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História Minha alma gêmea - A instabilidade do sentir


Escrita por: annastv

Notas do Autor


Oi, gente, tudo bem com vocês?
Primeiramente quero dizer-lhes que sinto muito por não ter postado nada à uma semana atrás, minha palavra era a de um capítulo por semana mas por alguns motivos não consegui postar.
Em segundo lugar, não sei bem o que vão achar deste capítulo, tentei escrever o que estava em minha mente, mas achei complicado e não queria que ficasse monótomo demais, portanto, espero ansiosamente pelos comentários de vocês.
Em terceiro lugar, não teremos música tema hoje (será um dos únicos capítulos, creio eu) e quero saber de vocês se gostaram ou não dessa ideia sobre lerem escutando a canção (me contem se fizeram isso e se gostaram).
PS: Possivelmente vou mudar o título deste capítulo depois, mas isso é coisa atoa kkkk.
Beijoooos, boa leitura!!

Capítulo 3 - A instabilidade do sentir


Fanfic / Fanfiction Minha alma gêmea - A instabilidade do sentir

NARRADOR OBSERVADOR 

“Anda sempre tão unido o meu tormento comigo que eu mesmo sou meu perigo.” Ah, queridos, Camões nunca esteve tão certo! Exceto, claro, quando se trata do amor, mas esse dileto deixaremos para um outro momento. Reflita comigo então, sobre as palavras nas quais nos deleitamos a escutar, sobre o som e o temor que se escondem sob a mínima ideia de falar naquilo que nos apavora. Pense, não é tão difícil aceitar tal premissa, afinal, é propício entender que nada nos incomoda mais do que nós mesmos. É cordial perceber que nada nos aperta mais do que nosso próprio conflito e que o perigo do nosso sentir não se dá pela força ou pelo teor do sentimento, mas sim pelo fato de que ele está dentro de nós e, é claro que, tudo que está em nós ganha proporção demais, atenção demais e força demais quando comparada àquela que queremos dar. 

Eis, leitor, uma questão ao qual nunca estaremos prontos para discutir: o sentir. Este não é, por si só, a verdadeira batalha ao qual devemos e tentamos enfrentar. Nosso desafio não se resume em tentar evitar ou reprimir os sentimentos, até porque, admitamos, quem não se encanta pela magnitude deles? Queiramos entender, portanto, o combate em que entramos quando nos abrimos para o amor e a real causa que buscamos evitar quando começamos a sentir o que não podemos sentir, quando começamos a gostar do que não podemos gostar e quando queremos aquilo que não é, por posse completa, nosso.  

O problema evidente que, creio eu, já deve ter sido compreendido por vocês, é a certeza da impulsão. O fato de tudo não se resumir em sentir, mas sempre querer ir além disso. É, de certo, o feito de perceber que, quando se trata de coisas que estão dentro de nós e que atua sobre nós, não nos contentamos em apenas guardá-las conosco, mas queremos entendê-las, vivenciá-las e aproveitar as sensações que elas têm para nos oferecer.   

Sendo assim, não culpemos o que é involuntário e até incontrolável, não coloquemos nosso pesar nos sentimentos e nem no que eles podem causar. Lembremos, meus caros, do melhor que eles têm a oferecer e, assim, voltemos nosso entendimento para o cotidiano, para os pequenos detalhes que, aos poucos, mostram, mesmo que inconscientemente, a graça escondida por trás de amar.  

 

EMÍLIA 

Acordei no ímpeto, em um impulso amedrontador, assustada sobre a possível perspectiva do atraso e encoberta pela mesma sensação de estranhamento que tinha me assombrado na noite anterior. Minhas mãos tremiam e minha recordação não se pressionava por sobre os pensamentos que haviam antecedido meu sono, mas sim no motivo pelo qual eles insistiam em me perturbar. Meu orgulho acomodava-se com dificuldade na relação entre a emoção e o profissionalismo, que agora se debatia como uma questão na qual eu deveria saber lidar. Olhei para a janela e entendi, pela claridade excessiva que adentrava meu quarto, que meu desejo de prolongar os instantes em que meu corpo ficaria inquieto e contorcido sobre os lençóis já estavam chegando ao fim.  

Embora eu soubesse que aquilo não passava de uma tensão que antecedia as gravações, minha mente não se contentava ao que estava certo para todos e isso, de certo modo, me feria profundamente. A compreensão da instabilidade me deixava aflita, uma vez que não era natural pra mim, criar dúvidas e medos acerca dos relacionamentos que meus personagens tinham e teriam. Eu não era assim, nunca tinha sido assim e, por mais que me cativasse e me fizesse, de certo modo, desejar pelo entendimento sobre aquela questão, também era certo para mim que eu não queria me envolver naquela instância. Fechei, em um súbito, meus olhos que, a pouco tinham sido abertos e tentei entender, sob o calor que incendiava meu corpo e alma, não relativos à intensidade do sol que atuava sobre meu quarto de maneira ríspida, o motivo de minha angústia e descontentamento.  

Então, refleti sobre a noção de que tudo deveria partir de mim. Eu deveria esbanjar minha autoconfiança e as características marcantes que me qualificavam. Lembrei-me do quanto Nathalie elogiava minha segurança e tranquilidade e, suspirei diante das atitudes que todos esperavam de mim e que, de certo modo, eu queria ter. Levantei firme, afastando as cobertas que impediam minha passagem pelo grande quarto e, deixei nítido para mim, a dedicação que eu desempenharia para que o medo não me abalasse.  

Olhei meu celular e pelo horário mostrado na tela, contemplei o tempo, que não era compatível com o da minha imaginação. O susto que me alarmava meu atraso estava, de vez, invalidado pela calmaria que os ponteiros me forneciam e me acalmei ao imaginar o intervalo que eu ainda teria para reformular meus pensamentos e programar minha estabilidade emocional. Era nítido para mim que nada deveria me abalar diante da minha realidade, eu não deveria deixar que nada me entristecesse, ainda mais frente a alegria que todos vivenciavam pelo retorno. Os segundos passados pela perspectiva da minha oscilação, analisei minhas obrigações e percebi que eu não precisava passar por aquilo com tanta crueldade, que não era justo comigo, que não era justo com ele e nem com Rose, não era certo para com nenhum de nós e aquilo só prejudicaria nossa ligação. Não precisávamos fazer daquilo um pesar para todos, bastava que levássemos tudo da maneira pela qual sempre havíamos levado, com leveza e respeito. Sobre a justificativa do diálogo como apaziguador de minhas dúvidas, minhas entranhas me levaram a segurança de Kit sobre as cenas e ao conforto que ele já tinha me oferecido, à garantia do entendimento e profissionalismo de Rose e ao fato de que seria normal nosso estranhamento diante das representações que teríamos que fazer. E, sobre a idealização de nossa conversa, suas falas vieram à tona, me conduzindo aos instantes passados ao seu lado. Me vi paralisada, imóvel, e me senti cercada por suas indagações e certezas, vi meus sentidos caminhando para todos seus olhares e todos os segundos que já tínhamos vivido juntos. Eu nos via à minha frente, dois amigos extasiados pela saudade e angustiados pela insegurança, cheios de expectativas e medos. E isso que me fez sorrir, me fez ter mais certeza de minhas decisões e me levou a um susto programado, que me abalava diante da reação do meu corpo sobre a lembrança de sua presença. Sobre a curiosidade do meu pensamento, a sensação do desconforto que me, antes, me feria intensamente, implorou pela justificativa do meu choque, mas se deteve frente a certeza de nossa amizade.  

Tratei de afastar por completo a negatividade e o medo que a pouco estavam insistindo sobre minha mente e me pus a retornar sobre o anseio das emoções que eu esperava com intensa e tamanha prontidão. Tomei um banho demorado, mergulhada sobre as expectativas que agora idealizavam-se sobre meus desejos. Eu amava aquilo e isso era nítido para todos, inclusive para as pessoas que não me conheciam diretamente. Cada nova temporada, fala e ação a mim destinada, me traziam de volta para a emoção que me causava o simples feito de dar vida a vida de Daenerys. Todo aquele tempo, todos aqueles anos e aprendizados tinham sido essenciais para mim e, de forma inteira, um motivo para a mudança que tanto infligia em mim, em minha vida e em meu modo de ver as coisas. Suspirei em meio as gotas que caíam sobre corpo e sobre tudo que estava em mim, sobre meus pensamentos, medos, dúvidas e anseios. Lembrei-me da pequena Emília, das inseguranças que já haviam me cercado, das minhas conquistas e do bem que tudo aquilo já havia me causado e isso me fez entender que eu ainda teria muito à enfrentar e que isso me faria evoluir em todas as esferas de minha vida. Daenerys tinha me mudado, tinha me moldado e transformado, e eu sabia que ela seria, para sempre, parte de mim e eu parte dela. Isso me tranquilizava, me preenchia, me acalmava e me feria frente a vontade de levá-la para longe de todo mal e eternizá-la em mim.  

Não percebi o tempo passar, ao passo que a ansiedade pelas novidades que me aguardavam voltava a se instalar sobre meu corpo. As gravações em si não iriam começar na semana em questão, segundo David elas estavam direcionadas à próxima semana, mas era necessária nossa presença no set para que todos os preparativos pudessem ser colocados em prática. Tínhamos figurinos para experimentar, falas para decorar e ensaiar, cenários para conhecer e tudo isso levava tempo, o que nos fazia prestigiar e dar valor a cada minuto extra.  

Olhei em volta, após me decidir pronta para encarar o dia, tentando recordar e analisar os traços do quarto, minhas necessidades quanto à análise do que eu costumava carregar comigo, me levava a analisar se algo passava desapercebido por meus olhos e se algum objeto estava sendo esquecido, mas frente à especulação repentina, não encontrei nada fora do comum. Minha desorganização era involuntária, deixava à mostra toda confusão que me acompanhava e a tranquilidade que eu emitia para com aquilo, um fator determinante de minha personalidade.  

Perante à certeza de minha prontidão, olhei para o longo espelho e vi meu corpo refletido nas lentes que cercavam as paredes do quarto e, por fim, decidi ir.  

Nathalie tinha me mandado uma mensagem falando que me encontraria no camarim e que já estava se encaminhando para tal. Era normal para nós a divisão que se estabelecia entre os atores, cada um se encaixava nas sessões de filmagens em que seu personagem deveria aparecer, assim como, com os atores que encenariam ao seu lado. Eu, por exemplo, normalmente dividia o espaço com ela e com Jacob, pois quase sempre atuávamos juntos. Vezes, também, ficávamos em camarins compostos, que agrupavam mais atores e pessoas da equipe ou em lugares que se restringiam aos poucos atores que interpretariam a cena em evidência.  

Caminhei rumo ao set e me vi encantada durante o caminho. Ainda no hotel a movimentação me estimulava ao ânimo e me levava a alucinações emotivas. Toda a correria e empolgação ficava acumulada em grupos complementares e aquilo mexia demais comigo, sempre me deixava paralisada pela beleza do que ainda poderia ser formado. Em anos de preparação e participação, todos os meus pensamentos eram voltados para a ideia de que eu nunca me acostumaria com aquela sensação. Já era natural para mim a perplexidade do meu corpo diante de tudo que iríamos fazer ali, minhas paradas sobre a análise do movimento das câmeras e sobre a organização das equipes para com figurinos e com a formação dos ambientes nos quais filmaríamos. Me vi presa ao tempo, a ansiedade pressionava meus pés para que meu percurso fosse retomado e eu não me atrasasse como sempre, mas a insanidade da mente humana sempre vai além das pressões que nos são impostas. Olhei firme para o corredor que ainda teria de enfrentar, em uma distância considerável, tendo em vista o camarim em que me esperavam. E quando decidi retornar minha atenção para meus afazeres e voltar a caminhar, me vi impedida, Peter andava apressado em minha direção, com os braços abertos na síntese de um abraço e me encontrei paralisada para com o reencontro de um grande amigo. 

-Emília, quanta saudade, querida. - Ele disse assim que se aproximou, fazendo meus pensamentos se reterem ao cumprimento carinhoso que eu acabara de receber. 

-Ohn, Peter, digo o mesmo em relação a você, por mais que eu ainda esteja um pouco chateada. - Vi sua dúvida crescendo frente meu fingimento espontâneo. Seu rosto se contorceu sobre a falta de entendimento e não me segurei diante de sua expressão. Percebi meu escândalo logo que o sorriso de Maisie me alcançou, de um outro lado do longo corredor. - Estou brincando, Peter. - Sua face se pousou sobre a calmaria de minhas palavras. - Mas confesso que ainda não desculpei você por ontem. Procurei por você quando estávamos indo para o hotel, para ao menos cumprimentar lhe, mas não vi nenhum sinal seu após o término da reunião. 

-Eu já deveria estar pronto e preparado pra qualquer gracinha sua, mocinha. - Sorri ainda extasiada. - Mas quanto a ontem, foi um dia muito corrido. -Percebi suas expressões descansarem sobre linhas que demonstravam sua tensão. - Eu até vi vocês saindo da sala, o que, na realidade, é óbvio visto que é impossível não encontrar você na multidão, você anda sempre cheia de coisas e bagunças ao seu redor. 

-Ah, por favor, Peter, você também? Já não basta Kit me encher com esse assunto de bagunça ambulante?  

-O que? - Sua risada se esvaiu pelo caminho, chamando a atenção dos muitos que estavam perto de nós. - Essa Kit ainda não tinha me contado, mas é uma boa observação sobre você. - Suspirei com a cara chorosa, tentando segurar a graça que eu segurava firme dentro de mim.  

-Não é não. Existem observações melhores que podem ser feitas sobre mim.  

-Ahh, com certeza, Emi. E é claro que Kit também pode fazê-las. -Seu olhar se intensificou sobre a linha contorcida de um sorriso oculto. Senti meus lábios tremendo e imaginei ter falhado diante da surpresa de sua afirmação. 

-Você está engraçado hoje, está tentando encarnar seu personagem? Sem dúvidas Tyrion faria piadas de mal gosto como essa. - Mantive meu olhar firme e confuso, enquanto tentava emanar a tranquilidade das conversas que normalmente tínhamos. 

-É, isso é mesmo o tipo de comentário que Tyrion faria. -Seus lábios se abriam e as palavras eram ditas de uma maneira lenta demais para o meu gosto, o que me fazia angustiar e alarmar sobre o anseio das próximas frases. - Mas, desta vez, foi apenas uma suposição minha. Vocês são melhores amigos, não há nada demais no que eu lhe disse. Exceto... - Vi novamente um sorriso se estender em seus lábios. - Se você não o vê apenas como um.  

-Peter! - Resolvi chamar sua atenção. E percebi seus olhos revirando, mostrando a indignação que ele detinha frente ao fim que eu havia imposto em sua brincadeira. Peter gostava de avacalhar com todos e ninguém mais ligava para as suposições que ele fazia, pois era óbvio o caráter humorista que ele trazia nelas. Mas, mesmo sabendo que tudo não passava de uma zombaria, que ele não estava, realmente, suspeitando de algo tão absurdo como aquilo, me senti culpada. Pensei em Rose, na nossa amizade e no quanto ela se sentiria mal em saber ou ouvir acusações sobre um romance entre seu namorado e sua amiga. Pensei em Kit, em nossa amizade e em seu relacionamento, nos problemas que teríamos de enfrentar caso acreditassem naquela besteira. E pensei em mim, na incoerência daquela análise, ao passo que minha mente refletia sobre a lógica da questão: era óbvio que isso nunca seria verdade, não daríamos certo, eu sabia disso. Kit e eu éramos próximos o bastante para sabermos que nada além de uma amizade se firmaria entre nós dois, e, de certa forma, eu estava satisfeita com a complexidade da nossa relação. Eu o tinha com completa certeza e lealdade e, sabia que era bem melhor tê-lo como amigo, que arriscar em algo que não existia.  

-Emília? -Vislumbrei meu nome, e percebi que meus pensamentos estavam, por vez, longe dali. Eu ainda encarava o pequeno homem a minha frente e sua face demonstrava a tranquilidade que eu também deveria esbanjar. - Você está bem? Eu só estava brincando. Você, sabe, eu gosto de...  

-Manter sua reputação? - Levantei meu olhar, firmando minhas sobrancelhas e tentando transparecer calmaria e o toque de diversão que nossa conversa sempre carregava.  

-Eu não diria reputação, mas se você diz... - Seus olhos me indicavam o que estava nítido, ele não cessaria com meros comentários e, meus conhecimentos sobre ele me mostravam que ele ainda faria muitas brincadeiras como aquela. -Quem sou eu pra negar?  

Suspirei aliviada sobre a mudança quanto ao rumo de nossa conversa. Normalmente comentários sobre minha amizade com Kit não me deixavam tensa, eu inclusive me surpreendia frente a crença de que alimentávamos um amor proibido e que nossa conexão deixava claro a ligação e o romance que tínhamos.   

Olhei meu celular, que apitava por sobre o aviso do meu atraso. Minha noção de tempo estava perdida pelo diálogo e pelo êxtase da construção daquela narrativa. Vi a mensagem de Nathalie, perguntando se eu estava bem e se havia acontecido alguma coisa para a ocorrência de um atraso no nosso primeiro dia. 

-Peter. - Suspirei. - Foi muito bom te ver. Sei que ainda nos encontraremos hoje, mas eu preciso mesmo me despedir de você. Nathalie está me esperando no camarim, vamos organizar os preparativos para as gravações.  

-Claro, Emi, não tem problema nenhum. Também tenho que experimentar alguns figurinos e olhar algumas falas, então, sem problemas. 

Me despedi de Peter e assegurei meus passos sobre a perspectiva que minha mente incorporara para si logo no início do dia. O corredor extenso me levava para o Set, para as salas de produção, para os longos armários que expunham os figurinos e as ornamentações que sempre utilizávamos e, por fim, para os camarins. Símbolos expunham as paredes do meu trajeto e faziam meus lábios tremular cerca a emoção que ressoava dentro de mim. Vi, ao longe, o dragão de três cabeças e não segurei mais a alegria de estar ali. Meu coração tocava, em um ritmo esperado para tal ocasião, à voz de uma sequência que me levava ao limite do sentimentalismo. 

Toquei, levemente, meu punho na madeira fechada, sobre o ruído oco que ditava um pedido para entrar. A porta alta e escura, tão conhecida em meus devaneios, me trazia à mente, a imagem da menina que tanto se escondia em mim. Meus dedos fechados ainda batiam no seco que o sonido oferecia e, parei a tempo, de escutar de dentro da sala, um murmúrio baixo sobre os cachos perfeitos que ele tinha. No estranhamento que demonstrava a falta de uma analogia instantânea, não relacionei tal fala ao que eu esperava ver, mas deixei de perceber a sensação de ansiedade que, de imediato, me percorreu. E então, com a normalidade efetiva, a porta se abriu para mim e, diante do inesperado, não me contive ao nervosismo assim que o vi.  

 

KIT 

Me controlei ao vê-la chegar, embora fosse impossível negar meu contentamento. Ali, frente minha alegria, todos intervalos de nossa amizade me colocavam a mercê do seu encanto. Rose sempre comentava sobre minha ligação com Emília, dizia o quanto era incrível amizades assim e que, deveriam durar por toda a vida. Embora eu acreditasse no fato de que Rose mostrava apresentar total entendimento cerca a conexão que existia entre Emília e eu, algumas incertezas sempre acabavam por ser debatidas por mim, acerca do perigo de existirem amigos tão próximos. Tal risco não se relacionava às chances de nascer algum sentimento a mais nós, mas sim sobre as dúvidas que minha namorada poderia ter frente ao companheirismo que minha amizade contemplava. No entanto, a certeza quanto a confiança de que tudo sempre tomaria o rumo certo, isto é, minha amizade intacta e meu relacionamento feliz, me deixavam tranquilos para com a questão. 

Ainda na porta, Emília sorria para todos que estavam ali, cumprimentava e olhava fraternalmente para nossos companheiros. Os olhos que antes estavam caídos sobre os meus, refletiam a felicidade que eu já conhecida e debatiam seu êxtase em um limite ao qual minha vista conseguia alcançar. Vi o ar mudar da mesma maneira que sempre mudava quando sua presença se fazia existente. Normalmente não dividíamos o camarim, já que não ainda não haviam existido cenas entre nossos personagens e, portanto, essa seria a primeira vez em que ficaríamos juntos em tal espaço. E, nesse pensamento, sua sonoridade me fez agradecer por passar as últimas temporadas contracenando com alguém como ela, e entender que nenhuma outra forma de fazer algo tão importante para mim me deixaria tão feliz quando aquela.  

Olhei para ela e esperei que chegasse a minha vez. Nathalie puxava sua presença para algum comentário inaudível e suspirei ao ver sua expressão retornar para mim. Senti meus olhos sorrirem à pequena ideia de tê-la à minha frente e não consegui esconder a emoção de vê-la me encarar. 

-É provável que ele passe mal, caso você demore um pouco mais. - Escutei ainda paralisado, ao ver Jayne me apontar seus dedos e sorrir para Emília.  

-Ele tem que aprender a esperar, Jay. - Ela disse, fazendo a figurinista rir com tamanha afronta. 

-Espero que não estejam falando de mim. - Seus olhos me encararam com maior fervor, o que me fez vacilar à ótica do sorriso desafiador que escondia por entre seus lábios. - Porque se for esse o caso, estão cometendo um grande engano, eu estou tranquilo aqui. 

-Por que estaríamos falando de você, Kitten? Se existe uma pessoa que deve aprender a esperar, essa pessoa, com certeza, não é você. - Seus lábios se contraíram em um sorriso manipulador. 

Cerrei meus olhos e escutei a risada de Nathalie diante da expressão tomada por meu rosto. Antes mesmo de respondê-la, senti seus braços se envolvendo em mim e, frente sua atitude não terminei minha atuação. Distanciei-me do intuito de fazê-la acreditar que eu não me importava e tentei fazê-la entender que eu me importava demais. Segurei-a pela cintura, ao passo que senti seus braços subindo e descansando em meus ombros e, por meu completo saber sobre Emília Clarke, imaginei seu sorriso surgindo atrás de mim. O cabelo solto que encostava em minha camisa, levava-me a um mergulho profundo e calmo, que me permitia acesso ao cheiro doce que ela emanava. 

Não sei quanto tempo passei ali, meus olhos ainda estavam fechados, embora eu não tenha visto o momento exato de tal ação, quando escutei ao longe um pigarreio sobre ela não ser só minha. Sua risada extravagante tomou meu ar e o lugar em que estávamos, vi seu corpo se afastando a centímetros de mim e um sorriso perverso surgir em seus lábios rosados.  

-Tem um pouquinho de mim pra todo mundo, Jacob. - Ela disse se dirigindo a ele e o abraçando, enquanto eu ainda tentava me recuperar da perda.  

-Continua sendo mais minha, Jacob. - Falei encarando-o e demonstrando contrariedade, como se fosse, realmente, uma atuação. Ele sorriu pra mim e tocou em meus ombros, cochichando de maneira perceptível para todos, alguma coisa sobre as desvantagens de um amigo ciumento. Jacob e eu também nos dávamos bem, assim como toda a equipe, ele era meu amigo e sempre brincava comigo sobre minha proteção para com Emília. 

-Continuo sendo mais minha, Kit. - Sua voz me tirou do transe e olhei de relance para seus olhos, que brilhavam fortemente, enquanto revirei os olhos para ela. - Mas, calma. - Ela estendeu as mãos para mim, fazendo sinal para que eu prestasse atenção em suas palavras. - Tem Emília pra todo mundo, meu coração é bem grandinho. Talvez, bem talvez... - Encarei seus olhos, que demonstravam a alegria daquela brincadeira. - Você ganhe um pouquinho de mim. 

-Tem Emília pra todo mundo. - Imitei sua voz, colocando na borda de seus olhos, as ruguinhas de felicidade que me tiravam do chão. - Meu coração é grandinho, gente, pode vir todo mundo. - Abri os braços e fiz um sinal acolhedor, revirando, novamente, meus olhos para ela. 

Sua mão tocou a minha, que ainda estava aberta em acusação, e sua risada ocupou todo o espaço. Olhei para seu rosto e contemplei sua leveza. Os olhos fechados me mostravam a segurança e confiança que ela detinha em mim e deixavam claro o quanto ela estava feliz com o rumo da nossa conversa. As mexas soltas do seu cabelo dançavam no ar, e me dava a visão da sua tranquilidade e transparência. 

-Você não cansa, né? - Ela disse por fim, assim que conseguiu controlar sua empolgação. - Acho que nunca encontrei alguém tão...- Ela fez surgir uma linha entre os lábios, enquanto levava o dedo à boca, transparecendo sua busca por uma palavra que me qualificasse nos atributos visíveis para ela. 

-Lindo? - Encarei-a com graça, recebendo ao longe a risada e a reprovação de nossos companheiros. Seus olhos, antes marcados pela espontaneidade, firmou-se nos meus, enquanto ela fingia dificuldade em segurar o riso.  

-Ahn, eu não diria lindo, diria...-Ergui minhas sobrancelhas para seus comentários e fixei, de relance, seu rosto em minha mente, que urgia em uma expressão pensativa. - Diria abusado, talvez. 

-Abusado? - Cerrei meus olhos, ainda encarando seu sorriso fácil, segurando, notoriamente, o desejo em compartilhar com ela a mesma graça que a incendiava. - É sempre bom saber o que os outros pensam ao meu respeito. 

Escutei sua voz ganhando vida frente a indignação que ela sabia ser irreal, sua risada novamente tomando o espaço e puxando de todos ali a mais leve intenção de um sorriso verdadeiro. 

-Você não existe. - Suas palavras me tomavam em meio a felicidade que a cercava e algo sobre ela ter que se manter firme e parar de me mimar tanto saía da boca de nossos amigos enquanto minha atenção permanecia nela.  

Vi então, mergulhado no imediato do momento, Jayne puxando suas mãos, tirando-a de perto de nós; Nathalie sorrindo para mim, levantando um falso julgamento sobre a bagunça que seria nosso camarim em relação ao adiantamento das gravações; E Jacob se aproximando para tratar algo sobre as saídas, jantares e encontros que geralmente nossa equipe organizava.  

Observei a correria do camarim, pessoas entrando e saindo, entusiasmadas, caracterizadas e até organizando as falas que teríamos que encenar. O barulho que incendiava nossa preparação me levava ao ápice do primeiro dia, não frente às câmeras, mas junto à equipe que me acompanhava por tanto tempo. 

-E então, Kit, tudo bem por você? - Eu ainda estava parado no mesmo lugar de antes, em pé, próximo à parede, escorado na cadeira em que sentávamos para ser maquiados em dias de gravação. Meu olhar estava perdido à frente, fixado em imagens que não estavam sendo transmitidas ao meu cérebro, encarando vultos que não me transcendiam a memória. Meu senso de imaginação havia me conduzido para o espaço inebriante que o futuro oferecia e, eu havia me perdido no enredo da história real. Jacob estava falando comigo e em meio a minha alucinação, me depus a explicar-lhe a vergonha de não ter acompanhado o que, com tanto fervor, me falava.  

-Jacob, eu... - Minha mania extrema do nervosismo e da timidez compulsiva me levou ao ato irrevogável que me definia. As mãos que passavam por sobre meu cabelo demonstravam a completa tensão que eu carregava, pelo simples, pequeno e humilde ato de se perder por entre as falas. - Me perdi, cara. Me desculpa, sério, eu viajei aqui. Estava olhando pra... 

-Emi? - Uma interrupção desnecessária, pensei de cara quando escutei o nome dela sair de sua boca. Ergui os olhos que antes encontravam-se paralisados sobre os dedos gelados de minhas mãos e olhei firmemente para meu companheiro de trabalho.  

-Não, óbvio que não. - Seu sorriso aumentou ligeiro, veloz e se viu grandioso sobre minha fraqueza instantânea. -Eu estava olhando para o nada, cara. Eu só viajei, isso de voltar a gravar sempre me deixa meio fora do ar mesmo.  

-Sei, fora do ar, eu entendo completamente. - Senti meu rosto queimar e uma vontade imensa de justificar minha alegria por ter Emília perto de mim. Em todos os anos de nossa amizade, nenhum comentário havia me deixado nervoso ou tenso, exceto pela noção de desconfiança de meus amigos quando à possibilidade de existir algo entre nós, e, de certa forma, me senti ferido por uma suposição que se encontrava tão fora da minha realidade. Tentei pensar em uma maneira de contornar a situação, mas era nítido para mim que o ato de buscar explicações só complicavam mais minha posição, afinal, eram só brincadeiras e nada mais. - Cara, tá tudo bem? - Vi Jacob se preocupando pela minha falta de argumentação e de palavras plausíveis para o momento. - Você se incomoda com brincadeiras assim, mano? Eu não pensei que... 

-Não, não me incomodo. - Cortei-o, justificando, para ele e para mim mesmo, o motivo do meu acovardamento momentâneo. - Nunca me importei, só não quero que os outros pensem que existe algo entre nós... - Sua atenção despencou nas palavras que eu soltava com dificuldade. 

-Cara, não vão pensar. Todos pegam no pé de vocês devido à intimidade e cumplicidade que vocês têm, o que, na realidade, é impossível não admirar. Se você perguntar pra umas cinco pessoas da nossa equipe, mais ou menos quatro delas vão te dizer que acreditavam que vocês dois iam ficar juntos ou ter algum relacionamento sério e duradouro. O que é normal porque todos apreciam a conexão de vocês, mas também sabem do seu relacionamento com Rose e que você está feliz com ela. - Olhei com culpa pra Jacob. Eu não queria que ele se sentisse mal por minhas dúvidas para com a crença despertada em outras pessoas, mas me senti tranquilo com a certeza da confiança dele e da admiração que tinham a respeito da amizade que tínhamos. 

-É bom saber que nos veem assim, Emília é minha melhor amiga, não pretendo e nem vou deixá-la de lado para colocar fim às suposições dos outros. - Senti a determinação ao tom grave que minha voz emitia.  

-É, e seria estranho também, não estamos prontos para ver vocês dois brigados. -Sorri ligeiramente, balançando minha cabeça para ele, como resposta para o olhar calmo que me estava sendo transpassado. - Agora... - Continuou. - Preciso mesmo da sua atenção e, principalmente, da sua ajuda para resolver alguns pontos da festa de retorno. 

-Ahh sim, claro. Era sobre isso que você estava querendo conversar? Pensei que David deixaria a comemoração para o fim das gravações. 

-E ele quer deixar, mesmo. Mas estive pensando, esta é a penúltima temporada, Kit. Não podemos nos reunir apenas depois de gravarmos os episódios e no dia da estreia, temos que aproveitar o tempo que temos juntos. Foi e tem sido um trabalho longo, fizemos amizades aqui, choramos e sorrimos por isso aqui, então acho que pode ser bom para nós, nos encontrarmos mais vezes para jantar, beber, conversar e sei lá, nos divertir. 

-Eu acho ótimo, cara. -Expressei minha decisão pela cooperação, Jacob estava tão certo de si que não tinha me dado possibilidades para retrucá-lo e, logo, me vi querendo ajudá-lo. - Eu te ajudo com tudo que puder. Mas, mesmo assim, acredito que seja melhor falar com Daniel e David primeiro, podemos explicar nossa posição e nossas ideias, acredito muito que vão aceitar. Claro que teremos regras para que elas ocorram, mas se formos analisar não é nada impossível cumpri-las e ainda fazer com que a comemoração seja boa. 

-Tranquilo então. Vamos organizar isso então, depois conversamos direito e te passo o que já planejei. - Confirmei com a cabeça, ao passo que sua fala ia se completando. -Não temos muita coisa pra organizar, mas é bom já irmos deixando as coisas prontas. Te procuro por essa semana para vermos isso e decidirmos o que falta, tudo bem por você? 

-Tudo sim, claro, pode contar comigo, Jacob. - Sorri pra ele, já aproveitando o fim do assunto, para me despedir e prosseguir minhas atividades. Agora sim, tudo estava fluindo e eu estava de volta, ansioso pela emoção que já despencava dentro de mim e, pelos momentos que eu passaria com todos meus companheiros. Frente meu caminho, meus pés se descolavam de maneira uniforme, o que me relaxava diante da complexidade de manter minha tranquilidade para com tudo que estava por vir. Olhei firme e segui o caminho que me era proposto, rumo ao longo dia e à agitada semana que acabava de começar, sentido à imensa emoção que, ali, eu ainda iria viver. 

 

NARRADOR OBSERVADOR 

Ahh, como eu disse, meus amigos, Camões estava mais que certo e nosso problema não é fácil de encarar. Ponderem comigo sobre a batalha enfrentada por quem entende o verdadeiro perigo de sentir, por quem percebe e aceita o incontrolável. Nosso impasse, queridos, nunca será o sentir e, convenhamos, temos motivos para isso. Nossa barreira é controlar aquilo que não podemos demonstrar, esconder o que luta pra ser mostrado e mascarar o que não pode ser evitado. Portanto, leitores, não se esqueçam de minhas premissas, por mais que nossa história esteja apenas no início. Busquemos nos pequenos detalhes, o melhor de ter tamanha ameaça dentro de nós, deixemos que ela nos conduza, mesmo que transitoriamente, à felicidade escondida por trás de amar. 

 


Notas Finais


É isso aí, gente, foi isso kkkk. Espero que gostem, não esqueçam de comentar, beijoooos <3


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