História Meu príncipe - Prólogo - O Retorno do soldado

Há o cheiro de sangue, esse parecia que nunca ia abandoná-lo estava impregnado em suas roupas, seus cabelos seu ser. Havia sido quinze anos na linha de frente da guerra contra Marley, quinze anos de um contato quase íntimo com a morte, hora matando, hora quase morrendo, um contato muito prolongado pra ser saudável a qualquer homem comum, sorte que Levi não era comum, se fosse já estaria louco como viu acontecer com muitos ou então morto.

A única coisa que Levi queria era voltar para o único lugar que ele poderia considerar o mais perto de um lar, o castelo, tomar um longo banho como a tempos não tomava, vestir roupas limpas, deitar em sua cama  e tentar esquecer os terrores vistos na guerra, ser o capitão de todo o exército tinha tomado muito da sua vida, mas agora com a vitória de Rose sobre Marley assegurada pelo menos um pouco de calmaria viria para ele, tinha chegado a hora em que o exército se retirava e os ministros e o rei assumiam com toda aquela burocracia de merda que não era do interesse de Levi.

Pensando em seu banho ele incitou seu cavalo a ir ainda mais depressa, ainda tinha que se apresentar ao rei pra depois ter seu merecido banho. Já estava a três dias na estrada, com pausas apenas para comida e descanso e o esforço valeu a pena, uma viagem que duraria cinco dias, Levi em apenas três, já podia ver ao longe as torres do castelo, depois de poucos minutos finalmente havia chegado aos portões do castelo.



— Levi Ackerman capitão do exército deixem me passar e notifiquem o rei _ olhou para os guardas com sua expressão tipicamente fria.



Os guardas tremeram, não era prudente tirar a paciência do capitão.



— Sim senhor, o rei lhe aguarda no salão do trono _ disseram batendo continência.



Os portões logo foram abertos e logo atravessados por Levi ainda em seu cavalo.

Tsc quanto mais rápido isso começar, mais rápido vai terminar.

Pensou o de olhos negros descendo de seu cavalo em frente às escadarias de mármore ricamente trabalhadas, jogando sua capa verde para trás numa cena um tanto dramática, Levi subiu a escadaria adentrando no castelo dando de cara com os servos.



— Lorde Levi o rei o esp...

— Eu sei o caminho _ disse passando direto sem ao menos olhar para o servo.



Atravessou o labirinto de corredores a passos largos, sabia aquele caminho de cor, logo chegou em frente às portas de madeira duplas com entalhes de ouro e com mais dois guardas na frente, esses que sem nem mesmo piscar abriram as portas dando passagem ao capitão, Levi adentrou a sala do trono se pondo em um joelho na frente do rei com a mão direita em seu coração e a cabeça curvada, seus olhos miraram o do monarca a sua frente, Levi não permaneceria de cabeça abaixada o tempo todo como era o certo havia feito no início para demonstrar respeito e só.



— Rivelli Ackerman se apresentando ao rei _ disse agora de pé com a mão esquerda atrás das costas e a direita ainda em seu coração.



Saudação essa usada somente por oficiais de alta patente.



— Ackerman, como está o andamento da posse de Marley? _ Grisha Jaeger o rei de Rose disse olhando para Levi de cima de seu trono.



Grisha não era somente um monarca cheio de pompa e com o rei na barriga que era como Levi via a maioria dos monarcas e burgueses, aquele era um rei com um olhar afiado, uma mente inteligente, que havia lutado nas linhas de frente em guerras passadas, um rei que havia sujado as mãos com sangue e não somente assistido seus soldados lutarem, enquanto esse se sentava com sua bunda real em seu trono, só esse fato já conquistava a lealdade e respeito de Levi.



— O Rei de Marley está morto, a rainha tentou fugir com o primeiro ministro e seu amante os dois foram encontrados e mortos _ disse dando um sorrisinho cruel _ já os príncipes foram deixados para morrer no castelo.



Bastava jogar uma brasa em reinos como Marley pra ver tudo arder em vermelho vivo, e nessa hora toda a sujeira e a verdadeira face dos seus tão amados governantes eram expostas.



— Como você lidou com essa questão Ackerman?

— Disse a eles o que havia acontecido e por que haviam sido deixados ali, e diante da reação dos servos eles viram a verdade, então ofereci uma chance de sobrevivência.

— O que exatamente você fez? _ os olhos do rei apresentavam um brilho incomum.

— Os dois irmãos poderiam preservar suas vidas e serem acolhidos e protegidos por Rose, seriam ensinados e quando crescerem poderiam assumir como governadores de Marley sua terra natal a serviço do rei de Rose, isso é claro se jurarem total lealdade a Rose e conscientes que traições futuras não seriam toleradas e que um destino pior que a morte os aguardava.



O rei soltou uma longa gargalhada, realmente havia sido uma brilhante idéia acolher aquele garoto à beira da morte e dar a ele uma chance de lutar pela vida, naquela época Grisha não imaginava que o Ackerman se tornaria o melhor soldado e capitão que ele jamais viu.



— Ótimo, ótimo agora me diga como chegou a essa decisão Ackerman?

— O povo de Marley é arredio e propenso a rebelião embora não sejam dotados de inteligência, parecem um bando de babuínos balbuciando em bandos, no futuro se eles vierem a dar problemas, se o governador de Marley fosse o próprio príncipe de lá daria a sensação de segurança ao povo, mesmo que o pequeno príncipe não passe de uma marionete tendo seus cordões puxados por vossa majestade.



O homem loiro de olhos azuis que se mantinha calado até então ao lado do rei resolveu finalmente se pronunciar.



— O rei de Marley poderia ter sido um tolo em questões de administração do reino, mas devo admitir que a falsa impressão de prosperidade que ele passava ao povo e a falsa preocupação com o mesmo levou ele e a família real a serem adorados pelos súditos, o fato dos príncipes estarem em nosso poder agora é mais uma garantia de que permaneceram comportados.

Esse era outro homem perigoso, Erwin Smith o primeiro ministro e comandante do grupo de estratégias de guerra do exército ao qual Levi também fazia parte, Levi e Erwin eram amigos de longa da data, o homem alto e loiro, se bem que qualquer um era mais alto que Levi o que o loiro fazia questão de lembrá-lo sempre, era um dos poucos que Levi confiaria sua vida.

Tinham se conhecido a muito tempo quando Erwin ainda fazia parte do exército e Levi ainda não era o capitão, ele tinha salvado a vida de Erwin em uma das incontáveis batalhas que participaram juntos, a vida do loiro tinha saído intacta mas do seu braço direito não poderia se falar o mesmo, isso tinha sido o estopim para seu afastamento do exército e a posse do título de primeiro ministro, afinal Erwin sempre tinha sido inteligente, a falta do braço direito ou melhor parte dele era substituída por uma prótese de madeira coberta com a luva de couro e a capa verde alguns tons mais escura que a sua, mas isso não diminuía sua habilidade em matar, não mesmo, guerreiro que é bom sabe matar igualmente com os dois braços.



— Isso é realmente muito bom _ disse o rei _ Erwin comece os preparativos para o anúncio oficial da posse de Marley ao povo, assim como as honras prestadas aos soldados mortos e feridos e o apoio financeiro às suas famílias.

— Sim meu rei _ disse Erwin saindo do lado do rei e parando ao lado de Levi esperando a ordem para se retirarem.

— Enquanto a você Levi bom trabalho, me alegra ver o seu retorno vivo a cada dia mais você me mostra como eu tomei a escolha certa, podem se retirar.



Os dois homens curvaram as cabeças e depois se retiraram do recinto ouvindo o barulho da porta sendo fechada atrás deles.



— Não é que você voltou vivo Levi.

— E você duvidou Erwin? Já deveria saber que a morte já tentou antes e não consegui por que conseguiria agora.

— Hora meu amigo, pelo olhar em seu rosto eu diria que esse dia está próximo, você está horrível.

— Tsc desculpe se não deu tempo de eu me vestir de maneira apropriado para vossa excelência, prometo que agora voltarei a seguir a moda como você _ cada palavra escorria sarcasmo.

Levi insistia em dizer que os lenços estupidamente enfeitados com laços e babados e extremamente apertados em volta do pescoço, ditado pela moda, cortavam o fluxo de sangue para o cérebro e que só assim para se vestirem de forma tão ridícula e Erwin era um dito cujo seguidor da moda.



— Realmente você deveria seguir a moda Levi _ disse com um sorriso jocoso _ as novas botas de salto seriam perfeitas pra você, quem sabe assim você não fica um pouco mais alto, ou seria mas apropriado uma escada?



Sem dar chances de Levi responder, Erwin havia virado num corredor oposto ao caminho que Levi seguiria para seu quarto, mas o de olhos negros ainda pode ouvir a curta risada do loiro.



— Tsc... Bastardo, deveria ter te deixado morrer.



Disse virando para o lado oposto do tomado pelo loiro e seguindo seu caminho, queria chegar logo ao seu nenhum um pouco modesto quarto, mergulhar em sua enorme banheira e tentar não ceder aos instintos homicidas direcionados ao loiro.

Finalmente havia retornado e vivo.