Os dez dias que se passaram foram considerados, de forma unânime, alguns dos melhores da vida de Seungcheol. Seus amigos ficaram impressionados com a mudança instantânea na aura do moreno pelo simples fato de agora ele estar com Jeonghan. A quantidade de vezes que ele perguntava sobre a Seventeen ou ficava cabisbaixo por não estar trabalhando (leia-se: se estressando por qualquer coisinha) havia diminuído de maneira considerável, pois agora passava a maior parte de seu tempo com o loiro e, quando estava sozinho, ficava fantasiando sobre quando o encontraria de novo e sorrindo de orelha a orelha com o mero prospecto.
Quem diria que um Seungcheol apaixonado poderia ser tão grudento?
Ele definitivamente desconhecia esse seu lado, mas, se tratando de Jeonghan, não se surpreendia com a própria mudança repentina de atitude. Obviamente os dois ainda estavam no início de um suposto relacionamento e eram um pouco desajeitados, mas tudo entre eles estava se desenvolvendo naturalmente, sem pressa, num modo bem Jeonghan de fazer as coisas. Modo que, por sinal, Seungcheol estava se esforçando para aprender a lidar, mas no fundo não era tão complicado quanto ele fazia parecer.
Quer dizer, o loiro continuava inconstante, mas dessa vez o outro rapaz tinha uma certeza: a reciprocidade. Seungcheol estava tentando se bastar disso por enquanto, pois sabia que não podia exigir muito de Jeonghan. Podia ver que o rapaz estava se esforçando, é claro, mas era uma pessoa naturalmente de lua e isso não era algo que poderia ser facilmente mudado, mesmo que a relação dos dois fosse diferente agora.
Eles se viam com frequência. Sempre que o loiro estava livre arranjavam alguma coisa para fazer, geralmente passatempos simples como ir para a praia ou dar uma volta pelo resort até ficarem cansados e decidirem procurar algum lugar para comer. As conversas fluíam bem, afinal, a química entre eles era definitivamente invejável, mas tinha vezes que a cabeça de Jeonghan claramente estava em outro lugar e ele não prestava atenção em nada que estava acontecendo ao seu redor.
Quando isso acontecia o loiro ficava calado, mas o silêncio que se formava dificilmente era desconfortável. Pelo contrário, era típico dele. Seungcheol estranhara a falta de diálogo a princípio, mas não demorou muito para que começasse a apreciá-lo quando ficava assim. Sabia que Jeonghan precisava recompor as energias ocasionalmente e podia ver que ele era uma pessoa bastante imaginativa. Às vezes o moreno se perguntava o que estava se passando na cabeça do rapaz, sobretudo quando ele o encarava de maneira serena, com um leve sorriso se projetando nos lábios e nenhuma palavra saindo de sua boca. Não fazia a mínima ideia do que pudesse ser, só tinha a impressão de que era algo bom e por mais que sua curiosidade lhe fizesse querer enchê-lo de perguntas, sabia que não deveria. Se havia aprendido algo com a briga que tiveram, é que Jeonghan eventualmente falaria caso quisesse mesmo compartilhar alguma informação mais íntima consigo.
Ele ainda não dizia nada muito pessoal, mas contara para Seungcheol sua jornada árdua no Ensino Médio poupando os detalhes mais pesados. Isso ajudou o moreno a compreender muito do motivo que havia levado àquela reação exagerada; não podia imaginar como deveria ser ter várias pessoas lhe atazanando por algo tão trivial, mas entendia bem como era o preconceito e como isso podia afetar alguém a longo prazo afinal, as coisas na Coreia conseguam ser ainda piores do que ali.
O melhor que poderia fazer era tentar deixar Jeonghan o mais confortável possível para que, gradativamente, ele começasse a se abrir mais. Em relação a toques também. O loiro não era uma pessoa pegajosa, costumava segurar as mãos de Seungcheol, abraçá-lo e beijá-lo, mas não era algo que acontecia com frequência - pelo menos não com a frequência que o moreno via casais héteros fazendo. Jeonghan era uma pessoa muito reservada. Não era distante o bastante para fazerem parecer que eram só amigos, mas também não era como nenhum relacionamento prévio que Seungcheol tivera. Ele era singular, definitivamente. Dava para ver que para ele estar junto de alguém era muito mais do que trocar carícias e, diferentemente da maioria das pessoas que querem simplesmente fugir para um canto afastado para dar uns amassos, entre ele e o moreno os amassos não aconteciam com muita frequência, mesmo que só estivessem os dois juntos.
Não que Seungcheol achasse isso ruim, porque entendia como Jeonghan era e também não tinha pressa. Ele era uma pessoa interessante demais para que o moreno quisesse apenas tocá-lo. Gostava de ouvir seus devaneios, de reparar em suas nuances, de vê-lo fazer absolutamente qualquer coisa sem ter qualquer pretensão romântica (ou erótica) por trás disso. Sabia que soava como alguém obcecado por pensar assim, mas o que poderia fazer? Nunca havia se sentido dessa forma até então, como se só a presença de alguém bastasse para lhe fazer se sentir bem, mas Jeonghan tinha esse efeito sobre sua pessoa. E o moreno gostava dessa novidade, embora todas as vezes que ele fosse tentar explicar para Mingyu como era sentir-se daquela forma o amigo lhe lançasse um olhar de reprovação e respondesse que ele estava perdendo tempo demais com essa besteira de comédia romântica colegial. Seungcheol sabia que ele só estava falando isso pela saudade que sentia de Wonwoo, mas era como Seungkwan havia dito: relacionamentos são várias peças distintas se encaixando e toque é apenas mais uma delas, dificilmente a mais essencial ou a base para que o resto funcione.
Além do mais, estavam no começo. Teriam muito tempo para pensar nesse tipo de coisa, mas, por agora, bastava que se conhecessem e se acostumassem com a presença um do outro e Seungcheol podia afirmar que isso era o que faziam de melhor. As carícias que trocavam ocasionalmente só serviam para que eventualmente a intimidade entre os dois crescesse e ele apreciava isso, deixava as coisas menos superficiais. Ainda que fosse adepto a encontros casuais com estranhos, sabia que era diferente quando se tratava de um relacionamento real. Queria ser bom para Jeonghan e por isso teria a paciência necessária. O rapaz não dava a entender que era inexperiente ou algo do tipo, ele só não parecia tão interessado em contato direto quanto a maioria dos casais apaixonados, mas quando decidia fazê-lo, era excepcional. Ele sabia exatamente o que fazer para deixar Seungcheol totalmente inebriado com o mais simples dos beijos e quando tomava iniciativa definitivamente deixava o moreno tenso, mesmo que se considerasse quase um expert nessa área. Por sorte, já havia aceitado sua posição de estudante de ensino médio apaixonado quando se tratava de Jeonghan.
Para ser bem honesto, só ficar ao lado dele já era motivo de apreensão, mas o moreno estava aprendendo a lidar com isso. Estavam dando um passo de cada vez e isso funcionava perfeitamente para ele. Pelo menos dessa forma não havia tantas formas para ele fazer feio devido à timidez que insistia em dominar sua pessoa ocasionalmente, impedindo-o de se mover como uma pessoa normal faria em determinadas situações.
Mas, sinceramente, como agir normalmente quando o loiro lhe pedia beijos ou lhe abraçava como quem não queria nada de mais?
Naquela noite estavam todos reunidos. Seus amigos e os de Jeonghan, à beira-mar, juntos para fazer um programa diferente já que todos estavam de folga do trabalho e isso raramente acontecia. Ainda havia turistas na praia, a maioria fazendo exatamente o que eles estavam fazendo, mas certamente não com tanto escândalo.
Deveria ser mais de 1h da madrugada e Hoshi havia até acendido uma fogueira enquanto Woozi se encarregara de trazer petiscos e bebidas - cerveja, majoritariamente. Os dois estavam brigando para ver qual era a melhor forma de assar marshmallows sem queimá-los, mas a discussão logo foi encerrada quando Hoshi estufou um pedaço inteiro do doce derretido na boca de Woozi para fazê-lo parar de reclamar e puxou-o para perto de si num abraço de lado; isso fez com que todos os outros rissem, especialmente Jeonghan, que parecia saber de algo que ninguém mais tinha conhecimento.
Eles estavam numa roda em volta da fogueira e cada um tinha uma garrafa de cerveja em mãos, exceto por Dino, que estava bebendo suco, e Joshua, que estava ocupado demais com sua música. O moreno estava empolgado dedilhando no violão e ocasionalmente cantarolava no ritmo com sua voz suave. Hansol era seu backing vocal para o terror e constrangimento de Seungkwan - o moreno só conseguia encará-lo como se ele estivesse arruinando toda a experiência musical de seu amigo Josh. Vernonnie tinha uma boa voz, mas ele precisava de um treino vocal intenso para evitar desafinar, ainda mais quando se tratava de falsetes. No entanto, Boo tinha de admitir que ele ficava realmente irresistível quando recitava as letras românticas e lhe lançava piscadinhas. Se iria falhar na arte, pelo menos tinha pontos de sobra no carisma, certo?
Ao lado do trio musical, Mingyu e DK pareciam absortos numa conversa sobre pesca. A dona de casa Ming era excepcional nessa atividade, enquanto o pobre Dokyeom não conseguira pegar um peixe sequer durante todas as vezes que saíram de barco e foram até o alto-mar. Era como se ele afastasse todos os peixes só com sua presença. Isso rendera boas risadas para Mingyu, mas o outro rapaz parecia realmente revoltado e determinado a voltar nem que fosse com um bagre.
- Você sabe que bagre é um peixe de água doce, certo? - Jeonghan o corrigiu imediatamente, dando um gole na cerveja que estava dividindo com Seungcheol. Eles estavam sentados lado a lado e Dino também parecia prestar atenção na conversa, como um filho arrastado pelos pais para o happy hour com os outros amigos velhos deles que não tinha outra escolha se não ouvir o que os adultos estavam falando.
- Oh. Eu esqueci que tínhamos um biólogo entre nós. - Dokyeom riu, se retratando.
Estranhamente ele e Jeonghan também tinham ficado bastante próximos agora que o relacionamento do loiro com Seungcheol finalmente engatara. DK realmente gostava de encher o saco do pobre rapaz, mas, no fundo, ele se divertia bastante com a situação. Até começara a fazer a mesma coisa que fazia com Dino, ainda que com algumas modificações: “Dokyeom, você é o idiota de quem, huh?” era o que Jeonghan costumava perguntar enquanto bagunçava os cabelos do moreno.
Seungcheol, no entanto, não ficava com ciúmes. O loiro fazia isso de uma forma muito maternal para que se incomodasse. Aliás, logo percebera que Jeonghan era algo como a “mãe” de seu grupo e, vagarosamente, estava se tornando a mãe dos amigos de S. Coups também. Todos queriam agradá-lo, fosse com palavras ou pequenos gestos, e ele retribuía com bastante afeto, mas sempre deixava claro que Dino era seu único e verdadeiro bebê por ser o mais novo. Era adorável vê-lo cuidando do rapaz e sempre preocupado com ele. Mesmo que estivessem de férias, Jeonghan constantemente perguntava se Dino precisava de ajuda com a lição de casa. Joshua havia dito que sempre que o garoto tinha alguma dúvida pedia ajuda ao loiro, por isso ele insistia tanto em querer saber.
- Sinto muito, Dokyeomie. - Jeonghan riu. - Sempre termino corrigindo os outros sem perceber… É um hábito ruim.
- Que nada! - DK deu um tapa leve no ombro do rapaz. - Vai ser um ótimo professor.
- Inclusive, quando você se forma? - Mingyu perguntou com a boca cheia dos amendoins que Woozi havia lhe entregado para colocar num potinho. É, a dona de casa Ming definitivamente não tinha modos quando se tratava de comida.
- Na verdade, só falta um ano. Finalmente vou ter a chance de fazer estágio. - O loiro comentou, animado. - Mas já fiz algumas pesquisas de campo, tenho publicações acadêmicas e dei aulas como professor substituto.
Seungcheol estava boquiaberto. Sabia que Jeonghan era aplicado, mas não sabia que ele fazia a linha de garoto prodígio. O mais incrível era que ele falava sobre seus feitos como se não significassem nada de mais, ainda que fosse um currículo perfeito para um universitário.
- Uau! - Mingyu bateu palmas. - Nunca esperaria que um gênio fosse se interessar logo por alguém como o Coups.
- Ei! Mingyu! - O moreno colocou uma das mãos em cima do peito, afetado com o comentário do amigo.
- Eu não sou um gênio. É apenas natural querer aprender mais sobre algo que amo, não? - O loiro deu de ombros.
- Ele é um gênio sim! - Hoshi gritou, fazendo Woozi arregalar os olhos. Para alguém tão bom com bebidas, ele parecia bem fraco para evitar seus efeitos colaterais.
- É verdade. Pergunte qualquer coisa para o Jeonghannie que ele vai saber resolver e, se não souber, basta cinco minutos para que ele aprenda. - Dino finalmente encontrou uma brecha para entrar na conversa. Aparentemente seu elogio foi o que mais deixou Jeonghan mexido, pois o rapaz desviou o olhar com certa timidez e cobriu o rosto.
- Céus, vocês realmente gostam de amaciar meu ego. Eu me pergunto o que querem em troca? - O loiro abriu um sorriso e desviou o olhar para Joshua e Vernon, que estavam batendo palmas para ele enquanto Boo fingia que não conhecia aqueles dois rapazes passando vergonha.
- Nós só estamos orgulhosos. - Disse Joshua, igualmente sorridente. Ele era o que melhor conhecia Jeonghan ali e parecia verdadeiramente feliz de ver o amigo ganhando o reconhecimento que lhe fora ignorado por tanto tempo durante o Ensino Médio. Tinha certeza de que ele seria formidável. - Afinal, só 23 anos e tantas conquistas… - O rapaz cantarolou, rindo em seguida.
Mingyu pareceu surpreso. Seungcheol também, na verdade. Sabia que Jeonghan era mais novo por ainda ser um estudante, mas nunca havia perguntado sua idade, parando para pensar. Não era uma diferença de idade tão grande assim. Seungcheol sinceramente estava esperando uns oito, talvez dez anos a mais do que Jeonghan, mas, na realidade, o moreno tinha 30 anos, logo faria 31. Sete anos de diferença eram até aceitáveis, principalmente levando em consideração que ele não parecia ter essa idade de forma alguma - e muito menos suas companhias que, embora ligeiramente mais novos, não estavam tão atrás dele assim. Todos já tinham passado da casa dos 25, mas mentalmente provavelmente ainda reviviam seus 18 anos com glória e vigor inigualáveis.
- Jeonghannie é tão novinho, mas ao mesmo tempo é muito mais maduro do que o Coups. - Seungkwan finalmente se manifestou. Ele estava um pouco mais calado do que o costume naquela noite, mas era somente porque sua garganta estava começando a doer. Seungcheol bem que avisara que ele machucaria as cordas vocais se continuasse gritando tanto toda vez que bebia. Não que isso o impedisse de continuar bebendo, claro.
- Só em idade. - Woozi complementou. Ele parecia absorto numa conversa com Hoshi até então, mas aparentemente o rapaz prestava atenção em várias coisas ao mesmo tempo. Bastante típico para alguém que tinha de gerenciar um restaurante. - Talvez ele seja o mais maduro de nós todos.
- E ele é bem velho em espírito. Nunca vi alguém se cansar e reclamar como um velho de oitenta anos. Só Jeonghannie tem essa proeza. - Hoshi riu. Jeonghan daria um tapa nele se estivesse mais perto, mas, como estava longe, não valia o esforço de ir até lá.
- E tem o problema dele com celulares… - Seungcheol disse, olhando para o loiro de maneira provocativa. Ele sim levou um tapa estalado e um tanto dolorido. Teve de massagear a região do peitoral que logo começara a arder. Certamente ficaria vermelha depois. - Você precisa me bater sempre? - Perguntou, fazendo uma careta.
- É pra você aprender a ficar de boca fechada. - Jeonghan apoiou a cabeça nos ombros do moreno, que logo se esqueceu das reclamações e da dor que estava sentindo, envolvendo-o com um de seus braços para que ficasse mais aconchegante.
A conversa se estendeu por mais algumas horas, todos continuavam comendo e bebendo. O loiro, em especial, estava bebendo mais naquela noite do que o de costume, mas sequer percebia. Era incrível como estava cada vez mais empolgado contando para Mingyu e DK suas experiências na universidade. Ele era, de fato, muito inteligente. Ainda estava incerto se queria lecionar ou trabalhar na área de pesquisa, a única coisa que sabia era que seu campo de atuação seria o mar.
Jeonghan estava novamente com o olhar sonhador ao descrever seu trabalho dos sonhos, saindo de barco para explorar as espécies da região, o ecossistema e tudo o mais. Aparentemente ele já tinha feito isso para alguns trabalhos acadêmicos e recebera várias propostas de estágio por causa da qualidade de suas pesquisas, mas também estava incerto de qual escolheria. Novamente, disse que deixaria entregue nas mãos do destino.
Seungcheol se impressionou ainda mais com o modo que o rapaz levava a vida. Se estivesse no lugar dele, provavelmente estaria nervoso com as escolhas, mas ele não parecia preocupado. Estava meramente indeciso, como se o caminho que fosse seguir não fosse essencial para despontar sua carreira. O moreno tinha de admitir que era uma perspectiva demasiadamente peculiar para o seu gosto. Como entregar tudo nas mãos do destino? E se desse errado?
Mas mesmo que fizesse essas perguntas para Jeonghan, o rapaz dava de ombros e insistia que tudo tinha funcionado perfeitamente até ali, então não tinha motivo para mudar seus métodos.
Seungcheol não podia contestar essa afirmação, ainda mais ao perceber o quanto o loiro já havia conquistado. Tinha certeza de que ainda não ouvira tudo, pois ele não costumava se gabar das coisas que fizera na universidade. Na verdade, dificilmente falava dela, então era a primeira vez que S. Coups tomava conhecimento daquele tipo de coisa. Jeonghan falava muito sobre o quanto gostava de seu curso e da natureza, mas nunca se focava na vida acadêmica. O moreno só foi entender o motivo disso quando o rapaz disse, em alto e bom som, que burocracias e notas só importavam no colégio. Na universidade, ele só queria fazer o que lhe fizesse feliz sem se estressar por conta disso, os bons resultados eram naturais, ele amava cada campo da biologia. Até mesmo botânica, que Dokyeom fizera questão de frisar que foi sua matéria mais odiada do Ensino Médio.
Era adorável ver Jeonghan tão empolgado.
A quantidade de álcool que ele ingeria aumentava mais e mais à medida que o tempo passava; dava para perceber que ele estava um tanto bêbado, embora sua personalidade não se alterasse muito. Só era perceptível porque ele realmente estava muito mais falante do que o normal (e porque Joshua fez algumas brincadeiras à respeito disso).
Seungcheol, por outro lado, aprendera a não beber tanto desde o encontro fatídico que o unira com o loiro, embora também estivesse mais feliz. Todos ali estavam, até mesmo Mingyu, que finalmente havia parado de reclamar sobre Wonwoo após tanto choramingar sobre a falta que o moreno fazia. Obviamente ele só fez isso depois que Vernon abriu a boca para dizer o quanto ele deveria relaxar e aproveitar o momento. Típico de Hansol. Ele não era uma pessoa muito falante e nem sempre dizia coisas muito úteis, mas, estranhamente, sempre era ouvido por seus amigos com muita atenção. Seungkwan continuava a insistir que era por causa do carisma e do belo sorriso do rapaz. Era um namorado bastante orgulhoso, mas somente porque Vernon sempre o mimava com uma quantidade muito maior de elogios para amaciar seu ego. Chegava a ser engraçado como ele se submetia à coisas inimagináveis por causa de Boo; estavam realmente apaixonados um pelo outro.
Era um clima muito aconchegante, parecia um encontro de velhos amigos que não se viam há muito tempo. A conversa fluía bem, sem deixar os dois grupos separados um do outro, e as risadas definitivamente eram garantidas por Hoshi, DK e Seungkwan, que não se cansavam de compartilhar histórias engraçadas. Os aperitivos trazidos por Woozi também estavam deliciosos e, mesmo que o rapaz parecesse mais calado na maior parte do tempo, eventualmente até ele se tornou mais aberto aos outros. Hoshi obviamente tinha dado um empurrãozinho para aquilo acontecer. Os dois eram pessoas tão opostas, mas se davam tão bem... A conexão entre eles parecia surreal. Eventualmente o rapaz mais animado até deitou a cabeça no colo de Woozi, que ficou fazendo cafuné por um longo tempo em seus cabelos descoloridos.
Seungcheol se perguntava quanto tempo fazia que não se sentia tão relaxado quanto naquela noite. Quando saía em Seoul, era sempre para lugares agitados. A praia era uma mudança de cenário interessante e a companhia certamente acrescentava muito ao local. Com Jeonghan ao seu lado, enroscando-se como um gatinho cansado em seu pescoço, estava realmente feliz. Eles não trocaram beijos naquela noite, mas a respiração quente do loiro contra sua pele era o bastante para mantê-lo aquecido.
Também não podia se esquecer, é claro, que o barulho das ondas batendo contra a areia era demasiadamente agradável.
- Ei, Josh, por que não toca uma música para nós? - Jeonghan sugeriu, afastando-se vagamente do moreno para que Joshua pudesse ouvi-lo melhor.
- Claro, claro. - O rapaz assentiu, ajeitando o violão em seu colo e para dedilhar uma música que o loiro conhecia bem.
- Ah, não. Banana Pancakes de novo não. - Jeonghan resmungou e o amigo sorriu, lançando-lhe uma piscadinha. Era a música que ele sempre tocava quando o loiro estava mal-humorado. A princípio era divertido, mas depois de ouvi-la no mínimo trezentas vezes, não dava mais para aguentar. Desde então, aquela havia se tornado a música que Joshua utilizava para encher o saco de Jeonghan.
O loiro sabia cantá-la até de trás para frente, provavelmente. Jack Johnson era bastante famoso no Havaí, até porque, bem, aquela era a terra natal dele. Todos adoravam a maldita surf music e, embora Jeonghan se considerasse farto daquele estilo musical, tinha de admitir que a versão acústica e improvisada de Joshua o agradava. Era muito mais animada do que a original e tinha Vernon batendo palmas para acompanhar o ritmo do moreno, que, por sua vez, tocava violão balançando a cabeça animadamente enquanto fazia caras e bocas.
Logo todos acompanhavam o ritmo dele, mas não de um jeito tão engraçado. A voz de Joshua era muito suave, combinava bem com a música. Ele não conseguia desafinar nem tentando, por sorte Hansol tomava conta dessa parte. Aqueles dois eram outros que pareciam ter criado um laço inquebrantável, da mesma forma que Jeonghan fizera com Seungkwan. O único problema é que eles eram os mestres em passar vergonha, diferentemente dos outros dois, que eram bastante elegantes e provavelmente deixariam até mesmo Beyoncé Giselle Knowles orgulhosa - ou, ao menos, era o que Boo havia dito.
- We got everything we need right here and everything we need is enough... Just so easy when the whole world fits inside of your arms… - O loiro cantarolou, virando-se para Seungcheol no momento e caindo na risada logo em seguida.
A letra era um tanto piegas, mas S. Coups percebera que Jeonghan tinha um fraco por esse tipo de coisa e isso o fazia sorrir. Havia tantas coisas à respeito da personalidade dele que eram intrigantes que Seungcheol sequer sabia por onde começar a listar.
Os rapazes continuaram a cantar mais algumas músicas até que, um a um, começaram a ajeitar as coisas para ir embora. Já passava de quatro da manhã e parecia que o sol logo iria surgir. Primeiro Seungkwan e Vernon, depois Hoshi e Woozi, Joshua foi levar Dino em casa e, por fim, DK e Mingyu também partiram.
No entanto, Jeonghan parecia disposto a ficar ali. Ele provavelmente tinha bebido mais cervejas do que Seungcheol conseguia contar e estava fazendo alguns desenhos na areia límpida. Havia parado de falar um pouco, mas ainda parecia muito com uma criança alegre, justamente como estava mais cedo, sorrindo de orelha a orelha. Provavelmente já estava cansado devido ao horário, mas se recusava a se entregar e pedir para o moreno levá-lo embora.
Era uma nova faceta de Jeonghan que Seungcheol conhecera naquela noite e ele só conseguia ponderar quanto tempo ele poderia esperar para vislumbrar outra delas. E não estava falando da face afetada pelo álcool, apesar dessa também ser interessante. Finalmente vira como ele agia com um grande grupo de amigos, pois não tivera a oportunidade durante a festa em que o acompanhou. Ele era espontâneo e levava tudo com leveza. E todos pareciam apreciar imensamente sua companhia, mas não tinha como ser diferente. Ele era incrível, afinal de contas.
Além disso, era impressionante como o mundo de Jeonghan parecia absolutamente sem preocupações. O moreno se perguntava se, caso imergisse por completo no universo que o rapaz tinha a lhe oferecer, conseguiria encarar as coisas da mesma forma que ele fazia. Ao observar ternamente o perfil do loiro distraído, que fazia desenhos indecifráveis na areia, Seungcheol sentia-se realmente sereno.
Talvez contemplá-lo fosse o que mais trouxesse paz de espírito durante aqueles dias - e isso definitivamente era algo novo para ele.
- Jeonghannie. - O moreno chamou pelo outro, que finalmente ergueu o rosto e virou-se para ele. Estava com o rosto inchado por causa do álcool e suas bochechas estavam proeminentes e coradas. Era muito bonitinho, principalmente quando ele sorria e seus olhos quase se fechavam. - Você não acha que está na hora de irmos? Não posso te deixar ir para casa nesse estado… Tudo bem dormir comigo no hotel?
Jeonghan assentiu.
- Mas não quero ir embora agora. - Ele fez um bico insatisfeito, mas foi entregue por um bocejo logo em seguida. - Quero esperar até o nascer do sol.
- Você não está se aguentando em pé… - Seungcheol riu, colocando uma mecha dos cabelos do loiro atrás da orelha. - Vamos, podemos ver o nascer do sol da minha janela. - Levantou-se, desamarrotando as roupas e apalpando-se levemente para tirar a areia que se acumulou durante aquele tempo. Após isso, estendeu a mão para Jeonghan, que segurou-a depois de resmungar um pouco, finalmente aceitando que era mesmo hora de ir embora.
- Vamos pegar um caminho diferente para o hotel hoje. - O loiro sorriu, puxando Seungcheol e arrastando-o até seu destino.
Aparentemente era uma caminhada mais longa. Não demorou para que S. Coups descobrisse o motivo de Jeonghan querer seguir aquele trajeto: tinha um parquinho de crianças com um balanço - ênfase no balanço pois realmente foi o que deixou o loiro empolgado e o fez insistir para que parassem por ali para passar o tempo. Ele pediu para que Seungcheol o empurrasse após ficar alguns instantes saltitando de um lado para o outro, com a energia completamente revigorada e nenhum sinal da sonolência de poucos minutos atrás.
Obviamente não tinha como o moreno negar um pedido feito com tanta empolgação e o moreno começou a balançá-lo logo depois disso. Então Jeonghan bêbado, além de tudo, também era um pouco mais infantil do que o de costume? Isso definitivamente o fez sorrir, principalmente ao ver os cabelos do rapaz balançando de um lado para o outro num ritmo compassado e ouvir a risada doce que ele deixava escapar, constantemente repetindo o quanto aquilo era divertido.
Seungcheol lembrou-se do quanto também gostava de balanços quando era mais novo. Sua mãe sempre lhe dava broncas por querer ir o mais alto que podia. Era sempre divertido se relembrar como costumava ser um garoto aventureiro, por vezes isso o fazia ponderar o que havia acontecido com seu espírito desafiador. Há muito tempo não tentava sair de sua zona de conforto e, honestamente, pensar sobre isso hoje em dia lhe assustava.
Mas aparentemente estar com Jeonghan sempre lhe remetia à esses assuntos. Ouvi-lo falar do quanto amava o que fazia, perceber que ele estava exatamente onde queria estar, tão livre… Seungcheol achava esse tipo de coisa no mínimo utópica, ainda mais se tratando de carreiras profissionais. O que seria para ele, de fato, fazer algo que se gosta? Todos aqueles anos trabalhando na Seventeen e nunca tinha parado para pensar à respeito. Gostava de acreditar que fazia o que tinha que fazer com eficiência, mas nunca realmente analisou se era divertido ou se era algo que lhe despertava interesse. Havia tantas coisas para ocupar sua cabeça que não sobrava tempo para isso e, honestamente, nunca lhe parecera importante, mas gradativamente estava percebendo que era algo que valia a pena levar em consideração.
Suspirou profundamente. Era tão complicado. Não tinha mais idade para pensar naquele tipo de coisa.
- O que houve? - Jeonghan perguntou, não conseguindo ignorar o suspiro alto demais de seu acompanhante, ainda que não tivesse parado de balançar.
- Não é nada de mais… Só fiquei pensativo por um instante. - Seungcheol respondeu ao encarar o topo da cabeça do loiro. Dava para ver um pedaço mínimo da raiz morena aparecendo ali.
- Pensativo sobre o que?
O loiro colocou os pés no chão para frear e parou o balanço. Pediu para que Coups se sentasse de frente para ele e o rapaz logo o fez, ficando de pernas cruzadas e palmas apoiadas na areia não tão branca quanto a da praia.
- Quando você descobriu que amava biologia? Que era isso que queria fazer pro resto da vida? - Seungcheol perguntou. Jeonghan mantinha os olhos fixos nele, como se quisesse analisá-lo.
- Ah, essa é uma pergunta engraçada. - Ele sorriu, inclinando-se para arrumar os fios escuros grudados na testa do moreno. Sempre estavam tocando no cabelo um do outro, mesmo sem perceberem. - Parece que eu sempre soube da resposta, então provavelmente você também sabe da sua. Todo mundo sabe.
- Acho que não, Jeonghannie. Eu realmente não consigo me imaginar fazendo o que eu gosto.
- E você por acaso sabe do que gosta? - O loiro riu. Seu rosto ainda próximo de S. Coups, que conseguia sentir o cheiro de álcool que exalava da boca dele. Nada muito forte, apenas perceptível.
- De você. - Seungcheol respondeu sem pensar, mas logo que se deu conta arregalou os olhos. Céus. Ele realmente tinha que aprender a lidar melhor com as coisas que falava por impulso.
- Eu digo profissionalmente. - Jeonghan continuou a rir, virando a cabeça um pouco para o lado e tomando um ar pensativo. - Tipo… O que você sonhava em ser quando era criança ou em algum momento da sua vida?
- Não sei.
- Claro que sabe, você só se esqueceu. - O rapaz insistiu. - E não me surpreende. Sério mesmo. Cinco anos sem tirar férias… Que tipo de ser humano é você, Choi Seungcheol?!
O moreno rolou os olhos ao perceber que Jeonghan estava tirando uma com a sua cara. Ele certamente tinha aprendido aquilo com seus amigos.
- O tipo que tem um trabalho importante! - Seungcheol defendeu-se.
- Errado. Um trabalho que você nem sabe se gosta. Você passou muito tempo evitando pensar sobre isso, mas agora que está de férias é a primeira coisa que te vem a cabeça. Não é estranho?
- Não é assim. - O moreno respondeu, hesitante. Bem, para ter passado tanto tempo em seu emprego, certamente não o odiava. - Eu gosto do que faço… Só fiquei curioso porque você… Como posso explicar isso? Você sempre parece estar no lugar que deveria estar, sabe? Sem preocupações e essas coisas. Eu realmente não sei como é possível levar uma vida assim. Me surpreende toda vez que penso sobre.
- É bem simples. - Jeonghan respondeu. - Obviamente você vai se estressar vivendo uma vida que não é sua, afinal, vai ter que superar as expectativas que vão vir pra cima de você. Mas isso não acontece comigo, porque eu estou vivendo a vida que escolhi viver e, bem, tudo fica muito mais fácil quando não existe o peso de outra pessoa para te pressionar.
- E como dá pra ter tanta certeza que estou vivendo uma vida que não é minha?
- Eu não sei. Como disse, é algo que só você pode fazer… Mas respostas nunca são imediatas. Pode levar um tempo. Demorei um pouco para ter as minhas também. - O loiro fez uma pausa breve, como se ponderasse se deveria continuar falando. - Aliás, se eu não tivesse passado por tantas coisas ruins no colégio, provavelmente não iria descobrir o quanto amo ficar perto do mar. Às vezes você só precisa de... Uma experiência diferente.
Seungcheol sorriu. Jeonghan raramente era tão aberto quanto naquela noite, mas era incrível a perspectiva que o rapaz tinha do mundo.
- Acho que o que nós temos é bastante diferente.
- Claro que é. - O loiro apoiou as palmas de suas mãos nas coxas e ergueu o olhar para encarar o céu com o sol já nascente. - É um miracle aligner, afinal de contas. - Disse de maneira quase inaudível, como uma constatação para si mesmo.
- O que é isso? - Seungcheol perguntou, unindo as sobrancelhas sem entender.
- Eu e você. Nós somos um miracle aligner.
O modo como Jeonghan pronunciava esse termo quase cantarolando dava a impressão de que era algo importante para ele, mas não se prolongou ou tentou explicar, apenas ficou sorrindo ternamente ao fitar o moreno por um tempo, voltando a ser o rapaz inescrutável de sempre que tanto intrigava Seungcheol. Estava agindo da mesma forma que fazia quando sua cabeça estava em outro lugar, respondendo com meias palavras ao mesmo tempo que lançava olhares que faziam parecer que o outro rapaz era a única pessoa existente no mundo. Jeonghan era especialista em criar longos momentos de silêncio.
Ao menos Seungcheol conseguira tirar mais palavras da boca dele do que em dias comuns, então agradecia mentalmente ao efeito do álcool. Ou talvez nem fosse isso. Ele parecia mesmo feliz, independentemente do quão alterado estava. Talvez um Jeonghan verdadeiramente satisfeito fosse capaz de falar mais sobre si mesmo, mesmo que ainda não fosse o bastante. Pelo menos não para alguém como o moreno, que queria saber cada coisinha, cada detalhe que pudesse ser exposto.
Um miracle aligner. O que poderia significar?
Independente do que fosse, parecia bom.
Se ele estava lhe observando daquele modo e havia reciprocidade em seus sentimentos, tinha de ser bom, não?
Sentiu suas bochechas se aquecerem ao notar que ele e Jeonghan estavam se entreolhando por um intervalo mais longo do que o usual. O moreno entregou-se ao ato sem nada em sua mente e finalmente pareceu funcionar. Ao invés de tentar ler os pensamentos do rapaz, buscou apenas aproveitar a sensação que ele lhe fazia sentir enquanto durasse.
O caminho para o hotel foi igualmente silencioso e feito com as mãos dadas e os dedos entrelaçados uns nos outros encaixando-se perfeitamente. Seungcheol sentindo o calor das mãos do loiro e pensando no quanto parecia surreal estar com ele naquele exato momento. Aquela pessoa ao seu lado já havia tomado um espaço grande em sua vida num tempo curto e provavelmente sequer se dava conta disso enquanto caminhava distraído observando as pedrinhas que compunham a estrada.
Os dois adormeceram assim que chegaram no quarto, com Jeonghan se aninhando no peito de Seungcheol e dando-lhe um beijo estalado na bochecha antes de apagar completamente.
Aparentemente o nascer do sol ficaria para outro dia.
Jeonghannie.
Seungcheol não era do tipo que acreditava em destino, mas não conseguia pensar em outra coisa que explicasse tão bem o motivo do loiro ter cruzado seu caminho.
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