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História Moon Lovers: The Second Chance - O Ciclo da Alma


Escrita por: VanVet e AndyeGW

Capítulo 72 - O Ciclo da Alma


Fanfic / Fanfiction Moon Lovers: The Second Chance - O Ciclo da Alma

Os ânimos estavam agitados naquela tarde de verão. Além do excelente resultado que deu à Wang S.A. uma nova oportunidade, a capacidade de se reestruturar e reerguer depois de meses sendo fadada às desconfianças e descréditos, a sala de reuniões estava polvorosa, animada com as perspectivas para um futuro promissor.

Agora, com novos horizontes a serem trilhados, novos investidores dispostos a fazerem parte do brilhantismo que a empresa teria dali para a frente, uma nova fase se iniciaria também em sua parte mais íntima, em sua direção.

Os herdeiros e os poucos acionistas que estavam unidos durante a fase negra que a Wang S.A. enfrentou estavam dispostos ao redor da mesa de reuniões esperando as demais instruções para que a votação se iniciasse.

E essa escolha foi unânime. Todos decidiram pela votação secreta para, assim, definirem o novo presidente da empresa que, no passado, encheu pai e filho Wang de orgulho, a empresa que fez com que ambos se esquecessem do seu próprio coração, de suas vidas, para derramarem o sangue sobre aquelas paredes.

Doh Yoseob era o encarregado de mais aquela tarefa. Com uma caixa nas mãos, o empresário, e melhor amigo de Wang Hansol, tinha também em suas mãos o destino que a empresa de tantos anos tomaria.

— Como os senhores sabem, teremos em breve o nome do novo diretor da Wang S.A. Hansol tentou através de sua ideia em permitir que cada um dos filhos tivesse, por um mês, o controle da empresa para que eles, unidos, pudessem definir o que seria melhor para ela.

"Muitos deles abriram mão de sua vez, por não se sentirem aptos a tal cargo ou, simplesmente, por acreditarem que a empresa seguiria bem de acordo com o que já vinha sendo trabalhado.

"Aqui, nesta caixa, temos o futuro da empresa. Reafirmando o que já foi dito antes de iniciarmos a votação, 70% da empresa está sob as mãos de sete filhos de Hansol, sendo cada um detentor de 10% das ações. 18% delas estão divididas entre o filho mais velho de Hansol e também acionista, Wang Sook, e suas ex-esposas, Li Chang Ru, Woo Ah Ra, Ji Eun Tak. Uma parte das ações também foi destinada a Nyeo Hin Hee. Lembrando que a senhora Yoon Min-joo abriu mão da parte que lhe cabia, sendo essa parte dividida entre as senhoras já citadas, conforme acordado entre os herdeiros em reunião passada. 4% dessas ações também me pertencem, como meu bom amigo designou em seu testamento.

"Quero ressaltar ainda que as senhoras aqui mencionadas deixaram suas porcentagens referentes à empresa sob o controle total de seus filhos, sendo assim representadas por eles. Dessa forma, os votos de Wang Shin, Taeyang e Eujin, aqui representado por seu irmão Sun, terão um peso referente à 14% das ações da Wang S.A. Assim, as cédulas são identificadas com os nomes de cada representante e essa informação será utilizada no caso de empates.

"Os 6% restantes estão divididos entre os acionistas aqui presentes, entre eles, Wang Sook, que também é detentor do poder de voto de sua mãe, Li Chang Ru. Agora, vamos começar a contagem dos votos."

Yoseob teve a ajuda de Kim Na Na para a abertura da caixa. Ele, que parecia extremamente nervoso, não conseguia girar a chave no cadeado que a fechava.

Na Na, tensa, levemente enjoada, porém controlada graças aos remédios que a sogra a fez ingerir, desempenhou a função com maestria, depositando sobre a grande mesa lustrada as cédulas que indicariam o novo líder daquela empresa.

— Vamos iniciar agora — Yoseob falou e Na Na lhe passou o primeiro pedaço de papel. O homem, enxugando a testa com o lenço, desdobrou a primeira cédula e leu o nome que nele continha com certo entusiasmo contido — Wang Taeyang.

Taeyang sentiu-se estranhamente envergonhado. Não imaginou que o seu seria o primeiro nome a ser citado, muito menos que seus irmãos o olhariam com expressões felizes por aquela leitura. Era apenas um papel, ainda restavam tantos outros e tudo poderia acontecer. Tentou permanecer inerte.

— Esse é um dos votos que valem 14% das ações e está destinado a Wang Taeyang. Assim, o senhor já se encontra com 24% de aprovação para a direção da empresa.

Mais uma vez aquela ânsia se formou em seu estômago. Olhando para nenhum lugar em especial, o jovem sentiu as mãos gelarem enquanto suavam e a cabeça abafar momentaneamente quando Yoseob proferiu o próximo voto. 

— Wang Taeyang já conta com 34% das aprovações. Vamos ao próximo… Esse também é de 14%, ou seja, Wang Taeyang conta agora com 48% dos votos. Mais um para Wang Taeyang. Totalizamos agora 56% dos votos… Temos 66% dos votos destinados a Wang Taeyang… Não há mais possibilidades de empates… 70% dos votos… 80%...

E Taeyang se sentia cada vez mais surdo. Era impossível que algo assim estivesse acontecendo com ele, o sempre diminuído, esquecido e incapaz… Aquele que ninguém acreditava, o que sempre fora excluído e que parecia não merecer confiança.

— E esse é o último… Totalizamos assim 100% dos votos destinados ao senhor Wang Taeyang — Yosseob tinha um brilho animado nos olhos, a voz parecia relaxada e feliz agora — Meus parabéns. Com esta grata unanimidade, tenho certeza que teremos novos e bons tempos para o futuro desta empresa.

Os aplausos e sorrisos destinados a ele pareciam parte de um sonho bom. Era estranho acreditar que aquela situação realmente aconteceria. Sendo abraçado por Yun Mi, se viu levantando de sua poltrona e recebendo tapinhas da irmã. Não seria capaz de repetir as palavras que lhe foram ditas por ela, a sensação de que estava em outro mundo.

A cena se repetiu com Jung, Shin e Sun. Os poucos acionistas lhe apertaram a mão, um olhar esperançoso destinado a ele, mais tapinhas encorajadores em seus ombros. Sook apareceu em seguida, logo depois Yoseob e, por último, o que lhe parecia ser impossível: viu a mão direita de Gun estendida para ele.

— Tenho certeza que a empresa está em boas mãos. Continue fazendo um excelente trabalho.

— Obrigado. Farei o meu melhor — agradeceu entorpecido, as mãos se fechando, os olhos falando bem mais do que as palavras ditas.

— Muito bem… Muito bem — Yoseob chamou a atenção de todos novamente para si — Ainda temos algumas coisas a resolver nessa reunião. Peço que se sentem mais um instante, por favor.

 

"Como os senhores sabem, temos uma filial iniciada nos EUA que, devido aos problemas enfrentados, teve uma baixa e está começando a se reestruturar novamente, juntamente conosco.

"Precisamos de um representante à frente dessa filial e o senhor Wang Gun demonstrou o seu interesse em estar neste cargo. Gostaria que fizéssemos uma votação rápida, assim, se alguém não estiver de acordo com isso, por favor, levante sua mão e nos apresente o motivo."

Ninguém se moveu. Não que desejassem que Gun estivesse longe deles, não depois que o relacionamento entre todos começou a se estreitar, mas eles sabiam, cada um deles sabia o quanto o irmão sofrera por aquela empresa e, mais do que nunca, o quanto necessitava tomar para si novos ares.

— Então o senhor Wang Gun ficará responsável pela filial da Wang S.A. nos EUA. Essa é uma grande notícia — Yosseob parecia extasiado — Tenho certeza que o senhor se sairá muito bem por lá. Não consigo imaginar ninguém mais qualificado para esse cargo. Parabéns!

— Obrigado — ele falou discretamente sob os olhos de todos. Um breve aceno de cabeça destinado aos demais.

— Para terminar, os senhores Wang Jung e Sun, e também o senhor Eujin que não pode estar aqui por motivos de força maior, gostariam de deixar suas partes pertinentes na Wang S.A. sob o controle do senhor Wang Taeyang. Assim sendo, além de presidente da empresa, o senhor passa a ser o sócio majoritário.

— Mas… Por que… fizeram isso? — ele perguntou constrangido, igualmente surpreso, direcionando-se aos irmãos mais novos.

— Nós não nascemos para a empresa, irmão… Você bem sabe — Jung foi o primeiro que falou.

— E eu não consigo me ver aqui. Meu futuro é outro — Sun complementou.

— Jamais iremos abrir mão dessa empresa, não se preocupe. Nosso pai e avô deixaram suas vidas aqui… Não seria justo que os abandonássemos depois de tudo — Jung finalizou.

— Por isso pensamos em você — Sun voltou a falar — Já resolvemos toda papelada. Você se torna, a partir de agora, nosso representante legal.

— Não há uma pessoa mais indicada para isso — Jung falou novamente.

— Confiamos em você, irmão — Sun finalizou, um sorriso amigo ofertado ao mais velho — E estaremos dispostos a ajudar quando formos necessários… E espero não ser necessário novamente… — alguns risinhos contidos dos presentes e uma expressão nervosa do presidente.

— Eu… Eu… não sei…

— Não precisa dizer nada, Taeyang, só fazer o seu melhor, como sempre fez. Tenho certeza que a empresa não poderia estar em melhores mãos — Yun Mi interrompeu o irmão e lhe dirigiu a palavra, um sorriso sincero direcionado a ele — Nós continuaremos aqui… Eu estarei aqui juntamente com o senhor Doh Yoseob e a senhorita Kim Na Na. Estaremos juntos para todos os momentos…

— E se precisar novamente, assim como Sun falou, vamos nos unir mais uma vez e dar o nosso melhor para manter nossa empresa de pé — Shin falou também, Taeyang sentindo os olhos embargados.

— Continue fazendo um excelente trabalho a partir de hoje, irmão — Sook falou satisfeito — Não consigo pensar em ninguém melhor para comandar esta empresa.

— E… da filial… Espero continuar trabalhando em parceria com vocês — Gun se dirigiu para o irmão — Conseguimos bem mais, e bem mais rápido, quando trabalhamos juntos.

— Será assim… — Jung finalizou, um sorriso amplo ao puxar Gun pelos ombros, ao seu lado, para um abraço, pegando o mais velho de surpresa — Somos muito fortes…

— E finalmente conseguimos entender o que papai sempre quis de nós — Yun Mi arrematou aquela pequena conversa.

— Então… — Yoseob interrompeu antes que o choro começasse a ser ouvido, ele mesmo estava emocionado — Acho que encerramos por agora. Agradeço a todos que compareceram e… Fighting!

A maioria dos presentes sorriu da animação do senhor Doh e daquela expressão final. Enquanto se preparavam para sair, pequenos comentários sobre o futuro da empresa, da confiança que depositavam em Taeyang e de como acreditavam que a Wang S.A. estava em boas mãos, foram ouvidos.

Gun olhou de onde estava para Taeyang, focando Na Na em seguida. Ele aguardou até que a sala ficasse mais vaga antes de se aproximar da moça e, parado diante dela, esperou que ela o focasse, ambos sob o olhar do novo presidente. Não havia nervosismo nem ansiedade entre os três.

— Na Na… — ele começou sem saber ao certo o que dizer, mas também não queria deixar aquela porta aberta — Desculpe por todas as coisas que te fiz e falei ao longo desses anos… Você jamais mereceu.

— Gun…

— Você é uma grande mulher e eu fui um tolo em não te valorizar — ele a interrompeu —  Sei que errei e tudo é consequência das minhas escolhas. Mesmo que de forma estranha, eu nutri sentimentos por você e, infelizmente para mim, mas felizmente para você e meu irmão, não soube te mostrar o mínimo que fosse.

"Quero te dar parabéns por seu casamento, por sua gravidez… Eu estou feliz por você, por vocês… Tenho certeza que vocês serão muito felizes e… espero que você possa me perdoar um dia."

— Gun… Eu não tenho o que perdoar… eram minhas escolhas também…

— Você é boa demais… — um riso frouxo, o ar solto pelo nariz — Boa demais para mim. Seja feliz, Na Na. Faça meu irmão feliz também. De onde eu estiver, estarei torcendo por vocês.

— Obrigada.

— Até qualquer dia.

— Fique bem.

— Obrigado.

Gun fez um movimento breve com a cabeça antes de se afastar. Ainda da porta, com sua maleta de couro na mão e apoiado em sua bengala, olhou para Taeyang. Mais um aceno, a sombra de um sorriso, virou-se e saiu em direção a um novo destino que ele tentaria escrever diferente do que fizera até ali.

***

Woo Ah Ra desceu do carro do filho olhando em volta, estranhando a simplicidade, mas gostando do clima que aquela rua lhe trazia. Muitas árvores, gramados floridos e casas como as que ela havia visto em um ou outro drama familiar. A rua também era estreita, o que impedia o tráfego movimentado e o barulho que as grandes avenidas faziam.

Tirou os óculos escuros, guardando-os na bolsa de mão, e esperou que o filho lhe oferecesse o braço, aceitando-o e seguindo-o em direção a uma daquelas casas, simples, mas aparentemente reconfortantes.

Ela não se importava mais com coisas que lhe pareciam importantes em um passado não tão distante. Agora, seu futuro estava concentrado, verdadeiramente, em sua família. Queria tentar novamente, uma nova chance com seus filhos e, um novo futuro a ser traçado também com a família de sua nora e netos.

O filho havia conseguido convencê-la no outro dia a esperar mais uma semana antes de tomar aquela atitude, visitar aquelas pessoas. Como dissera, ele iria “preparar o terreno com a família da moça”, mas chegara finalmente o dia em que ele não conseguira mais escapar e não podia mentir que sentia-se temeroso pelo teor da visita.

Taeyang abriu o portão baixo de madeira, a esperou passar e, lhe dando o braço novamente, seguiram o pequeno caminho de pedras, rodeados de um belo jardim, até a porta da casa que visitavam. Foi o rapaz também que tocou a campainha e lhe ofereceu um sorriso amplo e genuíno. Nunca, naqueles quase vinte e sete anos, havia visto o filho tão feliz.

— Olá, Taeyang — Hyoon Jin-hi abriu a porta e saudou o rapaz com alegria. Em seguida, ofereceu uma vênia pomposa para Ah Ra.

— Por favor, senhora… — Ah Ra tomou a liberdade de segurar-lhe as mãos em um gesto completamente anormal ao seu outro eu, dizendo em seguida — Não vamos usar essas formalidades entre nós. Somos parentes, agora. Me chame de Ah Ra, sim? … Jin-hi.

— Tudo bem… Ah Ra — a mulher concordou, educada e gentil — Entrem…

Ah Ra não sentiu-se tão estranha como imaginou que seria ao conhecer a casa da futura nora e mãe de seus netos. O ambiente era agradável, claro e muito bem decorado, mesmo que com móveis baratos e de gosto questionável. Aquele lugar lhe passava uma sensação diferente, talvez por ela nunca o ter vivenciado. Aquele lugar tinha aroma de família e lhe proporcionava paz.

— E Na Na? — Taeyang perguntou ansioso, sentando-se ao lado da mãe tão logo entraram.

— No banheiro — a mulher falou com simplicidade — Desde ontem que ela não está muito bem…

— O que ela tem? — Taeyang se sobressaltou a ponto de quase sair correndo pela sala em busca da mulher necessitada de seu apoio.

— Não se preocupe, filho — Jin-hi sorriu do desespero do genro — É uma crise de enjoos… Muito normal nos primeiros meses de gravidez. Ela vai ficar bem.

— A senhora tem certeza? — continuou, o tom aflito — Os remédios não estão servindo? Eu posso comprar outros...— Fique tranquilo, meu filho… Ela está bem, não se preocupe demais.

— Isso mesmo, meu filho — Ah Ra falou também — Ela está muito bem cuidada aqui… Está com a mãe. Nada de mal acontecerá com ela ou com os bebês.

— Eu sei que sim, mas…

— Bom dia… — Na Na apareceu na sala em seguida. Seu aspecto não era dos melhores, os olhos estavam fundos e sua aparência parecia cansada. Sentia como se o estômago tivesse virado de ponta cabeça. Tudo o que comia, inspirava ou simplesmente via era motivo para a nova onda de ânsias e conversas longas e incômodas com a privada do banheiro social.

— Como está se sentindo? — Taeyang se adiantou, olhando-a aflito enquanto a moça sentava ao lado da mãe.

— Cansada…  — ela comentou com simplicidade, levando a cabeça para trás, recostando-a no encosto do sofá. A mão repousou carinhosamente sobre a barriga levemente arredondada, acariciando-a.

— Não acha melhor levantar as pernas, Na Na? — Ah Ra perguntou preocupada e foi nesse momento que a jovem reparou na futura sogra.

— Ah… Senhora Ah Ra… Desculpe por não cumprimentá-la — começou, mas o movimento brusco lhe trouxe uma nova onda de tonturas.

— Fique tranquila. Não se sobressalte — a mais velha foi gentil — Seria bom que levasse Na Na ao médico, Taeyang. Ela precisa de alguma coisa que a ajude melhor com os enjoos. Acredito que, para uma gravidez de gêmeos, as coisas devem ser mais intensas, inclusive o mal-estar.

— Agradeço a preocupação, senhora… — respondeu assustada com a gentileza da mais velha.

— Quer ir agora? — Taeyang se ofereceu de pronto.

— Não… Estou um pouco melhor agora. Vamos mais tarde.

— Tem certeza?

— Sim. Não se preocupe demais — a mão livre foi até o rosto do rapaz, agachado à sua frente, olhando-a com nervosismo.

— E o senhor Kim? — Ah Ra perguntou, tomando a fala de Taeyang.

— Já está vindo. Foi comprar alguma coisa no mercado. Não deve demorar.

— Ele chegou — Na Na comentou, ouvindo o barulho do portão sendo fechado.

— Bom dia — o homem cumprimentou a todos, ainda da porta, instantes depois, tirando os sapatos e se juntando à esposa no sofá — Como estão?

— Estamos bem, senhor Kim — Taeyang falou primeiro.

— Viemos tratar sobre o casamento de nossos filhos — Ah Ra falou de uma vez e Taeyang sentiu um solavanco no estômago pela rapidez — Não temos mais o que esperar, não é mesmo?

— É… Acho que não — o senhor Kim comentou, não tão feliz quanto a senhora que lhe falava — Como faremos isso?

— Quero dizer que os senhores não precisam se preocupar com nada — Ah Ra continuou — Sei que as famílias tradicionais dividem despesas e que isso é uma questão de honra, mas não se preocupem com nada, de verdade.

"Não quero parecer prepotente, muito menos quero que se sintam acuados, por favor, longe de mim, mas não estamos em posição de esperarmos muito até casarmos os dois. Se estiverem de acordo, gostaria de entrar com as despesas do casamento. Os senhores poderiam bancar as despesas da viagem dos dois, se preferirem."

— Acho que… O que acha, Jin-hi? — o senhor perguntou à senhora. Ambos já esperavam aquela visita para muito breve, mas surpreenderam-se com a atitude da ex senhora Wang.

— Acho que está bem assim — a mulher respondeu de pronto — Está de acordo, Na Na?

— Estou sim, mamãe.

— E onde pretendem morar? — o homem se dirigiu para Taeyang.

— Eu vi alguns apartamentos, mas não decidi por nada ainda… Quero que Na Na escolha comigo.

— Tudo bem — o senhor confirmou — E quando será o casamento?

— Fui em um monge com Taeyang antes de virmos para cá. Ele indicou o último sábado deste mês. Disse que seria bom realizar o casamento depois do eclipse que teremos em breve. Vai trazer boas energias aos noivos. O que acham?

— Está bem perto… — o homem falou com uma nota de tristeza na voz.

— Mas não podemos esperar muito — Jin-hi também concordou com aquela colocação. A filha, em breve, seria mãe de dois filhos e não queria que ela passasse por aquilo sozinha — Estamos de acordo com a data.

— E vocês? — Kim Cheul se dirigiu aos noivos.

— Estou de acordo — Taeyang falou animado.

— Eu também — Na Na concordou, sorrindo para o rapaz.

— Então está tudo combinado — o senhor Cheul tomou a voz e se levantou, dirigindo-se a Taeyang — Não queria que minha filha casasse nessas condições, rapaz, mas estou feliz que as coisas estejam dando certo. Serei avô e terei um bom genro… Isso me parece bom.

O senhor Kim estendeu a mão para Taeyang, que levantou e a apertou ofertando-lhe uma vênia que fora interrompida. Não imaginando ser puxado para um abraço, Taeyang se surpreendeu pela atitude do sogro.

As duas senhoras, sentadas de frente uma para a outra, sorriram em acordo, felizes pela nova fase que suas vidas tomariam. Ah Ra atipicamente amigável, talvez sob o efeito da felicidade de ser avó.

Por fim, Na Na interrompeu o momento familiar, correndo com as mãos na boca em direção ao banheiro.

***

Dois meses depois…

A noite seguia tão tempestuosa quanto o humor de Go Ha Jin. Uma tromba d´água banhava os telhados de Busan, chacoalhava as placas das ruas e causava oscilações nas lâmpadas elétricas das casas.

Ha Jin se encontrava encostada sobre o caixilho da janela, se esforçando para reter os bons pensamentos, observando a chuvarada renovar os ares da cidade, e falhava miseravelmente nisto.

Tudo começara a desmoronar quando Shin resolvera se engajar mais no projeto do carro Impacta com os irmãos, melhorando o relacionamento complicado com seus familiares, mas piorando, mesmo após o fim do projeto, com sua namorada.

Os outros herdeiros conseguiram mudar suas vidas após o evento chinês. Eujin, o exemplo mais radical deles, “raptara” Nahm Hye da própria cerimônia de casamento e partiu com a garota para outro continente, onde poderiam se amar livremente e ele, Ha Jin se sentia muito feliz por isso, finalmente estudaria música.

Gun era outro exemplo de Wang que escolheu novos horizontes para si. Assim que resolveu todas as celeumas referentes à empresa do pai em Busan, o rapaz escolheu partir para os Estados Unidos, comandando a filial do extenso patrimônio. Naquele país também vinha recebendo tratamento médico de ponta e melhorando sua condição clínica dia após dia.

Yun Mi, nas palavras de Na Na que a via diariamente, se tornara uma pessoa mais complacente. Trabalhando todos os dias com um renovado espírito de equipe, se dirigia aos funcionários cortesmente e se tornara mais justa nas suas tarefas dentro do RH. Também participava mais de outros setores como era do seu desejo.

Sun e Jung se comprometeram a assumir tarefas leves na Wang S.A. ao passo que decidiam os rumos de suas vidas. Sun se inscreveria em um torneio de e-Sports para o próximo outono e Jung participava de torneios amadores de Taekwondo visando as categorias oficiais.

Sook descobrira que apostar na empresa do pai com algumas ações rendera lucros preciosos para si e para ISOI que, agora, contava com mais capital para investir em outros projetos em países ocidentais.

Taeyang se transformava no líder daquele grande conglomerado automobilístico. Em apenas um mês após Xangai, fechou um acordo milionário de fusão com uma empresa japonesa de porte intermediário que aumentaria o poderio Wang. Os acionistas novos não poderiam estar mais satisfeitos pela direção do rapaz, que tinha outros motivos para sorrir. Sua noiva, esposa dali a duas semanas, esperava gêmeos.

As coisas iam maravilhosamente bem para todos à volta de Ha Jin. Eles, com muito ou pouco trabalho, emanavam um novo brilho esperançoso em suas almas. Suas contra-partes de Goryeo se surpreenderiam se pudessem ver onde seus espíritos chegaram.

Até Mi Ok… Sempre ligada no modo “insuportável de ser”, suspirando como uma ninfa deslumbrada e contando todas as coisinhas simples, graciosas e fofinhas, os três adjetivos saídos da boca dela, que seu “príncipe” Wang lhe fazia enquanto namorados.

Para Ha Jin, se uma lupa desse destaque apenas à sua vida profissional, tudo acontecia maravilhosamente bem. O curso pago pela ISOI trazia conhecimentos únicos para ela. O trabalho na empresa também ia muito bem. O salário era ótimo e com promessas de mais promoções. As oportunidades começavam a pulular no seu colo e ela não sabia bem como lidar diante das novidades. Precisava de Shin para ajudá-la…

E então sua vida amorosa, o motivo do descontentamento de uma Ha Jin carrancuda fitando a rua através da janela, era o que desmoronava.

Shin disse que seria mais presente, que seria mais diligente, que seria mais dela quando o meio do ano passasse. Isso não estava acontecendo. Ela o via menos a cada semana. Era sempre uma reunião de última hora, um bolo devido a uma urgência na fábrica. SEMPRE havia algo antes deles.

Há três dias, após o terceiro fim de semana em que ele não poderia apenas dar uma passada no sábado a noite porque estaria logo cedo na fábrica, em pleno domingo, Ha Jin não aguentou mais. A mola paciente dentro dela se rendeu.

Disse para Shin que estava solitária como nunca estivera, nem quando eles eram apenas dois estranhos naquela era, se flertando em meio às rusgas pelos corredores da mansão. Cobrou as promessas e todos os dias que ele a deixou com dramas melodramáticos no lugar do aconchego dos seus braços, porque tinha que criar o carro perfeito.

— O carro está criado. Qual a sua desculpa agora?

— Ha Jin, não tem desculpa… Nós estamos estruturando a empresa. Eu tentei chegar logo naquele fim de semana para irmos ao cinema, mas você não me disse que a sessão começava tão cedo!

— Não é um cinema idiota que está me irritando. Você não entende?! Cadê o tempo que você disse que nós teríamos?!

— Certo. Vou conversar com Taeyang e dizer que não posso trabalhar aos fins de semana. Você ficará satisfeita assim?

— Muitíssimo!

Após recordar essa conversa, que ela conservara com bastante esperança ao final, se sentia enganada. Era para Shin estar ali a, pelo menos, três horas. Agora, o mundo caia sobre a cidade e nem sinal do namorado e sua resposta.

Shin não aguentou esperar pelo fim da chuva e saiu de moto em meio aquele temporal violento. Seu corpo nem sentia as rajadas, já estava rígido de tensão ao relembrar a conversa que tivera com Taeyang e como a reproduziria para Ha Jin.

Taeyang se encontrava sozinho em seu escritório, atolado atrás de uma pilha de documentos importantes. Trabalhava incansavelmente para que a fusão com a empresa japonesa ocorresse da forma mais competente possível.

Ao ver Shin bater de leve na porta entreaberta e se aproximar, sentiu que havia uma estranha conexão entre os dois. Ele estava prestes a pegar o telefone para combinar de encontrá-lo em algum momento do dia, precisava lhe falar, mas agora o tinha ali, na sua frente:

— Você leu os meus pensamentos ou o que?

— Hum… Talvez tenha lido — Shin comentou com descontração. Precisava quebrar a ansiedade que carregava.

— Sente-se, por favor.

Shin não sabia o que irmão queria falar, contudo achou que protelar era o melhor jeito de perder a coragem e preferiu iniciar a conversa primeiro.

— Eu tenho uma coisa para te falar, Taeyang.

— Claro — Taeyang o estudou atentamente, contudo o telefone sobre a mesa do CEO começou a tocar e os interrompeu — Não precisa sair Shin, só um segundo.

Shin aguardou o irmão falar ao telefone. Gostaria de ser surdo naquele momento, mas pelo outro lado da linha escutava a secretária dele confirmando seis reuniões para o próximo fim de semana no Japão. Yun Mi precisaria ir junto, dominava o idioma e possuía maior familiaridade com alguns dos empresários do país, portanto ela já reservara a passagem para os irmãos.

Inconvenientemente, a secretária não conseguira desmarcar a reunião com um grupo de uma montadora inglesa que visitaria a Coreia do Sul naquele mesmo fim de semana e expressara uma imensa vontade de ter uma reunião com os Wang sobre a tecnologia do motor do carro Impacta.

Taeyang desligou o telefone um tanto desorientado pelas novas informações e sem saber como resolveria aquele impasse. Bem, na verdade, ele sabia… Queria falar com Shin justamente por causa disto, mas aguardou o irmão falar primeiro.

— Estamos atolados — Taeyang suspirou ajeitando a gravata. Estava cansado, mas satisfeito — Pode falar, Shin. Desliguei o telefone por um instante. Agora, sem interrupções.

— Vocês dois precisam ir ao Japão? Quem ficará com o grupo de ingleses?

— Não sei. Estava pensando em Jung, mas ele está tão focado nas suas lutas que acho que não posso contar com ele, digamos, cem por cento nisto. É um grupo muito minucioso e conservador, o desses ingleses.

— Entendo.

— Na Na disse que eu deveria te sobrecarregar menos também, e eu concordo. Vou pedir para a secretária cancelar esse encontro e, numa próxima oportunidade, vou até eles.

— Mas me pareceu importante…

— É, talvez — Taeyang respondeu vacilante — A verdade é que teremos um ano e tanto! Yoseob disse que os próximos doze meses serão cruciais para a Wang S.A. Estou animado… e um pouco assustado.

— Eu vou ajudar como puder — Shin se viu dizendo inadvertidamente. De repente, o herdeiro rebelde se sentiu envergonhado por estar indo pedir menos trabalho quando seus irmãos estavam se esforçando de verdade. Taeyang o olhou com um novo brilho no olhar, mas se conteve outra vez — O que há? O que queria falar comigo.

— Não é nada demais.

— Você é um péssimo mentiroso.

— É, sou mesmo — Taeyang confessou se esparramando na poltrona. Encarando o irmão firmemente, anunciou — Shin, quero tornar você o vice-diretor desta empresa. Quero que seja meu braço direito em tempo integral.

— Vice diretor? — Shin se espantou pelo convite. Até um segundo atrás ele era só o irmão responsável pelos detalhes da fábrica.

— Penso em colocar Jung na fábrica, afinal ele já mostrou essas preferências mesmo seguindo para o esporte. Francamente, preciso do meu irmão mais velho ao meu lado, aqui na sede.

“Você tem engajamento, fala inglês fluentemente, muito melhor do que eu, por sinal. Também tem desenvoltura para falar com as pessoas e a sua visão de mercado é excelente.

"Fora tudo isso, você entende de engenharia mecânica mesmo sem ter feito a faculdade e isso… isso é, no mínimo, assombroso! Eu conversei com Yun Mi, Yoseob e os demais e eles concordam. Que tal?"

Suas recordações angustiadas rapidamente o levaram para frente do apartamento de Ha Jin. Shin saiu ensopado da moto, desligou-a e subiu as escadas barulhentas de ferro em direção à porta dela. Um trovão estrondou bem atrás deles assim que o rapaz chegou ao patamar e ela o recebeu na soleira de casa, após o observar com desaprovação dirigindo debaixo do temporal.

— Sua intenção é sofrer um acidente grave ou só pegar uma pneumonia? — alfinetou-o liberando espaço para ele entrar no hall.

Shin tirou o capacete e encarou-a firmemente, tomando coragem, ao mesmo tempo ela fechava a porta outra vez. Uma poça d’água se formava ao seu redor. No teto da sala-quarto a lâmpada piscou duas vezes.

— Eu vim, não vim? Precisava chegar logo.

— Tudo bem — ela suspirou, resignada. Antes de qualquer conversa, era necessário tirá-lo daquelas roupas molhadas e aquecê-lo — Vou pegar uma toalha para você.

Ele barrou os passos da namorada a caminho do banheiro segurando-a firmemente pelo pulso. Ha Jin hesitou, fitou a mão que a envolvia, e subiu os olhos para o olhar dele. Um olhar que trazia péssimas notícias. Outro trovão estourou nas proximidades e, mais uma vez, a iluminação do local titubeou.

— Não posso ficar muito tempo…

— O quê?

— Eu… Ha Jin… Eu vou ter que voltar logo para casa, hoje. Tenho alguns relatórios importantes para revisar. Depois de amanhã Taeyang vai viajar e eu estou encarregado de receb…

— O que você está me dizendo? — ela não conseguia acreditar, também estava longe de ser paciente pela enésima vez — Não falou com ele? NÃO FALOU?

Shin respirou fundo procurando se acalmar para que suas palavras – suas desculpas – saíssem de seus lábios do modo mais compreensível possível. De modo que fizesse Ha Jin entender por que ele fora um covarde.

— Você não falou com Taeyang…

— É complicado. A empresa vai passar por alguns meses intensos e, com a saída de Gun para os Estados Unidos, eu serei o vice…

— Você prometeu! — ela exclamou chocada.

— Você precisa ter paciência, por favor. Nós podemos marcar nossos encontros durante a semana por enquanto. Eu tenho um dia na semana que não trabalho até o último horário.

— Mas eu não tenho — lágrimas raivosas queriam saltar dos olhos de Ha Jin — Eu trabalho e estudo até bem tarde, esqueceu?

— Sim, mas…

— Eu não acredito — ela se desvencilhou dele. Shin avançou desnorteado para a garota e a tocou no ombro sendo sumariamente repelido.

— Ha Jin, por favor. Vamos ser razoáveis. Eu quero estar com você. Eu amo você, droga, mas não posso dar as costas para tudo nesse momento.

— Você não mudou nada — ela voltou a focá-lo. As lágrimas já rolavam pelas bochechas e lembranças aterradoras afogavam sua mente: Quando Hae Soo implorou para So esquecer a disputa pelo trono e ele escolheu Goryeo, escolheu separá-los pouco a pouco — Todo esse tempo e eu acreditando que nós estávamos tendo uma nova chance. Que eu poderia ser perdoada e que você… Você finalmente deixaria o poder de lado por nós dois. Você ainda é o mesmo. Nunca estive tão enganada!

Shin estava se sentindo desmoronar por dentro. Ver Ha Jin sofrendo assim e saber que era ele o culpado o perturbava. A cabeça latejou de dor, as acusações dela, incessantes, embora parecessem desconexas, reverberavam como um sonho ruim prestes a ser repetido dentro dele.

Mas se ela soubesse como ele se esforçou para não desapontá-la todas as vezes. Como ele quase sofreu inúmeros acidentes para chegar em tempo de vê-la. Como ele aceitou trabalho pesado para que, no dia seguinte, pudesse ter ao menos uma horinha do dia com ela. Como ele quase levou uma dinastia em guerra, porque amou uma concubina.

Não era justo.

— Não é justo — ele externou seu pensamento, cortando-a — Eu estou dando meu máximo e peço apenas mais um pouco da sua paciência e você não pode me dar?

Ha Jin o encarou tristemente e respondeu:

— Não tenho mais esse tempo — Esperei séculos para que nós dois nos reencontrássemos, nos amássemos, e agora terei que aguardar você comandar todas as coisas importantes ao seu redor para, um dia, ter um pouquinho da sua atenção?

— Você está indo embora para algum lugar? — ele ironizou, irritado.

Ela olhou por cima dos ombros, na direção do guarda-roupa, onde, do lado do móvel duas malas grandes repousavam. Shin seguiu seu olhar e viu os mesmos objetos.

— Eu tentei te falar uma dezena de vezes. Você estava sempre correndo para algum lugar ou dormindo de exaustão ao meu lado, então não consegui pedir sua opinião, mas eu já decidi. Sun Hee quer que eu passe três anos na Inglaterra trabalhando na divulgação de um novo produto da ISOI, um produto que eu ajudei a desenvolver…

— O-o que?

— Não tenho mais o que decidir.

— E você vai?

— Eu vou.

Shin a observou intensamente. Orgulho e amor se atracavam dentro da alma deles. Eram novamente So e Hae Soo tomando impressões equivocadas e medindo o quanto cada um aguentaria e bancaria viver sem o outro devido às suas decisões individualistas.

Por fim, o orgulho venceu dentro de Wang Shin, outra vez, e ele lamentou:

— Então só posso desejar que você faça uma boa viagem — respondeu friamente, se esforçando para não fraquejar perante o olhar decepcionado de Go Ha Jin.

— Obrigada, Wang Shin.

Um trovão descomunal cobriu todo o bairro. A lâmpada finalmente se entregou à instabilidade do tempo e se apagou colocando os dois na escuridão.

Shin tateou atrás de si, abrindo a porta principal e partindo dali. Ha Jin acompanhou sua silhueta desaparecer na chuva, parada no mesmo lugar, no escuro, digerindo aquela verdade. Eles terminaram.

***

Embora estivesse com a cabeça muito longe dali, Shin desempenhou bem seu papel com os empresários ingleses e angariou novas alianças para a Wang S.A naquele final de semana. Na segunda-feira, Taeyang e Yun Mi retornaram do Japão munidos de notícias boas também. O trabalho aumentava, todos estavam felizes por isso, mas a tristeza que invadia o coração de Shin era maior.

— Vai ver o eclipse onde? — Taeyang perguntou a Yun Mi ao fim da reunião da manhã, no transcorrer de recolher os papéis.

— Eu vou me encontrar com Jin In — a moça respondeu levemente acanhada — Provavelmente no terraço da empresa dos Choi. E você?

— Acho que da janela do meu escritório mesmo.

— Na Na não virá para cá hoje?

— Ela vai se encontrar com Ha Jin na… — Taeyang se freou. Cauteloso, espiou Shin sentado no outro extremo da mesa, cabisbaixo, encarando as mãos. Esse grande segredo rondava o irmão e Taeyang somente conhecia os fatos porque Na Na comentara pedindo discrição. Ha Jin partiria àquela tarde para a Europa a trabalho. Partiria sem alardes, festas de despedidas ou datas para retorno, e o fato de ter rompido o namoro com Shin contribuía e muito para essa atitude — E você Shin, passará o eclipse onde? — ele desconversou Yun Mi, que percebeu haver algo estranho no ar.

— Como? — o herdeiro rebelde ergueu a cabeça, distante.

— O eclipse. Daqui a uma hora. Vai acompanhar?

— Não sei — ele levantou-se abruptamente e colocou sua pasta debaixo do braço — Vou ao banheiro.

Tendo consciência que os irmãos cochichavam sobre ele ao sair, Shin tomou os corredores da empresa e trancou-se no banheiro próximo ao seu escritório. Depositou a pasta com relatórios importantes de qualquer jeito ao lado da pia e ligou a torneira.

Fazendo uma concha com as duas mãos, a água fria lhe foi bem-vinda no rosto. Repetiu o gesto várias vezes. Em seguida, respirou fundo e se encarou, o rosto pingando no espelho.

Continuava a não entender por que sua relação com Ha Jin havia terminado. Ela era a primeira mulher que ele amara na vida… A coisa mais importante pela qual se dedicara. Com Go Ha Jin, Wang Shin era mais feliz e mais sorridente. Qual o sentido de largar tudo aquilo por que precisava ser vice-diretor de um patrimônio que causara tanto mal à sua família?

Afobado, Shin enxugou o rosto e as mãos em um papel toalha e tateou nos bolsos de seu terno em busca do envelope que sempre carregava consigo. A carta de Hansol, amassada pelo manuseio excessivo, surgiu de seu esconderijo na roupa do filho.

Shin encostou-se na parede e começou a ler a carta do pai, mais uma vez, as palavras que inicialmente não faziam tanto sentido agora pareciam providenciais…

Meu filho mais precioso,

Aqui é o seu pai, seu terrível pai.

Será que um dia será capaz de, realmente, me perdoar? Talvez seja pedir demais aos céus, mas eu torço para que, quando esteja em meu leito de morte, possa escutar e ver em seus olhos seu perdão sincero…

Pegando o celular, o Wang ligou para Ha Jin, mas o celular da garota estava na caixa postal. Se lembrando da conversa entre Taeyang e Yun Mi na sala de reuniões, ligou para Na Na.

A cunhada informou a um ansioso Wang Shin que Ha Jin acabara de partir em um táxi em direção ao aeroporto, mas que seu voo ainda demoraria um tempo para decolar.

Nossa história começa a trinta e um anos, quando eu me apaixonei por sua mãe e nós cometemos essa pequena loucura. Fiquei feliz e desnorteado quando soube que seria pai.

O dia em que soube da gravidez de Hin Hee foi, de longe, o dia mais feliz da minha vida. Eu já tinha Sook, amava meu primeiro filho, mas tudo que vinha de Hin Hee era diferente. Brilhava mais.

Havia uma chance.

Shin saiu do banheiro afobado, cruzou todo o prédio em passos largos e chegou até o escritório de Taeyang. O irmão não estava lá. Retornando para o corredor principal, perguntou à secretária pessoal do presidente onde poderia encontrar o irmão. Ela o informou que Taeyang descera para o refeitório para comer algo.

Não quero me enveredar pelas terríveis decisões do meu jovem eu, elas todas você já sabe. Também não gastarei palavras dizendo o quanto me envergonho delas ou me desculpando por cada ato bárbaro que o submeti em nome de minha covardia. Espero ter feito tudo isso frente a frente, em vida.

Ofegante, depois de ter percorrido metade do edifício em busca do irmão, Shin finalmente encontrou Taeyang sentado sozinho no refeitório principal, na companhia de uma xícara de chá e do seu celular.

Ele se sentou diante do mais novo, o surpreendendo. Antes que Taeyang tivesse tempo de falar, Shin foi direto ao ponto:

— Taeyang, eu agradeço toda a confiança que está depositando em mim, mas não poderei ser o vice-diretor. Nomeie Yun Mi, ela é muito melhor do que eu nisso tudo.

— Shin… O que há?

— Eu sei que vocês ficarão bem sem mim. Tenho certeza disso. Meu irmão, sinto muito, mas não posso assumir essa responsabilidade. Não quero mais trabalhar assim. No fundo, não faço parte de nada disso. Esse não sou eu. Não sou, entende?

— Entendo — Taeyang balançou a cabeça em concordância, se sentindo feliz pela sinceridade de Shin — Vá atrás dela de uma vez.

— Eu vou — respondeu sorrindo esperançoso, se despedindo do irmão e voltando para a sua correria.

Já que cabe aos mais velhos dar conselhos, de acordo com suas experiências de vidas e suas pancadas teimosos, darei os meus.

Nunca deixe de ser esse espírito livre. De todas as coisas que eu já admirei em você, esse seu modo intenso de viver, de deixar de lado o que não lhe importava ou agregava, era o que eu mais amava. Me lembra um Wang Hansol do passado, um sonhador apenas, que queria ser justamente assim, mas nunca conseguiu abrir mão do material.

Embora ele estivesse pilotando sua moto, o congestionamento na cidade não facilitava o trajeto que Shin precisava percorrer.

As ruas quentes com seus termômetros marcando mais de trinta graus Celsius estavam abarrotadas de veículos menores e coletivos, toda a Busan em polvorosa pelo eclipse que ocorreria dali a alguns minutos e querendo estar no melhor local possível para apreciar o raro fenômeno meteorológico.

O dinheiro me moveu durante toda a minha vida. Ele e o poder.

Eu não me arrependo de ter conhecido as mães dos seus irmãos, porque todos eles são almas preciosas na minha vida, mas se pudesse voltar no tempo, não sei se escolheria toda essa ambição…

Eu seria um homem muito feliz mesmo deserdado pelo seu avô, mas ao lado da única mulher que amei na vida. O dinheiro em excesso não importa ou muda nossa condição de espírito. Ou melhor, ele apodrece o espírito.

Todos os caminhos que ele escolhia para criar atalhos por aquela cidade caótica davam em vias congestionadas. O aeroporto ficava no outro extremo do edifício da Wang S.A. e se tornava ainda mais dispendioso em meio àquele tumulto.

Era como se o universo o estivesse punindo por ter tomado a decisão errada dois três dias atrás; se recompensando por vê-lo romper aquela ligação tão pura entre ele e Ha Jin.

Em algum momento você pode precisar das minhas palavras, meu querido, portanto elas estão aqui: Viva com amor e por amor.

A vida é efêmera. É tudo curto e em vão. Por isso, esteja pronto para as pessoas que te importam e seja sempre um ombro amigo para eles. Uma palavra carinhosa no lugar de uma frase desanimadora. Uma luz quente no lugar de uma escuridão desoladora. E faça o que seu coração manda, ele nunca te engana.

No céu, o sol quente de verão preparava-se para partir brevemente. A lua cruzaria o astro-rei e o ocultaria atrás de si recebendo sua quentura de um lado ao passo que inundaria o mundo dos homens numa escuridão misteriosa, do outro.

Os motoristas conformados que passariam o eclipse na rua começavam a parar os carros em plena via e a desligarem os motores para avistar o céu.

Continue ajudando seu irmãos com seu poder incrível de uni-los, mas esteja pronto para receber ajuda deles também. Cuide de sua mãe como nunca pude ou tive o direito de cuidar. Ame-a como um filho zeloso, retribuindo todos esses anos em que ela apenas conseguiu amá-lo de longe.

E, claro, ao encontrar alguém que valha a pena, que o faça completo, como Hin Hee me fez naquele curto período de tempo em que fomos um só, não despreze essa alma. Não despreze o que é bom em detrimento do que seria o correto ou o menos arriscado.

Não importa quem ela seja, de onde venha ou que recursos tenha… Não importa, porque essa será a coisa mais maravilhosa que irá lhe acontecer quando esse momento chegar.

Shin ficou irritado com a lentidão do trânsito. Já bem próximo do aeroporto, podia avistar aviões dando rasantes em direção à pista de pouso, mas, mesmo assim, pelo fato de muitos veículos terem parado para ver o céu e aquele estúpido eclipse, precisou cortar pelas calçadas, desviar de pedestres e quase atropelar algumas pessoas, tamanha era a sua afobação.

Você é meu filho preferido, mesmo sendo um sacrilégio para um pai dizer isso quando todos os filhos lhe são amados e importantes, mas você o é, porque veio como fruto de um amor genuíno e por ser tão diferente de mim.

Um segredo? Eu sempre quis ter um pouquinho de você, do seu desprendimento para as coisas tolas da vida. No fim, acho que você puxou à sua mãe. Ainda bem.

Seu pai que te amou demais, Hansol.

A lua iniciou seu espetáculo, e era curioso como esconder a luz de um mundo pudesse ser algo tão grandioso.

Em um planeta chamado Terra, bilhões de olhares se voltavam para o firmamento, mas alguns seres humanos como Wang Shin continuavam empenhados em missões mais importantes.

Satélite e astro cruzaram o mesmo ponto na órbita terrestre, se beijando delicadamente naquele balé universal.

Sook mostrava o eclipse para sua filha e teve um vislumbre com outra menina, também sua filha, em outra época onde ele parecia louco e transtornado, chorando porque não queria ser forçada a se casar aos oito anos.

Gun, nos Estados Unidos, acordara nervoso e suado de um pesadelo horroroso. Nele, ele era um rei implacável que cometia fratricídios em nome de poder.

Taeyang observava solitariamente o céu de seu escritório e experimentava a aterradora sensação de que, em algum momento, sua alma traíra seus princípios o transformando em um covarde perverso.

Yun Mi, abraçada a Jin In e perscrutando o céu do terraço da empresa dos Choi, sentiu que amor e soberania não andavam juntos, que vivia uma vida inteira de rainha, mas terminava todas as noites solitária, numa imensa cama de dossel, em seu palácio.

Eujin, na Itália, deixava cair sua pasta cheia de partituras e se sentia zonzo a caminho da sala de aula, sentindo uma dor aguda no peito ao ver a mulher que amava suicidar-se em sua mente.

Jung aconchegava-se nos braços de Mi Ok, ela falando empolgada ao seu lado e apontando para o céu, ele angustiado, porque não conseguira honrar sua promessa até o fim em uma outra era.

Sun espiava o sol sumir na companhia de seus amigos, na faculdade, e, no mesmo momento, pontadas lancinantes pelo corpo, como flechadas, não pareciam tão ruins quanto ver uma chance de ser feliz se extinguir por pura infantilidade.

E quanto a Shin… Ele desviava de uma mulher que surgia com duas crianças no meio-fio da avenida, a poucos metros da entrada do aeroporto, e, descontrolando-se na direção contrária, colidiu em cheio com um caminhão.

...

Ha Jin tentou não dar importância para a sensação ruim que abatia seus instintos. Ela estava com vontade de chorar, contudo resistiria. Seu voo esperava apenas o fim do eclipse e em breve ela se despediria da Coreia.

As pessoas ficavam coladas aos vidros do aeroporto, acompanhando o espetáculo do eclipse, entusiasmadas. Ela não queria ver nada daquilo. Eclipses somente lhe trouxeram infelicidade e desapontamentos.

Ao fim do fenômeno, os passageiros foram chamados para se organizarem em fila diante das portas do embarque. A jovem, tremendo e não sabendo o porquê, tateou seu celular dentro da bolsa para conferir as horas.

Descarregado, como desconfiava.

Melhor assim, a nova Go Ha Jin, a que aprenderia a viver sem Wang So ou Wang Shin, não tinha motivos para criar expectativas esperando que o ex-namorado lhe ligasse impedindo-a de partir. Portanto, muniu-se de todas as suas certezas e, minutos depois, depois de ver-se bem ao fim daquele eclipse, decolou da Coreia do Sul rumo a um novo destino.



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