História Midnight Circus - A pintura

Felix ficou surpreso ao entrar no quarto de Hyunjin. Não pôde ver muito dele no dia que o espiou atrás da porta, mas agora com as luzes acessas – pois ainda não havia amanhecido – ele via que o quarto de Hyunjin era branco e creme. Era um quarto grande e na parede oposta à da cama, havia uma espécie de ateliê de artes, com pincéis, tubos de tinta, aquarelas e telas. Felix sorriu ao que Hyunjin o sentou na própria cama.

— Você é pintor! — Felix disse.

Hyunjin sentou ao seu lado e pareceu sem graça ao assentir.

— Acho que sou — Hyunjin sorriu levemente — É mais um hobbie.

Felix estava encarando algumas das telas e folhas A4 com pinturas e desenhos de Hyunjin e constatou que ele era muito bom. Além de ser um acrobata incrível, ele também era um grande pintor.

— Você é muito talentoso — Felix disse.

Hyunjin passou a mão na nuca, claramente sem jeito e sorriu ao encarar novamente o rosto de Felix.

— Tenho uma coisa pra te mostrar — disse.

Felix se ajeitou na cabeceira quando Hyunjin andou até o espaço do ateliê e vasculhou as inúmeras telas que estavam espalhadas na pequena mesa. Quando tirou uma, retornou para a cama. Sentou novamente ao lado de Felix e estendeu a tela para ele, que a pegou.

Na tela, havia um céu noturno pintado, recheado de estrelas, que foram feitas com glitter. No centro do céu, havia um bambolê e no centro do bambolê, estava Felix. Felix estava sentado, contemplando as estrelas do céu noturno, com a roupa branca que usava nos ensaios, os pés cruzados no ar e uma das mãos erguida para cima, como se quisesse alcançar as estrelas. Ele sorria na pintura.

— Hyunjin... — Felix sussurrou, encantado com cada detalhe daquela pintura. Até mesmo as sardas de seu rosto estavam destacadas, desenhadas com pontinhos marrons — É maravilhosa.

Felix passou os dedos pela tela, alisando a si mesmo na pintura e depois as estrelas. Hyunjin era tão bom que havia conseguido produzir o brilho azul dos cabelos pretos como ébano de Felix.

— Eu pintei depois daquele ensaio — Hyunjin disse — A primeira coisa que pensei foi nas estrelas. Acho que elas representam muito pra nós dois agora.

Felix sorriu.

— É incrível — ele disse, admirando novamente a pintura — Posso ficar com ela?

— Claro — Hyunjin disse — É sua.

E antes que Felix pudesse falar mais alguma coisa, Hyunjin se inclinou para beija-lo devagar e suavemente. Lix pousou a tela cuidadosamente no chão e puxou Hyunjin pela nuca, o fazendo deitar sobre seu corpo. Hyunjin se afastou minimamente, apenas para encostar as testas uma na outra.

— Fiquei tão desesperado quando te vi cair — Hyunjin disse — Eu nem pensei quando me atirei no ar, só precisava te salvar. Precisava ter você em meus braços. Vivo.

Felix tocou o rosto dele com as mãos pequenas, sorrindo fracamente. Os olhos lacrimejaram um pouco. Ele não sabia se era por emoção ou pela tristeza. Talvez um pouco dos dois.

— Estou com medo — Felix sussurrou — Medo de não conseguir aguentar.

Hyunjin o tocou no rosto, esfregando as sardas escuras com o polegar.

— Nós vamos te ajudar — Hyunjin disse — Você é mais forte do que pensa.

Felix sorriu fracamente, querendo acreditar nele. Agora, Hyunjin tocava seu queixo com carinho, o encarando intensamente. Lix não desviou o olhar dele, por mais que estivesse começando a ficar sem graça.

— Felix — Hyunjin disse.

— Sim? — Felix perguntou.

Hyunjin continuava a tocar seu queixo, agora subindo o polegar e deslizando-o suavemente pelos lábios carnudos de Lix, desenhando o formato de coração.

— Eu juro que não vou deixar nada de ruim acontecer com você — Hyunjin disse — Juro pela minha vida.

Felix rapidamente negou com a cabeça.

— Não pode jurar pela sua vida, não — Felix disse — Não diga isso.

Hyunjin permaneceu sério e voltou a segurar o rosto de Felix, desta vez com firmeza.

— Eu juro pela minha vida — Hyunjin disse — Porque desde a primeira vez que te vi, do topo daquelas fitas, você tem sido a razão pela qual eu encontro felicidade em viver.

Felix abriu a boca e fechou, sem saber o que falar. Parecia que nenhuma palavra seria o suficiente para expressar o que sentia. Mas era bom. O coração disparando no peito, retumbando em seus ouvidos, era um bom sinal. E a euforia que passou a sentir era melhor ainda.

— Hyunjin... — ele sussurrou, sorrindo.

Hyunjin o silenciou com um beijo, que foi aonde Felix encontrou maneiras de expressar o que sentia naquele momento.

[...]

O resto da tarde, que foi nublada e sem a presença de raios solares, se resumiu a Felix nos braços de Hyunjin. Depois de tomarem um banho – separados, pois não resistiriam se tomassem juntos – eles vestiram roupas quentinhas e deitaram. Felix usava um moletom de Hyunjin, que obviamente ficara gigantesco em seu corpo pequeno.

Eles estavam encolhidos nas cobertas e Felix abraçava seu corpo, com a cabeça em seu peitoral, relaxando a cada batimento cardíaco de Hyunjin. Hyunjin estava com os braços envolvidos no pequeno corpo de Lix, que respirava serenamente. Dormiam tranquilamente, em paz nos braços um do outro. Agora, caia uma chuva fraca e ventava, mas nenhum deles ouvia, pois o sono estava pesado.

Lenda os observava da porta do quarto e sorriu levemente ao assistir aquela cena. Em silêncio, ele fechou a porta e os deixou sozinhos.