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História Mr. Stalker - O que fazer com esses sentimentos?


Escrita por: yonasuki

Notas do Autor


Boa noite, meu amores! <3
Promessa é dívida e ainda bem que consegui terminar pq senão não saberia mais como pedir desculpas para vcs! :')
Três dias escrevendo essa bagaça entre intervalos para assistir game of thrones(nunca tinha visto, só lido os livros) nos momentos que o personagem resolvia passear para fora da minha cabeça.
Enfim, e vamos ao capítulo. Tá enorme, tem muita informação e digamos que é um capítulo bem cheio de feels. Temos aqui um Dimi no processo de entender os próprios sentimentos, um conselho de uma mãe maravilhosa e coisas a respeito da Família Nikiforov, assim como a continuação da cena do quarto do Dimi, qdo Ivan pede para o nosso stalker fazer amor com ele como gostaria que fosse com o Sergy.
Espero mesmo que gostem. Desculpem qualquer erro.

Capítulo 9 - O que fazer com esses sentimentos?


O que fazer com esses sentimentos?

(Dimitri Nikiforov)

Mesmo com todo o episódio com o Myers, que mesmo me dando um peso na consciência pela preocupação em como Ivan poderia lidar com isso, não achei que ficaria tão afetado pelo que aconteceu comigo e Sergei. "Doeu demais... principalmente porque meus instintos mais profundos e que nem compreendo por aquele homofóbico foram meus guias naquele momento. Ouvir de sua boca coisas que ele sempre fala de um modo geral direcionados a mim, foi como se uma faca tivesse sido cravada no meu peito."

Após sair do meu gabinete, a priori planejava tomar um chá com mat' para ver se acalmava meu turbilhão interno, mas foi impossível ao chegar em casa e receber uma Evgenia de expressão preocupada ao me indagar se eu sabia o que havia acontecido à Sergei pois ele não parecia bem. "Não, Evgenia. Ele não estava bem e a culpa foi minha..."  Tomado por um aperto que poucas vezes senti na vida, lutei com todas as forças para não ir ao seu quarto e sem aviso prévio saí com minha mãe usando a desculpa de que 'fazia muitos anos que não aproveitávamos um dia só nós dois'. Entre dúvidas, culpa e também uma certa apreensão referente a tudo, passei o resto do dia tentando disfarçar isso perto da mat', que em contrapartida à preocupação por meu homem de confiança ter ficado para trás com uma expressão intrigada no meu gabinete, também notou que havia algo de diferente comigo. Não foi fácil atuar, sorrir de maneira despreocupada ou mesmo mostrar interesse a qualquer assunto com minha mente desse jeito. É tudo muito diferente, novo e confesso não saber como lidar com isso. Após algumas horas de um interesse totalmente forçado, a própria mat' sugeriu que fossemos embora. Mesmo com minha reluta por clara apreensão do que poderia me esperar em casa, suas falas foram como um tapa na minha cara. E olhando agora dentro dos  olhos de um Ivan que só transborda agradecimento e libertação, a conversa com mat' invade minha mente como uma assombração...

(ALGUMAS HORAS ANTES)

"Merda. Queria não estar sentindo essas coisas.Ivan... espero que possa me perdoar pelo que fiz ao estúpido do Myers e que ao menos isso sirva para que você passe a se ver de forma diferente... e Sergei... Ah... Como queria não sentir essas coisas estranhas por você... Como queria não estar com essa dor no peito. Segui meus desejos e o que resultou? Uma breve felicidade por ser correspondido para depois ser catalogado como 'viado nojento'... Tem ideia do quanto isso me machucou? Do quanto me deixou com culpa? Já carrego tanta culpa comigo... Isso nunca tem fim. Será que eu preciso mudar? Será que eu..."  Sou arrancado de dentro do meu conflito interno com sua voz que apesar da preocupação evidente, também possui astúcia.

-Mine syn*... O clima está tão ameno! Estamos tomando chá com esta vista linda da Praça Vermelha*! Não é sempre que temos a oportunidade de apreciar a vista fazendo algo assim, não é verdade? - pergunta de forma irônica como quem diz 'está tentando enganar a quem?!', enfatizando o quanto puxei a ela nessa parte. Achei que sair de casa me ajudaria pelo menos a amenizar tudo o que aconteceu, mas depois de uma hora de caminhada pela praça onde não consegui ver nada além das imagens dos últimos acontecimentos, optei por pararmos para tomar um café. Minha mat' sabe que algo aconteceu, mas como típico de sua personalidade esperou o melhor momento para dar sua cartada. "É... Nada passa despercebido por Olga Nikiforov... mas esse não é um assunto do qual é saudável para a senhora, mat'."   Sem me deixar levar, olho para a praça lotada e observando a arquitetura, respondo automaticamente...

-Tem razão, mat'. Estou tão acostumado a viver nessa cidade que uma vista assim sempre acaba passando despercebida. Com esse clima mais ameno estamos com muitos turistas e o café foi uma excelente escolha, não acha? O Bosco Cafe* é muito bom! Fazia muito tempo que eu não saía sem que fosse para resolver pendências do gabinete ou cuidar do Victor e Yuri... Apreciar essa vista na sua companhia está sendo excelente para desviar o foco da correria do meu dia a dia. Obrigado por ter aceito o meu convite. - eu não poderia soar mais robótico do que isso. Sei disso, mas com tudo o que aconteceu... manter uma fachada neutra está ridiculamente difícil. Percebendo isso, mat' contrai sua expressão em uma careta que me remete a infância, quando aos 10 anos era pego mentindo para ela depois de aprontar com meu primo Vladimir. Como se estivesse lendo meus pensamentos, ela diz de modo rabugento...

-Você não tem mais 10 anos de idade, syn. Acha mesmo que os anos fizeram de você um mentiroso melhor?! Chega a ser engraçado assistir você tentar disfarçar seu estado de espírito logo para mim. Desviar o foco do seu dia a dia... Faça-me o favor! Adianta você estar aqui se sua mente está em outro lugar?! Sei também que você possui segredos que não quer me contar e nem peço nenhuma explicação, mas não fique fingindo que está bem quando claramente não está. Observando a situação de fora, sei que isso tem a ver com Ivan e principalmente com Sergei.  Podemos não ter tanto contato hoje em dia, mas eu te coloquei no mundo, meu filho. Eu te conheço melhor do que ninguém. - sua indagação me deixa chocado. Meu olhar arregalado arranca um sorrisinho de sua boca. Não me contenho...

-Já te disseram que seu lado observador e irônico é irritante? - pergunto irritado sem disfarçar meu embaraço. Em certos aspectos puxei muito de sua personalidade, e esse lado dela é como se eu estivesse vendo a mim. É muito irritante. Ela sorri ainda mais abertamente de forma a acentuar suas rugas e diz...

-É claro que eu sei disso, mine syn. O que te irrita ainda mais é o fato de você ser muito parecido comigo nesse aspecto. Inclusive seu pai sempre reclamava disso, o fato de eu ser observadora demais para uma mulher. Como se mulher não pudesse pensar, ora essa! Segundo seu otiets*,  a função de uma mulher era somente para procriar, cuidar dos filhos e da casa. Pensar por si mesma? Nunca. Saber dos negócios? Muito menos. Se tem uma coisa que mais me orgulho é que você se livrou daqueles pensamentos arcaicos. Não te culpo por ter passado tantos anos sendo uma cópia do seu pai, assisti de camarote e completamente impotente tudo o que ele fez com você. Me culpei por muitos anos por você ter se tornado daquele jeito e não ter movido uma palha para mudar isso.  - finaliza com os olhos carregados de uma tristeza que nunca achei que veria em seu rosto. Não sei o porquê ela está dizendo tudo isso. Talvez por ter sido reprimida por tanto tempo ou por não termos tido a oportunidade de conversar de verdade sobre esse assunto depois que eu mudei minha forma de pensar e resolvi ser quem no fundo sempre fui. Meu dilema interno é esquecido momentaneamente e olho para seu rosto.  "Você se culpou por isso, mat'? Ainda se culpa por ter sido incapaz de fazer algo a respeito na época, não é? Eu nunca achei que você foi conivente com o imbecil do meu pai. Ao contrário, sempre te julguei vítima não só de seu machismo como também sei o quanto te fiz sofrer ao ter sido igual a ele por tantos anos... Não imaginei que carregava isso dentro de si."  Observo seus olhos que depois dessa confissão expressam uma culpa antiga e digo o que devia ter dito há muito tempo...

- Pois você não devia se culpar por isso. Sei que no fundo ainda se sente desse jeito. Mat'... você não teve liberdade de escolha, foi impedida a não fazer nada não só pelo cretino do meu pai, mas também por mim. Se alguém tivesse que carregar alguma culpa por boa parte do seu sofrimento, esse alguém sou eu. Vi o que ele te fez, fui cúmplice e seguidor de sua filosofia doente por anos. Na obsessão em fazer do meu filho um 'exemplo', o privei de carinho, de cuidados... e apesar de amá-lo incondicionalmente, fui um carrasco ao descontar nele toda uma frustração por também ter sido privado de pensar. E não só com ele! Fiz você ver o quanto eu parecia mais com meu pai, te deixei triste, fiz da vida de Aleksandra um verdadeiro inferno. Eu bati nela, mat'. Fiz nela as mesmas coisas que... - respiro fundo para controlar minha fúria ao lembrar - ...Andrei fez com você. E se existe algo que me dê mais nojo é isso. Quando lembro o que aquele cretino te fez, mat'... Quando penso em todo o sofrimento que você passou e em como eu estava tão alheio a tudo isso seja por compartilhar daquele estilo de vida nojento ou mesmo por estar enfiado dentro dos meus próprios problemas, não consigo me perdoar por isso! Não consigo frear minha vontade de ferir aqueles que te prejudicaram. Se meu pai voltasse do inferno, eu com certeza o mataria de novo por tudo o que fez a você. Eu queria tanto que... - meu discurso lotado de mágoa e raiva é interrompido por sua mão enrugada cobrindo a minha. Em seus olhos... Ah, brilham amor. Com a voz embargada pela emoção por ter a oportunidade pela primeira vez em sua vida em poder agir como uma mãe que aconselha o filho, ela diz...

-No fim das contas acho que todos acabam por sentir culpa por algo, mine syn. Tem muitas coisas que ao olharmos para trás sentimos arrependimento. Acho que é inevitável em alguns momentos lembrar e não sentir culpa pelas coisas que poderíamos ter feito diferente. Mas... Isso muda o passado? Afinal de contas, é exatamente ele que nos torna quem somos. Se nada tivesse acontecido comigo, com você ou mesmo com Victor, será que seríamos as pessoas que somos hoje? Não nego que em muitos momentos sinto tristeza e culpa por algumas coisas que aconteceram, mas ao olhar para você vejo um crescimento tão grande, syn. Nós aprendemos é nos momentos difíceis e principalmente com nossos próprios erros. Eu não poderia sentir mais orgulho do homem que você se tornou e tenho certeza que Aleksandra esteja onde estiver, também sente o mesmo. Sabe... ao contrário do que você pensa, ela nunca te odiou. Ela sabia que você vivia amordaçado e sua rebeldia muitas vezes foi uma tentativa de fazê-lo enxergar a verdade. Tenho certeza que se ela estivesse viva seria uma amiga muito preciosa. Então... não pense mais nisso. Eu também procurarei não entrar nessa linha de pensamento pois tudo o que aconteceu nos traz aqui hoje. Você é o melhor filho, melhor pai e melhor amigo que alguém poderia ter, mine syn. - suas palavras e olhar brilhoso por modestas lágrimas me fazem perder a capacidade da fala. Com tudo o que aconteceu e mesmo com meus dilemas psicológicos, sinto de uma certa forma conforto e alívio. Sim... conforto em saber que minha mãe me enxerga dessa forma e alívio por saber que no fim das contas mesmo tendo sido um cretino com Aleksandra, ela nunca me odiou por isso. Retribuo seu carinho com um leve aperto em sua mão e o sorriso que se abre em seu rosto me dá um frio na espinha pois sei que ela ainda está longe de terminar. Engulo em seco conforme ela quebra o breve silêncio... - E com essa nova linha para nos apegar e deixar de lado coisas que devem ficar no passado, acredito que o que sobra agora são esses sentimentos controversos e que estão além da compreensão aí dentro de você, não é? Sabe, mine syn... a nossa família sempre priorizou a discrição, sempre foi impessoal e prezou pela racionalidade acima de qualquer coisa. Por gerirmos uma grande multinacional e tendo que lidar com interesseiros, seu otiets bateu de frente com situações onde muitos golpistas inclusive apelaram para o lado sentimental de sua falecida tia Sasha depois que perdeu o marido. Você não sabe disso pois esse assunto foi dado como encerrado e esquecido antes de eu entrar para a família, mas fiquei sabendo pelas primas de seu pai em jantares quando era noiva dele, que os Nikiforov foram vítimas de um golpe do então marido de sua tia na época, onde quase todo nosso patrimônio foi roubado. Vonda, o marido de sua tia, com todo o seu carisma conquistou a todos e passou de um mero membro da família a homem de confiança do seu avô em um período muito curto de tempo. Ele passou para o próprio nome muitas terras ludibriando a mente de seu avô, que confiava tão cegamente nele. Se não fosse seu pai a descobrir tudo, hoje provavelmente estaríamos morando de aluguel e mal tendo o que comer. Vonda desapareceu misteriosamente e nunca mais foi visto, e considerando o fato de que tudo o que ele roubou ter sido devolvido como se nada tivesse acontecido, só me leva a crer que alguém da família 'tirou'...  - diz fazendo sinal de aspas com os dedos - ...ele de cena.Tudo foi um grande choque para Sasha, que ao meu ver acabou adoecendo e posteriormente morrendo por desgosto. Seu avô não demorou muito para adoecer também e seu pai juntamente com Andrei tiveram que lutar para recuperar toda a credibilidade manchada da Família Nikiforov. - o som dos pedestres passando pela praça, brincadeiras de turistas e mesmo as conversas nas mesas perto da nossa desaparecem. Estou completamente em choque com essa revelação. Minha tia Sasha e meu avô faleceram antes do meu nascimento, e assuntos sobre os dois quando perguntados por mim eram sempre respondidos com evasivas. Sempre achei que o luto tivesse feito isso, mas o que mais me intriga além de nunca ter ouvido nada a esse respeito é o porque mat' resolveu contar isso agora... imaginei que ela falaria algo a respeito de todo o meu drama pessoal e saber disso nesse momento não sei se me deixa aliviado ou apreensivo, afinal, minha mãe não dá ponto sem nó. Como se estivesse sentindo o rumo dos meus pensamentos, ela continua... - Agora você deve estar se perguntando o porquê eu disse tudo isso, certo? É simples mine syn... primeiro porque acho que você deve saber de algumas histórias acerca do passado que foram proibidas, acho uma falta de respeito com a memória de Sasha que a causa de sua morte tenha sido retratada como complicações decorrentes de sérios problemas mentais.  Ela só foi uma pessoa que amou muito e que foi enganada, era uma mulher cheia de fibra e que amava a vida. Sofrer uma decepção dessas foi como se tivessem tirado parte de sua alma... Entendo toda a luta do seu otiets para recuperar a honra da família, mas os meios e principalmente a forma com que ele via as coisas sempre foram distorcidas e extremistas, você viveu bem na pele isso. Cheguei muitas vezes a me perguntar se ele mesmo não via a hora de seu avô morrer para que pudesse levar as coisas ao seu modo, já que o pai dele era como Sasha também. E em segundo lugar... é porque se trata de sentimentos, syn. Com toda a personalidade amável e sensível de seu avô e de sua tia Sasha, depois de tudo o que aconteceu a filosofia de seu pai de que  sentimentos são uma fraqueza passou a ser o guia da Família Nikiforov. E antes que você me pergunte qual é o problema em querer ser mais racional, eu digo que não há problema algum, mas isso não significa que não podemos ser conscientes do que carregamos dentro de nós. A verdade é que sentimentos verdadeiros e amor sempre foram um 'tabu' em nossa família pelo simples fato de que todos sempre foram péssimos em lidar com isso. Preferem se esconder atrás de uma máscara racional deixando de entender o que levam dentro do peito, optam por ignorar ou nem mesmo buscam respostas para assim saberem lidar melhor com isso... Como se amar fosse pecado, como se ter compaixão fosse um erro. Durante muitos anos, como você bem sabe, qualquer ato sentimental ou impulsivo regado a sentimentos sempre foi uma afronta e sinal de fraqueza. Agora entra a pergunta que não quer calar... por que ser assim? Por que abominar algo simplesmente por não entender?! E principalmente... por que ter medo  de entender? Não seria tudo mais fácil se ao invés de esconder sentimentos que vão alem da compreensão por pura covardia, tentar entendê-los para saber lidar com eles?! Será que se Sasha tivesse sido ouvida, se tivesse sido acolhida por todos e acarinhada por estar destruída sem julgamentos, as coisas não poderiam ter tido um final melhor para ela? Seu avô era errado em ser alguém mais humano? Em querer fazer o bem e ser honesto? Em amar a família e confiar?! Afinal de contas, ele confiou e amou Vonda como se fosse um filho, só foi enganado no meio do processo porque acreditou na pessoa errada. Você ama o Victor, aprendeu a amar o companheiro que ele escolheu, este que caiu como uma bomba em cima de sua antiga forma covarde, se me permite dizer, de ver as coisas. Foi algo ruim de acontecer? Olhe a pessoa que você é hoje depois de tudo! Yuri de um jeito único te ajudou a melhorar mais como pessoa. E sabe porquê ele conseguiu isso? Porque ele não esconde o que sente, ele é intenso. Sentimentos para ele ao invés de serem uma fraqueza são sua força. Estou ansiosa para conhecê-lo no casamento do meu neto para agradecer tudo o que ele fez não só pelo Victor, mas também por você.  - estou sem palavras com tudo o que sai de sua boca. "Como você sabe de tudo isso mat'? Fazia anos que não tínhamos contato!"  Em resposta ao meu espanto ela continua... - Sim, mine syn... Eu sei de tudo porque a Mila me contou. Posso não estar presente na sua vida, mas sempre quis saber como andavam as coisas com meu amado filho. Coisas de mãe. Acredito que hoje você conheça melhor ainda esse tipo de sentimento.  - ela finaliza me olhando com amor. Tudo o que ela viveu, tudo o que compartilhou agora comigo, mesmo todo o sofrimento que passou ao enfrentar o egoísmo de meu pai, só mostram o quanto passar por cima disso e pensar por si mesma, observar as coisas e aceitar seus próprios sentimentos referentes a tudo a tornam essa pessoa extraordinária. Minha mat' tem uma visão única das coisas, é boa de coração e como sabe lidar com mágoas e decepções! Ao contrário de mim. Sim... é verdade que amo meu filho, amo o Yuri como se fosse do meu sangue, mas isso me torna melhor do que meu pai? Ele com certeza deu cabo de Vonda para salvar a família, assim como eu dei cabo de Hideki Keiji por vingança pelo que ele fez contra meus dois filhos. As motivações não foram as mesmas, mas... será que isso nos torna diferentes no final de tudo? Eu carrego sombras dentro de mim, não sou inteiramente íntegro e sinceramente meu único medo é meu filho descobrir que eu matei aquele desgraçado, porque remorso eu não tenho nenhum. O que posso me tornar ao mesclar esse lado obscuro a sentimentos que procuro guardar a sete chaves dentro de mim? E o que são esses sentimentos? É culpa, paixão ou mesmo amor? A racionalidade tem sido minha companheira por tantos anos... Quando tento imaginar sentimentos passionais sinto que começo a sufocar, se penso em Sergei ao mesmo tempo em que sinto um frio na boca do estômago, também sinto dor... Quando vejo o estado que Ivan fica em seus momentos de 'limbo',  os resultados do quanto ser guiado por sentimentos pode ser uma faca de dois gumes também ficam bem claros para mim e me deixam com um gosto amargo na boca. Em contrapartida, quando olho para Victor e Yuri e tudo o que enfrentaram tendo o amor  e a confiança mútua deles como sua força... é simplesmente admirável. Será que estou pronto para isso? Será que sou corajoso  o suficiente e conseguirei compreender o que carrego dentro de mim? Fui guiado pela paixão somente uma vez na minha vida...  o resultado foi a vergonha, a chacota, o espancamento por meio de meu pai e a constatação de que se permitir a isso foi um erro. "Agora isso poderia ser diferente? Eu confesso que não sei."  Com um olhar carregado de completa inexperiência nesse departamento, encaro minha mat'...

-Entendo o que quis dizer mat', mas não sei se isso é aplicável a mim. Ser guiado por sentimentos não me trouxe coisas boas, a senhora sabe muito bem disso. O que poderia ser diferente agora? A senhora mesmo ouviu as palavras de Evgenia. Sergei estava transtornado! Eu impus algo que ele sempre deixou muito claro que não queria! Posso ter mudado e tudo mais, mas algumas coisas se tornaram parte de mim com tudo o que passei. E entre essas coisas está... o medo de reviver o passado. Sim... tenho medo do que posso encontrar e principalmente em ser rechaçado por seja lá o que carrego por Sergei. Percebe que isso pode ser uma reprise do que foi com Nikolai? Não sei se quero passar por aquilo de novo. Eu vivo para meus filhos, para o bem-estar daqueles que são importantes para mim. Eu não sou mais um jovem sonhador que acredita que o amor se aplica a mim, não penso... - minhas falas são interrompidas pelo seu tom de voz baixo, mas que contém tanta seriedade que é como se estivesse gritando...

-Mas você vêm sendo guiado por seus sentimentos há muito tempo, mine syn. Ainda não percebeu? O que fez e faz pelo Victor e Yuri, a ajuda que fornece a Ivan, que apesar de eu não saber exatamente como é a relação de vocês, vejo o quanto sua existência é essencial para que ele siga em frente, inclusive o fato de tê-lo deixado para trás hoje em seu gabinete sei que foi para que ele pudesse melhorar ainda mais, syn. E se formos mais além, temos sua interferência para a minha segurança, você me defendendo do seu tio Andrei, assumindo a empresa disposto a me ajudar nessa parte dos negócios que não tenho conhecimento algum, sua preocupação constante com Sergei desde que ele era uma criança quando afagava sua cabeça e dizia que tudo aquilo ia passar a cada vez que a mãe dele apanhava do marido. Mesmo na época em que seus conceitos eram distorcidos, você sempre agiu por paixão, sempre foi movido por sentimentos que na maioria das vezes não fazia ideia que sentia.  Syn... os sentimentos sempre foram o seus guias, e apesar de todos na família sempre dizerem que era uma fraqueza, isso sempre foi a sua força. Não se trata somente de Sergei e sim dos sentimentos que carrega por todos aqueles importantes para você. Agora basta somente olhar para dentro de si e entender o que carrega por cada um que possui um espaço em seu coração, para que assim você possa encarar as situações com a maturidade de um adulto e não com a inocência de uma criança. Você vai se surpreender, eu garanto. Seu pai morreu sem saber o que é isso, Andrei caiu por desdenhar disso e você... continua em pé porque isso sempre foi o que te faz diferente deles. - suas palavras me deixam absolutamente em choque. Confusão e insegurança, algo que poucas vezes senti na minha vida, estão estampadas na minha cara. Nunca sequer imaginei que minha mat' visse isso em mim, para falar a verdade eu nunca pensei a respeito porque sempre achei extremamente normal agir por intermédio daqueles que são importantes. Não sei o que sentir, não sei o que pensar... "E-eu venho me guiando pelo amor a vida toda???? C-Como isso é possível??? Como nunca associei isso a sentimentos????” Minha expressão totalmente óbvia e falta de palavras faz com que mat' peça a conta e olhe para mim com ternura... - Acho que por hoje já chega, vamos para casa e pense com carinho em tudo o que conversamos aqui e principalmente, analise com atenção tudo o que carrega dentro de si, mine syn. As coisas serão diferentes depois disso.

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Lembrar das palavras de minha mat' me trazem a sensação como se um véu estivesse sendo tirado dos meus olhos. Todas as revelações a respeito de assuntos proibidos na minha família e a descoberta que a racionalidade nem sempre foi o ponto forte dos Nikiforov foi revelador.  E no que diz respeito a mim? A descoberta que no fim das contas não sou tão diferente de tia Sasha e meu avô. A forma como Ivan poderia reagir era o que mais me preocupava, dado que não fui muito sutil e muito menos racional com o que fiz ao Myers para que sentisse um pouco na pele o que sempre faz com meu homem de confiança. Todo o seu martírio, seu silêncio cada vez que perguntei sobre o que fez com que ele apelasse para coisas tão dolorosas para que pudesse ter um pingo de racionalidade para seguir em frente, toda a fragilidade em seu rosto a cada vez que Myers o chamava de puta... Sua dor, suas cicatrizes, minha impotência em não poder fazer nada por ele além do sexo brutal e minha fúria ao me dar conta de que o detetive tinha algo a ver com isso não me deixou racional. Só pensei em retribuir o favor por ter pisado em meu homem de confiança como se ele fosse uma barata. Pensando bem, venho fazendo isso há muito tempo... Permiti que Victor retaliasse Sergei por ter espancado o Yuri mesmo com minha revolta por meu filho estar envolvido com um homem na época, matei Hideki Keiji por ter se metido com meus dois filhos e teria matado meu tio Andrei pelo que fez minha mat'. " Oh, acho que entendo o que quis dizer com ser movido pelos sentimentos, mat'. Mas... como posso dar o primeiro passo para entender tudo o que diz respeito aquele homofóbico?"  Tantos atos impensados em prol daqueles importantes, mas quando se trata de mim e possíveis sentimentos amorosos, o que vem a tona? Sergei. No início sempre achei que se tratasse de companheirismo, lealdade por tê-lo a vida toda ao meu lado em todos os momentos e a descoberta depois que me assumi, de que ele é mais do que um mero funcionário e amigo de infância. Mas mesmo assim... o que isso significa pra mim? Sinto desejo por ele? Absolutamente. O amo? Não tenho como nomear dessa forma, a única coisa que sei é que quando o toquei foi como se o mundo exterior não existisse, meu coração bateu tão forte que podia ouvi-lo em meus ouvidos e sua expressão nos poucos momentos em que esteve entregue me causou uma euforia da qual nunca senti. Tirando os sentimentos que carrego pelo Victor e Yuri, foi algo novo e que ao mesmo tempo em que me deixou em êxtase, também me senti como uma criança começando a descobrir sensações. Foi intenso, maravilhoso e algo que nunca vou esquecer, mas como dois lados da mesma moeda, a euforia foi substituída pela dor quando ele me rechaçou, quando se referiu a mim como 'viado nojento'... e em meio a minha própria auto descoberta, essa foi uma parte que não consegui nomear os sentimentos, não tive tempo para isso. A dor por ter confundido e magoado meu braço direito conseguiu ser até pior do que a dor que senti pela sua rejeição. "Como posso entender o que sinto por ele se a cada vez que sua imagem vem na minha mente só enxergo sua expressão desesperada?Como vou lidar com sentimentos que não entendo se lembrar dele só me causa dor?"  Com o alívio por Ivan ter se libertado em meio a um agradecimento e sentimentos direcionados a mim que jamais poderia esperar dele, depois de expor minha apreensão quanto ao meu braço direito, o que sai de sua boca neste momento me deixa absolutamente em choque.

-Faça amor comigo como você gostaria de fazer com ele. Jogue para fora o que você reprime, Dimi... - a forma como ele sempre me chamava nos lábios de Ivan me deixam sem saber como agir. É nostálgico, é acolhedor e meu coração acelera com essa simples menção. "O que eu faço? Por que me olha diferente, Ivan? Por que me propõe isso? Transar com você pensando em Sergei? Até que ponto você está disposto a se sacrificar? Tem alguma ideia do que isso significa?"   A certeza em seus olhos de que isso é o certo mesmo com todas essas perguntas óbvias nos meus calam qualquer palavra que poderia sair de minha boca. Seu olhar é como se ordenasse para eu me aproximar e acabo colando meu corpo ao seu sem me dar conta disso... e o que sai de sua boca é como uma resposta aos meus pensamentos cada vez mais confusos... - Essa não será a primeira vez que você vai transar comigo pensando nele, mas diferente das outras vezes eu serei o Sergei que você imagina... Chega de sofrer, chega de guardar isso dentro de você... como seu parceiro, como aquele que viu quase todos os seu lados, estou disposto a te libertar disso também. Por favor, Dimi... Me faça seu. - escutar meu apelido em forma de sussurro me põe em um transe. As palavras de mat' ressoam em meu subconsciente...

"...por que ter medo  de entender? Não seria tudo mais fácil se ao invés de esconder sentimentos que vão alem da compreensão por pura covardia, tentar entendê-los para saber lidar com eles?!..."

Os lábios entreabertos de Ivan, sua respiração descompassada pela proximidade de nossos corpos, seu olhar tão... decidido a me ajudar a entender... "Por que ter medo, Dimitri? Por que não descobrir? Por que não compartilhar sua fraqueza com seu homem de confiança? Seu parceiro em tudo?"  Pensamentos coerentes me abandonam e extravaso tudo o que carrego dentro de mim por Sergy  que nunca tive coragem de mostrar a ninguém, nem a mim mesmo.

Colo minha boca na dele e o beijo é doce, suave e ao mesmo tempo tão intenso... Aperto seu corpo de encontro ao meu e sinto-o queimar... ambos queimamos com um simples beijo e seu gemido abafado com nossas línguas se saboreando me levam ainda mais para dentro de mim, para minha auto descoberta. Pego Ivan no colo com minha mente ecoando 'Sergy... sinta... esse sou eu para você...'  e deito seu corpo perfumado e envolto no roupão na minha cama. Não, não será bruto, não terá flagelos e nem sadismo. Não com o Sergy... para ele tem devoção, carinho e seja lá tudo o que meus instintos reservam para ele. Abro seu roupão e sem dizer nada o contemplo enquanto tiro cada peça da minha roupa sem quebrar o contato visual até ficar totalmente nu. Estamos numa dimensão paralela, num mundo onde só existe nós dois e mais nada. Eu preciso disso, preciso dele. Mesmo sabendo que não é Sergy nessa cama, a entrega total de Ivan me direciona a isso, me instiga a dar o meu melhor, instiga a me devotar... "Isso é o que guardo por você, Sergy. Isso é o que tenho vontade de fazer a cada vez que penso em como seria se você correspondesse..."  Deito de encontro a Ivan e tomo sua boca com carinho, mas com um desejo do qual eu nunca senti. Deslizo por seu pescoço e sinto sua jugular acelerada conforme minha língua saboreia a pele arrepiada. Suas mãos trêmulas apertam meus braços e o gemido longo seguido do meu apelido quando minha boca abocanha seu mamilo me deixa duro como pedra...

-Oh, Dimi... Hum...  - movimentos circulares de língua seguidos de leves mordidas em um, enquanto no outro leves beliscos seguidos de carícias que levam meu homem de confiança presente e o Sergy dos meus pensamentos a se contorcer abaixo de mim. "Sim... é tudo para você. Hoje eu só quero que você sinta..."  Minha boca vai descendo por todo seu abdômen distribuindo beijos, mordidas e lambidas a medida que meus dedos fazem movimentos circulares em toda a lateral de seu corpo, como se fosse para certificar de que minhas digitais fiquem tatuadas na pele. Os arrepios me agradam, o sabor da pele me enlouquece, e o gemido em sua boca conforme minha língua circula seu umbigo quase me faz gozar... - Ah... Oh, Dimi... - sem dar oportunidade para qualquer ato, com minhas mãos agora em seus joelhos abro suas pernas e deslizo meus dedos pela parte interna de suas coxas. Seu pênis pinga em excitação, o que faz minha boca salivar. Foram poucas vezes que fiz sexo oral em Ivan, ele nunca foi muito adepto das preliminares, e o fato de que me permita a isso além de me fazer mergulhar ainda mais no desejo, mostra o quanto ele está envolvido nisso comigo. Sim... Sergy povoa meus pensamentos, mas tenho plena consciência do quanto isso custa para meu homem de confiança nesse momento também. Com essa realidade dúbia meu desejo aumenta ainda mais e sem qualquer aviso abocanho seu membro pulsante sentindo todo o seu sabor. Ivan de uma forma que não faz a menor ideia, agarra meus cabelos da mesma forma que Sergy fez quando me permitiu senti-lo no meu gabinete e não consigo refrear o gemido abafado que sai de minha boca conforme inicio movimentos de vai e vem em toda sua extensão. O sabor do pré-gozo é delicioso e os gemidos que se apossam de seu corpo a cada estocada com minha boca quase fazem eu me perder. Inebriado e afundado dentro de meus instintos, meus dedos brincam em suas bolas, e assim que abandono seu membro e substituo por minha outra mão, minha língua acaricia seu períneo de forma constante, fazendo seu prazer ir a um nível tão extremo e convulsivo que paro meus movimentos e digo de forma totalmente instintiva e inconsciente...

-Shhhh... fique calmo e relaxe. Nós só começamos, amor. Sinta tudo o que guardei para você... - os tremores excitados tomam conta de nós dois quando sem dizer mais nada, engancho suas duas pernas no meu braço e sem sentir peso algum levanto, fazendo a região do meu objetivo ser revelada para mim. Com dois dedos abro as abas de suas nádegas e sem qualquer aviso enterro minha língua em sua entrada. Os sons que recebo em resposta... Ah... não existem palavras possíveis para se pensar...

-Aahhh....... Dimi!!!! Ohhh....  - é tudo desconexo, é só sentidos, só prazer e devoção. Minha língua trabalha incansavelmente nessa parte tão deliciosa. Se estivesse num momento 'racional' isso nunca seria possível, já que nunca fiz isso antes. Ivan nunca permitiu... essa foi uma das poucas exigências que fez no início de nosso envolvimento. E vê-lo vestir essa máscara de Sergy por mim não passa despercebido num contexto geral. Mas pensarei nisso depois, o que estou vivenciando é algo novo, algo que nunca fiz e principalmente, algo que nunca me permiti sentir por estar sempre preso à minha racionalidade. Os instintos comandam minha língua em sua entrada, meus instintos  me guiam a sair dessa região e umedecer dois dedos e penetrá-lo. Sua resposta aos meus instintos é instantânea.... Gritos enlouquecidos e com nossa posição que nesse momento revela somente o quanto somos capazes de sentir prazer num nível completamente diferente. Em nosso universo paralelo, meu terceiro dedo pede passagem e nada mais restando de sanidade à sua entrega para mim, entramos num frenesi jamais visto. Frenesi tão grande que o fato da casa ainda estar acordada pouco importa, a porta sendo levemente aberta pouco importa e o fato de sermos observados menos ainda. Estamos em outro lugar, sentindo coisas nunca antes sentidas e foda-se o resto do mundo. Tenho meu Sergy aqui comigo na pele de um Ivan que me oferece tanta devoção como nunca ninguém fez. A ponto de me perder totalmente, retiro meus dedos de sua entrada já preparada e quando meu homem de confiança faz menção em virar de costas, eu interrompo...

-Não vire. Quero ver sua expressão quando gozar para mim.  - seus olhos vermelhos por lágrimas em meio ao êxtase de seu olhar nublado pelo desejo não permitem nenhuma réplica. Levanto mais seus quadris  e sinto minha sanidade, se é que ainda restou alguma, me abandonar conforme entro de forma devagar em seu interior. Apertado, delicioso, enlouquecedor... Começo a estocar de forma vagarosa com seus gemidos enlouquecidos em meio as lágrimas de tesão. Tomo seus gemidos em minha boca completamente estarrecido com o tamanho das sensações que nos cercam... Completamente inconscientes dos olhares para nós, completamente inconscientes da porta que é fechada pois estamos num outro lugar. Intensifico meus movimentos e meu Sergy incorporado em Ivan com suas unhas castigando minhas costas, solta seus lábios dos meus e solta um gemido tão erótico que preciso me segurar para não estragar um momento tão sublime. Sim... acertei seu ponto e agora é só explodirmos juntos. Levanto seu tronco junto a mim e nossa dança movida a sensações e instintos, a imagem do meu braço direito na mente e tudo o que solto nesse momento só ecoa uma palavra em minha mente... "Amor..." Seu êxtase arranca o último fiapo de controle que carrego comigo...

-Aaahhh! Dimi!!! Eu vou... - sim... nós vamos. Sua entrega libera a relutância, o medo e a covardia. Um orgasmo avassalador domina a nós dois. Caímos sobre os lençóis bagunçados completamente exaustos e puxo Ivan em um abraço para que não se afaste como sempre faz. Quanto a mim? Está tudo mais claro. Sim... finalmente compreendi o que carrego comigo e o porque é tudo muito mais intenso quando sentimentos estão envolvidos. Entre o que é certo ou errado ou mesmo formas tortas de se descobrir as coisas, o que sinto é algo que me elucida de forma tão certeira quanto os sentimentos que carrego pelo meu filho e mãe. Amo Sergei e hoje consigo entender isso. Amo Ivan? Absolutamente. Talvez não da mesma forma que Sergy, mas de um jeito que é só nosso. Isso me faz um traidor dos sentimentos que possuo pelo meu braço direito? Acredito que não porque existem inúmeras formas de se amar. Somos duas pessoas castigadas pela vida que entendem um ao outro como poucos, seria hipocrisia dizer que é só camaradagem.  Em meio as minhas constatações, sinto o corpo de Ivan tremendo levemente e tudo isso é substituído por preocupação.Viro seu corpo de frente para mim e fico chocado com o quanto meu homem de confiança parece frágil. Seu rosto se esconde em meu peito e o desespero toma conta de mim...

-Ivan! Meu Deus, você está bem? Está machucado? Não devia ter se sacrificado desse jeito por mim! Droga! Olha pra mim!  - levanto seu rosto com um toque suave em seu queixo e o que vejo me deixa sem fala. Ele está ileso, com exceção de seu olhar que mostra uma vulnerabilidade que nunca vi mesmo depois de ter se libertado das amarras do passado. Olho dentro dos seus olhos que mesmo na meia luz do quarto brilham pelas lágrimas. "O que está acontecendo??? Por que você chora??? Te fiz algum mal? Não me perdoaria se isso acontecesse!"  Notando o desespero em meu olhar, Ivan dá um sorriso cálido para mim e com suas falas chego a outra constatação...

-E-eu e-estou bem, chefe. V-você não me machucou. Se fizesse isso o propósito do que acabou de acontecer não teria sido alcançado. Não houve sacrifício aqui. Só estou feliz por você ter se dado conta de algo que é totalmente óbvio para todos. Faria tudo de novo se isso pudesse dar a chance de colocar um sorriso no seu rosto. - ele engole em seco e continua - Eu... só... não estou acostumado a isso. Não se preocupe comigo, não é nada demais. - finaliza tentando se desvencilhar o meu abraço, mas não permito. O que acabei de ver... "Nunca se tratou de sacrifícios... Nunca foi por dever e nem para provar que é alguém de confiança....Há quanto tempo, Ivan?"  Não consigo frear a afirmação que sai de minha boca...

-Você me ama. - meu homem de confiança estanca no lugar e enxugando as lágrimas, dá um suspiro cansado ao olhar para mim...

-Acho que sim, chefe. Para falar a verdade, nem eu tinha muita ideia do que sentia até conhecer Dona Olga. Seria hipócrita se dissesse que não possuo sentimentos por você, mas tenho plena consciência de que não sou o mesmo que o Sergei é para você. Não tenho vontade de competir com seu braço direito pelo lugar que pertence a ele. Eu sei que também sou importante na sua vida, sei que tenho um espaço nos seus sentimentos. O que você me deu é muito mais do que imaginei e eu só quero que você seja feliz. Sua felicidade é a minha e isso pra mim é o suficiente. - fico completamente abismado com o que acaba de sair de sua boca. Eu tinha uma noção de que Ivan tinha um apego a mais por mim, mas nunca... jamais imaginei que fosse algo dessa magnitude. Seu olhar não possui inveja, não tem mágoa, não tem nada além da vontade de me ver bem. Nunca pensei que ele pudesse sentir algo assim. Algo tão puro, abnegado... um amor tão ágape.  Sem dar tempo para que eu fale qualquer coisa, mesmo porque com essa revelação palavra nenhuma é capaz de sair de mim, meu homem de confiança dá um beijo suave em meus lábios e levantando da cama, coloca o roupão novamente. Antes de sair porta afora, ele lança um olhar brilhante em minha direção... - Fico contente que você tenha conseguido entender o que carrega dentro de si e espero que o Sergei possa dar valor a isso, mas assim como disse a ele quando o confrontei hoje a tarde, acho que não há necessidade de esconder isso de você também... Eu entendo o que acontece ao redor de vocês dois, sei que tem muita coisa aí para se encaixar e torço para que tudo se encaminhe para isso, mas... se ele não valorizar o sentimento que você carrega, eu vou encarar isso como um sinal verde para lutar pelo lugar que pertence a ele. - em meio ao meu olhar chocado, Ivan lança um sorriso de canto de lábio e completa antes de sair... - É... no fim das contas, acho que não sou tão altruísta assim.

Sua saída me deixa abismado, sem a capacidade de me mover... Apesar de também ser importante como poucos para mim, a revelação de seus sentimentos, algo que ele sempre fez questão de esconder tão bem, foi algo que eu jamais esperaria dele. Ao passo que o que sinto por Sergy está claro como água, a parte de Ian me deixou estranhamente confuso no final. Sua expressão de um amor nunca antes direcionado a mim me deixou ansioso, nervoso e inusitadamente foi como uma descarga elétrica em mim. "Por que acelerou depois dessa confissão, coração? Eu entendi a importância de Sergy para mim, mas e quanto ao Ivan? Por que fiquei mexido com suas palavras? Argh...! O que farei com tantos sentimentos?"

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Dois dias se passaram e tudo o que aconteceu no meu quarto não sai de minha cabeça. Tenho maior consciência do que carrego comigo e de uma certa forma me sinto mais calmo. " Tirando o sorrisinho conspiratório da mat' no dia seguinte do acontecido comigo e Ivan e que poderia ter me matado de vergonha se eu possuísse isso, ela tinha razão ao afirmar que as coisas realmente ficam diferentes depois que começamos a entender o que temos dentro de nós."  Sim, de fato. Estou mais lúcido no que diz respeito a Sergy, mas.... a última parte ainda martela em minha mente. Ivan age como se nada tivesse acontecido e Sergei não dá as caras desde o incidente  no meu gabinete. Bom... eu não o culpo. E tirando todo o drama dos possíveis amores de Dimitri Nikiforov que fariam qualquer homem que se preze revirar os olhos e morrer de diabetes, a parte do que aconteceu com o Myers está tranquilo. E quando digo tranquilo não é no bom sentido. Tanto eu quanto Ivan esperávamos algum tipo de 'revide' ou mesmo a intensificação na investigação da morte do demônio, mas nada. O silêncio de Myers soa como um mau agouro para mim, mas tento não despejar nenhuma suposição infundada no meu homem de confiança pois isso não faz o meu estilo. Estamos às vésperas do casamento do meu filho e a última coisa que quero é ficar bancando o afetado psicologicamente.  Coloco os documentos, o dossiê sobre Ivan que não tive tempo e nem cabeça para analisar e o celular maldito que ele insistiu que eu deixasse para trás no cofre e conforme aciono a senha de bloqueio, ouço batidas na porta do meu gabinete.

-Pode entrar.  - digo sentando em minha poltrona e tento disfarçar meu espanto e nervosismo com a entrada de um Sergei cabisbaixo e que parece não dormir desde o nosso último encontro. Ele olha para o sofá e cora, trazendo a tona não só o que compartilhamos naquele dia, mas também as palavras que me machucaram. Seu rosto acima de tudo carrega culpa e mágoa, não muito diferente do meu. Controlando meu batimentos cardíacos mais intensos agora que sei o que sinto por esse homofóbico, digo com voz contida... - O que deseja, Sergei? Veio pedir sua demissão depois que eu tentei te coagir a ser um viado nojento? - não consigo mascarar minha mágoa nas palavras que são de longe muito diferentes das que eu ia falar. Ele me lança um olhar contrariado sentando no sofá, engole o que provavelmente ia dizer e com um suspiro diz...

-Não vim me demitir, chefe. Gostaria de me desculpar pela forma como falei com você naquele dia. Sei que te magoei com isso e nem peço que esqueça, mas espero sinceramente que me perdoe. Você me conhece desde que eu nasci, sabe que eu jamais teria a intenção de te ofender se não estivesse confuso ou abalado de alguma forma. Então, não. Não quero me demitir.  - no meio de suas palavras vejo que sua expressão se converte na carranca habitual  conforme continua... - Apesar de saber que isso seria de grande alegria para aquele via... para o Ivan. Q-quer dizer... isso não vem ao caso, a vida pessoal de vocês não é da minha conta. Meu único objetivo aqui é que você me perdoe pela forma como agi. Nada justifica o que eu falei. - sua voz morre depois dessa frase. Após tudo o que compartilhei com Ivan e passei a entender melhor meus sentimentos, observando atentamente esse homofóbico que tem o dom de me abalar, chego a constatação que é exatamente por isso que ele mexe tanto comigo. Sergei é intenso, verdadeiro e não esconde sentimentos. Ele é e sempre foi tudo aquilo que eu nunca fui. E sendo tão transparente quanto a água, a verdade é que ele morre de ciúmes do que tenho com Ivan, mas ao mesmo tempo se revolta por isso porque vai contra todos os conceitos de uma vida inteira achando que se envolver com outro homem é nojento. Ele está confuso com o que aconteceu, está confuso pelo fato de não ter resistido a um homem e principalmente, agora questiona sua sexualidade. As coisas são muito claras... olhando para ele o que sinto diminui? De forma alguma, mas o fato de compreender o que tenho comigo me dá a direção certa a seguir. Sim... eu o amo. Sim... eu queria tê-lo para mim. Não... não estou disposto a servir de teste para que ele tenha a certeza do que quer. Tenho o resto de uma vida para viver e coisas para curtir depois de passar a maior parte da minha vida me reprimindo. Com uma certeza ainda maior do que devo fazer, olho para ele de forma aberta pela primeira vez e quebro o silêncio...

-Você me permite te fazer uma pergunta, Sergei? - a surpresa do meu tom de voz faz com que ele automaticamente acene positivamente. - Você odiou o que aconteceu naquele dia? Só estamos eu e você aqui, por favor responda com sinceridade. - meu braço direito cora violentamente e abaixa a cabeça para responder...

-Eu não odiei. Você sabe disso.

-Certo. Então você aceitaria ter um relacionamento comigo? Me beijaria de novo? Teria coragem de andar de mãos dadas com um homem? Se deixaria levar pelo desejo? Conseguiria retribuir o agora sentimento óbvio que tenho por você? Faria amor comigo? Diria que me ama assim como amo você?  - seu espanto com minhas perguntas feitas de modo tão sincero o deixam sem ter o que falar. A confusão em sua expressão se torna ainda mais óbvia conforme vai visualizando cada pergunta que fiz, e a certeza de que o que farei é certo apesar de ser de longe tudo aquilo que eu não queria para nosso desfecho é ainda mais acentuada. E seus gaguejos ao responder confirmam isso ainda mais...

-E-eu n-não s-sei.... E-eu n-não sei o q-que p-pensar... - Interrompo sua resposta que provavelmente iria render uma discussão e continuo...

- É difícil ver por esse ponto de vista, não é? Complicado se imaginar sendo algo que você combateu a vida inteira, certo? Pois bem Sergei... eu fui algo que não era a maior parte da minha vida. Acredito que você se lembre bem de quando meu pai me espancou por ter me apaixonado por um homem, você viu também o que me transformei depois disso. E apesar de você ter achado que eu era um cara forte, foi um verdadeiro inferno ser daquele jeito. Eu era amordaçado, Sergei. Impedido de ser quem eu sempre fui, me mascarando e me enganando dentro de uma filosofia de vida que nunca foi a minha. Me transformei no meu pai, no meu tio Andrei e considerando a forma como bati em minha falecida esposa na frente do meu filho, fui como o cretino do seu pai também. Tenho vergonha do que eu era, vergonha do que fiz as pessoas que são importantes para mim e principalmente... tenho arrependimento por ter perdido a maior parte da minha vida sendo assim. - conforme tomo a ar e sigo meus instintos mesclados a razão, também observo o quanto essa confissão o afeta. "Isso é para o melhor, Sergy. Tanto para mim quanto para você."  Com um olhar que é como uma carícia, confesso... - Eu te amo, Sergei. Fui me dar conta a pouco tempo disso da maneira correta. Mas com essa descoberta também veio a constatação de que preciso me amar também. Você sabe que me humilhar não faz meu estilo e acredito que nenhum de nós dois sejamos mais crianças pra ficar de achismos referente a coisas tão importantes quanto sentimentos. Não digo que você é gay ou não, mas acho que antes de investir aquilo de mais bonito que sinto, devo ao menos ter certeza que não estou dando murro em ponta de faca. E na atual situação em que nos encontramos é isso o que vai acabar acontecendo. Você está confuso e precisa descobrir o que realmente quer e eu não estou disposto a esperar e nem ajudar você a descobrir, mesmo porquê, algumas coisas devemos descobrir sozinhos. Eu sou homossexual, você é o quê? Hétero, gay, bissexual?  - seu choque com minha pergunta faz com que ele engula em seco e desvie o olhar - Está vendo? Nem você sabe. Enfim, você veio pedir desculpas e eu te perdôo, aliás, nunca tive raiva de você pelo que falou. Eu te amo, esqueceu?! E da mesma forma que aceitei sua sinceridade, espero que aceite a minha. Não quero mais chiliques de ciúmes por algo que nem você compreende. Essa é uma batalha inteiramente sua porque eu sei bem o que eu quero para mim. Estou com o Ivan? Estou sim. Gosto dele? Seria hipócrita em afirmar que ele também não é especial para mim, mas da mesma forma que ele respeita as minhas escolhas espero que você também respeite.  - Levanto de minha poltrona e visto o meu paletó, ao passar ao seu lado sentado no sofá com expressão atônita, faço algo que não fazia há mais de 20 anos, acaricio seus cabelos da mesma forma que fazia na sua infância e digo... - Se meus sentimentos por você forem fortes como acho que são, eles estarão lá quando você decidir aceitá-los, Sergy. Escolha seu melhor terno para o casamento do Victor, amanhã precisamos voar para o Japão. Que esse casamento também seja um novo começo para nós, Sergy... sem brigas e acusações. - finalizo e saio da sala sem olhar para trás sem me dar conta do quanto esse pequeno ato desestabilizou meu braço direito.

Saio do meu gabinete mais leve, mais sereno... São muitos sentimentos para lidar, entre eles amor, frustração, mágoas e raiva. Não é como eu gostaria que as coisas tivessem terminado, mas preciso me dar uma nova oportunidade. Seja com Ivan, Sergy ou qualquer outro que possa retribuir. Não vou mais me esconder, não vou mais me refrear...  "Que o casamento dos meus dois filhos seja um novo começo para mim."

(Continua...)


Notas Finais


*mine syn = meu filho
*Otiets = pai

* Praça Vermelha em Moscou:
https://cdnbr2.img.sputniknews.com/images/33/57/335793.jpg
*Bosco Cafe
http://photos.wikimapia.org/p/00/00/29/27/28_big.jpg


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