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História Moon Lovers: The Second Chance - Mentiras se Tornam Verdades


Escrita por: VanVet e AndyeGW

Capítulo 51 - Mentiras se Tornam Verdades


Fanfic / Fanfiction Moon Lovers: The Second Chance - Mentiras se Tornam Verdades

A expressão de surpresa transformando-se em desgosto esboçada pelo senhor Hansol logo após o Potent ter sido revelado era o que mais martelava em sua cabeça. Não fazia sentido que a Busan Yong Motors tivesse apresentado o mesmo projeto que a Wang S.A. Não fazia sentido que eles, que trabalharam naquele modelo por quase um ano fossem, agora, acusados de roubo.

A manhã de domingo estava fria e cinza como os ânimos da família. Ele mal tinha dormido e não tinha disposição para sair de seu quarto. Não se sentia bem, sentia que nada daquilo terminaria bem. O aperto em seu peito que começara desde a noite em que Taeyang fora agredido na empresa seguia o acompanhando, ficando cada vez mais forte, mais incontrolável.

Pegou o celular, apreensivo sobre o que estaria acontecendo pelo mundo depois de todas as acusações sofridas na noite anterior. Abriu o navegador no aparelho e se deparou com calúnias de possíveis roubos, com investigações que seriam iniciadas… Se deparou com a imagem da empresa que levava seu nome ruindo. Aquilo não estava certo.

Fechou a página eletrônica não querendo se contaminar ainda mais com toda aquela confusão. Estava cansado das as acusações infundadas sobre a empresa e sua família, então, quase que automaticamente, o dedo deslizou para o ícone do Line. Sentiu-se curioso se, por acaso, a governanta estaria online.

Abrindo o aplicativo, olhando para a foto da mulher, avistou a hora e confirmou que ainda era muito cedo. Passava um pouco das sete da manhã e a jovem, certamente, estaria dormindo confortavelmente sob seus edredons alheia a tudo o que seus empregadores sofriam naquele momento.

De repente, assustadoramente, provocando um arrepio irritante na coluna dele, a palavra “online” apareceu sob a foto sorridente dela. “O que ela está fazendo acordada a essa hora em pleno domingo?

Instigado, sentindo uma necessidade sobrehumana de conversar com ela e desabafar suas ansiedades e angústias, os dedos rígidos e trêmulos conseguiram digitar um “Oi” e deslizar até o “Enviar”. A resposta veio quase instantaneamente: “Como você está?”

“Como eu estou?” Começou uma sequência de digitar e apagar possíveis respostas. “O que você realmente quer saber com essa pergunta?” “Estou de todos os jeitos, menos bem” “Não sei como estou, mas queria que você não estivesse de folga hoje…” “Poderia ir te ver?” Suspirou enquanto apagava aquela pergunta, decidindo-se por um simples "Não sei".

“Imagino que as coisas não estejam bem.”

“Você está sabendo de algo?”

“Sim. Estava vendo a feira pela TV essa noite. O que foi aquilo tudo? A transmissão foi interrompida.”

“Eu não sei. Não estou conseguindo entender o que está acontecendo, mas com toda certeza, vou descobrir.”

“Shin, como você está?” ela repetiu a pergunta, sentindo muita irritação na mensagem anterior. Ele, certamente, não ficaria parado, e ela temia o que poderia acontecer caso ele se envolvesse demais. As lembranças de So sempre lhe voltando à mente. A resposta, porém, não veio, mas o celular vibrou. Era ele, estava ligando.

— Oi — ela irritou-se pela voz sair tão baixa e aparentemente nervosa.

— Oi Ha Jin, como está? — tentou ser gentil, mas a voz também estava tensa, e por vários motivos.

— Shin, por favor, me explica o que está acontecendo — a ansiedade presente.

— Eu não sei. Eu não sei o que aconteceu. É tudo muito estranho. Quando eles revelaram o carro da Busan Yong Motors eu senti que o céu iria ruir e cair sobre nossas cabeças. O pior foi nosso projeto ter sido revelado. Não era aquilo o que esperávamos para o evento.

— Os carros eram exatamente iguais… Até mesmo as cores eram no mesmo tom… Como isso pôde acontecer? Não faz sentido nenhum para mim...

— Não sei o que aconteceu. Não sei como, mas acredito que tem a ver com o atentado a Taeyang…  

— Você acha que…  

 Eu não consigo pensar em outra explicação lógica para toda essa loucura.

— Concordo com você. É muito suspeito. Tudo muito estranho…

— E ainda fomos expostos em todos os meios de comunicação…

— A transmissão foi cortada assim que o carro foi revelado, mas peguei algumas referências na internet e não consigo acreditar em nada do que li. Não combina com os Wang que conheço.

— Eu agradeço por acreditar em nós… É muito importante para mim que você… Digo, não faríamos algo desse tipo — justificou-se com nervosismo, começando a narrativa em seguida

...

Shin estava em transe, apático, olhando para o carro que era revelado pelas modelos sobre o palco. Os flashes das câmeras e o zunzunzum dos repórteres foram o que fizeram com que ele acordasse e se desse conta de onde estava. Taeyang, igualmente paralisado, absorto em uma realidade de desespero e aflição, à beira do palco, parecia não ter forças ou raciocinar com perfeição para transpor aquele momento.

Avançou em meio à multidão de repórteres aglomerados como urubus na carniça e alcançou o irmão mais novo, tocando-lhe o ombro e o trazendo para a terrível realidade que vivenciavam. No palco, o host, voltando a si como os demais presentes, balbuciava palavras desconexas, perdido naquela novidade inexplicável.

Os organizadores do evento, correndo de um lado para o outro, traziam ainda mais aflição para aquele momento, chamando para si a atenção dos olhos de Shin que, ao lado de Taeyang, permanecia mudo diante daquela realidade.

— O que está acontecendo aqui? — o mais novo comentou consigo mesmo enquanto o burburinho se intensificava. No palco, um dos organizadores discutia com Nam Seong, teatralmente irritado com a situação, enquanto as moças, ordenadas pela produção do evento, cobriam novamente o carro da Wang S.A.

Um tumulto havia sido instaurado na mesa dos Wang enquanto o host anunciava que a transmissão da feira seria cancelada. Os filhos, aflitos, tentavam acalmar os ânimos dos acionistas que, como eles, compartilhavam aquele ambiente e aquela catástrofe.

— O que tem a dizer sobre isso, Wang Hansol? — um dos homens rosnou para o patriarca no momento em que Shin e Taeyang aproximavam-se. O mais novo tomando a fala do pai que, estranhamente, permanecia em silêncio.

— Certamente deve haver uma boa explicação para isso, senhor Boo Sheol Woo.

— Vocês nos convenceram a investir nesse projeto e resolveram roubar a ideia do concorrente? Que tipo de empresa é essa?

— Por favor, senhor Dong…

— Estão mesmo desconfiando da nossa empresa? Da Wang S.A. e todo o nome que foi construído ao longo desses anos? — Doh Yoseob tomou a fala - e as dores - da família, interrompendo Taeyang — Está claro que houve um problema grave aqui, todos estamos cientes. Vocês acreditam que jogaríamos décadas de empenho no lixo dessa forma? Nunca precisamos roubar ideias para chegarmos onde chegamos. Nossa empresa sempre trabalhou em cima da responsabilidade e comprometimento.

— E como explica o que estamos vendo aqui? — um dos acionistas rebateu.

— Não sei o que está acontecendo, mas tenho certeza que existe uma boa explicação para tudo isso. Nossa empresa jamais roubou o que quer que seja e aquele carro é nosso projeto de mais de um ano…

— Isso foi o que disseram para nos convencer a investir em vocês… O que vai acontecer com o dinheiro que lancei aqui?

— Vamos descobrir o que houve, posso garantir, mas não coloquem o nome dessa empresa na berlinda. Somos responsáveis por todas as ideias que lançamos até hoje… Nada na Wang S.A. é falso...

Enquanto Yoseob defendia com afinco e usava de pontos lógicos para justificar aquela situação, Yun Mi em seu japonês perfeito, usava das palavras do homem para basear seus argumentos e tentar acalmar também os ânimos dos investidores estrangeiros que, irritados, destilavam ofensas incompreensíveis à maioria dos presentes.

Sun, ao lado de Hea, tinha a expressão contraída, a amiga, com os olhos astutos, observando todos os movimentos ao redor deles. Sook, já consciente de toda a problemática que envolvia aquelas apresentações, foi o primeiro a levantar-se e a se aproximar do pai, ainda mudo, muito pálido, parecendo sentir dores terríveis ao ter sido levado para outro plano.

— O senhor está sentindo alguma coisa? — o filho mais velho, curvando-se até o ouvido do pai, perguntou preocupado.

— Não quero mais ficar nesse lugar — o senhor da mesa respondeu macilento.

Em seguida, um enxame assustador de repórteres despontou de todos os lados, brotando da terra em sua sede por furos jornalísticos, suas câmeras fazendo os olhos de todos ofuscarem em resposta aos flashes frequentes, as perguntas tendenciosas reverberando pelos ouvidos dos convidados à mesa. Hansol, que nunca gostou dessa exposição grátis, levantou-se da cadeira de uma vez, os outros fazendo o mesmo.

— Não temos nada a declarar no momento — falou simplesmente para ninguém em especial — Mas posso garantir que há um grave problema acontecendo aqui e que não cansaremos até descobri-lo.

Em seguida, o homem saiu, escoltado de perto por Sook e Park Sun Hee, emudecida diante daquele problema, ao seu lado. Taeyang desviou momentaneamente seu foco do pai para Gun, claramente nervoso e exasperado, olhando para todos os lados como se, a qualquer momento, algo pudesse atingi-lo. Voltou, então, a tomar a fala.

— Aguardamos a todos na segunda-feira, para uma reunião extraordinária, às oito, no escritório da Wang S.A. Certamente iremos descobrir o que está acontecendo, e vamos começar isso o mais rapidamente possível.

— Esperamos os senhores na segunda-feira e espero, verdadeiramente, que repensem sobre as coisas que insinuaram essa noite — era Yoseob em seu tom autoritário — Lembrem-se que a Wang S.A. é uma empresa de renome e reconhecida por sua honestidade. Pensem muito bem sobre isso. Boa noite.

O homem mais velho saiu logo depois que sua filha, levantando-se, se posicionou ao seu lado. Sun saiu em seguida, acompanhando a amiga de perto, ansioso demais, comentando com o mais velho sobre aquela loucura instaurada sem nenhuma explicação aparente.

Shin observou Yun Mi sair junto, acompanhando os japoneses e tentando acalmá-los com argumentos em um idioma indecifrável ao rapaz. Ela parecia aflita e engajada naquela pequena batalha, disposta a não ser derrotada por aquele batalhão de revoltosos.

Jung, lançando um olhar empático para Shin, saiu ao lado de Eujin. Os dois eram os únicos que compartilhavam do inferno astral que o irmão atravessava. O jovem ainda direcionou um olhar confuso e entristecido para a mesa da família Nahm, seus olhos tristes encontrando os da… (o que eles eram mesmo?). Hye apenas abaixou os olhos, não sendo capaz de manter o contato deles com o rapaz.

O próximo a sair foi Gun, e este Shin fez questão de observar atentamente. Não queria acusar ninguém sem provas, mas seu subconsciente, e também o consciente, falavam Wang Gun sempre que ele pensava sobre aquela loucura.

Ainda parecendo desnorteado, o irmão mais novo não esboçava aquele semblante espantado e duvidoso como os dos demais. Gun demonstrava aflição, desespero e frustração.

Cego em seus próprios pensamentos, não viu sequer seus irmãos, aqueles com os quais ele travara uma guerra desde a infância, aparentemente suspeitando de suas atitudes. Os outros dois, assim como Kim Na Na, estavam focados em seus movimentos, em cada uma de suas expressões e, em suas mentes, compactuavam dos mesmos pensamentos: O que quer que tenha acontecido ali, era do conhecimento de Gun.

— E agora, Shin? O que vai acontecer? — Ha Jin perguntou assim que o rapaz terminou, ouvindo seu suspiro do outro lado da linha.

— Os primeiros impactos foram sentidos ontem mesmo — a voz estava cansada — Nossas ações caíram em quase quinze por cento. Isso é realmente péssimo. Alguns dos investidores alemães também contactaram Na Na. Querem o retorno do que foi investido e isso não será fácil agora... Estamos enfrentando uma crise. Uma grande crise.

— E o que vai fazer agora? — a voz dela tinha a mesma tristeza presente na dele.

— Investigar. Não há mais nada que possamos fazer neste momento. Temos que descobrir quem vendeu o projeto para a concorrência, se é que realmente venderam…

— Acha mesmo que seu irmão está envolvido?

— Tenho certeza, mas não posso provar… Ainda.

— Shin…

— O que? — ele perguntou diante do silêncio dela.

 Por favor, tenha cuidado. Não se deixe levar pelos problemas que poderão vir daqui para frente. Por favor, não deixe que manipulem seus sentimentos. Por favor, Shin, tente não se desesperar, não faça nada do que possa se arrepender depois...   

— Por que está falando essas coisas?

— Não quero que se machuque. Não quero que te ver ferido novamente.

— Isso não vai acontecer, não se preocupe. Vamos resolver tudo...

— Eu realmente desejo que seja assim.

— Não se aflija, tudo bem? Isso não vai te afetar, nem ao seu trabalho. Tudo continuará bem...

— Não acredito que estou ouvindo isso... — ralhou — Estou preocupada com sua família, com esse projeto. Estou preocupada com você. Esse emprego é a última coisa que tem me preocupado neste momento.

— Ha Jin... — tencionou perguntar se poderia vê-la, mas foi interrompido.

— Shin — a voz masculina chegou aos ouvidos de Ha Jin.

— Ligo depois — ele pareceu nervoso para Ha Jin. Ao fundo ela imaginou ter ouvido a voz de Taeyang.

— Tudo bem — ela confirmou simplesmente.

— Atrapalhei? — Taeyang perguntou estranhando que o irmão estivesse ao telefone, se sentindo mal por ter entrado no quarto sem permissão — Eu bati à porta, mas você não respondeu. Te ouvi e resolvi entrar.

— Tudo bem, não tem problema. O que aconteceu?

— O que aconteceu é que estou achando tudo isso muito suspeito — o mais novo prossegui fechando a porta atrás de si — Não estou conseguindo entender o que pode ter acontecido ontem a noite, mas tenho certeza que Gun deve saber.

— Eu acho o mesmo que você…

— Não quis falar sobre isso antes. Estávamos todos abalados demais para conversarmos sobre algo dessa magnitude depois de toda dificuldade que passamos, mas precisamos definir o que faremos daqui para a frente. Estou achando as atitudes de Gun ainda mais suspeitas.

— Precisamos investigar. Por que ele entregaria o nosso projeto nas mãos da Busan Yong Motors?

— Acredito que ele queria nos afetar de alguma forma… O mais estranho é que, mesmo sendo um louco, não o imagino prejudicando a empresa por conta própria. Será que estamos sendo… injustos?

— Pouco provável. Lembra de como ele ficou desesperado quando você falou que os dados sobre o P02 haviam desaparecido na noite da sua agressão?

— Lembro… E isso nos faz chegar a mais um ponto…

— Provavelmente, alguém do Nahm Seong sabia que aquele documento havia sido feito. Era uma pessoa realmente boa para não ter sido visto pela segurança.  Algum capanga do Nam Seong…

— Sim…

— Precisamos de provas — Taeyang foi categórico — Precisamos descobrir o que aconteceu de fato, porque se nossas desconfianças são fundadas, nosso próprio irmão está tentando destruir a empresa e as conquistas do papai.

— Se descobrirmos a verdade, e se for essa que cogitamos, como poderemos desmascarar Nam Seong? Papai não permitiria que Gun fosse indiciado… Isso é caso para prisão.

— Eu sei… — o mais novo parecia cansado — E papai não está bem. Tenho percebido há um tempo que ele não está em seu estado de saúde normal. Não sei o que há. Não sei se são todas as emoções que temos vivido nos últimos tempos… Estou preocupado com a sua saúde.

— Eu também percebi… Apenas não comentei com ninguém. Precisamos traçar metas. Precisamos ter um ponto por onde começar.

— Vamos iniciar amanhã, após a reunião. Procurar por câmeras de segurança, e-mails…Ver se algum desconhecido andou rondando pela fábrica e o escritório… Se Gun apresenta mais atitudes suspeitas. Certamente encontraremos algo.

— Tudo bem. Vamos fazer isso, então. Sinto que essa reunião de amanhã não será nada fácil.

— Não será, mas nós vamos conseguir. Se trabalharmos juntos, tenho certeza que tudo irá se solucionar — Taeyang virou as costas para partir, mas retornou para lembrar o irmão mais velho de mais uma coisa — E Shin, fique longe da internet… Nada disso vai nos acrescentar no momento.

— Tentarei.

***

Não foi sem levar um susto que Shin encontrou uma muralha humana bloqueando a entrada da empresa na manhã de segunda-feira. Nem as baixas temperaturas da noite anterior impediram a imprensa sedenta pelo novo escândalo coreano, a limitar o acesso à entrada principal que somente poderia ser ganho na base da gritaria e empurra-empurra dos seguranças do prédio.

Ele diminuiu a velocidade para não causar um acidente, mas como sua moto era muito barulhenta, os jornalistas logo o identificaram e correram na direção do herdeiro antes que chegasse na plataforma da garagem. A investida de uma multidão portando microfones e câmeras obrigou-o a acelerar mais para fugir do tumulto.

Dentro da empresa o clima prometia ser nenhum pouco amigável também. A tensão na Wang S.A. era palpável e as secretárias deslizavam como fantasmas entre os corredores, para não serem notadas. Se a pessoa respirasse com mais afinco sentiria toda a cerração furiosa emanando da sala de reuniões direto para dentro dos seus pulmões.

De capacete na mão, ele não se deu ao trabalho de deixar o objeto no escritório vazio que carregava seu nome na porta, o rapaz entrou no ambiente silenciosamente e escolheu uma poltrona distante dos demais.

Hansol, que já havia chegado, repousou um olhar longo e profundo sobre o filho rebelde enquanto este escolhia o lugar. Ele sabia que tinha implicação naquilo, mas ainda assim, não parava de pensar que muitos problemas surgiram na sua rotina com a volta daquele garoto.

Praga da ex-mulher e do outro filho ressentido, consequência de suas próprias escolhas, como a de encontrar e trazer o rapaz de volta à mansão, ou simplesmente a vida lhe dando o troco pela forma como ele vinha tratando os entes queridos; Hansol não tinha aquela resposta, mas, independente do que Shin representasse na família, ele jamais o deixou de amar e incluí-lo nos negócios parecia algo bom e natural.

Taeyang respirou fundo e remexeu os papéis que trouxera consigo. Era sua última reunião como CEO e, pelo ritmo desgovernado daquele trem, ela seria um completo desastre. Em vez de discutir sobre os dados positivos acompanhados de sua liderança, o assunto seria “Como e Quem” vazara o projeto de meses para a concorrência. Afinal, todas as pessoas envolvidas no Potent, vulgo P02, tinham uma única convicção: a Busan Yong Motors apresentar um veículo justamente igual em design, arranjo, peças e potência não era uma cruel coincidência. Se os jornais, nacionais e internacionais, debatiam fortemente essa temática, não seriam eles que bancariam os ingênuos e desconversariam os fatos.

Hansol e Taeyang, pai e filho, acordaram mais cedo que todos naquela segunda para tentar contatar Nam Seong mais uma vez. Como no dia anterior, e no sábado, a noite fatídica, aquele homem não se mostrou disposto a conversar. Berrando meia dúzia de disparates como “Vou contatar meus advogados” e “Acionarei a polícia federal” na frente de centenas de pessoas, o diretor da Busan Yong Motors abandonou o evento de modo esquivo, mas se certificando de ficar por cima de tudo.

No domingo, Hansol, Taeyang e Yoseob desviaram da chuva de telefonemas e e-mails dos jornalistas e tentaram, mais uma vez, dialogar com Nam Seong. O homem ignorou todas as chamadas alegando estar indisposto, mas no fim da noite de domingo parecia corado e saudável o suficiente para dar uma entrevista sensacionalista no principal jornal televisionado do país, contando sua versão dos fatos.

“A Wang S.A. roubou nosso projeto. Estamos em meio a um caso grave de espionagem industrial e não deixaremos isso passar”.

O destaque que Nam Seong estava tendo na mídia apenas enfureceu mais e mais o clã Wang. Hansol sentiu a cabeça tontear novamente diante da televisão e precisou sentar para não desmaiar. Yun Mi e Sun ampararam o velho homem, contudo os outros filhos continuavam revoltados demais, assistindo os absurdos sendo ditos naquela entrevista ridícula, para prestar atenção à saúde do pai.

Então, ao começar a reunião da nova semana, a família já havia executado todos os contatos com o corpo jurídico para tratar do caso legalmente, visto que Nam Seong queria guerra, não acordos.

— Podemos começar? — Taeyang perguntou aos acionistas, o pai e os irmãos, todos silenciosos, como se estivessem em um enterro.

— Gun não chegou — Jung observou, cauteloso.

Sim, aquele maldito não estava ali, Taeyang quis dizer em voz alta, e era justamente isso que mais o irritava. Conforme as horas passavam e as atitudes de Gun se tornavam mais estranhas, mais suspeito ele parecia. Novamente, o CEO se deu conta que se tinha alguém capaz de tudo para prejudicar indiretamente os outros irmãos, esse era Gun.

— Ele está desaparecido desde ontem — Shin relembrou, e não com preocupação na voz. Pelo contrário, era uma especulação bastante tendenciosa. Hansol meditou sobre o fato e os acionistas olharam uns para os outros, tecendo suposições telepáticas.

— Estou aqui, senhores. Desculpem o atraso — Gun abriu a porta da sala abruptamente e encaminhou-se para a poltrona vaga, ao lado do pai. Trazia uma pasta preta de couro na mão direita, carregando-a cuidadosamente como se estivesse protegendo uma coleção de joias de grife — Tirei o dia anterior e esta manhã para tentar resolver o pesadelo que se instaurou na nossa empresa. Me perdoem por isso.

— E por um acaso conseguiu, irmão? O que de tão genial você fez nesse fim de semana que nenhum de nós conseguiu pensar? — Yun Mi perguntou cinicamente.

— Exatamente isso, Yun Mi — ele mostrou um sorriso largo e amarelo para a meio-irmã, acariciando a pasta.

— Isso o quê? — ela rebateu impaciente tamborilando as unhas na mesa polida.

— Parem. Parem. PAREM! — Hansol gritou acima da implicância entre os filhos — Estou cansado de vocês. Dessa competitividade inútil e da falta de profissionalismo diante dos nossos funcionários. Fale de uma vez o que descobriu, se descobriu algo relevante, Gun… Depois dessa reunião ainda teremos dezenas de telefonemas para responder aos nossos investidores. Os japoneses também estão cobrando seus lucros. Estamos em meio a uma crise de verdade, se não perceberam!

Os acionistas apoiaram Hansol, concordando veementemente com a cabeça. Ninguém estava interessado no espetáculo habitual dos herdeiros. Agora havia dinheiro envolvido - muito dinheiro - e, portanto, todos estavam mais tensos que as cordas de um violão afinado.

— Eu estive vasculhando os arquivos da fábrica ontem e conversando com alguns funcionários que puderam me elucidar certos eventos. Os senhores Doo Chul e Zhe Chao me informaram algumas coisas sérias… Dois homens que nunca foram vistos por lá antes, por duas vezes, estiveram na fábrica, tendo acesso exclusivo à montagem do Potent, nas últimas semanas. Antes desse esclarecimento, entretanto, encontrei esses documentos adulterados nos arquivos do escritório e, como podem ver — o rapaz retirou os papéis de dentro da pasta com muito cuidado — nesse relatório estão faltando várias páginas. Se prestarem atenção, apesar dos números seguirem a ordem correta e levarem nossa marca d’água, o texto é continuado com outra ‘voz’ e a formatação está ligeiramente grosseira…

Hansol foi o primeiro a pegar os tais documentos e avaliar. Eram detalhes sutis, como Gun disse, mas eram perceptíveis se procurados. Sentindo um bolo de ansiedade brotar em sua barriga, o homem passou os documentos adiante, que foi rodando por toda a mesa, de mão em mão.

A seguir, parecendo conduzir um espetáculo sobre um amplo picadeiro, Gun chamou o funcionário de nome Doo Chul para contar os fatos que havia presenciado. Um tímido operário de meia idade, macacão cinza e barba por fazer, entrou cabisbaixo na sala e se postou em pé, ao lado do astuto herdeiro.

Shin conhecia bem aquele homem e aquele homem o reconheceu de imediato assim que se seus olhos se encontraram. Era o funcionário que se machucara na fábrica, meses antes, e que seria demitido injustamente por Yun Mi se o rapaz não tivesse interferido, o realocando para outro setor em que poderia continuar sendo útil. Doo Chul não conseguiu sustentar o fitar por muito tempo e abaixou o rosto, mirando o chão.

Taeyang olhou brevemente para Shin e os dois compactuaram da ideia de que nada daquilo fazia sentido. De repente, em um dia e uma manhã, Gun conseguira descortinar todo um esquema misterioso? Testemunhas? Documentos falsos? Pessoas sem permissão entrando em zonas privadas da fábrica quando queriam? Parecia uma manobra mirabolante de seu irmão para encobrir algo que ele não queria que as pessoas vissem. O que aconteceu de verdade, por exemplo.

— Conte para eles, senhor Doo Chul — Gun colocou a mão sobre o ombro do operário, que estremeceu, enquanto falava o incentivando — Conte o que viu nos últimos dias. Havia um homem indo na fábrica, não havia? Ele não era funcionário e nem nenhum dos habituais acionistas do escritório, não foi isso que o senhor me disse?

— Sim senhor.

— Por um acaso era algum dos senhores dessa sala? Porque, fora eles, nenhuma outra pessoa poderia ter acesso ao carro finalizado.

— Não era ninguém daqui. Era um homem diferente — o operário contou, sem nunca erguer a cabeça.

— E o que mais ele fez, senhor Doo Chul?

— Ele… Ele entrou na oficina em que o projeto novo estava sendo finalizado em segredo… O carro que estava sendo montado em sigilo…

— Entendo — Gun argumentou como se tivesse orquestrando um show animado. Taeyang sentiu o ódio borbulhando dentro de si ao ver que o irmão queria dar uma das suas risadas debochadas ao coagir aquele reles funcionário — E ele foi sozinho ou alguém o acompanhou?

— Isso… Então… É…

— É, o que? — Gun perguntou em leve impaciência.

— Alguém… Foi alguém que o acompanhou…

— E esse alguém... Ele está nesta sala? — o simplório homem meneou cabeça bruscamente. Torcendo os dedos da mão sob o olhar de toda a diretoria da Wang S.A., Doo Chul parecia muito acuado agora.

— Si-sim.

A plateia ao redor da mesa começou um burburinho inquieto, todos se entreolhando e achando aquela revelação absurda. Os dois acionistas mais senis ajeitaram os óculos de grau em cima do nariz e espremeram os olhos, como se assim pudessem entender melhor o que viria a seguir.

— Senhor….. Aponte para pessoa que ajudou o contato da Busan Yong Motors a descobrir nosso sigiloso projeto, por favor.

Então a mão trêmula do homem, que bem poderia ser a mão de alguém morrendo pelo frio, se ergueu e mirou, relutante, na figura soturna de terno preto e silhueta esquiva a sua frente. Era Shin. O rapaz não entendeu de início que estavam apontando para ele e, após uma olhadela para ver se tinha alguém atrás de si, deu-se conta, estarrecido, de que estava sendo acusado de roubar o projeto milionário da família e entregar à concorrência.

O sangue nas veias de Shin congelou. Ele olhou do simples homem que um dia havia comprado a briga e defendido veementemente, garantindo-lhe o emprego, para o fitar cruel e triunfante do irmão mais novo. Um Shin dentro dele, um homenzinho do tamanho de sua mão, escorregou para o abismo escuro e ermo de sua mente e caiu infinitamente, ficando menor e menor.

O falatório entre os acionistas tomou corpo e um dos mais velhos do grupo acrescentou:

— Eu sabia que esse rapaz não era de confiança!

— Como você pôde entregar segredos da nossa empresa nas mãos de um filho que mal conhece, Hansol? — outro perguntou, muito bravo, apontando para o dono da empresa.

— É o meu dinheiro que estava investido nesse projeto! O meu dinheiro, seu moleque ganancioso — outro alfinetou, jogando meia dúzia de papéis da direção de Shin. O rapaz permanecia em transe, o rosto rígido, tentando encontrar seu ‘eu’ na escuridão vazia dentro de si.

— Calma, senhores… Isso não está certo — Taeyang se levantou e bateu a mão na mesa para encerrar as acusações — Não faz nenhum sentido, para falar honestamente. Parem de apontar dedos antes da hora.

— E eu não me surpreenderia se você estivesse no meio disso, Taeyang. Vocês se uniram para atingirem papai e a mim, por ele sempre reconhecer meu talento aqui dentro. É um golpe muito baixo colocar nosso patrimônio a perder por causa dessas mesquinharias…

— Cale a boca, seu escroto! É justamente isso que está acontecendo, mas ao contrário. Você fez alguma merda e vazou o projeto todo… Você! Você! — Taeyang acabou estourando, uma veia pulando em sua têmpora enquanto discutia.

— Nada disso, Taeyang. O que Gun disse faz todo o sentido — outro acionista rebateu com plena certeza de suas afirmações.

Hansol levou as duas mãos ao rosto e afundou-se na poltrona. Ele sentia que se tentasse tirar forças para entrar na discussão, não aguentaria um segundo round. Yoseob, vendo o amigo cada vez mais pálido, se posicionou no meio das acusações e esbravejou beneficiando-se de sua voz rasgante e escandalosa para calar os demais:

— Esperem lá! Não vão ficar acusando os filhos de Hansol imprudentemente! Esse garoto não participava dos negócios da empresa, mas sempre foi um bom menino, o segundo filho do meu amigo. Ele nunca se envolveria em algo assim. O conheço desde pequeno e…

— Ninguém conhece ninguém hoje em dia, Yoseob — o acionista que apoiava Gun continuou petulante — Esse rapaz não é o revoltado da família? O desajustado, como todos costumavam falar antes? Como até Hansol uma vez disse a nós? Fugiu de casa, renegou o pai e os irmãos, tentou se livrar do sobrenome da família…

— Quanta imbecilidade, Kim Ho!

— Parem de falar besteiras — Taeyang acenou, irritado.

— Isso! Parem de culpar Shin! Ele fez por essa empresa nesses meses muito mais do que os senhores em todos esses anos com seus traseiros grudados nessas poltronas a cada reunião, apenas querendo ver os resultados e o dinheiro entrar  em vez de trazer ideias criativas para a Wang S.A. continuar crescendo — Eujin acabou se metendo, e se uniu na defesa de Shin, muito revoltado.

— Olha como fala conosco, menino estúpido…

— Falo como quiser! — Eujin respondeu aos berros, , nervoso por vários motivos.

— Fique calmo, Eujin… Senhores, apenas parem e pensem como isso não faz nenhum sentido — Taeyang interveio vendo sua reunião final indo de mal a pior, sentindo tudo se perder entre seus dedos enquanto o pai permanecia calado e omisso, além de cada vez mais macilento.

— Eles apenas estão se dando conta da verdade. Não há nada mais gratificante para mim do que isso, Taeyang. Ver as pessoas enfim acordarem para o que estava diante de seus narizes — Gun sorriu debochado, acima da discussão maciça que se instaurou entre os herdeiros e os acionistas da empresa.

— Você me paga, Gun…

— Eu? E quem…

Gun interrompeu sua fala confiante para desviar de um objeto que voou com violência na sua direção. Pasmo, olhou por cima do ombro e viu, simplesmente, que um capacete havia sido arremessado na sua direção, mirando, muito provavelmente, sua cabeça.

— Não… Não… Shin, calma! — Taeyang viu o irmão mais velho se aproximando do outro com as expressões tomadas de puro ódio.

— O cachorro vira-lata pegou raiva — Gun riu, apontando para Shin.

— Vou te matar, seu filho da puta! — Shin exclamou irado e, esquivando de Taeyang, chutou o irmão rival no estômago.

Enquanto Gun caía dobrado em dois, gemendo de dor no chão e apertando o abdômen, os acionistas e os demais herdeiros se calavam para observar o novo tumulto. O operário da fábrica saiu correndo porta afora, com medo de que sobrasse para ele.

Aproveitando que o irmão continuava caído, Shin lançou-se sobre ele sedento pelo desejo de machucá-lo muito mais. Agora que o torpor havia passado e a revolta retornado, as injustiças de sempre sufocando novamente, ele sentia apenas a raiva ditar suas ações.

Raiva por ter voltado, raiva da empresa, do seu nome, da família, do irmão invejoso, do pai, da mãe… De tudo…

Taeyang saltou sobre o herdeiro rebelde no último segundo e pressionou-o no chão, utilizando-se do peso do próprio corpo. Shin berrou enraivecido, sentindo um desapontamento sufocante no peito ao passo que usava toda a sua força para sair do aperto do irmão e continuar o que não conseguira terminar.

— Não, Shin… Você é melhor que isso. Não se renda a ele… Não se renda à raiva…

— SAI DE CIMA DE MIM!

— Não saio! Não vou deixar você dar mais razões para ninguém…

— Grrr!

Eujin e Jung correram para ajudar Taeyang, que apesar de ser mais forte que Shin, estava perdendo forças para o irmão mais velho naquele braço de ferro entre o ódio cego e a lucidez ao mesmo tempo que Gun rastejou para a mesa e começou a se levantar tremulamente, ainda pressionando a barriga dolorida.

Diante da confusão entre os filhos e dos olhares chocados dos acionistas, Hansol reuniu suas últimas forças para esbravejar:

— Esse circo está encerrado! Vamos todos para a mansão, AGORA!



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