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História Motivos para ser solteiro - Apagão


Escrita por: Koorin

Notas do Autor


OI GENTEEEEEEEE
Tô bem atrasada, perdão rs
Quero pedir desculpas pela demora e também por não estar respondendo os comentários recentemente, eu estou muito atarefada com projetos pessoais e por isso ando meio sem tempo - eu sou desenhista e estou terminando o projeto de uma comic que tô fazendo, mas eu logo tenho que começar outra e inclusive tô surtando por isso mas eNFIM GALERA
KKKKKK maneiro que eu falo isso e cês vão logo achar que eu tô trabalhando pra Disney QUEM ME DERA
EU QUERO AGRADECER DEMAAAAIS POR TODOS OS COMENTÁRIOS! Espero do fundo do meu coração que vocês não fiquem chateados com minha demora pra responder, fiquem sabendo que os comentários de vocês me deixam imensamente feliz~<3
BOA LEITURAAA

Capítulo 9 - Apagão


Fanfic / Fanfiction Motivos para ser solteiro - Apagão

Quando entreabri os olhos sonolentos, por um breve instante, tive a impressão de estar no meu quarto. Tudo ainda estava meio embaçado, e eu bocejei, esticando os braços para me espreguiçar.

Quando tentei me levantar, no entanto, um peso em minha cintura me puxou de volta para a realidade.

Meus olhos foram se arregalando aos poucos, conforme minha mente era socada com todas as lembranças da noite passada.

Puta que pariu.

Tampei a boca, em choque.

E o surto veio.

Caralho. Caralho. Caralho.

Eu dei pro Katsuki.

EU ARREGACEI AS PERNAS PRO KATSUKI!

MEU DEUS, ISSO REALMENTE ACONTECEU!

Tentei conter o grito que ameaçou sair, em consequência não controlando um som contido meio esganiçado que se embolou no fundo da minha garganta.

O peso em minha cintura aumentou, e só então meus olhos incrédulos deslizaram para baixo e me dei conta do braço forte enroscado em meu corpo. Pior ainda, havia um peito colado às minhas costas.

Estávamos de conchinha.

De conchinha.

CONCHINHA, PORRA!

MISERICÓRDIA SENHOR AMADO PROTETOR DAS GAYS!

Engoli a vontade de gritar um “QUE PORRA É ESSA?” bem alto e respirei fundo.

Espera, como isso foi acontecer?!

Eu lembro que dormimos um de costas pro outro, beeeem afastados, diga-se de passagem!

Arrastei as mãos com tanta força pelo rosto que minha pele ardeu. Me dei um tapa na cara, sei lá por que caralhos, mas senti que realmente precisava disso.

Algo me dizia que eu que tinha feito aquela merda. Quero dizer, mais uma merda pra coleção. E a comprovação veio quando um breve flashback, meio turvo e não muito claro, me acertou com força, fazendo minha cabeça latejar.

Sabe quando você acorda no meio da madrugada meio grogue e tá tão cagado de sono que nem tem muita consciência das coisas que faz? Então, este imbecil era eu indo me esgueirar para perto do Katsuki durante a noite, abraçando-o com direito a jogada de perna em cima do quadril e braço em volta do pescoço, parecendo um panda. Eu fazia muito isso quando namorávamos, talvez meu corpo tenha lembrado dos velhos tempos e criado vida própria, sei lá.

Mas, claro, éramos namorados, status este que não possuímos mais há quatro anos, então não faço a mínima ideia de por que diabos meu corpo decidiu me trair desse jeito a essa altura do campeonato. E como isso evoluiu para o Katsuki me abraçando por trás, seu corpo quente todo colado às minhas costas - a ponto que eu conseguisse sentir cada elevação dos músculos - e nossos joelhos flexionados, vale ressaltar que numa posição extremamente íntima e nada adequada para o momento atual, eu definitivamente não sei.

Tá, foda-se, não importa como terminamos naquela posição vergonhosa, a questão é que aconteceu e nada pode mudar isso! Dormi de conchinha com meu ex, não era o que eu planejava, mas rolou, não posso fazer nada para mudar isso, então vou engolir o surto, foda-se. O problema real era outro.

Meu plano era simplesmente sumir do apartamento de Katsuki antes que ele acordasse. Como eu sumiria se o corpo dele estava grudado que nem chiclete ao meu e seu braço preso na porra da minha cintura? Ele tem sono pesado, mas, que droga, eu teria que ser muito ninja pra sair daquele aperto de urso sem que ele despertasse! Sem falar que eu não sou lá muito talentoso em ser discreto, acho que já deu pra notar.

Fodeu.

Fechei os olhos e engoli em seco, já idealizando uns cem cenários catastróficos na minha cabeça em apenas dez segundos. Lembrei que ainda tinha faculdade para ir e afundei as unhas na minha cara, tamanho era o meu ódio por mim mesmo.

Eu poderia agir como um adulto centrado e simplesmente levantar, sem cenas ou rodeios. Sim, seria o mais correto. Ele acordaria, mas e daí? Eu diria um bom dia por educação, vestiria minhas roupas e sairia. Apenas. Com confiança e classe.

Mas eu não sou um adulto centrado.

Agarrei meu cabelo e senti vontade de arrancar todos os fios, mas me segurei.

Argh, por que era tão difícil?

E, como se não fosse uma situação merda, eu mesmo me complicava mil vezes mais!

Aja como um adulto, Midoriya!

 UM ADULTO, PORRA!

Respirei fundo, tentando me acalmar.

Quando meus nervos pararam de se remexer e eu pude analisar a situação sem sentir meu coração pulsando no meu ouvido, eu reparei em algo que fez meu sangue voltar a ser bombardeado pelo meu corpo com toda a força.

Tinha algo me cutucando. Lá embaixo.

A PORRA DO PINTO DO KATSUKI TAVA DURO!! E NA MINHA BUNDAAA!!

Já não bastava eu estar puto, porque, merda, dormir junto assim é intimidade demais. Sabe o que isso faz com a minha cabeça? Nem queira saber.

E, agora, ainda tinha um pau duro prensado na minha bunda, para completar o cenário de horror.

Eu já estava começando a me arrepender de tudo. De não ter aceitado quando o Katsuki disse para esquecer a aposta, de ter ido para a casa dele e o resto nem preciso citar. Já não tinha mais certeza se fiz a escolha certa.

Mas é muito mais fácil se arrepender agora que o fogo no cu aquietou, né, Midoriya?

Porra, acho que a consciência bateu mais rápido do que eu esperava.

Eu achava que essa transa aliviaria um pouco do peso em meus ombros, mas eu já não tinha mais tanta certeza assim se minha cabeça estava melhor agora ou antes de tudo isso.

Sabe quanto tempo demorou para Katsuki e eu dormirmos juntos assim depois que começamos a transar? Uns cinco ou seis meses, antes disso cada um ia para o seu lado – por culpa dele, porque, se dependesse de mim, teríamos dormido agarrados na nossa primeira noite.

E, agora, depois de quatro anos separados, em um sexo casual, simplesmente dormimos agarradinhos, como se fosse algo natural?

NÃO! NÃO É NATURAL!!

Eu sei que provavelmente você deve estar achando que eu tô criando tempestade num copo d’água, que dormir junto depois do sexo é normal e é bobeira me afetar tanto com essas coisinhas, mas são justamente essas pequenas coisas que me assustam. Tal como ontem à noite, quando gozamos e ficamos abraçados, dando selinhos um no outro... entende o que eu digo? Isso é íntimo demais, é um território sombrio demais. O tipo de coisa que eu não queria que acontecesse, que não deveria estar acontecendo.

E agora, para fechar com chave de ouro, dormimos de conchinha.

Ok, ok.

Midoriya, recomponha-se. Você tá botando mais peso nisso do que realmente deveria ter, ok? Só esquece. Esse tipo de coisa não significa nada, e você não tem que se sentir mal por ter transado com seu ex. Foi bom, foi gostoso, é o que importa, mas é isso, bola pra frente.

Adulto centrado. Seja um adulto centrado.

Eu tentava repetir esse mantra na minha cabeça, mas logo eu lembrava que seu pinto duro ainda estava encostado na minha pele e eu logo tinha que repetir esse mantra mais mil vezes para não cuspir fogo pela boca.

Midoriya, é só ereção matinal, coisa natural do corpo humano, controle-se.

Aproximei meus dedos lentamente do braço que enlaçava minha cintura, com medo de fazer um movimento brusco que pudesse acordá-lo. Eu queria conseguir sair sem ser notado, por mais que meu espírito animal urrasse e se remexesse dentro de mim, agoniado.

Quando meus dedos tocaram a pele quente e as veias visíveis, soltei um suspiro involuntário. Comecei a erguer seu braço tão vagarosamente quanto uma tartaruga, ao mesmo tempo em que minha cara se contorcia em uma careta de medo, com receio de que ele acordasse. Quando consegui afastá-lo, ele inconscientemente se virou para o outro lado, ainda dormindo. Fechei os olhos e suspirei em alívio.

Acabei ficando ansioso demais e, é como dizem, quando você comemora muito antes da hora, acaba se dando mal.

E foi o que aconteceu quando eu levantei mais rápido do que eu deveria e fui ao chão tão rápido quanto, causando um estrondo alto.

Meeerrrrrrda.

A gravidade me fez notar o quanto minhas pernas estavam moles como gelatina e meu quadril estava dolorido para um cacete!

Mas que maravilha, Midoriya!

E, quando ouvi uma movimentação agitada na cama, fechei os olhos e bufei, derrotado.

- Deku?! – Katsuki me chamava, provavelmente assustado por ter sido acordado com aquele barulho alto. – Cadê você?!

Lembre-se, Midoriya.

Adulto centrado.

Respirei fundo, me apoiei com as mãos no chão e fiz força para levantar. A dor ainda estava lá, mas agora eu conseguia me concentrar para me manter estável.

- Você caiu...? – Katsuki ainda estava na cama e, pelo canto dos olhos, pude notar que ele estava de joelhos sobre ela, o corpo virado em minha direção. Fingi que não escutei e comecei a dar passos vagarosos pelo quarto, procurando minhas roupas. – Tudo bem? Se machucou?

Que tipo de pergunta é essa? Pare de tentar ser legal.

Eu não queria conversar, mas também não podia fazer que nem uma criança com as mãos no ouvido gritando: LÁLÁLÁLÁLÁ!

- Meu quadril tá doendo um pouco, só isso. – Respondi da forma mais seca que pude, até me surpreendendo com a rouquidão da minha voz, por ter acabado de acordar – e não duvidaria que os gemidos da noite passada tivessem alguma culpa nisso, também.

Doendo um pouco é eufemismo, né, mas era óbvio que eu não responderia algo como: “o que você esperava, porra? Tô todo arrombado aqui”.

Katsuki se manteve em silêncio e eu agradeci por isso, pensei que ele provavelmente tinha se lembrado de quando estabeleci nossos termos antes de transar. No entanto, acho que ele não se lembrou de porcaria nenhuma, porque, vendo que eu parecia procurar algo, ele voltou a abrir a maldita boca:

- Se você tá querendo suas roupas, eu botei pra lavar ontem, esqueceu? – Finalmente dediquei alguma atenção a ele e o fitei com a sobrancelha arqueada, meio confuso.

- E cadê?

Ele pareceu se lembrar e bufou, passando a mão pelo rosto.

- Merda, ainda tá na máquina de lavar... – Arregalei um pouco os olhos quando percebi o que aquilo significava, mas engoli o surto. – Tá, eu vou botar pra secar e te entrego na faculdade amanhã. Você pode pegar algumas roupas minhas.

Desviei o olhar e fechei os olhos, respirando fundo. Eu queria gritar na cara dele, mas espernear não faria as minhas roupas aparecerem magicamente secas diante de mim, sem falar que aquilo nem era culpa dele, por mais que eu sentisse raiva como se fosse.

- Não se preocupe em me entregar diretamente, pode deixar na coordenação que eu passo lá. – Falei, frio. Fui até o armário dele e o abri, procurando por roupas que não ficassem tão largas em mim – afinal, Katsuki é mais alto e bem mais forte que eu.

- Como quiser.

Passamos um tempo em silêncio e eu estava grato por isso, mas, ao mesmo tempo, era muito estranho. Virei um pouco a cabeça para dar uma espiadinha sobre meu ombro, e o peguei no flagra com seu olhar cravado na minha bunda.

Ele pigarreou e desviou o olhar, fingindo estar prestando atenção em outra coisa. Revirei os olhos e voltei a focar no seu armário, achando uma calça de moletom preta. Larga, mas o elástico no quadril ia prender a calça ao meu corpo. Peguei um casaco vermelho com o intuito de esconder todas as marcas que o loiro fez em mim. O tecido era leve, confortável e soltinho, mas as mangas cobriam minhas mãos e o tecido batia quase na metade das minhas coxas. Enquanto isso, eu podia ouvir a movimentação do Katsuki atrás de mim, ele já havia levantado.

Peguei uma de suas cuecas boxer e, quando eu estava prestes a vesti-la, Katsuki chamou minha atenção:

- Você não vai tomar banho?

Virei para fitá-lo com a sobrancelha arqueada, observando-o com uma toalha sobre o ombro e outra na mão.

Ele estava tão lindo com a cara inchada de sono, os cabelos loiros despontando para todos os lados e aquela postura despreocupada que até senti raiva. Nem vou comentar sobre o fato dele estar nu e, aparentemente, ainda duro – não voltei a encarar aquela área diretamente, mas pude perceber pela visão periférica.

- Pra quê? – Retruquei e me abaixei para vestir a cueca, subindo-a pelas minhas pernas.

Obviamente que eu queria tomar banho. Se fosse uma situação normal, eu tomaria banho e até chamaria meu peguete para ir comigo, mas, no caso, o peguete era o Katsuki, então eu só queria montar na minha bicicletinha e ir embora o mais rápido possível.

No entanto, parei no meio do caminho ao notar o líquido esbranquiçado que escorria lentamente pela parte interna da minha coxa. Engoli em seco.

Droga. Tinha esquecido.

Bati na minha testa mentalmente. Fizemos sexo num total de quatro vezes, mas esquecemos de botar camisinha na última, e agora a porra quente dele tava toda atolada no meu cu.

Maneiro.

- Por causa disso aí. – Respondeu. – Mas, se você não se importa de sair por aí com a bunda colando na cueca, beleza.

Bufei, tirando a cueca e a jogando na cama, junto com o conjunto de roupas que escolhi.

A cada segundo que passava, eu percebia que meu plano de ir embora na pontinha dos pés estava indo para o ralo, e isso me deixava cada vez mais puto. Katsuki parecia não se importar com a situação, estava mais do que tranquilo e tentava conversar comigo como se estivéssemos de boa, como se eu não tivesse estabelecido que nem olharíamos mais para a cara um do outro ontem à noite. Talvez ele estivesse pensando que isso só passaria a valer depois que eu fosse embora da casa dele, mas para mim não, eu tava tentando ignorá-lo desde que eu abri os olhos!

E não tinha jeito, eu ia ter que tomar banho, o que me deixava mais puto ainda.

Me virei de frente para o Katsuki e ele jogou uma das toalhas em minha direção, e eu a peguei prontamente. Contudo, permanecemos nos fitando, Katsuki  de pé com uma toalha no ombro, me olhando como se esperasse por alguma coisa. Semicerrei os olhos em sua direção. Por acaso ele achava que...?

- Você não tá pensando que vai tomar banho comigo, né? – Indaguei, indignado.

Ele bufou.

- Achei que valia a pena tentar, mas claro que você é um chato do caralho. – Ele tirou a toalha do ombro e tacou na cama.

Soltei um riso descrente.

O fato de Katsuki estar tão tranquilo me tirava do sério. Como ele agia como se aquela situação fosse comum? Eu me sentiria muito melhor se ele ficasse puto e me ignorasse, porém, agindo da forma que ele agia, parecia não se importar, enquanto eu estava lá, todo nervoso e ansioso para ir embora.

- Você é inacreditável. Esqueceu do que eu te disse antes de transarmos? Ou você só concordou com tudo sem pensar porque queria transar? Típico.

Ele abriu um sorriso de lado, e eu quis tirá-lo com um soco.

- Se você fica com esse mau humor depois de transar, não quero nem imaginar quando tá na seca. Você deve ficar dentro de uma jaula.

Senti vontade de enrolar aquela toalha em volta do pescoço dele e torcer, mas decidi só ignorar seu comentáriozinho idiota.

- Boa sorte batendo punheta pra abaixar esse pau. – Não esperei por uma resposta antes de entrar no banheiro – não esquecendo de pegar as roupas em cima da cama -, batendo a porta com força. Bufei ao escutar sua risada. Coloquei a água do chuveiro bem fria para tentar diminuir a raiva que deixava meu corpo tão flamejante, mas não adiantou de porra nenhuma.

Acho que, no fim, não importa o que o Katsuki faça, tudo relacionado a ele sempre vai me deixar puto.

- E desde quando uma pessoa superada fica lembrando das coisas e se remoendo todo só de ver a pessoa? Tá, eu sei que é difícil de encarar os fatos, vou deixar você enganar a si mesmo se por enquanto isso tá funcionando pra você. – Nunca ouvi a Uraraka falando assim antes, até senti um frio na espinha. – Mas eu continuo com a minha opinião. Katsuki não te abala porque você odeia ele, ele te abala porque você gosta dele e queria não gostar. É isso.

Arregalei os olhos quando, de repente, a imagem da Uraraka me atingiu como uma onda que te pega desprevenido no oceano.

Senti uma veia saltando na testa com a lembrança indesejada, tal como eu fiquei no mesmo momento em que ela me disse isso, como se fosse a dona da verdade. Grr, menina intrometida.

Balancei a cabeça em negação, rindo ao lembrar daquele discurso tão sem sentido dela.

Que piada.

 

***

 

Quando saí do banheiro, já vestido, vi que o quarto estava vazio. Dei uma penteada no cabelo com os dedos mesmo – eu podia usar o pente do Katsuki, mas levaria tempo até conseguir desembaraçar todos os nós esverdeados e eu não estava com essa paciência. Eu estava cheiroso e isso me deixava feliz, afinal, olhando pelo lado bom – ele existe, ainda que quase inexistente -, pelo menos tô de banho tomado. Porém, até quando algo me deixa minimamente satisfeito, logo eu lembro que eram as roupas de Katsuki que cobriam meu corpo, que estavam completamente impregnadas com o maldito cheiro dele. Aquele cheiro amadeirado, forte...

Que ódio.

Saí do quarto e, passando pelo corredor, tudo ainda estava em silêncio. O pensamento de que talvez Katsuki já tivesse ido para a faculdade me preencheu de alívio, porém, ao passar pela sala - que era conectada à cozinha -, me deparei com o loiro, também de banho tomado – há outro banheiro no corredor, e Katsuki sempre foi mais rápido no banho do que eu – e usando roupas folgadas. Ele terminava de fritar os ovos e os depositava em dois pratos, junto com algumas tiras de bacon, em cima da bancada diante de mim.

Arregalei um pouco os olhos.

Eu queria fingir que não vi e ir embora, mas não pude deixar de pensar que seria muita infantilidade da minha parte, talvez. Ele tinha preparado dois cafés da manhã, eu não queria passar mais tempo com ele, mas, sei lá, eu não conseguia ser tão ríspido a esse ponto...

Esse é o meu problema. Eu não consigo ser escroto o tempo inteiro com uma pessoa que não está tentando ser escrota de volta, mesmo que ela mereça toda a minha escrotidão.

E, poxa, eu estava com muita fome, também.

Suspirei, já me rendendo.

- Por que está fazendo isso? – Indaguei sem toda a frieza de antes, no entanto, ainda seco.

O loiro me fitou com uma sobrancelha arqueada, como se não entendesse a pergunta.

- Não tá com fome? - Ele esticou o braço por cima da mesa para botar o prato na minha frente, logo voltando ao seu lugar e se sentando na cadeira de frente para a minha, não esperando para começar a comer como um mamute. – Eu teria feito panquecas também, mas estamos meio sem tempo. – Disse de boca cheia.

Katsuki sempre foi um ogro sem um pingo de boas maneiras. Não que eu seja um lorde que bebe chá com o dedo mindinho levantado, mas tenho o mínimo de educação, sou porco na medida certa, enquanto ele é do tipo que arrota alto na frente de desconhecidos e nem pede desculpa – devo confessar que, enquanto namorávamos, apesar de achar vergonhoso e o batesse no ombro para repreendê-lo por isso, eu até achava engraçado e logo caíamos na gargalhada.

Katsuki sabe que eu adoro panquecas – coisa que inclusive já faz tempo que não como, porque viver sozinho me tornou mais preguiçoso - e ele sempre fazia para mim quando estávamos juntos, então aquela sua fala me deu nos nervos. O que ele estava tentando, afinal?

- Não precisava ter cozinhado pra mim. – Me sentei na cadeira, não me fazendo de rogado ao começar a comer também, tentando não parecer estar com a fome que eu de fato estava.

- Sabe quanto tempo eu levei para fazer tudo isso? Dez minutos. Não se ache tão especial assim, bebê.

- Dedicar cinco minutos fazendo algo pra outra pessoa parece muito vindo de você. – Disse normalmente, como se não estivesse cravando a espada no campo inimigo. - Mesmo que esse algo sejam dois ovos e um pouco de bacon.

Ele riu.

- Para alguém que disse que não queria nunca nem mais olhar na minha cara depois de ontem, você até que tá com a língua bem afiada. – Mordeu um pedaço de bacon, puxando com os dentes e sorrindo de lado.

- Tá brincando, né? – Soltei um riso descrente. – Foi você que começou, agindo como se fôssemos dois ficantes felizes acordando depois de uma noite maravilhosa. Queria tomar banho comigo. Fez até café da manhã pra gente, qual é o seu problema? – Eu já não estava mais conseguindo esconder minha raiva.

- Mas a noite não foi maravilhosa?

Fiquei em silêncio depois de sua pergunta, encarando-o com os olhos faiscando de ódio.

Ele abriu um sorriso debochado.

- Foi o que eu pensei.

Voltei a prestar atenção na minha comida, já quase terminando.

- Só espero que você não quebre com nosso acordo. Quero que você finja que eu não-

- Existo, claro, eu sei, eu lembro do que você falou, tenho boa memória. – Completou a minha sentença, e eu finalmente pude identificar algum traço de irritação em sua voz. – Vou te tratar como a perfeita estranha que você merece, minha princesa, não se preocupe. – Ironizou. Revirei os olhos.

Você já olhou para uma pessoa e se perguntou: o que passa na cabeça dela?

É o que eu me pergunto sempre que olho para o Katsuki.

 

***

 

Depois de comermos, eu o ajudei a lavar a louça, porque, né, eu ainda sou o Midoriya Trouxa Izuku, mas felizmente ele não tinha tentado puxar assunto desde àquela hora e permanecemos em silêncio desde então.

Olhei para a hora no meu relógio e me assustei um pouco. Era terça-feira e faltavam quinze minutos para o início da minha aula, e eu nem conhecia aquele bairro em que eu estava, ou seja, não sabia qual ônibus eu tinha que pegar ou se era melhor pegar metrô, não sabia o quão longe a estação de metrô era do apartamento do Katsuki, não sabia quanto tempo levaria para chegar na escola, etc.

Eu não queria perguntar ao Katsuki e a ideia de pesquisar na internet até passou pela minha cabeça, mas essas pesquisas nunca eram tão rápidas e eficazes assim e eu não estava com tanto tempo sobrando.

- Como eu vou para a faculdade daqui? – Indaguei, vendo-o pegar a mochila e jogar sobre o ombro – eu estava sem material, aliás, mas nada que um amigo meu não pudesse me emprestar, então não estava preocupado com isso -, as chaves da moto rodando entre os dedos. Ele me fitou com uma sobrancelha arqueada. – Tipo... é melhor ir de ônibus ou metrô?

- É melhor ir de moto. – Respondeu normalmente, dando de ombros e se virando para destrancar a porta. Fiquei lhe fitando com um riso sem graça no canto dos lábios, esperando que ele dissesse que era brincadeira.

- Eu não tenho moto. – Respondi o óbvio.

- Eu tenho. – Também respondeu como se fosse óbvio, abrindo a porta e saindo. Eu estava sem paciência para suas respostinhas idiotas e fui atrás dele batendo o pé.

- Parabéns, você não precisa suar no transporte público. – Entrei no elevador com ele, revirando os olhos. Eu sabia o que ele estava insinuando, claro, mas preferia me fazer de desentendido. – Tô falando sério. Tô atrasado pra aula, então para de brincadeira e me responde logo...

- Eu já respondi. – Sua mochila só estava pendurada em um ombro. Ele segurava a alça dela com uma mão enquanto a outra estava afundada no bolso da calça folgada, o tecido escorrendo um pouco pelo quadril e mostrando a borda da cueca – não que eu tivesse perdido muito tempo analisando. – Te dou uma carona.

Fechei os olhos e respirei fundo, minhas mãos coçando para socá-lo.

- Só me diz onde fica o ponto de ônibus, eu me viro.

- Para de birra, Deku, parece criança. Por que eu te deixaria chegar atrasado na aula se posso te dar uma carona? Como você mesmo disse, estamos atrasados.

Agora eu vou explodir.

- Você não tem que deixar nada, eu faço o que eu quero! Se eu quiser chegar no segundo, terceiro ou quarto tempo de aula, que se foda, a escolha é minha! – Katsuki me fitou de rabo de olho, uma sobrancelha arqueada e parecendo zero afetado. - E eu não quero subir na porra da garupa da sua moto, entendeu?! NÃO QUERO! EU PREFIRO ENFIAR UM CABO DE VASSOURA NO MEU CU DO QUE SUBIR NA SUA MOTO DE NOVO!

Quando eu desviei a atenção do Katsuki e olhei para frente, percebi que a porta do elevador já estava aberta, revelando duas pessoas que nos encaravam com os olhos arregalados, provavelmente assustadas por terem flagrado meu pequeno surto.

Escutei uma risada baixa se desprendendo do loiro ao meu lado, que parecia estar adorando a situação.

Lembre-me de cavar uma cova para ele mais tarde.

Abri um sorriso amarelo e falei um bom dia meio encabulado para as duas pessoas, saindo rápido do elevador e passando por elas, que também responderam de um jeito meio mecânico e só por educação, logo entrando no elevador também. Katsuki, que não havia dito nada, veio logo atrás de mim, começando a rir alto quando as portas metálicas se fecharam. Comecei a distribuir socos na região dos seus ombros e peito, xingando-o de todos os nomes possíveis, mas ele só ignorava e continuava rindo alto, o que me tirava ainda mais do sério.

Filho da puta!

Entretanto, um homem de aparentemente uns quarenta anos, que até então estava conversando com o porteiro, veio em nossa direção. Eu já estava imaginando que ele iria me dar um sermão ou sei lá – nem faria sentido se ele fizesse isso, mas, nesses momentos, a gente costuma dar uma pirada e pensar em uns bagulho nada a ver -, porém, pelo jeito que ele encarava o loiro, algo me dizia que aquela conversa não seria muito boa.

- Bakugou, eu achei que já tínhamos resolvido nossas desavenças. Recebi muitas reclamações dos moradores hoje de manhã, alegando que escutaram uma barulheira desgraçada vinda do seu apartamento durante a madrugada inteira. – Ao final da frase, o homem dedicou um breve olhar em minha direção, o que me fez enrubescer horrores. Fitei o teto, fingindo que não era comigo. – De novo isso. Você tinha sossegado por um tempo e pensei que tinha aprendido a lição, mas eu não posso mais passar tanto pano pra você. Quantas vezes já conversamos sobre isso?

Revirei os olhos quando o homem mencionou as diversas vezes que eles já tinham conversado sobre isso, mas o Katsuki sempre foi do tipo pegador, então escutar aquilo não foi uma surpresa para mim.

- Puta merda, Kuno. Há quanto tempo que você não transa, cara? Para de querer empatar a foda dos outros.

Engasguei com minha própria saliva, e percebi que o síndico não reagiu muito diferente de mim.

- Bakugou, é o seguinte. – Ele abaixou o tom de voz, assumindo uma postura mais impaciente. O loiro o fitava com um olhar desinteressado. – Eu tô pouco me importando com sua vida pessoal, mas eu me importo com o meu emprego, e muito. Então, se você incomoda os moradores, isso me incomoda, porque, se eu não deixar os moradores felizes, isso afeta diretamente o meu emprego. Entendeu?

- Quer deixar esses filhos da puta felizes? Distribui uns vibradores pra todo mundo! Você devia experimentar também, bro.

Por que eu ainda estava ali me prestando a um papelão daqueles? Eu tinha que pegar meu ônibus!

Arregalei os olhos e, ao olhar a hora no meu celular, percebi que agora me restava um pouco menos de dez minutos.

Eles ainda discutiam e não consegui segurar um xingamento quando notei o quanto estava atrasado – percebi que o síndico me lançou um olhar confuso, mas ignorei. Deixei os dois se matando e fui em direção ao porteiro. Fiz várias perguntas a ele na velocidade da luz, perguntando como eu poderia chegar à faculdade da forma mais rápida possível. Ele disse que é melhor pegar um ônibus do que um metrô e que tinha um ponto bem na esquina da rua, mas o próximo ônibus que eu queria só chegaria às 7h – horário que minha aula começa, diga-se de passagem – e que o trajeto levaria uns quinze ou vinte minutos, o que significa que eu chegaria no segundo tempo. Eu não me importaria com isso, se o professor não tivesse dito na última aula que passaria um teste no primeiro tempo. Não iria valer tanto assim, mas, porra, ainda assim é alguma coisa, e na faculdade não podemos nos dar o luxo de perder qualquer migalha que os professores dão.

Suspirei, irritado, mas o agradeci. Olhei brevemente para trás, vendo que o síndico agora estava quase gritando com o Katsuki, mas ele aparentemente só respondia com deboche a julgar pela sua postura relaxada e o sorriso em seus lábios. No entanto, nossos olhos se encontraram e, quando me virei para sair correndo, escutei passos apressados vindo atrás de mim, junto com o síndico que gritava um: ESPERA AÍ! AINDA NÃO TERMINAMOS, BAKUGOU!!

- Ei, Deku! – Ele me chamava, mas eu só seguia correndo para o ponto de ônibus da esquina. – Que droga, espera!

O barulho de seus passos se tornou mais pesado e logo ele estava na minha frente, barrando a minha passagem. Revirei os olhos, bufando.

- Eu já disse que te dou uma carona, para de ser teimoso, porra!

Estreitei os olhos para ele, me perguntando por que ele estava agindo daquele jeito tão... legal. Não era do feitio do Katsuki fazer coisas pelas pessoas, principalmente se essas coisas não o beneficiassem. Claro que eu já vi esse lado dele antes... quando estávamos juntos. Por isso a atitude que ele havia assumido agora era tão estranha.

O que ele queria, afinal?

- Acho que transar realmente te deixou com um excelente humor. – Falei, tentando me desvencilhar do loiro, mas ele continuava me barrando. – Que saco! Qual é o seu problema?! Você fala de mim, mas você que é um chato do caralho!!

- Você fica fugindo de mim como uma criança com medo do bicho papão. É só uma carona, porra, eu não vou te levar pra um motel!

- Por que você gosta tanto de complicar as coisas pra mim? – Perguntei, a voz já cansada. – Se você acha que pode tentar ter uma relação amigável comigo para continuarmos transando sem compromisso, você está FODIDAMENTE enganado.

Ele não disse nada, só continuou me encarando, inexpressivo.

Lembrei do meu teste.

Suspirei, cruzando os braços.

- Tá, foda-se. Eu não posso chegar atrasado hoje... tenho teste.

Notei um sorrisinho inútil querendo nascer no canto dos seus lábios.

- Me espera aqui. – Foi o que ele disse antes de correr de volta para dentro do prédio, provavelmente indo pegar a moto no estacionamento que ficava no subsolo.

Relaxei meus ombros que nem notei ter tensionado. Eu poderia muito bem aproveitar para ir até o ponto, a essa altura o ônibus já devia estar chegando, no entanto, de acordo com as instruções do porteiro, eu perderia o teste se fosse de ônibus, de qualquer forma. Então, derrotado, esperei pelo Katsuki, que logo apareceu. Dessa vez, diferente de ontem, ele usava um capacete e me estendeu outro, que logo botei, depois de lançá-lo um olhar raivoso.

Subi na garupa e abracei sua cintura - meu corpo tremendo de raiva por ter que me sujeitar a isso de novo.

- Mas e aquele lance da vassoura no cu, era sério mesmo? – Ele virou um pouco a cabeça para perguntar e, mesmo que o capacete tampasse seu rosto, percebi pelo seu tom de voz que ele sorria. Grunhi de ódio e não respondi. Ele riu alto antes de acelerar e sair em disparada.

 

***

 

Chegamos cerca de 7h05 na faculdade, e eu teria ficado divagando sobre o quão é impressionante como a velocidade de uma moto pode desafiar o tempo se eu não estivesse puto da vida, mas, bem lá no fundo, eu estava um tiquinho aliviado por ter chegado a tempo – o limite para atraso é até quinze minutos, então eu teria que correr até a sala, afinal, o campus é bem grande.

Já fui saindo da moto às pressas e jogando o capacete de qualquer maneira em cima da garupa, enquanto o Katsuki estava lá, pleníssimo, tirando o capacete como se estivesse posando para uma revista de veículos importados.

Talvez ele estivesse tão calmo porque não tinha compromisso nenhum para o primeiro tempo de aula, ou só tava cagando mesmo, como sempre. Me surpreende que ele esteja no curso de direito, mas nem fodendo que eu vou dar uma de interessado na vida dele e sair puxando assunto como se fôssemos amiguinhos.

Não falei nada, só virei as costas e saí andando em passadas rápidas.

- Ei, Deku, espera aí!

Meu Deus, que ódio.

Cerrei os punhos e apertei o passo, podendo escutar o som pesado dos tênis do loiro batendo contra o chão, se aproximando cada vez mais. Ele tinha pernas mais longas e seria questão de segundos até que ele me alcançasse.

Pelo amor de Deus, quando ele vai me deixar em paz? E o que ele queria, afinal? Porra, virou carrapato?

- Deku!

Eu vou enlouquecer, é oficial.

- O que você quer, Katsuki? Meu Deus do céu, garoto, me deixa em paz!

Talvez esse Katsuki grudento seja uma miragem e o verdadeiro ainda esteja lá, roncando na cama do seu apartamento. Será que eu tô alucinando, gente?

Felizmente, o campus estava quase que completamente vazio, apenas com alguns pequenos grupos de pessoas espalhados por aí, mas bem distantes de nós.

- Só quero falar um negócio rápido contigo, é rápido! Dá pra me ouvir, caralho?!

- Eu tô atrasado, eu tenho um teste agora, não tenho culpa se você é vagabundo!

- E como vai fazer o teste sem nem a porra de uma caneta?! Vai fazer com o poder da mente, virou X-men?!

Estanquei no lugar ao me dar conta. Sim, eu pretendia pedir emprestado a um colega meu, porém, pensando bem agora, é um teste! Nem fodendo que o professor vai me deixar pedir algo emprestado...

Porra, como não percebi isso antes?

Respirei fundo e me virei, e surpreendentemente ele já estava perto demais de mim.

- Me empresta uma caneta? – Perguntei com a maior cara de cu.

Ele abriu um sorriso de lado, como se tivesse vencido algum joguinho.

- Qual é a palavrinha mágica, Deku?

Bufei.

Eu vou quebrar esse cara.

- Por favor, droga.

Seu sorrisinho aumentou.

Ele pegou a mochila e começou a procurar em meio àquela montanha de papéis misturados. Comecei a bater o pé, impaciente. Ele achou uma caneta e a estendeu para mim, entretanto, quando eu estiquei a mão para pegar, ele afastou a própria.

Fechei os olhos e tentei conter um gritinho.

- Tô sem tempo, irmão.

- Tá usando as minhas roupas e ainda vai pegar minha caneta... isso vai te custar caro, Deku.

Algo veio subindo dentro de mim como um vulcão prestes a entrar em erupção.

E eu não aguentei.

- Vai ficar atrás de mim agora, Katsuki? Devia ter feito isso quatro anos atrás!

MIDORIYA, PELO AMOR DE DEUS, CALA A BOCA!

Senhor, de onde eu tirei isso? Que merda! Foi completamente aleatório! E, pior, vai ficar parecendo que eu sou superamargurado com o término até hoje – o que é um pouquinho verdade, mas não do jeito que ele provavelmente vai interpretar.

Não pude conter minha expressão de horror pelo o que saiu da minha boca, e os olhos vermelhos arregalados diante de mim também mostravam o quanto ele estava chocado.

Meu coração falhou uma batida.

Era a primeira vez que o assunto do término vinha à tona entre nós dois.

Aproveitei da sua distração para puxar a caneta da sua mão e me virei, mas meus pés simplesmente não saíam do lugar.

Contudo, arregalei os olhos com a risada debochada que escutei atrás de mim.

Gente, eu tenho um teste para fazer, provavelmente devo ter uns cinco minutos restando para chegar na sala, e agora eu tô prestes a ter uma DR com o meu ex-namorado...

No que eu fui me meter?

Socorro.

- Eu devia ter ido atrás de você? Você é tão cínico, caralho. Como consegue ser tão filho da puta, Deku?

Hã?

- O quê? – Voltei a virar de frente para ele, me deparando com seu cenho franzido e os lábios esticados em uma linha fina. – Você que terminou comigo.

- E por que será? – Perguntou como se fosse óbvio. Vendo que eu fiz uma expressão confusa, ele soltou uma risada incrédula. – E tu fica pagando de santinho, isso é o que me deixa mais puto.

- Do que você tá falando, seu doente? – Eu realmente não estava entendendo nada.

Katsuki pareceu ter ficado ainda mais puto e se aproximou, tão perto que eu podia sentir sua respiração descompassada batendo no meu rosto.

- Só pra deixar bem claro, não fique pensando que me bateu o arrependimento e que eu tô louco por você de novo. Você tinha razão do que disse lá na frente do meu prédio, a única coisa que eu quero contigo é uma trepada fácil, porque nem fodendo que eu vou ter algo sério de novo com alguém tão podre quanto você.

Eu o empurrei forte, fazendo-o cambalear para trás.

- VAI PRA MERDA! E você acha mesmo que eu iria querer ter uma relação com você, ainda que fosse só sexual? EU QUERO QUE VOCÊ SUMA DA MINHA VIDA! Não foi à toa que eu te falei tudo aquilo antes de transar ontem, você só serve pra dar uma sentada uma vez na vida e tchau!

Meu coração estava prestes a sair pela boca.

Eu queria chorar.

- E você? – Riu alto, no mais puro deboche. – Isso é deprimente, Deku. De tanto se fazer de santo e enganar todo mundo, você mesmo se enganou. E eu ainda pensei que depois de todos esses anos você ia finalmente virar gente.

 O bolo que estava entalado na minha garganta dificultava a minha respiração. Sabe quando alguém te diz coisas tão inacreditáveis que você nem sabe como responder? Era assim que eu me sentia. Eu não podia acreditar nas coisas absurdas que estava ouvindo.

- Você tá tentando virar a culpa pra mim?! – Estreitei os olhos, sentindo meu sangue ferver. – Você terminou comigo sem mais nem menos, disse que não se importaria se eu morresse! – Não notei que as lágrimas já corriam fortes pelo meu rosto. Meu peito afundou porque era a primeira vez que eu falava em alto e bom som sobre aquelas suas antigas palavras que ainda me machucavam profundamente. – Você jogou tudo no lixo e não me deu um caralho de explicação! E depois de tudo você vem com esse discursinho vitimista? Eu queria nunca ter deixado você entrar na minha vida!

- Isso, chora mesmo, vadia do caralho! – Começou a bater palmas. – Olha, as pessoas já estão aparecendo pra ver, parabéns, conseguiu o que queria! – Me assustei quando olhei ao redor e notei que já não estava tão vazio quanto antes, e todos os olhos do lugar estavam cravados na gente. - É só isso o que você quer, né? Uma plateia pra se fazer de coitado enquanto eu fico parecendo um filho da puta, mas a verdade é que você é a PORRA DE UMA VADIA QUE NÃO SE SATISFAZ COM UM PAU SÓ-

Eu o obriguei a parar de falar quando soquei seu rosto com toda a força e raiva que emanavam do meu ser.

Ele caiu no chão, me fitando com os olhos arregalados. Tocou no canto da boca, olhando para o sangue que agora estava em seus dedos.

- Eu não acredito que a única pessoa que eu já amei é também a pior que eu já conheci. – Ainda que eu chorasse muito, as palavras saíram firmes.

Eu sabia que, àquela altura, já havia uma multidão se aglomerando à nossa volta, mas eu não queria olhar para ninguém.

Eu nunca disse ao Katsuki que o amava, e nunca imaginei que a primeira vez que falaria sobre amor seria em circunstâncias tão deploráveis.

Ele lançava uma expressão desolada em minha direção. Eu nunca tinha visto seu rosto daquela forma.

Nos encarávamos em silêncio, e através daquele olhar parecia que compartilhávamos o turbilhão de pensamentos e sentimentos que não verbalizávamos naquele momento.

Ele ainda estava caído no chão quando eu me virei e saí correndo até o prédio do meu curso de psicologia. Entretanto, nem se eu quisesse, eu teria condições de ir para a sala fazer aquele teste. Eu pediria segunda chamada, mas não estava nem me preocupando com isso no momento.

Quando Katsuki terminou comigo, eu achei que ninguém nunca conseguiria me fazer sofrer mais do que o que eu sofri naquele dia. Entretanto, o próprio Katsuki bateu seu próprio recorde.

A dor em meu peito aumentava ao lembrar de cada palavra horrível que ele disse, e todas elas ainda estavam tão vívidas na minha memória que eu podia jurar que estava as escutando bem naquele exato mesmo.

A dor piorava.

As lágrimas pioravam e eu não conseguia enxergar mais nada diante de mim.

Até que, de repente, minhas pernas não eram suficientes para me manter em pé.

E tudo apagou.

 


Notas Finais


ai gente, de novo o cap ganhou vida própria, do nada eu comecei a fazer esse barraco aí no final e nem era minha intenção inicial, HELP MEUS DEDOS TÊM VIDA PRÓPRIAAAA
inclusive eu refiz o início desse cap mil vezes, pq da primeira vez eu tava fazendo de um jeito mt comedia stand up, e eu queria q ficasse engraçado mas tem q ser na medida certa ne, n pode extrapolar rsrs
GENTE EU SEI QUE VCS DEVEM ESTAR MORRENDOOOOO DE RAIVA DO KATSUKI, mas acho que vocês perceberam q tem algo por trás aí ~o Deku tava abalado demais pra ler as entrelinhas
LÁ VEM BOMBA AI GALERA
Não sei se esse cap ficou grande coisa, eu pretendia escrever mais, mas eh isso
AMO VCS E OBRIGADA
BEIJO


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