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História My Angel - Padackles - Não Existe Mundo Sem Você - Final Alternativo


Escrita por: GirllSallvatore

Notas do Autor


Este capítulo está escrito há algum tempo mas faltava muita coisa e por isso não postei, ontem eu escontrei o rascunho e resolvi dar uma arrumada, pra assim trazer ele pra vocês.

Se trata apenas de um final alternativo, o final original continua intocado 😊

Espero que gostem.

Playlist pra fazer chorar:

The Greatest Bastard - Damien Rice
The Night We Met - Lord Huron

Link das músicas nas notas finais.

Capítulo 26 - Não Existe Mundo Sem Você - Final Alternativo


Fanfic / Fanfiction My Angel - Padackles - Não Existe Mundo Sem Você - Final Alternativo

Eu te fiz rir, te fiz chorar. Eu fiz você abrir os olhos. Não fiz?

Eu te ajudei a abrir suas asas, Suas pernas e muitas outras coisas. Não ajudei?

Eu sou o maior cretino que você conhece?

O único que te deixou ir embora? Aquele que te machucou tanto que você nem consegue aguentar?


A dor é avassaladora, lhe toma internamente de uma forma que ele jamais imaginou ser suportável em um ser humano.

Mas novamente, ele não é humano. É?

Ele não consegue abrir os olhos, não consegue discernir a realidade do mundo envolto de dor no quão se encontra, é demais para suportar, vai além do que ele jamais imaginou sentir.

Quando Jensen aceitou sua missão, quando ele buscou na terra a alma perfeita, a que lhe daria a chance de realizar seu propósito, ele não imaginou que acabaria assim.

Ele foi egoísta, egoísta em acreditar que estava fazendo o certo, que estava seguindo os passos corretos como lhe foi ensinado. Ele nasceu para servir ao céu.

Dean Winchester foi uma alma inocente que caiu nas garras de Jienseniel em seu momento mais vulnerável, que disse Sim para que isso lhe desse uma chance.

Uma nova chance de fazer as pazes com o seu destino. Ele iria para o céu, e aguardaria seus familiares como estava escrito, seu irmão, sua mãe, seu pai… quem sabe.

Jensen conseguiu destruir tudo, desde o momento que chegou a terra, desde que tocou a alma de Dean Winchester, já esgotada, machucada, mas ainda tão jovem. Ingênua.

E agora… agora Jensen pode corrigir seus erros, dar a Dean a chance que ele tanto queria, lhe dar a vida que antes fora tomada pelo destino.

Jensen, o serafim desobediente, vai salvar Dean Winchester, a alma justa.

{…}

Deixar sua graça se esvair em duas almas e vê-la escorregar de suas mãos é diferente de tê-la perdida, mas ainda inteira, em algum lugar desconhecido.

Ele, por vontade própria, está escolhendo dar a sua energia vital para duas das pessoas que ele mais estima, que mais ama, e a dor é incomensurável, mas ainda vale a pena.

Ele quase consegue vê-la indo embora, lhe deixando para curar as feridas de Jared e a alma machucada de Dean, é algo lindo, indescritível, único.

O faz querer sorrir.

Vai valer a pena.

Não faça isso.

Ele ouve a voz de Dean em sua cabeça, cansada, irritada, e estranhamente preocupada. Jensen gostaria de dizer algo que tivesse efeito na alma de Dean, que o tranquilizasse, mas ele não pode fazer mais do que já está fazendo.

Jennão faça isso.

Jensen abre os olhos pela primeira vez, e percebe vagamente que está deitado ao lado de Jared, suas mãos ainda juntas em um aperto fraco, a graça ainda agindo no homem que ele ama.

Ele se sente fraco, débil, triste por perceber que está quase acabando, que em breve irá embora, mas feliz… feliz por salvar as pessoas que ama.

Por lhes devolver suas vidas.

As mesmas que ele arrancou.

Por favor.

Dean implora, e Jensen não se espanta quando sente uma lágrima sorrateira escorregar por sua bochecha, as emoções de Dean fortes demais, se misturando com as suas.

— S-Sinto... sinto muito por… por roubar sua v-vida — Jensen sussurra trêmulo antes de engolir em seco, seus olhos vagando entre Jared, e o teto a cima dele — Eu… eu posso fazer o certo… a-agora.

Jensen! Não faça isso, está me ouvindo?! Eu escolhi isso! Eu escolhi dizer sim! Eu ia morrer aquela noite! Você me salvou! — Dean grita em sua cabeça, a rouquidão em sua voz fazendo Jensen estremecer. Ele funga.

— Eu não salvei você… tirei a sua liberdade… roubei o seu céu… e-eu… eu sinto muito — Jensen soluça, angustiado e fraco demais para conseguir segurar o que rasga seu peito — Sinto muito… Dean.

Seu filho da mãe egoísta! — A acusação aguda de Dean é como ser perfurado no peito por uma lâmina afiada, dói tanto quanto morrer lentamente, exatamente como agora — Não pode tirar a minha escolha, não pode roubar isso de mim, não agora! É minha decisão!

A graça está quase no fim, ele sente o vazio restar e a sensação de que está tudo acabado. O ínfimo fio de graça que antes lhe restava, agora está indo embora também, curando os estragos que fez na alma de Dean.

Ele pode estar com raiva agora, se sentindo traído por Jensen mais uma vez lhe roubar suas escolhas, mas em breve… em breve ele vai perceber que isso é o certo.

Sim, Dean iria morrer naquela neve, mas aquele não era o final do jovem Winchester, o mundo ainda precisa dele mais do que jamais precisou de Jensen.

E Jensen se sente em paz.

Finalmente em paz por corrigir o que tanto lhe oprimia, a culpa que tanto lhe machucava e atormentava desde que foi expulso do céu e percebeu que não poderia dar a paz a Dean.

— Você vai ver… isso é o certo — Jensen suspira, apertando os olhos com o resto de energia que lhe resta.

Dean está ficando cada vez mais forte, sua essência está sendo restaurada enquanto a de Jensen se esvai, logo ele poderá tomar o lugar que Jensen lhe roubou.

Eu não quero isso, não quero viver se você morrer. De que merda isso vai valer? Qual o meu propósito agora? — Dean diz teimosamente e Jensen suspira — Eu não tenho mais nada aqui.

— N-Não diga isso.

Jensen geme quando uma forte dor domina seu peito e adentra bem fundo, lhe tomando o resquício de ar que lhe resta.

O brilho azul de graça em seus olhos está se desvanecendo, se transformando em nada, o verde vivo tomando seu lugar.

Está quase acabando.

Jensenpor favornão faça isso.

— V-Você merece… o mundo, Dean Winchester… merece uma nova chance… encontre seu irmão… viva a sua vida… — Jensen abre os olhos uma última vez para encarar o rosto adormecido de Jared, e um sorriso fraco se forma em seus lábios — D-Diga a ele… que eu o amo… que s-sinto muito.

Não!

— Seja feliz… Dean.

Jensen!!

O aperto de sua mão na de Jared se desfaz quando a ligação de graça cessa, quebrado-se como fragmentos singelos.

Toda ela se foi, e ele pode sentir quando o mundo perde a cor, quando o chão no qual está deitado perde a profundidade.

Como uma luz ele escorrega para fora, distante do corpo no qual esteve por mais tempo do que gostaria, longe do amigo que fez, Dean Winchester, o mesmo que o adiava, mas que queria se sacrificar por ele.

Longe do homem que se tornou a sua própria luz, Jared Padalecki, sua vida na terra, seu novo propósito. O amor que ele jamais imaginou poder ter em sua curta existência.

Ele espera que Jared possa perdoá-lo um dia.

A dor de ir embora seria pior se ele não se sentisse tão em paz, perder seu amor dói tanto quanto morrer, mas morrer por seu amor faz tudo valer a pena.

É o que ele queria… fazer o certo.

E ele fez.

Eu te amo.

As palavras sopram no rosto de Jared Padalecki, vai além de palavras frívolas, além de meras demonstrações sem importância, foi um toque em sua alma, e ele sabe que Jared pôde sentir.

Vamos, pequeno passarinho.

Castiel surge para ele, sorrindo tristemente, esticando sua mão, lhe convidando para voltar para casa.

Jensen o segue com lágrimas nos olhos… em paz pela primária vez.

Você me ajudou a amar, me fez viverMe ensinou a perdoarNão ensinou?

Eu queria poder dizer o mesmoMas quando você foi embora, você deixou a culpa
Não deixou?

{...}

Jared acorda num sobressalto, seu coração acelerado, uma angústia desconhecida em seu peito que o faz ofegar.

Ele se senta um tanto zonzo, ainda se sentindo fora de sintonia com seu próprio corpo, o faz se sentir estranho, como se algo não encaixasse.

Ele olha em volta com os olhos semicerrados, percebendo então que se encontra em algum tipo de galpão, o cheiro de peixe entupindo suas narinas. E então as lembranças voltam como um empurrão doloroso no peito.

O sumiço de Jensen, sua procura frenética por ele para finalmente encontrá-lo em algum tipo de transportadora, a realidade distorcida de Jensen lhe confessar algo importante, algo que o fez sentir raiva, e então… a dor. Ele leva suas mãos ao peito, não percebendo nada de diferente.

Nada dói, não existe nada além do rasgo em sua camisa e o sangue banhando o tecido, ele se sente revigorado, saudável, confuso, mas ainda se sente incompleto, algo falta… algo importante.

E então ele o vê deitado ao seu lado, de alguma forma Jared não percebeu, e de repente a realidade do que está vendo lhe arrasta de volta ao presente, ao agora.

Eueu sou um anjo, Jared. Eu desobedeci e caí, por isso você me encontrou naquela estrada.

Jared ofega, seus nervos a flor da pele, ele encara o rosto pacífico de Jensen, desacordado, e de repente algo escuro e dolorido lhe arranha o peito.

Você o matouvocê o possuiu como um demônio faria. Você é um monstro.

Ele se ouve rosnar, ouve a raiva e o nojo em sua própria voz. Ouve a descrença. Não pode ser real. Aquilo não pode ter sido real.

— Jensen — Ele se aproxima de Jensen, tocando a pele macia e fria da bochecha do homem mais jovem — Jensen, acorde.

O garoto não acorda, nada acontece. Sua garganta se fecha quando Jared se senta ao lado de Jensen, e estremece quando sente a frieza exalando da delicada mão do menino desacordado. 

Ele parece doente, parece tão não vivo. Algo bate em Jared bem no rosto, a realidade entrando em foco pela primeira vez e o seu coração duplica a batida quando percebe o rosto sem cor de Jensen.

— Não — Jared sussurra, sua respiração acelerada e a sua língua pesada demais em sua boca seca, o pânico o consumindo enquanto ele segura o rosto do menino com as duas mãos trêmulas — Não, não, não. Jensen, oh meu Deus.

Não, Jensen não pode estar morto. Não depois de tudo. Seu menino está vivo.

Percebendo o pânico se apoderar de seus músculos, Jared respira fundo e tenta não perder a cabeça com pensamentos mórbidos. Ele pode tentar se controlar e ser o caçador frio que sempre foi, ele precisa. Mas apenas olhar pra Jensen assim está fazendo seu coração chorar.

Com a mão trêmula, Jared toca o pulso de Jensen em seu pescoço, e seu coração falha uma batida quando não sente a vibração na ponta de seus dedos. Seu sangue congela e o seu peito aperta. Jared tenta sentir a respiração de Jensen mas não existe nenhuma. 

Ele não está respirando.

— Não. BOBBY! — Jared grita pelo velho caçador quando de repente não sente mais que suas pernas podem suporta-lo. Ele não liga que a sua voz tenha soado como um grito desesperado, afinal é assim que ele se sente. Desesperado — BOBBY!

Bobby não vem, o homem mais velho pode estar desacordado ainda onde Jared o deixou, seus ferimentos eram graves, Jared lembra. Seu desespero apenas aumenta quando percebe que está completamente sozinho.

— Isso não pode estar acontecendo — Jared suplica entre lágrimas que molham as suas palavras angustiadas. Ele não consegue manter a compostura, tudo o que ele vê é o seu menino inerte deitado bem a sua frente. De repente toda a história de anjo e céu não parece ter mais importância, Jared só quer ver Jensen sorrindo pra ele mais uma vez — Jensen... acorda, por favor.

Rapidamente Jared junta as mãos com os dedos entrelaçados para fora em frente ao peito de Jensen e começa a fazer a massagem cardíaca no tórax do menino, sentindo o final do osso externo e o final do osso da boca do estômago. Seus movimentos são nervosos a princípio mas ele logo ganha ritmo para o benefício de Jensen.

— Vamos lá. 1, 2, 3, 4, 5, 6... — Jared conta até 30 antes de apertar o nariz de Jensen e juntar seus lábios nos do garoto, tentando assim respirar por ele duas vezes antes de voltar com as pressões — Por favor — Jared suplica, ignorando as lágrimas manchando a sua visão, ele não para. Ele mantém os movimentos brutos e seu coração racha quando sente uma costela quebrar debaixo de sua mão.

— Acorda, amor... eu sinto muito — Jared soluça enquanto continua contando baixinho com cada pressão. Ele volta a apertar o nariz de Jensen e respira por ele mais uma vez, os lábios rachados de Jensen parecem tão insensíveis. Depois de meia hora sem qualquer vitória, Jared fecha os olhos com força, sua boca aperta em uma linha fina, as lágrimas ainda escorrendo e ele bate no peito de Jensen, sentindo o mundo desabar ao seu redor quando grita — PORRA!

Jensen levanta do chão com uma dolorosa sugada de ar invadindo seus pulmões, seus olhos verdes se arregalam e logo se enrugam de dor quando o menino abraça as costelas fraturadas e volta a cair no chão com um pequeno choramingo.

Jared larga o ar que estava segurando e levanta do chão com as mãos nos cabelos, seu coração está batendo a mil por hora, as últimas horas batendo nele com força.

Jensen está bem, ele está vivo, eles poderão concertar as coisas, certo?

Vai ficar tudo bem.

— Jared?

A voz dolorida de Jensen o faz suspirar e largar os cabelos que tanto puxava para encarar o menino no chão.

Ele perece terrível, machucado, confuso, mas bem. Isso é tudo o que importa.

— Vai ficar tudo bem, Jensen, vamos concertar você, vamos conversar. Nós vamos resolver isso — Jared garante ao menino, a conversa de anjo e toda essa porcaria será explicada, as coisas vão voltar a ser o que era.

Quase perder Jensen o fez perceber que ele não pode ficar sem Jensen, por mais que as coisas estejam confusas, ele precisa do menino, precisa dele como precisa de ar.

— Não, Jared. Eu… eu sinto muito. Eu não sou… — O menino cessa suas palavras quebradas e Jared franze a testa, uma nova sensação estrangeira dominando seu peito — Jensen não…

Jared perde o controle de suas pernas, de repente elas parecem pesar como chumbo sólido, um peso enorme pressiona sua caixa torácica, ele quase não pode respirar.

Sua garganta se fecha, suas mãos tremem, ele não pode aceitar nisso. Simplesmente não faz sentido. Jensen está bem! Está vivo e bem na sua frente!

Não é?

Quem você está possuindo então? Algum garoto de rua viciado em...

Dean Winchester. Estou no corpo de Dean Winchester desde 4 de dezembro de 1997. O dia em que ele disse Sim.

Jared leva sua mão trêmula a boca, apertando os lábios e sentindo quando seu queixo treme nervosamente, quando lágrimas tocam suas bochechas.

Não.

— Dean? — Jared sussurra, ansioso por estar errado, por ainda estar dormindo e acordar de um pesadelo como tantas vezes depois de perder seu pai.

Quando o garoto quieto acena de vagar, Jared sente seu mundo desabar em sua cabeça.

— Sinto muito.

Jared aperta suas mãos em punhos e ofega uma quantidade absurda de ar que escapa por seus lábios. Ele chora porque de repente o mundo ao seu redor já não parece mais tão bonito.

A vida já não parece ter mais sentido.

É como se uma luz tivesse se apagado, e a escuridão o assusta demais para suportar permanecer nela por mais tempo.

— Meu Deus — Uma voz rouca surge por trás deles e Jared vê através dos olhos molhados e da visão borrada quando Bobby ainda machucado se aproxima — Dean? É… é realmente apenas você aí, garoto?

Jen… Dean sorri através das próprias lágrimas, e Jared observa quando o menino corre até Bobby para segurá-lo em um abraço apertado.

— Oh, garoto… não posso acreditar que é realmente você — Bobby diz baixinho no ombro do garoto, e Jared se espantaria ao ver lágrimas nos olhos de Bobby se ele próprio não estivesse tão entorpecido. Tão dormente por dentro.

— Estou aqui, Bobby, sinto muito por tudo isso — Dean sussurra para o homem que considera como o próprio pai, e de alguma forma vê-los juntos faz a dor de perder seu menino parecer menos dolorosa, mas ainda não menos cruel — Eu… eu tentei segurar mais… Bobby... eu juro que não queria desistir.

Dean soluça no ombro de Bobby, agarrado a ele como um salva vidas, e isso consegue quebrar o coração dos dois homens mais velhos em pequenos pedaços.

— Estou orgulhoso de você, garoto, está me ouvindo? Me orgulho de você mais do que você imagina — Bobby beija a cabeça de Dean de forma demorada, uma forma de consolar a si mesmo também, Jared imagina — Você fez o que achou certo.

Dean acena com a cabeça, antes de se afastar de Bobby e enxugar as lágrimas. Dean parece ser um jovem forte, audacioso, apesar de todo o peso que carregou nos ombros desde que perdeu a mãe, ele ainda mantém esse desafio no olhar. O mundo não conseguiu quebrá-lo.

Ele é completamente diferente de Jensen, Jared percebe isso imediatamente. Seus maneirismos, a necessidade de aparentar estar bem, mesmo quando está quebrando por dentro, este é Dean Winchester.

E Jensen… bem… Jensen mentiu, ele era… ele era um anjo e decidiu esconder isso dele, decidiu manter algo tão importante para si mesmo, e a mentira doeu, ainda dói, mas Jensen também era a alma doce, sensível e genuína pela qual Jared se apaixonou, e perceber agora que ele se foi, o seu Jensen se foi, é como ter o se coração arrancado do peito por garras frias e calejadas.

Faz todo o resto parecer detalhes.

Jared vê Bobby abraçar o garoto que acreditou ter perdido, vê o alívio em seus olhos marejados, vê o quanto Dean Winchester significa para ele, e ele fica feliz por eles, feliz por Dean estar finalmente livre, feliz por as coisas terem se concertado… mas a que custo?

O amor de sua vida.

Esse foi o custo.

Jared não percebe que está curvado próximo a parede com as pernas dobradas e os braços apoiados nelas até sentir uma mão tocar seu ombro.

Ele ergue lentamente o olhar em direção ao rosto que chegou a verdadeiramente amar, a querer cuidar, e ver isso sabendo que não é ele… só o faz se sentir pior.

— Ele te amava, sabe. Mais do que eu jamais pude imaginar — Dean diz melancolicamente, a falta de Jensen parece estar sendo difícil para ele também, foram anos juntos afinal — Ele… ele não queria te machucar, não quis mentir, mas…

— Eu o chamei de monstro — Jared murmura com a voz rouca e impassível, não permitindo ainda expressar o que sente, não aqui — Foi… foi a última coisa que disse a ele antes de…

Por mais que ele tente, por mais que ele esteja se esforçando para não quebrar, ele ainda não consegue segurar as lágrimas que se recusam a cessar, seu coração está se despedaçando, e ele quase pode ouvir os fragmentos se estilhaçarem.

— Sinto muito, Jared.

Sim… Jared também sente.

Eu não sei o que devo fazerAssombrado pelo seu fantasmaMe leve de volta para a noite em que nos conhecemos

{…}

Dean aperta os lábios e empurra as mãos nos bolsos. Ainda parece estrando estar de volta no comando de seu corpo, e apesar de tudo o que perderam, a sensação de liberdade ainda é algo indescritível.

Libertador.

Foram anos desejando simplesmente morrer para assim conseguir ser livre, conseguir ver o mundo através de seus próprios olhos, e agora… agora ele sequer sabe qual será seu próximo passo.

Apesar de tudo, de toda a raiva que Dean acumulou nesse meio tempo, ele não consegue culpar o ser inocente que esteve preso a ele durante tudo isso.

Jensen não merece isso.

Não merece carregar essa culpa, não mais. Jensen merece tudo o que Dean estava disposto a dar se ele tivesse tido a chance. Ele lhe daria a sua vida, e estava tudo bem, Dean tinha aceitado seu destino, tinha feito as pazes com ele.

Mas Jensen não permitiu, Jensen foi o maldito anjo altruísta que sempre foi e se sacrificou por ele.

Jensen lhe deu uma chance de viver.

E agora, Dean sente a falta dele.

— Garoto? Tem alguém aqui que quer te ver.

Bobby chama e Dean tem dois segundos para perceber do que ele está falando quando vê alguém que pensava jamais ver de novo.

Alguém que Dean deixou para trás há vários anos. O garoto pelo qual seu trabalho era proteger, alimentar, e manter vivo.

— Sammy? — Dean sussurra incrédulo.

O homem agora adulto sorri por entre as lágrimas, sua franja ainda enorme se espalha por sua testa e aquelas covinhas que Dean adora zombar ainda estão lá bem marcadas.

Aquele é Sam Winchester.

— Dean — Sam o puxa em um abraço com seus membros agora enormes e tudo o que Dean pode fazer é se deixar segurar pelo irmãozinho que deixou de ser pequeno há muito tempo — Senti tanto a sua falta, cara. Pensei que… eu pensei…

Sam parece estar tentando não soluçar, mas ele sempre foi mais emocional que Dean, e é impossível segurar tudo o que tem guardado durante todos esses anos enquanto acreditava que seu irmão estava morto.

— Eu sinto muito, Sammy — Dean murmura baixinho nos braços do irmão — Por favor, me desculpe por deixar você.

Os anos perdidos não poderão ser recuperados, as coisas não podem voltar a ser o que eram, mas os irmãos estão juntos de novo depois de anos afastados, isso é tudo o que importa.

{…}

Bobby explicou tudo a Sam, cada detalhe que Dean não conseguiu. Falou sobre o anjo, sobre os anos sendo mantido preso, sobre a nova chance.

Sam, diferente de Dean, não pôde perdoar Jensen a princípio, a dor de perder o irmão foi algo que deixou uma marca em sua alma, algo que ficará lá para sempre.

Mas Dean sabe que Sam perdoará Jensen algum dia, pois também é graças ao anjo, que Sam tem o seu irmão de volta.

Dean conhece a família de Sam, sua esposa, seus filhos, a vida estável que sabia ser o que Sam sempre quis. Seu irmão odiava a vida de caça, sempre preferiu livros a armas, e é graças a isso que Sam tem tudo o que tanto almejou.

Dean se orgulha do homem que ele se tornou.

Ele não ouve mais falar de Jared, não sabe como o homem está, como precessou a perda de Jensen, não deve ter sido fácil, a dor foi enorme.

Para ambos.

Me leve de volta para a noite em que nos conhecemos.

Anos depois...

Jared abre os olhos para se ver deitado em alguma cama de péssima qualidade com um corpo quente e feminino ao lado do seu.

Ele rosna para si mesmo, esfregando o rosto com as mãos e se perguntando o que merda se tornou a sua vida.

Tudo se resume a caça e a transas ocasionais, ele não se sente mais vivo há anos, ele apenas sobrevive em um mundo que constantemente tenta eliminá-lo.

E por mais que algumas vezes ele quase tenta tentado se deixar cair e morrer, ele não pode, não quando lembra que ele apenas está vivo agora porque outro alguém se sacrificou por ele.

Alguém morreu para que ele vivesse, e por mais que essa realidade seja dura de aceitar, ele não pode deixar que o sacrifício seja em vão.

A vida nunca pareceu tão mórbida antes.

Jared não pensa muito nele, ou ele tenta bravamente não pensar no garoto que amou e perdeu, no anjo que mentiu pra ele, mas que fez isso apenas porque não queria ser odiado, ser machucado mais do que já havia sido antes.

Jensen trouxe a vida de Jared algo que ele imaginou nunca poder sentir algum dia, Jensen trouxe amor, trouxe alegria, trouxe luz a sua vida escura, e agora sem ele, Jared se sente vagando no breu constantemente.

— Tenho que sair daqui — Ele fala para si mesmo, ignorando a mulher dormindo e sua nudez aparente, ele apenas se veste, agarra suas coisas e sai sem ser notado, ele está se tornando cada vez melhor nisso.

Ele para em um bar ou dois no caminho, beber tem se tornado seu único consolo ultimamente e ele não consegue mais recusar cerveja, ela sempre o acalma, apesar de não ter tanto efeito em seu organismo quanto gostaria.

— Sinto muito por sua perda, cara.

Jared franze a testa, encarando o homem que lhe serviu a cerveja a sua frente como se uma segunda cabeça tivesse crescido em seu pescoço.

— O que?

— Sua perda, eu já vi uma expressão parecida no espelho quando perdi a minha esposa. Conheço esse tipo de dor e não desejo que ninguém passe por isso também — O homem parece conseguir lê-lo de uma forma que o próprio Jared não consegue, e o espanta perceber o quão visível estão suas emoções — Não fica mais fácil aceitar, não por um tempo, mas a dor diminui.

Jared sopra um sorriso curto e débil.

Talvez a dor diminua, mas ela ainda estará lá para sempre como uma ferida mal cicatrizada, nada pode curá-la. Nada pode fazer com que ela vá embora.

Jared tem apenas que aceitar.

{…}

— …ela vai completar cinco anos e achei que você gostaria de vir pra festa de aniversário dela. Não vai ser nada grande, sabe, só achei que…

— Eu vou estar aí, Adam. É minha sobrinha e quero fazer parte da vida dela também — Jared garante.

Seu relacionamento com seu irmão tem melhorado gradativamente, eles conversam por telefone sempre que existe tempo livre, e mesmo que as coisas ainda sejam um pouco estranhas, ele acredita que estão no caminho certo.

— Tudo bem, então nos falamos depois — Diz Adam através do fone — Tchau, Jay.

São conversas curtas e algumas vezes tensas, mas é mais do que ele esperava, ele está tentando fazer as pazes com a sua família, tentando recuperar o tempo perdido, e não está sendo fácil, mas ainda há esperanças, afinal.

{…}

Jared atravessa a porta da casa de Bobby e logo é recebido com um abraço do homem mais velho, a sensação de lar que ele encontra alí sempre o espanta.

Fazia algum tempo que eles não se falavam, meses na verdade, Jared tem estado muito focado em caças para ter algum tempo de descanso, as pessoas não vão parar de morrer apenas porque Jared está de luto.

Um luto eterno.

— Como você está, garoto? — Bobby pergunta lhe oferecendo um refrigerante, no lugar da cerveja casual. Jared estreita os olhos e Bobby bufa — Algo me diz que você está entupido até a boca de cerveja, mudar vez ou outra não vai fazer mau.

Relutante, Jared aceita o refrigerante mas não o bebe imediatamente, ele apenas segura a lata entre os dedos, sentindo o gelo derreter em suas mãos.

— Eu estou bem — Responde Jared com um encolher de ombros — Ou quase lá.

— Você não está bem — Bobby diz sem hesitar e Jared ergue uma sobrancelha — Eu conheço você há mais tempo do que posso lembrar e sei que isso não é você estando bem, precisa parar de se martirizar, Jared — Bobby aconselha com uma voz estranhamente suave, uma mão em seu ombro — A morte de Jensen não foi sua culpa, ele escolheu dar a vida por você, faça isso valer a pena.

— Acha que não estou tentando? Diariamente eu acordo querendo apenas atirar na minha própria maldita boca mas não posso fazer isso, não posso porque não quero que ele tenha ido em vão! — Jared empurra o refrigerante na mesinha de centro e levanta, caminhando na sala enquanto atravessa os dedos nos cabelos — Ele se foi por minha causa, Bobby, e sempre que eu respiro, eu lembro que só estou vivo por causa dele.

Bobby não parece saber o que dizer para fazer isso melhorar, nada pode de qualquer forma, essa tem sido a sua vida desde que Jensen se foi naquele galpão, um dia seguido do outro num loop eterno e desgastante.

Apenas isso.

— Talvez eu não tenha me permitido conhecê-lo melhor, mas depois do que ele fez por você, por Dean, eu sei que ele iria querer que vocês fossem felizes, que seguissem em frente — Bobby suspira tristemente — Não posso enterrar mais ninguém, filho.

Jared acena, talvez para si mesmo ou pra Bobby, ele não sabe, não importa.

— Sinto muito por isso.

— É pra isso que estou aqui — Bobby sorri, e por mais que Jared tente, ele não pode devolver o sorriso.

Bobby fala sobre Dean, como o menino aparece vez ou outra em busca de casos simples, fala sobre seu novo emprego como mecânico em alguma oficina da Califórnia, ele não mora mais com Sam, saiu da casa do irmão um ano e meio depois que chegou lá.

— Acho que essa é a vida que Dean sempre quis, diferente do irmão, Dean tinha sonhos mais simples, ele nunca quis fazer faculdade ou ganhar muito dinheiro, ele está bem como está — Diz Bobby e Jared suspira aliviado. Dean está bem, feliz, isso é bom.

— Fico feliz por ele.

Jared bebe outro gole de seu refrigerante, seus olhos encarando o vazio da parede a sua frente.

— Ele pergunta sobre você as vezes, quer saber se você está bem — Bobby comenta e Jared se espanta ao ouvir isso. Ele não sabia que Dean se importava com ele, isso o surpreende realmente.

— Oh — Jared sopra.

— Acho que ficou uma marca em vocês dois, em todos nós — O homem mais velho suspira e Jared acena, pois é verdade — Estou feliz que está aqui, garoto.

Eu nunca quis te deixar, nunca quis te magoar. Eu nunca quis.

{…}

Os anos se passam, as lembranças que antes corroiam, se transformam em recordações reconfortantes de um amor que rapidamente se foi, mas que marcou profundamente em sua alma.

Jared mantém a sua promessa até onde pode, ele continua vivendo, exatamente como sempre fez, entre casos e monstros para matar, entre sangue e lágrimas, ele se mantém firme.

Ele não esperava viver muito, não com a vida que levava, ele sempre soube que morreria numa chama de glória, sorrindo satisfeito por mais um trabalho feito.

E então, com seus 48 anos, Jared finalmente recebe o seu descanso. O corpo de 3 wendigos caídos e carbonizados próximo a ele, Jared não foi rápido o suficiente para escapar das garras que rasgaram seu peito, mas ele finalizou o trabalho, como sempre fez.

Enquanto sangra, Jared espera que a dor suma, que o mundo se desvaneça em nada, ninguém pode salvá-lo agora. Jared aceitou seu destino. E ele está bem com isso.

Ele sente muito por Bobby, sente muito por Adam, mas não há mais nada que se possa fazer. Ele espera que aceitem como ele aceitou.

Ele só gostaria de poder ver Jensen mais uma vez, o verdadeiro Jensen, o anjo caído pelo qual se apaixonou.

E então tudo ficaria bem.

A escuridão o toma, como esperado, a dor some, e então uma luz ilumina o que antes era nada. Ele sente um toque suave, vai além da pele, toca a sua alma.

E então uma voz doce lhe diz:

Eu te amo, Jared.

Jared sorri…

Eu também te amo, Jensen.

...de alguma forma, se sentindo completo agora.


Notas Finais


É isso, vocês podem escolher seu final preferido, amei escrever os dois ❤
Até mais.

Músicas:

The Night We Met: https://youtu.be/wGF7PswOENQ

The Greatest Bastard: https://youtu.be/WcjRcCdivIk


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