6 – Apresentação
Harry POV
Era a primeira vez que eu ia até ali e não me sentia aflito.
Após a noite anterior, e nossa breve conversa, eu sentia que Draco tinha aberto a porta para mim, de certa maneira.
Aguardei alguns instantes após apertar a campainha, e o elfo não pareceu surpreso ao me ver, quase sorrindo.
— Senhor Malfoy está dormindo. Gostaria de retornar depois?
— Ele está bem? — Questionei, visto que eram duas da tarde, e o elfo fez um gesto para que eu entrasse, parecendo não se sentir confortável para falar na porta.
Assim que passei, ele continuou silencioso ao caminhar pelo jardim até a casa, e eu o segui com curiosidade, porque não entendia o motivo dele sempre agir com mistério. Era só responder a droga da pergunta e não me deixar preocupado!
— Então? — Voltei a falar quando entramos.
— Ele estava um pouco indisposto hoje, e não saiu da cama. Um pouco febril também.
— Posso dar uma olhada? Não sou medimago, mas...
— Senhor Draco não iria gostar que...
— Ele não vai gostar de saber que eu vim até aqui. Deixe ele ter mais motivos para me amaldiçoar. Eu só quero dar uma olhada nele. Ontem os ferimentos também estavam um pouco infeccionados.
O elfo apenas assentiu, fazendo um gesto para que eu o seguisse.
— Como ele tem estado?
— Da mesma forma, acredito.
— Os pais dele sempre vem vê-lo?
— Não. A única pessoa a vir é o inconveniente senhor Potter.
Sorri porque embora reclamasse, eu sentia certo alivio na voz dele.
— Conhece Draco há muito tempo?
— Desde que ele nasceu. Costumava servir na mansão Malfoy, e era um dos responsáveis pelos cuidados com senhor Draco. Após a reforma dos direitos das criaturas mágicas, com as leis de proteção a elfos domésticos, poucos continuaram a trabalhar para a família.
— Você quis ficar?
— Nunca pensei em ir embora.
— Soube que não é fácil trabalhar com os Malfoys — Falei sem me conter ao pensar em Dobby.
— Ser servo pessoal do senhor Draco sempre foi tranquilo. Presumo que a curiosidade do senhor Potter signifique que se preocupe com Draco.
— É, eu me preocupo — Respondi enquanto terminávamos de subir as escadas, e caminhávamos por um extenso corredor — Venho observando ele há algum tempo, e notei que não parece estar bem.
— Aqui — Abriu a porta, e eu adentrei o comodo, franzindo o cenho.
Tinha esperado algo diferente do quarto de Draco, embora não tivesse certeza do que.
Mas a única coisa ali dentro ela uma espaçosa cama, e um criado mudo ao lado. Extremamente impessoal, sem enfeites, sem riqueza, sem nada.
Completamente vazio.
Como se ninguém vivesse ali.
E isso significava muito.
— Senhor Draco, já acordado? — Ouvi o elfo dizer, e notei que Draco estava sentado no meio da cama, olhando sem ver para a parede, e franziu o cenho ao focar em mim.
— Tink, porque deixou ele entrar de novo?
— Senhor Potter estava preocupado com a sua saúde, senhor — Respondeu e eu caminhei para perto, vendo ele franzir ainda mais a expressão.
— Você não tem permissão para.... — Começou a falar e eu revirei os olhos.
— Vim ver o seu curativo. Aqui — Indiquei um fraco após retirar ele do bolso do casaco — Vai ajudar a fechar mais rápido os cortes. E ele disse que você estava febril — Indiquei o elfo, vendo a expressão de Draco ir se tornando furiosa, e ignorei isso ao seguir para perto, sentando na beira da cama para alcançar o braço dele.
Embora demonstrasse não estar nada satisfeito, ele me deixou tomar seu braço, e eu franzi o cenho ao ver que ele tinha removido meu curativo, e a pele parecia irritada.
— Você mexeu? O que fez aqui? — Questionei ao perceber um novo corte, e ele continuou com aquela expressão séria, me ignorando.
Suspirei, e nem precisei pedir para que Tink trouxesse a caixa de primeiros socorros.
Em um silêncio extremo, onde ele me ignorava completamente, limpei a ferida, passando a poção que Hermione tinha me dado, satisfeito ao ver alguns ferimentos, os mais recentes, irem se fechando, enquanto os que pareciam infeccionados passavam a ter melhor aparência.
Ainda assim, devido a algumas cicatrizes, o braço dele parecia muito deformado.
A julgar pela situação, Draco deveria fazer aquilo há muito tempo, ferindo a região da marca negra.
— Então, como está?
— Você não deveria estar trabalhando? — Ralhou e eu ri.
— Hoje é domingo. Já encerrei o expediente.
Ele piscou, e eu só pude me preocupar ao perceber que ele nem parecia ter noção de tempo/ espaço, mas sua expressão de vazio deu novamente vez a furiosa quando toquei seu rosto, e ele se afastou para trás, fechando o cenho para mim.
— Sem febre. Como está se sentindo?
— Não é da sua conta! — Praticamente rosnou, furioso.
— Se está bem o suficiente para ficar nervoso desse jeito, não deve ser nada. Se voltar a se sentir mal, me avise. Aliás — Falei voltando a tatear meus bolsos e tirei um celular da lateral da calça.
— Que porcaria é essa? — Questionou quando estendi para ele.
— Um celular. Se precisar de mim, é uma forma fácil de encontrar. Já deixei meu número salvo para você. Posso te ensinar a mexer nele. É um artefato trouxa, mas é ótimo para comunicação.
— Porque acha que eu iria querer me comunicar com você?
— Se tiver alguma emergência — Dei de ombros — De qualquer forma, aperte esse botão duas vezes, e em seguida vai aparecer meu nome. É só apertar em cima da tela. Você me disse que não está fazendo magia. Então pensei que seria uma boa forma de me encontrar quando precisar. Você também sabe onde eu moro e onde trabalho.
— Porque tudo isso? Você disse que tinha vindo ver se eu estava bem. Eu estou. Porque não pode simplesmente me esquecer e me deixar em paz?
— Eu posso ser tão teimoso quanto você. Eu já te expliquei isso. Não vou fingir que não vejo como você está. Você é alguém que precisa de ajuda, mesmo que negue o tempo todo. E de qualquer forma, vou te provar que você está errado.
— Você vem até a minha casa para dizer que estou errado?
— E para ver como está — O lembrei, querendo rir quando ele fechou a expressão.
— Sobre o que você acha que estou errado?
— Eu não acho. Eu sei que está errado — Reforcei — Você me disse aquele dia na minha casa que o que está morto não pode morrer.
— Você ficou muito impressionado por isso, não acha? Vai vir aqui todos os dias só por causa de uma frase idiota?
— É, realmente eu penso bastante sobre aquele dia. E de qualquer forma, eu vou te provar que está errado sobre ela. Você não está morto, Draco. A dor, a ferida, a mágoa, a fuga... Tudo isso só prova que está vivo. Sabe por que?
Ele apenas me encarou, esperando que eu continuasse enquanto me olhava com certa frieza, embora soasse também um pouco esnobe.
E eu entendi que aquele olhar não passava de uma defesa para quando se sentia exposto.
— Porque ‘hoje não’ — Falei simplesmente, e ele revirou os olhos.
— De novo com isso?
Dei de ombros, me erguendo da cama.
— Precisa de alguma coisa?
— Que vá embora e não volte.
— Tudo bem — Concordei, querendo rir ao pensar na expressão que eu sabia que ele faria com minhas próximas palavras. — Até amanhã.
Ele entortou novamente a sobrancelha, daquele jeito que me fazia crer que se ele pudesse, me queimaria vivo com os olhos.
— Não se atreva a mexer — Falei quando estava próximo da porta, indicando o braço dele, e sai do quarto.
Tink não me levou até a porta, como de costume. Apenas ficou me olhando da porta do quarto, e eu sorri ao perceber que ele já tinha se acostumado comigo.
Draco deveria estar odiando isso.
Mas a cada dia que ia até ali me sentia mais leve sobre Draco. Embora em alguns momentos eu me torne mais preocupado.
Estava mais do que claro para mim que as coisas dentro dele não iam nada bem. Sentimentalmente, psicologicamente.
Draco parecia exausto.
E nem se quer tinha voz em sua própria vida.
O pai o havia mandado de afastar para ‘limpar’, e ele o havia feito. Eu o segui por algum tempo, e mesmo que ele não gostasse, o máximo que fazia era simplesmente me mandar parar. Eu ia até sua casa, e o máximo que fazia era reclamar.
Eram tentativas tão frágeis, que era fácil perceber que Draco estava em um momento que não dava a mínima para que caminho a própria vida estava tomando.
Mas como eu tinha dito para Hermione, eu não iria fingir que não estava vendo Draco definhar, como tinha feito anos atrás.
Eu não iria falhar com ele novamente.
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