P.O.V Angel
— Podemos ir? – Klaus questionou ao se levantar, passando a mão sobre a calça e retirando vestígios de grama. Assim que terminou, estendeu a mão em minha direção e não hesitei em segurar, me colocando de pé também.
— Está certo de que é isso que quer? – devolvo com outra indagação, fazendo o mesmo que ele para retirar as sujeiras de minhas roupas, por mais que não tenha muito o que limpar. Metade é terra e a outra sangue seco.
— Diante essa situação, ter o que quero me trará benefícios e creio que não fará falta a você. – ele argumentou, chacoalhando a jaqueta, vestindo-a em seguida.
— Tudo bem. – concordo, caminhando até os lobos. — Tchau, bolas de pelos! – me despeço com um meio sorriso, um pouco triste por ter que deixá-los.
— Parece que estão realmente apegados a você, assim como você está à eles. – ouço Klaus dizer e aceno em concordância, fazendo carinho no aglomerado de animais ao meu redor.
— Desde que cheguei eles tem sido a melhor coisa que me aconteceu. – comento, estendendo meu olhar ao híbrido, mas logo voltando minha atenção para minha matilha, em específico o lobo negro. — Tome conta de todos por mim. – peço e rapidamente ele assumiu uma postura imponente, fazendo com que um sorriso nascesse em meus lábios. É como se ele entendesse minhas palavras. — Volto logo para vê-los.
Aceno uma última vez e sigo ao lado de Niklaus pela floresta. Irá demorar um pouco, mas em questão de minutos estaremos de volta a cidade.
Durante o tempo em que permanecemos aqui, logo após aquela "discussão", optamos por esclarecer como as coisas serão daqui em diante. Por mais estranho que pareça, deu certo e não brigamos ao chegar em um consenso. Klaus, continua não confiando em mim – e até lhe entendo –, mas propôs uma trégua em nossa guerra se eu lhe ajudar a conseguir algo. Não sei se também posso confiar nele. Caso eu lhe entregue o que tanto almeja, quem me garante que ficarei segura de uma possível vingança depois? Ele pode muito bem me usar para ter o que quer e depois me descartar da pior forma que sua mente perturbada imaginar.
Sei que por trás de toda essa máscara de complacência, existe um híbrido furioso, apenas se contendo para não me punir por meu comportamento. Ele nunca perdoou aqueles que erraram com ele, por que comigo seria diferente? Por que ele propôs essa "oferta de paz"? É de se desconfiar, mas posso até imaginar onde isso vai dar. Não tenho nada a perder mesmo. Ou colaboro, ganhando tempo para conseguir estar em um melhor estado para me defender ou simplesmente deixo que ele acabe comigo aqui mesmo. A primeira opção me parece mais viável, então é a escolhida.
— Klaus? – chamo por ele, quebrando o silêncio que se instalou entre nós e viro meu rosto em sua direção.
— Algum problema?
— Na verdade, sim. Preciso ligar para o Dylan. Ele deve estar preocupado com meu sumiço. – explico, seguido de uma leve careta. — E eu não estou com meu celular aqui...
— Pegue. – o híbrido me estendeu o seu, antes mesmo que eu pudesse concluir minha sentença e esboço um meio sorriso, segurando o aparelho em mãos.
Não pude deixar de notar que uma foto da filha é o seu plano de fundo e por um momento senti meu coração se comprimir, me deixando desconfortável. Preciso ver como a pequena Mikaelson está. Quero ter a certeza de que ela está bem e quem sabe eu possa sentir um pouco de alívio.
Resolvo deixar esses pensamentos de lado e começo a discar o número de meu amigo. No primeiro toque ele atendeu.
"Quem é?!" fecho meus olhos no instante em que sua voz ecoou, percebendo que ele está de mau humor.
— Dyl, sou eu...
"Meu Deus, Angelina! Onde você está? Tem noção do quanto estou preocupado?!"
— Desculpa por isso, mas houveram alguns imprevistos...
"Que tipo de imprevistos? Você está bem?"
Não posso simplesmente contar o que aconteceu. Dylan, irá surtar e não quero acarretar mais preocupação em sua vida.
— Lutei contra alguns lobisomens, mas não foi nada demais. Estou indo para a Mansão Mikaelson, temos assuntos pendentes que precisam ser esclarecidos o quanto antes.
"Lutei contra alguns lobisomens, mas não foi nada demais!" ele proferiu com uma voz fina, possivelmente tentando me imitar e dou risada. Dylan, sempre será o primeiro a me fazer rir em situações tão delicadas como essa. "Você diz como se fosse super normal lutar contra criaturas com dentes enormes!"
— Infelizmente para mim isso se tornou algo normal. – informo, coçando a nuca.
"As vezes gostaria de poder lhe ajudar... Mas tem certeza que quer ir para a casa desse maluco? Angel, ele pode tentar algo..."
— Iremos apenas conversar. Está tudo bem. – tento lhe tranquilizar, mas perante o suspiro que ouvi do outro lado da linha, não fui muito convincente.
"Geralmente as conversas entre vocês não terminam bem. Principalmente para você, que sempre saí machucada." fiquei com medo do híbrido ao meu lado ter escutado isso, mas é óbvio que ele ouviu.
— Se algo acontecer, terei você ao meu lado para aguentar minhas chatices. – solto uma risada nasalada, procurando ao máximo não transparecer meu incômodo. — Agora preciso desligar, estou usando os créditos de Niklaus e se eu acabar com eles, ele irá acabar comigo depois. Beijinhos! – encerro a chamada soltando um longo suspiro e devolvo o celular para o dono. — Muito obrigada.
— Disponha. – o loiro forçou um sorriso. — Parece que seu amiguinho humano realmente não gosta de mim.
— Surpresa eu estaria se fosse o contrário.
— Por que não contou a ele o que aconteceu de verdade?
— Não quero que ele gaste seu tempo se preocupando ainda mais comigo.
— Se não quer que as pessoas a sua volta se preocupem tanto com você, deveria pelo menos repensar sua atitudes algumas vezes, lhe faria um bem enorme. – dito isso, Niklaus usou sua velocidade para desaparecer de meu campo de visão e tudo que pude fazer foi me manter calada, indo atrás dele.
...
— Enfim, chegamos. – o híbrido anunciou ao abrir a porta da mansão, adentrando ao recinto. — Vamos, entre Angelina. – ele me apressou ao perceber que eu ainda estava parada no mesmo lugar.
Respiro fundo, criando coragem e o acompanhando para dentro. Assim que meus pés encontraram o chão da sala, uma bomba chamada Dylan Walker surgiu à minha frente, me abraçando sem precedentes e me pegando completamente de surpresa.
— Céus! O que está fazendo aqui, Dylan? – pergunto assim que ele me soltou, me analisando com extremo cuidado, antes de responder:
— O que mais eu poderia fazer aqui além de checar como você está? E percebo que mentiu para mim. Não foi uma simples luta contra lobisomens, você está horrível!
— Obrigada pela sinceridade. – agradeço assim que tive a visão de Rebekah e Elijah mais ao fundo.
— Angel, ficamos tão preocupados... – a loira admitiu se encaminhando em minha direção. — Nosso irmão saiu para lhe procurar e demorou para retornar, pensamos que algo tivesse acontecido. – ela acrescentou, migrando seu olhar ao híbrido, como se estivesse com medo de algo.
— Meu lobo o levou até mim, acabamos aproveitando o momento para esclarecer os últimos acontecimentos. – explico, notando Elijah se aproximar também.
Seu olhar me deixou nervosa, então, apenas mantive minha atenção presa em minhas botas sujas de terra. Acho que agora ele entende o que quis dizer aquela noite no corredor do apartamento.
— Esse era o motivo para aquele comportamento completamente diferente do seu habitual... – sua voz baixa ressoou e ergo meu rosto, arcando com as consequências. — Mas você insistia em dizer que não era nada.
— Nem mesmo eu sabia com o que estava compactuando. Fui como sempre uma irresponsável...
— Sabe que não pode usar esse adjetivo como desculpa para todos os erros que comete no intuito de que ele lhe tire um terço da culpa.
E foi assim que o nobre Original me derrubou, não no sentido literal, mas entrei em ruína, acabando com qualquer postura de confiança que habitava em mim. Elijah, está completamente chateado comigo. É como se minha atitude tivesse lhe atingido – e de certa forma atingiu. Coloquei a vida de seu irmão e sobrinha em risco.
— Rebekah... – Klaus, quebrou o silêncio. — Leve Angelina para seu quarto, permita que ela tome um banho e lhe conceda roupas limpas. Todo este cheiro de sangue está me deixando com sede. – o loiro torceu o nariz, conforme me olhava de cima à baixo. — Mas seja breve.
— Venha comigo. – Bekah segurou minha mão, me guiando até a escada, mas antes de começarmos a subir os degraus, olhei para Dylan, como se pedisse para ele se comportar em minha ausência.
Sem mais delongas, nos encaminhamos para o andar de cima da mansão, seguindo pelo extenso corredor e rapidamente chegamos em nosso destino.
— Não fique assim, Angel. – ela pediu assim que entramos em seu quarto, fechando a porta logo em seguida. — Apenas fomos pegos de surpresa com essa reviravolta. Tenho certeza que Elijah se arrependeu do que disse. Certamente, ele só quer uma explicação.
— É o que todos vocês querem. – aponto, soltando um longo suspiro. — Mas quero que saiba que minha intenção nunca foi causar algum mal a vocês. O acordo girava em torno de Niklaus e mesmo assim fiquei com receio de aceitar, mas diante tudo que aconteceu entre nós... Sinto que não temos salvação. Seu irmão e eu nos machucamos demais...
— Eu entendo você.
— Não está dizendo isso apenas porque se uniu a Mikael naquela época, não é?
— Por partes sim, já que sei como é estar desse lado do tabuleiro, mas acredito em você. Não acho que você seria capaz de se unir ao nosso pai se não tivesse um bom motivo para isso... Não se esqueça que eu a conheço a muito tempo Angelina West.
— Terei de concordar. – anuncio, lhe arrancando um meio sorriso. — É uma pena que os outros não pensem assim.
— Por falar nisso, preciso que me diga exatamente o que meu irmão pretende fazer a você. Seja o que for, saiba que farei de tudo para te ajudar. Em você, Niklaus não encosta.
— Bem, eu até diria, mas ele não foi muito claro quanto ao meu destino, apenas resolveu fazer uma troca de favores. – explico, notando a expressão confusa habitar sua face, antes de indagar:
— O que ele quer desta vez?
— Ele mesmo quer dar a notícia.
— Devo me preocupar?
— Acredito que sim, já que estamos falando de Klaus Mikaelson.
— Ótimo! Era justamente o que faltava! – ela reclamou, balançando a cabeça de um lado para o outro em negação.
— Ele também não me disse o que fará assim que tiver o que quer em mãos. – contesto, sentindo um pouco de medo. Afinal, quem não sentiria?
— De qualquer forma, saiba que pode contar comigo.
— Obrigada. Não sei o que seria de mim aqui sem você.
— Possivelmente continuaria a usar essas roupas sujas, mas não se preocupe, darei um jeito nisso também. – Rebekah me mandou uma piscadela, rindo, assim como eu. — Agora vá tomar um banho, deve ter uma toalha limpa no banheiro.
— Okay... Ah! Bekah, onde está Hope?
— Hayley, levou ela até a casa de Camille, para que Davina pudesse dar uma olhada e dizer se o feitiço realmente foi quebrado com o antídoto.
— Desde quando Hayley pede ajuda a Davina? – pergunto, um tanto quanto surpresa.
— Ela é capaz de tudo pelo bem estar da filha.
— A raiva dela por mim diminuiu?
— Infelizmente, não. Para Hayley, você continua sendo a culpada de tudo que aconteceu, mas acho que uma boa conversa possa fazer com que ela mude de ideia.
— Se eu fosse você não teria tanta certeza disso. – murmuro sem qualquer resquício de esperança e me encaminho para o banheiro, me trancando no mesmo.
Uma toalha se mantinha pendurada no suporte, exatamente como a vampira havia informado, então apenas comecei a me despir de minhas roupas. Caminhei até o box, ligando o registro e ficando debaixo do chuveiro, sorrindo com a sensação agradável que transitou por todo meu corpo graças a água morna. Comecei a cantarolar uma música qualquer conforme esfregava minha pele, procurando me livrar de qualquer resquício da noite passada, mas foi impossível impedir os flashes de transitarem por minha mente, trazendo todas as sensações ruins a tona. O medo, a mordida, a dor... Todos voltaram para me atormentar, fazendo-me arfar e procurar apoio no azulejo gelado atrás de mim.
O decorrer do banho seguiu – na medida do possível – bem. Vez ou outra, enquanto lavava o cabelo, me peguei abrindo os olhos apenas por precaução e checando minha coxa, com medo de encontrar novamente a marca dos dentes daquele lobisomem, mas para meu alívio, claro que nada poderia ser encontrado.
Ao terminar, desliguei o registro e me enrolei o quanto antes na toalha, deixando o banheiro e encontrando o quarto vazio, mas havia uma muda de roupas deixada por Bekah sobre a cama e no tapete um par de sapatilhas. Ainda bem que usamos o mesmo número, pensei, vestindo a calcinha e o sutiã e em seguida observando a outra peça de roupa, reconhecendo ser um vestido. Ele é azul marinho, com a cintura marcada, a saia frizada e soltinha. Preciso admitir que minha amiga tem bom gosto.
Me aproximei do grande espelho no canto do cômodo, constando que minha aparência está muito melhor e seco meu cabelo, retornando para o banheiro e deixando a toalha pendurada. Meu olhar caiu sobre minhas roupas encima da bancada da pia e minha única reação foi jogá-las no lixo, assim como minhas botas. Não quero nada que me lembre o que aconteceu no cemitério.
Volto para o quarto da vampira Original e me encaminho para a saída, respirando fundo antes de abrir a porta e seguir pelo corredor. Quando apareci no topo da escada, me tornei a atração principal para todos os presentes na sala, mas a única pessoa que cativou minha atenção foi Hope. Ela estava no colo do pai, sorrindo abertamente para mim e assim que criei coragem para descer os degraus, ela se levantou, vindo ao meu encontro.
— Minha florzinha... Me desculpa, mil vezes desculpa, meu amor! – peço com exasperação, me abaixando para ficar a sua altura e fui surpreendida assim que ela se jogou em meus braços. — Eu não queria que tivesse passado por isso... Você é importante demais para mim. – confesso com a voz embargada, lutando para conter as lágrimas, mas falhei e como se percebesse isso, Hope me apertou ainda mais, esfregando suas mãos pequenas em minhas costas. — Diga-me como está. Tem sentido alguma coisa? – pergunto após alguns minutos em silêncio e a seguro pelos ombros, observando sua feição ainda sorridente.
Como podem fazer mal a um anjinho como esse? Hope, não merecia passar pelo que passou e pensar que tive a ver com isso, faz com que eu me odeie ainda mais.
— Eu tô bem, tia Ange. O papai me deu o remédio. – ela informou, me deixando muito mais aliviada e olho de relance para Niklaus, que assistia a tudo.
— Que bom que tudo deu certo e você está bem aqui na minha frente e mais fofa do que nunca! – admito, depositando um beijo estalado em sua bochecha e ouvindo sua risada infantil, mas quando fiz menção de abraçá-la novamente, a voz de Hayley se fez presente no recinto:
— Saía de perto da minha filha, Angelina! – sua ordem me fez recolher os braços, voltando a uma postura ereta e encontrando a garota lobo com um copo de suco na mão. Sem dúvidas ela acabou de retornar da cozinha.
— Mamãe, não briga com a tia Ange. – a pequena adquiriu um semblante triste, mas isso não foi suficiente para amenizar toda a raiva de sua progenitora.
— Pegue seu suco e fique com seu pai. – Hayley, entregou o copo para ela, antes de se voltar a mim. — Klaus, realmente perdeu o juízo! Onde já se viu trazer para dentro de casa a mulher que colocou a vida da filha em risco?!
— Não fale de mim como se eu não estivesse presente, amor. – o híbrido protestou ao se por de pé, se aproximando. — Angelina, estava apenas conversando com nossa filha.
— E você acredita nela? O que está acontecendo com você? Perdoou a traidora que pôs sua filha em risco? Por pouco não aconteceu algo de pior com Hope e Angelina é a culpada!
— Tenho o conhecimento disso, mas preciso de Angelina nesse momento. – ele contestou e isso nem de longe a agradou, então, resolvi intervir:
— Escuta, Hayley... sei que errei, mas entenda que eu nunca quis prejudicar Hope. Eu só...
— Como espera que eu entenda uma coisa dessas? Era a vida da minha filha que estava em risco! Tem noção disso? – Hayley exclamou sem paciência, dando um passo a frente e nos deixando a centímetros de distância. — Mas é claro que não tem noção! Até porque você não sabe nem o que é ser mãe! Não sabe das responsabilidades, medos... Sua vida é feita apenas de boates e divertimento!
Minha boca se abriu e fechou algumas vezes, enquanto eu tentava processar tudo que ela havia acabado de jogar na minha cara. Talvez eu realmente não entenda o que é ser mãe e muito menos a responsabilidade que esse título impõe, mas fiquei preocupada com Hope. Desde o início, o plano – falho – esteve voltado inteiramente à Niklaus, ele era meu alvo e não Hope, mas ninguém irá me entender. Ninguém irá se por no meu lugar.
— Não passo de uma garota que só pensa em se divertir? – pergunto, aumentando meu timbre de voz e não demorou para que Rebekah surgisse ao meu lado.
— Angel, esquece isso...
— Não! Agora é a minha vez de falar. – insisto, olhando diretamente para Hayley. — Noite passada não era você que lutava contra quatro lobisomens para que Niklaus pudesse trazer o antídoto para sua filha. Muito pelo contrário, até porque vocês me largaram lá para morrer! Então, acha que se eu realmente estivesse contra vocês, eu teria ajudado? Por culpa talvez? Não, não é culpa! Ao longo dessa vida profana, matei mais pessoas do que você possa imaginar e isso não me privou de dormir a noite, mas se os ajudei foi porque me preocupo de verdade com Hope e não queria que ela sofresse. Nunca quis! – cada simples palavra foi proferida com firmeza e não restou outra opção para a garota lobo, além de me escutar com atenção. — Uma pena que nenhum de vocês ligue para isso, já que o que todos vêem aqui é a maldita traidora que se uniu a Mikael! Pouco se importaram em me pedir uma explicação por meus atos, pois lhes garanto que existe!
— Então nos ilumine com sua grandiosa explicação e veremos se é convincente, Lamartine. – nem mesmo nessas circunstâncias sua pose de superioridade se desfez e isso apenas me deixou ainda mais nervosa.
— Agora quer uma explicação?! Ora essa, para atirar pedras foi a primeira. Que atitude memorável vinda de alguém que em hipótese alguma cometeu erros! Mas fique sabendo que você não é melhor do que ninguém aqui presente, pequena loba. E se sua filha soubesse de todos os erros que já cometeu? Acha que ela teria orgulho da mamãe?! Obviamente não! Então, não venha me julgar por...
— Tia Ange, seus olhos! – Hope gritou subitamente, me deixando confusa e percebo que todos os outros me observavam de maneira repressora.
No segundo seguinte eu entendi, respirando fundo para me acalmar e fazer com que meus olhos voltem a sua coloração natural, mas algo dentro de mim insistia para que eles continuassem vermelhos. Isso nunca havia acontecido antes e confesso que me assustou um pouco, mas logo consegui me controlar, os deixando azuis novamente.
— Preciso me sentar um pouco... – comento por altos, passando pelos dois híbridos para que pudesse chegar no sofá, mas durante o percurso, Niklaus me impediu, tocando em meu ombro. Ele mantinha o cenho levemente franzido, enquanto me analisava meticulosamente, como se tentasse entender o que foi isso.
— Está tudo bem?
— Me responda você. Ficaria calmo se estivesse sendo apedrejado da maneira que estou? Então, apenas me solte! – respondo um tanto quanto ríspida, me livrando de seu aperto em meu ombro.
Assim que cheguei ao sofá, Elijah se arrastou um pouco para o lado, repousando sua mão sobre o estofado e indicando silenciosamente para que eu me sentasse ao seu lado. Sorri, concedendo seu pedido e me acomodando.
— Será que podemos ter essa conversa logo ou a ilustríssima Andrea Labonair, quer fazer uma exposed party com todos os erros que eu cometi ao longo destes anos? – anuncio sem paciência, dividindo meu olhar entre os poucos presentes. — Devo acrescentar que isso pode demorar um pouco.
— De fato irá, então é melhor tratarmos de assuntos que realmente nos convêm no momento. – o híbrido se manifestou com um sorriso cínico, antes de se voltar a filha: — Querida, por que não volta para a cozinha e faz um desenho para mim?
— Tudo bem, papai! – a pequena concordou sorridente, mesmo parecendo um pouco confusa com o que está acontecendo aqui e se encaminhou para a cozinha, fazendo com que eu a seguisse com meu olhar.
— Pronto. Agora já pode começar a explicar sua comovente traição. – Klaus proferiu diretamente a mim, cruzando os braços e mantendo-se de pé. — Sei que é difícil para você, mas tente não mentir, isso apenas irá piorar sua situação.
Rebekah, se manteve próximo a Hayley e Dylan se sentou na poltrona, recebendo um olhar de advertência do anfitrião da casa, mas isso se quer o incomodou. Todos aguardavam por minhas palavras em total silêncio, então, tomei coragem para lhes contar o que aconteceu.
— Certo... Tudo começou no dia em que Rebekah recebeu um bilhete de Mikael e resolveu ir atrás dele sozinha, mas eu fui atrás dela e quando cheguei ao local, tudo não passou de um plano para me atrair até lá, para que assim ele pudesse conversar comigo longe de todos. Desde o início Pandora e ele me quiseram em seu time, mas como eu havia recusado da primeira vez, eles resolveram me oferecer uma segunda chance e com ela um incentivo... – faço uma pausa, assim que nuances daquele dia me voltaram a mente e principalmente a forma a qual Mikael usou para se referir a minha mãe. Parecia que ela não passava de um objeto. — Pandora, tiraria a Estrela de Dez Pontas de meu peito, para que assim Klaus ficasse desprotegido e em troca eles... Trariam minha mãe de volta. – despejo o final em um sopro, sentindo-me triste e recebendo olhares completamente desacreditados, até que Hayley foi a primeira a se pronunciar:
— Trazer Stella de volta? Como pode acreditar em um acordo desses?! Ainda mais um acordo vindo de um inimigo declarado como Mikael e Pandora!
— Ei, veja bem como fala com a minha amiga! – Dylan se manifestou, me defendendo. — Ela pode ter errado, mas ter sua família foi tudo que ela sempre quis desde que nos conhecemos.
— Eu sei que não deveria ter confiado neles... Mas naquele momento pareceu não existir o certo e o errado. Eu apenas a queria de volta. Me recordo vagamente de seu rosto... não sei se ela realmente me amou, se me contava histórias antes de dormir ou se um simples beijo na testa de boa noite ela me dava... Eu não me lembro de nada! – desabafo, incomodada. Tocar nesse assunto nunca foi fácil para mim. — As palavras de Mikael foram tão convincentes, ele sabe enganar e persuadir como ninguém. E no dia em que aceitei, vulgo ontem pela manhã, mesmo assim me mantive receosa... – nesse momento, migro minha atenção para Klaus. — Eu não queria colocar sua vida em perigo, não queria que Mikael chegasse perto de você e você não tivesse como se proteger... Mas, Margot me garantiu que você não perderia tempo e encontraria outra pessoa para criar um novo elo e foi isso que me deixou mais tranquila. Só que aí vocês apareceram no apartamento de Dylan e tudo desmoronou. Não passavam de horas desde que eu havia aceito o acordo e Hope foi a primeira prejudicada. Isso nunca esteve em meus planos... As coisas fugiram do controle. Minhas atitudes tiveram uma repercussão maior do que eu poderia suportar e imaginar. Uma hora eu estava contra Niklaus e na outra eu estava indo com ele no cemitério para buscar o antídoto para sua filha... Acabei traindo ambos lados e se não fosse pelos meus lobos, eu nem estaria aqui. Pandora, fez de tudo para acabar comigo noite passada. – encerro minha explicação e suspiro, retomando o fôlego por minhas palavras trôpegas, até que uma mão foi depositada sobre a minha, me passando confiança.
Elijah, fazia um leve carinho com o polegar e não sei se ele está de acordo com tudo que eu disse, mas apenas quero que, de algum modo, ele compreenda minhas ações. Não somente ele, mas como todos que aqui se encontram.
— Acho que tudo se esclarece um pouco após estas palavras, irmão. – o moreno contestou, desviando seu olhar para Niklaus, que apenas sorriu com escárnio. — Angelina, está admitindo seu erro e na primeira oportunidade ela não hesitou em lhe ajudar, poderia mostrar mais complacência.
— Você como sempre o bom samaritano, mas não acredito que perdoar seja algo cabível para o que Angelina fez. Independente do motivo, ela me traiu e não irei passar a mão na cabeça dela. Isso não é justificativa para que estes erros aconteçam.
— O mais engraçado é que você fala como se fosse um homem exemplar, mas duvido que nunca tenha cometido uma traição. – Dylan se colocou de pé, não se importando com o fato de estar enfrentando alguém muito mais forte.
— Em momento algum me coloquei como exemplo, mas pela fama que possuo, posso lhe afirmar com todas as letras que nunca planejei nada contra ela. Oportunidades não me faltaram e veja o que recebi em troca por minha bondade? Eu deveria matar sua amiguinha agora mesmo...
— Tente. Apenas tente causar algum mal a ela e verá o que farei com você.
Meu amigo ousou dar alguns passos à frente, mas segurei seu pulso, impedindo que ele prossiga com esse enfrentamento. Dylan, não sabe a hora de calar a boca. Sei que ele está me defendendo e lhe agradeço por isso, mas se por no caminho de Klaus desta maneira não é o mais indicado. Principalmente quando ele é o único que pode acabar se machucando.
— O que fará comigo humano? – o loiro questionou com desdém e em segundos apareceu a nossa frente. — Sou um híbrido Original, acha que pode me vencer?
— Você pode ser o que for. Desde um Deus, até o diabo, mas eu não tenho medo de você, Niklaus!
— Dylan, chega. – peço, sabendo que as chances disso terminar bem são mínimas e o empurro para trás.
— A vida dela é tão importante para você, que mesmo não passando de um mero mortal, insiste em me desafiar para defendê-la? Isso é no mínimo comovente. – uma risada forçada escapou de sua garganta e o gatoto atrás de mim não aproveitou a oportunidade para ficar quieto, rebatendo:
— Você vai ver o que é comovente assim que eu...
— Basta! – Elijah, protestou em alto e bom som, me assustando um pouco e cortando quais quer palavras que fossem sair da boca de Dylan. — Ninguém irá morrer aqui e muito menos Angelina será seu alvo, irmão. É melhor pensar bem no que diz.
— Obviamente não irei matar ela, Elijah. E por mais que não me agrade muito, eu volto a repetir que preciso de Angelina, mas parece que o humano não reconhece um pouco de sarcasmo. – o híbrido acrescentou dando de ombros e torcendo os lábios em um sorriso presunçoso.
— Ora essa majestade, me desculpe se seu sarcasmo tem uma interpretação diferente em meus ouvidos. Talvez seja porque ninguém brinca com a vida das pessoas como você está acostumado! – Dylan, proferiu com raiva e percebi o momento em que Niklaus se controlou ao máximo, fechando os punhos com força e se afastando. — Mas por que precisa dela? Quer fazer minha amiga de brinquedo novamente?
— Ela nunca foi um brinquedo. – ele sentenciou de primeira. — E acho que é exatamente isso que o incomoda tanto...
— Niklaus! Se concentre apenas no porque de estarmos aqui e conte logo o que quer de mim, assim acabamos o quanto antes com isso! – protesto, achando desnecessário o rumo que essa discussão está levando.
— Eu quero o grimório de Stella Lamartine. – ele finalmente contou, transbordando ufanismo, mas o que realmente dominou foi a surpresa estampando cada uma das outras faces. — E Angelina irá me ajudar a obtê-lo.
— Não pode estar falando sério! – Rebekah se exaltou, deixando claro que não aprova a ideia do irmão. — O Galdrabok pertence a ela, Nik! Não pode ser dado a você sem mais e nem menos. Angelina, é a única sucessora viva e somente seu sangue puro pode abrir esse grimório.
— Por isso, minha adorável Angel, colaborou em me presentear com um pouco de seu sangue. – os olhos de Niklaus brilharam nesse momento. Ele não pretendo usar meu sangue apenas para abrir o grimório. Ele possui segundas, terceiras e quartas intenções. — Terei acesso aos mais diversos e poderosos feitiços do mundo. Basta conseguir uma bruxa, mas isso será o menor de meus problemas.
— Angelina, você não pode dar o Galdrabok para ele! Muito menos seu sangue! Imagine o que ele fará assim que possuir os dois! – a Original contestou com os olhos arregadados. — Este grimório é muito poderoso. Nas mãos erradas ele...
— Se tornará uma arma letal. – sua sentença foi completada por Elijah, que também parecia insatisfeito com a decisão de Niklaus possuir o grimório.
— O Galdrabok já é uma arma letal e se for preciso entregá-lo ao irmão de vocês para que ele me deixe em paz, irei fazer isso. – explico sem maiores contestações e vejo Hayley se aproximar.
— Por que não destroem esse grimório? – a garota lobo propôs. — Se ele é tão letal assim, destruir é a melhor opção. Dessa maneira estaremos impedindo que ele acabe em mãos erradas e cause mais danos do que já nos causou.
— Cheguei a cogitar essa possibilidade, mas creio que por ser tão poderoso, como todos dizem, o Galdrabok possa ser enfeitiçado, impedindo sua destruição. – argumento, ganhando um aceno de cabeça vindo dela. — E além do mais ele está me servindo de passe livre para que Niklaus não tente me matar por enquanto.
— O Galdrabok possuí muitos segredos. Por isso quase ninguém tem seu conhecimento e tampouco seu controle. Ele é como uma lenda, que está nas mãos de Pandora... Estão dispostos a querer mais problemas com essa gente?
— Meu nobre irmão, pense comigo... Eu sei que esse grimório nos trouxe problemas. O ritual da Estrela está nele, mas se o possuirmos em mãos, podemos quebrar esse feitiço de uma vez por todas. A partir do momento em que ele for meu, irei dar as cartas no jogo e assim...
— O feitiço se voltará contra o feiticeiro. – acrescento, entendendo sua linha de raciocínio e ele aponta para mim com satisfação, estalando os dedos.
— É exatamente disso que estou falando, meu amor! – permaneço um pouco atônita ao constar a forma a qual ele me chamou e tenho certeza de que não fui a única, já que ninguém ousou dizer mais nada. — Alguém tem algo contra minha ideia? Esse silêncio pode e deve ser considerado um sim em minha opinião.
— Tudo bem, caso possua o grimório Nik... – começou Rebekah, indo para perto do irmão. — Deixará Angelina em paz ou tentará usar o Galdrabok contra ela por conta do mal entendido com nosso pai?
— Se fizer isso, irmão, iremos estar mais uma vez contra você. Mostre que é um homem de palavra. Sabemos que Angelina errou, mas ela teve seus motivos... Não estamos pedindo que perdoe, mas que pelo menos tenha caráter. – Elijah, faz suas exigências, se manifestando a meu favor. — Se prometer deixá-la livre de qualquer acerto de contas, saiba que faremos de tudo para ajudá-lo a conquistar o Galdrabok o mais breve possível.
— Parece que todos permaneceram do lado dela... Bela família que tenho, a propósito.
— Isso não tem nada a ver com amarmos você ou não, Nik. Apenas não queremos que a machuque e pelo jeito nem você mesmo quer isso. – argumentou a loira, ganhando um mero rolar de olhos do híbrido.
— Vocês ao todo são quatro, incluindo o amiguinho desnecessário e quanto a Hayley... De que lado está, amor? – indagou Klaus, me deixando um pouco desacreditada por ele estar fazendo realmente uma votação e principalmente pela opinião da Marshall lhe importar.
— Você sabe muito bem o que eu penso a respeito disso, Niklaus. – a garota lobo proferiu sem muito interesse e não escondendo a insatisfação em sua voz.
— Bom, de qualquer modo, parece que você venceu Angelina, mas caso queira continuar viva, sabe muito bem o que deve fazer. – ele decretou, forçando um meio sorriso e faço o mesmo, antes de me pronunciar:
— Entregarei o grimório a você, não se preocupe tanto assim, Mikaelson.
— E passará a posse dele para a bruxa de minha escolha?
— Exatamente como você quiser, amor.
— Irei relevar seu sarcasmo, já que logo estaremos livres da estrela e desta vez para sempre.
— E então, irei desaparecer de suas vistas e desta vez para sempre também. – anuncio, cruzando os braços, imitando suas palavras anteriores.
— Isso pode demorar alguns dias, não seja tão apressada para se ver livre de mim. – Klaus advertiu. — Mas agora tenho algo que precisam ver. Será muito útil para nosso próximo passo. – ele nos deu as costas, possivelmente indo buscar o que quer que tenha para nos mostrar, me deixando curiosa, mas me viro em direção aos outros, que por incrível que pareça, permaneceram ao meu lado em toda essa confusão.
— Não sei o que dizer a vocês... – admito envergonhada, passando as mãos pelo cabelo. — Como podem ficar do meu lado depois de tudo que fiz?
— Todos cometem erros, lembra? – indagou Elijah e um meio sorriso brotou em meus lábios. — Esteve conosco a tanto tempo, cometeu mais acertos do que erros.
— Mas meu erro colocou todos vocês em perigo, principalmente Hope.
— Apenas não acredite nunca mais em nosso pai. Não importa o que ele disser ou prometer, amiga. Mikael não é confiável e de certo modo se aproveitou da situação para tê-la em seu time.
— O pior de tudo é que ele me colocou contra Niklaus de propósito. Não sei se o irmão de vocês contou, mas quando Pandora esteve aqui, ela exigiu que eu estivesse presente com ele no cemitério...
— Por isso eles foram até você, enquanto eu fiquei aqui cuidando da minha sobrinha. – Bekah explicou, mas balanço a cabeça em negação.
— A questão é que Pandora disse a ele que eu seria a moeda de troca. Klaus, me deixaria com Mikael e só assim receberia o antídoto...
— Tem certeza disso, Angel? – o Original perguntou com descrença, aguardando minhas próximas palavras:
— É isso mesmo que ouviram. Niklaus, sabia que eu seria a moeda de troca e me levou até lá sem meu conhecimento sobre essa parte. Ele poderia ter me deixado com Mikael, mas não! Ele recusou e me salvou, provando sua lealdade a mim. Foi recíproco, pois provei a minha no momento em que aceitei ajudá-lo... E agora a estrela está assim. – abaixo a alça do vestido, puxando o tecido um pouco para baixo, lhes mostrando a Estrela de Dez Pontas com sua nova cor. — Eles iniciaram a segunda parte do ritual.
— Desde o início tudo não passou de um plano! – Hayley, protestou. — Eles usaram todos nós! Até mesmo minha filha!
— Mas meu irmão salvou você, Angel... Isso é muito bom! – a jovem Mikaelson comentou, não escondendo a alegria. — Nik, ainda se importa com você. Eu sabia!
— Mas ele fez tudo isso porque precisa de mim para chegar ao grimório, Rebekah.
— Eu nunca vi meu irmão oferecer uma segunda chance para ninguém que tenha o traído e isso para mim é o suficiente. – ela devolveu, não dando muita atenção para o que acabei de dizer.
— Preciso admitir que também estou surpresa com essa atitude dele. – reviro os olhos para a garota lobo, que também está de acordo com Rebekah. — Outra pessoa em sua lugar não estaria mais respirando.
— Tudo bem, que seja, mas devemos nos preocupar com o que ele tem a nos mostrar agora. – anuncio, ouvindo os passos do híbrido.
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