História My best friend - versão longa - Capítulo doze

-...Mas eu devo voltar antes do jantar. – Nico comentou prendendo a bainha de sua espada na cintura com uma certa dificuldade pois a camisa larga ficava em seu caminho.

Jason se apressou em ajudar o moreno na tarefa, propositalmente tocando em suas mãos antes de prender a fivela.

-Okay, você já me disse que é apenas uma missão simples, mas de qualquer forma, tome cuidado. – Em um momento rápido de coragem, deu um beijo delicado na cabeça do mais novo, que ficou estático, e sorriu tentando demonstrar tudo que sentia. – Você é muito importante para mim, por isso me preocupo contigo.

-Er... sim, claro. – Um rubor adorável tomou suas bochechas antes dele se virar e dar de cara com a parede.

-Nico! Você está bem? – Arregalou os olhos, o filho de Hades costumava usar aquela sombra para viajar toda vez que precisava ir para algum lugar, era a primeira vez que o platinado via os poderes falhando dessa forma.

-Estou, me distraí por um instante e esqueci de convocar meus poderes. – Ele murmurou claramente morrendo de vergonha antes de se desfazer em sombras, deixando o filho de Júpiter sozinho na cozinha.

Jason ficou uns bons minutos parado ali sem reagir.

O coração batia com força contra sua caixa torácica.

Nico o deixou beijar sua testa.

E ele beijou.

Ainda por cima falou como o mais novo era importante para ele e que se preocupava.

Uma súbita vontade de dar gritinhos e sacudir as pernas igual as meninas dos filmes de romance adolescente tomou conta de seu corpo. Apenas não se entregou a essa vontade por saber que os deuses eram enxeridos o suficiente para poderem estar o assistindo naquele momento e definitivamente não estava interessado em ter seu surtinho compartilhado na TV Hefesto.

Se contentou em dar algumas voltas pelo apartamento antes de se sentar pensativo.

O outro pareceu realmente surpreso com sua atitude ao ponto de esquecer de ativar seus poderes. Talvez ele tenha ido rápido demais, ou tinha sito súbito demais.

Deuses, por que flertar era tão difícil?

Olhou para o relógio buscando algo para o distrair.

Nico chegaria em casa com fome depois da missão... hm...

Pegou as chaves do apartamento decidido a ir ao restaurante que sabia ser o favorito do outro, fazia tempo que não comiam lá, resolveu pedir um prato e preparar da forma que sabia que o moreno amava.

O local preparava refeições para viagem, e havia um prato em particular que Nico era apaixonado, mas para ficar da forma que ele mais gostava precisava ser colocado no forno novamente e adicionar muçarela e bacon.

Uma comida semi caseira, como eles haviam denominado.

O restaurante ficava a apenas dois quilômetros do apartamento, uma boa oportunidade para caminhar e tirar toda aquela energia extra que se acumulava em si.

Chegou ao destino mais rápido do que esperava, com a cabeça nas nuvens durante todo o percurso. Ao sentir o familiar aroma do local se questionou do porquê deles não comerem ali mais vezes.

-Bom dia, senhor, veio pelas quentinhas? – Uma atendente o recebeu com um sorriso educado e ele acenou também educadamente confirmando o questionamento da moça. – Nós tivemos um problema com o forno mais cedo e os pratos estão um pouco atrasados, cerca de uma hora de espera.

-Tudo bem, eu posso esperar. – Não é como se tivesse outras coisas para fazer mesmo e havia saído bem cedo para quem estava comprando o jantar.

-Nossas sinceras desculpas, sinta-se à vontade para se sentar em qualquer mesa do estabelecimento. – Ela estava pronta para retornar ao interior do restaurante quando pareceu se lembrar de algo. – O senhor poderia me informar seu pedido? Assim ele pode ficar pronto antes dos demais.

Assentiu e fez o pedido, se dirigindo a uma das mesas em seguida.

Pretendia apenas sentar ali e contemplar a vista da janela, não que tivesse algo muito interessante para ver, apenas o vai e vem de pessoas na rua e algumas lojas de roupas do outro lado.

Seus planos foram frustrados pela voz de um homem perto de si.

-Oh... - Ao se virar deu de cara com um rosto bronzeado e olhos de um azul mais profundo que o seu, também haviam cachos que pareciam brilhar, e se tratando de Solace nunca saberia se realmente estavam brilhando ou não. – Faz tempo que não nos vemos, né?

Ele sorriu e se sentou do outro lado da mesa. Will nunca foi muito bom em respeitar o espaço dos outros, era impressionante como ele e Nico conseguiram se entender.

-Sim, já se passaram alguns meses desde a última vez. – Observou o outro, ele estava bem melhor do que quando o encontrou no antigo apartamento dele e Nico, se arriscava a dizer que o loiro estava mais radiante do que quando ainda namorava. – Como vão as coisas

-Agora acho que consegui superar toda aquela coisa. Dizem que fui mais rápido do que o normal, suspeito que tenha algo a ver com meu pai ser o deus dos solteiros. – Ele deu de ombros relaxado. – Pelo visto realmente não era para ser. E o Nico como vai?

Era um tanto perturbador ver o outro falando do moreno com tanta indiferença, na verdade não se tratava de indiferença, só não havia todo aquele sentimento que Jason estava acostumado a ouvir daquela boca toda vez que o nome do italiano era proferido.

-Ainda morando comigo, acho que ele superou o término do jeito dele, no começo foi meio instável, mas agora parece melhor consigo mesmo. – Sorriu realmente acreditando em suas palavras.

O outro também sorriu, alivio tomando conta da sua expressão e provando que ele ainda se importava genuinamente com o filho de Hades.

-Fico feliz. E também fico feliz que ele tenha um amigo tão bom como você para o apoiar nesses momentos. – A forma com que ele falou ‘amigo’ fora um tanto estranha, sugestiva. – Se é que ainda são amigos.

-Acho que ele não continuaria morando comigo se não fossemos amigos. – Piscou confuso pela fala do filho de Apolo que suspirou pesadamente.

-Ah, Jason, por favor né? Eu sei que rola alguma coisa além de amizade entre vocês. – O sangue de Jason gelou. – Pensei que nesse tempo todo que os dois estiveram morando solteiros e juntinhos algo iria acontecer.

-N-Não é bem assim... e-eu... – Sabia que estava corando pesadamente, Will apenas se inclinou com os cotovelos na mesa e o olhava de cima a baixo.

-Jason, dava para ver o jeito que você olhava para ele e conheço o Nico o suficiente para reconhecer quando ele sente algo por alguém, ele pode se passar por frio e inexpressivo, mas na verdade é isso que o faz ser extremamente expressivo. – O filho de Júpiter apenas encarou o outro com os olhos arregalados na mais sincera confusão. – Pelos deuses! Não me diga que vocês realmente não fizeram nada. Sinceramente, eu não saí do jogo para vocês dois ficarem apaixonados um pelo outro cada um no seu canto.

-Ele sente apenas amizade por mim, esses dias até fui comparado com uma mãe para ele. – Desistiu de esconder, estava claro que Solace já havia notado seus sentimentos, o que era surpreendente pois eles quase não se viam.

-Então você vai deixar as coisas assim? Ok, sabe, consegui estabilizar minha vida, agora tenho um horário aceitável de trabalho, esse tinha sido um dos motivos do Nico terminar comigo, acredito que agora sem esse obstáculo eu poderia conseguir uma segunda chance com ele. – O loiro o olhou de lado. – Fico feliz em saber que mesmo sentindo coisas por ele você não vai fazer absolutamente nada e deixar o caminho livre para mim.

Seu queixo caiu e os batimentos aceleraram.

Não, não, não.

-Você não pode ficar com ele de novo. – Falou entredentes.

-Por que não? Estou solteiro, ele também... Ah e tem essa pessoa que é a fim dele, mas ela não vai fazer nada, acredito que não goste dele o bastante para tentar fazer algo. - O ar começou a cheirar a ozônio, tinha vontade de arrancar com as próprias mãos aquele sorrisinho debochado da cara do outro. Solace parece notar essas mudanças pois logo ergueu as mãos. – Opa, calma aí, não me ouviu falando que já estou bem com a vida de solteiro? Eu não vou dar em cima dele outra vez, não tão cedo pelo menos.

Piscou momentaneamente confuso e então a realização bateu.

-Sério que estava falando tudo aquilo para me provocar?

-Funcionou, não funcionou? – Ele sorriu notando que o platinado estava mais calmo. – Mas estou falando sério, de nada vai adiantar você ficar só rondando o cara e vice e versa, alguém aí tem que tomar uma atitude e conheço o Nico bem o suficiente para saber que não vai ser ele.

Jason suspirou apoiando seu peso contra o encosto.

-Você é tipo, a terceira pessoa que me fala algo do tipo. – Estava encarando as luzes no teto então não sabia que tipo de expressão o outro fazia.

-Pois bem, e o que você fez?

-Estou tomando atitude, tenho me aproximado aos poucos dele.

-Jason, fazem meses que vocês estão nisso, a não ser que sua atitude seja algo como segurar mãos e demonstrar pequenos carinhos aqui e ali como se fosse um estudante do fundamental, não consigo ver como você estaria tomando uma atitude. – Todo o rosto e pescoço de Grace se avermelharam o entregando. O tom do loiro mudou para pura exasperação.  – Você realmente está flertando igual um estudante do fundamental...

-O que eu poderia fazer? Não é como se eu pudesse me ajoelhar do nada e declarar meu amor sem aviso prévio. – Tentou se defender, voltando a sentar com as costas retas.

-Mas também não é para se aproximar como se ele fosse um animal silvestre e violento, qual seria o próximo passo? O atrair com comida para mostrar que você é amigo? – Will olhou ao redor ao terminar de falar. – Oh, não me diga que está no restaurante favorito dele para...

-Não, isso eu não estou. – O cortou rapidamente antes de ser acusado. – Só queria sair um pouco e aproveitei para comprar o jantar.

Will não parecia muito convencido o olhando de cima a baixo, mas deixou passar.

-Muito bem, não acredito que vou ajudar um cara a dar em cima do meu ex. – Não é como se ele tivesse pedido também, mas não falaria nada pois realmente estava aceitando ajuda. – O quanto vocês avançaram nisso daí?

-Hoje dei um beijo na testa dele.

Solace bateu a própria testa na mesa e depois se ergueu rapidamente começando a falar um pouco alto demais para o gosto do platinado.

-Sério, Grace? sério? Pela forma que você acabou de falar já posso até deduzir que foi o primeiro beijo na testa que vocês tiveram e você ainda fala disso como se, sei lá, tivessem transado pela primeira vez. Vamos lá, o que pretende fazer em seguida? Um beijo na bochecha? Um polêmico, indecente e ousado beijo na bochecha?

-Eu só queria levar as coisas com calma. – Falando daquela forma seu plano parecia bem ruim, não podia negar.

-Cara, vocês já tinham contato físico antes, já era próximos o suficiente para pular essas partes. – Ele fez uma pausa dramática. – Vocês já até dividiram a mesma cama.

-Aquilo era diferente, foi um caso de necessidade por causa dos pesadelos. – Seu argumento foi completamente ignorado pelo outro que apenas continuou a falar.

-Jason, se ponha no lugar dele. – Will suspirou e começou a falar como se estivesse lidando com uma criança. – O melhor amigo dele está criando mais contato físico bem lentamente, e bota lentamente nisso, depois que ambos começaram a morar juntos.

-Talvez esse amigo tenha sentimentos por ele e está os demonstrando em pequenos gestos. – Ainda se defendia, na sua mente aquilo fazia sentido, mas o outro apenas revirou os olhos.

-Ou ele está só agindo como um amigo próximo que está ficando mais confortável na sua presença gerando uma relação super fraternal e nem um pouco romântica. – Aquele choque de sinceridade bateu como um tapa. – Agora pense, esse amigo começou a fazer indiretas de como eles ficariam bem juntos como um casal, comentários sobre como ele é sensual e coisas do tipo. Ou então, esse amigo quebra subitamente o espaço pessoal criando bastante contato físico, muito mais do que segurar mãozinhas.

-Esse amigo quer algo mais ou é extremamente inconveniente, eu me afastaria dele. – Franziu o nariz, Will não esperava que ele fizesse algo do tipo, se bem que pelo o que ele sabia fora exatamente isso que o loiro fez para conquistar Nico.

-Talvez, mas se você estiver a fim desse amigo então as coisas são diferentes e você vai gostar disso. – Ele ergueu as sobrancelhas e Jason negou com a cabeça cruzando os braços. – Ah, vamos lá, qual é o pior que pode acontecer? Ele se afastar de você?

-Sim, e esse é um preço que não posso pagar. – Sentiu um frio no estômago somente de pensar na possibilidade. O outro suspirou.

-Cara, pense racionalmente, você já devia ter se afastado dele quando começou com esses sentimentos e ele namorava comigo. – Espera, desde quando Will sabia sobre ele? – O que vier é lucro, se ele se afastar é melhor para os dois, você finalmente vai ter a distância que precisa para superar isso.

Silêncio.

Queria responder algo, mas palavras não vinham a sua boca, Will tinha razão e negar não adiantaria de nada.

O filho de Apolo quebrou o silêncio que se instalou naquela mesa.

-E quer saber de algo? Aposto meu arco que ele vai ficar feliz sem saber do que você sente. – Ele parecia anormalmente sério e levemente triste ao falar.

Jason quis perguntar de onde ele tinha tanta certeza, porém, nesse momento a funcionária chegou pedindo para que o cacheado fosse ao balcão.

-Mil perdões, senhor Grace, houve um pequeno atraso com seu pedido, mas em breve ele estará pronto. – Ela se dirigiu a ele que agora estava sozinho na mesa.

-Tudo bem, não tenho pressa. – Voltou a se recostar na cadeira tentando absorver o que ouvira.

Will costumava ter um tom calmo e brincalhão na maior parte do tempo, provavelmente era a primeira vez que alguém ouvia falando tão seriamente. Viu o loiro pegando seu pedido e saindo do restaurante, parando apenas para dar um último olhar em sua direção e fazer um sinal com a cabeça, como se reforçasse suas palavras.

Estava tão imerso em seus pensamentos e ouvindo as palavras do outro se repetindo em sua mente que nem notou que havia chego em casa. Apenas voltou a si quando percebeu que estava tentando destrancar a porta usando um cupom de desconto que devia ter ganho no restaurante como pedido de desculpas pelo atraso.

Esperava que as câmeras de segurança não tivessem gravado seus cinco minutos de estupidez na frente daquela porta.

Colocou as compras na geladeira só então notando o quanto o pedido atrasou, Nico chegaria em cerca de uma hora.

Okay.

Cupido o aconselhou a tomar iniciativa.

A filha da deusa do amor o incentivou a tomar iniciativa.

O ex namorado do cara que ele está apaixonado o incentivou a tomar iniciativa.

O que ele deveria fazer?

Andou de um lado para o outro inquieto.

Falar para tomar iniciativa era fácil, decidir tomar iniciativa nem tanto, mas era possível.

Agora, como tomar iniciativa era o problema.

Pegou um Dracma e o prisma para mensagens de íris, afinal, aquela era uma emergência.

...

-Okay, okay, deixa eu ver se entendi. Você está caidinho pelo Di Angelo e quer se confessar para ele. Não esperava, mas não me surpreendo. E para isso você pediu ajuda para o Bad Boy supremo aqui. – Leu falava enquanto movia todo tipo de maquinário nas mãos. – Posso ver o motivo de sua escolha, sou incrível em conquistar corações, mas também sou um solteiro convicto que desde Calypso nunca tive um relacionamento maior do que uma semana, sério cara, não era melhor pedir ajuda da rainha da beleza para esse tipo de coisa?

-Ela já me ajudou demais e você é o meu melhor amigo, a única pessoa que eu poderia contar para isso. – Admitia que Leo talvez não tenha sido a melhor escolha para pedir conselhos, mas estava desesperado e não mentia ao dizer que o latino era um de seus melhores amigos.

-Ei! Se vocês namorarem significa que eu volto a ser seu melhor amigo número um! – Uma coisa que odiava em Valdez era sua dificuldade em manter o foco em uma conversa. – Pode deixar comigo, vou fazer vocês se tornarem o melhor casal do mundo. Quem são Percy e Annie perto de Jason e Nico? Nada!

-Okay, cara, eu já entendi, mas é sério, eu não sei como tomar iniciativa para essas coisas. – Apressou o latino.

-É só falar o que sente e perguntar se ele topa. – Ele deu de ombros para desespero do platinado. – Recomendo chamar de mamacita em algum momento também, elas adoram.

Passou as mãos pelo rosto exasperado.

-Leo, eu não posso parar na frente dele e falar: “Ei, Nico eu estou perdidamente apaixonado por você, me daria uma chance?” o que ele ia responder?

-Então, cara, eu não sei. – O latino parecia extremamente nervoso. – E você, Nico, o que responderia?

O sangue de Jason gelou.

Leo rapidamente passou a mão pela mensagem encerrando a transmissão.

Se virou lentamente.

Lá estava ele, o moreno que tomava conta de seus pensamentos dia e noite.

Talvez ele não tenha escutado...

A quem estava tentando enganar, pelos lábios entreabertos, olhos arregalados e leve rubor na face certamente ele escutou mais do que o filho de Júpiter gostaria.

Engoliu em seco.

Por que, de todos os momentos que ele poderia ter escolhido para chegar, ele havia chego exatamente naquele instante da conversa.

Por que Jason tinha que ter escolhido justamente aquelas palavras? Podia muito bem ter dito algo que não envolvesse o nome do italiano e ele poderia ter contornado a situação facilmente.

Mas nãããão

Ele tinha que deixar aquela informação escapar da forma mais tosca possível.

Nem quando enfrentou os titãs no monte Otis ele foi capaz de ouvir seus batimentos como ouvia agora.

Nem quando ficou cara a cara com Gaia suas mãos suaram daquela forma.

Nem quando viu seus amigos caindo no Tártaro seu estômago se embrulhou daquela forma.

Esse era o poder que Nico Di Angelo tinha sobre ele, capaz de superar todas as forças mais poderosas que habitam a Terra.