Ele sabia que algo estranho iria acontecer naquele dia. Pois os pássaros nunca mentiam, eles cantavam em outra sintonia quando algo não estava certo.
Mas nunca imaginaria encontrar uma bela moça desmaiada no meio do bosque dos espinheiros, nunca a tinha visto, nem mesmo na vila ou arredores de outros reinos.
Seus cachorros naquela manhã tinham saído para brincarem pela floresta como sempre faziam todos os dias, porém os mesmos demoraram muito e ocorreu de sentir que deveria ir atrás deles. Seguia a trilha já conhecida no bosque, e de longe pôde ouvir alguns murmúrios juntamente com sons de alguém correndo, então se pôs a ir atrás deste alguém.
Foi quando avistou ela; tão linda quanto os contos que sua falecida mãe contava para ele, mas estava machucada, percebeu suas vestes rasgadas e preocupou-se, e tendo em mente que a mesma não estava bem a segurou em seus braços e a levou para sua cabana. Tinha os mesmos costumes que sua família, era um curandeiro nato.
Quanto mais andava percebia o quanto o corpo era leve, se perguntara se a mesma comia direito, mas a sua maior dúvida era porquê ela se encontrava sozinha num lugar tão perigoso e traiçoeiro quanto aquele bosque.
O jovem rapaz de bom coração andava por aquele caminho pouco iluminado mesmo o sol estando escaldante, as árvores eram enormes e suas folhas ainda maiores cobrindo quase por completo a visão dos céus. Olhou para todos os lados, buscando alguma outra vida, mas concluiu que a moça bonita de fato estava sozinha.
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- Vejam só! A velha bruxa da vila, quem diria que a senhora estivesse realmente a beira da morte.
- Não sabes o que fala, rainha – a voz com pouco força respondia a provocação.
- Apenas de olhar para ti vejo a morte, nem gaste forças tentando falar algo contrário disso, bruxa – Kurenai caminhava pelo quarto da alta torre, onde sua nova feiticeira se encontrava.
- O que queres, rainha? – tinha sido trazida à força para aquele local podre, e todos os seus utensílios de curandeira também foram jogados naquele quarto igualmente como ela, onde apenas uma janela muito pequena podia lhe dar a chance de respirar um ar dignamente puro.
- A antiga bruxa não mais me servia de absolutamente nada, e do fundo da minha alma espero que você seja melhor, então não precisarei mandar outra cabeça para ser cortada – riu da lembrança repentina, e o quanto a dor da outra lhe agradou. – Me faça jovem.
- Hum… – murmurou a velha senhora. Com seus olhos opacos e sem vida observou a rainha, e analisando-a percebeu a tensão no corpo, os movimentos travados, a aura maléfica em volta de si. Ela era um caso perdido, apenas viu uma alma vendida ao diabo.
- Se não me responder adequadamente irá sofrer consequências! – pegou uma faca que se encontrava na mesa em sua frente, e de relance viu um livro muito interessante; nele continha uma caveira desenhada e alguns dizeres estranhos. Logo também pegou ele.
- Não tenho medo de consequências, já enfrentei seres muito piores que você – mexeu sua mão tentando se livrar do desconforto, estava presa a cama por uma longa corda que prendia seu braço, porém apenas a permitia andar até a porta do quarto. Havia notado o livro que Kurenai tinha pego e riu, sabia que ela iria se destruir sozinha.
- Pois deveria, eu posso me tornar o seu pior pesadelo.
- É mesmo? Me conte o que podes fazer, só não me fale em torturas e mortes, pois nada disso me afeta, não mais – se deitou na cama e virou para o outro lado, onde sua face não era vista pela outra.
Kurenai se sentia tentada a esfaquear aquela bruxa por completo, mas precisava dela, de seus remédios e chás.
Tinha que se controlar ao máximo, pois já não existia outra bruxa em seu reino.
- Apenas faça o que lhe pedi, e quem sabe não ganha um pão para se alimentar, lhe dou uma noite para pensar sobre isso – Se pôs a sair do local trancando o quarto e levou a única chave consigo, assim nem mesmo os guardas poderiam dar comida para aquela velha.
A rainha andava apressadamente pelos corredores em busca do seu quarto de espelhos enquanto apertava o livro em seu peito, pela primeira vez em muito tempo estava curiosa em ler algo, sentia que devia fazer isso.
Chegando naquela sala escondida que penas sua filha e marido sabiam onde era.
Se ajoelhou, abriu o estranho livro negro e não conteve um sorriso ao ver as primeiras páginas. Era isso que queria, não precisaria mais de nenhuma bruxa em pouco tempo, logo seria a senhora dos seus próprios poderes e vontades. Folheava-o com gosto absorvendo todo conteúdo, atenciosa a cada detalhe, se deliciando com as informações obtidas, e as páginas velhas não a incomodavam.
Ali naquele lugar muitas Kurenais eram vistas refletidas no espelho por aquela bela mulher, cheia de esplendor de uma rainha, com jóias e riquezas à mostra, e os cabelos de tão longos se espalhavam no chão mostrando o brilho dos fios negros. Mas nada daquilo era real, aquele reflexo era tão sujo quanto sua alma.
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Estava fraca e sem forças, sentindo uma incômoda ardência em várias partes do seu corpo. Se remexeu um pouco e percebeu algo macio abaixo de si, estava confortável, mesmo estando naquele bosque.
Foi quando sua mente se ascendeu de vez.
Sakura num salto caiu com tudo no chão, soltando um gemido de dor.
Viu sua mão coberta com algum tipo de folha, ainda naquele chão frio olhou o local que estava; as paredes de madeira já davam sinais de podridão, observou a grande cama que estava agora pouco, esta era bem cuidada e percebia-se penas embaixo dela.
Levantou e explorou aquele quarto estranho.
Andando lentamente percebeu que havia uma porta que dava passagem para uma sala central que apenas era escondida por um pano já velho, mas mesmo estando em condições já ruins estava impecavelmente limpo, aliás todo o local era muito limpo e organizado.
- Vejo que já se levantara, moça – uma voz masculina quase a fez cair novamente, porém se segurou na parede e soltou um grito ao ver o dono daquela suave voz – Calma, não irei fazer mal algum a você.
Sakura estava totalmente paralisada em estado de alerta diante daquela situação, pois estava na casa de um desconhecido, em meio a um lugar que não conhecia bem, então seu coração começou a acelerar em um nível alto.
- Por que estou aqui? Quem é você? – proferia suas perguntas de forma baixa e cansada, devido as circunstâncias de seu corpo. O examinou bem, era um belo rapaz, não parecia muito velho.
Ele colocou as mãos para cima em sinal de paz mostrando que não iria fazer nada.
- Me chamo Sasori. Estava procurando meus cachorros no bosque, mas acabei a encontrando machucada e desmaiada, não iria fazer mal algum a ti, sou apenas um curandeiro – ele se aproximou de uma caixa que se encontrava em cima de um banco de madeira, e de lá tirou um recipiente.
- O que é isso? – ainda com desconfiança se encolhia perto da parede.
- Uma pomada feita a base de ervas, elas vão ajudar suas feridas a secarem mais rápido. Se preferir, você mesma pode passar – andou até a rosada e estendeu o recipiente – Pode pegá-la – insistiu novamente, vendo que a moça bonita estava terrivelmente assustada.
- Eu... Obrigada – pegou em agradecimento e olhou nos olhos castanhos dele, vendo apenas doçura e bondade, ajeitou sua postura e deu um sorriso para o mesmo que corou fortemente.
- É o meu trabalho – coçou a parte de traz da cabeça, constrangido – Eu acho, hum, quer algo para comer? Está muito faminta?
- Não, não quero incomodar mais do que já incomodei.
- É um absurdo que diga isso senhorita, jamais me incomodou, apenas me deixaste preocupado – passou a observá-la melhor, ela tinha uma beleza fenomenal, os olhos verdes e brilhantes a deixavam mais encantadora.
- Não quero comer de seus alimentos, pode precisar depois – só o pensamento de ver pessoas passando fome por sua culpa já a deixava tensa e triste.
- Como é seu nome?
- hm?
- Seu nome, qual é o seu nome? – novamente perguntara.
- Sakura, meu nome é Sakura.
- Sakura! Não se preocupe com isso, sou caçador também, por aqui tenho minhas refeições à vontade – disse, a encorajando a comer – Vou preparar algo para nós dois, também estou bem faminto.
- Eu não... – seu estômago acabou soltando um grande som em sinal de fome, a fazendo sorrir sem graça e Sasori soltar uma risada espontânea.
- Venha comigo, vamos comer.
O seguiu até a cozinha da grande cabana, o espaço era de fato enorme e bem organizado. Curiosamente a luz do sol alcançava aquele local bem iluminando, deixando um ambiente agradável.
O ruivo acendeu uma pequena fornalha improvisada e assava alguma carne, logo depois Sakura o viu pegar um jarro de água para servi-la.
- Posso lhe fazer uma pergunta, Sakura? – a esperou sentar na mesa enquanto colocava água num pequeno pote.
- Pode sim, Sasori, não é? – tentou recordar o nome dele.
- Isso mesmo – riu da careta engraçada dela ao tentar lembrar-se de seu nome – O que fazia sozinha por estes arredores? É perigoso, ainda mais na parte dos espinheiros – se sentou na mesa em frente a ela.
- É uma longa história – suspirou lembrando do ocorrido, e de como aquilo agora parecia armado. Hinata realmente tentou lhe fazer algum mal?
- Estou curioso e disposto a ouvi-la – disse convicto. Se endireitou na cadeira esperando a rosada começar a falar, mas os olhos dela pareciam distantes, talvez não tinha confiança nele ainda – Se não quiser contar eu entendo e...
- Não, eu quero. Seria até mesmo melhor falar com alguém, talvez possa me ajudar – mordeu os lábios, e o encarou.
- Claro, por que não.
Então, Sakura contara-lhe tudo, desde o momento em que acordou até o desmaio no bosque.
Tirou algumas dúvidas dele sobre como ela trabalhava no castelo, de como cresceu junto a princesa, tudo, enquanto o ouvinte se indignava com algumas coisas.
- Sakura, essa princesa fez isso com a intenção de machucá-la ou até mesmo esperar sua morte.
- Por que diz isso Sasori? – novamente seu coração batera mais rápido.
- A rosa azul realmente fica no bosque dos espinheiros, porém não fica na parte alta, nunca ficou. Elas são diferentes e nascem sem a luz solar, então ficam dentro de uma caverna bem escondida ali no bosque – explicou, se levantando para cortar a carne já pronta.
- Mas o que isso tem a ver dela me fazer mal?
- Tens um coração ainda ingênuo Sakura. Ela lhe mandou para um lugar perigoso em tempos perigosos e lhe pediu um absurdo, justamente porque não iria encontrar e não sairia ilesa daquele bosque. Isso nunca seria uma amizade, e sim ela querendo se livrar de ti de alguma forma indireta.
A rosada abaixou a cabeça, vendo suas vestes rasgadas, seus braços e pernas cortados, e todo um filme passou em sua mente. Tudo que passou, tudo que sofreu. Fechou as mãos com força e sentiu lágrimas grossas caindo de seus olhos, como era burra, como pôde achar que ainda era querida pela princesa. Não podia deixar tudo isso continuar, não podia mesmo.
- Me desculpe, não queria lhe ofender ou algo do tipo – o ruivo segurava uma tábua de madeira com o alimento já cortado e observou a rosada que chorava em silêncio. Se sentiu culpado, mas era fato que ela estava sofrendo nas mãos de pessoas ruins, que a manipulavam por causa de seu coração bom.
- Não se desculpe, eu estava precisando disso. Eu juro Sasori, que ainda pensava que tinha algo entre nós duas, que nossa amizade apenas se manteve distante por causa dos afazeres dela como princesa, eu achava que, que... Que eu significava algo para ela, mas meus olhos estavam vendados – chorava em desespero, as emoções vieram como uma bomba em seu corpo.
Sabia que a rainha não gostava dela e a destratava por isso, sabia que Hinata tinha ciúmes dela com Naruto, isso era nítido, mas lembrou-se dos pequenos acidentes que Hinata causou que lhe feriam. Lembrou da forma como a princesa a olhava atualmente, de como todos a alertavam sobre ela.
- Acho que nada acontece ao acaso Sakura – o ruivo se agachou na sua frente – Não as deixe fazerem o que quiserem com você, se for possível fuja delas para bem longe, e se não puder, não permita que a maltratem, nunca mais – a voz agora cheia de autoridade invadiu seus sentidos, mudando algo em seu âmago.
- Não irá mais se repetir, eu prometo – os brilhantes verdes estavam agora diferentes, até mesmo a voz mudou de entonação.
- É assim que se fala! Vamos comer e já iremos atrás da rosa azul, entregue a princesa com seu melhor sorriso, entre no jogo, seja lá qual for ele. E quando perceber qual é, dê-lhe um xeque-mate. Não as deixe ganhar, não mais – separou as mãos delas que ainda estavam machucadas e deu um leve carinho nelas, mas nada muito íntimo.
- Quando falei da rainha, percebi você ficar tenso, ela já fez algo com você Sasori? – Sakura o ajudou a levantar e sentar ao seu lado.
- Ela mandou os guardas reais virem atrás de minha mãe e de meu pai, e eles nunca voltaram. Fez o mesmo com minha avó, a levaram derrepente num tardar, e sinto que não irá retornar, não sinto mais meus pais, porém a minha velha sim.
- Não imaginava que eles faziam algo desse tipo, será que eles estão no castelo? Nunca avistei outras pessoas se não os servos e realezas de outros reinos lá.
- Com certeza a rainha má deu um jeito de ninguém vê-los.
- Rainha má? – ergueu as sobrancelhas.
-- É assim que a chamam por aqui, parece que é mais comum do que parece ver seus guardas reais fazendo serviços sujos para ela – riu em escárnio e se serviu.
- Prometo que vou atrás deles no castelo, eu prometo.
- Não se arrisque, apenas foque em se proteger. Mas caso os ver, o que vais reconhecer facilmente, apenas diga que eu as amo mais que tudo e sinto muita falta.
Assim a refeição foi feita em silêncio, e apenas sons de contentamento eram ouvidos. Sasori sentia o coração mais leve sabendo que poderia ter mais informações sobre sua família tendo uma pessoa boa para lhe ajudar, mesmo a conhecendo pouco tempo sabia que ela iria atrás dos seus, então sua pesada alma se aquietou um pouco.
Sem demora se pôs a ajudar a rosada, a levou até a pequena caverna escondida e retirou uma rosa azul, a qual era magnífica. Lhe mostrou outras formas de andar no bosque, até a trilha escondia que um dia poderia vir ajudar a moça. Também perceberam que onde ela correu tinha pedaços pequenos do pano a qual era feito seu vestido, o que deixou Sakura triste, pois já não tinha muitas vestes.
Se despediram e a gratidão era por ambas as partes, pois perguntas e respostas foram descobertas de uma forma única e precisa, tudo cooperando para o bem dos dois.
- Agora faça sua parte Sakura – disse lhe após a deixar dentro dos muros da castelo, que por sorte foi Kakashi quem abriu.
- Oh meu Deus, Sakura! Estás toda machucada, o que aconteceu? – perguntou seu protetor.
- Agora não, mais tarde respondo-lhe em detalhes. Agora eu apenas preciso ver a princesa – caminhava firmemente até seu destino.
- Então vamos com o rufus – chamou seus companheiros para ficar no posto dos grandes portões.
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Hinata estava na sala de música tocando com todo esplendor seu piano enquanto sorria e cantava canções aleatórias que vinham em mente. Estava alegre pois também soubera que Naruto viria para finalmente oficializar o noivado, não tinha como estar mais contente que isso, o amava de todo coração e jamais o deixaria se afastar. Ele era seu, e somente seu.
- Mal vejo a ora de ver meus vestidos de casamentos cheios de ornamentos de cristais, serei a mais bela noiva que esse mundo poderá ver – falou em voz alta, não aguentava ficar feliz apenas em seus pensamentos.
- Com certeza Hina-chan, será a mais bela noiva desse mundo.
- Sakura! – Não a tinha percebido entrar e a olhou horrorizada, a mesma estava totalmente desarrumada e suas vestes quase por completo destruídas.
- Oh, mil perdões por assustá-la, princesa – sorriu docemente e tentou se ajeitar – Eu consegui Hina, encontrei a sua rosa – sentou-se ajoelhando em frente ao piano e estendeu a rosa para a outra.
Essa por sua vez a olhava enojada e ao mesmo tempo surpresa por ver que aquela rosa de fato existia, mas não contava em vê-la tão cedo.
- Sakura-chan, muito obrigada! Ela é tão bonita – sorria, mas não a pegou – Bom, já que conseguiu pode ir para o seu aposento.
- Não irá pegar? – juntou a rosa em seu peito.
- Claro que não, eu apenas queria saber se a rosa azul era real. Agora que sei, podes ir minha amiga – voltou a tocar o piano como se mais ninguém estivesse ali.
- Foi um prazer ir atrás dela. Irei cuidar muito bem, e sabe acho que o Naruto irá gostar de recebê-la já que é rara, única, na verdade – Hinata imediatamente a olhou, o rosto já não estava mais passível – Lembra quando ele disse que um dos sonhos dele era ver esta rosa? Já que ele amava ter coisas raras – tentava ao máximo fingir que estava sendo ingênua, mas sabia que sua voz saía sugestiva e conseguiu o que queria – Então agradeço pelo presente Hina-chan, serei eternamente grata por isso.
Ao dizer isso saiu da sala de música. Esperou um pouco e já pôde ouvir um dos vasos de luxo sendo atacados na parede com muita força, e pela primeira vez sentiu-se liberta, porém faltava algo em seu coração, talvez um alguém para si.
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