Um cantarolar leve invadia seus ouvidos. Abrindo os olhos devagar e piscando até acostumar com a claridade, passou os olhos pelo lugar e viu que não estava em casa.
— Você acordou! Está bem?
Um sorriso surgiu em seu rosto quando percebeu de quem era aquela voz. Olhou na sua direção e sorriu. Ele se levantou e foi até a porta. Uma mão quente e macia tocou em sua bochecha em forma de carinho.
— Você desmaiou por fraqueza, quanto tempo ficou sem se alimentar ou ter uma boa noite de sono?
— O que você faz aqui? – balbuciou, foi a única coisa que saiu da sua boca.
Antes de Toji responder, a enfermeira entrou no quarto.
— Como está se sentindo senhorita? – perguntou a enfermeira.
— Bem, apenas com dores na cabeça e no corpo.
— Essas dores são normais. – ela disse trocando o soro. – Sua sorte é que tinha alguém com você. Seu nível glicêmico estava muito baixo, provavelmente pela falta de alimentação.
— Eu dormi por quanto tempo?
— Já é domingo. – Toji falou segurando sua mão.
— Sim, foram mais de 24 horas, talvez por conta dos medicamentos. Bem, o médico virá para dar o relatório e fazer algumas perguntas, tudo bem? – assentiu. – Se precisarem me chamem.
A mulher saiu do lugar deixando vocês sozinhos. Sua cabeça doía. Não se recordava de muita coisa, apenas que Geto estava na sua casa e de repente tudo ficou escuro.
— Onde está Geto? – perguntou para Toji.
Ele te encarou sério com os braços cruzados.
— Ele precisava ir.
— Ah. – disse se sentando sentindo o corpo dolorido. – E como soube que estava aqui?
— Combinamos um jantar, esqueceu? – respondeu. – Como se sente? – perguntou passando as costas das mãos em sua testa.
— Estou melhor. – falou com os olhos fechados.
— Você precisa cuidar de si mesma. E se estivesse sozinha?
— Eu sei... – respondeu olhando a janela.
— E o que Geto fazia na sua casa? – você percebeu a mudança no tom de voz.
— Ele foi perguntar algo sobre o festival e ficamos conversando sobre... – você o encarou.
— Sobre?
— Não consigo me recordar, talvez eu tenha desmaiado nessa hora.
Antes de ser questionada sobre outra coisa, um homem de jaleco apareceu na porta.
— Boa tarde, como se sente? – olhou para você.
— Melhor.
— Que bom! Preciso que o senhor se retire. Tudo bem? – disse para Toji.
Ele se levantou dando um beijo na sua testa e encarou o médico antes de sair pela porta.
— Por quanto tempo mais eu terei que ficar aqui? – perguntou.
— Se tudo estiver ok, pode sair ainda hoje, farei apenas umas perguntas e alguns exames e liberarei, o importante é a sua saúde.
Assentiu.
— Como ela está?
— Bem. – Toji respondeu ríspido. – Agradeço por ter trazido ela, pode ir agora, sua presença não é mais necessária.
— Ficarei. Quero vê-la antes de ir. – Geto falou encarando Fushiguro que não desviou.
— Que seja! – se sentou nas cadeiras da ala de espera, você fazia os exames.
Suguru também se sentou.
— Vocês são próximos? – Toji perguntou.
— Talvez. – disse com um sorriso nos lábios. – E você? Um professor vir ao hospital por uma aluna e estar estacionado na frente da casa dela não é algo muito profissional.
— Não é da sua conta.
— Eu acho que é.
— Seria se você tivesse algo com ela ou fosse relevante para mim, o que não é nenhum dos casos.
— Como você sabe que eu não tenho nada com ela?
Toji riu, mas logo sua expressão mudou.
— Não importa.
— Não é o que parece.
Fushiguro se levantou vendo que de longe você vinha na direção da recepção conversando com o médico.
— Eu realmente agradeço por sua preocupação e cuidado, mas agora, é melhor você ir para sua casa. Espero que saia do meu caminho. – mesmo tendo um sorriso no rosto, a maneira que disse foi extremamente ameaçadora.
Antes de Geto responder, ele simplesmente foi andando na sua direção deixando o homem sem reação.
— Então é isso. Por favor, cuide-se! Não fique sem comer, qualquer problema pode vir falar comigo.
— Certo. Obrigada, doutor.
Ele deu um sorriso e virou as costas. Foi até a recepção e sentiu uma mão em sua cintura.
— Tudo certo?
— Sim. Só foi um susto, preciso de repouso e me alimentar melhor, recebi uma nova prescrição também.
— Bom, vem te levo para casa.
Balançou a cabeça em confirmação e levou os olhos até as cadeiras de espera.
— Procurando alguém? – Toji perguntou colocando a mão em seu ombro e dando um leve aperto.
— Não, ninguém. Vamos?
Seguiram para fora do hospital e entraram no carro do homem.
No caminho para sua casa não conseguia pensar muito por causa da dor insuportável da sua cabeça. O balançar do carro era leve e mesmo depois de dormir tanto se sentia cansada. Dormiu.
Acordou se espreguiçando e sentiu algo macio e confortável nas costas, estava na sua cama. O ambiente estava escuro. Em passos lentos foi até o banheiro lavar o rosto e viu que vestia roupas diferentes.
Saindo do banheiro e abrindo as cortinas o céu escuro pela noite era visível. Caminhou em direção a sala e recordou-se. Dormiu novamente no carro de Toji.
Próxima a cozinha um cheiro gostoso invadia suas narinas e quando chegou ao cômodo um sorriso singelo surgiu. Toji cortava tomates com as mangas da camisa social preta arregaçadas até o cotovelo escutando uma musica calma que saia de algum local que você não distinguiu qual.
Escorou silenciosamente na batente da porta apreciando a cena.
— Não sabia que cozinhava. – falou em um tom baixo indo até o balcão.
Toji levantou lentamente o olhar até você.
— Tem muitas coisas que não sabe.
— Verdade? – arqueou uma das sobrancelhas.
— Assim como tem muitas coisas que não sei sobre você.
— Precisa de ajuda?
— Não, pode sentar, já está quase pronto.
Você assentiu e sentou-se à mesa que já estava arrumada. Começou a se sentir nervosa. Percebeu que Toji Fushiguro estava na sua casa e estava preparando o jantar para você.
— Espero que goste de comida italiana. – disse ele colocando o prato pronto na sua frente.
— Ravioli! O cheiro está ótimo, obrigada. – observou o mais velho se sentar ao seu lado. – Acho que ainda tenho vinho, um minuto.
Levantou e abriu um dos armários e por sorte realmente tinha. Voltou à mesa com o vinho em mãos e duas taças.
— Acho que podemos ter o nosso "encontro".
Sorriu.
— Está incrivelmente bom! – disse. – Você leva jeito na cozinha.
— Agradeço, massa e molhos são minhas especialidades. – bebericou o vinho.
— Senhor Fushiguro, como conseguiu essa cicatriz? – perguntou com uma expressão seria o encarando.
Toji riu.
— Você sabe que não há necessidades de formalidades. – apoiou os braços na mesa. – Faz muito tempo já. Foi um acidente. – colocou uma das mãos no queixo.
— Entendi... – murmurou.
— Pode perguntar o que quiser, não precisa ficar assim. – ele percebeu que estava tensa.
— Você já foi casado? – mordeu o lábio inferior receosa.
— Na verdade não exatamente, mas pode se dizer que sim.
— E o que aconteceu?
Toji mudou de feição.
— Não estamos mais juntos, foi há muito tempo também.
Você levou o vinho à boca e mordeu a bochecha internamente, pensou que talvez fosse complicado para ele falar sobre aquilo.
— Posso fazer uma pergunta também? – Toji disse.
— Claro!
— Você tem algum relacionamento com alguém?
O olhou confusa.
— Não, só tive um relacionamento em toda minha vida.
— Oh! Verdade? E faz muito tempo?
— Tem mais de um ano que terminamos. Foi um relacionamento conturbado, nenhum de nós fazia bem um para o outro.
— Continue.
— Bem. – suspirou. – Nos conhecemos na adolescência ainda, ele era mais velho, já estava indo para a universidade e no começo até era bom, entende? Em algum momento desandou e varias pessoas comentavam sobre ele me trair. Minha insegurança apenas aumentou com isso. Ele era bem possessivo também e chegava até ser agressivo às vezes...
— Ele chegou a fazer algo com você?
Sentiu seus olhos molharem.
— Não precisa continuar se não quiser. – Toji se levantou te puxando junto. – Está tudo bem agora, eu estou aqui. O único com quem você pode contar. – falou te dando um abraço.
Você confirmou com a cabeça e afundou ela no peitoral do homem e sentiu lágrimas descerem pela bochecha. Odiava se sentir vulnerável, mas estava feliz por saber que ele estava ali com você, por você.
— Olha aqui. – Fushiguro disse. – Eu prometo para você que ficará tudo bem. E que ninguém vai te machucar, nunca mais. E quem já fez algo com você pagará um dia, certo? – assentiu com a cabeça e ele deu um selar na sua testa. – Agora vamos terminar de jantar, amanhã temos coisas para resolver.
Sentaram-se à mesa e continuaram a comer. Sentia-se mais leve e decidiu perguntar.
— Toji, você sabe quem é Naomi?
Ele tossiu e engasgou com o que estava na boca. Você percebeu e soube que ele sabia de algo.
— No semestre passado dei algumas aulas para ela, por quê?
— Eram próximos?
— Tínhamos uma relação de aluna e professor.
— Assim como nós temos?
Ele te encarou serio.
— Não.
Você suspirou e finalizou.
— Bem, queria saber dela, ela dava aulas particulares de historia, não?
— Sim. Mas ela sumiu, deve ter se mudado.
Ele respondia em um tom seco.
— Sim.
O resto do jantar era apenas conversas banais sobre historia e vez ou outra coisas pessoais sobre ambos. Você ficou receosa sobre perguntar mais alguma coisa sobre o passado de Toji, então apenas deixou passar, por enquanto, queria aproveitar o momento.
Terminavam de secar e guardar a louça.
— Esqueci de agradecer pelo jantar. – falou sorrindo.
— Não precisa agradecer. Fiquei feliz por termos jantando juntos. – se aproximou.
Ficaram de frente um para outro e Toji levou a mão na sua bochecha e acariciou. Você fechou os olhos com o contato.
— Você pode dormir aqui? – perguntou ainda com os olhos fechados.
— Claro. – falou baixo se aproximando.
Sentia sua respiração próxima ao seu rosto e o coração acelerado. Repousou as mãos no peitoral de Toji e ficou mais próxima também.
Quando a mínima distancia seria quebrada escutou o celular tocar. Viu o homem suspirar e revirar os olhos. E afastou indo até onde o aparelho estava.
— Alô?
— Oi! Sou eu, Geto. Liguei para saber se estava bem, não consegui te ver depois que acordou...
— Ah, oi Geto! – Toji te encarou. – Estou bem sim! Queria agradecer, não sei o que aconteceria se você não estivesse aqui.
— Fico feliz que esteja bem! Ryo...?
— Sim?
— Fushiguro está com você? – olhou para o mesmo.
— Sim, por quê?
— Nada. Enfim, desculpa atrapalhar, tome cuidado! Te vejo essa semana.
— Imagina, obrigada por tudo, mais uma vez, até! – desligou o celular salvando o número do homem.
— Tudo certo? – Toji se aproximou.
— Hm? Ah, sim! Tudo sim, ele apenas queria saber se estava tudo bem. – Fushiguro colocou as mãos em sua cintura e a cabeça em seus ombros.
— Deveria colocar uma senha no seu celular, por precaução, sabe?
O encarou com uma expressão confusa.
— Irei fazer isso. – disse simples bloqueando o aparelho.
Toji o tomou da sua mão e o jogou no sofá.
— Agora. – sussurrou te virando de frente para ele. – Voltando no que estávamos fazendo.
Você sorriu e sentiu os lábios dele nos seus. Era um beijo calmo, mas quente, o gosto do vinho era presente deixando ele ainda mais agradável. As mãos de Toji firmaram sua cintura te puxando fazendo seus corpos colidirem. Levou suas mãos até a nuca do mesmo o puxando mais.
O beijo seria intensificado quando o homem parou se afastou.
— Não... – sussurrou. – Você precisa de descanso. – balançou a cabeça.
— Mas... – o puxou de volta passando a língua nos lábios do mesmo. – Eu quero...
— Eu também, mas não vou conseguir pegar leve se começar. – afastou olhando em seus olhos. – É melhor nos prepararmos para dormir.
Você bufou em resposta e Toji riu da sua expressão colocando a mão em sua bochecha e apertando.
— Calma bonequinha, você precisa estar totalmente recuperada. – puxou seu rosto ficando na altura do seu ouvido. – Porque assim não precisarei me conter. – disse baixo sorrindo lascivamente.
O encarou acenando. Ele fez um carinho em sua bochecha e estendeu a mão para você te levando até o banheiro para um banho.
Já banhados deitaram-se em sua cama abraçados.
— Boa noite, querida. – Toji sussurrou em seu ouvido.
— Boa noite, amor. – você disse.
O sono com Toji vinha com facilidade, sentia-se segura e confortável com ele. Uma sensação boa. Sentiu suas pálpebras pesarem e adormeceu.
Você dormia traquilamente, era perto das 3 da manhã. Em passos silenciosos, foi até a sala e pegou seu celular.
Koji Saito
Quando a gente vai se encontrar de novo?
Tô’ com saudades.
domingo, 23:32pm.
Nunca mais, se depender de mim.
Não foi o que disse da ultima vez.
Aquilo foi um erro, uma recaída, não irá se repetir.
Ah, qual é! Eu sei que você precisa de mim.
0:40am
Vai mesmo me ignorar?
Fala sério!
Segunda-feira, 11:46am
— Ela ainda tem contato recente com ele? – questionou para si mesmo – Que cara insuportável. Você tem um gosto questionável.
Me encontre nesse endereço, hoje.
Encaminhada para Koji e Geto, Segunda-feira, 03:13am.
— Certo... Agora excluímos e bloqueamos.
Voltou para o quarto e te observou dormindo.
— Eu prometo que ninguém vai te machucar novamente. – deu um selar na sua testa. – E removerei qualquer um que fique no nosso caminho.
Pegou suas coisas e saiu.
[...]
— ‘Tô te falando Koji, essa mina é surtada você vai entrar em enrascada de novo... Já não basta a sua ex? Ela não era... Como é que se fala? Maníaca, não sei?
— Ela era possessiva demais e tinha umas manias e fetiches estranhos, mas era uma boa pessoa, acho que realmente amava ela. – Saito disse dando um gole na cerveja.
— Amava tanto que fodia com sua colega de trabalho ao invés da namorada... – o amigo debochou.
— Cala boca. - riu junto. - Talvez fosse só um sentimento por ela ser a primeira. Sem contar que o pai dela me bancava, então só uni o útil ao agradável. Ela fodia bem também.
Sentiu o celular vibrar e viu que era uma mensagem.
— Nem fodendo. Falando no diabo...
— Ela te mandou mensagem? Mas a mesma não disse que não queria te ver nunca mais.
— Sou irresistível, sabe disso.
— E você vai?
— Bem, mesmo sendo louca ela é uma puta gostosa.
— Se eu fosse você tomaria cuidado.
— Que nada, é apenas uma foda. Aquela vadia é uma maníaca sexual compulsiva. - deu o último gole na cerveja. – Enfim, vou indo. Estou na seca de qualquer forma, a gente se vê.
Despediram-se e Koji foi ao endereço da mensagem com sua velha moto.
[...]
Chegando ao local, olhou em volta e viu que era um Galpão afastado e abandonado. Estacionou a moto observando onde se encontrava. Havia apenas umas lixeiras, alguns postes funcionando e um carro estacionado aparentemente vazio. A claridade era mínima pelo horário, faltavam umas 2 horas para amanhecer.
— Que porra de lugar é esse? - disse para si mesmo.
Caminhou até o portão e percebeu que não tinha tranca, quando foi abrir ouviu um barulho vindo das lixeiras.
Saito sentiu seu coração acelerar e engoliu seco. Pegou o celular e viu que não havia sinal, respirou fundo ligando a lanterna.
— Caralho que susto! O que você tá fazendo aqui? – falou agachando. – Hein, bichano, você tem dono? - pegou o pequeno gatinho preto em mãos e começou a fazer carinho.
Voltou até os portões do galpão e colocou o gato no chão.
— Você vai fazer companhia? - olhou para o felino que o seguia. - Não garanto que vai gostar do que vai ver. - riu.
Levantando os metais e deixando-os caírem logo em seguida, percebeu o ambiente escuro e a única iluminação presente era no meio com uma mesa e cadeira. Olhou para o gato e começou a caminhar até a luz.
— Olha. - disse alto. - Eu sei que você tem umas fantasias estranhas, mas pode aparecer já. - falou em uma risada nervosa. - Não chegou ainda?
Olhou para mesa e viu um envelope.
Decidiu abrir e retirou várias fotos e antecedentes criminais do mesmo.
— Mas que porra!? - exclamou com os olhos arregalados. – RYO, caralho! Cadê você? - gritou mais uma vez olhando para o escuro. - Quer saber? FODA-SE BELEZA? Não vou mais te procurar e você também não me procura. - guardou as fotos e documentos dentro do envelope, o pegou e foi a caminho do portão.
— Puta merda. - resmungou quando o percebeu trancado. – Sério, cara, isso não tem graça. - soltou um riso nasal. – Aparece, caralho! Não me faça te achar... Você sabe muito bem o que eu posso fazer. – foi caminhando até a mesa de antes. - Quando eu te pegar vou fazer você se arrepender de ter me feito gastar minha gasolina. - disse alto. – Lembra da ultima vez não? Chorando que nem uma cadela me suplicando para que eu parasse? Aposto que você gostou. Tá querendo repetir?
Silêncio.
— Porra! Já chega, mas que...
— Você grita demais. – Koji sentiu uma respiração em seu pescoço e um choque o fazendo perder a consciência.
Abrindo os olhos uma luz forte veio em sua direção e uma ardência nos olhos por conta disso.
— O que? – sentiu as mãos presas em uma espécie de algema e as pernas amarradas em cada pé da cadeira.
— Finalmente. – a mesma voz o fez olhar para o escuro.
— Quem caralhos é você? Me solta, porra!
— Seu vocabulário é tão limitado assim?
— Por que você não sai do escuro, hein? Seu filha da puta! Não sei o que tá rolando, mas você pegou o cara errado.
— Saito Koji... Acho que peguei o cara certo. – se aproximou do homem.
Ele tremia e suava frio, sentia seu coração acelerado.
— Qual é... Por que eu to aqui, eu nem te conheço! – gaguejou. – Quem é voc...
— Cadê o cara que estava gritando aos quatro cantos dizendo que faria alguém se arrepender... Qual era mesmo o nome da pessoa...? – disse de forma sarcástica.
Koji riu desesperadamente.
— Entendi! – sentiu os olhos arderem. – Aquela vadia te mandou. Olha, não te conheço, mas te recomendo ficar longe dela, ela é maluca e... ARGH! CARALHO QUE PORRA, VOCÊ É LOUCO? – gritou vendo uma faca cravada na sua perna direita e o sangue escorrendo.
— Eu perguntei quem era, nada além disso. E pelas fotos e suas fichas, parece que ela tinha um motivo para ser louca, não?
As lágrimas começaram a rolar no rosto de Saito e seu corpo inteiro tremia.
— Por favor. – disse entre soluços. – Não me mata cara, eu já entendi, eu sei que fui um cusão, mas, por favor. – fechou os olhos mordendo os lábios tentando ignorar a dor insuportável que vinha da perna. – Eu prometo sumir, me perdoa.
Escutou uma risada sádica.
— Certas coisas. – colocou a mão sobre a faca a puxando, recebendo um gemido de dor em resposta. – Não tem como voltar atrás. – passou a lamina com sangue no rosto coberto de lágrimas e suor. – Não é a mim que você deve pedir perdão, mas eu posso levar seu recado.
— Por favor... Por favor. – o homem pedia em meio ao choro. – me deixa ir... – soluçou. – Você vai matar uma pessoa assim? Por uma qualquer?
O encarou.
— Não vai ser assim, eu ainda não vou te matar. – se aproximou ficando de frente para o mesmo. – Eu ainda quero você chorando que nem uma cadela suplicando para que eu pare.
A única reação de Koji foi gritar e chorar.
— Pode gritar a vontade. – se afastou indo até o escuro novamente.
— Você vai me deixar aqui! Seu desgraçado louco do caralho, eu vou te matar! Eu juro que vou te matar!
— Pode tentar. – sussurrou por detrás com um notebook em mãos. – Agora vamos começar. – sorriu sadicamente.
— O que caralhos você tem em mente, seu doente? – o olhou colocar o aparelho na mesa.
O homem não respondeu. Apenas colocou um vídeo e virou para Saito abaixando suas calças.
— EI! O que infernos...
— Dá pra você calar a porra da boca! – gritou.
Koji arregalou os olhos vendo a tela de onde saía gemidos. Era um vídeo seu com ele. O vídeo que vocês gravaram.
— Nem fodendo... Eu não vou fazer porra nenhuma que vo...
— Você não está nas condições de escolher aqui. – cruzou os braços. – Sabia que ela tinha menos de 18 anos quando gravou esse vídeo? E você tinha quantos mesmo? 20... 22? – debochou.
— Eu vou te matar seu doente do caralho! – disse rangendo os dentes.
— Não é isso o que quero escutar. Uma pessoa como você me chamando assim até ofende.
— Uma pessoa...? Olha o que você tá fazendo!
— Quer que eu refresque sua memória? – disse descruzando os braços. – Ou melhor, posso fazer você sentir na pele. O que acha?
— Por que você não vai se fuder?
O ouviu rir e logo em seguida o gosto metálico na boca por conta do soco que veio de imediato.
Tossiu sangue e ficou com a cabeça abaixada. A dor na sua perna já não era possível ser ignorada e sua cabeça doía por conta da pancada. Seu corpo inteiro tremia, sem contar a humilhação. As lágrimas desciam descontroladamente e a visão já estava embaçada.
Quando levantou a cabeça novamente, sentiu a pancada do outro lado com mais impacto.
— Olha aqui, seu merdinha do caralho! – a voz estava próxima.
Com dificuldade levantou a cabeça toda ensaguentada, cheia de lágrimas, saliva e suor.
— Por favor... – soluçou, sua voz estava tremula. – NÃO, NÃO, NÃO!! – começou a gritar quando o viu retirar a calça. – POR FAVOR, NÃO! EU IMPLORO! – chorava de forma descontrolada aos soluços. – Por favor... – balbuciou.
Não adiantou.
[...]
Koji tremia e não conseguia sentir nenhum dos seus membros. A única coisa que sentia era dor. Uma dor insuportável interna e externa. Estava jogando no chão da pior maneira possível. Encolhido, coberto de sangue, lágrimas, suor, seu próprio vômito e fezes, e sêmen. Não conseguia mexer o maxilar então ficava murmurando sons indescritíveis, já que não aguentava gemer de dor, sua garganta também estava arregaçada. Não tinha mais noção da hora, mas viu a claridade pelas brechas do portão.
Sentiu seu couro cabeludo doer e ser puxado com brutalidade.
— Eu ainda serei bonzinho e acabarei com essa sua dor. – disse baixo. – Quando nos encontrarmos no inferno, pode ter certeza que continuarei.
Sua garganta foi cortada lentamente jorrando sangue fazendo uma poça se formar.
— Argh! Que nojo, isso levou mais tempo do que pensei. – falou para si mesmo. – Preciso limpar isso para mais tarde. – olhou para o corpo, já morto, em seus pés.
[...]
Você acordou tateando a cama percebendo que se encontrava sozinha. Bufou em reprovação e foi em caminhadas lentas até o banheiro fazer o mesmo de sempre.
Indo até a cozinha, já pronta, passou pela sala procurando o celular. Quando achou o aparelho o desbloqueou vendo que havia uma mensagem.
Toji Fushiguro
Precisei ir para casa muito cedo e decidi não te acordar. Desculpa!
Podemos sair para tomar um café mais tarde?
06:23am.
Sorriu boba para o telefone.
Sim, podemos.
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