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História Mistérios - Praia


Escrita por: Kach

Capítulo 47 - Praia


Eren aguardou próximo a porta vendo August colocar com delicadeza o corpo do filho na cama e o acomodar o mais confortável possível, enquanto Kushel se pôs ao lado de Levi lhe fazendo um cafuné não querendo afastar-se dali. Kenny estava ao lado de Eren, mas apenas levou uma mão no ombro do rapaz em um gesto de carinho e saiu dali para se sentar na sala, pois estava cansado. 

August observou alguns segundos a esposa sussurrar algumas palavras para Levi continuando aquele cafuné, exatamente como fazia quando aquele homem era apenas o seu pequeno Levi. Certas coisas realmente não mudavam, e essa era uma delas.

Aproximou-se de Eren com um meio sorriso aliviado e o deu um bom abraço que não foi recusado pelo mais novo. Nem mesmo aqueles braços fortes quase o deixando sem ar e que no início o fez ter um medo absurdo do sogro o fez negar aquele carinho. 

- Agradeço que você apareceu na vida dele e trouxe consigo tantas coisas boas.  — Disse em um tom baixo para o genro sentindo a testa dele apoiar-se em seu ombro igualmente aliviado por estarem bem e todos juntos novamente. Na frente de Levi teria que se manter forte, pelos dois, mas ali com ele dormindo enquanto o homem dormia e ele próprio recebia aquele abraço achou justo mostrar seu lado quebrado. — Sempre torci que alguém aparecesse e estou orgulhoso de que seja alguém como você. És gentil, amável e sabe ser rígido quando precisa… Desde aquela ligação que atendeste todos nós sabíamos sobre aquela amizade estranha que tinha com meu filho, então quando te vi com aquelas sacolas de comida na porta desse apartamento eu senti meu coração muito aliviado… Aliviado por ver que você era uma pessoa boa e que se preocupava com meu filho. Preocupava-se a ponto de trazer até comida e cozinhar para ele quando não sentia qualquer vontade de comer… Desculpe se no início fomos um pouco assustadores a ti, juro que nunca foi nossa intenção, estávamos apenas curiosos sobre você e queríamos mais da sua presença. Estou muito feliz com esse relacionamento de vocês, muito mesmo. Gostamos imensamente de ti, Eren.

August sentiu a camisa molhar-se um pouco no local que Eren estava com o rosto apoiado e franziu a testa assustando-se com aquilo.

- Te apertei demais e estou te machucando? — Perguntou preocupado afastando-se um pouco do corpo de Eren tentando procurar qualquer sinal de dor. — Deus, eu realmente preciso controlar-me nesses abraços… — Levou o polegar até a bochecha corada dele para limpar uma daquelas que escorriam naqueles olhos verdes não entendendo o motivo, mas queria o consolar. Claro que vê-lo chorar e manter aquele sorriso grande nos lábios o deixava confuso. — Eren, você está bem? Sério, está me preocupando, não quebrei suas costelas, certo? Merda, tenho mesmo que parar com isso...

- Não estou com dor… É que, você é tão bom com as palavras. — Disse um tanto embaraçado enquanto tentava limpar as bochechas com uma das mãos não quebrando aquele abraço com o sogro que sorriu em resposta mais aliviado. — Eu estou feliz, um pouco invejado também, pois… — Desviou o olhar para observar Kushel e Levi daquela maneira carinhosa, mesmo que o professor estivesse apagado há tempos e nem soubesse da presença da mãe ao seu lado. — Minha mãe é uma pessoa incrível e eu a amo imensamente, mas meu pai… — Engoliu a saliva um tanto desconfortável por estar expondo aquilo em voz alta, principalmente para o sogro. — Bem, nunca tivemos uma relação sequer parecida com essa que tu tens com o Levi… Tuas palavras me fizeram bem, aqueceram meu coração e estou só emocionado… Não me machucaste, acho que você seria incapaz de fazer mal a alguém de qualquer forma. — Mais um sorriso carinhoso para o mais velho que estava se segurando para não o abraçar mais uma vez e apertá-lo contra seu corpo. — Sim, no início tive um pouco de medo de vocês, mas durou pouco tempo, pois logo já vi que eram pessoas incríveis. E fico muito feliz que gostem de mim, pois no início eu tinha medo de que… bem, vocês não me achassem suficiente para o Levi… Ele é formado, trabalha e eu… Sou só um estudante, então pensei coisas...

- Oh, garoto, não sou seu pai, mas és da minha família agora, pode me considerar quase um pai postiço, pois torço muito pelo seu sucesso e felicidade. — Puxou-o para mais perto agora aliviado em saber que poderia apertar Eren sem que o machucasse. Era nítido que o genro precisava de carinho, então o daria, sabia que Kushel logo também faria questão de o dar bons abraços, então adiantaria sua parte naquilo. — Você é um homem muito bom e que tem um futuro maravilhoso o aguardando, Eren. Seu pai é um idiota por perder isso perto de ti, mas não fique com essas coisas na cabeça, tem muitas pessoas que gostam de você. Nosso Levi, eu,  Kushel, e bem, Kenny é complexo e finge que odeia todos, mas é uma manteiga derretida com a família e tu vais ver quando ficar mais próximo que é um cara legal e que fará de tudo para te proteger se necessário. Basta ignorar o humor peculiar e vão se dar bem. — Eren concordou movimentando a cabeça, afinal já estava observando aquilo vindo do policial barbado. Ouvir as palavras carinhosas de August o fazia ter vontade de chorar ainda mais, afinal eram palavras bonitas de amor e também estava aliviado demais por ter Levi vivo e relativamente bem. — Pixis é quase um irmão para mim, e desde aquela sua ligação também gostou de ti e ao te conhecer ficou feliz em saber que eras tu que namorava o afilhado dele. Ouvi até alguns elogios recentemente após você ter ganhado de nós nas cartas. És bem vindo na nossa família, Eren. Vejo que és uma pessoa esforçada e que luta por seus objetivos, nunca que seria contra ou te acharia insuficiente.

- Acho que vou me afastar de ti, não quero chorar igual uma criança no teu abraço, mas agradeço muito suas palavras. — Afastou-se um pouco e viu uma concordância feliz de August observando ao fundo a esposa vindo na direção dos dois. —  Sou grato pela presença do Levi também, pois ele me trouxe diversas coisas boas e outras que nunca pensei que sentiria ao lado de alguém. Realmente minhas intenções com aquele baixinho estressado são as melhores… — Sentiu o braço da sogra segurar em sua cintura e apoiar a cabeça em seu corpo com certo carinho. Não a afastaria, precisava daquele carinho materno e já que sua própria mãe estava longe aceitava o de Kushel. — No dia que os vi pela primeira vez nunca pensei que estaríamos assim um dia, pensei em tantas tentativas de fuga…

- Eu percebi e até fiquei com dó. — Kushel o disse e apertou um pouco mais aquela mão na cintura de Eren o fazendo dar uma risada abafada por ter sido tão óbvio. — Suponho que meu marido já deva ter o enchido com aqueles discursos bonitos dele. — Viu uma confirmação risonha do rapaz de olhos verdes e um sorriso de August concordando com aquilo. — Não sou tão boa com as palavras, apesar de saber escrevê-las muito bem, mas tive um pressentimento desde que ouvi tua respiração batendo no celular do meu filho aquela noite que supostamente apenas tinha derrubado o celular. Levi nunca foi um bom mentiroso, ou talvez eu seja muito boa em sentir quando mente, não sei…  Fico feliz que seja você a pessoa que está construindo ao lado dele esses sentimentos bons e esse relacionamento bonito que tem um com o outro. Amamos você, rapazinho, e tenho vontade de apertar suas bochechas toda vez que te vejo de tão fofo que és.

- Bom, na realidade a senhora foi a culpada da nossa primeira briga quando ainda éramos bons amigos. — Admitiu e viu um olhar confuso de August a sua frente e um arquear de sobrancelhas vindo de Kushel para que se explicasse. — Bem, eu atendi e você começou a chamada falando sobre saudades do seu "amor", meio que fiquei bravo com a possibilidade… de… bem… — Gaguejou tentando não manter o contato visual ou ficar mais vermelho do que já estava, o que era impossível levando em conta que ambos os sogros estavam rindo de sua cara. — Você ser… Ah…

- Entendi. — Confirmou interrompendo aqueles gaguejos envergonhados do moreno tentando não gargalhar. Agora tudo fazia sentido, e era divertido para o casal saber daquela informação. — Ficaste com ciúme de mim.

- Eu sei que não deveria, porque teu contato está salvo como "Mãe" e era óbvio que seria você, mas eu não vi e fiquei bravo… Pelo menos foi com isso que começamos a ter certa exclusividade um com o outro, então agradeço a ti pela ajuda indireta que nos deu.

- Então fico feliz que teve ciúmes meus e que assim eu possa ter ajudado vocês a dar esse pequeno passo nesse relacionamento.

- Sei que eu deveria ser educado e deixar-te deitar-se com ele essa noite, é teu filho e entendo que queira, mas… — Coçou sua nuca bem envergonhado agradecendo a iluminação fraca, pois aqueles dois pares de olhos o encarando e aquela mão em sua cintura o apertando continuava a ser intimidador e até o deixava bem embaraçado. — Não queria ficar longe dele e… Bem, não é algo que ele gostaria de falar em voz alta ou sequer queria que alguém soubesse, mas Levi pediu que eu ficasse ao lado dele, pois, ele não quer demonstrar o quão bagunçado ficou com o que sofreu… Mas, eu sei que está e quero ajudá-lo nisso, da mesma forma que sempre fiz ao lado dele...

- Claro, meu amor. — Levantou-se um pouco para o deixar um beijo na bochecha com extremo carinho. — Eu, August e o Kenny nos viramos, já não íamos te pedir para ficar longe sem o pedido e se o Levi pediu a ti que ficasse por perto, agora sou eu que peço para que faça isso e o deixe bem enchendo meu menino de carinho, pois ele merece.

- Obrigado. — Agradeceu e sentiu mais alguns beijos em sua bochecha e testa, sorriu novamente agradecendo aqueles gestos de carinho.

Despediu-se deles murmurando um "boa noite", não sem antes apontar para o local que encontrariam as coisas necessárias para o pequeno acampamento que fariam na sala. Ao ficar apenas com Levi ali, deitou-se ao seu lado escutando aquelas respiração agitada, pálpebras apertadas e aquela mesma feição que lembrava-se de ver toda noite quando estava se livrando aos poucos daquele vício nos remédios. Cobriu-se e aproximou seu corpo no dele observando atentamente aquele rosto, roçou seu nariz naquela bochecha e o sono veio facilmente.

Ao acordar murmurou uma reclamação baixa, pois queria mais daquele sono agradável abraçando o namorado, mas entendia que tinha obrigações. Diante disso, abriu os olhos incomodado com a claridade e viu que Levi já estava acordado fitando fixamente um ponto qualquer daquele quarto, tão absorto em seus próprios pensamentos que nem percebeu que Eren havia acordado. 

- Bom dia, meu amor.

O moreno moveu-se alguns centímetros para deixar um beijo em sua bochecha, foi aí que viu Levi piscar saindo daquele transe e finalmente retornar ao mundo.

- Não me contou muito sobre ontem e nem quero te forçar. Odiaria saber que te trouxe memórias dolorosas, mas se quiser falar sobre o assunto estou aqui. — Mais um selinho carinhoso naqueles lábios entreabertos que não fazia qualquer esforço de o afastar ou sequer aprofundar. — Só não quero ver-te sofrendo sozinho, quero que partilhe isso comigo e vamos vencer juntos, estou do teu lado. Amo-te demais e não quero te ver assim. Conte comigo para tudo, Levi. Quando se sentir confortável para conversar estarei aqui para dar-te suporte, mas não guarde tudo para si, amo-te.

- Ele me drogou. — Esclareceu fechando os olhos por alguns segundos como se admitir aquilo fosse difícil demais e não conseguisse dizer olhando para os de Eren ou enquanto recebia aqueles beijos. — Eu não sei o que era aquilo, mas ainda sinto no meu corpo, por isso estou fraco e com tanta dor, era algo sobre aumentar as sensações dolorosas ou algo assim… Eu simplesmente odeio que minha vida sempre gira em torno disso: Remédios e morte.

- Shhhh. — Soltou o ar pelos lábios pedindo que não falasse aquelas palavras. Procurou a mão de Levi por baixo do cobertor e quando a encontrou sentiu aqueles dedos mais gélidos que o normal, mesmo assim os apertou e trouxe para perto. — Não fale assim, você desistiu de lutar contra aquele vício no medicamento?

- Não, Eren, não desisti. — Respondeu com certo cansaço mantendo a voz baixa em quase sussurros, um pouco era pela cabeça que latejava dolorosamente e também por não querer que a mãe nem o tio escutassem sobre aquela dependência que teve. Para o pai já não era uma novidade. — Ele tentou me forçar a tomar aqueles mesmos comprimidos, mas eu resisti e cuspi tudo. Lembrei-me de ti todas aquelas noites me abraçando, beijando-me e dizendo que tudo ficaria bem… Se eu engolisse aquilo estaria decepcionando a ti e, principalmente, jogado todo aquele seu esforço no lixo. Assim como o meu, pois… Foi difícil e eu me livrei deles, não iria retornar e nem quero, tu és um remédio melhor… E então o Nile injetou alguma coisa em mim e eu simplesmente me sinto horrível por dentro… 

- Então vamos passar por isso também, estou aqui do seu lado e…

- Foi horrível Eren, eu só conseguia torcer que você estivesse bem e que meu pai chegasse, eu me senti a pessoa mais inútil do mundo por estar preso e não conseguir me defender sozinho… — O tom de voz quebrado era evidente ao dizer aquelas palavras e Eren entendia ligeiramente o sentimento, afinal quando Nile o tinha pego sentiu-se mal por um tempo e agradecia a presença de Levi o abraçando durante a noite. Obviamente era incomparável aquele episódio desse que Levi sofreu, mas faria a mesma coisa com o namorado enchendo-o de carinho e amor sempre que pudesse. — Eu que sempre fui bom no que fazia simplesmente não tinha ação, minhas pernas estavam amarradas, minhas mãos algemadas tão apertadas que até mover os dedos me doía… 

Eren beijou mais algumas vezes aquela bochecha não sabendo responder exatamente aquilo que ouviu.

- Vamos à praia na próxima semana, eu preciso me sentir limpo. — Disse em um tom que não deixava qualquer opção a Eren a não ser aceitar, só não sabia ainda se era mesmo uma boa ideia irem a um lugar assim tão cedo. — Eu sei que estou mal, tive um sono péssimo apesar de sentir você abraçado em mim e às vezes parece que eu só estou com o corpo presente porque minha mente está viajando, mas sei que vou superar isso com certo tempo, desde que você esteja perto de mim. Acho que um banho estúpido no mar e tua companhia em um final de semana sem qualquer preocupação vai melhorar toda essa bagunça que estou sentindo dentro de mim.

Eren concordou, ou quase isso, apesar de estar reticente em aceitar aquilo. Diante disso, moveu-se apenas para depositar alguns beijos calmos nas bochechas do namorado e não foi afastado, apesar de habitualmente quando fazia isso recebia algum soco e uma reclamação de que era meloso demais para um hora tão pequena do dia. Deixou apenas um selinho rápido nos lábios para se levantar, passou por cima de Levi para ficar do outro lado da cama em frente ao namorado. O viu retirar aquele cobertor com certo esforço sentindo os músculos ainda fracos, mas bem melhores que na noite passada.

- Suponho que sua família já esteja acordada, então quer ir para a sala ou continuar aqui deitado? Te trago um café se a sua resposta for a segunda opção.

- Não sou um inútil, Eren, posso buscar o meu próprio. — Disse seriamente para o mais novo tentando se levantar com certo cuidado, tirou as pernas para fora da cama e inclinou se um pouco para conseguir sentar, apoiou ambas as mãos no colchão para obter certo impulso e então conseguiu o que queria. Imediatamente levou a mão até a testa a apertando e fechando os olhos, em seguida sentiu Eren o abraçar contra seu corpo para o dar aquele equilíbrio. — Merda… Estou… Com tontura…

- Seu corpo está fraco, não se alimentou direito, precisa beber água, tomar os remédios que foram receitados e espero que algum deles tenha ido comprar, se não eu vou agora mesmo… — Interrompeu-se de continuar a falar ao sentir aqueles braços rodeando sua cintura apertarem com força, Eren notou com felicidade que aos poucos Levi estava retornando a aqueles abraços possessivos, ou seja, estava melhorando. 

- Fique mais um pouco… — Murmurou apertando sua testa contra o peito dele mantendo os olhos fechados. Podia sentir o perfume de Eren naquele moletom e agradecia o presente, pois o manteria no corpo para lembrar-se de sua presença enquanto estivesse longe. — Você é mais reconfortante que os remédios, não precisa os comprar. Depois eu deixo você ir para a Universidade, mas fica mais um pouco aqui dessa forma comigo…

- Tua mãe e o seu pai não merecem alguns desses também? — Perguntou-lhe não se afastando, nem se Levi o obrigasse a largá-lo iria deixar de o abraçar e beijar em todas as oportunidades que tinha. Então, com aquele pedido dele não restava outra opção a não ser duplicar aqueles gestos de carinho que Levi sempre foi tão reticente em ficar aceitando. — Vão ficar invejados se só eu receber...

- Claro que merecem, mas você logo irá embora, então preciso aproveitar… — Respondeu agradecendo estar com o rosto escondido no peito de Eren, pois deixou que um sorriso pequeno ganhasse espaço em seus lábios. — Eles vão ficar por aqui o dia todo, então temos tempo para isso.

Ficaram mais um tempo naquele abraço enquanto Eren depositava alguns beijos no topo daquela cabeça e apertava aquele moletom com seus dedos querendo trazer Levi ainda para mais perto de seu corpo, mesmo que estivessem grudados. E iriam ficar mais um bom tempo se aquela porta não estivesse sido aberta por alguém, Eren imediatamente moveu seus olhos agradecendo que estivessem apenas em um abraço e não em beijos, pois aí sim ficaria mais envergonhado.

- Uh, parem de se agarrar, vou me traumatizar dessa forma. —  Kenny disse apoiando a mão na maçaneta da porta olhando com certa diversão para Eren que adotava aos poucos aquela cor avermelhada em seu rosto. — Ouvi vozes, então vim me certificar que… Estava tudo certo ou precisava interferir, mas, hum, vejo que está tudo bem, bem até demais para o meu gosto...

Levi afastou seu rosto do peito de Eren não quebrando abraço, apenas o suficiente para lançar um olhar de desagrado para o tio que não estava conseguindo disfarçar o sorriso ao vê-los daquela maneira, principalmente aquelas bochechas coradas de Eren.

- E o velhote esqueceu-se da educação para entrar sem bater? Meus avós estariam decepcionados em saber que um dos filhos se tornou tão mal educado.

Kenny estreitou seus olhos, pegou o pingente do colar militar que tinha no pescoço e o levou até os lábios em um gesto automático de carinho que tinha sempre ao lembrar dos pais.

- Vai mesmo falar assim com seu velho tio? — Forçou uma voz magoada guardando o colar para dentro da camisa mais uma vez falsamente entristecido. — Estou decepcionado, garoto… 

- Sai da frente, Kenny. — Kushel disse atrás do seu corpo impedida de entrar no quarto do filho por culpa do irmão. Admitiu que poderia finalmente ver o filho acordado e o dar ainda mais carinho, então era isso que faria. — Não me faça te bater para que pare de encher meu filho com suas idiotices. Sério, és um chato desde que éramos crianças.

- Desde quando vocês começaram a me odiar? Pois desde ontem estão só pegando no meu pé. — Disse falsamente incomodado e chateado afastando-se um pouco da porta para liberar espaço para a irmã. — Tch, mimada insuportável...

Contrariando as palavras "bravas" Kushel estava com um sorriso e levantou-se um pouco para deixar um beijo delicado na bochecha barbada que revirou os olhos e cruzou seus braços falsamente decepcionado com aquela atitude e reclamações, já que não tinha feito nada demais para as merecer.

- Eu vou esmagar os dois em um abraço. — Disse séria olhando o filho ainda abraçar Eren, o qual estava com as bochechas bem avermelhadas enquanto Levi apenas os olhava pedindo silenciosamente que agissem o mais normal possível não agindo dessa forma melosa com ele..

A ameaça foi realizada, mas nenhum dos dois homens se afastou ou a impediu que fizesse isso. Obviamente após algumas segundos Eren quebrou aquilo para que a mulher pudesse abraçar apenas o filho, via a necessidade dela naqueles olhos cinzentos em verificar se Levi estava mesmo bem como tentava aparentar. Kenny ainda os observava com um pequeno sorriso no rosto satisfeito de ter conseguido chegar a tempo com August e Farlan para salvar o sobrinho. Não saberia como viver com o fardo de ter falhado, não queria ver a irmã triste e até ele próprio com o coração apertado por enterrar aquela pessoa que amou desde o dia que soube da existência.

- Mamãe vai logo comprar a lista de remédios que teu pai me entregou, mas fiz um café maravilhoso e pode tomar enquanto me espera. — Disse baixinho apertando aquele corpo menor contra o seu lembrando-se exatamente de quando ainda conseguia levantar o filho no colo. Se pudesse era exatamente isso que faria naquele momento, mas aceitava apenas o abraço e aquele beijo dele em sua bochecha sinalizando que estava bem. — Suponho que o Eren deva ir à universidade, mas acho que teus pais e seu tio sejam bons substitutos.

- Tch, parem de me tratar como uma criança.

Depois de trazerem Levi para o sofá da sala o deixando o mais confortável possível tomaram café juntos, Eren mantendo os olhos fixos no namorado a cada oportunidade que tinha enquanto conversava com os três mais velhos.

A contragosto saiu daquele apartamento para ir à universidade, ignorou alguns comentários sarcásticos de Kenny, sorriu em direção de August e Kushel agradecendo os abraços e dando bons beijos em Levi para que fosse suficiente por aquelas horas longe do policial, mesmo que o homem estivesse com os olhos estreitos o pedindo silenciosamente para que parasse com aquilo. Definitivamente estava com o peito bem mais aliviado, lembrou-se de mandar algumas mensagens para Zeke que estava desesperado por notícias, logo as viu sendo visualizadas e algumas outras bem mais tranquilas.

Eren sentou-se naquela cadeira, deixou o celular em seu campo de visão olhando para aquela tela e falta de notificações com certo nervosismo. Queria ter faltado e ficado deitado naquela cama fazendo um cafuné e enchendo Levi de beijos, mas sabia que no meio tempo que estivesse fora os pais e o tio fariam um bom trabalho. Não demorou muito tempo para receber alguns "bom dia" dos amigos e até alguns colegas. Berth estranhou aquele ar longínquo e o beliscou algumas vezes no braço para ver se de fato ele estava desligado, teve sua confirmação ao ver Eren pouco se importar com a dor. Armin franziu a testa e olhou diretamente para os olhos verdes atraindo finalmente sua atenção.

- Bom dia.

- O que houve? — Perguntou tão frontal que fez Berth arregalar os olhos em um pedido silencioso de que fosse mais gentil enquanto Jean concordou que era a melhor forma de obter informações. — Está aéreo, não participou das nossas conversas ontem e ao menos visualizou. O que houve?

- Ah, o Levi está machucado… — Respondeu dando um sorriso cabisbaixo olhando para aquela escura novamente. Abriram a boca surpresos entendendo o lado do amigo, tinha razão em ficar daquela forma. Preocupavam-se também com o professor e agora quase amigo. Parecia ser grave para deixar até Eren daquela maneira. — Não é algo que eu queira ficar falando e acho que nem ele, então, vamos enterrar o assunto. Ele está bem, ok, um pouco quebrado e ontem eu até tive que ajudar no banho, pois não tinha forças, mas… — Respirou fundo interrompendo-se por alguns segundos não querendo ver aquelas expressões chocadas e preocupadas imaginando o quão ruim aquele homem estava a ponto de não conseguir nem tomar um banho sozinho. Entendiam completamente a preocupação e estado de Eren. — Ele vai ficar bem, só precisamos de alguns dias e tudo vai voltar aos eixos...

- Ele sai dessa, relaxa. — Jean levou uma mão no ombro do amigo e apertou com certo carinho lhe direcionando um sorriso de conforto afastando-se novamente.

- É, o cara é bom. — Berth concordou  em um aceno positivo igualmente sorrindo. — Lembro até hoje da luta dele com o Diego, se aquilo foi ele pegando leve não quero mesmo presenciar quando estiver puto. Ele é forte, vai logo ficar bem de novo. Se quiser desabafar e nos usar para lamentações estamos aqui, gostamos bastante desse casal estranho que vocês são. Conte conosco para o que precisar. 

- Parem, por favor, eu vou chorar… Já chega o August falando aquelas coisas ontem e a Kushel, apenas parem. — Pediu fechando os olhos quando Armin abriu a boca para falar algo em conforto também. — Ou eu que sou um chorão ou todos desde ontem falam essas coisas tão… boas que me emocionam. Talvez eu só esteja aliviado demais por ele ter voltado… Não sei, eu não quero ficar chorando pelos cantos, mas é impossível não fazer isso… 

Ainda de olhos fechados sentiu o peso de uma mão bagunçando seus cabelos, enrijeceu o maxilar e apertou os olhos agradecendo o carinho que sabia exatamente que era Berth. Ao abrir novamente os olhos os viu sorrindo e logo iniciaram assuntos aleatórios para que Eren não ficasse fixo naqueles pensamentos e olhando a cada cinco segundos para o celular.

Depois de alguns minutos viu Mia se aproximando com uma expressão pesada no rosto, talvez preocupação, Eren não sabia exatamente definir. Abaixou-se ao lado da carteira dele sob o olhar atento do moreno e também de seus amigos.

- Ahn, eu simplesmente não sei como começar a falar um negócio desses. — Disse em um tom baixo olhando para Eren, mordeu os lábios e logo continuou. — Eu soube do Levi… Ele está bem? — Eren deu um aceno positivo não querendo se aprofundar naquelas palavras dizendo sobre os cortes, sobre a cabeça e muito menos aqueles tremores nervosos pós traumáticos que o namorado estava tendo. Mesmo com pouca informação foi o suficiente para Mia suavizar a expressão bem mais relaxada. — É, eu admitia que ele estava… Mas não vim atrás de ti para isso, preocupo-me com ele, mas… Enfim, ah, sabe me dizer se o Kenny estava por lá?

- Sim, estava. — Concordou entendendo perfeitamente o que todas aquelas perguntas significavam. — Ele foi com o August ajudar… Enfim, depois dormiu lá no apartamento do Levi, quando saí ele estava ainda, e acho que hoje vai ficar… Apesar de não aparentar ele é bem superprotetor, então estava os três em cima do Levi quase como cães de guarda. Levi reclamou, mas sei que é agradecido por aquilo… 

- Certo, me alivia saber disso, pois acredita que ele simplesmente esqueceu-se de avisar minha mãe?! — Perguntou desacreditada para Eren com a testa franzida. O moreno deu um sorriso realmente divertido, de fato aquela família tinha na genética, além da teimosia e apreço por armas, o esquecimento de avisar coisas importantes. — Até pensei que ele estava jogado em qualquer canto desfigurado… Minha mãe, ela está na cidade, pois admitiu que ele estaria pela região após conseguir algumas informações com uns conhecidos da Polícia, então… 

- Queres o endereço do Levi para que ela vá ver o Kenny. — Completou e mais uma vez viu um aceno positivo. — Claro, admito que queria ver isso pessoalmente, mas bem, meu namorado é um pouco fofoqueiro às vezes, então tenho certeza que me contará depois. — Recebeu o celular dela em mãos e tratou de digitar as informações necessárias para que a mulher encontrasse o prédio e também o número do apartamento. — A diga que é melhor bater antes de entrar, porque aqueles lá resolvem tudo com violência, bem capaz de fazerem merda e depois olharem com surpresas dizendo: "Oh, atirei sem querer nela, o que eu faço? Hum, vamos deixá-la ali, depois resolvo". De resto, sem preocupações, com certeza ele deve estar por lá.

- Obrigada, Eren.

A mulher não seguiu o conselho da filha em aguardar na porta para que alguém abrisse-a. Apenas entrou após confirmar que estava no local certo e caminhou a passos firmes até chegar naquela espaçosa sala e encontrar Kenny em pé que logo paralisou a olhando, Levi sentado no sofá esticado com o celular em uma das mãos e August ao lado do filho passando carinhosamente os dedos na perna dele em uma massagem relaxante. 

Estranharam a presença daquela figura feminina de feições bravas, principalmente August que não a reconhecia, mas ao ver o olhar nervoso do homem barbado que deixou o peso do corpo em uma das pernas soube exatamente quem era. O filho levantou uma mão rapidamente em cumprimento e a mulher sorriu em sua direção, logo fechando sua expressão em seguida mais uma vez.

- Hum, o que estás fazendo aqui? 

- Esse não é o foco principal da conversa que temos que ter. — Dispensou brava nada incomodada com aqueles olhos cinzentos frios que boa parte das pessoas temia, ela era imune a eles. E perante aquela mulher eles não apresentavam assim tanta frieza e sim um brilho bem peculiar. Talvez amor ou receio, talvez ambos misturados. — Esqueceste que sou a merda de uma juíza e consigo descobrir tudo?! As informações sempre chegam aos meus ouvidos, Kenny, sempre.

- Óbvio que não. — Dispensou, apesar de internamente estar a chamando de enxerida por descobrir sobre tudo. Talvez ouvisse alguma coisa sobre os tiros que deu em Nile e não queria o olhar de decepção dela como das outras vezes quando se empolgava nas missões, então controlaria sua língua. — Então, hum, qual é o foco da nossa conversa?

- Ou melhor, que sou a sua namorada e você poderia, sei lá, mandar um: "Oi, estou bem, não se preocupe, logo retorno"?! Mas que merda tens na cabeça?! — Perguntou brava para o homem barbado que apenas focou-se em olhar naqueles olhos dela para que mantesse a calma na frente de tantas pessoas. Não queria mesmo dar o divertimento a aqueles dois com a cena de ser estapeado. — Simplesmente some e quando eu descubro o irresponsável foi atrás do sobrinho sem ao menos avisar-me! Olhe sua idade, Kenny, por favor, já não tens idade para agir igual uma criança sem responsabilidade!

Naquele momento o clima estava tenso, pelo menos para um deles que ouvia atentamente aquelas palavras. Por outro lado, August e Levi olhavam para o outro homem nem escondendo os sorrisos esperando algumas explicações dele para a mulher. De todas as que imaginavam nenhuma sequer era parecida com o que estavam vendo: Kenny abaixar o olhar, coçar a nuca um tanto reticente e aceitando as reclamações como se as merecesse.

Atitude incomum para aquele homem.

- Desculpe. — Uma das palavras que muitas pessoas julgavam impossível de existir no vocabulário do policial, mas que a aquela mulher conseguia com extrema facilidade.

- Entendo seu lado, claro que deveria ter ido atrás do Levi, estou orgulhosa de ti por isso e se não fosse atrás dele eu mesma iria te bater para que se arrependesse disso, mas caramba, custava mandar um sinal de que estava vivo?! Me preocupo contigo, seu idiota! Desde ontem sem notícias, pensei tantas coisas ruins, mandei-te mensagem e ao menos lembraste que tem a merda de um celular!

- Não retorna a acontecer. — Garantiu lhe direcionando um sorriso torto em um sinal de: "Por favor, mulher, pode parar de me olhar assim?! Você me assusta às vezes" para a tranquilizar, mas não estava sendo tão efetivo. — Não entendo o motivo das reclamações, eu até fui cuidadoso. Eu até usei um colete, mulher! — Aquela defesa a si mesmo não foi minimamente eficaz, mas pelo menos gerou mais alguns sorrisos do sobrinho e do cunhado que não estavam o ajudando em nada naquela situação, apenas se divertindo às suas custas. — Estou sem ferimento nenhum e até levei a criança no hospital invés de… — Apontou para Levi e aquelas faixas ao redor do peito e braço logo cruzando os braços mais uma vez para que parassem de discutir daquela maneira. — Bem, aquelas coisas que tu sempre reclama quando faço e ignoro o hospital… 

- Reclamo com motivo, seu irresponsável. — Interrompeu séria e viu pelo canto do olho August concordar com a cabeça, pois tinha a mesma opinião sobre.

- Apenas esqueci-me de avisar você, pois… — Coçou a barba mais uma vez querendo que aquela tortura acabasse logo. Receber reclamações sozinhos era uma coisa, contornava com beijos e carinhos, mas agora na frente do sobrinho, do cunhado e talvez em breve na frente da irmã era uma coisa nova que não queria presenciar. — Acontece, você também esquece e estou quase sem bateria. Mas… Novamente: Não retorna a acontecer.

- É o que eu espero. 

- É, pelo visto não sou o único que tem uma queda por mulher brava, cunhadinho. — Disse com certo humor vendo a cena a sua frente apenas querendo que Kushel estivesse presente para visualizar seu irmão daquela maneira pedindo desculpas a alguém. Ignorou o olhar beirando ao assassino que estava recebendo para direcionar o melhor sorriso para a mulher com uma mão levantada. — Prazer conhecer-te! Sou o August, cunhado dele e pai do Levi.

Aceitou o cumprimento com um sorriso gentil enquanto ignorava ao seu lado o ar homicida que Kenny tinha adotado para si mesmo, mas ela como August eram imunes a ele.

- Na realidade já nos conhecemos anteriormente, August. — A voz agora adotava um tom bem mais agradável e com certeza muito mais morno do que aquele anterior que provavelmente utilizava em seus julgamentos. Ao ver a confusão naquele rosto sorriu mais uma vez soltando a mão.  — Lembra-se quando anos atrás fez uma ação social para estudantes falando sobre o curso de Direito? 

- Uou, claro que lembro-me! Sarah?! Deus, você está tão diferente, não velha, digo você está bem, mas diferente, ahh, não sei, desculpe… — Coçou sua nuca tentando ajeitar suas palavras, mas ouviu uma risada feminina baixa e mais um olhar sério de Kenny para parar de falar. — Desculpe pelo que disse e também por não ter lembrado de ti, faz tanto tempo... Fico feliz que estás agora na família e que possa fazer o bem nesse caso perdido que tenho como cunhado. Kushel ainda não sabe sobre o namoro, mas tenho certeza que irá adorar-te e os apoiar, logo ela chega e com certeza vai adorar você.

Kenny coçou sua barba um pouco incomodado com a ideia de ver Kushel entrando por aquela porta e encontrá-los ali. Engoliu em seco e deu uma tossida forçada para chamar a atenção.

- Bem… Já que está aqui podemos ir embora, sabe, sairmos ou algo do tipo… — Adotou um tom de voz morno querendo a convencer para que saíssem dali o quanto antes. — Quer comer alguma coisa? 

- Não está em posição de mandar em nada ou sugerir coisas hoje, Kenny, seu direito de falar foi negado e peço que fique em silêncio antes que sua situação ruim piore ainda mais. — Disse autoritária utilizando aquele mesmo tom de voz tão comum em seu tribunal que usava com criminosos e advogados insuportáveis. — Ficaremos aqui e enfim irá me apresentar a sua irmã. Acho que mereço isso após surtar pensando que o estúpido do meu namorado tinha sumido.

- Já disse que não retorna a acontecer. — Rosnou em desagrado desviando o olhar para uma parede qualquer por continuar a ouvir a mesma reclamação. — Se eu descubro quem te falou que eu estava aqui…

- Foi o Eren, amigo da minha Mia e consequentemente namorado do seu sobrinho. — Esclareceu com a postura de: "Agora que sabe o nome vai fazer o quê? Nada. É, admiti que fosse isso mesmo".

- Lembre-se que para tocar com um dedo nele terá que passar por mim antes. Tenho certeza que mesmo quebrado arrumo forças para defendê-lo. — Levi disse na direção do tio em tom de ameaça estreitando seus olhos, mesmo que por dentro estivesse rindo sabendo que o mais velho não faria nada na direção do moreno. — Você é meu tio e sabe que, infelizmente, amo você, mas toque no meu pirralho e eu quebro-te inteiro.

- Quem está ameaçando meu genro? — Uma outra voz feminina se sobressaiu a aquelas para a desgraça completa de Kenny.

O homem engoliu em seco e virou-se para ver a irmã com um olhar severo querendo a confirmação de que tinha ouvido direito o que o filho tinha dito enquanto entrava com aquela sacola de remédios em mãos. Kushel surpreendeu-se um pouco pela presença nova naquela sala, mas ao ver a mulher procurar a mão de Kenny para entrelaçar seus dedos nos dele e não ser afastada sorriu orgulhosa entendendo exatamente o que significava.

- Ameaçando? — Kenny repetiu com uma expressão confusa e completamente inocente para a irmã que olhava fixamente para aqueles dedos entrelaçados surpreendendo-se um pouco ao ver o irmão fazer certo carinho com o polegar. — Ninguém, oras, alguém conseguiria ameaçar aquela criatura… Fofa? Eu duvido. — Mais um sorriso torto inocentemente falso, apontou para o próprio peito com o polegar. —  Modéstia a parte eu não conseguiria… 

- Não use seu sarcasmo comigo, irmãozinho, conheço-te melhor que você mesmo. — Estreitou seus olhos e deu um sorriso satisfeito ao ver a outra mulher beliscar discretamente o barbado para que parasse com aquilo e as apresentasse logo. — Sou a Kushel e você?

- Sarah.

- Ok, já vi que não me resta opções a não ser apresentar vocês. — Abaixou os ombros em desagrado ignorando a namorada lhe lançar mais um olhar sério e a irmã a sua frente ainda esperar mais explicações sobre ter escondido um namoro por tanto tempo. — Essa é a minha irmã insuportável. — Apontou para a mulher de cabelos negros com a mão livre. Moveu o dedo para a direção do sofá onde Levi tentava não rir. — Meu sobrinho idiota você já conhece, aparentemente são bem amigos e é o professorzinho da Mia. Meu cunhado tu conheces também, igualmente idiota, intrometido e desnecessário. Família apresentada, agora, vamos embora e nos mantermos longe deles, até mais.

- Cale a boca, Kenny. — Kushel e Sarah disseram ao mesmo tempo e logo sorriram pela coincidência admitindo em pensamento que se dariam muito bem, para "infelicidade" do policial. 

- Tch…

- Suspeitava de algo assim há um tempo, mas estava esperando que ele viesse me contar e não que eu descobrisse pelos meus métodos de sempre. — Kushel a disse carinhosamente enquanto entregava um dos remédios na mão do filho e August ao seu lado segurava um copo de água. — Vens até lá em casa qualquer noite para jantarmos juntos, não precisa nem levar o idiota do Kenny junto, parece ser uma companhia melhor que ele.

- Até preferimos dessa forma. — August complementou com um sorriso cada vez maior nos lábios e arqueou a sobrancelha para Kenny por vê-lo tão sem ação perante alguém.

- Eu vou levá-la. — Garantiu estreitando os olhos para aquela dupla que conviveu por tantos anos estar agindo contra ele, mas estava satisfeito por vê-los se dando bem com Sarah, apesar de tudo.

"Agradeço a diversão que me destes ao dar o endereço do meu apartamento a ela. De fato, dei boas risadas." — Levi digitou discretamente aquela mensagem após alguns minutos completamente afastado da conversa, pois ainda se esforçava para não retornar a dormir naquele sofá mais um pouco.

Eren sorriu discretamente para o celular ao receber aquela mensagem, moveu os polegares no ar segurando o aparelho sem saber exatamente como digitar alguma coisa.

"Queria ter visto pessoalmente, foi legal?"

"Foi, até rendeu a ti um elogio do meu tio chamando-te de fofo. Ele está feliz e a pessoa que tens ao lado é alguém que continuará a acrescentar muito na vida dele, isso que importa e estou feliz com isso. Vens almoçar conosco, meu pai fará o almoço e sei que você irá gostar."

"Uhum, sabe que irei. O casal continua aí?"

"Não, mas depois conto a ti com detalhes o que aconteceu. Minha mãe basicamente se tornou uma dupla com a juíza para falar mal do Kenny, até meu pai ajudou um pouco, mas mesmo aparentemente odiando não conseguiu disfarçar aquele sorriso dele ao vê-los se dando bem com a namorada, entendo o sentimento, foi a mesma coisa que senti contigo. Depois foram embora, pois ela queria aproveitar um pouco mais da Mia quando retornasse da universidade e o Kenny apesar de chamá-la de pirralha chata não conseguiu não rir e deixar claro que gostava da quase enteada."

"Certo, quero ouvir isso pessoalmente, mas me divirto só de imaginar. Alguém comprou os remédios? Já os tomou? Deve limpar os ferimentos daqui algumas horas novamente, sei que tua mãe fará isso antes que você sequer se lembre disso. Não esqueça de beber água, vai se sentir melhor."

"Sim, Eren, fiz tudo isso. Que ótimo, agora tenho duas mães para me encher o saco."

"Vai se foder"

"Acho que na situação que estou não consigo..."

Mandou uma foto de seu corpo deitado no sofá sem camisa apenas com aquelas faixas o enrolando, calça folgada e os pés descalços.

"Aí meu Deus, você está me fazendo ficar com dó e querer ir aí morder tuas bochechas. Pare! Tenho aula com o Smith agora"

"Certo, vou deixar a criança estudar, até depois, pirralho"

 

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Rico ao acordar com certa dor moveu seu rosto para o lado contrário daquela luz absurda que queimava seus olhos. Foi levar suas mãos para tampá-los, mas foi impedida por algo apertando seus pulsos. Surpreendeu-se por ver suas algemas a ligando naquela cama, as memórias retornaram e aquela figura loira o empurrando retornou explicando o motivo de sentir-se tão dolorida.

Não muito longe viu um policial de feições sérias parado com ambos os braços cruzados a olhando sem ao menos piscar em um sinal de: "Tente fugir e se arrependerá".

- Eu ouvi tiros… — Murmurou sentindo a garganta completamente seca, apesar dos olhos estarem bem molhados. Seu estado quebrado era insignificante para o homem, pois se mantinha entediado. — Diversos tiros e… Ele morreu? Meu Levi morreu?

- Ah, tivemos mortos sim. — Concordou dando de ombros não lembrava-se dos nomes e nem achava importante dizer a mulher, seu trabalho era ficar ali e impedir qualquer tentativa de fuga ou aproximações, não papo furado. — Alguns, cena bem sangrenta eu diria, o pior foi aquele esfaqueado, meu estômago está revirado desde que o vi… Mas acho que eu não deveria dizer isso a ti, então finja que não ouviu.

- "Esfaqueado"... — Repetiu em um tom mais alto sentindo mais lágrimas correrem por seus olhos claros e nem poderia enxugá-los, pois estava presa. — Levi… Por que me negaste… Poderia estar vivo e feliz se… 

A porta foi aberta e viu novamente aquele policial de sua idade, cabelos loiros e igualmente sério cumprimentar o companheiro com um aceno, o outro homem deu de ombros o deixando entrar.

- Levi está morto?! — Gritou enfurecida forçando seus pulsos naquele metal gélido em uma tentativa falha de se libertar e bater naquele rosto sério.

- Está. — Farlan mentiu tentando parecer confiante naquilo, admitiu que seria a melhor coisa, assim Rico não ficaria com mais aquelas tentativas frustradas de tentar conquistar Levi e atrapalhar sua vida. Era um tanto insensível de sua parte, mas seria o melhor. Ela iria para um tratamento psicológico por bons anos pela participação e envolvimento com Darius, então ficaria com a cabeça longe da possibilidade de ter algo amoroso com o policial. — Chegamos tarde demais, Darius já havia terminado o que tinha começado… Nile e ele foram mortos, por isso os tiros.

A viu parar de se debater na cama e olhar para o teto sem qualquer ação.

- Eu vou ser presa?

- Vai, participaste do sequestro e consequentemente do… Bem, da tentativa de assassinato. Porém, terá um tratamento diferente antes. — Abriu a porta atrás de si para que uma mulher de cabelos castanhos cacheados, óculos retangulares, prancheta na mão e um sorriso simpático entrasse. — Terá uma conversinha e então iremos decidir o seu destino, Rico, estarei lá fora, mas logo retorno. — Aproximou-se do ouvido da psiquiatra para sussurrar em tom baixo. — Eu disse que meu amigo morreu, tu não sabes de nada sobre o assunto, vai ser melhor que ela o deixe em paz e acredite nessa possibilidade. — Ajeitou sua postura e deu um aceno firme para o outro policial. — Vamos as dar privacidade.

Ao sair ainda ouviram Rico dizer brava que não precisava daquilo, pois era médica também e sabia como funcionava. Gritou algumas palavras para que a outra mulher se afastasse e não dissesse nada, pois não era louca. Depois de quase uma hora a psiquiatra saiu por aquela mesma porta e encontrou Farlan parado apoiando uma das mãos no revólver de sua cintura.

- Vou enviar os papéis necessários a ti, vamos encaminhá-la para a clínica imediatamente. — Ao ver o olhar dele como se perguntasse se o veredito foi obtido por culpa daquela sua mentira continuou a falar. — A mente humana é complexa, nem mesmo estudando anos posso dizer com certeza o que se passa nela, mas… Será melhor a Rico que fique bons anos com acompanhamento especializado e bem longe disso tudo. Diante disso, tenho uma indicação desse tipo de clínica que a polícia usa, uma em outra cidade bem afastada de tudo isso que possa a lembrar daquelas coisas que viveu e consequentemente da pessoa que tem essa obsessão.

- Achas que após esses anos ela vai retornar a essa obsessão com meu amigo? — Perguntou preocupado com a ideia de vê-la livre novamente em algum momento e atrapalhar Levi ou lhe fazer qualquer mal mais uma vez.

- Infelizmente quem entra nessas clínicas dificilmente sai, e os motivos dela foram fortes a ponto de nenhum médico a libertar tão facilmente. Tranquilizo-te dizendo que não irá o incomodar.

  

 

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Após ouvir algumas boas frases dos pais de como não deveria se esforçar muito, se estava levando tudo que precisava e que qualquer coisa bastava os ligar, despediu-se deles. Sabia que após aqueles dois dias eles retornariam até seu apartamento mais uma vez para garantir que estivesse melhor, e era agradecido por aquilo, pois queria a presença deles.

Portava uma mochila nas costas, o capacete em uma das mãos e algumas faixas ainda embaixo de sua camisa, apesar dos cortes já estarem cicatrizando muito bem a ponto de não as precisar, porém sentia-se mais seguros com elas, além de sua roupa não gerar nenhum atrito em sua pele o trazendo aquele incômodo estranho. Entrou no elevador e murmurou em desagrado para si mesmo um: "Vou começar a só usar as escadas", pois lá estava a vizinha de Eren e síndica do prédio segurando a porta para que entrasse. No mesmo instante viu aquela feição divertida dela adotar uma postura séria e até preocupada com seu estado de saúde.

Levi forçou seu sorriso mais simpático que poderia a dar para que não começasse a precisar explicar coisas, porém não foi nada eficiente, já que ouviu: "Esse rostinho tão bonito, ferido… Você está bem? Quer conversar sobre o assunto?". Admitia e até agradecia a boa vontade da mulher, mas nunca foi um dos melhores em falar com qualquer um, principalmente assuntos delicados daqueles. A disse que não precisava de qualquer preocupação e que tinha tido problemas no trabalho, ela não acreditou muito, mas o deixou sair quando chegou no andar do suposto "primo" do mais novo.

Lembrava-se bem de Eren o dizer que a Dona Vera estava o questionando em toda oportunidade que tinha sobre a ausência de Levi por ali, pois fazia dias que não via e estava curiosa sobre o motivo. Eren o contou com certa diversão e disse que inventou uma desculpa sobre o primo estar atarefado demais, por isso que quem acabava por visitar era ele próprio e não Levi. Foi o suficiente para a mulher suavizar a expressão mais tranquila, pois estava pensando em um término e não "falta de tempo" de um deles.

Afinal Eren passou aquela semana toda dormindo no apartamento de Levi, um tanto incomodado no início por deixar os sogros dormirem na sala, mas ao acordar em uma das noites para tomar água e vê-los abraçados dormindo tranquilamente admitiu que estavam igualmente confortáveis. 

Além do rapaz de olhos verdes recebia quase todos os dias Hanji e Erwin, sendo que a primeira apenas ficou decepcionada por não ter visto Kenny com a namorada, mas após uma boa pesquisa nas redes sociais acabou por encontrar o perfil profissional da mulher e admitir que o tio postiço tinha um bom gosto. Para o loiro de olhos azulados o mais difícil era acostumar-se a ver Levi recebendo carinho de alguém, mas aos poucos e após algumas ameaças do homem de olhos cinzentos e até de Eren conseguiu ficar menos boquiaberto com aquelas cenas.

Aos poucos o sono ia ficando mais tranquilo, a força no corpo ia retornando e a dor tinha se tornado bem mais suportável. Agradecia o apoio que seus pais e Eren estava o dando, mas sentia-se pronto para aquela viagem e queria aquilo.

Ao abrir a porta para finalmente sair do campo de visão de qualquer pessoa que passasse por ali caminhou alguns passos ainda segurando o capacete na mão para o deixar no quarto de Eren, porém ao entrar na sala recebeu dois braços pesados em sua direção vindo de Zeke o interrompendo de continuar seu caminho. Não moveu-se para o afastar e nem contribuir com aquele gesto, olhou para o lado onde Minerva estava sentada com as pernas cruzadas e franziu sua testa pelo abraço repentino.

- Certo, chega, solte-me, Jaeger. — Levantou a mão ainda com o capacete apertando o objeto contra o corpo de Zeke para que se afastasse e parasse com aquilo.

Ainda sentiu alguns segundos aqueles braços o apertarem e depois o advogado o liberou mantendo um sorriso satisfeito nos lábios olhando Levi de cima a baixo, ignoraria a carranca que ele tinha adotado pelo abraço, pois precisava mesmo daquele gesto de carinho aliviado.

- Tch, por que diabos todo mundo quer tanto me abraçar ultimamente? — Não escondeu sua feição de desagrado, apesar dele próprio saber o quão falsa era, afinal os abraços da família e, principalmente, os de Eren eram os que mais queria sentir naquela semana de recuperação.

Ouviu uma risada abafada de Minerva e uma bem mais evidente vinda do cunhado que agora estava com os braços cruzados. Zeke nem em seus piores pesadelos imaginou-se dando algum abraço em Levi Ackerman, mas ali estava ele realmente satisfeito de ver aquele homem bem e vivo. 

- O pirralho está pronto ou se eu entrar naquele quarto vou encontrá-lo jogando alguma coisa online com os amigos idiotas dele? Tch...

Zeke iria responder, mas se interrompeu ao ver o irmão saindo do quarto com duas mochilas, uma em cada braço e um dos maiores sorrisos que já tinha visto vindo do rapaz. Levi arqueou uma das sobrancelhas olhando aquela quantia de coisas que o namorado estava segurando, tendo a chave do carro apertada contra os dedos, uma bermuda clara até os joelhos, de chinelo e uma camiseta um tanto colada no corpo.

- Huh… — Mordeu os lábios ainda olhando para Eren que se aproximava de onde estavam. Repararia depois o quão bom aquela camiseta tinha ficado no moreno, pois tinha outras coisas na cabeça naquele momento. — Minha cabeça não anda tão boa, mas eu disse a ti que seriam apenas dois dias, não disse? — Ao ver a confirmação animada dele olhou criticamente para as mochilas e o viu sorrir mais uma vez. — Então? — Moveu negativamente a cabeça e deixou o capacete sobre a pequena mesa torcendo que quando retornasse o objeto não estivesse jogado em qualquer canto por culpa de Zeke. — Quer saber? Foda-se, disse a ti que iria fazer teus gostos. Mas… — Mais um olhar para as bolsas ignorando a surpresa de Zeke e Minerva se transformarem em uma boa risada por ver aquele policial admitir em voz alta que faria tudo que Eren queria. — Não pense que vou sequer te ajudar a carregar isso, nem agora e muito menos quando chegarmos lá. Esteja avisado que isso aí é sua responsabilidade.

- Ah, não seja resmungão, sou forte e vou carregar tudo. — Deu seu melhor sorriso continuando a segurar aquelas coisas ainda mais animado com a ideia de em algumas horas sentir o calor dos raios solares na pele, a areia tocando seus pés e o principal: Levi ao seu lado. — Até você se começar a reclamar.

Mostrou-lhe a língua em um gesto infantil e recebeu apenas um revirar de olhos falsamente decepcionado vindo de Levi. Despediu-se rapidamente da cunhada e do irmão e então partilhou o elevador com o namorado não conseguindo esconder um sorriso gigante em seus lábios. Parecia irreal demais aquilo e só acreditaria ao ver a imensidão de água com seus olhos enquanto o homem de cabelos pretos estivesse perto.

Passaram algumas boas horas dentro do carro, Eren no volante batendo vez ou outra os dedos nele acompanhando a batida da música que ele estava responsável por deixar tocando, enquanto Levi apenas estava atento em um livro qualquer que tinha trazido consigo. Quando acabava por ter que diminuir a marcha ou aumentá-la, após realizar o movimento, levava a mão até a coxa do policial em um gesto de carinho e em alguns instantes rápidos sentiu a palma dele se pôr sobre a sua.

Ao chegarem na cidade litorânea ouviu atentamente as instruções do aplicativo com o endereço que Levi o tinha fornecido. Abriu a boca um pouco surpreso pelo hotel que ele tinha escolhido, realmente tinha sido uma ótima escolha, pois acordar e ter aquela vista todas as manhãs seria incrível demais e estava ansioso para isso.

Deixou o carro para que um dos empregados do hotel o guardasse no estacionamento, consequentemente levaria em seguida as malas até o quarto, o que gerou uma piscada de olho divertida de Eren para Levi e um sussurro: "Viu, mesmo trazendo tantas coisas alguém vai levar para mim".  Levi o ignorou revirando seus olhos, mas mesmo tentando forçar sua indiferença não conseguia.

Aproximou-se da recepção com Eren ao seu lado olhando para todos os lados com um sorriso enorme um tanto surpreso pela decoração. Poderia até se sentir deslocado por estar de chinelos, bermuda e camisa como um adolescente, mas ao ver um senhor de mais ou menos setenta anos entrando apenas de sunga relaxou sua postura se permitindo até a dar um sorriso.

- Boa tarde, reservei um quarto previamente. Está em nome de Levi Ackerman. 

Após a informação viu a mulher digitar algumas coisas e logo sorrir em confirmação procurando o cartão de entrada dentre aqueles que tinha disponível ao seu alcance. Um outro funcionário surgiu segurando as malas em mãos aguardando pacientemente para os acompanhar até o quarto.

- Aqui está. — Moveu a mão com o cartão na direção de Levi com um sorriso simpático. Simpático até demais, na opinião de Eren que estreitou seus olhos para ela não gostando tanto daqueles sorrisos exagerados, principalmente quando o dedo dela acabou por fazer um carinho nada discreto na mão de Levi. — Qualquer dúvida ou necessidade basta ligar-nos e iremos fazer o máximo para o atender da melhor forma em suas necessidades. Boa estadia, Senhor Ackerman. 

- Sim, será muito bem aproveitada, agradeço. — Concordou desfazendo aquele contato entre as mãos e ao notar o olhar de Eren moveu sua mão até a dele entrelaçando seus dedos e lhe deu um sorriso pequeno. — Querias aproveitar o mar, não? Então vamos ao quarto e depois à praia, quero ver o pôr do sol ao teu lado, meu amor.

O suficiente para o sorriso da recepcionista sumir e um rubor envergonhado surgir em Eren e tomar conta de seu rosto pelas palavras amorosas e aquele entrelaçar de dedos tão repentino de alguém que sempre foi contrário a afeto em público. Pensava que estava sendo discreto naquele ciúme, mas aparentemente não.

Ainda estava tentando controlar seu embaraço ao estar partilhando o elevador com Levi que não parecia nada incomodado em continuar a segurar seus dedos e o outro homem com as malas focando-se em um ponto qualquer mostrando o quão profissional poderia ser. Deixou as coisas próximo a entrada do quarto, deu um aceno em despedida e retornou aos outros afazeres. 

Eren soltou aquela mão e caminhou rapidamente até a sacada boquiaberto pela visão boa que estava tendo, sentia aquele gosto salgado naquele vento que carinhosamente bagunçava seus cabelos. Apoiou ambas as mãos na superfície de vidro e depois de alguns segundos sentiu um corpo quente colar-se ao seu o rodeando com os braços em sua cintura e depositando alguns beijos naquela camisa.

- Huh, quer mesmo ficar no quarto sendo que temos ainda algumas horas de sol? — Perguntou não quebrando aquele abraço sentindo as mãos de Eren sobre eles fazendo certo carinho com os dedos. — Normalmente quando eu vinha em uma dessas preferia ir de noite, menos pessoas, é mais silencioso e o mar é menos agitado, mas você não tem cara de que prefere assim. Já disse que tuas preferências serão prioridades nesses dias que passarmos juntos.

- Não faça nada que não queira por minha causa, não vou deixar de te amar por simplesmente não querer fazer algo que não gosta. 

- Tch, és um pirralho… — Murmurou e soltou-o daquela abraço, pois sabia que se ficassem daquela forma Eren não iria tomar o impulso para saírem. — Falei sério sobre o pôr do sol, quero isso.

Foi até sua mochila a deixando sobre a cama de casal disposta no meio do espaçoso quarto, a abriu sob o olhar atento de Eren e pegou um objeto em mãos, passou os dedos sobre os fios de cabelos os puxando para trás e colocou aquilo na cabeça. Retirou os calçados dos pés ficando descalço e pegou outra coisa daquela mochila. Feito isso, retirou as calças para enfim vestir algo mais praieiro: Uma bermuda.

Pegou o protetor solar e colocou no bolso traseiro para passar mais algumas vezes posteriormente, já que antes de sair já havia passado uma fina camada na pele. 

Eren olhou boquiaberto aquele homem sério se transformar naquele despojado que parecia um universitário qualquer de sua idade. Era uma mudança muito drástica para que fossem apenas uma peça de roupa trocada, falta de sapatos e um boné na cabeça.

- Pode parar de babar? — Perguntou após ver o incontável olhar divertido sobre suas roupas, principalmente algo em sua cabeça que claramente era o motivo dos olhares do namorado e as mordidas de lábios. — Sério que após tantos meses juntos você ainda se impressiona com tão pouco?

- É que esse boné em ti te deixou com uma aparência jovem, sinto que temos a mesma idade agora, parece um pirralho também. Ficaste bem, não tire, por favor.

O tom de voz era quase implorando para que continuasse daquela maneira. Se perguntava como Levi era no tempo da faculdade e também no tempo do colegial, talvez visse uma versão ainda com roupas sérias, não as habituais camisas de botões, mas não coisas tão joviais. Era inegável o quão estiloso aquele homem sério poderia ser e Eren gostava muito disso.

- Estou com a merda de um machucado na cabeça, óbvio que não tirarei o boné, não quero olhares estranhos, já chega essas merdas de faixas e roxos pelo corpo.

Eren se pôs em sua frente mordendo os lábios pensativo analisando o namorado, logo vasculhou uma das próprias mochilas a procura de algo em especial e moveu a mão na direção de Levi com aquele tecido que arqueou uma sobrancelha perguntando-lhe silenciosamente o que significava aquela coisa branca.

- Levi, lembre-se que estamos na praia, coisas escuras aumentam a sensação da sua temperatura corporal. — Olhou criticamente para a camiseta preta dele, casual e o deixava bonito, gostava de cores escuras, mas não seria a decisão mais sábia para o local que estavam. —  Cores claras… 

- Tch, um pirralho querendo me ensinar física básica. — Interrompeu-o em desgosto retirando o boné e consequentemente a camisa para por aquela de Eren, sentiu-a bem solta em seu corpo, mas agradecia a liberdade que proporcionava não apertando sua pele. 

Passou uma das mãos nos cabelos para os puxar para trás e novamente colocar o boné escuro na cabeça sob o olhar atento de Eren. Fez um expressão falsamente séria ao sentir as mãos do namorado sobre seu corpo, em especial nos botões que fechou da camisa a abrindo por completo deixando seu peito e abdômen a mostra mais uma vez, principalmente aquelas faixas e alguns tons mais escurecidos de seus hematomas. O principal, pelo menos para Eren, era aquela correntinha prateada envolvendo seu pescoço, tão delicada e com uma enorme carga emocional depositada.

- Qual o sentido de eu vestir uma camisa se você vai querer que eu a deixe aberta? — Franziu a testa olhando para Eren que olhava orgulhoso aquele visual mais despojado.

- Se estivesse se olhando também iria preferir dessa maneira. — Garantiu mordendo os lábios ao olhá-lo de cima a baixo, queria apenas descartar aquelas faixas, não se importava com aqueles cortes cicatrizando aos poucos e algumas cicatrizes finas que já tinham ficado na pele. Mas entendia que Levi não estava confortável ainda com aquilo, o respeitava e aguardaria o tempo suficiente para isso. — Sexy.

- Eren, estou machucado, não quero ficar mostrando a todos que servi de saco de pancadas para alguém.

- Confia em mim, ninguém vai pensar nos ferimentos e sim em quão gostoso tu és. — Garantiu e deixou alguns beijos sobre aquelas faixas para o trazer certo conforto, assim como vinha fazendo nos últimos dias e até recebia um olhar de desagrado para parar de ser nojento, mesmo que aquele tecido sempre estivesse bem limpo. — Ok, talvez devemos fechar, tenho ciúmes, mas não trouxe qualquer burca ou coisa do tipo, então vamos deixar você assim, qualquer coisa eu te agarro e cubro com uma toalha.

Ignorou aquele comentário de Eren, pois sabia que poderiam bem se tornar reais, se levasse em conta o olhar de ódio que o rapaz direcionou a recepcionista. Eren tinha separado uma pequena sacola com fios que utilizava normalmente para levar suas roupas de treino, mas agora estava preenchida com uma toalha fina para jogar na areia e mais protetor solar. Pegou os óculos de sol e colocou na cabeça. 

Levi o puxou para fora daquele quarto o fechando para descerem novamente, pelo canto do olho viu a mulher negar com a cabeça em decepção por vê-los juntos, mas a ignorou, a felicidade dela não era importante a ele desde que Eren, a pessoa que amava, estivesse com aqueles sorrisos estúpidos.

Sorrisos esses que foram aumentando gradativamente ao saírem pelas portas do hotel, atravessarem a rua e sentirem os chinelos serem preenchidos pela areia. Eren abaixou-se e os retirou segurando em uma das mãos enquanto sentia aquele calor em sua pele. Levi tentou não o olhar enojado pela atitude, mas internamente estava pensando em como a limpeza durante o banho seria meticulosa. Não aceitaria um banho "mais ou menos" de Eren.

Caminharam lado a lado sentindo a areia fazer cócegas nos pés, viram algumas crianças correrem atrás uma das outras, pessoas mais velhas bebendo e trocando boas gargalhadas. Entretanto, a atenção de Levi não estava naquilo e sim nas tentativas de Eren ficar com as mãos longe da dele, estava começando a ficar irritado após poucos minutos sentindo aquela brisa boa bater em sua pele e Eren olhar fascinado para aquela imensidão de água.

Apertou o pulso de Eren forçando que ficasse imóvel e então entrelaçasse seus dedos nos do rapaz.

- Porra, pirralho, é apenas uma mão, qual a merda do teu problema? — Perguntou irritado não entendendo aquilo tudo, justamente da pessoa que queria aquelas coisas melosas como mãos entrelaçadas e agora simplesmente queria distância. — Não eras tu mesmo que queria isso? Não estou enfiando minha mão dentro da sua roupa, só estamos de mãos dadas como qualquer casal.

- Sim, mas é… Bem, tem tanta gente e vai que há alguém que nos conhece e…

Sentiu um aperto mais firme nos dedos o fazendo parar de caminhar e focar-se naqueles olhos cinzentos abaixo dos seus. Levi entendia as inseguranças dele e até achava engraçado aquela preocupação, mas não as queria. Queria Eren por completo aproveitando aquele tempo em casal que sempre quiseram ter juntos, sem qualquer olhar estranho, sem receio, sem medos de alguém perigoso aparecer e os tirar daquilo. Finalmente poderiam aproveitar com totalidade.

- E qual o problema se alguém nos conhecer? Que nos vejam, não sinto qualquer problema em ter-te ao meu lado. 

Com a mão livre ergueu um pouco a aba curvada do boné e levantou-se um pouco para alcançar os lábios de Eren com certo carinho. Procurou espaço naquela boca, mas ainda sentia que ele estava reticente em demonstrar aqueles afetos publicamente. Justamente a pessoa que nunca se importava, era contraditório, mas Levi era insistente, então mordeu o lábio inferior o fazendo abrir e enfim conseguir aquilo que queria sentindo aquele gosto de menta misturando-se em sua boca. Afastou-se de Eren deixando um selinho e arrumou novamente o boné na cabeça observando as bochechas coradas do namorado.

- Já disse que amo-te, pirralho, e não sinto vergonha em ter você ao meu lado. Ao contrário, sinto-me honrado de andar de mãos dadas contigo.

- Eu sou um idiota. — Admitiu abaixando o olhar um pouco cabisbaixo, por alguns segundos, pois ao ver o sorriso de Levi concordando com aquilo o desmontou por inteiro fazendo que retribuisse o sorriso.

- Além da sua idiotice habitual, temos um outro problema…

Olhou para Levi com certa preocupação questionando-se internamente o que poderia ser.

- Qual?

- Bom, a água é salgada, sal arde. Logo, se eu entrar na água do jeito que estou vou sentir um incômodo absurdo. — Esclareceu e imediatamente Eren concordou, mesmo que boa parte dos ferimentos já estivessem fechados, ainda restava alguns que demandavam mais cuidados. — Desculpe por não poder fazer aquelas coisas a íntegra como havia te prometido, mas não queria perder tempo nessa promessa. Então, no máximo até as pernas, e depois fico na areia sentado olhando tu aproveitar-se da água igual uma criança. Vai ser bom para mim também, afinal verei-te feliz e é o que importa.

- Tens razão, além disso, podemos caminhar na areia e sentir as ondas contra nossos pés, vai ser igualmente bom a brincar como uma criança, pelo menos para mim, pois quero você ao meu lado.

Levi concordou com um sorriso pequeno. Foi exatamente isso que fizeram aproximando mais da água sentindo o líquido gelado chocar-se contra os pés finalmente com as mãos entrelaçadas. O policial teve que segurar-se ao máximo para não rir ao ver Eren chutar aquela água, mas era difícil demais não sentir seu peito mais leve com aquele rapaz ali ao seu lado lhe direcionando aqueles sorrisos e fazendo aqueles gestos. Eren retirou sua camisa deixando o peito exposto e a deixou sobre o ombro, ignorou o olhar de Levi e aquele aperto na mão para que ficasse mais próximo de si para mostrar a qualquer um que eram um casal e não admitiria olhares para aquele abdômen definido.

Viram uma criança correr atrás da outra em uma brincadeira de pega-pega, porém o pequeno menino acabou tropeçando em um castelo de areia e caindo no chão. No mesmo instante Eren soltou a mão de Levi e foi até o pequeno o ajudando a se levantar em uma atitude natural e sem ao menos pensar, foi intuitivo fazer aquilo e confortar o pequeno rapaz para que parasse com aquele choro. O policial cruzou os braços analisando aquela cena tentando segurar um sorriso por vê-lo limpar aquela areia do joelho da criança e afagar os cabelos escuros com as mãos com certo carinho murmurando palavras de como não havia sido nada e que não precisava chorar. A mãe do pequeno correu até ele e o viu limpar os olhos parando com as lágrimas para sorrir em agradecimento ao rapaz de olhos verdes agachado a sua frente. A mulher levantou a criança para o colo e disse um agradecimento sincero à Eren pelo carinho e cuidado que teve com a criança.

"Tch, faz essas idiotices e eu penso coisas… Merda, não tenho culpa se ele consegue ser fofo fazendo isso". — Pensou tentando ao máximo não sorrir igual um grande idiota por estar vendo o namorado ter aqueles instintos paternais. — "Mas seria interessante ver um pirralho nosso algum dia o chamando de pai… Se bem que eu teria que cuidar de dois pirralhos, mas acho que consigo isso fácil."

Retornou ainda mais animado ao lado de Levi entrelaçando mais uma vez seus dedos nos dele e vez ou outra ao conversar sobre qualquer coisa aleatória movia as mãos com certa velocidade.

Depois de um tempo, ambos cansados de caminhar, encontraram um trecho mais vazio, então Eren tirou das costas aquela mochila e pegou o tecido de dentro dela. Esticou na areia agradecendo que o sol já estava bem mais baixo, Levi deitou-se nela com um agradecimento silencioso que o namorado tivesse lembrado daquilo, pois odiaria colocar seu corpo naquela areia "suja". Eren logo em seguida deitou ao seu lado um pouco mais para baixo ficando com a cabeça próxima ao abdômen do policial, imediatamente sentiu os dedos dele irem até seus cabelos castanhos o fazendo um cafuné.

Sorriu agradecido e procurou o celular em um de seus bolsos, tinha notado uma sequência de vibração recorrente nas últimas horas, mas não deu atenção por estar dirigindo, depois pelo que aconteceu na recepção e agora ali ao lado de Levi esqueceu-se que tinha outras coisas no mundo além daquele homem de olhos cinzentos. Desde o dia anterior não tinha ficado tanto no celular, estava ocupado demais organizando suas coisas para se importar em ler coisas ou digitar. Só torcia que as horas passassem o mais rápido possível.

O que teve seu foco principal foi aquelas diversas no seu grupo que tinha com os amigos, no início eram apenas os que cursavam Direito, ou seja, Armin, Berthdolt e Jean, porém esse último disse que Marco deveria estar também, já que ele e Armin estavam e o sardento poderia se sentir excluído. Ninguém reclamou, apesar de terem outro grupo com todos os outros amigos.

Armin: Eren.

Berthdolt: Heyy, alô Eren, dê um sinal de vida antes que eu ligue para a tua mãe para saber onde estás. Está nos deixando preocupado com esse sumiço.

Armin: Eren, vou ligar ao Zeke ver se pelo menos ele tem notícias de ti, por favor, não some assim. Esquecer dos amigos ok, aceitamos de vez em quando, sabemos que tens a cabeça avoada, mas pode pelo menos não parecer que sumiu? 

Jean: Porra, Cabeça Oca, enfiaste o celular onde? Se morreu mande-me a localização da Capela que será realizado a cerimônia fúnebre e posteriormente também onde será o enterro que irei para rir da sua cara de otário. Talvez até acenda uma vela, pois sou um cara gente boa.

Marco: Jean, mais uma piada dessas e vai ter consequências. Ignore a idiotice do Jean, Eren, mas sério, estás nos deixando preocupados. Está mesmo bem?

Armin: Eren? 

Jean: Ele visualizou as últimas que eu mandei agora, acho que está vivo. Se não for você, bem, assaltante ou o que for que esteja com o celular do Cabeça Oca, por favor, não explane os assuntos, seja parceiro e nos poupe de alguns processos. 

Marco: Jean…

Armin: Jean, pare de digitar antes que eu te tire do grupo. Infelizmente da minha vida não consigo, tenho que aceitar o fardo de um dos meus namorados ser um tremendo sem noção.

Jean: Todos contra mim. Caralho, só estou preocupado com o idiota.

Eren leu aquele diálogo com um sorriso nos lábios, talvez tivesse esquecido de os avisar sobre a viagem, afinal na última semana seu foco completo era a Levi indo o visitar, trocando mensagens quando estava na faculdade e depois ignorando as diversas que recebia dos amigos no período que estava na companhia do namorado e também de seus sogros.  Diante disso, não perderia a oportunidade de fazer algumas piadas e mistério sobre o assunto. 

Segurou o celular na mão continuando a sentir aqueles carinhos em seus cabelos pelo cafuné que estava recebendo de Levi, e abriu a câmera esperando o momento certo.

- Será que poderíamos ir um pouco no hotel daqui um tempo ou em algum restaurante qualquer? Estou com tanta fome… Pode ser qualquer coisa, mas estou tão faminto que poderia ir agora mesmo tentar pescar qualquer coisa com minhas próprias mãos. — Disse ainda focado na tela do celular e sorriu divertido tocando-a para tirar aquela foto no momento exato que viu aquele sorriso de Levi surgir naqueles lábios avermelhados por ouvir que apesar de terem chegado há pouco tempo já estava querendo comer, enquanto mantinha os olhos fechados quase a dormir sentindo aquela brisa marítima chocar-se contra sua pele de uma maneira gostosa. — Bom trabalho, garoto. Ótimo sorriso, estou orgulhoso.

Elogiou-o em um tom baixo enviando a foto no grupo com a seguinte legenda: "Estamos em lua de mel. Casamos ontem, a cerimônia foi simples e bem linda! Os queria aqui, meninos, mas infelizmente meu marido é um tanto rígido nessas coisas de todas as pessoas descobrirem sobre nós. Então foi no sigilo, mas foi bom. Uma pena que não possamos ter filhos juntos, pois claramente ele surgiria hoje se eu pudesse gerá-lo. Eles iam ser lindos, admito que somos dois homens bonitos e nossa genética é foda, mas vamos tentando algumas vezes para ver se realmente não consigo engravidar.  Enfim, até depois!"

Levi murmurou um "Huh" sobre o elogio de seu sorriso e abriu os olhos a tempo de ver a foto sendo enviada e também ler o que estava escrito. Negou com a cabeça e sorriu em resposta pela palavra "marido". De fato nunca pensou em algo assim para nomeá-lo, mas gostou de como soaria com Eren o chamando daquela maneira. Algumas coisas surgiram novamente em sua cabeça, principalmente enquanto sentia aquele colar gélido em seu pescoço e também aquela aliança rodando um de seus dedos.

- Estamos bonitos demais para guardar na galeria. É desperdício não expor para o mundo. — Sussurrou para si mesmo procurando o contato da sogra dentre alguns, enviou a imagem e sorriu satisfeito. Logo em seguida encontrou o de Hanji e fez o mesmo, assim como o da própria mãe. Alguns emojis de sorriso, coração e então voltou ao grupo dos amigos sob o olhar atento do namorado que sabia que logo receberia diversas mensagens da mãe os chamando de fofos, assim como alguns elogios exagerados de Hanji e alguns mais contidos de Carla. — O suficiente, levando em conta que meus sogros sempre estão grudados. Hanji deve estar com o professor, logo ele vai ver que não tem qualquer chance com meu homem. E bem, minha mãe ela vai gostar de ver nossa foto. Ah, Isa, não posso esquecer dela. — Enviou para a amiga ruiva que imediatamente visualizou a mensagem, um desejo interno de Eren era que a mulher estivesse perto de Farlan e, principalmente, Gunther, já que esse último sempre tentava cantar Levi e aquela era sua forma de marcar território. — Isso, ainda acho que deveria criar um grupo com eles para mandar essas coisas, mais prático… Oh, Zeke também. — Procurou o contato do irmão e o encaminhou. — Agora chega, brinquei muito com a sorte.

Eren aguardou pelo menos cinco minutos sem receber respostas de seus amigos, recebeu algumas mensagens parecidas com: "Não esqueça do protetor!", "Estão tão lindos! Na próxima vamos todos em família!", tanto de Carla como Kushel. Já de Zeke: "Uh, o Ackerman sabe sorrir, essa é novidade. Aproveite o passeio, caçula, qualquer coisa me ligue". Diante da demora de seus amigos deu uma gargalhada baixa e tratou de mandar: "Estou zoando galera, sem casamento, apenas dois dias aqui em uma praia para relaxá-lo, um pouco de carinho para que melhore logo e depois retornamos. Somos lindos né? Puta que pariu, olhem que rosto fofo e corpo gostoso que esse homem tem! Só não olhem muito, tenho ciúmes. Ele é meu. Sintam-se honrados, é nossa primeira foto de casal e mandei a vocês primeiro."

Jean: PUTA QUE PARIU, EREN JAEGER, EU DERRUBEI O MEU CELULAR NO CHÃO, VAI PAGAR UMA TELA NOVA SEU FILHO DA PUTA! QUE SUSTO!

Armin: Eren, que susto, por instantes realmente acreditei em ti… E na possibilidade do casamento.

Berthdolt: Caralho Eren, QUASE, quase acreditei e fiquei boquiaberto, puta merda, que susto… caralho irmão. Nem brinca com isso. Reiner até assustou-se com o grito que eu dei, porra… Se bem que acho que ele está chapado demais para se importar.

Jean: Puta merda, eu quase acreditei que você tinha casado com o cara lá do inferno, o qual não vou dizer por nomes, mas sabem quem é.

Armin: Levi tem um sorriso bonito ein, está bem servido mesmo, Eren, parabéns. Acho que ele deveria começar a dar aulas sorrindo dessa forma. Poderia estar sem essas faixas para podermos ver melhor esse corpo malhado, mas ainda sim: Um grande gostoso.

Marco: Concordo, ele deveria sorrir mais, pois fica bem mais bonito do que sério. Fazem um casal bonito.

Berthdolt: Está até usando um boné, e o pior, SORRINDO. Eren, você foi uma boa influência. Estou orgulhoso, irmão.

Jean: Ok, normalmente eu odeio concordar com algo assim, mas o loirinho e o Marquinho estão certos, o General está bem bonito dessa forma. Não o deixe ver essas mensagens, repito: NÃO O DEIXE VER, EREN.

- Me empresta rapidinho. — Levi o disse assustando Eren por ver que estava sendo observado há tempos naquela troca de palavras divertidas. Levou a palma da mão até o celular indicando que o queria emprestado e foi isso que Eren fez meio receoso, mas curioso sobre o que faria. Viu o namorado levar o celular próximo a boca e falar enquanto gravava um áudio. — Agradeço o elogio, Jean, bom saber que me acha bonito. Que o Armin achava eu até suspeitava após vê-lo quase a me comer com os olhos em qualquer oportunidade que tem, mas de ti surpreendi-me um pouco, sinto-me honrado, garoto, apesar de não ter entendido exatamente o motivo de ser chamado de General, pode me explicar?

- Por isso te amo, és sério, mas entra nas minhas idiotices sempre! — Eren fez um bico lançando um beijo para o mais velho vendo mais um sorriso surgindo naqueles lábios, não sabia se era o cansaço ou ele realmente estava aliviado, mas os sorrisos naqueles últimos dias tinham se tornado bem fáceis de se conseguir. — De fato eles tem razão, hoje você está a coisa mais bonita que eu já vi. Certo, normalmente acho você lindo porque de fato és, mas hoje você está triplamente melhor. Sério, podemos prolongar esse visual quando voltarmos. — Moveu a cabeça positivamente algumas vezes enquanto mordia os lábios. — Caralho, ainda mais com essa barbinha por fazer, puta que pariu, estás lindo! — Levou a mão até aquele queixo sentindo a aspereza, sentia saudades daquela barba cheia, mas poderia facilmente se acostumar com aquela mal feita. — Se não fosse seu namorado estaria te pedindo em namoro agora mesmo. Namore comigo, por favor, coisa linda. Eu te imploro!

- Eren, desencana do boné, por favor, daqui a pouco vou pensar que tens tara por ele. — Disse seriamente na direção do namorado após ouvir aquelas palavras, por dentro até poderia ter achado divertido, mas visualmente ainda estava indiferente.

- Ué, mas eu tenho. — Admitiu nada incomodado mantendo seu sorriso largo no rosto ignorando mais um revirar de olhos vindo de Levi, não conseguiria levar qualquer coisa a sério, não enquanto o homem de cabelos negros estivesse vestido daquela maneira e Levi sabia disso.

- Tch… 

Jean: Porra, vou sair do grupo e talvez mudar de faculdade. Foi bom conhecer vocês, galera, até qualquer dia.

Berthdolt: Eita, alguém se fodeu. Explica aí Jean. Por que General? Hahaha

Armin: Acho que eu e o Marco ficaremos viúvos, foi bom enquanto durou, infelizmente é um adeus, Jean… 

Pegou o celular do namorado em mãos e apertou novamente para gravar mais um áudio, mas dessa vez com um tom bem mais sério e como se estivesse ordenando, exatamente como fazia na polícia.

- Entendo que os pirralhos querem conversar e fofocar, sei lá que merda vocês fazem além de incomodar a vida alheia, mas agora que sabem que o Eren está vivo não o incomodem mais. Ele está sendo bem cuidado, a mamãe sabe com quem ele está, pois a avisei previamente do sumiço, e até o insuportável do irmão também sabe, já que nos viu saindo juntos, então esqueçam-o. Daqui um tempo o devolvo no berçário e podem fofocar, por agora ele estará ocupado e com o celular confiscado. Sendo assim, se eu receber qualquer mensagem nesse aparelho infernal vou jogá-lo no mar e vocês se resolvem com o pirralho depois.

Berthdolt: Uuu, o general está putoo. Vamos deixar o pirralho dele em paz galera!!!

Armin: Berth, acho que não estamos em terreno seguro para piadas ainda. Estás bebendo essa hora da tarde?!

Berthdolt: Humm, sim, sim, Reiner comprou tequila muchacho, estoy muy felicito! Arriba!

Armin: Berth, pode ser bêbado, mas não estraga o espanhol, por favor. "Felicito" não significa felicidade, escreve-se "feliz", até mesmo em espanhol.

Berthdolt: Muy bravito mi hermano, relaxa, estamos no final de semana! Eu não gosto de idiomas, única língua que eu gosto de estudar é a do meu Reiner.

Armin: Berth, por favor, me dói os olhos ler isso. Pare.

Marco: Deixem ele aproveitar o pirralho, não vamos encher… 

Berthdolt: E pensar que o Eren já quase beijou esse grupo todo… Como se sente com isso Levi?

Jean: Amém, o fardo do ódio dele se dividiu entre eu e o Berth, obrigado, parceiro. Consigo respirar mais tranquilo agora sem pensar que vou ser morto.

Berthdolt: Não relaxe tanto, Jean, pois ele não levantaria um dedo sequer para me bater, lembra-se quem serve as bebidas para ele? Sou um cara muy perigoso e ele sabe disso.

Jean: Claro que não levantaria só um dedo, levantaria as mãos e até as pernas para bater de diversas formas no teu corpo, Berth. Não seja iludido.

Armin: Jean, pare de digitar merda.

Poderia ler mais algumas, mas olhou para Eren enquanto apertava o botão para desligar o aparelho. Deu um sorriso sarcástico ao guardar o celular no bolso de seu shorts e retornar a ficar confortável deitado sentindo o peso de Eren sobre seu corpo.

- Ah, mas eu queria mais fotos contigo...

- É por causa da merda do boné, não é? — Estreitou os olhos ao vê-lo desviar seu olhar para a areia um tanto embaraçado por ter sido pego naquilo. — Tch, o que eu não faço por esses teus sorrisos estúpidos...

Pegou o próprio celular nas mãos e moveu um dedo o chamando para se pôr ao seu lado, colocou um dos braços nos ombros de Eren o puxando para mais perto e apoiou seu rosto ao seu lado, olhou a pequena tela sério enquanto Eren com as bochechas queimadas pelo sol sorria largamente esperando por aquela foto. Diante disso, Levi abriu sua boca em um sorriso e a tirou surpreendendo Eren por aquele gesto. Queria a guardar em seu próprio aparelho, não no do namorado sendo impossibilitado de ver aquele sorriso diariamente, afinal aquela sim era uma foto digna de casal.

- Acho que essa foi exatamente do jeito que você queria, não? — Perguntou analisando a foto com certo cuidado e extremo carinho com seu semblante novamente sério. — Não gosto muito dessas coisas, mas algumas podemos tirar, basta pedir, não precisa fazer as coisas escondidas. Apesar de ter achado divertido teus amigos surtando com a possibilidade daquela piada ser real.

- Caralho, mande-me essa, preciso colocar de papel de parede do meu celular. — Pediu quase fazendo um bico para o namorado ainda observando aquela foto com certo brilho no olhar. Viu-o procurar o contato intitulado como "meu amor" e então enviar a foto para ele, por estar desligado não recebeu, mas Eren sabia que no instante que ligasse iria ter aquela imagem. — Sabe o que eu vi quando saímos do hotel? 

- Além do teu olhar de ódio à recepcionista por ter me cantado na sua frente? — Perguntou com certa diversão velada tentando manter seu rosto neutro, mas estava sendo bem difícil ficar indiferente naqueles últimos dias. — Não sei, o que viu?

- Estávamos juntos, alianças iguais e o nosso quarto é de casal, o que diabos aquela mulher pensou que seríamos para achar que poderia falar assim contigo?! — Eren tentou se defender, mas sorriu não insistindo em fingir que não sentiu-se enciumado com aquilo e também feliz por vê-lo chamar de "amor" na frente de outras pessoas. — Enfim, tivemos sorte, vai ter um luau hoje a noite, então, para a nossa sorte podemos ir, se você quiser…

Passou os dedos delicadamente sobre aquelas faixas sem colocar qualquer força, apenas um carinho para o chamar sua atenção e parar de fechar os olhos para dormir.

- Pode ser feito, já disse que tudo que pedir eu vou fazer, desde que esteja ao meu alcance. Prometi a mim mesmo que iria te mimar o suficiente e nunca me arrepender de não ter deixado de fazer algo que você queria. Então, irei até um luau estúpido, desde que esteja com você será bem aproveitado.

- Caralho… Você fala essas coisas e eu tenho uma vontade absurda de te puxar para uma igreja e cartório para casar-me contigo. Puta que pariu, eu odiava essa ideia até te conhecer, mas agora…

- Então, case-se comigo. — Abriu os olhos cinzentos para ver aquelas bochechas vermelhas de Eren, a boca aberta em completo choque esperando qualquer comentário sarcástico se seguindo a aquele pedido, mas apesar de Levi estar sorrindo não parecia que estava debochando de sua cara. — Ninguém precisa saber. Se você quiser, eu quero.

Eren ficou alguns bons segundos sem emitir qualquer som, estava chocado demais para conseguir formular qualquer frase com sentido a não ser um blá blá estranho e desconexo.

- Puta merda, estás brincando com a minha cara, certo?!

Lembrava-se bem de uma conversa que tiveram em uma noite após Levi finalmente descobrir que não era o pai de Gus, da forma que sentiu seu coração agitar-se ao ouvir o "Você quer se casar comigo?", obviamente naquela noite era apenas uma interrogação à proposta feita para que adotassem Gustav, visto que Eren ainda tinha alguns medos e receios sobre casamento. Porém, ali com ambos deitados próximos um do outro sabia que era um pedido sério, daquela vez era e Eren não sabia o que fazer.

- Não. — Levi negou e moveu a mão até chegar às bochechas vermelhas de Eren, passou o polegar com certo carinho e lhe direcionou uma piscada de olho. — Não precisa ser agora, mas o pedido está feito. Sinto-me preparado para te chamar de marido um dia. — Mais um sorriso e uma mordida de lábios estranhando um pouco aquela palavra, mas facilmente conseguiria se habituar a ela. — Parabéns, pirralho, conseguiste algo desse nível vindo de mim. Uma coisa que nem eu mesmo imaginei fazendo com alguém. Então, quer se casar comigo?

 


Notas Finais


Talvez um pouco inusitado esse finalzinho? Sim, com certeza, mas pensei: "Caralho, já estamos no cap 47 e eu que mando aqui, então vamos ter um pedido meloso SIM. O momento foi propício pacas, então..." ahahha
Espero que tenham curtido! Além disso, já que uma galera disse que não se importam com o tamanho meio "grandinho" dos cap's fico mais tranquila em enviar um desse tamanho <3


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