O silêncio confortável reinava entre Meliodas e eu enquanto observavamos o pequeno lago a nossa frente. Tranquilamente termino de comer a última fruta que sobrara no cesto entre nós e encaro o loiro confusa ao vê-lo me observando por tempo demais.
- O que foi? - Questiono e ele dá de ombros.
- Nada, eu só estou entediado.
Arqueio as sobrancelhas e volto a observar a paisagem a nossa frente, ainda sentindo o olhar dele sobre mim.
- Não me sinto confortável com você me encarando desta forma.
Meliodas ri baixo e balança a cabeça para os lados antes de se levantar do chão onde estamos, ele para na minha frente e estende a mão para mim, oferecendo ajuda. Agradeço em um murmúrio e levanto tirando a sujeira da grama que grudou em minha roupa.
- Quer caminhar por aí? - Ele questiona sem deixar de olhar em nossa volta.
Arrumo minha camiseta e ergo a cabeça para o céu límpido, ter Meliodas encobrindo minha presença não estava sendo bom e nenhum pouco confortável.
- Claro, vamos.
Sigo ele pelo campo aberto e paro somente para tirar meus sapatos e continuo andando agora descalça.
- Você está me deixando desorientada! - Reclamo após minutos em silêncio, Meliodas para de caminhar e se vira para me olhar sobre o ombro.
- Por que estou deixando você assim?
Reviro os olhos.
- Isso que está fazendo, exalando todo seu poder para me encobrir. Quer me dizer o por quê está fazendo isso?!
Cruzo os braços sobre o peito quando, prontamente sou ignorada pelo loiro que continua seu caminho.
- Meliodas! - Grito irritada - Por que está agindo assim?!
Ele bufa e vira de frente para mim com o cenho franzido e uma expressão brava. Hesitante dou alguns passos para trás e resmungo ao bater as costas em uma árvore.
- Eu estou tentando proteger você, Elizabeth. Então pare de perguntar coisas que não posso responder.
Pisco surpresa e concordo lentamente quando ele se afasta e volta a caminhar.
Continuo estagnada no lugar sem conseguir respirar normalmente, assustada demais para pensar ou agir normalmente, já que Meliodas nunca havia agido de tal forma comigo.
Está tentando me proteger do quê?
Mordo meu lábio com força e corro atrás de Meliodas já à alguns metros de mim.
O relacionamento entre nós estava estranho desde o dia que o mesmo me protegeu daquele demônio vermelho que estava o seguindo, o mesmo dia que ele me beijou. Algumas semanas já se passaram e desde então ele age estranhamente, sempre encobrindo qualquer rastro que denuncie minha presença, vigiando nossa volta como se a qualquer momento algo pudesse nos atacar. Junto com seu excesso de proteção veio o comportamento anormal que começava a me assustar.
- Me espera! - Exclamo quando percebo que estou longe demais para alcançá-lo somente andando.
Nervosa por ser ignorada por ele, dou meia volta e corro até a beirada do barranco onde estamos, flexiono os joelhos e pulo o mais alto que posso, voando para longe.
- Elizabeth! - O grito de Meliodas ecoa pelo vale e eu o ignoro completamente enquanto vôo para longe.
★★★
Depois de voar pelo que parece ser horas decido parar em um local completamente desconhecido por mim, a noite já tinha se encarregado em enegrecer o céu completamente e, provavelmente, isso me deixaria com graves problemas para resolver com Nerobasta e Ryudoshel, já que eu deveria ter voltado a horas.
Largo-me sentada na grama alta e mal cuidada, observo as estrelas brilhando no céu ainda me sentindo irritada com Meliodas.
Lentamente o cansaço de um dia corrido e cheio de emoções faz com que meus olhos pesem e mesmo lutando contra isso acabo por cochilar perdida em uma mata que não conheço.
~✓~
Acordo confusa e desorientada ao ouvir um choro baixinho seguido por resmungos sem sentido, porém bem perceptível a irritação.
Levanto do chão e tiro o pouco de folha seca que grudou em minha roupa, jogo meus cabelos para trás dos ombros e sigo o som do choro enquanto tento decorar o caminho que faço.
A única iluminação que passa entre os ramos e folhas é a luz da lua cheia, que aparece entre as copas das árvores e deixa o caminho claro o suficiente para que eu evite de tropeçar nas raízes altas, escondidas pela grama e folhas caídas. Paro de repente ao ver a apenas alguns metros de mim um garotinho sentado no chão, abraçado as próprias pernas ainda chorando, mesmo que agora não passe de fungadas e reclamações baixinhas.
Respiro fundo e me aproximo suavemente, com medo de assustá-lo, porém ele parece nem mesmo ter ouvido meus passos, com cuidado me ajoelho a sua frente e apóio mãos sobre minhas coxas sem deixar de observar o garotinho.
A luz da lua deixa seu cabelo em um tom de cinza e a pele pálida, do mesmo jeito que a minha. Hesitante ergo a mão e suavemente toco seu antebraço, visando não assustá-lo o que não dá certo, já que ele ergue a cabeça subitamente e olha para mim com os olhos levemente arregalados.
Observo sua feição assustada e a forma um tanto quanto bonitinha que sua boca estava, em um biquinho.
- O que quer?
Olho para o garotinho por alguns segundos tentando entender o porquê de sua irritação.
- Você está bem?
- E por que não estaria? - Ele rebate ácido o que me faz segurar a vontade de revirar os olhos, irritada por sua forma de me tratar.
- Ninguém chora por nada, por isso acho que você não está bem.
- Vá embora, eu não quero sua opinião sobre o que acha ou deixa de achar.
Indignada abro a boca pronta para retrucar sua grosseria quando ele funga e esfrega as mãos nas bochechas, tirando os rastros de lágrimas secas. Suspiro audivelmente e me sento a sua frente, completamente em silêncio.
Curioso ele olha para minhas asas por longos minutos, as íris negras observando atentamente antes de de me olhar nos olhos.
- Você é uma deusa - Ele afirma e eu sorrio fraco concordando - Você é estranha.
Surpresa com sua fala abro a boca duas vezes tentando achar argumento bom o suficiente para usar contra ele, mas desisto quando o mesmo da de ombros.
- Você vai me contar o por quê de estar chorando?
Ele tomba a cabeça para o lado sem desviar a atenção de mim, que fico surpresa ao ver o símbolo tatuado em sua testa, a mesma que está na de Meliodas, o símbolo do clã dos demônios. O garotinho volta a postura ereta e balança a cabeça para os lados arrumando sua franja para o lado.
- Meu irmão está mentindo para mim.
- Como sabe?
- Não importa, mas eu sei que ele está mentindo para mim.
- Quem é seu irmão?
Questiono curiosa e me inclino para frente ao mesmo tempo que o garotinho sorri.
- É Meliodas, líder de um grupo. Ele é o demônio mais poderoso de todos!
O ar parece sumir dos meus pulmões e um arregalo os olhos.
- E é uma questão de tempo até eu descobrir o porquê meu irmão está mentindo para mim.
Lembro da briga que tive mais cedo com Meliodas e de repente tudo parece se encaixar, o jeito estranho como ele estava agindo e até a forma como estava encobrindo minha presença. Era para me proteger e evitar que seu irmão me encontrasse, para tentar afastá-lo de mim.
Definitivamente não será bom se ele souber que eu sou o motivo das mentiras de Meliodas.
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