sexy. Será que é tarde demais para abandonar o diploma de arquiteto e me tornar um stripper? Espero que não seja.
Sentia mãos me tocando e não sabia bem onde minha jaqueta tinha ido parar. Eu estava banhado em suor e a camisa fishnet estava grudada em minha pele, me causando um leve incômodo, mas não era como se eu me importasse naquela hora. Continuei dançando.
Houve um momento em que rodopiei, esbarrando em outras pessoas, e quando olhei para a frente eu vi-
Vi um deus grego sentado em um dos vários divãs espalhados pela boate. Meu único pensamento naquele instante foi: por favor, me deixe sentar em você. E, se eu estivesse sóbrio, certamente iria me repreender mentalmente por isso e não teria tido coragem para continuar dançando, colocando mais lentidão e sensualidade em meus movimentos, rezando para que os olhos daquele homem de cabelos escuros se fixassem em mim. Eu queria a atenção dele e eu teria. Nem que eu precisasse sentar no colo dele e implorar por isso.
— O que pensa que está fazendo?
— Sentando em você. — Respondi risonho, mordendo o lábio inferior enquanto sentia ele segurar minhas coxas e me posicionar melhor sobre suas pernas — Não posso?
— Atrevido.
— Foi um elogio? — Minha fala estava meio arrastada por conta do álcool, mas ao menos eu não estava gaguejando ou dizendo coisas sem sentido.
— Aquele espetáculo no meio da pista era para mim, bebê? — Perguntou e eu não consegui ter outra reação ao ouvir o apelido carinhoso a não ser gemer baixo, fechando os olhos e me mexendo devagar sobre ele.
— Você gostou? — Sei que vou me arrepender disso quando estiver sóbrio, mas me dá um desconto… eu estou carente — Porque tem mais de onde isso veio.
— Tem mais? — Repetiu minhas palavras, subindo as mãos pelas minhas pernas e adentrando minha camisa, parando ao alcançar minha cintura, que ele apertou com força. Aquilo ficaria marcado e eu deixei outro gemido vergonhoso escapar; à essa altura, o deus grego deve estar me comparando a um animal no cio — Quer me mostrar esse mais, bebê?
— Aqui? — Perguntei, aproveitando o ritmo ainda mais provocante da nova música que preenchia o ambiente e me movimentando sobre o colo dele.
O aperto que ele deu na minha bunda foi mais que suficiente para que eu simplesmente jogasse o 0,1% de autocontrole – que eu não tinha – para o espaço. Beijei o moreno, como se aquela fosse minha última chance de beijar alguém. Sentia suas mãos me apertando contra seu corpo e era extremamente gostoso o atrito entre nossos quadris toda vez que eu rebolava em seu colo. Ele sabia o que estava fazendo e sabia também onde pegar, eu me sentia mole.
Realmente precisava aproveitar como se fosse o último beijo de toda a minha vida, porque talvez fosse mesmo, considerando que minha família vai comer meu fígado quando souber que eu não estou namorando e que só inventei aquela história para pararem de encher o meu saco.
Família.
A palavra família passou pela minha mente por uma mínima fração de segundos, mas foi o suficiente para que eu lembrasse do motivo pelo qual estava bebendo. Não deu em outra: me afastei do deus grego, sem conseguir segurar o choro e tudo só piorou quando ele me perguntou se eu estava bem. Vexame é meu sobrenome, não é possível!
Eu tinha acabado de foder minha chance de ficar com um cara extremamente gostoso e, mesmo que eu não estivesse muito ligado nisso naquela hora, eu sabia que depois eu choraria mais ainda por ter passado essa vergonha na frente de um desconhecido.
— Eu sou a decepção da família! — Berrei — Sabe o que eles vão fazer? — Perguntei, chorando ainda mais ao ver o homem balançar a cabeça de um lado para o outro, com os olhos arregalados — Eles vão pegar um cabo de vassoura e vão enfiar no meu-
— Opa! Calma, rapaz. — Ele colocou a mão em minha cabeça e a empurrou, para que eu pudesse deitá-la em seu ombro, e eu precisei me esforçar muito para não chorar ainda mais quando ele começou a passar os dedos no meu cabelo — Não deve ser tão sério assim, hm? Respira fundo e fica calmo.
— Eles acham que eu não vou ser feliz se não casar. — Choraminguei, apertando o blazer do deus grego com meus dedos trêmulos — E eu não quero que eles fiquem pensando isso. Eu posso ser feliz sozinho! Ninguém vai me amar mesmo, eu posso ficar sozinho.
É. Eu contei tudo. Despejei minha vida inteira em cima do pobre homem e ele só me ouviu, calado, fazendo carinho no meu cabelo. Minha vontade era de enfiar a cabeça em um buraco, de verdade.
— Eu posso te ajudar a resolver esse problema, bebê.
— Não. Não pode.
— Eu posso, bebê. — Insistiu. E eu já não estava entendendo mais nada — Você só precisa querer.
— Me ajudar como?
— Você quer? — Sussurrou, esfregando os lábios na minha orelha — Me diz seu nome, bebê.
— Naruto Uzumaki. — Isso, animal, dá teu nome completo para um desconhecido. Depois morre e não sabe o porquê.
— Naruto Uzumaki, você chamou minha atenção. — Ele ainda sussurrava e os arrepios que percorriam meu corpo toda vez que a voz baixa adentrava meus ouvidos me fizeram parar de chorar — Se você quiser, nunca mais terá nenhum problema com amor.
— O que você é? Um padrinho mágico? — Fiz graça, tentando ignorar a maneira como minha cabeça girava.
— Eu sou o que você quiser, bebê. O que você quiser.
— O que eu quiser? — Ergui o rosto, quase me assustando com o olhar sério do homem — Você não é da máfia, é? — Brinquei.
— Não, bebê. Não sou da máfia.
A verdade é que eu não estava realmente levando ele a sério. Convenhamos, eu estava caindo de bêbado e tinha um desconhecido se oferecendo para resolver os meus problemas familiares. Eu deveria fazer o quê? Negar? Eu me fiz de doido mesmo e abracei o cara.
— Me ajuda. — Pedi, escondendo o rosto no ombro dele.
— Vai ficar tudo bem, bebê. Confie em mim.
Senti tudo rodar mais e mais. Minha cabeça doeu e meus olhos arderam tanto. Eu estava começando a hiperventilar e, puta merda, a história de morrer era meme. Não quero morrer! Me socorre!
No fim, eu desmaiei no colo do deus grego, torcendo para que aquilo fosse um sonho muito esquisito, causado por excesso de álcool e que eu não tinha realmente passado aquele vexame na frente de um homem gostoso, ferrando todas as minhas chances de ter uma última transa antes de ser morto pela minha família. Quando eu recuperasse a consciência, eu estaria em casa, certo de que isso nunca aconteceu.
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