História Monster - Capítulo Único

- Isso, me bata! Vamos! Você não queria?! Estou te mandando me bater, seu desgraçado! – Mais um soco foi desferido em minha face, manchando-a com o sangue de seus punhos cerrados, que depois de golpear tanto a parede, acabou por rasgar a carne frágil de suas mãos.

Mantinha-me firme, e mesmo com o corpo pesado, estava de pé suportando tudo. Não cairia, queria mostrar que não sou fraco, que posso aguentar sua fúria até o mesmo cansar e perceber o meu estado, tanto físico como psicológico, diante do seu ataque repugnante de um amor estranho, possessivo e doentio.

Lágrimas caíram de meus olhos, a dor que sentia não era comparada a dor que provinha de dentro do meu peito. Uma amargura destruidora, que estava a me devastar por completo. Aquela dor chamada Jung Hoseok...

Passei a mão em minha bochecha, sentindo a ardência e o molhado do sangue fresco que saia da lesão recente. Sua aliança havia aberto um novo ferimento em mim, aquele objeto feito de tungstênio que nos unia na promessa de vivermos por toda a nossa vida juntos... Não sabia que o “felizes para sempre” poderia machucar tanto no processo, assim como não sabia que o jeito de amar alguém pode ser diferente para cada um. 

E eu estava sendo amado da pior maneira de todos...
 

- Taehyung, não faça isso comigo... – Pedia entre as lágrimas, seu rosto molhado por aquelas gotas salgadas, os olhos clamando por perdão e ajuda. Ele pedia para parar, mas nada conseguiria o deter, infelizmente.

- Você merece, Hoseok. Fazer jus a tudo que me fez passar! Me tratando como um lixo, se divertindo enquanto me humilhava na frente de todos... – O olhei com repulsa, lembrando-me dos momentos difíceis que passei ao seu lado. – Sinto nojo desse homem a minha frente, nunca me arrependi tanto de ter amado alguém como você, Hoseok. Para mim, apenas me casei com um monstro.

Novamente senti aqueles punhos em meu rosto, tão forte que desequilibrei caindo no piso do nosso quarto. Aquele chão que já teve impregnado o nosso suor enquanto fazíamos amor, e que agora está sendo manchado com o nosso sangue, marcando o fim de uma história.

- Monstro?! – Subiu em cima de mim, sentando-se sobre minha barriga dificultando minha respiração. Tirou bruscamente minhas mãos de meu rosto, que tentava a todo custo amenizar a dor, e a segurou com as suas me forçando a olhá-lo, mirar aqueles olhos castanhos escuros cheios de ira. – Como ousa dizer isso, Taehyung?! Eu te amei, e ainda te amo! Você é tudo pra mim, tudo que eu fiz foi porque você pediu. Não me acuse assim, não me faça se sentir culpado por uma coisa que não fiz.

- Você é louco, Hoseok... Você acredita que pedi para me tratar assim, mas não, é tudo imaginação da sua cabeça doente. – Senti as lágrimas quentes escorrerem por minhas têmporas. Hoseok as limpava tremulo, percorria seus olhos por meu rosto cheios de hematomas feitos por ele, sua cabeça ia de um lado para o outro negando tudo que lhe dizia. – Aceite que você é um monstro a destruir toda a nossa vida, que me tirou uma das coisas mais prazerosas que pude sentir, o amor... - O nó em minha garganta era horrível. Agora não tentava segurar as lágrimas, as deixando sair com as outras que já se permitiam correr por meu rosto sem a minha permissão. – V-você tem que aceitar que não consigo mais, Hoseok... Tem que aceitar que não te amo mais...

Sim, todo o amor que antes sentia por Hoseok, morreu juntamente com ele, que se foi logo dando um lugar a esse Hoseok de agora.

Essas foram as ultimas palavras que consegui dizer antes que ele me enchesse de socos, gritando que não poderia ser verdade, que não acolheria essa ideia absurda de não ter mais o seu amor correspondido. As suas lágrimas caiam sobre mim, se misturava com as minhas no meio do vermelho. Sentia minha consciência se esvair aos poucos, mas antes de apagar, Hoseok finalmente parou de desferir os golpes, e segurou novamente o meu rosto encostando nossas testas.

Suas carícias com os polegares continuaram, como se quisesse aliviar todas as dores causadas por ele.

- Por favor, Taehyung, fique comigo... Eu te amo tanto, não quero que me deixe sozinho. Eu quero você, só você. – Sua voz doce, mansa como um felino. Aquela que tanto amava escutar quando estávamos em nossos momentos de intimidades, que me causavam arrepios e me fazia se derreter de amores por ser tão melodiosa a gemer meu nome. Agora estava distante, quase não conseguia a escutar, mas eu sabia que ele estava perto e que eu era quem estava se distanciando. – T-Tae? Taehyung?! Taehyung!!

E ficava mais distante, ausente... Conseguia ainda ver, mesmo que embaçado, a sua face apavorada com os olhos curiosos e aflitos. Um rosto tão belo com o dom de expressar várias emoções naturalmente; podendo ir do triste para o alegre, do raivoso para o sereno, do sério para o palhaço... E o que eu mais gostava, era quando ele sorria. Um sorriso perfeito, de olhos em frestas e o brilho de sua áurea espontânea que conseguia subir o astral de qualquer um.

Aquele era o meu Hoseok, o homem a quem amei e me casei. Todavia havia sumido, se transformado em um simples pó dando ênfase para o grande monstro guardado dentro de si. E eu conheci essa fera, que sempre denominei ser o próprio diabo.

Mas tudo se acabou quando fechei os olhos e embarquei para o abisso, me tirando de todo aquele sofrimento causado por um amor medonho, cruel e imperfeito.