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História Meu Pequeno Milagre - Menina.


Escrita por: Itzii

Capítulo 7 - Menina.


Fanfic / Fanfiction Meu Pequeno Milagre - Menina.

 

 

 

– OI, Raquel! – Ele deu um sorriso forçado, quando ela se aproximou. A rua inteira havia comparecido para assistir ao leilão, e Raquel havia desviado sua caminhada na praia naquele dia para dar uma olhada; era o que as pessoas em San Sebastian faziam em uma tarde ensolarada de sábado, quando uma casa ia ser leiloada. 

– Oi. – Ela foi educada, e disse olá e então passou por ele, mas Sérgio a interceptou. 

– Você deveria estar de repouso.  

– Eu estou andando pela casa, em vez de andar pela praia! – Raquel argumentou. – E de qualquer modo, estou me sentindo claustrofóbica. Estou ficando maluca, trancada dentro do apartamento, e pelo menos eles têm ar-condicionado nesta casa. – Então, ela sorriu para ele. – Obrigada por ontem, a propósito.  

– Sem problemas. Fico feliz porque as coisas vão ser bem aproveitadas. 

 – Eu me referi ao sermão sobre ir ver o médico. Telefonei para o meu obstetra, e marquei uma consulta para segunda-feira. 

 – Isso é ótimo.  

– Eu vou para casa arrumar minha mala quando sair daqui; tenho a impressão de que eles não vão me liberar.  

Então, ela se afastou, para explorar a casa com o resto da multidão, e enquanto os olhos de Sérgio deveriam estar voltados para a competição, estavam focados nela. 

 Ele a queria.  

Enquanto andava pela casa, examinava os quartos, caminhava pelo jardim, eram os comentários de Raquel que ele queria ouvir, e não os do corretor; e ela não parava de falar... 

 Era impressionante. O apartamento inteiro dela caberia dentro do salão principal, e Raquel tinha certeza de que se pudesse simplesmente deitar naquele adorável sofá branco e admirar a vista da água até segunda-feira, com alguém descascando uvas para ela e massageando seus pés, a pressão dela teria caído muito na hora da sua consulta médica!  

Ela adorava visitar casas, andar por elas, fingindo que pertenciam a ela e desejando que pudesse ser verdade. A cozinha, entretanto, era um buraco, mas o corretor os fez passar rapidamente por ela e dirigiu-os para o andar de cima. O lugar era de cair o queixo; cada cômodo da casa, ate mesmo o quarto principal, tinha vistas para a praia! 

 – Não há cortinas – Raquel observou, e Sérgio escondeu um sorriso, porque ele tinha dito exatamente a mesma coisa da primeira vez que visitara a casa; só que o corretor não o havia ignorado! – Como você pode ter janelas do chão ao teto em um banheiro, sem cortinas? – Raquel insistiu.  

– O vidro é tratado – sibilou o corretor. – Você pode ver o lado de fora, mas ninguém pode ver o lado de dentro. Agora, seguindo em frente, temos o quarto principal!  

– Divino! – Raquel ficou sem fôlego ao entrar. Havia uma cama grande no centro do quarto, e havia uma varanda, com uma mesinha e cadeiras… – As janelas são tratadas aqui também? – Raquel perguntou, enquanto o corretor prendia o fôlego de irritação. 

 Ela realmente o fazia rir. 

 E ele realmente sentia falta dela. 

 Ela estava fazendo anotações em sua listinha novamente, como se fosse uma candidata séria a comprar a casa, e ele podia ver o corretor apertando os lábios quando ela saiu audaciosamente para a varanda, em vez de seguir o resto das pessoas ao longo do corredor. – Você pode se juntar ao grupo, por favor? – o corretor estourou, e Sérgio rangeu os dentes. 

 – Este aqui daria um ótimo quarto de bebê... – Apesar do estado óbvio dela, o corretor se dirigia a um jovem casal e ignorou Raquel quando ela lhe fez uma pergunta. Como ela queria ter ganhado na loteria, para dar o lance vencedor e apagar aquela expressão superior do rosto arrogante dele, e fazê-lo tremer de raiva. Sérgio viu o rosto dela ficar vermelho quando o corretor a ignorou, e então olhou nos olhos dela e deu uma piscadinha. 

– A minha amiga fez uma pergunta – ele disse, friamente, observando a expressão de alegria de Raquel quando o corretor virou nos calcanhares e a encarou. Não, ela não tinha ganhado um monte de dinheiro, mas ver aquele sorriso prepotente sumir do rosto dele foi quase tão bom.  

– Eu sinto muito. – Ele sorriu para ela com afetação. – O que você queria saber? 

 – Obrigada por aquilo – Raquel disse, sorrindo para Sérgio quando eles saíram da casa.  

– Oh, o prazer foi todo meu – respondeu Sérgio. – Ele é muito insolente. 

Raquel adorava leilões, a multidão que se reunia na frente da casa, o corretor estimulando a competição; ao mesmo tempo, ela sempre tinha medo de levantar a mão e dar um lance vencedor, como alguém que fica em pé na beirada de um despenhadeiro e quer pular, só para saber como é a sensação. 

 Havia alguns lances sérios acontecendo, e Raquel assistiu com interesse. Aquela era a coisa mais excitante a acontecer com ela durante a semana inteira. 

Sérgio tentava se concentrar, mas seus olhos continuavam se desviando para ela. Ele não dera nenhum lance ainda; ele queria esperar e ver... 

Deus, até as pálpebras dela estavam inchadas. Quando ele deveria estar se concentrando, no momento em que deveria estar focado, ele estava pensando nela, se preocupando com ela; e Sérgio não gostava nem um pouco daquele sentimento. 

 Os lances estavam diminuindo agora, e o leiloeiro estava tendo dificuldades em conseguir um pequeno aumento que fosse nos valores; e foi então que Sérgio fez sua primeira oferta. 

 Ele viu a expressão de surpresa nos olhos dela; ela não imaginara que ele seria um candidato. Não era algo que ele tinha que discutir com ninguém, Sérgio pensou consigo mesmo; aquela era a vida que ele havia construído para si. Ainda assim, havia aquela leve sensação de desconforto, quando ele lembrava-se de todas as noites em que ela havia lhe contado sobre suas esperanças, sonhos e medos para o futuro, e percebeu que não havia compartilhado nada seu com ela. 

 A multidão estava repentinamente interessada, e Sérgio a viu sorrir. Apenas um pequeno sorriso, que chegou até ele, dizendo a ele que ela estava satisfeita. 

 Animada por ele, talvez.  

O lance dele foi superado, e ele aumentou a oferta. 

 Ela sorriu novamente. 

A oferta foi superada, e ele aumentou o valor do lance ainda mais.  

Ele procurou o sorriso dela, por aquele pequeno encorajamento de que ele não precisava realmente, mas de que gostava, e percebeu que ela não estava sorrindo. 

 O lance dele havia sido superado novamente, e o leiloeiro passou a vez para ele, mas Sérgio não estava ouvindo. 

 Havia uma expressão de perplexidade no rosto de Raquel, como se ela tivesse acabado de receber alguma notícia chocante; mas não havia ninguém falando com ela e ela não estava ao telefone. As duas mãos dela seguravam a barriga. 

Ele podia ouvir o aviso do leiloeiro. Confuso, mas também precisando chegar até ela, Sérgio deu um lance literalmente alto, e ouviu as reações chocadas da plateia. Ignorando o resto dos procedimentos, ele abriu caminho pela multidão para chegar até ela. 

 – Acho que minha bolsa d’água estourou!  

– Está tudo bem – disse ele, de modo confortador.  

– Não, não está! – Ela estava tremendo, o choque aparecendo em seu rosto quando ela percebeu a situação. – Eu só estou com 34 semanas!  

– Bebês de 34 semanas ficam bem... – Ele podia ouvir sua própria voz muito calma; mas o sangue estava martelando-lhe as têmporas, quando ele apanhou o telefone. – Vamos, tente se sentar. Eu vou chamar uma ambulância. 

 – Não há lugar nenhum para sentar! – ela gritou. O sol estava batendo em sua cabeça com força e sua boca se encheu de saliva. – Sérgio, eu acho que o bebê está vindo...  

O corretor havia se aproximado para cumprimentá-lo, agora que a casa era aparentemente sua; mas Sérgio não estava ouvindo.  

– Precisamos levá-la para dentro – ele disse. 

 – Como? – o agente perguntou. 

– Sérgio... – Ela estava gemendo agora, a dor misturada ao terror. – Está doendo muito...  

– Ela precisa ir lá para dentro. – Sérgio estava ajudando Raquel a caminhar até a entrada lateral da casa, suportando a maior parte do peso dela. – Ela precisa de um pouco de privacidade...  

– Você não pode entrar assim!  

– Eu acabei de comprar a casa! – Sérgio estourou. – Ela vai dar à luz. Onde é que você quer que ela tenha o bebê, na rua? – Ele desistiu de ajudá-la a caminhar e pegou-a no colo, com tanta autoridade que o corretor acabou abrindo o portão lateral para ele. – Agora, chame uma ambulância – Sérgio ordenou –, e diga a eles que é um bebê prematuro... – Ele havia conseguido chegar com ela até debaixo de um salgueiro, e ela estava tentando fazer com que ele a colocasse no chão, resistindo em seus braços. 

Sérgio percebeu, alarmado, que não havia chance de levá-la para dentro da casa.  

– E avise a eles que há um médico presente. 

 – Há alguma coisa que eu possa fazer? – O homem para quem ele acenara todas as manhãs, e de quem ele acabara de comprar uma casa, estava ali, agindo de forma prática e tentando ajudar. 

– Preciso de algumas toalhas – Sérgio disse, enquanto a esposa do homem corria para buscá-las e ele lutava para permanecer calmo e ser profissional. Era apenas um parto, ele disse a si mesmo, e ele era mais do que capaz de lidar com aquilo. 

 O problema é que ele podia ver o olhar aterrorizado dela...  

– Eu preciso que você me escute, Raquel. – Ele havia tirado a lingerie dela e a examinara. O bebê não estava esperando pela ambulância; não estava esperando por nada... – Este é um bebê pequeno, então, nós vamos tentar desacelerar o processo. – Era importante que eles fizessem aquilo, já que um parto rápido podia causar danos ao cerebrozinho frágil. – Você não pode fazer força – ele alertou Raquel. – Nós queremos que isso aconteça da forma mais lenta e suave possível...  

Ela jamais se sentira tão petrificada de medo; a ideia de o bebê chegar tão cedo, e ali, sem hospital, sem equipamentos brilhantes... Ainda assim, ela estava desesperada para fazer força, para empurrar, mas Sérgio estava lhe dizendo para respirar com calma, resistir a uma vontade quase incontrolável... e ela sabia o motivo.  

– Está acontecendo depressa demais... 

– O seu corpo estava se preparando para isto há horas, você simplesmente não sabia. – Ele sorriu. – Nós só precisamos desacelerar um pouquinho. 

 Ele estava certo. Durante toda a manhã, ela havia se sentido inquieta; tentara ficar deitada, ler, descansar. Ela havia tomado um banho e voltado para a cama, e então, decidido ir ver o leilão... 

 – Está nascendo – ela gemeu. 

 E estava. Nada iria atrasar a chegada do filho dela ao mundo, e ela estava muito feliz por Sérgio estar por perto, e aterrorizada só de pensar que ele poderia não ter estado. 

– E se eu tivesse ficado em casa, e se...  

– Você teria dado um jeito! – Sérgio interrompeu os “e se” dela rapidamente. – E você está indo bem agora.  

– Eu sinto muito por não estarmos nos falando. – Ela ofegava com o esforço para não empurrar. – Sinto muito estar fazendo isto com você...  

– Estou feliz de estar aqui – Sérgio disse. – Eu já fiz isso mui... – ele não continuou, porque tinha acabado de perceber que o cordão umbilical estava em volta do pescoço do bebê, embora não estivesse muito apertado, e Sérgio o desenrolou. 

Mas não fora aquilo que interrompera suas palavras. 

 Sim, ele havia feito partos durante os últimos anos, sim, fizera aquilo muitas vezes antes. Mas nunca como agora. Não como agora, com o coração na boca, ao segurar uma cabecinha minúscula nas mãos e guiar uma vida frágil para o mundo. 

 Não como agora, ao colocar o bebê sobre a barriga de Raquel, esfregar as costas dele, examinar-lhe os pezinhos. Ele sabia que a criança ia respirar, o médico que Sérgio era sabia que havia se passado apenas um minuto, mas para o homem Sérgio, aquele havia sido um minuto muito longo; o bebê estava molinho e cianótico, e seus batimentos cardíacos estavam tão fracos que se caíssem ainda mais ele teria que começar manobras de ressuscitação. Ele podia ouvir os apelos de Raquel, que ecoavam os pensamentos dele, e rezou para que a ambulância chegasse rápido, com oxigênio para o pequenino. 

 Ele virou a bebê, de forma que ela ficasse deitado de costas sobre a barriga de Raquel, e sentiu um alívio profundo quando a pequenina fez um movimento brusco e respirou pela primeira vez. 

 – A bebê não está chorando – soluçou Raquel. – Ela vai respirar – ele prometeu. 

– Ela? – Sérgio não era obstetra; talvez tivesse sido melhor se a mãe descobrisse por si mesma, mas o bebê era frágil e doente demais para deixar a praticidade de lado.  

– Você tem uma filha – Sérgio disse – e ela precisa ficar aquecida. – Ele manteve a pequenina aconchegada à barriga da mãe, e envolveu as duas em toalhas, aliviado ao ouvir, finalmente, o barulho das sirenes. 

 – Eu trouxe um rolo de barbante... – A mulher que havia trazido as toalhas tinha procurado algo útil para fazer, e se a ambulância não estivesse estacionando, Sérgio teria cortado o cordão umbilical naquele momento. Ele estava seriamente preocupado com a falta de resposta da criança. Ela estava respirando, mas com esforço, pequenas bolhas saindo de sua boca a cada expiração. Os paramédicos começaram imediatamente a cuidar da situação: aspirando as pequenas vias aéreas do bebê, e colocando nela uma máscara de oxigênio que, mesmo minúscula, cobria o rostinho quase inteiro, enquanto Sérgio amarrava e cortava o cordão. 

 – Nós podemos fazer contato pelo rádio... – O paramédico olhou para Sérgio, e os dois juntos chegaram a uma decisão rápida, sem palavras: tentar um acesso intravenoso e trabalhar para estabilizá-la ali mesmo, ou correr para o hospital, que ficava a poucos minutos dali, dependendo do trânsito? 

 – Vamos levá-la para o hospital – disse Sérgio, e o paramédico assentiu, enrolando o bebê em toalhas. 

 – Nós vamos mandar outra ambulância para a mãe – o paramédico disse.  

– Não, eu quero ir com ela... – Raquel estava soluçando e tremendo, assustada com a velocidade dos acontecimentos. – Ela precisa chegar ao hospital rápido. – O tom de voz de Sérgio era amável, mas não dava espaço para negociações. – Você pode ficar com Raquel por um instante? – ele perguntou para a mulher que havia ajudado tanto. Ela trouxera travesseiros e cobertores da casa, e estava fazendo o que podia para deixar Raquel confortável. – Eu vou ajudá-los a colocar o bebê na ambulância, e já volto. 

 – Não – Raquel soluçou. – Vá com ela. Por favor. 

 Houve um momento de confusão no processo mental dele naquele momento, mas ele não deu atenção; não havia tempo.  

Ele assentiu, concordando, e segurou a criança nos braços enquanto a ambulância percorria a curta distância até o hospital. Os pequenos pulmões dela estavam se enchendo de fluido, e Sérgio segurou a máscara de oxigênio contra seu rostinho, deixando espaço para o paramédico fazer a sucção. Havia uma pequena sonda presa na orelhinha do bebê, e o nível de saturação de oxigênio estava baixo, mas não crítico...  

A ambulância corria rápida pelas ruas, desacelerando um pouco na avenida da praia, cheia de motoristas de final de semana e de frequentadores das lojas, e Sérgio sentiu a tensão aumentar enquanto o veículo freava e acelerava, com a sirene ligada no máximo.  

Então, ele olhou por debaixo da máscara, e das pequenas narinas trêmulas, e viu os cabelinhos loiros, molhados de sangue, e os olhos azuis escuros que estavam muito longe de ter foco; mas Sérgio sentiu que a menina olhava diretamente para ele.  

Foi um momento estranho de conexão, e foi Sérgio quem desviou os olhos primeiro. 

 Ele era apenas o médico. A mãe desse bebê era apenas uma amiga... 

 E então, o hospital estava bem à sua frente, e ele podia ver Agatha esperando do lado de fora. Quando as portas da ambulância se abriram, ele não entregou a pequenina para ela, mas correu para o setor de ressuscitação com a carga preciosa; a incubadora já estava aquecida e à espera, os pediatras e Raji estavam no local, e somente então ele a entregou... 

 E foi só então que ele percebeu o quanto estivera apavorado. Um suor frio o encharcou enquanto ele observava a urgência com que a equipe médica trabalhava, e ele sabia que eles não estavam exagerando. Ele tinha visto como aquele bebezinho estava doente, e foi incapaz de falar por um instante, lutando para recuperar o fôlego.  

Ele foi até a pia, enquanto os paramédicos passavam as informações para a equipe médica, e Sérgio tomou um grande gole d’água diretamente da torneira, antes de voltar para onde eles trabalhavam. 

 Raji havia colocado um tubo no nariz do bebê, e estava fazendo uma sucção mais profunda de suas vias aéreas; o pediatra havia inserido um tubo umbilical, e ela estava recebendo líquidos. Ela parecia um pouco mais agitada agora, o rostinho franzido com o desconforto, os pequenos punhos cerrados, e as perninhas chutando em protesto...  

– Ela estava com as funções vitais bem baixas... – Sérgio informou os resultados do teste Apgar. – Foi um parto muito rápido. 

– Trinta e quatro semanas, de acordo com os paramédicos. – O pediatra estava examinando a menina. – Mas ela é bem grandinha para 34 semanas; você sabe com quem a mãe estava fazendo o pré-natal? 

 – Eu tenho certeza de que ele não teve tempo de perguntar – disse Agatha. – Você estava num leilão de casa, não estava, Sérgio?  

– Na verdade... – ele limpou um pouco a garganta – este é o bebê de Raquel.  

– Nossa Raquel! – Agatha piscou os olhos, incrédula, e então verificou o cartão de admissão que a recepcionista havia acabado de preencher.   

– Ela mora na mesma rua onde estava acontecendo o leilão – Sérgio explicou – e deve ter saído para dar uma olhada.  

– Bem, ela é uma mulher de sorte... – Agatha expirou pesadamente – por você estar por perto. 

 – Ela estava com diabetes gestacional – disse Sérgio; aquilo explicava o tamanho relativamente grande do bebê para o tempo de gravidez. – E ela fez o pré-natal aqui – ele informou para a recepcionista, que correu para procurar o prontuário. 

– Alguém sabe se houve algum outro problema?  

– Hipertensão – disse Ester, enquanto Sérgio ainda lutava para respirar. – Ela saiu de licença maternidade há alguns dias. 

 – Sim, a pressão dela andava alta – Sérgio disse, observando o espanto de Agatha com a profundidade do seu conhecimento. – Ela estava bastante inchada hoje, e eu cheguei a pensar que ela estava entrando em pré-eclâmpsia – ele completou. – Eu acho que ela ia ser internada na segunda-feira.  

Ele se sentia doente.  

A área de ressuscitação estava impossivelmente quente, e Sérgio se sentiu sufocado, ouvindo o bip, bip, bip do monitor. Até mesmo assistir à equipe médica trabalhando era incrivelmente difícil. Oh, ele estava ciente de que eles sabiam o que estavam fazendo, sabia que bebês, mesmo os menorzinhos, eram criaturinhas fortes; mas os médicos pareciam tão grosseiros ao lidar com algo tão pequenino. 

 – Eu vou sair um pouco – Sérgio disse, com a voz estrangulada.  

– Talvez você queira se trocar primeiro. – Agatha olhou para ele e sorriu, e foi só então que Sérgio percebeu o estado em que se encontrava. 

Ele tomou um banho rápido e apanhou uma roupa de cirurgia, mas em vez de se enxugar e se vestir, ele se sentou no banco de madeira, pingando, com a cabeça entre as mãos, as palavras dela ecoando repetidamente em sua mente: “E se eu tivesse ficado em casa, e se...” Todas as situações possíveis passaram pela sua cabeça, que trabalhava freneticamente. 

 E não só para aquela manhã.  

Várias vezes, ao longo dos anos, ele havia se torturado com aquelas mesmas palavras; desejando ter voltado para casa mais cedo, e imaginando qual teria sido o resultado, se ele tivesse estado lá. As pessoas haviam dito a ele que nada poderia ter sido feito por Hellena, que mesmo com o melhor dos cuidados médicos ela teria morrido, que a hemorragia cerebral que ela sofrera a teria transformado em um vegetal. Mas e quanto ao bebê? Ele poderia ter sido salvo, se Sérgio estivesse em casa? 

 Havia uma miríade de emoções conflitantes assaltando-o. 

 Alívio, arrependimento, até mesmo ressentimento, porque ele havia estado presente para ajudar aquela criança, e não a sua própria; e mesmo assim, tão rapidamente quanto o ressentimento chegara, desaparecera. Ele havia segurado aquela pequenina vida nas mãos, uma vida que ele lutara para salvar, e pela qual sentia mais do que era apropriado para um médico; e não só pelo bebê, mas pela mãe também. 

 Então, ele se lembrou da própria estupidez, quando havia pensado em ficar com ela depois do traumático nascimento do bebê.  

Claro que ele deveria ter acompanhado o bebê!  

Raquel se encontrava estável, havia outra ambulância a caminho... e mesmo assim, o instinto havia dominado a lógica por um segundo, e ele só quisera ficar e confortá-la.  

Não! 

 Ele se levantou, então, e se enxugou rapidamente, colocando a roupa de cirurgia e tomando uma decisão firme.  

Ele não se envolveria com Raquel, custasse o que custasse. Ele não poderia passar por aquilo de novo.  

Não iria.  

Não conseguiria. 


Notas Finais


podem comentar e dizer o que acharam, a noite eu volto.


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