Sadie
Harry só estava me protegendo do mundo exterior.
Protegendo a tal ponto, que passei os últimos quatro meses tentando convencê-lo a me deixar ir a uma simples entrevista de emprego.
Entretanto, não achava nenhum pouco ruim todo esse cuidado dele comigo, isso porque, para a minha maior desgraça, me apaixonei perdidamente por ele, que só me via como uma menina ainda. A mesma menina desajeitada, e de quinze anos, que veio morar com eles há quatro anos.
Ele não ver que eu cresci, apesar das minhas tentativas em demonstrar que tinha amadurecido, que já era uma mulher.
Era praticamente impossível atravessar a dura couraça que o rodeava.
Suspirei de novo enquanto caminhava. Como ia fazê-lo reparar em mim...?
Harry já não era tão farrista como tinha sido anos atrás, no entanto, sabia que com freqüência ele era visto nos clubes noturnos com alguma beldade loira e sofisticada. E eu em casa, morrendo de amor por ele... que cruel era a vida! Seria bastante difícil atraí-lo, porque eu não era loira, nem tampouco sofisticada.
Era somente uma garota normal, e um pouco impulsiva demais que as garotas da minha idade.
Por isso, depois de pensar muito no assunto, tinha chegado à conclusão de que, se queria que ele olhasse para mim com outros olhos, teria que me transformar em uma mulher sofisticada… e ir a extremos.
Talvez ir a um espetáculo de striptease masculino não fosse o mais indicado como primeiro passo para a sofisticação, mas com certeza foi a coisa mais extrema que pensei.
Ser vista ali demonstraria a Harry que eu não era a adolescente puritana que ele queria que eu fosse.
- Está frio aí fora, menina linda. Que tal entrar um pouco? — Disse um dos seguranças bonitos.
Esbocei um sorriso de satisfação ao pensar na cara que Harry faria quando alguém conhecido lhe contasse onde eu estive.
- Eu já estava indo até a bilheteria, obrigada — Ele sorriu de volta, parecendo satisfeito com a minha resposta.
Alisei a saia de pregas que usava, observando meu reflexo na vitrine do lugar.
Joguei algumas mechas para cima dos ombros e observei meu comprido e castanho cabelo, que não estava preso, como estava acostumada a usar.
Meus lábios não podiam ser mais perfeitos, bem carnudos, destacando o meu batom vermelho. Entretanto, eu não me maquiava com esmero, era simplesmente uma garota comum, que se maquiava buscando tutoriais no Youtube.
Meus seios eram menores do que gostaria que fossem, e em minha opinião, as minhas pernas eram muito longas e finas. Sentia-me tremendamente desajeitada.
Ao menos minha jaqueta de veludo bordô me dava um aspecto um pouco melhor e bonito.
O que será que me espera aí dentro…?
Me peguei pensando. Mas de algum modo eu tinha que aprender certas coisas, afinal Harry não me ajudava, ao afugentar todos os meninos com os quais eu me encontrava.
Ele era muito rigoroso nesse sentido: só me permitia sair com jovens da minha idade, e ainda por cima se encarregava de lhes fazer impertinentes comentários a respeito de suas pistolas e rifles guardados, caso pensássemos em nos divertir antes do matrimônio.
Segundo o mesmo, ele mataria o cara com um tiro, mas só depois de arrancar o seu brinquedinho lá de baixo.
Com um tutor assim não era de se admirar que muitos daqueles meninos não voltassem a me convidar para sair.
O ar fresco da noite me fez estremecer. Agasalhei-me em minha jaqueta e dirigi um sorriso a outra garota que também tiritava de frio na fila da boate Infernal Boys.
Era o lugar mais badalado de Londres, para as mulheres. Havia uma longa fila delas esperando para comprarem suas entradas e averiguarem se aqueles homens eram mesmo tão infernais assim.
Harry morreria se soubesse que eu estava ali. Hunter, diferentemente, faria o que sempre fazia. Não diria nada, nem a favor nem contra. Ou só riria da situação.
Os dois eram muito parecidos fisicamente, mas só nesses aspectos. Altos, lindos, atléticos e de olhos verdes, embora Harry fosse muito mais bonito para mim...
Sendo o mais velho, de fato Hunter tinha os traços mais maduros, uma personalidade muito reservada e, embora se mostrasse cortês com as damas, não saía com nenhuma. Claro que todo mundo sabia porquê: Estelle Adams.
Ela tinha recusado sua proposta de casamento anos atrás.
A família de Estelle era muito rica e correu o rumor de que ela o tinha recusado porque o considerava muito inferior a ela.
Verdade ou não, aquilo feriu tremendamente Hunter e desde então ele nunca mais se abriu para garota alguma...
As duas garotas que estavam na minha frente na fila entraram e assim apressei-me em tirar a carteira da jaqueta, mas antes que pudesse fazer isso, alguém me agarrou com força pelo pulso e me arrastou para fora da fila.
- Ai! — Vociferei.
- Sabia que conhecia essa jaqueta... — Murmurou uma voz profunda.
Elevei o olhar incrédula ao reconhecê-la.
Harry!
Por que ele estava ali?
- Fiz bem em passar por aqui no caminho de casa. — Havia um sutil brilho de ira em seus lindos olhos. — Onde está Hunter? Ele sabe que está aqui?
- Eu disse que ia a uma exposição de arte — Respondi prontamente e ao ver que ele arqueou uma sobrancelha incrédulo, acrescentei para provocá-lo. — De certo modo será uma exposição de arte... só que as estátuas masculinas estarão vivas.
- Pelo amor de Deus... — Foi a resposta dele, seus olhos me fuzilaram e os seus lábios se retorceram. — Vamos embora agora!
- Não penso em ir pra casa — Repliquei lutando para escapar de seu puxão. Adorava desafiá-lo. — Vou comprar minha entrada e vou entrar sim — Assegurei soltando-me e girando em meus calcanhares.
Ele, entretanto, não estava com humor para prosseguir com aquela discussão e me tomou nos braços levando-me para o carro.
- Harry! — Chiei agarrando o seu pescoço.
- É incrível que eu não possa sair do trabalho nem um dia sem que você faça uma loucura! — Murmurou ele.
Zangada como estava, só pensei em discutir com ele, mas estar em seus braços era como estar no sétimo céu. Além disso, a calidez de seu fôlego no meu rosto estava provocando um comichão por todo o meu corpo que nunca sentira antes.
- Pra onde está me levando? — Notei que estávamos seguindo por uma rua muito escura.
- Para aquele chaveiro que você chama de carro.
- Não fale assim dele!
- Daquele escoro de braço?
- Não implique com o meu carro! — Protestei. — Ele pode ser pequeno e todo rosa por dentro, mas é um bom carro. — Seu rosto permaneceu impassível. — E por que estacionou ele por aqui? É tão esquisito esse beco
- Duvido muito que alguém vá tentar roubar aquele chaveiro com rodas — Rolei os olhos, calada.
Meu carro era um Smart Fortwo branco, que de fato, era complicado entender, como que, em um carro tão pequeno, poderia caber um motor, câmbio, freios, painel, quatro rodas e dois passageiros adultos. E ainda oferecer conforto e estabilidade. Parecia mágica.
Mas eu me apaixonei por ele a primeira vista e quando o comprei o deixei com a minha cara.
- Fique sabendo que ele é um veículo muito bom. Apesar de rodar pouco, não tive qualquer tipo de problema com ele.
- Você ainda vai insistir nisso? — Resmungou.
- Vou! — Retruquei.
- Ele só "bebe" gasolina.
- O motor dele é turbo, de 98 cv, tá?
- A única coisa que presta.
Fiz um bico maior ainda.
- Se eu tivesse ido com você à concessionária em vez de Hunter, asseguro que não teria comprado esse carro — Acrescentou ele. — É incrível como ele consente tudo o que você quer.
- Ele gosta de mim e você não. — Ele apressou o passo, pisando furioso nos paralelepípedos da calçada. — Que foi? Falei alguma mentira? — Perguntei ao ainda ser carregada por ele que procurou os meus olhos com os seus.
- Você gosta fazer coisas que me chateiam, não é? — Eu gosto sim de provocá-lo. — Como pode dizer isso se só o que eu faço é te proteger e cuidar de você? — Murmurou baixando deliberadamente o olhar para os meus lábios.
Eu mal pude respirar. E o meu corpo ardeu em todos os cantos e começou a tremer continuamente.
- Está com frio? — Ele notou.
- Estou. — Agradeci ter a condição fria do clima a meu favor.
- Já estamos chegando...
Deitei a cabeça em seu peito, e pude ouvir uma batida fraca e descompassada.
Porém meu sorriso duplicou-se ao ouvir seu coração acelerando em meu ouvido.
Suspirei mais que encantada e deslizei meus dedos trêmulos por sua nuca.
- Está tentando comprar sua carta de alforria...? — Perguntou-me em sarcasmo. O ponto fraco dele é carinho.
- Então admite que sou sua prisioneira...?
- Admito que sou severo com as minhas medidas de segurança.
- Tenho quase vinte e um anos — Recordei-o.
- Eu sei bem a sua idade. E ainda faltam dois anos pra isso. Mas está sempre fazendo criancices como a de hoje. — Respondeu com aspereza.
- O que tem de mau que eu queira fazer coisas de adultos? — Balbuciei. — Já sou maior para muitas coisas, como dirigir. Só não beber. — Foi a vez dele de rolar os olhos. — Desse jeito eu nunca saberei como é o mundo. Parece que quer que eu seja virgem por toda a minha vida.
- OH, então trata-se disso…? — Sua respiração tornou-se ofegante e seus olhos arregalados. — Pois está no caminho certo! Se insistir em vir a este tipo de lugar, certamente não durará muito essa sua condição pura! — Replicou-me zangado.
Ele sempre ficava nervoso quando eu falava desse modo. Sobre como eu gostaria de saber sobre sexo e perder a minha virgindade. Isso agora é crime?
Tenho certeza que ele enfartaria se soubesse que eu gostaria que fosse com ele a minha primeira e todas as outras vezes…
Olhei-o pelo canto dos olhos e a expressão dele estava veemente endurecida, porém esbocei um novo sorriso de alegria, confesso que divertia-me em vê-lo assim. Ainda mais que me iludia achando ser ciúme dele por mim…
Finalmente tínhamos chegado ao carro. Ele me colocou no chão e abriu a porta fazendo um gesto para que eu entrasse e sentasse.
Sentei-me a contragosto e posteriormente ele fechou a porta em um golpe forte e rodeou o veículo. Quando se sentou no banco do motorista, houve certa violência no modo em que ele acelerou o carro ao arrancá-lo, e em como desceu a rua principal a toda velocidade.
- Ainda não posso acreditar que estivesse disposta a pagar dinheiro para ver alguns homens tirarem a roupa — Resmungou insistente.
- Melhor vê-los tirar a deles do que vê-los tirar a minha — Respondi com humor sentindo-o me olhar feio. — Eu sei que você concorda… a julgar pela maneira histérica que fica a cada vez que tento conversar com um garoto com um mínimo de experiência.
Ele franziu o cenho.
Porém sabia que era verdade. Ficava furioso diante da ideia que um homem pudesse aproveitar-se de mim. Não queria que me tocassem.
- Pode acreditar que sim. Se um homem tentasse desabotoar um único botão seu, daria-lhe uma surra.
- Pobre do meu futuro marido... — Suspirei. — Imagine o que você fará em minha noite de núpcias…?
- É muito jovem para falar em se casar. — Repôs ele.
- Dentro de pouco tempo completarei vinte e um anos. Essa é a idade que minha mãe tinha quando me teve — Recordei-o.
- Eram outros tempos. Eu tenho 23 anos e ainda não me casei e estou longe disso. — Respondeu ele.
- Tem medo de compromisso?
- Vamos mudar de assunto? — Mostrou-se incomodado.
Dei de ombros me calando.
- Quer mesmo se casar logo...? — Concordei com a cabeça. — Você sabe que tem muito tempo pela frente, não sabe? Não tem que se precipitar em dar esse passo. Ainda não viu nada do mundo!
- E como posso ver alguma coisa se você não me deixa nem respirar sozinha? — Exclamei irada.
Ele me lançou um olhar furioso.
- O que eu não gosto é da parte do mundo em que você trata de aparecer! Um striptease masculino?! Pelo amor de Deus!
- O que tem de mau? Nem sequer tiram tudo! — Assegurei-lhe. — Ficam com a maior parte da roupa, sabia?
- Me diz uma coisa: como você sabe disso? — Buscou acalmar-se.
- A Kayla já foi inúmeras vezes e me disse.
- Kayla Davies... — Ele murmurou entre dentes. — Sempre Kayla Davies! Já te disse que não aprovo sua amizade com essa cabeça oca. É mais velha que você, e sabe o que comentam dela por aí?
- Não sei e não quero saber.
- Pois deveria! As más companhias também sujam o seu nome, sabia? Já ouviu falar no ditado ‘’diga-me com quem andas que eu te direi quem és?!’’
- Quantos anos tem? 110? E o Hunter? Tem certeza que ele é o mais velho?
- Cala essa boca, garota...
- Por que não vem calar? — Isso o fez corar.
- Não me provoca… — Rosnou-me.
Cruzei os braços em um bico.
- Não acredito que estamos brigando até por causa da minha melhor amiga, isso é sério...? — Sempre brigávamos por tudo porque pensávamos muito diferentes.
- Não é minha culpa que ela se comporte de um modo que não atrai os homens que procuram uma relação séria. — Ele chamou ela de promíscua?
- O que está insinuando sobre ela...? — Choquei-me.
- Não estou insinuando nada. Só estou dizendo o que falam dela por aí.
- Isso é o que dizem... além disso, não há nada de errado em curtir a vida como ela faz. Por que dizem isso dela? Só por que ela não namora com os caras que sai? Além de quê, melhor pra ela, que está ativa e não morrerá de susto quando seu marido se despir na noite de núpcias. — Ele negou com a cabeça de maneira inconformada. — Eu nunca vi um homem sem roupa em toda minha vida… exceto por uma revista que ela me deu que tinha…
- Por todos os Santos! Não quero que volte a ler esse tipo de revistas…! — Ordenou-me.
- E por que não? — Interroguei arqueando as sobrancelhas.
- Porque... porque... porque não e pronto!
- Por que só os homens podem ver as fotos de mulheres que saem nesse tipo de revistas? — Espetei-o.
- E por que não pode manter a boca fechada por mais de um segundo?! — Rugiu.
- Isso é o que quer...? Muito bem, pois me calarei. — Disse cruzando os braços.
Entretanto, olhei-o pela extremidade do olho, sorrindo pela carranca que ele estava fazendo. Talvez não estivesse apaixonado por mim, mas não havia dúvida de que eu não lhe era indiferente.
- Toda essa estúpida obsessão repentina em ver um homem nu... — Balbuciou para si mesmo. — Não sei o que é o que te deu.
- Frustração — Respondi. — Pelo número de noites que fiquei em casa sozinha sem atenção e carinho.
- Eu nunca te proibi de ter encontros — Respondeu ele.
- OH, não… é claro que não... simplesmente se senta com os rapazes com os quais quero sair e afugenta-os com conversas sobre morte e espingardas. — Ouvi sua escandalosa risada gostosa encher os meus ouvidos.
- Não é culpa minha se eles não lutam pelo que querem — Enfureci-me.
- A culpa é sua sim! Por vir com esses pensamentos arcaicos sobre o sexo pré-matrimonial!
- Não são arcaicos — Respondeu ele. — Há um montão de pessoas que pensam desse modo.
- Sério...? Quantas você conhece...? — Disse com sarcasmo, arqueando uma sobrancelha. — A propósito, você é virgem?
Seus olhos esverdeados me olharam de lado.
- Você acredita nisso?
Percebi que ruborizava. O tom de sua voz e a sombra de imodéstia no seu olhar me fizeram sentir incrivelmente estúpida por achar isso. É óbvio que não era virgem. Tendo vivido com ele tantos anos, conhecia-o melhor que ninguém.
Afastei os olhos dele, enciumada.
- Que ingenuidade da minha parte! — Murmurei com escárnio.
Ele continuou dirigindo, e aquele repentino silêncio não me agradou, do mesmo modo que meus pensamentos sobre as mulheres com as quais ele teria ido pra cama.
- Como soube onde eu estava...?
- Não soube.
- E então...?
- Como te disse, voltava para casa e de repente, quem eu vejo diante daqueles ridículos posters a não ser você...?
- É meu destino te enlouquecer. Não posso escapar dele. — Ele sorriu de canto, negando com a cabeça e virou para tomar a estrada que levava a casa onde vivíamos.
E quando chegamos em casa, encontramos Hunter sentado em uma das poltronas da sala, inclinado sobre a mesa de vidro, repassando o livro de contas com o cenho franzido.
Ao ver-nos entrar, ele elevou a vista na nossa direção.
- Que tal a exposição de arte...? — Perguntou-me.
- Não era uma exposição de arte — Interveio Harry jogando vorazmente o seu sobretudo sobre a mesa. — Era um striptease masculino!
Hunter olhou para mim espantado e eu me senti incomodada, ele era ainda mais antiquado que Harry a esse respeito.
- Sadie! — Exclamou em tom de recriminação e assombro.
- O que...? Tenho quase vinte e um anos — Repliquei. — Dirijo, estou trabalhando, e poderia já estar casada e com filhos. Se quero ir ver um striptease masculino, ainda tenho que pedir permissão?
Hunter fechou o livro de contas e deu um gole em seu chocolate quente.
- Isso soa como uma declaração de guerra — Disse.
- Porque isso é — Respondi elevando o queixo. — Mas não contra você. — Voltei-me para Harry. — Se não me deixar ter mais liberdade, eu irei viver com a Kayla.
A paciência de Harry se esvaiu.
- ISSO NEM PENSAR! — Gritou.
- Farei o que me der vontade! — Retruquei.
- Importariam se...? — Hunter começou calmamente. Mas Harry sequer o escutou.
- Só por cima do meu cadáver! — Harry disse aproximando-se de mim.
- Poderiam me escutar um momento?! — Rugiu Hunter levantando da poltrona.
Harry e eu ficamos paralisados. Nunca antes tínhamos ouvido Hunter elevar a voz, nem sequer nas ocasiões em que o vimos muito zangado.
- Muito bem, me escutem: Assim não vamos a lugar nenhum. Além disso, asseguro que daqui a pouco aparecerão Eleanor e Garner pensando que estamos nos matando! — E, antes que ele terminasse a frase, os dois apareceram mesmo à porta com as expressões preocupadas e apreensivas.
- O que está acontecendo, crianças...? — Perguntou-nos Eleanor.
- A que se deve toda esta agitação? — Perguntou Garner passando a mão pelo cabelo grisalho e olhando ao redor. — Pensamos que tinha ocorrido alguma desgraça. Diosito! Outra travessura? — Perguntou-me Garner sacudindo a cabeça e sorrindo para mim. — O que fez desta vez, bambina?
- Não fiz nada — Respondi muito tranquila.
- Ela foi a um striptease masculino. — Harry interveio outra vez.
- Não é verdade! — Protestei avermelhando.
- Vai dar pra trás agora? Não estava tão segura do que queria?! — Insultou-me.
- Mas, filha, como lhe ocorrem essas idéias...? — Inquiriu Eleanor levando as mãos à cabeça e balbuciando algo em italiano. O senhor Garner riu.
O casal, casado há quase trinta anos, morava há muito tempo na vizinhança. O senhor Garner, trabalhava para os Styles em sua empresa, e eram como da família. Cuidavam da gente desde que me lembro.
- Mas não cheguei nem a entrar! — Defendi-me e lancei um olhar acusador para Harry que estava apoiado no braço de uma das poltronas. — Olhe o que você fez!
- Eu?! — Disse sarcástico. — É você que tem uma obsessão insana em ver um homem nu!
- Insana? — Repeti incrédula. — E acredito que você nunca foi a um striptease feminino… não é?!
- Isso é diferente — Replicou-me.
- OH, por favor! Quer dizer que uma mulher pode ser um objeto sexual e um homem não, é isso?
- Agora ela te pegou — Disse Hunter.
Harry olhou furioso para o irmão e em seguida saiu da sala.
Observei-o partir com certa satisfação, sentindo que ao menos tinha ganho essa batalha.
Entretanto, aquele triunfo não era um grande consolo. Harry estava a cada dia mais difícil de conviver. Por um lado, eu entendia e até gostava dessa sua atitude possessiva.
- Me desculpem a confusão… — Disse antes de ir atrás dele.
Não gostava de ficar brigada com ele. Nunca consegui e nem nunca conseguiria…
- Harry…? — Bati na porta do seu quarto.
- Me deixa sozinho, Sadie.
- Hazza… — Apelei.
- Não começa.
- Vamos conversar, vai…
Só ouvi o silêncio.
- Hazza… — Choraminguei.
Ele finalmente abriu a porta para mim. E sentou no fim da cama evitando me olhar.
- Desculpa… — Seu rosto se contorceu em uma expressão emburrada. — Me desculpa ter dito o que disse. Eu nunca vou sair daqui… do seu lado... — Seus olhos verdes brilharam ao olhar para mim. — Eu não sei viver sem você… não sei... — Confessei olhando-o nos olhos, sua respiração agitou-se calmamente.
- Vem aqui… — Chamou-me manso e eu logo estava sobre ele enchendo suas bochechas de beijos. — Me perdoa também… — Sussurrou-me. — Você sabe que eu surto quando o assunto é você — Meus dedos desceram por sua bochecha, o acariciando.
Vi sua pele arrepiar e o brilho em seu olhar entregar-me alguma coisa.
Não saberia dizer o que vi nos seus olhos, mas pela primeira vez, não parecia ser só amor fraterno.
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