Guto
Não fui para o colégio, não dava para ir, não enquanto eu só pensava em Benedita. Precisa conversar com ela, terminar com aquela confusão de uma vez. E talvez...até contar da aposta pra ela. Estou cansado de mentir, para ela e para todos. Mentiras só trazem tristeza e mágoas por onde passa. E eu também não posso esconder mais os meus sentimentos do mundo. Sou apaixonado por ela.
Como desculpa para ir no Cora Coralina, pedi para minha mãe me levar até lá, para ela me mostrar o seu projeto de infraestrutura na escola. Minha mãe e a Dóris fizeram uma aliança meses atrás, e agora a minha mãe sempre está ajudando na restruturação da escola, reformando a biblioteca, as salas, o banheiro... e outras coisas. Estava caminhando pelos corredores da escola, para ver se eu achava a Benê, mas eu não encontrava ela, pensei até que tinha faltado. Só que quando eu cheguei perto da biblioteca, escutei uma voz, uma voz doce ecoando pelo corredor. Era ela, a minha Benê, recitando um poema de Cora Coralina. Me lembro desse poema... quando criança a professora me fez decorar várias poesias, e eu nunca me esqueci dessa. Entrei na sala e comecei a recitar.
Guto: Nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo…
eu te amo, perdoa-me, eu te amo…
Benê: Guto?!
Guto: E ai Benê, tudo bem?
Benê: Não, eu não estou bem, o professor faltou e estamos perdendo aula. - ela ficou em silêncio por um segundo – O que você estava fazendo aqui?
Guto: Você está bem Guto? Sim, eu estou ótimo Benedita.
Benê: Pode me responder o que eu te perguntei!?
Guto: Minha mãe e a Dóris fizeram um acordo meses atrás, e agora a minha mãe oferece ajuda na infraestrutura do Cora.
Benê: Então pede para ela mandar novas prateleira para livros, porque essas estão enferrujadas.
Guto: Pode deixar. – riu
Benê: Do que está rindo? E porque você não foi para a aula?
Guto: Nada não Benê. Eu faltei porque eu... eu queria conversar com você!
Benê: E não podia ser depois de acabar as aulas?
Guto: Eu não me aguentei, precisava falar urgentemente com você!
Benê: Vai ter que esperar, estou lendo poesias e depois tem recreio e aula. Não vai dar tempo, só depois de acabar a aula.
Guto: Você não poderia deixar a poesia para outro dia?
Benê: Ahhh, está bem. Você me convenceu.
Guto: Ok, eu queria...
Benê: Você tem quinze minutos para falar tudo o que quer.
Guto: Só isso? Ok, ok. Por que você mentiu? Por que disse que aquele nosso beijo foi um erro?
Benê: Porque foi... foi um erro. Nunca deveria ter acontecido. Eu não sinto nada por você!
Guto: Mas eu sinto algo incompreensível. E se deveria ter acontecido aquilo, o que você pensaria?
Benê: Que o destino quis. Sei lá, algo mágico, inexplicável...
Guto: Tipo esse?
Guto tomou os lábios de Benê, que se assustou um pouco. O beijo começou a ficar profundo, explorando todas as partes da boca. Depois de alguns segundos, Benê o empurrou para trás.
Benê: Você tem que parar com isso! Quem você pensa que é para me beijar assim?
Guto: Um cara que gosta muito de você. Devo dizer que talvez... até apaixonado.
Benê: Abusado, eu não te dou essas intimidades. Você não pode forçar as pessoas a fazer as suas vontades, e nem deveria gostar de mim!
Guto: Desculpa, desculpa. - ficou quieto por alguns segundos - E porque não? Você é uma garota especial, inteligente, com um pensamento diferente do resto do mundo, linda...
Benê: Estranha e esquisita! Não é assim que você me chama, ou me chamava?
Guto: Você é diferente sim. Diferente de todas as meninas que eu já conheci, e é por isso que eu gosto de você. Ser diferente é uma grande qualidade sua Benê.
As lagrimas começaram a cair pelo rosto de Benê.
Benê: Ninguém falou assim de mim antes. Está vendo – ela mostrando suas lágrimas para ele – você está me fazendo chorar. - ela passou os dedos no rosto para tirar as suas lágrimas - Olha, me desculpe, as suas palavras são lindas, mas são só palavras, e eu não consigo confiar em você.
Guto: Eu não quero te magoar Benê. Você é um anjo, um anjo meio bravo, mas um anjo, que nunca merecia sofrer.
Benê: Eu preciso ir no banheiro. É muita informação pra minha cabeça.
Benê saiu da biblioteca, e depois de alguns segundos, Guto foi atrás dela. Ele esperou ela sair do banheiro, e tentou conversar com ela de novo, mas ela não quis notá-lo e andou pelo corredor.
Guto: Benê, você sabe que a gente não pode fugir disso.
Benê: Eu já vi muita coisa, já estudei muito sobre os sentimentos Guto, e eu sei que ele não muda tão rápido assim. - disse ela olhando para frente, andando pelo corredor – Então o seu sentimento por mim agora é uma mentira.
Guto: Eu sempre gostei de você. Desde quando eu te vi correndo naquela rua. Mas eu reprimia os meus sentimentos, agora não, agora eu estou expondo todos eles para você. Então por favor, me escuta.
Benê parou de andar e ficou ao lado de Guto.
Guto: Para de sentir com a razão, e sente com o coração.
Benê: Mas primeiro o cérebro tem que sentir para depois enviar a mensagem para o coração!
Guto: Eu sei, eu sei. O que eu quero dizer é... o que você sente por mim.
Benê olhou profundamente nos olhos de Guto, e tentou decifrar nela mesma o que sentia por ele.
Benê: Eu não sei Guto, é algo inexplicável!
Guto: Igual o que eu sinto por você, algo incompreensível! O amor é algo inexplicável...
Bateu o sinal para o recreio.
Benê: Eu preciso ir para o refeitório.
Guto: OK. Eu vou te deixar sozinha agora, com certeza você quer um pouco de paz.
Benê: Sim.
Guto: Eu te espero quando acabar a aula.
Benê não falou mais nada e foi para o refeitório. Já Guto, colocou a cabeça nas colunas que tinha na escola.
Guto: Porque eu não consegui falar da aposta. Por que? Por que?
Ele bateu a cabeça na coluna e tentou se acalmar.
Guto: Não devia tê-la assustado.
E bufou.
Benê
Benê, ainda confusa, chegou ao refeitório e se serviu para recuperar as suas forças depois daquela conversa. Ela viu que Lívia estava sentada bem longe de todos, isolada e com uma cara triste. Depois que terminou de comer, Benê refletiu e pensou em ir atrás dela, para ver o que aconteceu. Mas decidiu não interferir mais na vida dela. Quando o recreio acabou, Benê voltou para sala, e Guto, ficou sentando em um dos bancos da escola.
Benê arrumou os seus materiais na carteira, esperando o professor chegar. Enquanto isso, Lívia ficou olhando para a Benê, e pensando nas burradas que fez nesses últimos meses. Tudo para conquistar um cara que não valia a pena. E agora ela estava dentro de uma facção, como ela iria fugir disso? Ficou refletindo. No meio da aula, Benê pediu para ir no banheiro para o professor. Ela saiu da sala, e depois de alguns segundos, Lívia também pediu para ir no banheiro.
No banheiro, Benê começou a passar água no seu rosto, para acabar com aquela cara de choro, e se assustou quando viu a Lívia no espelho. Ela olhou para trás, e viu uma Lívia desesperada.
Lívia: Benê, eu preciso falar com você!
Benê: Lívia, o que aconteceu, que cara é essa? - Ela ficou assustada com a expressão de Lívia.
Lívia: O Rafael me forçou a algo que eu não queria fazer. - disse com voz de choro.
Benê: E o que você quer que eu faça? - disse ela, com uma voz fria.
Lívia: Benê, não seja fria comigo. Por favor! Eu preciso de seus conselhos, eles sempre me ajudaram tanto.
Benê: Engraçado você disser isso, porque você foi fria comigo por todos esses meses.
Lívia: Me perdoe Benê, eu estava enfeitiçada, e só agora eu acordei. Por favor, me ajuda!
Benê: Enfeitiçada?
Lívia: É modo de falar Benê. Quer dizer que eu estava encantada com algo, que infelizmente, não era real.
Benê: Eu sempre falei que o Rafael era estranho, mas você nunca quis me escutar.
Lívia: Mas agora eu quero. Benê, por favor...
Benê: Pela maneira como você age, é muito melhor procurar a polícia do que eu. Com licença.
Lívia: Benê...
Benê saiu do banheiro.
Lívia: Que droga! - falou sozinha.
Quando a aula acabou, Guto continuava sentado no banco que tinha na escola, mexendo no celular. Já Benê, tentava se esconder ao máximo possível dele para chegar em casa. Chegando em casa, guardou as suas coisas e saiu para correr; fez de tudo para que o Guto não a visse.
Benedita tinha passado por muitas emoções hoje, e só a corrida poderia acalmá-la. Já tinha se passado meia hora, e Benê continuava a correr. Mas parou quando viu Guto ao seu lado.
Guto: Posso correr com você?
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