História Missunderstood - Capítulo 22: Aquilo foi um erro, Steve.

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Fazia um tempo que eu não tinha mais esses pesadelos com Harry. Fazia tempo que eu não tinha pesadelo nenhum sobre meu passado, sobre meus dias ruins. Eu não lembrar de nada do que aconteceu antes, mas às vezes é impossível. Não consigo apagar meu passado e as lembranças estão impregnadas em mim. Tenho que conviver com isso a cada segundo de minha vida. Tenho que saber conviver com isso.

XXX

Steve’s POV

Terça-feira, dez e trinta da manhã.

Como em poucas vezes da minha vida, decidi participar da aula de educação física. Não que eu seja um preguiçoso e odeio esportes, muito pelo contrário, eu até gosto de esportes e na minha antiga escola participava do clube de natação – aliás, estou pensando em entrar no clube de natação daqui. Mas a aula de educação física em si, para mim, era totalmente desnecessária. Eu podia muito bem passar esse tempo lendo, como fazia em muitas vezes quando resolvia gazear aula. Só que a minha frequência está muito ruim, então, não posso abusar da bondade do professor.

Essa aula era uma das poucas aulas que eu e meus amigos fazíamos todos juntos. Thor e seus amigos também faziam essa aula conosco, assim como Bucky e os amigos dele. Estavam todos eles ali, menos Bucky. Ele se encontrava na arquibancada da quadra com os fones no ouvido e lendo uma revista que falava sobre motos, eu acho. Eu ainda estava pensando no beijo que havíamos dado. Aliás, eu não consigo parar de pensar em outra coisa. Nunca me senti tão bem beijando alguém. O jeito que se aproximou de mim, me agarrou e me beijou foi incrível. Sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem ao lembrar.

Parece que eu ainda sinto sua boca na minha, sua língua contra a minha e suas mãos em meu rosto. Como eu disse: não consigo parar de pensar nisso. No momento em que eu me recuperei do beijo, pensei em telefonar pra ele ou mandar mensagens para saber como ele estava, mas achei melhor esperar. Não quero parecer desesperado, apesar de ser exatamente como eu me sinto. 
O modo como ele saiu da minha casa me deixou preocupado, ele parecia atordoado e arrependido. Será que ele se arrependeu de ter me beijado? 
Pensei também em mandar mensagens hoje de manhã, antes de vir para escola, mas, por sorte, consegui me controlar. Tenho certeza que ele não ia gostar. Bucky não é o tipo de pessoa que curte gente em cima dele o tempo todo e eu não queria tirar o seu espaço. Até porque foi apenas um beijo, não é?!

-  Steve! – Escutei alguém gritando meu nome, o que me fez desviar o olhar de Bucky e procurar quem me chamava. Era Peter. 
- Sim? – Perguntei, me aproximando dele e dos outros. 
- Vamos formar um time de vôlei para jogar agora? – Perguntou. 
-  Não sei. Não estou me sentindo bem. – Respondi. Não era total mentira. 
- O que você tem? Está sentindo alguma coisa? – Bruce perguntou tentando não parecer (tão) preocupado. 
- Estou bem. Só não estou disposto para jogar. – Respondi. – Não precisa se preocupar, sério. – Acrescentei rapidamente. 
- Certo. – Bruce concordou meio desconfiado. 
- Onde está Tony? – Perguntei. 
- Está lá. Está convencendo as garotas do vôlei a jogar em nosso time. – Bruce respondeu e apontou na direção onde Tony se encontrava. 
- Ele odeia perder, ainda mais quando vai jogar contra Thor. – Peter comentou risonho. Apenas ri.

Depois de um tempo, Tony se juntou a nós em seguida o professor foi até o meio da quadra, chamou todos os alunos para se aproximar dele e começou a explicar como funcionaria o jogo. Bem, eu não consegui inventar uma desculpa boa, então, tive que jogar e também porque isso ajudaria bastante na minha nota. Ninguém merece tirar nota baixa em educação física. 
O professor explicou sobre o jogo e seria o seguinte: times de seis pessoas, o time que ganhasse o sete continuaria na quadra e o que perdesse sairia, seria assim até todos os times jogarem – deu cinco times de seis pessoas ao total. Nosso time era composto por mim, Peter, Tony, Bruce e duas meninas do time de vôlei. Nós seríamos os primeiros a jogar. 

Jogamos relativamente bem e ganhamos o primeiro sete que foi contra o time de Natasha, Loki, uma garota colorido apelidada como Vampira e três garotas do clube de natação. Eles não se importaram em perder e Loki parecia bastante aliviado por não precisar jogar. Ganhamos até o terceiro sete, que foi contra o time de Thor. O time era composto por Thor, Wade, Clint e três garotos do time de futebol, como os três primeiros. Acabei levando uma bolada no rosto com tanta força que fez meu nariz sangrar um pouco. Isso fez com que Tony ficasse irado.

- Qual o seu problema, Thor? Não sabe jogar sem machucar os outros? – Tony perguntou revoltado enquanto invadia o campo do time de Thor, que ria da situação. 
- Tony, volta aqui! – Bruce foi atrás dele e Peter veio desnecessariamente me socorrer. 
- Você está bem? – Perguntou enquanto eu me levantava. 
- Estou, não se preocupe comigo e, sim, com Tony que parece louco para apanhar. – Falei e apontei. Bruce havia se juntado a Tony. Ótimo agora os dois iam apanhar. 
- Merda! – Peter correu até eles, ficando mais atrás.

Tony e Thor estavam discutindo e podia-se ver perfeitamente a vermelhidão de raiva em que Thor se encontrava. Sem que ninguém esperasse Thor empurrou Tony, que caiu no chão. Wade gritou com Thor e eu corri até ele. Todos estavam encarando a cena surpresos. Cadê o professor uma hora dessas? 
- Qual seu problema? – Perguntei ajudando Tony a levantar, Bruce fazia o mesmo. 
- Não se meta novato. Eu não sou o James qu... – Thor é interrompido. 
- Que o quê, Thor? – Bucky perguntou, aparecendo atrás de mim. – Você se acha muito valentão batendo em gente menor que você, não é?! Porque não bate em alguém do seu tamanho, cara. – Bucky falou e ele parecia meio irritado. 
- Deu pra defender os fracos e oprimidos, Barnes? – Thor riu debochado. – Aliás, o novato. Porque toda vez que alguém mexe com ele, você aparece defendendo-o. – Acrescentou. Bucky se aproximou dele, ficando frente a frente com Thor. 
- Você não quer que eu faço você engolir os próprios dentes. – Bucky ameaçou-o com o tom de voz frio. Nunca tinha o visto assim. 
- O que está acontecendo aqui hein? – O professor finalmente apareceu, se aproximando e se metendo no meio de Bucky e Thor. – Eu saio por alguns minutos e tudo vira uma bagunça. – Acrescentou. 
- Foi o Thor! – Tony gritou. Encarei-o e revirei os olhos. 
- Barnes, Rogers, Odison e Stark todos comigo até a direção. – O professor apontou para nós e para porta de saída. – O restante está dispensado. Vão para o vestiário, tomem banho e saíam da quadra. Não quero ver ninguém quando voltar caso contrário considere-se reprovado na minha disciplina.

Suspirei cansado e me aproximei de Tony, fomos caminhando até a direção junto com o professor, Thor e Bucky. O professor estava a nossa frente e Bucky e Thor atrás de mim e de Tony. Olhei rapidamente e vi que Bucky estava ainda mais atrás.

Antes de irmos a sala da direção, fomos a enfermaria, onde a enfermaria tratou do meu pequeno incidente. Assim que saímos, continuamos nosso caminho até a direção. Ao chegarmos o professor mandou que todos nós entrássemos e entrou logo atrás. Tony se sentou no sofá da direção e eu sentei ao seu lado, enquanto Thor sentou na poltrona a frente da mesa do diretor e Bucky se mantéu longe de todos, de pé e em encostado numa parede. O diretor nos encarou severamente e perguntou o que havia acontecido. Thor e Tony começaram a gritar na sala da direção até que o diretor os mandou calar a boca – agradeci por isso. O diretor pediu que cada um contasse o que aconteceu e pediu que eu começasse. Falei exatamente o que aconteceu: que eu levei uma bolada na cara, Tony se irritou, foi tirar satisfação com Thor, os dois começaram a discutir, Thor empurrou Tony, eu fui ajudar Tony e discuti com Thor e, então, Bucky apareceu, defendendo eu e Tony. Os três foram obrigados a concordar, pois era a verdade. E o diretor pareceu bem surpreso por desta vez à culpa não ser de Bucky e ficou ainda mais surpreso ao ouvir que Bucky foi defender alguém.

Depois de toda essa bagunça, Tony e Thor foram suspensos por três dias e isso incluía os treinos de Thor, o que fez com que ele ficasse bem irritado. Bucky e eu fomos liberados enquanto Thor e Tony permaneceram dentro da sala, pois o diretor gostaria falar com eles. O professor também saiu e se despediu de nós, pedindo que nos cuidássemos.

- Obrigado. – Falei encarando Bucky, que encarava os próprios pés. Nós estávamos sozinhos naquele corredor. 
- Não sei por que fiz aquilo. – Retrucou, levantando o olhar e me encarando. Seus olhos transmitiam dor e isso fez com que eu ficasse triste. Geralmente ele me olhava com indiferença ou raiva, mas nunca com dor e isso foi pior. – Você não é problema meu.
- Por que está dizendo isso? É por causa de ontem? – Perguntei, me aproximando dele. Ele deu dois passos para longe de mim. 
- Aquilo foi um erro, Steve. Esqueça aquilo. – Falou indiferente e se afastou de mim, me deixando ali sozinho. Engoli minha vontade de chorar.

Enquanto caminhava até o vestiário só conseguia pensar na maneira em como Bucky me tratou e isso fazia com que um nó se formasse em minha garganta. Ele estava arrependido, eu senti isso, mas sei que havia algo a mais. Eu vi dor nos seus olhos, não pode ter sido à toa.

Depois de chegar ao vestiário, tomei um rápido banho para me livrar do suor da aula de educação física e vesti minhas roupas. Peguei minha mochila, que estava em meu armário do vestiário e sai do mesmo, indo em direção ao refeitório. Comida me faria bem agora. Comer seria uma ótima opção.

Caminhei até o refeitório e logo encontrei Bruce e Peter, que estavam na fila da lanchonete; me juntei a eles e logo compramos nossos lanches. Escolhemos uma mesa no lado de dentro e sentamos.

- Onde está Tony? – Bruce perguntou evidentemente preocupado. 
- Foi suspenso por três dias. Ele e Thor. – Respondi, desembrulhando meu sanduiche de peito de Peru.
- Merda! Howard não vai gostar nada isso. – Bruce lamentou. 
- Isso se ele souber, né. Talvez Tony nem fale. – Peter retrucou e deu um gole em sua Pepsi. 
- Você está bem, Steve? – Bruce perguntou me encarando seriamente. 
- Estou. Só estou meio cansado por tudo o que aconteceu. – Respondi simples.
- É o dia hoje foi bem cheio. – Bruce falou e suspirou. 
- E o Bucky? Ele não quebrou a cara do Thor dentro da sala da direção? – Peter perguntou curioso. Suspirei cansado (e triste). 
- Não. Ele conseguiu se controlar bastante, permaneceu quieto. Afinal, não tinha porque ele ficar revoltado, ele não fez nada além de defender eu e Tony. – Respondi. 
- Defender você, né. Porque antes de tu se meter ele não estava nem aí pra confusão. – Peter falou. Me mantive quieto. Não queria falar nada sobre aquilo. Sobre Bucky. 
- Graças a Deus ele não bateu em Thor. Bucky já tem problemas o suficiente pra ter que lidar com a arrogância de Odin. – Bruce falou sério. 
- Mas bem que o Thor merecia uma surra daquelas. Com direito ao braço de biônico. – Peter falou e encheu a boca de comida.

Quando o sinal soou, nós levantamos e saímos do refeitório assim como os demais alunos. Bruce e eu seguimos para o bloco C3 enquanto Peter foi ao bloco B. Ao chegar no bloco C3, Bruce e eu nos despedimos e fomos para nossas respectivas salas.

As aulas seguintes se passaram arrastando e eu não consegui prestar tanta atenção quanto queria. Estava pensando em tudo o que aconteceu desde ontem. Não conseguia parar de pensar em Bucky, no beijo que demos e no que ele falou hoje. Não posso acreditar que ele estava arrependido. Será que foi tão ruim? Por que eu me sinto tão mal com essa situação? Eu não gosto de Bucky, como Bruce disse uma vez, eu apenas sinto atração por ele.

Quatro e vinte da tarde.

A aula finalmente tinha acabado e eu fiquei mais um tempo na sala de aula, esperei todos saírem para que eu pudesse ficar sozinho um tempo. Por culpa da minha demora mandei uma mensagem para Peter e Bruce avisando (mentindo) que ficaria mais um tempo na escola para estudar física. Eles entenderam e foram embora sem me esperar.

Guardei meu material e saí da sala, caminhando pelo corredor já vazio da escola. Desci a escada e cheguei ao corredor onde ficava o meu armário e abri o mesmo. Guardei o que não usaria e peguei o que precisava. 
Ao chegar no estacionamento vi que estava vazio e agradeci por isso. Segui em direção meu carro e retirei a chave de meu bolso. Abri o carro e entrei, coloquei a chave na ignição, mas não liguei o automóvel. Coloquei minhas duas mãos no volante e abaixei minha cabeça, apoiando ali. Senti meus olhos arderem e apertei-os, reprimindo minha vontade de chorar, mas foi inevitável. Infelizmente, sou do tipo de pessoa emotiva e que chora fácil, as lágrimas rolavam por meu rosto e eu sentia uma dor inexplicável em meu peito, parecia que me faltaria ar há qualquer momento. Não queria ficar assim, não por Bucky. Não queria sofrer por ele, não temos nada um com outro, não somos nada um do outro. Mesmo sendo colegas de classe, ainda somos meros estranhos um para outro. Estranhos. Apenas isso.