A sensação de ter minha pele queimando apenas aumentou quando, lentamente, comecei a recobrar a consciência.
Abro meus olhos com extrema dificuldade e viro a cabeça tentando me acostumar com a claridade, a maciez dos tecidos da cama sob meu corpo ameniza um pouco do desconforto respiratório porém não o suficiente para me deixar inspirar o ar naturalmente.
Com o cenho franzido esfrego minha mão sobre o nariz e resmungo fraco, meu corpo todo dói.
Com dificuldade sento-me na cama e observo envolta do cômodo procurando por qualquer indício de que aquele demônio tenha passado por aqui. A porta do quarto se abre e Nerobasta entra com os braços cruzados sob o peito, o semblante preocupado com pequenos vincos em sua testa não se suaviza mesmo depois de me ver acordada.
Ela se aproxima em silêncio e põe a mão em minhas costas, imediatamente o desconforto some e consigo respirar profundamente, assim como as escoriações e manchas em minha pele começam a sumir.
Nerobasta solta um resmungo baixo e se senta na minha frente, preparo-me para ouvir um sermão sobre o quão perigoso e arriscado foi o ataque que sofri.
- Eu sei que foi arrisca...
- Eu fiquei tão preocupada! - Nerobasta esconde o rosto entre as mãos.
- O quê?
- Você tem idéia do perigo que você passou Elizabeth? Foi atacada por um demônio.
- Um demônio... - Sussurro.
- Ainda bem que uma fada te encontrou na floresta, você estava desacordada e machucada.
- Doía - Murmuro e coloco a mão sobre o peito.
- Era pra doer mesmo, você foi infectada por miasma.
- Miasma? - Questiono curiosa.
- Sim, é nocivo para todos, não importa de qual clã seja.
Assinto movendo a cabeça e Nerobasta me olha nos olhos.
- Você consegue se lembrar como era o demônio que te atacou?
Perfeitamente, é um garoto loiro com um símbolo que nunca vi, tatuado em sua testa.
- Não, não consigo me lembrar - Encolho os ombros e surpresa demais abro minhas asas esquerdas após não senti-las fisgar.
- Você estava bem ferida - Ela fala baixo - Sariel e eu curamos boa parte de suas feridas, mas não todas, então não de mexa demais.
- Tudo bem.
Nerobasta afaga minha mão e eu observo o jeito que seus ombros parecem caídos.
- E não nos assuste novamente, Elizabeth.
- Tentarei - Respondo em um sorriso e aceno assim que ela saí.
Sozinha com meus pensamentos seguro cuidadosamente minhas asas que estavam feridas e afago minhas penas.
Aquele garoto, é estranho.
Um demônio em forma de humano, sem ser horrendo... Ele me atraí de uma forma inexplicável... Mas não devemos ter complacência de demônios, certo?
(...)
- Como você se sente? - Thaumiel pergunta assim que me vê andando tranquilamente.
- Bem, já não tem miasma em meu organismo.
- Bom - Ele acena positivamente com a cabeça e em seguida cruza os braços sobre o peito, quando tento passar por ele suas asas bloqueiam o caminho - Está procurando pelo quê?
- Eu... Ahn, quero estudar mais sobre o miasma - Murmuro - Estou curiosa para saber o porquê é tão nocivo para nós.
Ele me olha sem esboçar reação por longos segundos e em seguida dá de ombros.
- Nosso conhecimento a respeito do clã dos demônios é limitado - Thaumiel explica - Mas há algumas coisas que irão te ajudar na sala ao lado da biblioteca.
Sorrio abertamente e passo assim que ele se afasta, caminho o mais rápido possível até a sala indicada e entro pronta para procurar qualquer coisa que me explique nem que seja somente um pouco, o quê é aquele menino.
★
Foi simplesmente decepcionante não encontrar nada do que eu precisava - e queria saber - nos poucos livros que encontrei na sala.
Havia explicações sobre o demônio vermelho, cinza entre outros que não atraíram minha atenção, procurei por horas até notar que não encontraria nada sobre o símbolo e decepcionada decidi que não procuraria por mais nada.
Um pouco mais difícil do que seria normalmente, me esgueirei para longe dos olhos atentos de Nerobasta, Sariel e Thaumiel, eu só precisava de um tempo sozinha. O vento morno chocando-se contra meu rosto enquanto vôo me deixa calma e aceno sem deixar de sorrir quando encontro uma das fadas que deveriam estar na floresta do rei das fadas, deduzo por seu sorriso aliviado que fora ela a responsável que me encontrou desmaiada na floresta.
Continuo meu caminho e pouso graciosamente no galho de uma árvore antiga de tronco largo, observo o céu azul límpido por longas horas até sentir o mesmo poder sufocante pelas redondezas.
Curiosa olho para baixo e observo o garoto limpar o sangue escuro escorrido em seu rosto e pescoço, levanto as sobrancelhas surpresa quando ele some do meu campo de visão e procuro por ele na redondeza.
- Você é irritante...
Grito assustada quando a voz fria soa atrás de mim e quase caio do galho da árvore, viro para encarar o garoto sentado no galho à poucos metros de distância.
Ele esfrega o tecido de sua roupa no sangue em seu braço.
- Vive me seguindo. - Ele concluí e ergue as orbes negras opacas.
- Eu não vivo te seguindo é apenas coincidência.
- Claro, as asinhas brancas sempre trazem você onde há riscos de morte?
Estreito o olhar devido ao deboche usado pelo garoto a respeito das minhas asas.
- Eu paro de te seguir se responder algumas perguntas.
- Não irei responder nada - Ele reclama - Pare de me seguir deusa, já não basta o que passou?
- O que você é? - Ignoro a pergunta feita por ele.
- A superioridade do seu clã, faz com que esqueçam tudo que julgam não ser importante?
- Seu egocentrismo o faz ser irritante assim?
- Sou um demônio - Ele estreita o olhar - Demônio.
- Mas demônios não tem aparência humana.
- Deveria tê-la matado quando desmaiou - Ele franze o cenho e pula do galho, inclino-me para frente e procuro pelo o mesmo, mas não encontro nada.
O frio na barriga ainda continua todas as vezes que o encontro, entretanto uma leve curiosidade sobre ele floresce cada vez mais.
- Qual é o seu nome, garoto? - Exclamo do alto da árvore.
Grito quando sinto uma mão leviana segurar a ponta de minha asa.
- Eu sou velho para um garoto, sou um líder - Ele responde baixo e eu travo quando ele aproxima seu rosto do meu e sussurra: - Meliodas, esse é meu nome.
Ruborizo e de esguelha vejo um sorriso satisfeito surgir nos lábios do loiro.
- Sou Elizabeth.
- Muito prazer, deusa Elizabeth. - Ele pisca e solta a mão de minha asa.
Desta vez não sinto seu poder em minha volta e me permito soltar lentamente o ar que prendi.
Que sensação estranha é essa em meu peito?
Desço da árvore com cuidado e caminho até estar bem perto da aldeia dos humanos, observá-los me acalmava então provavelmente irá passar esta sensação que sinto.
Ou talvez seja efeito do miasma que não saiu totalmente do meu organismo.
No alto de uma árvore e escondida por suas folhas, observo alguns humanos conversarem com um sorriso contente nos lábios, uma mulher caminha vagarosamente enquanto acaricia sua barriga inchada e um homem ao seu lado parece orgulhoso.
Por terem uma vida mais curta, os humanos casam e tem filhos para ter a chance de continuar sua linhagem por muitos e muitos anos. Eles fazem juras de amor, casam-se e novamente o ciclo de repete.
Mas, o quê é amor?
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