14 - EPIGRAMA N° 3
Harry POV
Eu estava terminando de tomar café da manhã, pensando em ir cedo para a casa de Draco tentar fazer ele dar um volta quando um estalo foi ouvido no meio da sala, e me levantei apressado, seguindo em direção a mesma ao reconhecer o tipo de barulho.
— Tink? — Questionei ao vê-lo parado ali, e ele soltou o ar aliviado ao me ver.
— Senhor Potter! Por favor, não vá até a Mansão hoje! Senhor Lucius está lá — Contou e eu percebi que o cachorro tinha sido trazido por ele, e agora estava correndo, provavelmente para ir para a minha cama.
— Está tudo bem? — Questionei quando ele deixou a caixa com as coisas do animal no chão, e o celular de Draco sobre a mesa.
— Ele não está de bom humor, senhor. Ainda bem que as coisas do animal estavam todas no quarto. Consegui pegar tudo antes que ele viesse. Por favor, aguarde meu contato para aparecer. Até mais.
Ele desaparatou logo em seguida e eu suspirei, voltando para a cozinha para terminar de comer, agora bem menos animado.
Por várias razões.
Todas as vezes que Lucius ia até Draco, ele tinha crises terríveis. E sempre acabava se ferindo de forma muito profunda.
Demoravam dias para que ele voltasse a comer e falar normalmente, e eu simplesmente odiava Lucius Malfoy por isso.
Odiava todo o poder que ele tinha sobre a vida e as decisões de Draco. Odiava o que quer que ele fizesse, pois embora eu não soubesse ao certo como era o relacionamento dos dois, sabia que era muito tóxico na vida do loiro.
Me questionava como a família tinha coragem de fazer isso com um filho. O adoecer de tal maneira que o incapacitava, o fazia se sentir tão terrível e insuficiente a ponto de tirar a paz e a saúde mental dele.
Eu costumava pensar que Draco deveria ser um garoto mimado pelos pais, muito próximo a Lucius, mas jamais imaginei como isso estava errado.
Lucius havia tentado transformar o filho em um fantoche que pudesse manipular para se realizar. Agora, parando para pensar, me questionei sobre quantas coisas Draco teria feito por causa do pai. Quantas teria deixado de lado, quantos sonhos abandonados...?
Suspirei, perdendo a vontade de comer e dei uma breve ajeitada na bagunça da cozinha.
Era um pouco difícil eu apelar para usar magia, porque tinha o costume de fazer eu mesmo a maioria das tarefas. Provavelmente um costume desenvolvido por causa dos meus tios, mas ainda assim eu gostava de organizar a minha casa.
Como morava sozinho, nunca deixava ficar caótico e desorganizado demais, preferindo tentar manter um pouco de ordem.
Assim que terminei, segui para o quarto em busca do cachorro, que como eu previa estava dormindo no meio da minha cama.
Apenas pude rir, ele era um cão mal acostumado porque Draco o deixava fazer o que quisesse.
Segui para a sala, tirando as coisas dele de dentro da caixa, já deixando água limpa e comida para ele, e guardei o restante no armário.
Assim que acabei, me vi sem absolutamente nada para fazer, e apenas pude suspirar ao me jogar na sala, ligando a TV.
Fiquei um bom tempo ali, sentado no sofá olhando sem ver, passando os canais em busca de algo que prendesse minha atenção, porque não conseguia parar de pensar no que estava acontecendo com os Malfoy.
Me perguntava como Draco estaria, se estava enfrentando uma crise, se... se tinha qualquer coisa que precisasse naquele instante.
Me questionava se ele estava se ferindo, e se aqueles pensamentos ruins estavam na mente dele, fazendo-o se sentir pequeno e impotente.
Durante todo o dia, tudo o que consegui fazer foi me preocupar e pensar em Draco Malfoy, e isso tudo estava me deixando cada vez mais ansioso.
Me fez perder completamente a vontade de fazer qualquer coisa, e eu acabei sem vontade alguma de cozinhar, e pedi comida em um restaurante muito bom da esquina.
Comi, ainda me afogando em pensamentos, percebendo que não conseguia desligar por nem um instante daquilo tudo.
Olhar para o cachorro de Draco também não estava ajudando, porque o animal parecia muito inqueito por sentir falta do Dono, e isso fazia ele querer destruir a minha casa.
Se não estivesse tão frio eu poderia ir passear com ele, mas a temperatura estava caindo cada vez mais.
Decidi por fim que iria fazer um chá para tentar acalmar minha aflição, pensando que ficar nervoso atoa não resolveria.
Eu precisava manter a calma e estar com a mente tranquila para ajudar Draco quando Lucius fosse embora.
Estava seguindo para a sala novamente quando Tink aparatou no meio do comodo, e o susto me fez derrubar a xícara que estava em minhas mãos.
— Senhor Harry! Onde ele esta?
— O que? — Questionei confuso, e ele gesticulou nervosamente.
— Draco! Draco não está aqui?
— Do que está falando, Tink? Ele não estava na mansão? Com Lucius?
— Não, senhor! Houve uma discussão terrível!
— Discussão?
— Senhor Lucius marcou um noivado para Draco. Senhor Draco disse que não vai casar. Senhor Lucius o feriu, arrastou ele e o atirou na rua... Tink achou que ele fosse vir aqui!
— Porque não me avisou antes?
— Senhor Lucius ordenou que Tink fosse para a Mansão Malfoy com ele. Só agora é que Tink pode ter uma pausa para descanso, senhor.
— Merlin — Bradei abismado, indo em busca dos sapatos e da varinha, e aproveitei para vestir dois casacos.
Fechei tudo, torcendo para que o cachorro não destruísse nada e aparatei junto com Tink na frente da mansão, e meu sangue gelou, não apenas pelo frio, mas também por ver manchas de sangue no chão.
— São de Draco, senhor.
— Ele está muito machucado?
— Não foram ferimentos profundos. Alguns socos — Confessou com aflição e pesar.
Mas isso não era o alarmante.
Se Draco estivesse na rua... Diferente de onde eu morava, ali estava começando a nevar.
— Tudo bem... Vamos começar pelo parque — Sugeri, tendo um forte pressentimento sobre o local, e o elfo assentiu.
— Tink não pode demorar, senhor. Se Lucius desconfiar...
— Você consegue entrar dentro da mansão, não é? — Questionei e ele assentiu — Então reúna o máximo de pertences de Draco e leve para meu apartamento. Eu vou checar o parque.
Ele assentiu, aparatando logo em seguida e eu fiz o mesmo, chegando na entrada do parque, que agora tinha os portões fechados.
Abri o cadeado, passando para dentro, olhando atento ao redor.
Não era de grande ajuda que tivessem muitos arbustos, e eu tivesse que me aproximar para ver se não eram um Draco encolhido ou qualquer coisa do gênero. Eu não conseguia pensar em lugar nenhum que ele pudesse estar...
A não ser a boate.
Se não o encontrasse aqui, o próximo local seria aquela Droga de boate, e eu só conseguia me sentir mais ansioso para encontra-lo logo.
Eu estava quase desistindo do parque quando me lembrei do lugar onde havíamos encontrado o cachorro dele, e resolvi que tinha alguma possíbilidalde.
O meu coração pareceu voltar a bater quando eu avistei algo que não poderia ser um arbusto, e apressei o passo, me sentindo aliviado ao ver que aquilo ali era realmente Draco.
Me atirei no chão, tocando seu rosto, que estava muito pálido e extremamente gelado.
Ele vestia apenas uma camisa de mangas e uma calça muito fina, e seus lábios estavam começando a ficar roxos, assim como as bochechas estavam extremamente vermelhas pelo frio.
— Draco? — Chamei mas ele parecia sem reação, sentado daquele jeito com expressão fantasmagórica, olhando para o nada.
Apressado, removi meu casaco, passando ao redor de seu corpo, erguendo o rosto dele para olhar, e percebi que ele murmurava algo baixinho.
‘Hoje não, hoje não...’
Apenas pude ajeitar o casaco sobre o corpo frágil, passando meus braços ao redor dele e o fiz se levantar, notando como ele estava tremendo.
— Draco! — Exclamei mais alto para chamar a atenção dele, e ele ergueu os olhos para mim, e eu via como tinham lágrimas ali querendo escapar.
— Harry — Sua voz saiu muito baixa e fraca, e eu apenas pude suspirar e abraçar ele contra mim, querendo passar um pouco de calor.
— Está tudo bem agora — Garanti com calma, notando como ele parecia um boneco, se deixando levar.
Fiz ele encostar a cabeça no meu ombro e o cerquei com os braços, apertando ele contra mim, ainda sentindo aquela onda de preocupação.
— Draco, vamos aparatar, tudo bem? — Questionei e ele assentiu, enquanto eu me percebia muito aflito com a apatia dele.
Tão logo aparatamos na minha casa, eu não demorei para empurrar ele em direção ao banheiro, ligando o chuveiro em uma temperatura quente, fazendo tudo com muita pressa.
Me virei para ele, agora na claridade conseguindo ver que sua boca estava machucada, e com um feitiço tratei a pequena ferida.
— Consegue me ouvir? — Questionei e ele apenas assentiu, me fazendo ficar aliviado, porque o meu maior medo era que aquilo fosse uma hipotermia — Entre debaixo da água. Eu vou buscar uma roupa quente para você, tudo bem?
Ele assentiu, e eu me senti mais tranquilo, fechando a porta e segui para o quarto, separando meus agasalhos mais confortáveis, reunindo duas opções para ver qual serviria melhor e peguei duas toalhas, voltando para o banheiro.
— Draco, vou deixar as roupas aqui em cima, tudo bem? — Questionei abrindo apenas uma fresta, sentindo o vapor quente sair de dentro do comodo.
— Sim — Respondeu apenas e eu coloquei as roupas sobre o cesto, tentando não abrir muito a porta para não entrar uma corrente de ar, e estava indo na direção da cozinha começar a preparar algo quente para ele, quando Tink apareceu carregando algumas malas.
— Pode deixar ai, depois me preocupo — Indiquei um canto qualquer da sala, e o elfo assentiu, e veio até mim — Ele estava no parque. Acho que tem sinais de inicio de hipotermia.
— Tink ainda tem algum tempo antes de voltar para a mansão. Uma refeição quente pode ajudar, senhor — Falou e eu assenti, achando que era uma ótima ideia — Tink pode preparar. Vá.
Concordei novamente, indo apressado para o quarto de hóspedes, garantindo que as janelas estavam fechadas e peguei dois cobertores grossos, ajeitando a cama para ele, aproveitando para usar um feitiço para deixar a temperatura do quarto mais quente.
Embora estivesse frio, toda essa minha agitação e pressa estava me fazendo sentir um pouco de calor.
Tão logo ouvi o barulho da porta do banheiro se abrindo, segui até lá vendo Draco saindo um tanto perdido, ficando surpreso quando apareci atrás dele, envolvendo-o em um cobertor.
— Vem, por aqui — Guiei ele em direção ao quarto, fazendo ele deitar e o cobri com outro cobertor — Como você está? — Questionei secando os cabelos dele com um feitiço, não querendo correr risco dele ficar doente após todo o frio que tinha enfrentado.
Agora o rosto dele não estava tão pálido, e os lábios não estavam roxos, e isso me fez ficar um pouco aliviado.
— Draco? Como está? Está se sentindo bem? Tink me falou que se feriu, onde mais se machucou? Draco?!
— Harry, respira — Pediu por fim, e só então eu percebi que mal o estava fazendo, e puxei o ar, sentindo um pouco de calma me enxer.
— Merlin, Draco — Suspirei me ajoelhando no chão ao lado da cama.
— Eu estou com o pensamento um pouco... lento — Falou franzindo o cenho e eu assenti.
— É normal por causa do frio. Você estava com sinais de hipotermia. Agora... onde sente dor? Tem alguma ferida aberta?
— Não. Foram apenas socos — Murmurou dando de ombros e eu assenti.
Segui para o meu próprio quarto, pegando um frasco de poção para a dor e entreguei para ele, que a bebeu sem questionar.
Parecendo finalmente sentir o próprio dono, o cachorro dele entrou para o quarto, subindo na cama, e isso fez Draco dar um pequeno sorriso.
Apenas pude me sentir em paz ao ver Draco puxar a coberta para cima, e o cão entrar ali junto com ele, se aninhando um no outro, me fazendo sorrir enquanto ajudava Draco a arrumar o cobertor ao redor deles.
— Senhor Potter, a sopa está pronta. Agora Tink deve voltar para a mansão.
— Obrigado — Eu e Draco falamos em uníssono e o elfo sorriu antes de aparatar.
— Eu já venho — Falei seguindo para a cozinha e tive que procurar uma bandeja, que eu nem lembrava onde guardava, e por fim consegui pegar a sopa para Draco, seguindo para o quarto.
Ajudei ele a se ajeitar para comer, e aapenas revirei os olhos ao perceber que com apenas uma ordem de Draco o cachorro nem tentou atrapalhar.
Hoje mais cedo eu quase tive que me trancar no quarto para comer em paz!
— Eu vou tomar banho. Coma tudo — Falei e ele apenas assentiu, não contestando e eu segui para meu quarto, pegando roupas quentes.
Tomei um banho rápido, ainda sentindo certa preocupação com o loiro no quarto ao lado, e me vesti rapidamente, me sentindo mais leve após a agua quente me acalmar.
Passei pela cozinha para beber água, agradecendo mentalmente por Tink ter se livrado da xícara que eu tinha quebrado mais cedo e ter organizando tudo após usar. Peguei as malas de Draco, levando para o quarto onde ele estava instalado e as deixei em um canto.
Nesse espaço de tempo ele tinha terminado de comer, então levei tudo para a cozinha, apagando todas as luzes da casa, que na pressa e desespero eu tinha deixado acessas e fui para o quarto de hospedes.
— Mais calmo? — Ele questionou e eu ri sem humor ao assentir — Me desculpe por tudo isso.
— O que importa é que está bem. Agora... só esqueça isso. Deve estar cansado. Pode dormir.
— Tink te contou o motivo?
— Você não precisa falar disso se não quiser, Draco. De verdade.
— Ele contou? — Insistiu fingindo não ouvir e eu suspirei,mas assenti.
— Ele disse algo sobre casamento.
— Meu pai escolheu uma noiva. Marcou uma data para que fazer o pedido. Ela é uma Grengrass.
— Você quer se casar com ela?
— Eu nem a conheço. Vi uma ou duas vezes — Falou franzindo o cenho — Eu... não sei o que deu em mim para dizer que não ia fazer isso. Eu nunca tinha contestado meu pai antes.
— Se você não quer se casar, não se case Draco. Uma casamento é algo grande demais para você aceitar só porque seu pai mandou.
— Eu sei. Ele disse que tenho um mês para melhorar e voltar a fazer magia. Quer que eu a peça em casamento logo. Eu não sei o que deu em mim para ir contra ele... mas eu fiquei realmente satisfeito com isso. Antes dele me bater, é claro.
— Ele tem costume de te agredir?
— Só quando fica muito nervoso. É bem difícil, na realidade. Eu costumo fazer de tudo para evitar que ele se irrite.
— Draco, você é um adulto. Tem direito de decidir sobre sua própria vida. Sua profissão, seu casamento, onde quer viver... Isso deve depender de você e das suas escolhas.
— Foi o que eu disse a ele. Acho que estou passando tempo demais com você — Resmungou rindo sem humor e eu suspirei — Ele disse que a partir do momento em que eu resolver decidir as coisas sozinho, devo parar de contar com ele. Por contar com ele, acho que ele quis dizer contar com o dinheiro da família — Ponderou — Foi por isso que me jogou na rua.
— Você quer se casar? — Questionei seriamente, olhando-o nos olhos e ele negou.
— Não! É absurdo.
— Então está decidido.
— O que?
— Você vai morar aqui — Dei de ombros, vendo ele arregalar os olhos.
— Da onde tirou isso, Potter?
— Draco, ficar trancado naquela mansão afastado de tudo e de todos não te ajudou e nunca te ajudaria. Você precisa ter um tempo para você, se preocupar com você e aprender sobre você. Então a partir de hoje você vai morar aqui. Você agora está no controle da sua vida. Ninguém vai te dizer o que fazer, e ninguém vai te obrigar a fazer algo que não queira.
— Mas... eu não posso simplesmente...
— Draco, está tudo bem — Insisti — Eu não me importo. Eu estou sempre dizendo que quero te ajudar, e não é mentira. Fique aqui. Mesmo que por um tempo, até você ficar bem. Aqui você pode ter paz, pode estar com seu cachorro, pode sair quando quiser, pode decididr sobre sua vida. Daqui alguns dias começa um novo ano. Faça um novo ano realmente começar diferente.
— Harry....
— Você nunca vai se curar se continuar no lugar que te adoeceu, Draco. Nunca vai ficar bem se continuar se sujeitando a isso. Eu sei que ele é seu pai. Sei que é sua família. Mas... as vezes precisamos perceber quando nos retirar. Você não é obrigado a ser ferido só porque tem o mesmo sangue.
— Eu já acho demais você se obrigar a ir o tempo todo ver se estou bem. Mas isso...
— Vai me poupar a viagem — Brinquei, mas ele não sorriu, apenas continuou sério.
— Harry, você não pode tomar uma decisão assim, sem....
— Sabe de uma coisa? Eu nunca fui bom em pensar em decisões. Eu tenho certeza sobre isso, Draco. Fique por um tempo. Tenha um pouco de paz. Você precisa ter seu espaço, precisa se libertar. Se você não gostar, depois pensaremos em outra solução, tudo bem?
Ele assentiu, esnroscando os dedos no cachorro quase adormecido, parecendo evitar olhar para mim.
— Obrigado — Murmurou baixinho e eu sorri.
Tudo finalmente começaria a mudar na vida dele, e eu iria garantir isso pessoalmente.
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