História Moonlight Sonata - 2. Motivo da rosa

15 –2° Motivo da Rosa

Harry POV

Eu havia pego no sono sentado desconfortavelmente na poltrona dentro do quarto de hóspedes, e sabia que um pouco tinha sido de propósito.

Eu estava receoso que por alguma razão Draco fosse assombrado por uma crise após aquele dia complicado, então tinha decidido estar ali caso fosse necessário.

A certo ponto da madrugada eu havia acordado com o movimento de Draco na cama, mas tinha permanecido de olhos fechados, decidido a intervir apenas se ele precisasse de algo, afinal eu estava muito sonolento.

— Potter burro idiota — Ouvi ele resmungar, e quase franzi o cenho, porque não via razão para ele ter acordado para me ofender, mas no instante seguinte senti ele colocar um cobertor sobre mim, e percebi que eu estava morrendo de frio.

Ele ajeitou um dos três cobertores que eu tinha dado a ele, me cobrindo com atenção e voltou para a cama.

Espiei com o canto do olho ele se deitando encolhido junto ao cachorrinho negro adormecido, e sorri comigo mesmo ao me aconchegar no cobertor que cheirava a Draco e voltar a cair no sono.

Quando voltei a acordar já havia amanhecido, e eu bocejei ao me erguer, rindo quando o cachorro pulou agitado, acordando com o meu movimento e passou por cima de Draco para ir para o chão, correndo, provavelmente em direção a sua vasilha esperando pelo café.

Segui o animal, servindo ele, que ficou por lá comendo e voltei para ver Draco, que tinha uma expressão desgostosa, provavelmente por ter sido pisoteado.

— Como você está?

— Como eu posso saber? Eu nem acordei ainda — Resmungou me fazendo rir.

— Então acorde logo que nós vamos sair.

— Sair? Você bateu com a cabeça? Porque quer sair?

— Pare de reclamar a vá se arrumar.

Deixei ele indignado no quarto e segui para o meu próprio, me alongando por ter dormido todo torto na poltrona e ri quando todos os ossos estalaram dolorosamente.

Decidi tomar um banho para ajudar a letargia passar, e o fiz rapidamente, vestindo roupas quentes após verificar que continuava frio, embora não tanto quanto ontem.

Eu ainda tive que esperar por alguns minutos até Draco aparecer vestido, embora com uma terrivel expressão de mau humor.

— Porque você quer sair?

— Eu vou te mostrar seu novo bairro. E vamos aproveitar para levar o seu cachorro sem nome para tomar as vacinas.

Ele assentiu e foi atrás do cachorro, colocando a coleira nele, e seguimos para fora do apartamento com ele ainda com aquela expressão terrível de mau humor, que era muito engraçada.

— Vamos primeiro no veterinário que tem no próximo quarteirão. Deixamos ele para tomar vacina e vamos tomar café da manhã — Expliquei e novamente ele assentiu, e eu percebi que Draco pela manha provavelmente não gostava de conversa.

Seguimos em silêncio, enquanto eu apenas me permitia falar quando via algum comércio que ele deveria saber para o que servia, como lanchonetes e alguns mecados por ali.

Fiz questão de dar a volta pela parte de trás do quarteirão para não passarmos na boate que ele costumava frequentar, e finalmente chegamos até o veterinário.

Draco se colocou a frente, pegando o cachorro nos braços e foi até o atendente falar com ele, e eu me permiti caminhar pela loja, sendo atraído por alguns modelos de cama para cachorro, vendo que provavelmente logo precisaríamos comprar uma maior porque tinha o pressentimento de que ele ia crescer bastante.

Embora fosse vira-lata, não parecia ser de porte pequeno ou médio.

Assim que Draco deixou ele aos cuidados do atendente, saímos do local e começamos a caminhar novamente.

— Parece um lugar legal para morar — Falou por fim e eu assenti.

— É bem tranquilo.

— Não teve vontade de morar em uma região menos...

— Menos trouxa? — Completei o pensamento e ele assentiu.

— É agradável estar entre eles. Ninguém me conhece, não tem nada a ver com a minha vida. Não sabem nada sobre Harry Potter, sobre Voldemort ou qualquer coisa. Eu sou só mais um cara qualquer.

Isso fez ele franzir o cenho, e aposto que ele começou a ver as coisas de outra perspectiva, porque pareceu bem mais tranquilo ao caminhar do meu lado.

— Aqui é minha padaria preferida. Qualquer coisa ai dentro é deliciosa — Contei abrindo a porta, e ele entrou parecendo curioso com o que eu tinha dito.

Nos sentamos em uma mesinha ao fundo, e eu entreguei para ele o cardápio dali, vendo-o parecer indeciso, provavelmente por não conhecer muito da culinária trouxa. Alguns aspectos eram bem diferentes, embora também no mundo bruxo existissem coisas básicas.

No fim ele acabou pedindo uma torta de frutas, e eu pedi o bolo que sempre comprava, por ser meu favorito.

Quando os pedidos chegaram, Draco pareceu apreciar muito a torta, e eu apenas sorri ao ver que ele parecia muito menos tenso de quando saímos de casa.

— Você... tem certeza sobre eu ficar na sua casa?

— Claro. Achei que isso já estivesse decidido. Eu já até te mostrei o bairro.

Ele sorriu minimamente e assentiu.

— Embora eu provavelmente não consiga mais entrar no cofre dos Malfoy, eu tenho a minha herança por parte de mãe, e meu próprio dinheiro no meu cofre, então assim que eu for a gringotes eu...

— Draco, não precisa se preocupar com isso. Dê um tempo de preocupações. Você está livre. Respire — Sugeri e ele assentiu mecanicamente.

— Eu acho que posso tentar.

— Você me disse uma vez que nunca quis ser auror. Tem algo que queira fazer? — Questionei, pois sempre tive curiosidade sobre e ele assentiu.

— Não é grande coisa — Falou por fim, dando de ombros — Eu gosto muito da medimagia.

— Pensa em se tornar medimago?

— Eu gosto de trabalhar para o esquadrão de aurores — Falou e eu franzi o cenho, me sentindo confuso.

— Então?

— Existem alguns tipos de medimagos no esquadrão de aurores — Explicou por fim, e eu assenti em comprenção.

— Perícia?

— Como advinhou? — Questionou surpreso e eu ri ao dar de ombros.

— Você realmente é ótimos em casos. Sempre tem uma boa intuição. Perícia parece fazer sentido. Mas não precisa necessariamente ser medimagos para entrar na perícia. Porque nunca tentou?

— Porque eu tinha meu futuro decidido por meu pai — Deu de ombros com um longo suspiro.

— Voce devia tentar. Não acho que seria difícil passar. Você sempre foi bom na escola.

— Eu não estudo há muito tempo, teria que me dedicar a isso.

— E porque não? — Insisti, porque era a primeira vez que o via falar sobre algo que sentia vontade.

— Quem é que larga o cargo de auror para entrar na perícia, Potter?

— Quem tem vontade de ser perito? — Rebati com confusão, e ele suspirou.

— Não é algo muito... grandioso.

— Se me oferecessem um cargo de alto posto no ministério eu recusaria — Falei e ele arregalou os olhos surpreso — Porque para mim não é grandioso.

— Como um alto cargo no ministério não é grandioso?!

— Para mim, grandioso é fazer aquilo que você realmente quer fazer — Dei de ombros e ele sorriu.

— Eu sempre me esqueço que você é o Sr. Fibra Moral.

— Estou falando sério — Reforcei e ele assentiu — Eu acordo todos os dias para trabalhar, e eu vou feliz. Mesmo que aconteça algo ruim, um contratempo, mesmo que seja difícil. Porque é o que eu faço, e eu amo fazer. Porque eu deixaria de fazer algo que me faz feliz para agradar os outros?

— Você falando assim, parece ridículo — Admitiu rindo e eu assenti.

— Eu acho que você deveria tentar. Pelo menos faça a prova. Nunca se sabe. Depois você decide se vai ou não.

— Poque eu faria sem ter certeza se vou entrar?

— Porque você pode — Falei sorrindo — Você pode fazer o que quiser, Draco. Pode fazer a prova, pode ir para perícia, pode escolher mudar de carreira. Você é novo. Pode fazer tantas coisas.

— No começo do ano sempre abrem inscrições... — Comentou receoso, quase como quem pergunta minha opinião e eu assenti.

— Eu vou ver para você quando vai ser a prova. O que acha? Mesmo se decidir depois que não é o que quer, estudar um pouco pode te ajudar a se distrair.

— Eu imagino que sim. Para onde vamos agora? — Questionou e eu dei de ombros.

— Não tem muitos lugares abertos essa semana por causa das festas de fim de ano. Podemos ir buscar o seu cachorro e depois irmos dar uma volta no parque. É muito bonito.

Ele concordou duvidoso, e após acertar o pagamento, saímos em direção a rua enquanto eu explicava a ele como funcionava a moeda muggle, visto que ele comentou saber pouco sobre.

Seguimos para o veterinário, e assim que chegamos pediram para aguardarmos por mais um instante, e nos sentamos no banco que tinha próximo ao balcão para aguardar depois de acertarmos o pagamento por todas as vacinas.

— Eu acho que logo ele vai precisar de uma cama maior.

— Acha que vai ficar grande?

— Eu acho que sim. Não parece ser dos que fica pequeno.

— Vocês tem razão — Nos viramos para o atendente sorridente — Ele é mestiço. Apostamos que seja algum cruzamento com pastor-alemão. Vocês o compraram?

— Encontramos ferido á algum tempo. Ele era bem pequeno.

— É comum esse tipo de coisa. Cães como ele costumam ser muito travessos, e quem não consegue lidar com isso acaba os abandonando. Ainda mais quando não queriam que seus cães dessem cria...

— É horrível — Mrmurei elee assentiu.

— Mas ele teve sorte de encontrar donos — Contou sorrindo — E ai vem ele! — Comemorou e nos levantamos ao ver uma moça vir trazendo ele no colo.

— Aqui está o pequeno Harry! — Ela falou sorrindo, e eu franzi o cenho sem entender com o dito dela — Eu disse o nome errado? — Questionou com a minha confusão — É o nome que foi preenchido na ficha.

— É, está certo — Draco resmungou um tanto rabugento — Obrigado.

Sorri, quase bobo porque eu havia deixado Draco preenchendo a ficha enquanto olhava as camas, e jamais lembraria que deveríamos colocar um nome.

Ele saiu pisando duro da loja, provavelmente por ter sido pego e eu acenei ao me despedir dos atendentes algres.

— Ei! Me espera! — Pedi apressando o passo, porque o loiro estava um pouco a frente.

Finalmente o alcancei, olhando com curiosidade, vendo sua expressão ainda muito zangada.

— Então... resolveu colocar um nome nele? Eu achava que você não queria colocar para não se apegar muito, já que não podia morar com ele.

— Potter, ele dorme comigo. Como poderia não querer me apegar? — Resmungou erguendo os olhos para mim e eu dei de ombros.

— Então porque não queria colocar o nome?

Ele revirou os olhos e isso me fez aumentar o sorriso.

— Ou você já o chamava de Harry há muito tempo e não queria que eu soubesse disso? — Arrisquei e a forma que ele fechou a expressão ainda mais apenas confirmou a minha teoria — Então... por causa da cicatriz? Mas quase não da para ver — Pontuei, porque o cachorro tinha uma cicatriz na cabeça pelo ferimento do dia que havíamos encontrado ele, mas o excesso de pelos fazia com que fosse difícil ver se não fosse com muita atenção.

— Ele me segue pela casa o tempo inteiro. Do jeito que você me seguia todas as noites na boate — Deu de ombros e eu ri, porque fazia todo o sentido.

— Então podemos chamar ele de Harry agora que eu descobri?

Ele deu de ombros mau humorado, parecendo detestar ter sido pego.

Mas de alguma forma, saber que Draco tinha colocado o meu nome no cachorro que ele abraçava todas as noites para dormir... era adorável.

E eu só pude pensar que talvez morar com Draco fosse algo que eu viesse a gostar muito.