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O teto, olhava para o teto como se ele não estivesse ali, como se nem existisse. Já havia perdido a conta de quantas vezes virou-se na cama, de quantas vezes fechou os olhos e tentou dormir. No final, o teto era o único lugar para onde conseguia olhar; talvez porque fosse branco e sem distrações, talvez porque fosse fácil associá-lo ao nada, ao vazio.
Aquela maldita angústia, ela não lhe saia do peito, não lhe deixava em paz, não lhe deixava pregar os olhos, não lhe deixava esquece-lo. A tempestade havia acabado, a montanha-russa havia parado e o labirinto desaparecido. Ele estava longe, podia sentir a distância, parecia ser quimométrica.
No final das contas, o teto representava bem o que estava sentindo; vazio.
Você não vai fazer isso comigo vai? O seu silêncio... me enlouquece.
Silêncio, era exatamente assim que seu sentido estava; em completo silêncio. Sem ele seu sentido praticamente não existia e com isso voltava a estaca zero. Voltava a ser o que era antes de conhece-lo, um garoto normal, com sua vida normal e seus problemas normais. Não precisava mais acordar se preocupando com as peças que Saiko iria lhe pregar durante o dia e também não precisava mais se preocupar em ser atacado por ele durante a madrugada, não precisava mais se preocupar em ter seu celular complemente desconfigurado e com o idioma alterado, não precisava mais se preocupar em ser agarrado repentinamente por ele e ser sufocado por seus beijos, não precisava se preocupar com mais nada disso afinal ele não estava mais por perto.
Todo esse tempo e não havia se dado conta de quão intensa era a influência dele em sua vida; se preocupou tanto em rechaça-lo, em manter sua sanidade e resisti-lo, em ignorar e boicotar seus próprios sentimentos, em não aceitá-lo e em rejeitar o que ele era pelo simples fato dele não fazer parte do que julgava ser comum, do que julgava fazer parte de uma vida real; que se esqueceu do quão fascinante poderia ser a façanha de desvendá-lo; por medo do desconhecido ou pelo temor da loucura, por ser julgado, taxado ou qualquer outro motivo do qual nem sabia mais se fazia tanto sentido assim, deixou de vivenciá-lo, deixou de experimentar do seu encanto.
E como achá-lo? Não tinha o número dele, nem o endereço dele, nem nada dele. Não sabia nada sobre ele. Como pôde? Como pôde ignorar esse fato? Como pôde ignorá-lo esse tempo todo? Era um imbecil, um completo imbecil. O que poderia fazer então? Subir no telhado e se jogar de novo? Dessa vez muito provavelmente iria de cara no chão, porque não havia mais ele para salvá-lo da consequência daquela idiotice. Chegou à conclusão de que a ausência dele era o pior dos tormentos.
Virou para o lado ignorando o teto, sentia seus olhos pesados mas, o sono não vinha. Àquela altura, já havia perdido a noção do tempo, a noção de tudo. O quarto estava escuro porque a janela estava fechada e a cortina tampava toda luminosidade que pudesse entrar, seu celular estava desligado e perdido por algum canto de seu quarto. Nada disso importava, só queria acalmar sua mente, só queria fazê-la entender que não deveria mais pensar nele.
De repente, o silêncio incômodo foi quebrado por passos vindos do corredor, para logo então, a porta se abrir.
Tawan: YCARO!!
Havia um pouco de raiva em sua voz.
Tawan: Doido, eu tô muito puto!! Por que tu não atende a porra desse celular?!
Reclamou Tawan sem ao menos se importar se Ycaro estava acordado ou não.
Tawan: Tu sabe doido? Tu sabe que horas são?
Resmungou ele indo até a janela, afastando as cortinas e deixando-a completamente aberta. Imediatamente a claridade vivaz e quente do sol inundou o quarto, fazendo Ycaro apertar os olhos.
Tawan: Olha pra tu doido! Tu nem dessa cama levantou ainda!
O loiro apenas ouvia. De costas para Tawan evitava olhar para a luz irritante que entrava pela janela.
Tawan: QUINZE MINUTOS!! Faltam quinze minutos pra aula começar e você tá aí!
Respirou fundo e apertou as têmporas.
Tawan: Eu te liguei ontem e tu não me atendeu, te liguei CINCO VEZES hoje e tu também não me atendeu. Tu pode ter certeza que se eu não tivesse a chave da tua casa, a uma hora dessa estaria cheio de polícia lá embaixo.
Ycaro: ...
Não houve resposta.
Tawan: Doido...
Tawan se aproximou e sentou na beirada da cama.
Tawan: O que tá pegando? Tá um dia lindo lá fora! Levanta daí e vamos pra aula, vamos sair!
Ycaro: ...
Tawan: Ycaro... Olha pra mim. Não me deixa falando sozinho doido.
Ycaro virou-se e o encarou. Seu olhar estava amargo, olheiras fundas lhe rodeavam os olhos, não havia uma expressão boa em seu rosto. Tawan murchou ao vê-lo daquele jeito, era como se o tempo tivesse fechado. Sentiu-se culpado por tê-lo deixado tanto tempo sozinho.
Ycaro: Pode ir. Eu não vou.
Tawan: Então, eu também não.
Ycaro: Vai Tawan... Por favor. Vê como o Meiaum está...
Tawan: O Meiaum tá bem, com certeza melhor do que você.
Respondeu um tanto irônico.
Ycaro: ...
Tawan: De madrugada entrei no server pra jogar e ele tava lá. Até brigamos.
Disse Tawan rindo da última fala.
Ycaro: ...
A verdade era que Ycaro não queria saber de Meiaum.
Ycaro: Então, pelo menos... Pra saber o que vai ter e tu pegar um livro pra tentarmos fazer o trabalho.
Tawan: Hm... É verdade doido, ainda tem aquela bagaça pra gente fazer... Tá bom. Eu vou. Mas, só se tu me prometer que quando eu chegar tu vai sair comigo.
Ycaro: Eu saio.
Respondeu sem pensar. Tawan sorriu e levantou-se caminhando em direção à porta.
Tawan: Tu vai ficar bem não vai?
Ycaro: ... Vou.
Ycaro sabia que não era tão fácil assim.
Tawan: Até mais doido.
Ycaro: Até...
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