História Mizuki - ShinoKiba - Capítulo 1 - Eu estou aqui

 - Por favor para de chorar... Por favor... – Shino pedia enquanto andava de um lado para o outro com a bebê no colo.

O Aburame não sabia o que fazer, já tinha conferido a fralda da filha e estava limpa, fez uma mamadeira para ela achando que estava com fome, mas também não era fome e de longe parecia ser sono; afinal a pequena tinha acordado chorando aos plenos pulmões. Era como se sua pequena vida precisasse disso para continuar viva, mas que apenas deixava Shino angustiado sem saber o que fazer para ajudar sua pequena princesa.

- Por favor... – Lamentou escorando as costas na parede se deixando escorregar até ficar sentado no chão com a bebê no colo.

Shino retirou os óculos escuros com a mão livre e os repousou ao seu lado. Olhava para a bebê que já tinha o rosto vermelho de tanto chorar e sentia que iria seguir o mesmo caminho se não soubesse logo o que a pequena tinha; mas nada do que fazia adiantava e não podia ligar para ninguém pois já era tarde da noite. Sabia que podia contar com Hinata e Kurenai, porém não queria tirar as duas mulheres do conforto de suas casas apenas para lhe ajudar; mas ver sua filha chorar daquele jeito estava partindo o coração do usuário de insetos.

- O que eu faço, Hotaru? – Falou baixinho sentindo os olhos ficarem marejados.

Hotaru era o nome da falecida esposa de Shino, a mulher acabou morrendo após ter dado a luz a filha de ambos. A gravidez não era de risco, porém passou a ser depois da queda que a mulher tinha levado quando estava grávida de cinco meses; a sorte do jovem casal era que Sakura tinha conseguido estabilizar permitindo que a gravidez pudesse continuar mesmo que tivesse se tornado de risco. Shino e Hotaru tinham decidido continuar com a gravidez, iriam até o fim mesmo que no dia esperado algo trágico pudesse acontecer.

- Com você aqui as coisas seriam mais fáceis... – Lamentou sentindo as lágrimas finalmente descerem pelo seu rosto. – Você saberia o que fazer... Você iria conseguir descobrir o que ela tem... Você faz falta querida...

Shino não aguentava mais, iria fazer um mês que tinha perdido a esposa e que sua filha tinha nascido, mas tudo parecia estar indo de mau a pior. O dinheiro que tinha por causa das missões ninjas estava pela metade – quase acabando -, precisava procurar um emprego rápido e ao mesmo tempo tinha que cuidar de sua filha, o quão complicado tinha se tornado a sua vida e nem tinha percebido? Precisava fazer a barba, seus cabelos estavam grandes chegando perto dos ombros, tinha roupa suja jogadas pelo o quarto e ainda estava com a camisa suja de urina da pequena. Estava uma decadência e admitia isso, só uma luz para lhe salva daquela escuridão toda. Poderia até ser alguém sério e centrado, mas toda aquela confusão estava lhe acabando aos poucos.

O Aburame não ligava para mais nada, tentava fazer a filha parar de chorar enquanto deixava as próprias lágrimas banharem seu rosto, mas nada adiantava, acabava voltando para a estaca zero, tendo a pequena chorando aos berros. Já não via a hora dos vizinhos ligarem para a Central de atendimentos da polícia e eles virem bater na sua porta por perturbação a paz e mau cuidados de menor. Só de pensar nisso o rapaz riu em meio as lágrimas, sentindo elas fazerem caminho pela lateral do seu rosto até chegarem ao seu queixo e caírem na mantinha cor verde – que sua filha estava enrolada -.

- Vamos lá pequena... Colabora com o papai... Por favor... – Pediu baixinho com a voz embargada e falha.

Continuou tentando acalmar a filha até que escutou a porta de sua casa sendo aberta e em seguida fechada. Ouviu passos rápidos e pesados ecoar pelos corredores da casa até que a sombra de um homem apareceu em frente a porta do quarto, Shino sorriu triste para o homem parado a sua frente abaixando a cabeça em direção a filha.

- Me der ela. – Disse o homem sério. Shino sem ter forças para lutar, esticou os braços com a bebê.

Shino puxou as pernas mais para si e as abraçou se pondo a chorar baixinho com o rosto escondido entre elas. Já o homem embalava a bebê nos braços com cuidado enquanto fazia massagem na barriguinha da mesma, aos pouco o choro da bebê foi diminuindo até se tornar apenas soluços e resmungos. O rostinho da pequena ainda tinha um tom avermelhado, mas nada comparado como estava antes.

- Shino, por que não ligou para Hinata ou para a Kurenai? Ou até mesmo para Sakura? – Indagou o homem não recebendo resposta do outro. – Shino, eu—

- Eu sou um péssimo pai, Kiba... – Decretou em meio ao choro. – Eu não sabia nem o que a minha própria filha tinha, mas olha só para você!? Você conseguiu resolver isso em questão de segundos... Eu sou um merda como pai...

- Pare de dizer essas coisas! – Falou um pouco alto. Não seria louco de falar alto e fazer a bebê chorar novamente. – O que você acha que Hotaru iria dizer ao ouvir você falando isso? Ela iria brigar até você aceitar o fato de que não é um péssimo pai!

- Mas eu sou um péssimo pai, Kiba! – Disse com raiva enquanto se levantava. – Ela merece um pai melhor, alguém que cuide dela melhor do que eu...

- Shino, caralho! – Kiba estava perdendo a paciência que não tinha. – Eu não vou discutir com você. – Respirou fundo antes de continuar. – Vá tomar um banho, troque de roupas e me encontre na cozinha. Vamos conversar...

Shino fez o que foi mandado, sabia que se não fizesse por bem iria ter o amigo em seu pé até não aguentar mais. Já Kiba suspirou ao ver o amigo entrando no banheiro e fechando a porta, o Inuzuka sabia mas do que todos como estava sendo difícil para Shino tudo aquilo. Afinal o Aburame era um pai viúvo que não podia sair em missões e cuidar da filha ao mesmo tempo, sabia o quanto a morte de Hotaru estava pesando na consciência de Shino; tinha que fazer o amigo abrir os olhos antes que fizesse algo errado ou até mesmo algo pior e – definitivamente – não queria perder o amigo, isso não estava em seus planos.

- Vamos pequena, vou por você para dormir. – Falou olhando a pequena que soluçava baixinho.

Kiba saiu do quarto de Shino – não sem antes de ouvir a água caindo do chuveiro – e indo para o quarto da pequena. O quarto tinha sido decorado pelo time oito mais Hotaru, nele tinha de tudo um pouco de cada um. A cor das paredes era em um tom amarelo claro enquanto o teto era de um azul escuro, nele tinha estrelas que brilhavam no escuro grudadas, ao canto tinha o berço de cor branca com imagens de uns animais fofos pelas laterais – tinha sido escolhido por Kurenai e dado como presente ao casal -, já para o lado esquerdo do quarto tinha um guarda-roupa de cor azul claro com uns vagalumes desenhados que vinham do pé do móvel até metade do mesmo, agora perto da janela e da cadeira de balanço tinha uma prateleira com bichinhos de pelúcias e entre eles tinha uma pelúcia de tamanho média de um cachorrinho – esse dado por Kiba enquanto todos as outras pelúcias tinha sido dado por Hinata – e na parede onde tinha o berço, tinha um desenho de um gatinho que tinha sido feito por Hotaru.

Para Kiba, entrar naquele quarto era como reviver lembranças boas, lembranças de quando Hotaru era viva e os quatro – quando Kurenai não podia ir por ter que cuidar da pequena Mirai – passavam horas naquele quarto imaginando e planejando coisas para quando a nova integrante do clã Aburame nascesse. Como sentia saudades desses dias, Hotaru realmente fazia falta e por memória de Hotaru que Kiba não iria deixar o amigo se perder.

- Prometo que vou fazer seu papai entrar nos eixos, pequena. – Falou baixinho colocando a menina no berço.

Antes de sair, pegou a pelúcia de cachorro e deixou ao lado da menor no berço, ligou a babá eletrônica pegando a outra e assim saindo do quarto indo de volta para o  de Shino. Encontrando o amigo deitado de lado na cama, Kiba suspirou olhando para o estado do amigo antes de começar a se aproximar da cama. O Inuzuka tinha tirado a jaqueta cinza felpuda deixando-a no cabide que tinha logo na entrada da casa, ele apenas usava o colete que mostrava sua posição como ninja de Konohagakure; o mesmo optou por tirar ela também, deixando ela em uma cadeira que tinha ali no quarto do melhor amigo.

Kiba subiu na cama se deitando com a barriga para cima olhando fixo para o teto, sabia que tinha que conversar sério com Shino; porém não sabia como dar início a conversa. O homem suspirou antes de se virar e dar de cara com um Shino chorando em silêncio com os olhos fechados, Kiba olhou bem para o rosto do amigo decidindo que por enquanto não iria conversar com o mesmo; mas apenas iria ficar ali com o amigo até que ele se sentisse melhor.

- Eu estou aqui... Pode chorar a vontade... – Sussurrou Kiba se aproximando de Shino e o envolvendo em seus braços, o apertando quando ouviu o choro aumentar. Tinha que ser forte pelo o amigo, tinha que estar ali para ele enquanto os outros não podiam.

Afinal, amigos servem para isso.