História Musicamore - Você é a música na minha cabeça

Now I know

That I can't make you stay

But where's your heart?

But where's your heart?

But where's your...

E lá vou eu pra mais uma dia....

Deixei um bocejo alto e forte escapar, meus olhos ficaram mirando o teto. Realmente, já estava cansado daquele toque de despertador, ele poderia trocar para qualquer outro… Mesmo que fosse mais uma dessas musiquinhas. Só queria acordar ouvindo qualquer outra coisa.

— Isso não vai acontecer, Namjoon — disse a mim mesmo, esticando os braços até o meu celular ao lado da cama. Como sempre penso, esse pesadelo possui dois lados.

Com calma, entrei no aplicativo de músicas e escolhi uma das playlists entre as minhas favoritas, apertando o play. O piano preencheu o ar como se andasse apressado, sendo pivô da horda de cordas que a sinfonia de Chopin construía. “Luz do Sol” tocou cada vez mais alto enquanto eu comecei mais uma manhã. Sabia que o meu soulmate estava escutando porque minha mente de repente ficou em silêncio, e eu preferia assim.

Não foi segredo algum andar sozinho pelo meu apartamento, mantendo todas as minhas ações sobre o ponteiro do relógio. Assim como foi fácil chegar ao meu escritório sem ser perturbado. Os poucos acenos e baixas palavras de bom dia eram respondidos como sempre: um olhar paciente, de quem prestava atenção por não mais que dois segundos. Era mais fácil dessa forma, sempre foi, porque evitar drama é exatamente o que eu faço e interações em excesso surtem exatamente esse efeito. Já basta o que preciso escutar todos os dias dentro da minha própria mente para ter minha dose diária de interesse em alguém esgotada.

— Com licença, senhor Kim — ouvi a voz baixa e rouca de Jiwoo. Meus olhos ainda estavam grudados na papelada em minha frente. A pior parte em ser CEO de qualquer tipo de empresa é ter de ler os intermináveis contratos e relatórios que precisam da sua assinatura. — O senhor Jung deixou esse envelope hoje mais cedo — e então o papel azulado entrou em meu campo de visão, suspenso pelas mãos pequenas. — Ele disse que era urgente.

— Tudo para Hoseok é urgente — murmurei retirando o objeto de suas mãos. — Era apenas isso?

— Sim, senhor — Jiwoo respondeu, fez uma leve reverência a qual eu retribuí e saiu da sala silenciosamente.

O que é dessa vez Hoseok?, pensei enquanto suspirava. Odiava esses envelopes que ele continuava me enviando; eles nunca eram confiáveis. Porém como o bom primo que sempre fui, preferi dar o benefício da dúvida e abri o envelope, encontrando um convite bem exagerado, mesmo em cartão preto, e as letras douradas e de fonte muito grande não me deixavam mentir quanto a isso.

Você está especialmente convidado
para o baile anual da Jung Systems!!!
Ficarei muito feliz com a sua presença
no dia 18 de fevereiro de 2020
às 18h no Espaço Jung de Eventos.
Não se esqueça do meu presente :)

Jung Hoseok, fundador e CEO da Jung Systems

E como se não fosse o suficiente, uma nota em post it fora colada no verso do cartão dizendo: “Se você não aparecer esse ano, eu vou até a sua casa berrar com um megafone até você aparecer de pijama e te arrastar assim mesmo para a minha festa :D”. Mais uma ameaça pelo aniversário perdido de três anos atrás.

Olhei para o calendário. Como sempre, ele deixa para me contar tudo em cima da hora. Deixando o papel de lado, informei Jiwoo que comprasse a peça de roupa mais exagerada que encontrasse em qualquer loja de marca e deixasse na minha sala até o fim do dia. Assim, eu voltei ao meu exaustivo trabalho.

[...]

A noite havia chegado e com ela, a voz na minha mente. Precisava admitir que ele canta bem, mas eu já estava extremamente cansado disso, porém me perguntava se seria pior viver assim ou quando eu o encontrasse, porque apesar de ter as minhas reservas quanto a ele, eu sabia que mais cedo ou mais tarde o dia de encontrar meu soulmate chegaria. Mas, nessa noite em especial, os sons tão barulhentos de My Chemical Romance, Thirty Seconds to Mars, Paramore, Evanescence e Green Day (fui obrigado a pesquisar os nomes em determinado momento desses últimos dois anos) haviam sido trocados por artistas não tão barulhentos assim. Alguns até mesmo de meu agrado.

Acho que isso significa 1 ponto pra você, soulmate.

Tomar banho e ir dormir ao som de artistas nacionais e um bom R&B foi a melhor experiência que tive na última semana. Até que para um provável adolescente, ele consegue ter bom gosto. E com essas mesmas músicas eu fui acordado e então obrigado a passar o dia inteiro escutando de novo e de novo e de novo. Eu já estava pensando seriamente em retirar o elogio que havia feito antes.

Aquela terça-feira tinha sido um dia totalmente desperdiçado pela minha quase completa falta de atenção. Eu só esperava que ele fizesse logo o que precisava e deixasse os meus pensamentos em silêncio. Com tudo isso, eu estava prestes a dar mais um motivo para Hoseok usar contra mim em próximos eventos quando a vibração sobre a mesa preencheu o meu escritório.

Jung Hoseok [16h14]

Espero que tenha recebido meu

convite ontem!

Não esquece do meu presente!

E se não vier, eu juro que te caço e ao 

invés de aparecer de pijama, amanhã 

todos vão comentar sobre como o CEO da

Seoul Technology apareceu pelado

na festa do ano!!!

Espero que sua tarde esteja sendo

maravilhosa primo :D

 

Eu [16h17]

Feliz aniversário, Hoseok.

Eu vou estar na festa mais tarde, mas não

espere  que eu fique por muito tempo,

afinal você marcou uma festa em

plena terça-feira...

 

Jung Hoseok [16h18]

Tudo vai terminar até 00h para de ser um

estraga-festas.

 

Eu [16h20]

Eu acho que você quis dizer estraga prazer,

mas okay

 

Jung Hoseok [16h21]

Não, eu quis dizer estraga-festas mesmo.

E NÃO ESQUECE DO MEU PRESENTE!

 

Jung Hoseok [16h32]

Você vai me ignorar? :(

 

Jung Hoseok [16:59]

Assim você magoa o meu coração,

Kim Namjoon T.T

Olhei para o celular novamente e revirei os olhos. Eu claramente sou o único nessa família que não herdou o drama como traço de personalidade. Porém aproveitei o horário e decidi terminar o dia de trabalho por ali. Chegaria mais cedo no dia seguinte para compensar as distrações de hoje e esperava fervorosamente que meu soulmate colaborasse. Não posso dizer que desgosto do mesmo, mas claramente ele é responsável por metade das minhas dores de cabeça.

Sendo assim, despedi-me de Jiwoo e segui até o meu carro. Minha mente estava silenciosa e eu aproveitei com afinco daquele momento, assim como aproveitei o tempo a mais que tinha para tomar um banho longo e relaxante quando cheguei em casa. Eu não tinha um desses há semanas! Poder ficar ali, sozinho em meio ao cheiro suave dos sais de banho e das grandes espumas da banheira era quase como entrar em outra realidade. Eu sabia que era só por causa do cansaço, mas os pensamentos sobre como seriam os próximos anos me assombravam cada vez.

Eu particularmente nunca tive nenhum problema com todo o nosso sistema de soulmate, até acho que isso evita muita coisa desnecessária no dia a dia, porém quanto mais o tempo passava e mais eu escutava daqueles rocks emos, mais a minha mente se convencia de que a única resposta para aquilo era que o meu soulmate era somente um adolescente. Não tenho o conceito de amor romântico como o único para um par de soulmates, mesmo que eu pense que esse não seria o meu caso, porém eu sou um homem de 27 anos e considerar estar preso para o resto da vida com alguém que nesse momento pode estar preocupado com coisas como provas de história e quem convidar para uma festa me deixam resignado.

Não consigo evitar os suspiros e o sentimento pesado que se apossam de mim. Apesar de saber o quanto isso é idiota, às vezes penso que seria mais fácil ter sido designado para alguém mais próximo do meu perfil porque claramente esse não é o caso da minha alma gêmea. E mesmo com tudo, talvez essa seja a única coisa com a qual eu nunca vou conseguir implicar com Hoseok. Ri soprado para mim mesmo. Talvez o fato de você já ter encontrado Wheein seja a única coisa que eu posso pensar de invejar em você, criatura irritante.

Antes que eu acabasse desistindo, novamente, saí da banheira e cuidei da minha aparência, aparando a barba que já começava a nascer e penteando bem o meu cabelo. Depois de um pouco de perfume, um bom terno e meu óculos, eu estava pronto. Resolvi ignorar qualquer mensagem boba de Hoseok e coloquei o presente do qual ele tanto insistia em lembrar no banco do passageiro ao meu lado, e com o celular no bolso da calça e a chave na ignição, segui o caminho até o espaço do evento.

— Você realmente não mede esforços pra chamar atenção, hein. — Foi a primeira coisa que eu disse assim que vi Hoseok na entrada do imenso salão com seu típico sorriso largo.

— Você me conhece: quanto maior, melhor! — ele respondeu ao me abraçar. Retribuí o abraço e deixei a sacola de papel branco em sua mão assim que nos afastamos. — Você sabe que se for mais um presente ruim, Mickey vai te deserdar como primo, né? — ele questionou retoricamente. 

Revirei os olhos e adentrei o local de vez.

— Vê se não some! — A voz alegre gritou às minhas costas.

O som que estava tocando era harmonioso e baixo, seguindo um conceito de música ambiente. Uma banda ao vivo estava no palco mais ao fundo do salão e diversas estátuas e objetos do gênero se encontravam espalhados pelo lugar. Hoseok e sua mania de exuberância. Como o lugar estava bem movimentado e alguns olhares já haviam encontrado-se com o meu, preferi apenas ter um copo de whiskey como companhia e decidi ficar ao lado de fora, na grande sacada com vista para a cidade.

O tempo estava bom em Seoul. As últimas noites haviam sido chuvosas, mas agora o céu estava limpo e iluminado pela lua. Era pacífico ali. Apesar de estar ciente das poucas pessoas a minha volta, o meu corpo estava totalmente entregue àquele pequeno momento. Debruçado no peitoril, finalizando a minha bebida, lancei uma olhadela ao relógio no meu pulso. Nem meia hora havia se passado ainda. Deixei um suspiro escapar dos meus lábios.

Desde quando eu parei de me divertir em festas?... Se é que eu já comecei algum dia, refleti comigo mesmo. Às vezes eu odiava a forma como deixava as palavras de Hoseok entrarem na minha mente de maneira tão sutil que eu só percebia o que de fato estava acontecendo quando já era tarde demais para abandonar os pensamentos.

— Tudo bem… Você venceu — sussurrei agarrando o copo, seguindo para dentro do salão. —  Vamos ver o que de tão interessante você trouxe pra essa festa.

O ar abafado foi a primeira coisa que notei ao entrar no salão. Mesmo com um climatizador, a quantidade de pessoas ali tornava impossível que fosse de outra forma. Enchi meu copo mais uma vez e procurei por Hoseok, sendo parado por um dos acionistas da Jung Systems, que sempre teimava em querer uma “reunião especial” pois era de grande interesse obter ações na minha empresa também. E não que eu estivesse de fato interessado em uma conversa com ele, principalmente ali, mas quando obras de arte foi um tópico levantado em nossa troca de meia dúzia de palavras no bar, fui, infelizmente, compelido a dar andamento no assunto.

Dessa vez, quando lancei meu olhar sobre o relógio pouco mais de quarenta e cinco minutos haviam se passado. Eu estava aliviado que a noite não estava seguindo os passos de inutilidade do meu dia. Apesar de não concordar em ter, no futuro, a tal reunião, e do meu parceiro de conversa incluir mais um estranho no nosso debate sobre surrealismo vs expressionismo, eu gostei da interação. Provavelmente foi a primeira que tive com qualquer pessoa fora do escritório — e sem ser o Hoseok — em semanas.

— Já vi que conheceu os irmãos Kim!

— Ah, eles eram irmãos.

— Você realmente precisa socializar mais se diz isso depois de conhecer os irmãos da Kim Entertainment — Hoseok me respondeu com um olhar de reprovação enquanto pegava uma garrafa de cerveja no bar e esperava pela taça que o bartender trazia. — Eles são Os Irmãos Kim, os artistas da empresa deles estouraram ano passado e a coisa só vem crescendo com o passar dos meses. Idols, solistas, atrizes e modelos. Se eles sozinhos não enriquecerem a Coreia, eu não sei quem vai.

Respondi com um “Hm” em concordância e resolvi partir para o meu terceiro copo da noite. Enquanto eu pesava os prós e os contras de despedir-me ao fim da minha bebida, em meio a um assunto ameno que Hoseok havia iniciado, minha mente começou a preencher-se de som.

De novo não…

Sentindo-me levemente atordoado, demorei alguns segundos para perceber que a música estava não só dentro como também do lado de fora da minha cabeça. Naquele salão cheio, com as vozes de conversas aleatórias ainda preenchendo o ar, a voz dele ecoava suave como veludo, ainda mais suave que durante o dia todo.

Meus olhos saltaram para o palco. A banda continuava da mesma forma que estava quando cheguei, apenas com a adição do vocalista. A voz ainda estava duplicada, a que eu ouvia na minha cabeça e a que era apresentada no grande salão, exatamente a mesma voz que deixava os lábios do homem moreno. O terno adornando o corpo grande estava claramente justo, o que não ajudou muito bem a minha mente a processar aquela informação.

O bar ficava à esquerda de onde ele estava e apenas a alguns metros de distância. E isso me assustou quando percebi o que realmente estava acontecendo: não só eu tinha descoberto que estava no mesmo local que o meu soulmate, ele havia descoberto também e agora, com imensos olhos ávidos, procurava por mim. Abandonando a bebida como se nunca tivesse sido minha, virei as costas para ele e segui para a sacada onde havia ficado no começo da noite. Até que eu pensasse sobre o que acabou de acontecer aquele era o lugar mais seguro onde eu poderia ficar.

O ar frio ajudou durante um primeiro momento, porém depois que deixei meu corpo ceder à pressão e cair em um sofá que felizmente estava do lado de fora, foi impossível não deixar a avalanche de pensamentos me soterrar.

Como assim ele está aqui? Por que logo aqui? Ele não é um adolescente, mas isso é bom ou ruim? Claro que é bom! Minha maior frustração foi destruída, mas ele é um adulto que escuta aquelas música, mas okay são só músicas, mas ainda assim não faz sentido. Será que ele vai tentar me achar? Mas lá dentro está cheio, não sei se vale a pena. E se ele for do tipo idiota e impulsivo? Esse é o último tipo de pessoa com quem eu quero me associar…! Na verdade, eu nem conheço ele, não tenho motivo para pensar assim. Eu estou exagerando. Eu estou exagerando? Mas eu nunca exagero... 

— Merda, Namjoon, se recomponha! — ralhei comigo mesmo em voz alta. Aquele alarde interno já estava beirando ao ridículo.

O que eu iria fazer? Ou o que eu poderia fazer? Acho que o certo era me perguntar o que eu queria fazer. E era complicado decidir isso tão rapidamente. Se necessário fosse, eu preferia ter de ir até ele do que o contrário. Até mesmo porque é logicamente o mais fácil, afinal eu sei quem ele é.

Ser pego de surpresa é definitivamente algo que eu odeio.

Sabendo que não adiantaria entrar no salão novamente, permaneci na sacada. A área estava mais vazia do que antes e eu passei todo o tempo ali tentando lidar com a novidade e com as consequências que o meu futuro ato traria. Seria melhor falar com ele agora que eu sabia quem ele era a prolongar isso, coisa que não traria ganho para nenhum de nós dois.

Acredito que Hoseok não tenha demorado para notar a minha falta, mas mesmo assim não o vi no tempo em que fiquei lá fora, nem mesmo quando voltei para dentro e perguntei a um dos bartenders sobre onde ficava o backstage ou o camarim da banda. Por mais idiota que tenha sido, arranjei uma desculpa qualquer para justificar a pergunta e consegui o que eu queria. Porém não me sentia tão confiante como eu imaginava estar quando avistei de novo a figura alta a alguns metros de mim. Ele estava sorrindo e conversando e era impensável que eu me sentiria bobo e estático, mas era exatamente assim que eu me encontrava.

Com a ideia de desistir e arranjar outro momento para isso acontecer, de preferência um que envolvesse menos pessoas e fosse menos turbulento, fui atingido pelo seu olhar. Em meio a funcionários se movimentando, eu era o único parado e com o corpo plenamente direcionado a ele, com a minha atenção pertencendo-o mais do que eu julgaria aceitável. E apesar de não entender bem como aconteceu, eu entendi que ele descobriu quando caminhou até mim e parou na minha frente. Encaramo-nos por alguns instantes até que, com a cabeça levemente inclinada para a direita e um sorriso pequeno querendo deixar os lábios, ele perguntou:

 — Soulmate?

Engasguei com o ar, sentindo-me abobado.

Com a falta de uma resposta, além das minhas feições e corpo retesado, ele deixou o sorriso escapar.

— De todos os lugares possíveis, a gente se encontra aqui — ele disse. Ainda sem nenhuma resposta, ele continuou. — Antes de qualquer coisa, pode me dizer o seu nome? É meio que uma coisa que eu sempre quis saber.

 — Desculpa, isso foi um erro. — Em um segundo minha mente estava em branco, e então as palavras fugiram da minha boca.

— Erro? Olha, a gente ainda nem se conhece pra entender o que isso é — ele respondeu gesticulando o indicador entre o próprio corpo e o meu. — Mas se você quer entender assim, tudo bem — deu de ombros —, essas coisas acontecem. Acredite, você não é a primeira pessoa que eu conheço que entrou em choque quando encontrou o soulmate pela primeira vez.

— Eu não-

— Jimin! — ele gritou, interrompendo-me. Um homem loiro virou a cabeça em nossa direção. — Cadê aquela caneta?

De repente, uma caneta piloto preta foi jogada para ele, que agarrou com as mãos grandes e tatuadas. E sem nenhuma formalidade, ele simplesmente pegou meu pulso, levantou a manga do terno e começou a dizer enquanto escrevia em meu braço.

— Eu não tenho intenção de desistir de você, mas também não sou o tipo de cara escroto que persegue os outros, ainda mais meu próprio soulmate, então vou deixar meu nome e número aqui. Quando não pensar mais nesse lance de erro, é só me ligar.

Olhei de relance para o meu braço e a caligrafia horrível não me permitiu entender nada. Abaixei a manga até o meu pulso novamente e concentrei meu olhar em seu rosto, uma atitude não muito sábia da minha parte. Assim como não foi muito sábio dizer o meu nome logo em seguida e ir embora como se fugisse de alguma praga iminente. Ainda consegui ouvir um riso leve às minhas costas antes de deixar o local.

[...]

Hoseok aceitou a minha desculpa para ter deixado a festa sem me despedir e Jiwoo não questionou sobre as minhas alterações de humor ao longo da semana, porém era sábado e eu mesmo estava sentindo-me enjoado das minhas atitudes. O contato de Jeongguk, o soulmate, estava salvo no meu celular e eu havia passado cada hora de todos os dias desde terça à noite remoendo as questões pelas quais eu deveria mandar uma mensagem e como fazer tal ato. Mesmo sendo um homem adulto, culto, bem inteligente e CEO de uma grande empresa, interações nunca foram o meu forte — nem mesmo um interesse — então como eu deveria fazer isso da forma menos embaraçosa e mais natural possível com a pessoa que será potencialmente meu parceiro amoroso?

Tudo tornava-se ainda mais estranho, e bobo, a medida que eu pensava sobre. Por isso, amaldiçoando esse estado de espírito que se apossou de mim desde o encontro com Jeongguk, sem pensar mais, procurei o contato no celular e mandei um simples oi. Alguns minutos depois percebi que não havia como ele saber quem era o dono do “oi” e suspirando, plenamente cansado dessa situação, escrevi melhor as minhas próximas mensagens.

Eu [21h23min]

É o Namjoon

Peço desculpas pela forma como a

gente se conheceu

 

Jeongguk [21h30min]

tudo bem

como eu disse, essas coisas acontecem

mas e aí, você tá finalmente pronto pra

conversar comigo?

 

Eu [21h31min]

Acho que sim

 

Jeongguk [21h32min]

antes de começar com as perguntas tediosas

que sempre acontecem quando se conhece alguém

quero que você responda qual artista dos que eu

escuto recentemente você gosta mais

 

Eu [21h33min]

O seu tipo de música não é bem o meu

tipo de música, então eu terei de responder

nenhum

 

Jeongguk [21h33min]

como assim nenhum

????

deve ter pelo menos alguém que te chamou

a atenção

 

Eu [21h34min]

…

 

Jeongguk [21h34min]

vamos

eu tô esperando

 

Eu [21h35min]

Tá, okay

Teve uma vez que você ouviu essa banda

acho que por uma semana inteira e depois

eu não lembro de ter ouvido novamente

 

Eu [21h36min]

A voz é de uma mulher e ela até fez cover

de Smells Like a Teen Spirit

E não, eu não gostei tanto assim, eu só

lembro porque essa é a única música do

Nirvana que eu realmente escuto por 

vontade própria

 

Jeongguk [21h38min]

FLYLEAF???

SÉRIO??!

 

Eu [21h38min]

Eu não sei se é essa a banda, mas

acredito em você

 

Jeongguk [21h38]

na verdade você só quer acabar esse tópico

de uma vez

mas eu aceito essa resposta

 

Eu [21h40min]

Desculpa…

Eu não sou muito bom com conversas,

interações, essas coisas

Principalmente sabendo do peso que você

vai ter na minha vida

 

Jeongguk [21h41min]

uau, você leva a coisa de soulmates

bem a sério, hein

 

Eu [21h41min]

Por incrível que pareça, sim

Mas eu sou bem compreensivo sobre todos

os tipos de relações entre soulmates

 

Eu [21h42min]

Só acho importante ter alguém em quem confiar

como um braço direito

Apesar de ser quem eu sou, sempre

vi isso como um pilar importante da vida,

então me desculpa se eu te passei uma mensagem

estranha sobre mim na outra noite

 

Eu [21h43min]

Não gosto de fazer papel de bobo,

principalmente se não for intencionalmente

 

Jeongguk [21h45min]

ai cara kkkkkk

eu definitivamente vou gostar de você

você é um cara legal

e como já deu pra notar que você não vai

pedir, então eu te convido pra tomar um

café amanhã

 

Jeongguk [21h46min]

não aceito não como resposta

tem um lugar bem legal no centro perto do

rio Han

acho que você vai gostar

 

Eu [21h48min]

E como você poderia saber do que eu

gosto ou não?

 

Jeongguk [21h48min]

eu disse que ia esperar o seu tempo

de entrar em contato comigo, mas

isso não quer dizer que eu não fiz a

minha pesquisa sobre você kim namjoon

Senti-me surpreso e instigado por Jeongguk, e percebi que de forma boba e involuntária meus lábios levantavam-se vez ou outra em meio as nossas respostas, que levaram a muitas horas de conversa, provavelmente o tempo mais longo que já sustentei uma interação até hoje. Porém eu me senti bem. Foi bom ser honesto e ouvi-lo. E foi melhor ainda enterrar de vez a visão terrível que eu tinha de como e quem seria o meu soulmate. Bem distante do adolescente e do drama que eu havia imaginado, tinha um homem adulto, engraçado e bem diferente de mim por diversos motivos, mas que me manteve atento a si durante toda aquela noite, e o fez também durante o café que tomamos juntos pela manhã em um lugar que eu realmente gostei.

Sentado na minha frente, rindo sobre um meme que eu ainda não havia entendido e deixando à mostra seus braços tatuados e orelhas furadas, tão contrários do meu corpo estéril, Jeongguk me fez entender em sentimentos o que acontece quando se está na presença da sua alma gêmea. Mesmo sendo leve e delicado, e nada realmente comparado a um sentimento concreto, eu sabia o que estava se instalando dentro do meu peito. E eu esperava me sentir assim quantas vezes mais fosse possível.