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História Moon Lovers: The Second Chance - Retornando para Mim


Escrita por: VanVet e AndyeGW

Capítulo 55 - Retornando para Mim


Fanfic / Fanfiction Moon Lovers: The Second Chance - Retornando para Mim

Ha Jin já não sabia mais o que fazer ou onde procurar. Era o fim da segunda semana desde que Wang Hansol fora internado e que descobriu-se que estava à beira da morte. Fazia esse mesmo tempo que a governanta Nyeo havia abandonado a mansão, o mesmo prazo contavam os dias que não mais voltara para sua casa e que Shin sumira diante de seus olhos. Se sentia de mãos atadas.

O constante sentimento de que fizera algo errado maltratava sua consciência. Não deveria ter se confessado, não deveria tê-lo beijado em meio ao turbilhão de sentimentos que ele carregava, mas não resistiu. Vê-lo triste, sentindo-se rejeitado e desacreditado de que poderia ser amado a afligiram ao ponto de não mais suportar manter aquele segredo.

Agora, sentia-se culpada por Shin não saber sobre o estado de saúde do pai, por ele não ter se despedido de Nyeo e por ela ter ido embora. Acreditava que se o herdeiro estivesse presente na mansão naquele momento, a senhora não teria partido.

Desde então, colocara sobre si a responsabilidade de esperar que ele voltasse e de cuidá-lo até que pudesse conversar com a verdadeira mãe, ajudá-lo a absorver tudo o que vivenciara, e ainda vivenciaria, porém estava fracassando miseravelmente naquele ofício. Não conseguia falar com ele. Não sabia onde ele estava. Não tinha um retorno sequer. Estava preocupada.

Todos os áudios com pedidos de desculpas, explicações sobre como andavam os ânimos na mansão e na empresa, notícias sobre a governanta Nyeo e sobre sua mudança definitiva para a mansão sequer foram visualizados. Já havia dias que o telefone de Shin continuava constantemente fora de área e ela também temia por isso: não sabia se fora a bateria que descarregara de vez ou se ele simplesmente havia desligado o aparelho. Também não sabia se, por uma fatalidade do destino, algo mais sério teria acontecido.

Evitando tocar no assunto que dizia respeito à saúde do senhor Hansol, Ha Jin se preparava para mandar mais um áudio, o do fim do dia, após organizar todos os afazeres noturnos do jantar e despedir todos os funcionários para o seu repouso, mas foi interrompida instantes antes de iniciar a gravação ao observar a aproximação de alguém.

— Precisa de algo, senhor? — ela se dirigiu a Taeyang com um pouco de formalidade, não querendo parecer atrevida ou expansiva demais naqueles dias obscuros. Ele, que estava mais abatido do que imaginava, sofrendo do mesmo luto dos outros Wang, a olhou com gentileza.

— Não preciso de nada, Ha Jin. Obrigado. Quero te agradecer por ter tomado à frente da mansão no lugar da governanta Nyeo. Sua atitude foi muito importante para nós nesse momento. Muito obrigado.

— Não agradeça, senhor. É minha função — se exasperou ao ver o patrão curvar a cabeça para ela.

— Sem formalidades, Ha Jin… Não agora — ela acenou discretamente, concordando — Teve alguma notícia de Shin?

— Não — a governanta respondeu sentindo a face esquentar.

A pergunta era constante e já costumeira quando se tratava de Eujin e Sun, e mesmo Jung, que sempre a procuravam e tinham na jovem a esperança de contato com o irmão mais velho, mas a especulação vinda daquele Wang fez a mulher corar, imaginando o motivo dela.

— Também não tenho conseguido falar com ele todos esses dias e estou muito preocupado… — um suspiro cansado e o homem se dirigiu até uma das cadeiras ao redor da mesa na cozinha — Sente-se um pouco — ela o fez em silêncio e ele continuou — Quero te pedir que não se ausente da mansão. Eu sei que aconteceram coisas terríveis, mas como permaneceu, peço que nos ajude ao menos até nos reorganizarmos. As coisas não vão nada bem, como você deve saber.

— Não vou embora… Ao menos, não agora. Não se preocupe.

— Obrigado. Também peço que me avise ou a um dos meus irmãos caso saiba de qualquer coisa relacionada a Shin. Se ele entrar em contato com você, por favor, convença-o a voltar. Fale que papai não está bem. Shin precisa voltar o mais rapidamente possível. Precisamos provar sua inocência e precisamos dele na empresa após isso para podermos nos reerguer, todos juntos.

— Sempre achei as escolhas do senhor Wang estranhas — Ha Jin falou após um pequeno instante de silêncio — Não conseguia compreender o que ele pretendia quando designou essa disputa entre vocês até que, dias atrás, me dei conta que o que ele mais desejava era que vocês se apoiassem e trabalhassem unidos. É uma pena que ele esteja internado nesse momento. É uma pena que os filhos...

— …só tenham percebido o quanto o pai desejou sua união tão tarde… Eu sei, Ha Jin. Você está certa — ele continuou a frase diante do silêncio dela. Ha Jin não respondeu e Taeyang prosseguiu no seu tom de voz fatigado — Tire esse final de semana de folga. Não quero que deixe de viver por essa casa como a governanta Nyeo fez, embora agora eu consiga entender por que ela nunca se ausentou…

— Taeyang, eu posso permanecer na mansão. Não...

— Não. Vá para casa hoje mesmo, por favor. Sei que não foi embora desde que a governanta Nyeo partiu. Tome esse fim de semana somente para você. Não estamos parando em casa… Todos na empresa ou no hospital. Acho que conseguimos nos virar dois dias sem você. Por favor, descanse...

— Tudo bem. Eu agradeço.

— Eu te agradeço também. Falarei com um dos motoristas para te deixar em casa. Boa noite.

Após despedir-se, Ha Jin respirou profundamente. Estava mais uma vez sozinha e ainda levava o celular nas mãos. O olhou e lembrou-se novamente de Shin correndo, se distanciando de sua presença. Aquilo era dolorido demais.

Abriu o aplicativo, observou todas as mensagens de voz enviadas nos últimos quinze dias e nenhuma delas sequer aparecia como recebida. Não conseguiu segurar mais um suspiro desanimado e desgostoso. Preparou-se para gravar um novo áudio.

"Shin... Como você está? Já é o fim da segunda semana sem contato algum e eu me sinto totalmente culpada por você ter sumido. Me desculpe por minhas atitudes impensadas, mas volte para a mansão. Seus irmãos estão preocupados e têm muito o que conversar com você. Recebi uma folga e não estarei aqui esse final de semana. Não precisa me ver se não quiser. Eu vou entender… Mas se puder, por favor, venha vê-los. Você tem muito o que saber... Fica bem!"

Enviou a mensagem que novamente não fora recebida. Segundos depois, o celular diminuiu o brilho da tela e ela percebeu contar com apenas cinco por cento de bateria. Colocou o aparelho dentro do bolso da calça, pegou a bolsa de remédios que guardava sob o balcão e se encaminhou para o dormitório dos funcionários, pegando apenas o carregador do aparelho e uma bolsa de mão. Rumou de encontro com o motorista que a levaria para casa e, com o celular vibrando ao anunciar que descarregara por completo, não teve como saber que os áudios, todos os enviados durante aquelas duas semanas, foram finalmente visualizados.

Taeyang acompanhou um dos carros sedan da família, que levava Ha Jin para sua casa, se distanciar do pátio principal da Mansão da Lua e tomar o declive para além de sua visão, rumo a saída da propriedade. Com as duas mãos no bolso da calça, sentindo a rajada fria da noite afagando-lhe as bochechas, ficou pensando que esta era a única coisa que poderia fazer pelo seu desaparecido irmão naquele momento, dar um pouco de descanso a Ha Jin.

De volta para dentro da residência, ele fitou a sala vazia e silenciosa com pesar. Aquela casa nunca fora sinônimo de harmonia ou alegria, mas nesses dias era como se cada cômodo tivesse se transformado em um mausoléu abandonado. Ninguém se encontrava nos desjejuns, nos almoços ou nos jantares, em lugar algum.

Os irmãos mais novos estavam lidando com o luto antecipado ficando menos tempo possível ali dentro. Sua mãe não saía do hospital em que o pai continuava internado, se recuperando lentamente do colapso de duas semanas atrás. Eujin e Yun Mi adquiriram um hábito obstinado de investigarem a fundo sobre quem desviara o projeto do P02 utilizando todos os recursos disponíveis para tal, inclusive, até onde Taeyang soube pela namorada, pedindo ajuda para a própria Na Na.

Gun, como não poderia deixar de ser, estava revoltado demais para agir com coerência uma vez na vida. Desde que fora decidido que Taeyang continuaria na empresa como CEO, ao menos em caráter provisório, o filho de Min Joo deixara a mansão e não dirigia uma palavra que fosse na direção do irmão quando tinha de dividir algum espaço dentro da empresa.

Desanimado pelos acontecimentos – era para todos estarem comemorando o lançamento de um grande carro até bem pouco tempo atrás – Taeyang caminhou para o escritório que seu pai costumava amar estar e se pleiteou com a solidão do sofá desconfortável comprado por sua mãe. Não acendeu nenhuma luz quando entrou, apenas ficou sentado encarando o jardim iluminado através da janela de vidro ampla e polida, pensando sobre os acontecimentos irremediáveis da vida.

Com a expressão carregada, tirou seu celular do bolso e encarou a tela brilhante… Se Shin continuasse insistindo em desaparecer daquele modo, ele teria de tomar providências para encontrá-lo. Das cinco vezes que fora visitar o pai no hospital, em todas elas ele mencionara, com uma nota de preocupação que não cabia num estado de saúde tão delicado, sobre o segundo filho mais velho.

Já trabalhando no automático, os dedos de Taeyang teclaram o número do irmão pela enésima vez e, para seu espanto, naquela noite a chamada finalmente se completou.

***

Ha Jin entrou em seu modesto lar e percebeu que não se sentia nenhum pouco aliviada por isso. Encarando a parca mobília que compunha o apartamento, nada a consolava, nem o guarda-roupa com sua porta esquerda torta e rebelde, a mesinha de canto que precisava do apoio de duas revistas suas de fofocas antigas e tinham o tamanho exato para nivelar um dos pés com o chão ou sua cozinha toda montada de móveis de segunda mão, que chegaram fedendo a naftalina e que deram um trabalhão para remover o fedor.

Ela amava cada uma das suas coisas, contudo, eram apenas coisas estúpidas agora. Desejou, assim que chegou, retornar à Mansão da Lua e aguardar a volta de Shin. Lá, mesmo acordando cedo e trabalhando muitas horas, ela poderia saber o exato momento em que ele retornasse.

Um suspiro longo e com os ombros caídos, jogou a bolsa de mão na entrada e se arrastou para dentro do apartamento. Passou mais alguns minutos desorientada no meio do quarto-sala, decidindo se colocava algo no estômago ou simplesmente tentava dormir. Acabou encaminhando o corpo cansado para a geladeira, espiando lá dentro. Um cheiro forte de algo estragado pinicou em seu nariz, anunciando a ausência da dona da casa por tempo demais.

— Deixa essa droga pra lá… — resmungou, irritada, desistindo de comer.

Ainda voltando para a parte central do seu cubículo, percebeu, apoiada no parapeito que dividia os ambientes, a plantinha que a mãe lhe dera verdejante e saudável. Mi Ok devia ter vindo algumas vezes durante aqueles dias para regar a pobrezinha.

Com um fugaz sorriso de satisfação, a jovem se preparou para deitar com a roupa do corpo. Esticou a colcha de qualquer jeito e se esparramou por completo sobre ela, encarando o teto mal pintado que uma vez lhe rendeu o desconto de cinco por cento no aluguel do primeiro mês.

Fechou os olhos, tentando não pensar em nada, tentando não pensar em Shin pelo menos uma vez naquele dia. Se concentrasse seus esforços no sono, ele viria, e ela poderia até ter, finalmente, uma noite sem sonhos inoportunos.

Não soube quanto tempo se passou exatamente, mas Ha Jin já estava flutuando no véu misterioso que bambeia entre a consciência e inconsciência quando a campainha berrou violentamente, fazendo-a se sentar de pronto, o coração galopando forte.

Não era possível que Mi Ok já tivesse farejado sua presença, ela mal acabara de chegar!

Num misto de desorientação e irritação, a garota abriu a porta de casa com brusquidão, pronta para informar à amiga que precisava de um tempo sozinha, mas não esperava se deparar justamente com a razão de sua angústia.

Parado na sua frente, uma mão apoiada sobre o batente da porta equilibrando o corpo levemente curvado, Shin a encarava com um olhar aflito e poderoso. A garota arfou, desorientada, sem encontrar nenhuma palavra, apesar de ter elaborado um belo discurso mental se o revisse novamente, enquanto o herdeiro Wang largava o capacete no chão e avançava sobre ela, as duas mãos ao redor do seu rosto, colando sua boca na boca de Ha Jin com vigor e urgência.

Ha Jin piscou bobamente, processando o acontecimento, até se dar conta de que Shin a beijava avidamente. Desesperadamente. E sem ter certeza se estava num sonho ou não, resolveu aproveitar o instante e retribuir na mesma intensidade.

Abraçou o rapaz, as mãos seguramente apoiadas em suas costas agasalhadas pela pesada jaqueta de couro, e abriu mais os lábios, permitindo a passagem da língua dele. Shin, por fim, aprofundou o contato, precisava tocá-la, dar vazão à sua saudade, a mão direita descendo para a cintura da governanta, enlaçando-a de encontro ao seu próprio corpo.

Os minutos caminharam num tique-taque moroso pelo relógio na parede da cozinha, contando com calma e sabedoria o tempo dedicado à troca de beijos entre os dois. Quando Ha Jin precisou tomar um pequeno fôlego, eles lentamente se separaram. Shin ainda roubou um selinho a mais, antes de endireitar o corpo.

— O que foi isso?

— Bem… eu… — ele levou uma das mãos ao pescoço, de repente deslocado — Eu precisava… Estou pensando nesse momento há tanto tempo… Em te beij…

— Não estou falando de me beijar, estou falando de sumir. Por que você sumiu daquele modo? — ela perguntou elevando a voz, a razão retornando à sua mente assim como a revolta. Ele a encarou espantado — É disso mesmo que estou falando. Por que sumiu? Por que não deu notícias? Por que me fez pensar que te perderia mais uma vez? Por que me fez sofrer de novo? — cada pergunta sendo pontuada por soquinhos dolorosos contra o peito dele.

— Tudo bem, eu mereço, mas…

— Mas nada, Wang Shin! Estou cansada desse seu jeito! De te ver ficar achando que ninguém se importa com você e com isso achar que tem o direito de poder desaparecer e esperar que fiquemos bem do lado de cá… — de repente, ela já estava com os olhos marejados.

Sempre uma chorona perto desse homem. Sempre! Pensou, raivosa, esfregando os olhos com força na vã tentativa de cessar com aquilo.

Shin notou a emoção chegando nos olhos da garota e pegou-a pelos pulsos. Não com brusquidão ou autoridade mesquinha, mas com calma e compreensão, entendendo a dor dela que, de certo modo, foi a sua também. Abraçou uma resistente Ha Jin, se debatendo em seu abraço e lutando contra os soluços. Disse:

— Desculpe… Nunca mais farei isso… Me perdoe… Não me deixa ficar mais tempo sem poder te ter.

— Seu estúpido — agora ela chorava livremente, a cabeça colada em seu peito.

— Eu sei.

— Estúpido demais!

— Eu sei… Pode me xingar à vontade, se quiser. Eu mereço…

— Idiota. Idiota. Idiota.

Shin voltou para a mesa com duas xícaras de chá fumegantes e entregou o de Ha Jin, se sentando com o seu, diante dela. Depois da catarse do reencontro, com direito a beijos intensos, tapas e choro, praticamente nessa ordem, eles resolveram sair para um Café nas proximidades do bairro e conversar melhor.

— Agora vai me dizer onde esteve esse tempo todo? — externou a indagação que a afligiu por vários dias.

— Eu saí por aí… — ele suspirou, resignado pela velha impulsão — Primeiro, assim que saí da mansão, parei feito um maluco no meio da ponte e pensei seriamente se minha vida tinha algum significado… — ao contar aquilo, evitou a todo custo encará-la, temendo ver suas expressões mediante às atitudes estúpidas dele — Depois, com a cabeça um pouco mais fria, fui para Mungyeong, onde meu pai me levou algumas vezes quando eu era pequeno.

“Tudo foi acontecendo, eu não pude controlar. Apenas sabia que deveria ir para lá. Aquele lugar era maravilhoso naquela época e é maravilhoso agora também. Você acorda de manhã e vê as montanhas no fim do horizonte beijando o céu e fica imaginando que nada na vida é importante demais comparado com àquela vista…

— Como me dar notícias, por exemplo? — Ha Jin ainda estava tendo dificuldade para se desconectar de sua mágoa.

— Onde fiquei, uma pequena vila no cume dos picos, não tinha internet, telefone ou qualquer outro meio de comunicação imediata. A eletricidade é quase um luxo. Fiquei sem celular e televisão por todo esse tempo. Escolhi uma cabana realmente afastada… Desculpe, Ha Jin…

— E por que resolveu voltar? Por que não viveu para sempre na sua vida de ermitão? — a fumaça das xícaras de chá somente não eram maiores que as que saíam da cabeça da garota. Shin sabia, com paciência e determinação, que teria que rodear aquele caminho cuidadosamente. Logo, apostou na verdade, já que seu forte, e seu fraco também, era sempre optar pelos trilhos da sinceridade.

— Duas coisas: primeiro, há dois dias eu fui a uma vila de comercial pegar um pouco de comida e água em uma mercearia e a televisão estava ligada. Por lá, no noticiário, eu soube da situação da empresa e que meu pai estava afastado por motivos de saúde…

— Ah… Então você soube… — Ha Jin não tinha muita certeza do que fora vazado à imprensa em relação ao senhor Hansol, mas aguardou com cautela que ele lhe contasse mais.

— Sim… Eu soube, mas não foi pela televisão…

— Falou com a sua mãe? — interrompeu-o, ansiosa — Quero dizer, Nyeo ligou para você? Ela te contou algo?

— Não — ele respondeu trazendo a velha rabugice no tom de voz. Ha Jin não se abalou pelo rosnado e prosseguiu em defesa da amiga que considerava quase como uma segunda mãe.

— Nyeo tem me ligado todos os dias para saber de você. Eu acho…

— De todos os assuntos que eu não me sinto preparado, este é o maior deles — Shin pediu com sinceridade, seu olhar suplicando para que ela o compreendesse — Vamos falar de outra coisa, por favor.

Um pequeno suspiro e um maneio de cabeça imperceptível. Derrotada, Ha Jin aceitou que deveria esperar para abordar o tema e defender a governanta Nyeo em outro dia. Mesmo não conhecendo a história por trás de tudo aquilo, em seu coração, ela sentia que as verdadeiras vítimas do erro foram apenas mãe e filho.

— Taeyang me ligou ainda há pouco — o rapaz prosseguiu, entrando em outro assunto para enterrar aquele celeuma de vez.

— Ele e Eujin estavam desesperados para falar com você. Todos estavam. Que bom que você os tranquilizou, Shin… Ele contou o que aconteceu durante sua ausência?

— Sim… As coisas na empresa, o estado de saúde do meu pai… Eu ainda estou desorientado para falar a verdade… É muita coisa para absorver…

— O que ele te contou exatamente? — a garota quis saber e, colocando a mão sobre a mão dele, escutou sobre como fora a conversa dos irmãos Wang.

~~

Taeyang não acreditou que finalmente Shin estava dizendo “alô” do outro lado da linha. Molhando os lábios, nervoso, ele se endireitou no sofá do escritório e começou:

— Shin, está tudo bem?

— O que você quer? — o irmão respondeu-lhe atravessado. Taeyang sentiu um alívio imediato ao perceber que era ele mesmo.

— Irmão, por onde andou? Meu Deus, estamos todos preocupados com você.

— Todos quem? Eu achei que estavam felizes por eu ser o filho da governanta e…

— Pare…

— ...o bastardo da empregada, afinal de contas…

— Shin, não é nada disso…

— … Eu não vou mais atrapalhar o caminho de vocês, se é isso que queria saber…

— PARE, SHIN! — Taeyang teve de gritar para se fazer escutar. A linha ficou silenciosa do outro lado — Pare de dizer essas coisas inúteis. Não estou te ligando porque preciso passar um recado ou porque quero deixar bem claro que por você ser filho legítimo da governanta Nyeo não é nosso irmão. Nada disso. Papai, Eujin, Sun, Yun Mi, Jung, Na Na e Ha Jin... estávamos todos preocupados com seu sumiço. Eu estava preocupado! Você é meu irmão mais velho e eu preciso do seu apoio, da sua ajuda, porque as coisas não andam nada fáceis por aqui. Preciso da sua orientação, sua força de vontade, seus conselhos… Que merda, Shin…

— Que tipo de conselhos eu teria para te dar?

— Eu não sei, oras. Esse não é meu papel, é o seu! Acabamos de descobrir que o papai está com um câncer terminal e a empresa perdeu mais da metade dos seus acionistas. Nós estamos a ponto de falir… Então me colocaram como CEO interino, mas estou mais perdido e assustado do que animado… — as palavras iam saindo velozes da boca do rapaz, solitário naquela mansão vazia — E não acredito nessa porra de acusação contra você… ninguém acredita, e… e… Olha, apenas volte, tá legal?! Dane-se de quem você é filho!

— Taeyang…

— Vou pedir para os empregados trocarem os lençóis do seu quarto. Estamos te esperando. E mais, amanhã a reunião começa às 7 da manhã, entendeu?

Shin tirou o celular do ouvido por um instante e, dentro de uma loja de conveniência, comendo um lámen borrachudo sabor frango, digeriu o desabafo do irmão. Suas mãos tremiam um bocado quando ele retornou com o aparelho no ouvido e perguntou:

— O que está havendo? Como assim papai está com um câncer terminal?

— Ah, irmão… É uma história terrível. Ele escondeu isso por meses….

~~

Uma hora mais tarde, Shin estacionou em frente ao apartamento dela e desligou a moto rapidamente para não despertar a vizinhança. Ha Jin desceu com habilidade do banco e entregou o capacete para ele, que pegou o objeto ao mesmo tempo que a olhava de um jeito enigmático.

— O que? — ela perguntou, desconfiada daquele olhar e ajeitando o cabelo.

— É que… Bom, não estou muito no clima para voltar na mansão hoje a noite…

— E? — Ha Jin cruzou os braços, se fingindo de garota durona. Por dentro, estava ansiosa para tê-lo perto dela por mais algumas horas, a saudade ainda não havia ido embora.

— Você vai me fazer implorar, não é? — Shin resmungou, embora não parecesse nada aborrecido — Ok. Posso dormir na sua casa hoje? Qualquer cantinho serve e eu prometo me comportar.

— O que os vizinhos vão dizer de mim?

— Eles não têm nada a ver com a nossa vida — deu de ombros.

— E se minha mãe aparecer?

— Eu pulo pela janela do banheiro — disse, após pensar um instante.

— E se eu acordar no meio da noite com os seus roncos?

— Estou te autorizando a jogar um balde de água fria na minha cara — respondeu de pronto.

Endossada pelo irresistível sorriso que ele lhe lançou ao fim da sequência de argumentos, Ha Jin acabou concordando em abrigar o herdeiro Wang debaixo de seu singelo teto.

— Fique avisado que sua vida corre sério risco se minha mãe aparecer — a garota continuou, virando-lhe as costas para subir as estreitas escadas.

— Tudo bem.

— E não dê esse sorrisinho de raposa para minhas costas — Ha Jin retorquiu olhando-o rápido para buscar o flagrante.

— Não estou rindo.

— Humm…— retornou a subir as escadas.

Imitando seus gestos, logo atrás da garota, Shin abria um amplo e belo sorriso de vitória.

No quarto-sala eles afastaram a mesa, retiraram o restante das colchas de dentro do guarda-roupa e deixaram o chão confortável para encarar aquela noite de inverno, que, por sinal, estava sendo das mais brandas da estação.

Uma vez aconchegados e de luzes apagadas, permitindo que somente a luz dos postes da rua se infiltrasse pela janela principal e criasse uma suave iluminação sobre seus corpos deitados, um de frente para o outro, Shin encarou a silhueta da garota por quem estava apaixonado e se sentiu feliz por ter tomado a decisão de retornar.

Esticou o braço esquerdo e buscou a mão dela, que estava quente e macia ao toque. Ha Jin estremeceu por aquele toque, aquele contato entre eles, que por tanto tempo almejou e disse:

— Você não contou o segundo motivo.

— Hum? — ele indagou sem entender.

— No Café. Você disse que voltou para Busan por dois motivos, mas acabou não me contanto o segundo…

— Ah, isso… — ele pigarreou — Acho que já sabe… Afinal, o motivo é você. Eu estou apaixonado por você e agora que sei disso, não vou mais me afastar. Nada vai fazer eu voltar atrás, nem os problemas da minha família ou qualquer outro motivo… Eu quero estar com você. Eu quero você…— contou com sua voz rouca e decidida, achando que era a coisa mais normal do mundo para os ouvidos de Ha Jin escutar aquela declaração explícita. Na penumbra, ele não foi capaz de ver a garota abrindo um pequeno sorriso enquanto corava de leve nas maçãs. Um carrossel de unicórnios dançou dentro do estômago dela, o frio delicioso da paixão ao entender que era real. Ela e Shin. Real. — É verdade o que disse para mim daquela vez? Que eu sou importante para você?

— Eu acho que acabei te deixando convencido, Wang Shin — respondeu em tom de descontração para disfarçar a emoção que ele causara dentro dela.

— Não brinque com meu coração, governanta — Ha Jin soltou-se da mão dele e deu-lhe um tapa no braço — Ai! Por que essa agressão?!

— Me chame de “governanta” desse jeito pejorativo de novo e você estará muito enrascado — ameaçou.

— Que tipo de anfitriã é você? Oferece um teto para um homem cansado e fica fazendo ele de saco de pancada!

— Engraçadinho… — murmurou se ajeitando no travesseiro.

Shin riu baixinho e procurou novamente a mão de Ha Jin em meio às cobertas. Seus dedos se reencontraram e se tocaram, ele passando suavemente o polegar na pele dela e ela tentando cobrir, sem sucesso, as costas da mão dele com seus dedos pequenos.

Do lado de fora do apartamento, sons aleatórios eram percebidos. Um automóvel atravessando a rua em baixa velocidade, as buzinas do trânsito caótico da avenida principal, logo abaixo daquele bairro, ecoando pelas vielas, os vizinhos da esquerda de Ha Jin subindo as escadas de ferro, não economizando no barulho, falando alto até entrarem em seu próprio cubículo. E assim, vários minutos transcorreram em que os dois apenas escutavam o mundo lá fora, de mãos dadas.

Shin terminou com o silêncio deles dando um grande suspiro e dizendo:

— Eu lembro quando meu pai me levou pela primeira vez a Mungyeong… Eu era bem pequeno, mas não tão pequeno que não consiga me lembrar. Para falar a verdade, eu sou capaz de narrar aquele fim de semana inteirinho, do momento em que ele nos roubou da mansão até quando tivemos de retornar, porque surgiu uma reunião importante que ele não poderia faltar na empresa.

— E você se lembra por algum motivo especial?

— Sim… vários… Foi a primeira das poucas vezes na vida em que vi meu pai diferente. Ele não estava de terno, com aquela cara de homem de negócios ocupadíssimo para prestar atenção aos filhos. Ele também não nos deu bronca nenhuma vez, e nós certamente demos alguns motivos para o contrário. E o principal era: ele ria na maior parte do tempo. Eu o vi sorrir tantas vezes naquele fim de semana que acabei descobrindo que meu dente da frente é levemente pontudo, igualzinho ao dele.

— Vocês… Seus irmãos estavam junto?

— É outra coisa inacreditável daquele fim de semana…

— Taeyang?

— Não, ele era muito pequeno ainda.

— Gun?

— Sim — ele respondeu com uma nota de tristeza na voz — A… mãe dele ficou uma fera quando chegamos em casa, porque papai não havia avisado que levaria Gun. Ela não deixaria… Por isso, quando retornamos, metade da mansão veio abaixo com os chiliques dela… Ainda assim, valeu a pena. Eu e ele brincamos todas as horas disponíveis daquele passeio, só parávamos para dormir.

"Fizemos um forte com gravetos de árvore, entramos na cachoeira e apostamos quem ficava mais tempo debaixo d‘água sem respirar… Ninguém venceu. Papai achou que nós estávamos nos afogando de verdade e correu para nos tirar de lá — nesse ponto da lembrança Shin deu uma leve risada de nostalgia — Até uma musiquinha estúpida, dessas que grudam na cabeça, de um anime que passava na televisão, nós cantamos sem parar. Demorou quase um mês até que Gun parasse de cantar a tal música comigo e voltasse a ser o irmão que me detestava novamente."

— Eu sinto muito, Shin… — Ha Jin argumentou baixinho — Tudo poderia ser diferente se não fosse por ela, eu acho… Hã, bem, não sei exatamente o que houve, mas ao que parece, a senhora Yoon nunca facilitou para vocês.

— Não, este não é o foco dessa história — ele a tranquilizou. Shin não queria estragar sua lembrança falando sobre Min Joo — É meu pai. Estive pensando aqui que, muitas vezes, ele fazia o que podia para nos aproximar e sentia uma genuína felicidade ao nos ver unidos, felizes, ou simplesmente na companhia dele.

“Conheço seus defeitos, eles não são poucos e provavelmente superam suas boas ações, mas… Mas ele é um cara bom tirando todos os problemas nos quais se envolveu ao longo dos anos… E tentou, de um jeito muito torto e desesperado, eu admito, mas tentou nos unir mais uma vez com essa história toda de CEO.

“Eu não devia ter fugido da última vez. Sinto que terminei de soterrar meu pai na frustração e na tristeza quando saí daqui há cinco anos. O que faz um homem esconder uma doença tão grave dos próprios filhos? Se deixar definhar… dia após dia… e não nos dar nem a chance… de nos despedirmos… adequadamente?”

Na pouca claridade, Ha Jin notou o corpo de Shin subindo e descendo de um modo anormal a cada respiração. Então o rapaz fungou baixinho e ela percebeu que ele chorava. A notícia da doença de Hansol estava finalmente se concretizando e nocauteando seu filho mais rebelde. Era uma situação delicada, os Wang eram uma família complicada de se definir e classificar, mas ela tentou o seu melhor para consolá-lo:

— Mesmo que ele seja seu pai, não é possível descobrir tudo que se passa no coração de uma pessoa. Aparentemente, o senhor Hansol guardava mais segredos e acumulou mais mágoas nessa vida, antes mesmo de vocês nascerem…

“Nessas duas semanas eu vi o olhar de culpa no rosto dos seus irmãos também… Entendo que estejam se sentindo parte disso, mas, na minha opinião, vocês são os que menos têm culpa. Você principalmente, Shin. Pare de achar que todos os problemas da sua família são culpa sua… Pare de se torturar acreditando em coisas que os outros colocaram em sua cabeça…

— É difícil, Ha Jin — respondeu, a voz alterada pelo choro — Eu vou sentir saudades dele… Eu não quero… não quero que ele morra…

Com o peito apertado de angústia pela dor de seu amor, Ha Jin aproximou-se mais de Shin e o abraçou. Naquele momento, achou que palavras não eram necessárias e optou por oferecer seu ombro e sua quentura.

— Eu entendo — foi tudo que a moça disse enquanto deslizava os dedos na cabeça dele e realizava um carinhoso cafuné, escutando-o chorar, o rosto escondido em seu ombro.

Algum tempo depois, Shin enfim se acalmou e eles dormiram, o rapaz vivenciando algo novo, a sensação de dormir nos braços de alguém por quem, verdadeiramente, tinha bons sentimentos.

***

O sol tímido daquela tarde fria de inverno estava quase se pondo, levando com ele a pouca quentura que emanou durante o dia. Shin, que havia voltado para casa há alguns dias e que se sentira levemente mais tranquilo ao notar que sua origem não parecia ter feito diferença para os irmãos, nem mesmo para Yun Mi, se sentia aflito enquanto subia as escadas que davam para o andar superior da Mansão da Lua, em direção ao quarto do patriarca.

Tinha consciência que não visitara o pai uma única vez desde que descobrira o seu estado de saúde, mesmo que os irmãos e Ha Jin insistissem para isso. O medo por ter que encarar aquela realidade, o sentimento de despreparo para se colocar diante do assunto que mais abalou sua existência, lhe impedia de dar o primeiro passo em direção desse encontro, se reservando, assim, noites de ansiedade e algumas lágrimas caídas ao longo daqueles dias.

Hansol, que por uma espécie de milagre, havia melhorado desde a volta do herdeiro rebelde, recebera alta naquela manhã de domingo. Shin sabia, mesmo com aquela aparente melhora, que o estado de saúde do velho homem era irreversível. Também sabia que, caso algo acontecesse com ele enquanto estivesse no hospital, não conseguiria se perdoar por não ter lhe visto uma última vez, mas não encontrou forças. Quando soube que o pai havia apresentado melhoras, se enclausurou em seus sentimentos de medo para encarar a realidade e preferiu esperar que ele voltasse para casa.

O que não esperava era que Hansol, ainda tonto pelo efeito dos remédios administrados para sua transferência do hospital para casa, solicitaria a presença do filho assim que abrisse os olhos. Lhe parecia incompreensível que, depois de tudo o que acontecera e de sua negação ao estado de saúde do senhor, que fosse ele, o filho revoltado, aquele que ele fizera questão de ver tão logo retornara.

Nesse momento, tenso demais enquanto os pés lhe guiavam por aquele caminho conhecido desde a infância, receava o que encontraria do outro lado da porta do quarto do pai. Talvez, em seu inconsciente, ele temesse encontrar o homem altivo e sempre alerta com quem conviveu, debilitado, vencido por uma doença incurável. Receava as palavras que ouviria, receava, com todas as suas forças, aquele momento.

— Papai… — ele chamou da porta, observando que o homem tinha os olhos fechados sobre a cama.

O quadro de Wang Hansol não pareceu nada agradável aos olhos de Shin. Mais macilento do que ele imaginou, estava amplamente fraco. Viu o tubo de fluido que se ligava ao dorso de sua mão e ficou em silêncio observando a enfermeira aplicar alguma medicação pelo equipo.

Aproximou-se o mais silenciosamente possível, tentando ver o pai mais de perto. Nem de longe parecia aquele homem tão cheio de vida que ele lembrava. Em poucas semanas como um ser humano poderia definhar assim? A intensidade do que via agora nunca poderia ser adjetivada pelos irmãos, por mais que eles tentassem. Era absurda aquela situação.

— Como ele está? — perguntou por fim quando a enfermeira começou a guardar os equipamentos utilizados anteriormente.

— Bem melhor — a jovem lhe sorriu com gentileza — Ele tem reagido positivamente aos medicamentos e teve uma boa melhora na última semana. Acredito que, em breve, ele será liberado da cama e poderá caminhar pela casa.

— Fico satisfeito por ouvir isso — Shin focou novamente o pai e percebeu que ele, agora com os olhos abertos, o observava. O que parecia um esboço de sorriso trazia uma discreta felicidade para aquele rosto abatido.

— Que bom que veio, Shin — a voz, mesmo que enfraquecida, mantinha o mesmo tom firme que ele era acostumado. Sentiu um alívio por ouvi-lo falar assim.

— Vou deixá-los a sós. Com licença — a jovem fez uma breve reverência e se retirou.

— Como está se sentindo?

— Ansioso para ser liberado dessa cama. Vou cobrar dessa garota se não me tirarem rápido daqui — o velho tentou ser divertido e Shin, educadamente, forçou um sorriso sem graça — Como você está?

— Estou bem. O senhor não precisa se preocupar comigo agora. Apenas descanse e melhore — tentou não parecer abalado. Temeu não ter sido convincente.

— Meu filho, eu sei que nada do que eu fale vai fazer com que a tristeza que está sentindo acabe, mas eu preciso me desculpar com você.

— Não é necessário, papai. O senhor precisa descansar. Não se esforce.

— Eu fiz todos vocês sofrerem, e dentre todos, você foi o mais prejudicado. Tudo foi culpa da minha fraqueza… Não quero me justificar, não tenho esse direito, eu era muito jovem, não conseguia, ou não quis, ver o que estava fazendo com você. Me arrependo demais de não ter feito por você mais do que poderia. Me perdoe, Shin. Por favor.

— Já disse que não precisa disso. Não precisa se desculpar por nada — tentou ser firme. Por dentro, o peito doía e o estômago congelava. Não queria ouvir pedidos de desculpas, não queria falar sobre aquilo.

— Você falou com sua mãe? — Shin apenas balançou a cabeça negativamente. Temia chorar enquanto tentava manter aquela conversa com seu pai — Meu filho, sua mãe é tão vítima quanto você. Hin Hee sofreu a vida inteira por não ter podido te chamar de filho, por não te ouvir chamá-la de mãe, e isso é culpa minha, exclusivamente minha. Fui manipulado pelo meu pai, agi de forma inescrupulosa — Hansol parou por breves instantes, cansado, e continuou — fui egoísta demais para me comover o suficiente com o sofrimento daquela mulher quando a obrigamos que se separasse de você. Ela não queria te deixar… Nunca quis. Você pode me odiar com todas as suas forças e para sempre, mas não Hin Hee… Ela não merece o seu desprezo. Vá procurá-la. Escute o que ela tem para te dizer.

— Não quero ouvir nada. Se quiser, fale o senhor mesmo. Não tenho nada para conversar com Hin Hee — falou sentido. O peito acelerado, os sentimentos conturbados.

— Eu não quero manchar ainda mais a vida de vocês. Sua mãe sofreu desde o momento em que colocou os pés nessa mansão. Eu não cumpri nada do que prometi para ela durante todos esses anos e a única coisa que ela sempre me pediu foi que você vivesse bem… Eu falhei — um suspiro cansado e, novamente, iniciou seu monólogo:

“Falhei miseravelmente quando aceitei te separar dela. Falhei quando permiti que confirmassem que sua mãe era Min Joo mesmo sabendo que ela te detestava… Falhei porque ignorei as lágrimas de Hin Hee quando te peguei de seus braços. Falhei porque não te protegi, por ter deixado que você fosse maltratado e tantas vezes humilhado. Falhei com você desde o seu nascimento e não me orgulho disso. Nunca me orgulhei porque deixei que o trabalho e acordos familiares fossem mais fortes do que meus sentimentos.

“Eu sei que não mereço nada vindo de você, de nenhum de vocês, na realidade, mas te peço que repense sobre o que tem feito com ela. Não continue o sofrimento dela. Não seja como eu, meu filho — mais um suspiro profundo e uma pequena pausa para, enfim, continuar — Não permita que ela continue sua vida sofrendo, ela já foi magoada e enfrentou tristezas e humilhações por muitos anos. Sei que não estou em condições de te pedir nada, mas não seja como seu pai. A ganância me cegou e fez com que vocês sofressem o que não mereciam. Não deixe que as mágoas te ceguem também.”

— Por que está falando essas coisas?

— Porque não quero que se torne alguém como eu.

— Não sou como o senhor.

— Então me prove antes que eu morra. Procure sua mãe, escute o que ela tem para lhe dizer e balanceie tudo o que ela viveu. Não a prive novamente de te ter com ela.

— O senhor precisa descansar. Eu já vou.

— Shin… Eu sempre me orgulhei muito de você. Mesmo com todos os problemas que enfrentou, você se tornou um homem bom. Isso nunca teria acontecido se você não fosse filho de quem é, se ela não estivesse ao seu lado.

— Descanse.

— Você é o fruto do único amor verdadeiro que tive em minha vida — a frase fez com que Shin parasse os passos no meio do caminho, sem virar novamente para o pai, o peito apertado, os olhos embaçados, um nó preso na garganta. O desejo de querer ouvir mais e a necessidade de sair daquele lugar — Amei Hin Hee com todas as minhas forças e não consegui fazê-la feliz um único momento de sua vida, mas todas às vezes que conversamos, ela sempre repetia com um brilho incrível no olhar e um sorriso verdadeiro e completo…

"Sempre repetia que você era a melhor parte da vida dela, que por você e por seu bem ela seria capaz de tudo, que você era o motivo de sua vida e permanência nessa mansão. Ela sempre foi uma mãe maravilhosa, mesmo que não tenha podido ser chamada assim.

"Ela o ama, sempre o amou e viveu cada dia de sua vida por você. Se você me deu o direito de te ver e falar com você depois de tudo o que fiz, muito mais merece sua mãe. Meu filho, Hin Hee abriu mão de sua vida por você, por amor a você. Não faça com que ela sofra ainda mais… Não mais."

Ao silêncio do pai, Shin suspirou profundamente e seguiu seu caminho sem dizer nenhuma palavra, saindo do quarto e recostando-se à porta fechada às suas costas. O peito dolorido demais por ouvir todas aquelas palavras daquele homem moribundo que fora responsável por toda sua falsa vida batia furiosamente com o desejo crescente de procurar a única mulher que sempre esteve ao seu lado.

Imaginou se conseguiria negar-se por muito mais tempo, as palavras ouvidas e a ansiedade se avolumando dentro de si, fazendo com que uma lágrima fria e solitária rolasse por seu rosto entristecido.

***

CENA BÔNUS

Ha Jin acordou naquela madrugada estranhamente incomodada. Sentia um peso desconhecido sobre o braço esquerdo que formigava insistentemente, fazendo com que aquele sonho feliz onde estava abraça com Wang Shin fosse interrompido.

Utilizando o braço são, levou a mão até os olhos e os apertou, concentrando a visão na escuridão da madrugada, mexendo os dedos da mão dormente numa tentativa de aliviar o peso sobre o braço e voltar a dormir.

De repente, como uma luz que se acende no fim do túnel, Ha Jin lembrou-se de sua pequena folga, da visita de um tal herdeiro à sua casa, de algumas justificativas que explicavam o sumiço prolongado do mesmo e o pedido para dormir na sua casa.

Com os olhos repentinamente atentos, tentando enxergar através da penumbra da noite, se utilizando da iluminação externa à sua casa, a jovem virou o rosto lentamente em direção ao braço dolorido, o coração batendo violentamente contra o peito ao perceber Shin, deitado relaxadamente sobre seu colchão, seu edredom, a cabeça sobre seu braço, o rosto livre de toda tensão a qual ele era diuturnamente exposto.

A mente divagou em vários pensamentos. Virou-se, a barriga para cima, ansiosa por tê-lo ali ao seu lado, durante o sono, entregue ao momento de estarem juntos. O que faria na manhã seguinte? Como seria o relacionamento dos dois depois de tudo o que confessaram? E aquele beijo inicial? - tocou os lábios com os dedos livres - Sentiu muita saudade de tocar os lábios dele. Os lábios de Shin.

De repente, lembrou-se de algo igualmente significante, e importante. Lembrou-se de Nyeo Hin Hee e todos os pedidos para avisá-la assim que o filho retornasse. A senhora, como uma boa mãe que conhece seu filho, acertou em cheio quando apostou todas as fichas ao dizer que ele a procuraria, que, dentre todas as pessoas, seria ela a escolhida para o primeiro contato.

Moveu o braço com cuidado, controlando a dor do formigamento e a lentidão do movimento, pesarosa de acordá-lo daquele momento tão tranquilo. A luz de algum veículo fez com que ela vislumbrasse rapidamente o rosto dele com maior clareza. O vestígio de um sorriso fez com que ela imaginasse seus sonhos.

Desvencilhando, finalmente, o braço de sob a cabeça de Shin, Ha Jin sentou-se ao seu lado, a mão livre do formigamento alcançando o rosto dele, os dedos deslizando delicadamente por sua bochecha, provocando sensações tão familiares, arrancando um barulho satisfeito do rapaz, feliz com aquele afago, mesmo que mergulhado em sono profundo.

Levantou-se devagar, pé ante pé, ralhando um pouco em pensamento por não saber onde deixara as sandálias e pisar diretamente sobre o chão frio, massageando o braço dolorido ao olhar perifericamente pela sala-quarto, forçando a visão na penumbra a encontrar o aparelho de celular desaparecido. O reconheceu esquecido sobre a pia da cozinha.

Encontrando finalmente as sandálias, Ha Jin caminhou em pontas de pés até o pequeno banheiro do cômodo e, fechando a porta, procurou o número da senhora no aplicativo de mensagens instantâneas. Como ela bem imaginou, a governanta Nyeo estava offline.

Iniciou uma mensagem, mas a apagou em seguida. Aquela informação era preciosa demais para ser enviada daquela forma. Reparando preocupada a hora, três horas e vinte e seis minutos da madrugada, Ha Jin discou para a mulher e, tensa em seu cubículo, esperou que a chamada se completasse e começasse a chamar do outro lado da linha.

— Houve algum problema, Ha Jin? — a governanta atendeu após três ou quatro toques. A voz sonolenta de quem fora acordado, mas estranhamente firme.

— Não senhora, problema nenhum… — a outra respondeu o mais baixo possível.

— O que há…?

— É Shin, governanta. Ele voltou…

— Shin? — a mulher despertou por completo — Como ele está? Onde ele está, Ha Jin?

— Ele está aqui em casa — continuou com seus cochichos — Ficou esse tempo em Mungyeong refletindo sobre as coisas que aconteceram… Ele parece bem, mesmo com todos os problemas.

— Eu… Oh, meu Deus… — Ha Jin percebeu o choro da jovem senhora no outro lado da chamada. Entendia seu choro, era alívio — Oh, Ha Jin… Obrigada, minha querida. Obrigada por me ligar, por me avisar… Obrigada por cuidar do meu menino… Nunca conseguirei recompensar o que tem feito…

— Governanta… Por favor, não diga essas coisas. Gosto muito da senhora, tenho um carinho especial, como se… a conhecesse de longa data e… não poderia ser diferente em uma situação como essa…

— Obrigada, minha querida… Obrigada…

— Eu preciso desligar… Mas mantenho a senhora informada sobre tudo o que souber…

— Sim… Eu entendo. Vá descansar… e… obrigada, obrigada por não desistir do meu Shin, por estar com ele… Por cuidar dele…

— Não vou desistir… Não mais — ela falou confiante, bem mais do que seria necessário — Boa noite, governanta Nyeo.

— Boa noite, Ha Jin.

Ha Jin esperou que o visor do celular apagasse antes de sair do banheiro e voltar para o seu edredom. Sentada, novamente de frente para Shin, permitiu que um sorriso apaixonado aparecesse. Ele era tão lindo, mesmo sob a penumbra da noite, e o seu peito estava quente daquele sentimento, feliz que ele estivesse bem, que tivesse retornado, retornado para ela.

Se deitou, ainda o observando e, cobrindo-se, começou a imaginar sua vida e seu futuro. De repente, a felicidade ao lado de Shin já não lhe parecia impossível, mesmo que houvessem dificuldades a vencerem. Estar presente com seu ombro para confortá-lo também não era mais um sonho distante. Poder oferecer seus sentimentos puros e sinceros, de repente, lhe pareceu algo necessário.

Em seu coração, a esperança começou a brotar como uma semente que cai em terra fértil e, em sua mente, algo que dissera há muito tempo e que não acreditou que poderia um dia realizar, reapareceu em suas lembranças como um sopro forte e constante. Lembrou-se de cada uma daquelas palavras que, agora, pareciam próximas, finalmente alcançáveis.

“Se tivéssemos nos encontrado em outro mundo e em outra época, estava pensando no quão bom seria se pudesse ser assim, eu não temeria nada. Eu iria poder amá-lo livremente do jeito que eu quisesse.”


Notas Finais


¹Mungyeong (em hangeul: 문경) é uma cidade na província de Gyeongsang do Norte, Coreia do Sul. O governo local, economia, e redes de transporte estão todas centradas no Jeomchon-dong, o bairro principal. Mungyeong tem uma longa história e hoje é conhecida por seus vários atrativos turísticos históricos e paisagísticos. O nome da cidade significa aproximadamente "ouvir uma boa notícia."


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