Eu queria que aquele momento durasse para sempre, porém... Nem sempre acontece o que queremos.
Em meio aos beijos e carícias de Ryan sobre mim, fomos surpreendidos ao ouvir a porta sendo aberta e um baixo “Não acredito” feminino sendo solto logo após. Rapidamente nos separamos e então foi quando eu quase tive um ataque cardíaco no meio da sala de aula, ao ver a garota que nos encarava com lágrimas nos olhos.
-Laura... -Ryan falou, com um tom extremamente triste em sua voz.
A patricinha da escola, a amiga dos populares, a famosa boneca perfeita da cidade, estava diante dos meus olhos, se aproximando de nós com o rosto vermelho e muitas lágrimas descendo pelo seu rosto.
-Ryan... -Ela murmurou, com a voz embargada pelo choro.
Laura conseguia permanecer bonita mesmo chorando. Seus cabelos loiros-claro pintados na ponta de roxo estavam soltos como sempre, seus olhos verdes esmeralda brilhavam e lacrimejavam como uma joia brilhando depois de ser polida e sua maquiagem, em exceção pelo seu rímel, estava impecável. A aparência perfeita para a garota perfeita que agora estava de coração partido.
-Como você pôde... -Ela murmurou para si mesma, olhando para mim e para Ryan com fogo nos olhos.
-Laura, não é o que par-
-ENTÃO O QUE É?! EU ACHO QUE É BEM ÓBVIO O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI! -Ela de repente descarregou, deixando que mais lágrimas caíssem fortemente.
Eu estava travado. Mesmo tentando, eu não conseguia proferir nenhuma palavra para acalmá-la. Nenhuma.
-Laura, por favor me escut-
-CALA A BOCA, RYAN! -Ela parou um pouco para deixar que mais lágrimas caíssem. -O QUE VOCÊ ESTAVA PENSANDO ENQUANTO ESTAVA FAZENDO ISSO?!! ESQUECEU QUE TEM UMA NAMORADA, POR ACASO?! -Ao gritar, ela enfatizou a palavra “namorada”, olhando para mim com os olhos queimando de raiva.
-Laura...
-Ryan, como você... -Ela começou a murmurar para si mesma, puxando a raiz de seus cabelos com força. -Você pensou por um segundo sequer como eu reagiria ao descobrir que você quebrou meu coração...? VOCÊ SEQUER PENSOU EM MIM??! -Ela chorava e gritava tanto, em breve alguém fora da sala poderia ouvi-la e contar aos outros, isso definitivamente não pode acontecer.
-Laura, me deixe explicar...
-VOCÊ NÃO TEM NADA A ME EXPLICAR, RYAN, NADA!!
Minhas mãos começaram a tremer, o que ela iria fazer? Será que ela contaria aos outros, ou... Eu não sei, não sei!
-Laura, por favor me escute, ao menos uma vez na vida. -Ryan falou, já impaciente.
-UMA VEZ NA VIDA? VÁ A MERDA COM SUAS FALSAS ACUSAÇÕES, EU FUI QUEM SEMPRE TE ESCUTOU EM TODA ESSA MERDA DE RELAÇÃO, VOCÊ É QUEM NUNCA FEZ QUESTÃO DE ME OUVIR, NUNCA!!
-Se acalma, Laura.
-ME ACALMAR?!! -Má decisão, Ryan. Má decisão. -EU DEVERIA ME ACALMAR POR QUE? EU ACABEI DE VER O MEU NAMORADO ME TRAINDO COM UM HOMEM, UM HOMEM!! E ACHA QUE EU DEVERIA REAGIR COMO? PACIFICAMENTE??!
Comecei a gaguejar, tentando ao máximo dirigir ao menos uma palavra para Laura, mas o som não saía de forma alguma.
-Já deu Laura...
-MAS-
-JÁ DEU, LAURA!! -Ele gritou de repente, me fazendo recuar um pouco pelo susto.
Laura se calou, obviamente ainda perturbada com o que estava acontecendo. Eu estava do mesmo jeito, porém enquanto tentava reunir o máximo de coragem possível para pronunciar ao menos uma palavra para tentar acalmá-los.
-Eu... Eu sinto muito pelo o que você teve que ver agora, eu não deveria ter feito isso realmente... -Laura começou a se acalmar, porém- MAS VOCÊ TAMBÉM ME TRAIU, LAURA!!
-O QUÊ?!
-ACHA QUE EU NÃO SEI?? VOCÊ JÁ TRANSOU COM TODOS OS GAROTOS DO 3° ANO, POR QUE EU NÃO POSSO ENTÃO TE TRAIR COM UM GAROTO? -Ele enfatizou o numeral, apontando o dedo na cara da namorada. -Eu não sou o único errado nessa história, Laura, muito pelo contrário.
-Ryan, eu... -Ela parecia surpresa, e eu tanto quanto ela. Por que quase todas as garotas dessa escola tem um tesão tão grande pelos alunos do 3° ano?
-EU SEMPRE SOUBE DESDE O INÍCIO ESSA MERDA QUE VOCÊ TAVA FAZENDO, POR QUE ACHA QUE EU ESTOU COM ELE?! -De súbito Ryan aponta para mim e eu congelo.
O quê...?
-O quê...? O que quer dizer com isso? -A garota parecia tão confusa como eu.
-QUAL É A FORMA MAIS CRUEL DE HUMILHAR UMA GAROTA?? -Não... -TRAINDO ELA COM UM GAROTO!!
Não...
-Ryan, como você... -Ela olhou para mim, que agora segurava as lágrimas mais do que tudo. -Ele...
Sem sucesso, acabei deixando uma lágrima solitária descer pelo meu rosto. A raiva e a tristeza me envolviam como um só de um jeito perturbador e ao mesmo tempo único, era como se toda a vergonha e medo que eu antes sentia se esvaísse de uma só vez.
-Ryan. -Eu falei pela primeira vez naquele cômodo, olhando para ele no fundo de seus olhos.
Ele olhou para mim e o sorriso perverso em seu rosto sumiu na hora, seus olhos se arregalaram e sua respiração se tornou falha.
-NÃO PATRICK, NÃO FOI O QUE EU QUIS DIZER, ME DESCUL- Ele estendeu a mão para mim, pronto para acariciar meus cabelos como ele sempre fazia, porém eu não o deixei. Segurei seu pulso no ar antes que ele tocasse em meus cabelos e apertei-o com pouca força. Encarei ele com a expressão mais irritada que pude reunir.
Nenhuma palavra saiu de minha boca. Não era necessário, apenas pelo meu olhar eu já podia soltar toda a ira e decepção que não poderiam ser descritas detalhadamente em palavras. Eu não precisava falar nada, eles sabiam o que eu estava pensando.
Soltei seu pulso lentamente, deixando que seu braço ficasse estendido ao ar sem nenhuma resposta, e me afastei dele, sem deixar que ele ousasse me tocar novamente.
-Como você pôde, Ryan? Me usar como... Como um mero objeto de vingança? Não imaginava que você podia jogar tão baixo assim... -Falei, com o desgosto óbvio em meu tom.
-Não, Patrick, eu não quis dizer isso...
-E o que você quis dizer então? -Devolvi no mesmo tom de antes.
Todos naquela sala se calaram num silêncio desconfortável, os três olhando uns para os outros com ódio, tristeza e arrependimento.
-Eu t-tenho que ir, resolvam esse problema entre vocês. -Laura se dirigiu até a porta à passos lentos, porém parou em minha frente.
A minha vergonha e meu medo voltaram na mesma hora, temendo o que ela poderia fazer em seguida, mas no fim ela apenas deu dois tapinhas em meu ombro e falou, com um sorriso fraco no rosto:
-Tome cuidado com ele.
Ela se virou para Ryan e falou entre dentes, com os olhos flamejando de ódio:
-Eu espero que você queime no inferno.
E então ela saiu da sala a passos lentos, nos deixando a sós.
Nos encaramos por longos minutos, sem ousarmos falar nada um para o outro. Qualquer palavra que tentássemos proferir poderia ser calada ou ignorada, então nos mantemos em silêncio por um bom tempo.
Mas enfim o silêncio fora quebrado, quando Ryan começou a se aproximar de mim, falando com cautela para acabar não falando as coisas erradas:
-Patrick, eu...
-Cala a boca, Ryan. -Eu falei virando o olhar para a parede e cruzando os braços, sem ousar encará-lo.
-Patrick, você sabe que eu apenas disse isso por impulso, não é? Eu estava irritado.
-É quando estamos com raiva que revelamos a verdade. -Falei seco, ainda sem olhar em seus olhos.
-Eu... -Ele reparou que eu estava certo. -Eu sinto muito Patrick, eu estava tão irritado com a Laura com todas as traições dela, queria tanto fazê-la se sentir como eu me senti, mas eu não sabia como... E então eu encontrei você...
Ele se aproximava ainda mais, podia ouvir seus passos a apenas um metro de distância de mim.
-No início, você realmente era apenas uma parte de minha vingança contra Laura. -Me encolhi involuntariamente. -Eu não tinha nenhum interesse além disso, eu nem sequer me considerava interessado por homens, mas... Você me acordou para a realidade. Você me fez descobrir quem eu sou. Você me fez perceber que eu posso ser quem eu realmente sou. -Hesitei sobre encará-lo.
Antes que pudesse me manifestar, senti dois fortes braços envolver a minha cintura, me abraçando por trás. Vi pelo canto dos olhos parte do rosto de Ryan se esconder em meu ombro, fazendo com que eu pudesse sentir sua respiração pesada em meu pescoço, me arrepiando por completo.
-Você me fez descobrir que eu gosto de homens... Que eu gosto de você, Patrick. -Ele distribuiu beijos em meu pescoço, dando leves mordidas no lóbulo da minha orelha.
-R-Ryan... -Enfim me virei para ele e o dei um selinho tímido. Ele foi mais ousado e começou a me beijar novamente, já movimentando sua língua pela minha boca com pressa, como se estivesse ansiando por aquele momento. -P-Precisamos sair logo, o intervalo já vai acabar.
Ele fez um biquinho, me causando algumas risadas e apertos na bochecha. Nos viramos para nos sair, mas notamos que, na mesa do professor, havia algo que não estava lá antes. Nos entreolhamos confusos e curiosos e nos aproximamos da mesa do professor rapidamente. Ao olhar mais atentamente, vimos que se tratava de um bilhete escrito à mão, escrito em uma letra que eu reconheceria de longe:
“Já que o casal parece tão bem junto, convido OS DOIS para a minha festa de aniversário, no dia 17 de agosto. Lugar e horário favor solicitar por mensagem.
Xoxo, Mag ♡
P.S: Vocês ficam absolutamente LINDOS juntos, mas por favor parem de se pegar na sala de aula, não seria legal pra ninguém encontrar um monte de porra (literalmente) na carteira de alguém. ♡”
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