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História Moon Lovers: The Second Chance - A Difícil Arte de Perdoar


Escrita por: VanVet e AndyeGW

Capítulo 58 - A Difícil Arte de Perdoar


Fanfic / Fanfiction Moon Lovers: The Second Chance - A Difícil Arte de Perdoar

Na suíte principal da Mansão da Lua, Wang Hansol, impecavelmente vestido com um terno italiano costurado sob medida, organizava uma pequena mala de mão com os itens essenciais que precisaria para os dias de viagem. Seu médico não aprovaria aquele esforço poucas semanas depois de sair da ala de tratamento intensivo do hospital, mas ele nunca fora de se submeter às ordens dos outros após a morte de seu pai.

Sem nada a perder, Hansol aguardou que sua saúde se reestabelecesse um pouco, que alguns dias se passassem desde que sua filha se casara e que seus outros filhos estivessem empenhados em reerguer a empresa, para tomar aquela decisão. Haviam tantas coisas ruins para se pensar e se torturar, o desmoronamento do patrimônio entre elas, mas o velho homem preferiu apagar tudo aquilo da mente e se concentrar no que adiara por décadas.

Dedicou toda a sua vida a forjar alianças e viver apenas para manter o nome da família Wang inabalável. O declínio da Wang S.A. chegava para mostrar justamente o oposto. De que valia gastar tanto esforço no trabalho se, para isso, teve que deixar a felicidade de lado?

Hoje ele era um homem contando os dias, sem sucesso profissional e sem amor. Seus filhos passaram mais tempo odiando sua autoridade estúpida do que criando boas lembranças com ele. Seus casamentos, todos fracassados, formaram feridas irreparáveis na alma de cada uma daquelas mulheres.

Min-joo também estava entre elas. Por incontáveis vezes se pegou pensando que tipo de pessoa sua segunda esposa seria caso tivesse encontrado o amor no casamento com alguém que verdadeiramente amou. Hansol, desde a troca de alianças, conhecia muito bem os sentimentos dela por ele, contudo não se esforçou para retribuir. Do tempo em que ficaram juntos, nutriu uma paixão real e enervante – Min-joo sempre fora muito bonita e hábil nos dotes do amor, mas nunca conseguiu nada parecido do que seu marido experimentava pela governanta.

E ela não era o tipo de mulher que aceitava ser a segunda no coração de um homem. Como alguém entra em uma relação sabendo que terá de criar o filho de outra mulher como se fosse seu? Mulher esta que reside sob o mesmo teto que ela? Com um homem que, sabidamente, não esconde seu amor pela outra?

Hansol finalmente admitia, em meio aos seus devaneios melancólicos, uma participação considerável no desenvolvimento da amarga e maquiavélica Yoon Min-joo e, consequentemente, no sofrimento de Shin.

Movido pelo sentimento que o corroeu mais do que qualquer outro, o sofrimento de Hin Hee e a covardia de não deixá-la partir feliz por egoísmo puro, o velho terminou de preparar sua bagagem e se preparou para sair. Iria, enfim, se desculpar por tudo, esperando, ansioso, pela liberdade de consciência que viria com o perdão dela.

— Onde vai? — Ah Ra o indagou, entrando no quarto e vendo o marido de partida com uma mala de mão.

— Ah Ra, preciso sair por uns dias… Resolver uma coisa muito importante… — ele desconversou, se preparando para atravessar a porta.

— Você vai atrás dela — a voz da mulher retorquiu em tom de afirmação, às suas costas.

Hansol fechou os olhos, respirou fundo e percebeu que teria de enfrentar aquilo também. Ah Ra, a companheira que se manteve ao seu lado por mais tempo, mas que ele nunca amara como Hin Hee, ou nunca tivera uma boa amizade como Chang Ru, nem carinho como por Eun Tak ou, até mesmo, uma paixão lasciva como por Min Joo. Ah Ra era sua muleta social e ele nunca vira a relação deles de outra forma.

Chegara a hora de mudar e ser sincero com a mãe de Taeyang e Yun Mi:

— Sim, eu vou vê-la — ele virou-se e confirmou a encarando nos olhos. Ah Ra devolveu seu olhar com uma expressão abrutalhada que o fez perceber seus erros, mais uma vez.

— Simples assim? Eu estou ao seu lado por vinte anos. Estive ao seu lado durante todos esses dias. Derramei todas as lágrimas disponíveis quando descobri sobre a sua doença e… basta você melhorar um pouco e já vai correr atrás dela?

— Eu preciso pedir perdão. Não consigo seguir adiante se não ouvir o…

— Chega! — a senhora da casa ergueu a mão enquanto exclamava com indignação — Eu não acredito que estou ouvindo isso. Não acredito… Vai pedir para ela retornar à mansão também? Que prepare uma comida especial para você? Que se deite ao seu lado e brinque de ser sua esposa nos seus últimos dias? Se eu soubesse tudo o que essa mulher representou para você, acha que suportaria ou deixaria ela trabalhar nesta casa? Você é podre, Hansol.

— Eu a compreendo perfeitamente, mas… não vou mais adiar, Ah Ra. Morrer sem fechar esse capítulo da minha vida… Não posso permitir…

— E eu não posso permitir ser humilhada novamente. Se sair daqui, fique informado que não me encontrara mais quando voltar. Estará tudo oficialmente acabado.

— Então… me perdoe… por tudo — o velho pediu com sinceridade, entretanto partiu sem hesitar.

***

Quando Ryung avisou para Ha Jin que Sook a esperava na sala de reuniões, ela pensou nas várias possibilidades que aquela conversa poderia lhe trazer. Desde a ideia de ser definitivamente demitida até o fato de ter sido descoberta em seu romance secreto com o herdeiro rebelde lhe deixavam ansiosa. Não tinha tido muito contato com o primogênito Wang, embora o visse, assim como seu antecessor, como um homem gentil e bondoso.

Deu uma batida leve na porta, a cabeça levemente abaixada ao entrar na sala. Sook a esperava, as pernas cruzadas, com um sorriso acolhedor, sentado em uma das poltronas brancas e desconfortáveis que Woo Ah Ra comprara ostensivamente em alguma viagem ao exterior, lhe oferecendo a que estava vazia, à sua frente.

— Obrigada — Ha Jin sentou-se, encabulada. Curiosa por aquela conversa.

— Como estão as coisas, Ha Jin? Posso chamá-la assim?

— Claro — ela respondeu de pronto. Sobre que coisas ele gostaria de saber? — As coisas vão bem, acredito…

— Tem tido notícias da governanta Nyeo?

— Sim, senhor. Ela está na casa dos pais desde… Ela está bem. Temos conversado praticamente todos os dias.

— Ela te deixou sob a responsabilidade de cuidar do meu irmão?

— Ahm… — Ha Jin não conseguiu reprimir a expressão de espanto — Sim… Ela pediu que eu ficasse de olho nas coisas por aqui e… lhe informasse sobre o senhor Shin.

— Obrigado por tudo o que tem feito por nossa família, Ha Jin. Mesmo não morando aqui, me mantenho informado com meus irmãos e eles me passaram o quanto você tem sido importante para nós nesses últimos tempos… Obrigado.

— Não agradeça — Ha Jin se exaltou ao ver Sook fazendo uma vênia para ela — Não precisa. Já falei antes e repito: É minha função, sou governanta da casa. Na falta da governanta Nyeo, essa é a minha obrigação.

— Você é realmente uma boa mulher, como todos sempre me dizem…

— Obrigada.

— Quero te dizer o real motivo que me trouxe até aqui. Como sabe, eu comprei a maior parte das ações da ISOI e tenho administrado a empresa juntamente com minha esposa, Sun Hee — Ha Jin fez um sinal de sim com a cabeça — Há algumas semanas, mais precisamente, no dia em que todos esses problemas aconteceram, conversando com a governanta Nyeo, soube que você iniciou um curso de Química e que tinha interesse em seguir a carreira cosmética… Isso é verdade?

— Sim, senhor…

— Por que não completou o curso?

— Não consegui pagar as mensalidades — novamente omitiu a parte sobre sua paixão avassaladora, a que lhe fez, como uma tola, abrir mão de tantas coisas na vida.

— Imaginei… Boas faculdades são caras. E lhe dou os parabéns por ter conseguido ser aprovada. Mostra que realmente é comprometida com o que faz e tem interesse.

— Obrigada — Ha Jin, curiosa, começava a se sentir constrangida com os elogios.

— Minha esposa encontrou seus documentos nas baixas da ISOI. Não sabíamos que trabalhou para a empresa.

— Sim… Foi por um curto período de tempo. Era temporário e… por um problema de saúde, acabei sendo demitida. O RH da filial onde trabalhei achou melhor contar os vínculos… passei muito tempo afastada, não os culpo.

— Entendo… De toda forma, sendo bem direto e específico, estou com uma vaga para bem futuramente na área Química e gostaria de saber se isso te interessa.

— Eu...? Mas… Eu não sou formada, senhor Sook… — Ha Jin não se dava conta da cara de espanto que fazia naquele momento.

— Sei disso — ele se segurou para não sorrir — Conversei com minha esposa e nós entramos em um acordo. Também conversei com Taeyang, já que ele parece ter assumido a frente da casa por enquanto… Quero oferecer para você um curso de Química, em uma faculdade aqui mesmo, na cidade.

“A ISOI¹ entraria com o pagamento de suas mensalidades até a conclusão do curso e você trabalharia conosco no período contrário às aulas, um trabalho de meio período. Quando se formar, será contratada formalmente pela empresa e descontamos o valor das mensalidades em seu salário, com pequenas parcelas. Taeyang está de acordo. Se prontificou a selecionar uma nova governanta, caso a governanta Nyeo não volte… O que me diz?”

— Eu… realmente… Não sei o que dizer. Isso parece um sonho. Estou com medo de estar sonhando…

— Não está, Ha Jin — Sook lhe oferecia aquele belo sorriso bondoso do príncipe Mu — Isso está acontecendo de verdade, não se preocupe.

— Mas por que esse convite, assim… tão repentino?

— Precisamos de alguém de confiança para essa área da empresa e não conseguimos pensar em ninguém melhor que você para essa função.

— Eu…

— Claro que você pode dizer não, isso não é uma imposição, apenas uma oferta. Gostaria que pensasse sobre…

— Muito obrigada! Muito obrigada, de verdade! — levantou-se empolgada, várias vênias nervosas para o rapaz.

— Se acalme, por favor — ele levantou-se e a segurou pelos ombros.

— Mas, senhor… Não posso sair da mansão agora…

— Eu entendo o que está me dizendo. Sei que deve ter se comprometido com a governanta Nyeo e, pelo que ouvi sobre você, não a deixaria na mão nesse momento… A vaga é para o futuro, alguns meses para frente, então não se preocupe. Apenas pense e, quando estiver pronta, me dê sua resposta.

— Sim senhor…

Ha Jin ainda não conseguia acreditar que a proposta de Sook fosse verdadeira, e não um sonho. Havia beliscado o braço umas três ou quatro vezes desde que voltara para a cozinha e, em sua mente, seus pensamentos não paravam de fervilhar sobre aquela tão vantajosa possibilidade.

Ela jamais imaginou que algo assim pudesse lhe acontecer. Era como se ela estivesse sendo recompensada pelas coisas boas que havia feito em sua vida. Pensou em sua mãe e nas muitas vezes que ela lhe deu petelecos por ter abandonado o curso, por não ter se esforçado mais. Imaginou como ela ficaria orgulhosa quando descobrisse aquela nova chance.

Pensou também em Shin. Lembrou que o senhor Wang tinha problemas sobre seus filhos se relacionando com empregados e que, daquela forma, eles poderiam ficar juntos sem precisar se esconder, como estavam fazendo naquele momento. Tudo parecia um sonho.

— Governanta… — um dos empregados da casa veio até ela — o senhor Shin está chamando a senhorita no escritório.

— Ah… Tudo bem. Já estou indo. Obrigada!

A governanta deixou a responsabilidade do jantar nas mãos de duas empregadas mais antigas e, após retirar o avental, caminhou a passos apressados até a sala de reuniões. Novamente naquele lugar, em um curto espaço de tempo, bateu na porta delicadamente antes de abri-la e adentrar.

Shin, o casaco grosso sobre uma mesa de centro, aparentemente havia chegado de algum lugar que ela desconhecia, estava de pé, recostado na escrivaninha e a olhava de uma forma que lhe trespassava a alma. O peito de Ha Jin doeu em ansiedade quando ele se aproximava em passos largos e, com o próprio corpo, lhe empurrou contra a porta que acabara de fechar.

Ele a beijou. Intensa e urgentemente, como se não se vissem há anos, as mãos ligeiras e astutas, segurando de forma possessiva seus braços. A moça, perdida entre seus desejos e suas responsabilidades, correspondeu o beijo, aquele que lhe tinha sido privado por dias, se deixando levar momentaneamente por seus sentimentos.

— Para, Shin… Para — ela falou recobrando um pouco de sua sanidade, o momento se tornando mais intenso do que ela esperava — Não podemos… Não aqui…

— Não quero parar — ele venceu a pressão das mãos dela sobre seu peito e lhe beijou a bochecha e pescoço.

— Não aqui… — ela se esquivou, um momento de distração do rapaz lhe dando a oportunidade de sair de seu abraço, mesmo que ela não desejasse fazê-lo, se afastando — O que aconteceu? Onde você estava?

— Estava por aí… — falou vencido, lembrando-se do quase flagra de Eujin. Sentou-se na poltrona onde ela estava pouco tempo atrás com o herdeiro mais velho.

— Por aí…? — ela assumiu seu tom autoritário, as mãos na cintura — Não te vejo desde a hora do café da manhã… Aliás, você nem mesmo tomou café da manhã e já são quase cinco horas da tarde… Daqui a pouco vamos servir o jantar. Você ao menos se alimentou?

— Sim… Eu comi antes de sair e almocei pela rua — ficou feliz em saber que ela se preocupava daquela forma com sua saúde e bem estar — Estava precisando arejar a mente, respirar um pouco.

— E sequer poderia me avisar que ia sair?

— Não quis te interromper em seu trabalho — piscou-lhe o olho, vencendo-a com aquele gesto — Enquanto estava fora, fiquei pensando como as coisas passam rápido… Como perdemos tempo com banalidades e deixamos de aproveitar momentos que poderiam ser muito mais felizes. Estava… estava pensando como não vivemos do jeito que deveríamos viver…

— Concordo plenamente… — sentou-se na poltrona de frente para ele — Mas acredito que devemos ter sempre muito bom senso com a forma que vivemos nossa vida. Não podemos aproveitar simplesmente, sem pensar nas consequências…

— Eu sei… Eu sei… Tudo bem! Já entendi — ele resolveu desistir de tentar convencê-la e, em seguida, pareceu distante — O que tem acontecido nessa mansão além de todos os problemas constantes?

— Hoje, nada demais. Mais cedo, o seu pai saiu com Eujin, Jung e Sun… Acho que foram ao museu, algo do tipo…

— Sinto pelos meus irmãos… Eles não tiveram tanta proximidade com nosso pai como eu, Gun, Tayang e Sook tivemos… Yun Mi, nem posso falar por ela… Sempre foi uma boneca nessa casa…

— Não fique pensando em coisas tristes… Seus irmãos saíram com ele, não há problemas em viver momentos como esse agora… Seu pai precisa de atenção, se sentir bem e seus irmãos estão fazendo tudo o que podem, e da melhor forma ao se aproximarem dele. Seu pai estava sorrindo quando saiu da mansão com os três. Foi muito bom vê-los tão próximos… — a governanta também assumiu um ar distante, lembrando-se de um passado sem demonstrações de afeto, de tantas tristezas.

— Você tem razão — um suspiro profundo e um sorriso de agradecimento — Onde está meu pai, agora?

— Faz alguns minutos que ele saiu com um dos motoristas. Não sei para onde foi, mas imaginei que tivessem se cruzado pela mansão.

— Não cruzei com ele. Teria impedido essa loucura. Ele não deveria se esforçar muito…

— Deixe… Não o impeça. Ele passou dias preso a uma cama. É terrível essa sensação de ficar impossibilitado…

— Como sabe que é tão ruim?

— Isso não importa agora… veja, aconteceu outra coisa…

— O que? — Shin ficou curioso com a expressão animada que o rosto da governanta assumiu.

— Seu irmão… O senhor Sook…

— O que tem?

— Lembra que te falei que fiz Química, mas não consegui pagar o curso?

— Lembro sim…

Ha Jin narrou com todos os detalhes a sua conversa com o primogênito Wang, a proposta e sua inclinação para aceitar. Explicou que seria mais fácil para que os dois pudessem assumir seu relacionamento, mesmo que Shin dissesse que não se importava com regras ou pensamentos preconceituosos. Falou também que aquela boa oportunidade que lhe sorria era graças à Nyeo Hin Hee. Shin assumiu um semblante meditativo ao fim do breve monólogo.

— Se não fosse por ela… nossa! A governanta Nyeo é como uma boa mãe. Não consigo deixar de ser grata. Quero muito abraçá-la por ter se lembrado de mim naquele momento… 

— Ha Jin…

— Ah… Desculpe — ela assumiu aquela expressão de desagrado. Não estava satisfeita que Shin ainda não tivesse ido procurar a mãe — Só estou animada.

— Não peça desculpas — ele sorriu amigável e falou tranquilamente — Se está grata à Hin Hee, apenas seja. Mais tarde, ligue para ela e agradeça a lembrança… ela ficará feliz.

— Farei isso… — ela concordou perscrutando-o.

— Hoje… Eu não estava por aí como te falei.

— Onde estava?

— Fui até PyeongChang — o tom de voz mais baixo, pensativo.

— PyeongChang? O que foi fazer em Pyeong… — ela se interrompeu, os olhos arregalados em espanto, um sorriso discreto após a expressão assustada — Você…

— Fui até a cada dos pais dela… — ele continuou, entrelaçando os dedos, focando-os, os braços apoiados nos joelhos.

— Você falou com ela? — a ansiedade tomou conta de Ha Jin.

— Não… Eu não a vi, na verdade, mas sim o casal de idosos… Fiquei olhando de longe e pareciam felizes apesar da idade… Estavam em frente a casa no endereço que você me deu. Conversavam intimamente. A sensação que tive era que eles viveram o que tiveram de viver da melhor forma… Só de olhá-los…

— Eram os seus… — ela se reprimiu. Aquele ainda era um tema difícil de adentrar com o herdeiro, mas estava certa que eram os avós de Shin.

— Provavelmente…

— E como se sentiu?

— Tive vontade de ir até eles… mas me reprimi e fiquei algumas horas escondido em uma árvore observando aquela movimentação. Só desci porque não suportei mais o frio… Eles iam da casa até a estufa… a senhora pareceu tão brava, me lembrou Hin Hee. E ele, lhe ajudando em tudo, sorrindo, conversando, não sabia sobre o quê… Em alguns momentos parecia que estava me vendo de longe, idoso… Aquele senhor… Eu ando como ele… Eu me vi nele, Ha Jin. Eu senti algo muito estranho, não sei explicar.

— Eu imagino… Isso deve ser normal. Dê tempo para você mesmo. Não é uma situação fácil de encarar.

— Eu sei… Mas decidi uma coisa.

— O que?

— Vou encontrar Hin Hee… Ainda não sei quando, mas estou decidido. Quero ouvi-la.

— Essa é uma ótima decisão, Shin… — os olhos da governanta brilharam em resposta àquela informação. O dia realmente estava indo bem.

— Não quero que diga para ela que fui ou que irei lá, por favor. Não quero provocar expectativas…

— Tudo bem. Como quiser.

— Não quero mais perder tempo com coisas pequenas, Ha Jin, com sentimentos que só trazem tristeza e dissabor — continuou levantando-se, indo até a porta — Não quero que minha vida volte a ser rodeada por mentiras. Não gosto delas…

— Está certo, e estou muito feliz por sua decisão, Shin. Eu estarei aqui se precisar de mim, quando precisar…

— Sério?

— Claro!

— Estou precisando de você, agora — falou se aproximando ameaçadoramente. Ha Jin tencionou levantar, mas Shin foi mais rápido, as mãos apoiadas nos braços da poltrona — Preciso beijar você agora mesmo… Não quero mais perder tempo, sobre nada!

— Não posso!

— Acabou de falar que estará sempre aqui, para mim…

— Mas não assim — ela o empurrou, levantou e seguiu para a porta, percebendo que estava trancada quando girou a maçaneta. A mão de Shin encontrou seu pulso livre e num movimento rápido lhe trouxe até o seu abraço antes que ela destrancasse.

— São cinco horas da tarde. Estão todos na empresa e não tem ninguém na casa além de nós dois e dos empregados. Eles não virão até aqui… estamos em reunião. Não me prive de sentir seus beijos novamente…

— Shin… — ela não completou seu pedido por sensatez. A sua própria se perdendo nos lábios do homem que, novamente, lhe trazia para seu corpo com urgência. O beijo, como a maioria dos outros trocados, foi intenso e cheio de desejo.

Ha Jin não saberia dizer como chegou até ali, mas sentiu o corpo sendo deitado no sofá, o mesmo que o herdeiro usara meses atrás para servir de apoio às suas botinas de couro quando retornara à Mansão da Lua, deixando a senhora Ah Ra possessa por sua falta de educação. Aquela situação também não deixaria a senhora feliz.

O corpo dele, sobre o dela, pressionado, praticamente fundidos. Os beijos, descolados dos lábios e seguindo para o pescoço, para a pequena parte de seu colo exposto pelo botão aberto da camisa. As mãos dela, astutas e autônomas, deslizando pelo corpo dele, onde alcançavam.

Braços, costas, pescoço… ela o tocava como podia, sentia seu corpo em ebulição sob o dele, a pele incendiada onde seus beijos queimavam. As mãos descendo da nuca de Shin para seu peito, adentrando pela camisa. As mãos dele, deslizando pelos braços de Ha Jin, uma delas, ousada, tocando a pele da barriga, por baixo da camisa.

Ha Jin estremeceu com aquele novo toque, tão antigo e familiar. Seu corpo trazendo de volta as lembranças de seu rei, seu So… Seu Shin, tocando sua pele com desejo, o mesmo desejo vivenciado mil anos trás, o desejo que era capaz de transportá-la daquela realidade, de onde estava, de permitir que se entregasse ao momento, a ceder… sentir.

Shin arfou ao descolar seus lábios do pescoço dela. Sua pele quente e macia lhe trazia um sentimento que ele, a cada dia, sentia mais dificuldade em controlar. A nuca formigava, a pele onde os lábios e dedos dela pressionavam estava marcada e ardia sob seu toque. Eles se olharam, ambos momentaneamente esquecidos de onde estavam, seus olhos enevoados de desejo. Então ele levantou.

De pé, olhando a jovem governanta deitada sobre o sofá, os cabelos desgrenhados, a camisa levemente amassada e a respiração, assim como a dele, agitada, sentia o corpo reagir aos impulsos e pareceu, por um momento, que seu peito poderia explodir.

Shin virou-se, envergonhado - ou suprimindo suas próprias reações, percebendo os sinais de desejo que seu corpo mostrava. Caminhou em passos rápidos até a mesa de centro e pegou o casaco esquecido sobre ela, segurando-o astuciosamente junto à barriga, deixando-o cair livremente até suas coxas.

Quando voltou a olhar para Ha Jin, ela estava sentada, arrumando os cabelos em um rabo de cavalo. Ela o olhou intensamente e sentiu as bochechas esquentarem ao perceber, na cena que viu diante de si, o motivo de todo acanhamento do herdeiro.

Shin passou por ela como uma flecha sem dizer uma única palavra, abrindo a porta e lhe deixando sozinha ali. Ha Jin sorriu consigo em seguida. A mão sobre a boca, incrédula, tentando conter sua euforia. Parecia sem sentido, era inacreditável que algo assim pudesse ter acontecido. Era imprudente, uma situação descuidada, mas que a deixou estranhamente satisfeita, a respiração ofegante quando levantou e, passando as mãos sobre a camisa, tentou ajustá-la ao corpo.

Por fim, recompondo-se, fazendo o mesmo caminho feito pelo rapaz, consciente de que, assim como ele, precisaria de um banho naquele exato momento, seguiu até a cozinha, usando uma desculpa qualquer para ir até suas dependências na área dos empregados.

***

Sentado sobre umas pedras na parte mais alta da área externa da Mansão da Lua, Sun, camuflado sob seus muitos casacos de frio, enfrentava o início de noite congelante com um aperto desconhecido, e frustrante, em seu peito.

Reservava aquele local para derramar seus prantos desde que soubera do estado de saúde de seu pai e era ali que refletia sobre as muitas brigas, as imposições daquele homem intransigente que sempre colocava sua opinião sobre as de qualquer outra pessoa e que não permitia, independente de quem interviesse, que seus planos fossem desviados.

Chorava sempre que pensava sobre todo o tempo que perderam alimentando essas discussões desnecessárias e como poderiam ter aproveitado muito mais a presença daquele homem se, ao invés de status e poder, o mais importante fossem os laços sanguíneos e o amor e proteção que deveriam oferecer uns aos outros.

Naquele momento, observando as primeiras estrelas da noite surgirem no céu, chorou mais uma vez. As lágrimas, porém, tinham um motivo diferente dessa vez e responderiam “Doh Hea” caso perguntassem por que estavam caindo por aquele rosto triste.

Sun não deixara de pensar um único instante em tudo o que ouviu da jovem no dia do casamento, quando imaginou que sua declaração seria o início de um relacionamento que ele deveria viver há anos. Mesmo quando saía em busca das provas que poderiam ajudar os irmãos a provarem a inocência de Shin ou que o roubo do qual acusavam a empresa era invenção, ela permanecia lá, em seus pensamentos, em suas lembranças.

Parecia sem sentido, mas agora ele sabia que era real. Midori, sua esposa virtual, aquela com quem ele passava horas conversando, aquela que sempre lhe “ouvia” pelos chats e lhe entendia em suas indagações era aquela que sempre esteve presente quando ele precisou, a garota que sempre esteve ao seu lado, a garota que sempre se importou e fez o que pôde, e o que não pôde, para que ele a notasse, nem que fosse por um breve instante.

Como as duas podem ser a mesma pessoa? Mas é óbvio que são a mesma pessoa. Você que foi estúpido demais para não notar…

O jovem sequer tivera tempo de chatear-se por descobrir que as duas eram a mesma pessoa. O choque de ouvir Hea falar que era ela quem não mais o queria foi mais duro que qualquer outra notícia e mesmo que tentasse irritar-se por ter sido enganado durante tantos meses, resignava-se ao lembrar que ele, junto com Jung, a envolveram em algo muito mais imperdoável.

Lembrava-se que a colocara como peso de uma posta sem sentido e esse era mais um dos motivos causadores daquele novo pranto. Não conseguia se perdoar. Como poderia ter sido estúpido ao ponto de fazer algo daquele tipo?

Jamais imaginou que ela saberia um dia, nem mesmo lembrava que o motivo inicial dos passeios tinha sido aquela aposta. Aquilo se tornara algo sem importância no decorrer do tempo, a cada novo encontro, mas nunca seria algo simples demais para ela. Ele a entendia. Entendia cada uma das palavras que ela lhe disse. Entendia o motivo dela não mais desejá-lo consigo.

E assim, lamentando suas péssimas escolhas e falta de atenção para simples detalhes, absorto em seus pensamentos deprimentes e as muitas lágrimas que rolavam livremente por seu rosto, não reparou um casal atrás de si, alguns metros de distância os separando, suspeitos demais em suas atitudes, parecendo esconder-se de serem vistos, demonstrando que iriam aprontar algo, isso se já não o tivessem feito antes.

Shin, que havia seguido Ha Jin até suas dependências e conseguira sequestrá-la quando ainda estava tão desejoso de seus beijos, impedindo-a de entrar em seus aposentos, soltou a mão da governanta assim que avistaram Sun, ela se escondendo por trás de uma roseira. Conversando em mímicas entre si, tensos pelo receio de serem vistos naquele momento de imprudência, tentavam elaborar um plano para saírem dali sem serem percebidos.

A governanta, porém, atenta como sempre fora, percebeu o balançar dos ombros do jovem Wang e observou com leve angústia Sun abaixar a cabeça sobre os joelhos chorando avidamente, o som de seu pranto chegando aos ouvidos de Shin também.

Os dois se olharam com espanto, e consternados em presenciarem aquele momento de tristeza do rapaz, Ha Jin, em seu desejo interno de consolá-lo, com as mãos, impulsionou o mais velho a aproximar-se. Sun precisava de um ombro amigo, de um bom apoio, e era o irmão mais velho o mais indicado para aquilo.

Shin se aproximou a passos lentos assim que Ha Jin, voltando pelo mesmo caminho que fizeram instantes atrás, sumiu diante de seus olhos. Sun, envolvido em sua tristeza, não ouviu o irmão se aproximar, percebendo apenas quando este, em silêncio, sentou-se ao seu lado e o obrigou a engolir todo o choro, enxugando apressadamente o rosto e olhos, já inchados.

— Oi… Irmão… Aconteceu alguma coisa? Papai está bem?

— Não aconteceu nada demais… Papai saiu um pouco. Está tudo bem!

— Menos mal… Me assustou.

— Desculpe.

— Tudo bem.

— Como você está? — Shin preferiu não fazer rodeios. Não estavam em situação para isso — Por que está chorando assim?

— Ah… Não é nada demais. Estou bem…

— Por que está mentindo para o seu irmão?

Sun olhou para Shin com seus olhos inchados e não foi capaz de manter o olhar firme por muito tempo. Desviou a visão para o chão, em seguida para o céu bem mais estrelado que antes e suspirou cansado de tudo o que estava acontecendo.

— Por que todas essas coisas estão acontecendo de uma vez? Por que o papai está morrendo? Por que nossa empresa está falindo? Por que estão te acusando de algo que você não fez? Por que… — o rapaz não concluiu a última pergunta. Os olhos voltavam a derramar suas lágrimas incontroláveis.

— Eu não sei responder nenhuma dessas perguntas, Sun… Eu sinto muito.

— Eu estou tão decepcionado com tudo… Nossa vida nunca foi boa de verdade, mas nunca pensei que as coisas chegariam a esse ponto.

Novas lágrimas, um novo pranto. Shin se viu perdido naquela situação. Não sabia como agir, como consolar o irmão. Optou por ficar em silêncio, ouvir suas indagações e participar, como observador, de seu pranto.

— É tudo muito injusto… Nunca fomos felizes… Nunca fomos uma família de verdade. Nunca agimos como irmãos. Sempre fomos egoístas, preocupados com nossos próprios problemas, com nossos umbigos… Agora… Agora, tudo está ruindo e eu não sei por onde ir. Não sei o que fazer. Estou com medo de como vai ser quando papai…

— Não pense nisso por enquanto, tudo bem? Vamos continuar agindo como estamos. Vamos ficar ao lado dele, mostrar para ele que somos irmãos, independente de nossas diferenças. Precisamos dar essa tranquilidade para ele. Nosso pai sempre quis que estivéssemos unidos e, mesmo que seja no meio de um problema tão grande, nós realmente estamos. Estamos juntos, trabalhando uns pelos outros, e isso foi o que ele sempre quis nos ver fazer.

— E Gun?

— Ele vai voltar… Em algum momento, ele vai voltar.

— Estou cansado de tudo isso, irmão. Estou cansado de tantas coisas erradas. Cansado de ser… assim… tão idiota…

— O que aconteceu além? Quer falar sobre isso? — Shin perguntou após o silêncio do mais novo — Sou seu irmão mais velho e vou tentar te ajudar como puder. Se não quiser falar mais nada, vamos apenas ficar por aqui, tudo bem?

Sun concordou com um movimento de cabeça e inspirou, olhando novamente para o céu. Tudo estava acontecendo rapidamente e ele parecia estar levando golpes de todos os lados, como se flechas transpassassem seu corpo sem lhe permitir o direito de se defender. Sentia-se cansado. Verdadeiramente abalado. Estava em ponto de desistir e entregar-se.

— Irmão… Eu… Fiz mal a uma pessoa… — Shin olhou curioso para o mais novo, esperando que ele continuasse — E eu não imaginava que estava fazendo ela sofrer… Agora eu estou tão… Envergonhado. Arrependido de tudo o que fiz.

— Está falando de Doh Hea? — os olhos esbugalhados, e inchados, de Sun confirmaram a pergunta de Shin — É sobre a aposta. Ela descobriu tudo?

— Eu não sei o que fazer…

— O que ela disse?

— Ela disse que vamos continuar sendo amigos, mas… Eu percebi que gosto dela…

— Tarde demais, não é isso?

— Sim — Sun respondeu com o rosto baixo, envergonhado.

— Eu entendo o que Doh Hea deve estar sentindo. Não deve ser fácil descobrir que foi tratada como moeda de jogo.

— Tem mais… — Shin calou-se, esperando que Sun continuasse — Antes… há alguns meses, eu conheci uma garota enquanto jogava online. Nos tornamos bons amigos e chegamos a nos casar nos jogos… É bom para estratégias de jogo, essas coisas…

— Entendo…

— O problema é que sempre falava mal da Hea para essa pessoa… Contava minhas raivas, da aposta, o que achava que pensava dela, falei um monte de porcarias sem sentido e me arrependo disso… Hea não é nada daquilo. Mas… Essa esposa e a Hea são a mesma pessoa…

— Então… ela sabia de tudo o que você pensava sobre ela? — Shin completou diante do silêncio do irmão.

— Sim… E não me disse nada. Preferiu levar tudo sozinha, sofrer calada… Ignorar e continuar sendo minha amiga.

— Ela te contou isso?

— Sim… No casamento de Yun Mi. Eu… pedi ela em namoro. Não sabia dessas coisas…

— Eu sinto muito, Sun. Infelizmente, não posso te apoiar sobre isso. Você está errado e sabe disso.

— Eu sei. Sou um estúpido, idiota…

— É sim. Mas não acho que deve se dar por vencido…

— E o que posso fazer? — o mais jovem o olhou curioso.

— Perceba tudo o que temos vivido nesse momento, e também o que vivemos em nossas vidas envolvidas por mentiras, receios, culpas… Você errou quando colocou a garota como moeda, ela sabe, eu sei e, o mais importante, você sabe e se arrepende. Errou também por falar mal dela, talvez isso seja o que mais a machucou, mas fale para ela como se sente e não deixe que ela pense que você é um completo estúpido. Se não der certo da primeira vez, tente novamente. Se desculpe e mostre que está arrependido. Faça a sua parte e, se nada funcionar, simplesmente pare, aceite e conviva com as consequências do seu erro.

— Mas… E se ela não quiser falar comigo?

— Ela deixou uma porta aberta quando disse que continuaria sua amiga. Aproveite essa oportunidade e tente. Não a force, apenas diga que se arrepende. Deixe que ela decida o que quer…

— Acho que tem razão…

— Você é um bom garoto, Sun. E está começando a amadurecer. Tenha esse fato como um exemplo a não ser repetido — o rapaz concordou novamente, um breve movimento de cabeça — Onde está o seu celular?

— No meu quarto.

— Então vamos lá. Ligue para ela. Ficarei do seu lado, se quiser, mas não deixe passar a oportunidade de reconhecer seus erros.

Os dois seguiram juntos até o quarto do mais novo. Ali, Sun preferiu ser objetivo e ligar diretamente para Hea. A moça, sempre solicita, o atendeu como se nada tivesse acontecido, aceitando de pronto o convite para um chocolate quente na tarde seguinte.

***

O senhor Gyung Ho estava muito incomodado com aquela situação e, como sua esposa bem dissera, não havia nada que pudesse ser feito. Pela quinta vez naquele domingo gelado, o agricultor idoso se esgueirou para a janela da cozinha de sua modesta casa e observou o abatido sujeito parado como uma estaca ressequida ao vento, diante das escadas que levavam para a entrada da residência.

— Estou só vendo a hora que os vizinhos vão ligar para perguntar o que está acontecendo — o velho comentou para si, espiando o lado de fora com indignação.

Sang, uma senhorinha miúda na casa dos setenta anos, de aspecto enérgico e cabelos tão brancos quanto a neve, entrou na cozinha respondendo a Gyung Ho, com quem compartilhava um casamento de longa data.

— Já ligaram.

— O que? — ele virou-se para a mulher, chocado e assustado. Seus olhos grandes se arregalaram ainda mais enquanto indagava Sang — Esses fofoqueiros não perdem tempo… — bufou — Aposto que foi a velha Mig Yung que não se aguentou.

— Nem se pode culpá-la, afinal está muito estranho — a esposa deu de ombros. Sempre defendendo aquela velhota fuxiqueira do fim da rua com quem tinha amizade — Ele está plantado na calçada desde ontem a noite.

— Sujeito persistente… Não tem sono, não? Nem fome? — o velho retornou a espiar lá fora, de braços cruzados, na defensiva, continuava interessado em analisar o homem.

— Isso está me dando agonia, isso sim!

Gyung Ho se virou para a esposa mais uma vez, apontou com o queixo na direção da porta e, falando aos sussurros, como se estivessem sobrevivendo dentro de um covil de tigres famintos, comentou:

— E cadê Hin Hee?

— Continua trancada no quarto. O que acha?

— Será que ela não vai sair mesmo? Acho que só assim para esse urubu sair daqui da frente. Sang, por favor, acho melhor falar com ela.

A velha de cabelos grisalhos revirou os olhos, impaciente com o marido, e respondeu de pronto:

— Não seria minha filha se saísse.

— Aishh, que essa moleca ficou teimosa igual a você! — ele apontou o dedo para ela, acusatório. A esposa mudou a frequência de seu olhar, sintonizando um mais concentrado, assassino, que o fez coçar atrás da nuca, e argumentar mansamente junto a um sorrisinho amarelo em seguida — Eu quero caminhar um pouco por aí, meu bem… É minha rotina, meu direito.

— E tem alguém impedindo seu direito, homem? Vá, saia e caminhe até seus sapatos terminarem de arrebentar e você finalmente criar vergonha na cara e usar o par novo que eu lhe comprei no aniversário — ela rebateu irritada, pegando um utensílio sujo em cima da mesa e jogando na pia.

— Shhh — ele levou o indicador nodoso até os lábios e pediu silêncio, antes que sua filha percebesse a comoção entre eles — Fale baixo, criatura.

— Ah, você enche demais.

Gyung Ho esboçou uma careta às costas de sua companheira, contrariado, mas não argumentou mais. No fundo, também era seu desejo que a filha não se rendesse àquele embuste e fosse conversar com ele. Sua única preocupação era a falação dos vizinhos e a possibilidade de alguém chamar a polícia, afinal a coisa era muito suspeita.

Um homem nos panos chiques, com cara de mamão passado do ponto, parado na frente da casa deles desde a noite anterior, enquanto um carro luxuoso dos que só se viam na televisão estava estacionado do outro lado da rua, junto ao meio-fio.

Ele era o tal que desgraçou a vida da sua filhinha e o responsável por eles acompanharem o crescimento do único neto que possuíam apenas por fotos. Embrulhava o estômago de Gyung Ho ficar remoendo aquela história e o pior de tudo era que, nesse exato momento, ele começava a ficar com dó do desgraçado. No fundo, só queria que ele fosse embora das suas vistas para parar de nutrir aquele sentimento.

Dando uma última conferida no homem, ele nem piscava encarando a porta da casa, o agricultor percebeu nuvens pretas se adensando no horizonte, acima dele. Bom, se chover ele sai de uma vez, pensou dando de ombros e abandonando a janela.

O decorrer daquele dia transcorreu debaixo da sombra do incômodo na casa dos Nyeo. Gyung Ho e Sang inventavam desculpas para espiar a porta e descobrir que o patrão de sua filha não havia ido embora, enquanto Hin Hee permanecia trancada no quarto, ignorando as dezenas de mensagens enviadas por Hansol, suplicando para que viesse para o lado de fora e o ouvisse por meros segundos.

Embalado pelo friozinho aconchegante daquela tarde e vendo uma reprise qualquer na televisão da sala, o senhor Nyeo acabou cochilando. Acordou assustado, algumas horas depois, com um trovão daqueles que reverberou nas paredes da casa, seguido de rajadas de chuva contra as janelas de vidro. Ainda sonolento e desnorteado, caminhou devagar, suas artrites cobrando o preço por dormir torto no sofá, na direção da cozinha.

— Mas que diabo! — exclamou, vendo o sujeito ensopado debaixo do temporal.

Irritado por diversos fatores, mas principalmente por sentir pena do imbecil, retornou para a sala, pegou um guarda-chuva no gancho ao lado da porta e, mantendo outro sobre a própria cabeça, saiu da casa, desceu as escadas molhadas com cuidado para não cair, na sua idade qualquer queda poderia trazer sérias consequências, e entregou o objeto para o homem.

Sang ficaria possessa quando descobrisse aquilo, mas, mesmo assim, ele teve de falar:

— Ela não vai falar com você, não importa quanto tempo fique aqui. Por favor, vá embora — pediu para Hansol, falando alto para vencer o som da chuva, e retornou para dentro de casa tão logo fez sua parte.

O homem agradeceu o guarda-chuva com um aceno singelo, mas continuou ali até o início da noite, completando vinte e quatro horas em frente a casa. Quando os senhores foram dormir, ele ainda estava lá. Na manhã seguinte, finalmente havia partido e o guarda-chuva estava cuidadosamente apoiado ao lado do batente da porta.


Notas Finais


¹ Empresa de cosméticos que patrocinou a exibição de Moon Lovers na TV. IU (Hae Soo/Ha Jin) foi garota propaganda da empresa no ano passado. http://www.isoi.com/


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