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História Meus adoráveis sete minutos - Único


Escrita por: Namura_Akemi

Notas do Autor


Tanto o personagem, quanto a historia são originais e me pertencem, não lucro em nada com isso. O conteúdo pode não agradar a todos, mas faço isso por prazer. NÃO COPIE

Capítulo 1 - Único


Nem nos meus mais profundos pesadelos imaginei viver um dia como ontem. Num momento estamos certos de tudo que temos por fazer, por realizar, sabemos quem somos com quem vivemos e o que é esperado de nós. No outro, estamos vencidos por algo que não sabemos explicar, por forças que nos levam a caminhos desconhecidos, por lugares inimagináveis, que nos fazem ver uma realidade obscura, mas de fato, real.

A sombra daquele vulto foi para mim como um despertador sutil, que me fez acordar de um sono muito leve. Assim que abri meus olhos, senti algo diferente. Uma sensação de tranqüilidade e descanso, como se aquela tivesse sido a noite mais aproveitada da minha curta vida. No auge dos meus sete anos, os quais completei há menos de uma semana, nunca pensei que um dia avaliaria uma noite de sono. Talvez esteja ficando adulto antes da hora. Talvez pelo fato de que realmente essa noite foi muito boa, meus pensamentos estejam mais serenos e, pela primeira vez na vida, pensei em alguma coisa assim que acordei. A atenção naquele vulto foi determinante para que eu aprendesse, mesmo que por breves segundos, que sei usar meu cérebro assim que acordo.

Uma vez acordado, ouvi os passos apressados descendo a escada. Em tempo recorde pensei pela segunda vez antes mesmo de sair da cama. Minha mãe que sempre me aconselhou a não correr nas escadas estava dando péssimo exemplo. Vendo a oportunidade de brincar com o fato e tornar aquele belo despertar em um dia feliz, levantei da cama e fui atrás dela. Abri a porta do quarto com urgência, procurando por alguém no corredor, alguém a quem pudesse assustar, ou abraçar, ou, enfim, desejar um bom dia. Eu tinha pressa em compartilhar a alegria que estava sentindo com alguém. Não vi ninguém no corredor...

Corri próximo à escada e espiei através do corrimão de madeira que me permitia ter uma boa visão da sala de visitas. Também ali não tinha ninguém. Naquele momento, minha ansiedade por alegria foi contida pelo primeiro pensamento temeroso daquela manhã: ninguém no andar de cima e ninguém na sala de visitas era algo que me assustou por um instante. Já de forma mais contida, apelando para uma seriedade impensada para um “garoto de sete anos”, comecei a descer as escadas, preocupado por não ouvir nenhum barulho, em canto algum da casa.

Meus pensamentos tomaram formas diferentes daquelas que eu havia vislumbrado ao acordar e meus olhos já não mais olhavam para aquela manhã com tanta alegria. Jamais tinha passado por uma situação como aquela. Uma insegurança muito grande me dizia que eu tinha que encontrar minha mãe. E tinha que ser rápido. No meio dos degraus eu já ignorava a orientação de minha mãe e minha pressa me guiava. Pulando um degrau de cada vez, logo estava ofegante, no meio da sala, olhando em direção ao corredor que me levaria até a cozinha. Dali, eu via a porta da sala de TV, no meio do corredor. Aqueles dois cômodos eram minhas últimas chances de encontrar minha mãe. Cabia a mim a decisão de fazer isso com muita rapidez ou com muita cautela. Não consigo encontrar palavras que descrevam exatamente o que sentia naquele momento. Por alguns segundos meu corpo tornou-se independente de meu sistema nervoso e, mais que isso, tornaram-se inimigos mortais. Minha mente mandava que eu me atirasse àquele corredor, chegando o mais breve possível na sala de TV e, continuamente, na cozinha e encerrasse a dúvida sobre o que estava ocorrendo com minha mãe. Meu corpo, entretanto, não se movia a lugar algum, estagnando-se no meio da sala de tal forma que parecia ter criado raízes ali.

Brigando com meus instintos, andei pelo corredor e olhei avidamente para dentro da sala de TV. Minha mãe não estava ali. Agora sim, tomado pelo impulso, corri até a cozinha. Nada. Ninguém ali também. Um angustiante pensamento tomou conta de mim e não sabia sequer a razão. Minha mãe poderia ter saído para trocar algumas palavras com um vizinho, ou ter ido até o mercado, ou... Quem sabe? O fato é que eu havia vasculhado toda a casa e não a encontrei. Até onde pude lembrar jamais minha mãe havia me deixado sozinho em casa.

Repentinamente, ouvi novos passos apressados, dessa vez no segundo andar, de onde eu havia vindo há pouco. Instintivamente, comecei a subir correndo as escadas e vi meu pai entrando muito rápido no meu quarto. Gritei pela sua atenção: “pai... pai... estou aqui”. Ele me ignorou completamente e entrou no quarto. Os quatro degraus restantes pareciam não ter fim, distorcendo minha sensibilidade sobre a realidade em que me encontrava. Novamente uma mistura de sentimentos se formava dentro de mim. A angústia era o líder deles, e meu coração parecia não bater mais naquela hora. Finalmente venci aqueles degraus e entrei abruptamente no quarto, já gritando: “pai... o que está acontecendo?”.

Os movimentos rápidos do meu pai denunciavam que ele estava extremamente nervoso, tenso, mesmo que tentando parecer controlar alguma situação, que eu não estava percebendo. Subitamente ouvi um grito agudo, de dor profunda e no mesmo momento percebi que se tratava de minha mãe. Circulei meu corpo ao redor do meu próprio quarto, procurando por minha mãe. Ouvi seu grito em meu quarto, mas não conseguia vê-la. Quando corri em direção a meu pai, percebi que ela estava à frente dele, próxima a minha janela. Novamente gritei: “mãe... o que está acontecendo? Porque não falam comigo?” Olhei novamente para meu pai e vi que ele havia perdido a batalha que estava enfrentando com aquela situação que tentava controlar. Rolavam por sua face lágrimas de dor que deixavam transparecer o quão apertado estava seu coração. Teria meu pai brigado feio com minha mãe dentro do meu quarto? O que mais poderia pensar um garoto de sete anos...

As respostas que eu estava procurando viriam em questão de segundos. Virando meu corpo para o lado de minha cama, vi algo que jamais imaginei que veria: MEU PRÓPRIO CORPO. Que dor pode ser maior para um pai e para uma mãe que descobrir ao despertar para uma bela manhã que seu filho não participará daquele momento? Que seus sonhos foram cessados por algum motivo e que não haverá volta? Instantaneamente tudo me fez sentido. Pensamentos que nunca tive alegrias que nunca senti descanso pleno... Foram breves momentos de aprendizado... Um aprendizado tão rápido quanto minha partida. Assim que finalmente percebi que todos os ruídos da casa continuaram ali o tempo todo, que todos estavam ali o tempo todo e que cabia apenas a eu saber o que se passava, a realidade foi novamente misturada em planos que eu não mais conhecia... E ao ver meus pais chorando a minha perda, senti novamente aquela tranqüilidade que havia sentido assim que acordei e entendi que meus breves sete anos haviam rendido a eles alguma felicidade.

Quando o mundo não te vê, você tem a chance de conhecer a verdade sobre você mesmo. A tristeza de meus pais vai se transformar, em algum momento, em saudosas lembranças dos momentos em que vivemos no mesmo plano. E eu?... Eu parti naquele dia.


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Qualquer erro de agradeceria que me avisassem.


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