Quem é você? A pergunta ficava martelando na cabeça, tirando minha atenção do jogo de vôlei que estava rolando durante a aula. Acordo do devaneio ao sentir uma pancada na cabeça, me fazendo cair no chão.
Era só o que me faltava
Óbvio que não deixaram de rir da minha cara. Todos daquela maldita escola me desprezam por ter sido abandonada por meus pais… Nunca entendi o por que isso era motivo de piada para as outras pessoas, elas não sabem como é a sensação. Acho que na verdade nem eu sei… eu nunca soube o motivo do abandono, já tentei perguntar para minha tia, mas ela nunca diz nada.
Apenas ouvia os comentários ao fundo:
“Ih olha lá a órfã, se nem os pais a quiseram imagina a gente!”
“Agora ela vai chorando pra mamãe… Ah não espera, ELA NÃO TEM UMA HAHAHAHA”
Jang-mi veio correndo pra me ajudar a levantar. Bato as mãos nos joelhos para tirar a sujeira mas uma dor absurda na cabeça me fez ficar um pouco desnorteada e acabo cambaleando para o lado. Sinto alguém me segurar pela cintura e algo me diz que não é minha amiga. Choco minha cabeça contra alguém e sinto uma respiração sobre meus cabelos. Olho para cima e vejo quem eu menos esperava...
O aluno novo
Ele me encarava com um semblante calmo. Aquela sensação nostálgica volta em forma de arrepios ao olhar ele tão de perto. Eu nunca o havia visto na vida, mas por alguma razão seu rosto me era familiar.
- Você está bem? Quer que eu te leve a enfermaria?
- Só estou um pouco tonta e com dor da pancada - esfrego a palma da mão no local que a bola me atingiu e sinto que um galo se formar - mas eu estou bem, já pode me soltar.
Ele não desviou seu olhar nem por um segundo. De repente vejo o garoto de ajoelhar e virar de costas para mim.
- Você não me parece bem. Vamos, suba em mim, eu te levo até a enfermaria.
Estou ficando louca ou ele realmente me pediu para subir nele?
Jang-mi me olhava com um pequeno sorriso sacana em seus lábios
- N-não precisa, eu estou bem… - nem consegui terminar de falar direito, apenas vejo o garoto se levantar. Seus braços deram a volta em minhas pernas e ele me ergueu em um movimento rápido. - EI, me põe no chão, eu já disse que estou bem!
- Aish, não seja teimosa, estou te ajudando! - seus músculos estavam marcados na camisa, o que claramente chamou, não só a minha atenção, mas de todas as garotas que estavam por perto.
A esse ponto já não sabia mais onde enfiar a cara. Como se já não bastasse passar por uma humilhação todos os dias.
Deito minha cabeça sobre sua clavícula, me sentindo cada vez mais tonta por conta da pancada forte que recebi. O menino, que até agora não sei o nome, começa a andar para dentro da escola e, durante o caminho, senti olhares de muitas garotas que provavelmente estavam incrédulas por me verem perto de uma “carne nova”. Sim, naquele colégio todos os garotos novos e bonitos eram chamados de “carne nova”.
Chegando na enfermaria, ele me deita em uma maca que estava encostada na parede e chama a enfermeira.
- Ah, _____, o que houve dessa vez? - pergunta a enfermeira. Muitas vezes eu vinha parar aqui por conta do bullying que eu recebia, por isso ela já estava acostumada com a minha presença ali. Ela sempre foi gentil comigo.
- Não aconteceu nada, eu estou bem bem, esse idiota que me arrastou pra cá - olho emburrada para o garoto
- Mal agradecida… Enfermeira, nós estávamos em um jogo de vôlei e ela acabou levando uma bolada forte na cabeça
- Pode me chamar de Anna - sorriu e logo após se virou para me analisar - Está se sentindo tonta? Meu deus dá pra ver seu galo daqui, fica deitada que eu vou dar um remédio pra você - ordenou - Inclusive, obrigada por ter cuidado dela!
- Ah, pode de chamar de Jungkook - sorriu de volta para Anna
Então esse é o seu nome…
**Quebra de tempo**
Onde estou?
Olho para os lados e tudo o que consigo ver são pessoas queimando em meio a chamas negras. Elas gritavam, agoniadas pedindo por ajuda. Eu não conseguia me mover. Queria ajudar aquelas pessoas, tirá-las de lá, mas não havia nada que eu pudesse fazer.
A cena era perturbadora, tudo o que eu conseguia fazer era chorar.
De repente ouço um estalo seguido de um grito. Um pouco distante de onde eu estava, vejo uma cena totalmente desumana.
Um garoto, que aparentava ter minha idade, de cabelos negros, estava ajoelhado dentro de uma jaula. Ele estava de joelhos no chão, sangrando e pendia sua cabeça para frente, aparentemente sem forças para revidar as várias chicotadas que recebia em suas costas.
Cada estalo que ouvia era um grito de dor
- PAREM, EU NÃO AGUENTO MAIS
- Não vamos parar até que você aceite o que o chefe lhe pediu!! - o homem que continha o chicote ensanguentado em suas mãos se manifesta
- NÃO POSSO FAZER ISSO, ELA É INOCENTE - leva outra chicotada - AAAAAGH!
- Olha de onde você vem garoto, aqui não existe essa história de inocente. Você não tem alma para sentir pena de alguém - havia mais uma pessoa dentro da jaula, junto com o homem do chicote
Lágrimas escorriam por todo o meu rosto. Como alguém pode fazer isso com outra pessoa? Eu preciso fazer alguma coisa
- PAREM!! - finalmente consigo fôlego
Os dois olham rapidamente em minha direção, porém, tudo fica escuro, não consigo enxergar mais nada. Ainda sim, consigo ouvir uma respiração afobada, seguido de alguns cochichos
- C-como..?
**
Levanto rapidamente da cama com a respiração pesada, desejando que tudo aquilo tivesse sido um sonho qualquer, mas sinto um peso crescer em meu coração e lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Não sei o que aquele sonho significava, mas estava começando a pressentir algo ruim.
Após me acalmar um pouco, percebo que ainda estou na sala da enfermeira. Olho para o relógio que estava na parede e vejo que já estava na hora de ir embora, pois o meu período tinha chegado ao fim. Anna não estava presente na sala, mas ainda sim deixei um pedaço de papel em sua mesa, a agradecendo pela ajuda.
Pego minhas coisas que estavam na sala de aula e vou andando até a escadaria principal que leva até a saída da escola. Durante o caminho aquele sonho ficava martelando na minha cabeça.
Aquilo foi realmente um sonho? Parecia tão… real
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