Na sala de Jia, eu e Jace estávamos parados, apenas esperando a coordenadora aparecer. Batucava incessantemente no meu laptop.
-- Acha que pegamos quem matou? - Perguntou ele. - Com toda certeza?
-- Bom, vai ter o interrogatório delas e então... podemos ter uma idéia, mas tirando isso...
Ele assentiu, se virando e fitando um ponto em sua frente.
-- Por quê?
-- Eu não acho que isso prove algo.
-- Como não?! É uma prova irrefutável, cabelos loiros compridos. Você também viu.
-- Não é irrefutável. Poderia ser uma peruca, não dá para distinguir direito, estava bem escuro.
-- Tinha que ser alguém que ouviu o boato e estava na festa.
-- Então precisamos de câmeras do corredor quem entrou no vestiário. Não pensou nisso?
Trinquei os dentes. Odiava ser taxada como burra. Tudo bem que eu realmente não pensei em ver as câmeras, fiquei tão aflita para mostrar para Jia e apara encerrar tudo que eu nem tinha me tocado que tinham muitas mais coisas para se pensar e ter certeza.
-- Eu estava com pressa. - Respondi apenas.
-- De se livrar de tudo isso? - Perguntou de uma forma ácida, e eu não entendi o porquê.
-- Sim. Quero me livrar de tudo o mais rápido possível.
Jace me encarou por mais dois segundos, e então desviou o olhar para frente novamente. O jeito que sua mandíbula estava travada, e as mãos segurando com força as bordas da poltrona em que estava sentado era mais do que suficiente para eu entender que ele estava com raiva. Mas por quê?
Não tive tempo de pensar em nada e nem de perguntar, pois Jia escolheu esse momento para entrar como um furacão em sua sala.
-- Acharam quem foi?
-- Temos duas principais suspeitas. - Disse, me levantando e abrindo meu computador em sua mesa. Fui até o lado de Jia, abrindo o arquivo do vídeo. Jace não disse absolutamente nada, e também não tirou o olhar da janela lateral. Decidi ignorar, se ele quisesse ficar emburrado por qual motivo seja, que ficasse.
O vídeo se abriu, onde recortei para que não precisasse acelerar até a parte onde se via um pedaço de pele branca e cabelos loiros compridos.
-- Aqui. - Pausei. - Temos apenas duas suspeitas.
Jia gesticulou para que eu dissesse logo.
-- Kaelie Durant e Tina Sheldon.
Infelizmente Jia não saiu saltitando e começou a ligar para o pai do Merlion ou chamar as duas na sala, pelo contrário, apenas olhou a tela do meu computador novamente.
-- Olhe querida, posso até pedir um relatório de onde Tina esteve durante afesta de ontem, porque ele não trabalhava. Mas tenho certeza de que não foi Kaelie que abriu o armário.
Pisquei duas vezes, confusa.
-- Por quê?
-- Porque há mais ou menos uma semana, no final de semana que ela passou com os pais ela... tentou de matar para ficar junto com o Merlion. Desde então está internada numa clínica que a observa vinte quatro horas por dia, pela própria segurança.
Suicídio... Olhei para Jace novamente, mas seus olhos estavam ainda na janela. Tomara que ele não tivesse ouvindo sobre isso.
-- Não é suspeito? - Perguntei, mesmo que fosse insensível da minha parte. - Talvez pela culpa?
-- Não. - Jia me deu um olhar triste. - Kaelie contou para todos seus amigos que finalmente iria tomar coragem e dizer o que sentia pelo Merlion, na mesma noite, mas então o acharam morto.
-- Oh...
-- Ela saiu da lista inclusive do próprio pai do falecido Merlion. Então ela não é a direção certa.
Assenti, fechando o computador.
-- Gostaria das câmeras de segurança do vestiário de ontem, Tina poderia ter sabido de alguma forma do boato que espalhamos e iria dar um jeito de se livrar.
-- Eu posso fazer isso, mas há relatos que Tina foi para casa, pois a polícia ligou para a escola avisando que ela tinha sido presa por reclamação da música alta dos vizinhos. Tive que ir soltá-la com um aviso prévio de demissão junto.
-- Presa? - Ecooei, chocada.
-- Não foi a primeira vez que os incomodou com som ensurdecedor.
-- Entendi... Mas seria bom ter a câmera de segurança mesmo assim.
-- Irei providenciar agora mesmo. - Ela assentiu, e então pegou o celular e ligou para alguém. Pelo que eu consegui ouvir, era o homem que cuidava da sala de segurança e ela estava dizendo para ele mandar as filmagens.
Voltei a sentar na minha poltrona e fechei o laptop.
Se não foi Kaelie ou Tina, quem havia sido? Será Jordan? Não... seu cabelo era muito escuro para dar qualquer indício de loiro. E Sabine tinha os cabelos pretos como a noite...
Tudo tinha se encaixado, e de repente, eu não sabia de mais nada.
Jia virou o monitor e começou a passar a imagens das câmeras de frente pro vestiário masculino. Depois do terceiro casal ter entrado ali num intervalo de vinte minutos mais ou menos cada, Jace falou pela primeira vez desde que não estávamos sozinhos.
-- Engraçado como ninguém é expulso por transar nos vestiários de uma escola bem vista em toda Europa. Me pergunto se é o bolso farto dos generosos pais que permita que isso aconteça.
Pisei em seu pé. Eu compartilhava de sua opinião, mas dizer tão abertamente não nos levaria a nada.
Jia apenas ruborizou, e não disse nada, continuando a encarar a tela.
E quando vi Aline, sua filha, entrar ali com um cara alto de moletom grande e capuz, Jia virou de volta o monitor e desligou o vídeo.
-- Irei te mandar por e-mail para que analise com calma. - A vergonha estava estampada em seu rosto.
Assenti, me levantando, Jace veio atrás, em silêncio. Assim que saímos para a secretária, encontramos a mesma Aline que estava transando no vestiário masculino sentada na cadeira. Ela nos deu uma olhadela e depois que viu a sala da mãe livre, entrou ali.
Na longa caminhada até o quarto, nenhum dos dois disse nada. E ninguém passou por nós, apenas alguns faxineiros, jardineiros e pessoas que limpavam as piscinas. Afinal era fim de semana, dificilmente os alunos ficavam ali, no geral, iam todos para suas casas.
Fechei a porta do quarto atrás de mim depois que Jace entrou. O loiro foi diretamente para o banheiro, enquanto eu sentei no sofá e abri o arquivo do vídeo que Jia me mandou.
Vi o vídeo quatro vezes, notando no cabelo de cada um, e as únicas pessoas loiras que entraram ali foram dois meninos de cabelo curto, e uma garota com também cabelos curtos. De restos eram castanhos, pretos, coloridos ou até ruivos. Notei as pessoas brancas com mais atenção, pois vi uma tonalidade clara do pedaço de pele no vídeo, mas não. Eram realmente só os três de cabelo curto.
-- Que merda! - Bati a mão na mesa com força.
No mesmo momento, Jace saiu do banheiro de toalha, indo em direção ao armário ao lado de sua cama.
-- Não conseguiu se livrar de mim tão cedo?
-- O quê?
-- De tudo. - Pigarreou. - Perguntei se não conseguiu se livrar de tudo e voltar para sua vida alegre.
Eu me levantei, entendendo o que estava acontecendo.
-- Você está bravo porque acha que quero me livrar de você?
-- Um, eu não estou bravo, e dois, estou tão ansioso para viver longe e receber meus dez mil dólares quanto você.
Não aguentei e dei um sorrisinho.
-- Você está bravinho porquê acha que eu quero te mandar embora!
-- Eu não ligo pra sua opinião. Eu quero ir embora, ok?
Eu ri, caminhando até ele.
-- Você é bem teimoso, mas mente mal.
Jace apenas revirou os olhos.
Como ele não olhou para mim, o empurrei sentado em sua cama, o loiro continuou bravo, encarando a parede atrás de mim.
-- Quando eu disse que quero me livrar de tudo isso, me referi ao meu chefe mandando mensagens diariamente esfregando na minha cara que ele resolveu o crime com o parceiro canibal em um mês. E esse já é meu segundo. Quero me livrar dessa escola com riquinhos de merda e quero me livrar da sensação de estar falhando ou perdendo alguma coisa o tempo todo.
Jace olhou para o meu rosto, e por esse ângulo eu via o peitoral forte, a mandíbula marcada e os olhos cerrados em compreensão, mas não compaixão.
-- Não falamos ainda sobre como vamos fazer para eu escapar assim que pegarmos quem matou Merlion.
-- Certo. - Sorri. - Vamos falar disso.
༺༻
༺༻
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.