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História My Escape - Gotas de poesia


Escrita por: ArumGirl

Notas do Autor


Nem acredito que já estamos penúltimo capítulo. Vai ser muito difícil concluir esta fic, minha "primogênita" aqui no Spirit :((
Tenho outro projeto em mente, sobre Turma da Mônica também. Alguns já conhecem Siga as Estrelas, mas de qualquer forma irei postar futuramente um pouco mais sobre ela.

Enfim, chega de falar né? Vamos ao capítulo. 💙

Capítulo 42 - Gotas de poesia


Fanfic / Fanfiction My Escape - Gotas de poesia

Cascão

 

 Observo Magali amarrar um avental amarelo com branco em volta da cintura. Há tanta delicadeza em seus dedos quando estes moldam o pano até que este atinja o formato de um laço, que esse seu simples movimento me prende a atenção.

 Eu sou apaixonado por ela. Novidade né?

 Mas amar é novidade. Por mais que nós humanos tivéssemos sido criados para amar, não era algo que fazíamos com a frequência que deveria; por isso se tornava comum ficarmos tão impressionados, encantados, até mesmo bobos quando nos apaixonamos. Eu não me importava com nada disso, o mais importante era aproveitar cada momento que tinha ao lado da mulher da minha vida, fosse isso "brega" na visão dos outros ou não.

 "É sobre o que você acredita. Eu acredito no amor e apenas o amor pode salvar o mundo", já dizia a minha amabilíssima Mulher Maravilha.

- Quer ajuda em alguma coisa, linda? - me ofereço, observando-a ficar na ponta dos pés para tentar pegar algo em cima do armário assim que ponho os pés na cozinha de sua casa.

 Ela se vira para mim com um sorriso travesso quando consegue alcançar a forma de alumínio.

 - Não, não, eu já terminei aqui, só vou fazer o brigadeiro para a cobertura e o bolo estará pronto.

 Nós tínhamos ficado responsáveis pelo bolo na comemoração de boas-vindas que Denise estava organizando para o meu melhor amigo.

 - Tem certeza que não quer ajuda? Eu sei fazer um ótimo brigadeiro. - insisto.

 - Não, lindo, não é preciso. Sério. - reforça, mas sua voz está longe de ser rude. Parece mais um anjo falando. - Pode ir terminar de assistir seu Cosmo Guerreiro.

  Encolho os ombros.

 - Pausei o episódio para vir até aqui ver você, então não estou perdendo nada. Mas na verdade, vim também para saber de uma coisa. - acrescento com uma nota de falso suspense.

  Ela despeja o conteúdo homogêneo pela ação da batedeira na forma untada.

 - O que houve?

 Dou alguns passos à frente, pegando a forma de suas mãos quando vejo que esta está pronta para ir ao forno.

 - Está pesada, linda, deixa que eu coloco no forno para você. - respondo ao vê-la protestar perante minha intervenção.

 Assim que concluo o trabalho, volto à posição inicial, batendo uma mão na outra para me livrar dos grãos de farinha de trigo que grudaram-se em minha pele.

 - Você tem algum biscoito? Tô com muita fome.

 Minha namorada olha para mim com as sobrancelhas em união.

 - Você não já acabou com todo o resto de iogurte de graviola que eu tinha, raspou o chocolate da bacia da massa do bolo e comeu dois mistos quentes há pouco mais de uma hora atrás?

 Não vejo o absurdo que seu tom de voz insinua, então dou de ombros, sustentando um sorriso divertido.

 - Estou em fase de crescimento, Magá, você tem que me entender.

 Ela sorri.

 - Sei. Só se for crescimento para as laterais!

 Cruzo os braços sobre o peito, fingindo indignação ao lançar-lhe um olhar acusador.

 - Você por um acaso está dizendo que eu estou gordo?

 - Quê? não, amor. - ela nega rapidamente, fitando o meu bíceps exposto pela regata cinza que uso - Você está com um ótimo físico, de verdade. Só me impressiona que consiga mantê-lo mesmo ingerindo milhares de carboidratos por dia.

 Caminho até ela e a abraço pela cintura, apoiando o queixo em seu ombro.

 - Eu malho muito e não sou tão descontrolado quanto pareço. Na verdade eu só "libero geral" quando estou perto de você, porque né... - olho para a panela enfaticamente - é impossível se controlar diante de todas essas coisas gostosas que você sabe fazer.

 Ela murmura um "own" e me dá um beijinho no rosto, mexendo um pouco mais rápido a massa de brigadeiro que já começava a ganhar uma considerável consistência.

  Nos imagino dessa mesma maneira daqui a alguns anos. Ela, linda como sempre foi e será, cozinhando algo delicioso para nós dois após um dia cansativo de trabalho, e eu deste mesmo modo que estou agora, enlaçando sua cintura com os braços e ajudando no que for preciso. 

Me analiso por um instante, chegando à conclusão de que o pensamento não é machista quando me refiro a vê-la cozinhando, porque é algo que ama fazer.

 - O que foi, lindo? - minha namorada pergunta, me trazendo à realidade - você ficou calado de repente.

 Pisco os olhos, abrindo um sorriso que escondo na curva de seu pescoço.

 - Só estava pensando no futuro.

 - Eu estava nele?

 Assinto, me afastando para lhe dar o espaço que necessita para se agachar e ver como anda o bolo que cozinha no fogo baixo.

 - Sempre está, Magá.

 Não consigo ver o seu rosto pela posição que está, mas a conheço bem o suficiente para saber que há um sorriso em seus lábios.

 - E o Mingau? Ele também está nesse nosso futuro, não é?

 Por um momento eu não havia pensado nele conosco.

 - Quê? Vamos levar ele também?

 - Lógico, ué. - ela espeta o bolo com a ponta de uma faca serra para ver se já está no ponto. 

 Ao conferir que o metal ainda sai sujo de massa crua, fecha a tampa do forno e se põe de pé novamente. O objeto estala em atrito quando ela o põe dentro da pia.

 - Se me quiser no seu futuro, tem que saber que levará o Mingau junto para aonde quer que formos. E sua namorada também.

 - Namorada?

 - Sim. - ela ri - Mingau trouxe uma nova moradora para esta casa. Nossa menina se chama Aveia e não é estressada como o namorado, bem pelo contrário.

 Dou risada para aquela sua observação, o felino era inteligente afinal. Ele estaria perdido se arrumasse uma "garota" com o mesmo temperamento.

 Não sei porque cheguei a pensar diferente; Magá amava o bichano com todo o seu coração, afinal ele já estava ali com sua família há muito tempo, é claro que teríamos que levá-lo quando nos mudássemos.

 E a tal Aveia também.

 Meu Deus, imagina quantos gatinhos nasceriam de uma só vez quando eles resolvessem ter sua própria Lua de Mel!

 Por mais que não demonstrasse tanto eu gostava do bichano, apesar dele meter medo às vezes com aquele olhar intenso que me lançava e que mais lembrava o de um ser humano. Magá dizia que era porque ficava com ciúmes quando me via abraçado à sua dona

 - Eu ainda estou com fome. - digo após alguns instantes em silêncio refletindo sobre a família de felinos que teríamos em casa.

 Minha cozinheira preferida resmunga, mas responde em seguida:

 - Em cima da pia, na terceira porta do armário tem alguns biscoitos que você pode pegar, meu pequeno grande monstro.

 Pequeno grande monstro. Sorrio para o apelido que ela usava quando éramos mais jovens; sempre gostei da forma carinhosa que ela pronunciava essas palavras.

  Tínhamos reatado há quase três meses e eu ainda me surpreendia que nossa relação estivesse tão parecida com a que um dia existiu antes de toda a mentira da Penha. Nós havíamos sofrido tanto naquela época, era um milagre que nosso mais belo sentimento ainda estivesse guardado no peito após todos aqueles anos.

 Encontro uma caixa já aberta guardada em meio aos biscoitos diet que minha garota agora come para manter a "forma", como ela mesma diz. Parece ser Sucrilhos ou outro cereal, mas ao analisar melhor, vejo que são biscoitos. No meio de tanta coisa feita de aveia, mel e grãos, o nome "sabor chocolate" na caixa me chama a atenção. Eu realmente preciso de carboidratos e açúcares para acelerar o meu metabolismo.

 Talvez eu fosse um pouquinho chocólatra.

 Abro a caixa e encontro uns biscoitinhos em formato de peixes, estrelas e até corações. São pequeninos, menores que as rodelas normais, mas ainda sim parecem-me apetitosas.

 Dou a primeira mordida, estranhando o gosto a prior, mas aprovando assim que meu paladar capta o doce do chocolate. Mordo outra vez. E mais outra. Se Magali não tirar aquilo da minha mão a tempo, logo não restará nada na caixinha.

 - Amor, onde você compra esses biscoitinhos? São mó da hora. - elogio, devorando um após o outro.

Os olhos de Magali crescem ao fitar a caixa em minhas mãos e ela põe uma mão na boca, irrompendo em risadas que tingem suas bochechas de uma fofa tonalidade de vermelho. 

 Fala sério, aquela garota era o cúmulo da fofura.

- Cas, isso são os biscoitinhos do Mingau! - exclama em meio às risadas.

Paro de mastigar de imediato, me sentindo estranho ao ter conhecimento daquilo. Quase corro para colocar tudo para fora, mas seria horrível da minha parte estragar. Engulo de uma vez, abandonando a caixinha em cima do balcão da pia.

- Meu amor, você tem água aí? - pergunto e ela ri ainda mais, balançando a cabeça positivamente enquanto seca as lágrimas que vieram após o ataque de risos.

- Pode pegar na geladeira. - instrui, voltando a mexer a massa do bolo ainda sustentando um sorriso de diversão.

 Um alívio imenso me invade quando dou um gole de água gelada, fechando os olhos para tentar tirar da mente que chegara ao ponto de comer biscoitos para gatos.

 - Será que já está bom? - pergunta Magali, franzindo o cenho em dúvida para o chocolate fervente à sua frente.

 Volto a me aproximar dela, olhando agora para a mistura marrom escuro que pouco a pouco se desgrudava do fundo da panela. Pelo pouco conhecimento que eu tinha de culinária, deveria estar pronto.

 - Deixa eu experimentar. - sugiro.

 Ela parece concordar com a minha proposta e então baixa o fogo, passando o dedo indicador nas bordas da panela repleta de chocolate.

 - Muito bem, diga "a". - brinca, levando o dedo melado em direção à minha boca.

 - "A" - resmungo com a boca aberta num tamanho exagerado.

 Magali sorri quando experimento. 

- Está muito bom. Mas seu dedo é bem gostoso de morder.

- Ai! - ela solta um gritinho quando fixo a ponta nos dentes da região, contudo há um sorriso decorando seus lábios rosados.

Sorrio para ela, beijando o local levemente marcado enquanto mantenho os olhos fixos nos dela. Aquelas íris cor de mel tão atentas a mim sempre seriam o início do meu fim e o meu ponto de recomeço depois de qualquer vendaval.

- Vai ajudar a sarar mais rápido. - deposito um último beijo.

- Olhem só como ele está todo romântico! - sua outra mão desliza gentil pela maçã esquerda do meu rosto - talvez você mereça alguns beijinhos por todo esse cuidado fofo.

- ”Talvez”? Isso é um absurdo. Quero o meu pagamento neste exato instante, senhorita Fernandes.

Ela ri ao ver o meu bico infantil e se inclina para pressionar a boca contra a minha. Seguro a sua cintura de modo delicado para ajudá-la a se equilibrar, por mais que suas mãos estejam firmes em meu ombro.

Nada no mundo poderia ser comparado à textura suave de seus lábios, nem poderia me deixar tão em êxtase.

Mais do que tudo no mundo, queria ver aquele sorriso no rosto da minha garota todos os dias, e ser o motivo da maior parte deles também.

Agora e para sempre.



                                 ***
 

 

 Dois meses depois

 

 

 

 

Mônica

 

  Cebola havia me convidado para jantar num restaurante perto da casa de seus pais naquela noite de domingo. 

 Como ainda estava em tratamento, D. Cebola insistira para que ele ficasse em sua casa afim de poder cuidar melhor do filho, afinal não havia melhor assistência do que a de uma mãe.

 É claro que todos nós compreendíamos a necessidade que a matriarca da casa tinha em auxiliar o bancário no seu processo de recuperação, D. Cebola sempre fora uma mãe muito dedicada aos seus filhos. Por mais que o Menezes tenha ficado um pouco contrariado a princípio, julgando atrapalhar a progenitora em suas tarefas diárias, ele não demorou a aceitar que seus pais tinham razão em insistir para que passasse algumas semanas em sua antiga casa.

 Ele estava sendo acompanhado por uma fisioterapeuta conhecida de sua família e fazia as sessões de terapia em casa e em uma clínica não muito longe de onde trabalhava; geralmente era Maria ou seu namorado que o levavam, mesmo nossos amigos também nos ajudando com a sua locomoção pela cidade.

 Em sua coxa, agora repousava a marca do que seria uma cicatriz muito em breve, o recordando para sempre o gesto heróico que teve. Já no começo do segundo mês de tratamento ele conseguia se manter de pé sozinho,  o que resultou em pura festa e até mesmo alguns vídeos registrados pelo Cascão.

  Cebola fora capaz de deixar de lado o apoio das muletas há quase uma semana atrás e o sorriso de satisfação em seu rosto refletia o meu toda a vez que me vinha à tona o grande obstáculo no qual ele havia saído como vencedor. Fora muito gratificante estar ao seu lado em cada pequeno passo desta vitória.

 Ainda mancava, é claro, e em alguns instantes sentia uma dorzinha incômoda, mas nada grave que o impedisse de levar a sua vida normalmente.

 Meu turno fora até a metade da tarde, então foi mais tranquilo para mim ir para casa, conseguir tomar um banho relaxante e pôr uma roupa bonita para encontrá-lo. 

 Não era nenhum restaurante cinco estrelas não; era simples mas sofisticado, com bastante madeira das mais variadas cores formando as paredes e poemas de diversos autores famosos fixados nelas. Não me admirava em nada que fosse um dos lugares preferidos do meu vizinho, ele sempre fora apaixonado por tudo que precisa desse transformar em poesia.

 - Eu amei este lugar. - comento encantada para ele depois que já tenhamos passado um bom tempo ali dentro.

Ele sorri para mim.

- Fico muito feliz em saber disso, flor. Esse lugar é especial.

 Sua pele em contato com a minha mão me parece fria, e ergo os olhos para ele com uma típica preocupação.

 - Você está se sentindo bem?

 - Sim, sim, estou perfeito. - ele responde de imediato, notando o porquê da minha pergunta. - Só um pouco nervoso.

 Estranho.

- Nervoso? Por quê?

Vejo seu peito inflar ao passo que me fita. A curiosidade sobre o que pode estar afligindo-o está me matando.

- Eu preciso te dizer algumas coisas e é fundamental que sua atenção esteja completamente centrada em mim, ok?

 Assinto em concordância com o seu pedido, ajeitando melhor a postura para poder focalizar totalmente em suas próximas palavras.

 Ele se remexe em seu assento, suspirando um "muito bem" nervoso, antes de começar:

- Um autor muito famoso disse uma vez que “O amor é sempre paciente e generoso, nunca é invejoso; O amor nunca é prepotente nem orgulhoso, não é rude nem egoísta, não se ofende nem se ressente do mal; Não se alegra do pecado alheio, mas se regozija com a verdade. Tudo perdoa, tudo crê, e tudo espera e tudo tolera. Seja o que vier!” - ele sorri como sempre faz ao me olhar nos olhos, incentivando-me a repetir o seu gesto sem nem mesmo perceber. - Isso me lembra nós dois, flor. Nós passamos por tantas coisas nesses últimos dias, tivemos que enfrentar mentiras e perigos para estarmos aqui, hoje, juntos. - suspira, e percebo sua vez tremer por conta da emoção.

Mordo o lábio inferior quando o ardor característico toma conta dos meus olhos e aperto sua mão, que está envolta na minha.

- Eu te admiro tanto, Mô. - continua, olhando para nossas mãos juntas - Você é uma das pessoas mais fortes que conheço, mais doces, mais maravilhosas. Ama o que faz e deixa isso tão óbvio para todos, que é impossível não achar lindo esse seu carinho em cuidar das pessoas. Eu sou apaixonado por seu sorriso, por seus olhos, sua voz, seu beijo… - pausa e tenho que me esforçar para permanecer ouvindo-o. As batidas agitadas do meu coração de fato estão tão altas que sinto medo de não ouvir mais nada além delas.

-  Eu tenho muita sorte em ter conhecido você, agradeço a Deus pela oportunidade de aprender o que é o amor de verdade.

Ele para de falar, se afastando um pouco para retirar uma caixinha de veludo vermelho do bolso; a leva em minha direção e abre, revelando um anel quase tão bonito quanto o sentimento que expressa para mim.

Levo as mãos trêmulas à boca, totalmente envolvida pela emoção do momento.

- Por isso, minha tão bela poesia em forma de mulher, pergunto humildemente se você aceita namorar comigo?

Eu queria me afogar na imensidão de seus olhos e em cada um dos seus sorrisos.

- Claro que sim. - digo depois de atônitos segundos, sentindo algumas lágrimas teimosas invadirem as maçãs do meu rosto sem que eu permita.

Um anel delicado é colocado em meu dedo, com todo o aro envolvido por prata e alguns detalhes em dourado; na parte superior, uma pedrinha brilhante exibia todo o seu resplendor.

Após encaixar o acessório com cautela, Cebola beija o meu dedo anelar agora ocupado e seus olhos encaram os meus novamente.

Eu o amo tanto que nem sei dizer, por isso me aproximo.

- Obrigada por existir. - digo, encostando nossas testas. - "Você me deu uma eternidade dentro dos nossos dias numerados".

- ”Alguns infinitos são maiores que outros.” - fala em complemento à minha referência e sorrimos juntos.

Ele acaricia a lateral do meu rosto, selando a minha com um beijo que expressa amor, respeito e cuidado.

- Assim você me conquista ainda mais, sabia? citar A Culpa é das Estrelas é golpe baixo.

Sorrio.

- Eu sei o quanto você gosta desse livro. Vi um exemplar em sua estante há algumas semanas.

Havia várias páginas dele que estavam marcadas quando o folheei. Entre os trechos destacadas, estava o que eu acabei de falar. Achei que me seria útil algum dia, e acabei precisando dele bem mais rápido do que pensei.

Ele se separa para me olhar, uma de suas sobrancelhas se erguem quando ele diz, em tom de brincadeira:

- Você está mesmo tentando roubar o meu coração, não é?

O olho, levando os dedos para sua nuca num carinho suave.

- Estou fazendo um bom trabalho? - pergunto.

Meu namorado fecha os olhos com o meu toque, fazendo um sorriso bobo surgir em meus lábios ao observá-lo com aquele semblante pacífico.

Meu namorado. Eu gostava de como aquela dupla de palavras soava em minha mente.

- Ele é todo seu, enfermeira.

Mostro-lhe um sorriso encantado, beijando sua mão como fizera comigo há alguns minutos.

Linhas de expressão se formam em sua testa enquanto ele olha para algo acima da minha cabeça, distraído com alguma coisa que não está no meu alcance visual.

 - Não achei que iria chover hoje.

Viro-me para seguir o seu olhar, encontrando um basculante fechado que mostra alguns trechos da rua.

- Uau! - exclamo, admirada com o pé d'água que molha o chão lá fora. Eu também não esperava uma chuva daquelas.

Vários pingos se fixam ao vidro das janelas, deslizando com certa tristeza em direção ao chão.

O vento não está violento pelo que posso perceber, a chuva está propícia para quem quiser se ousar. Na mesa, nossas xícaras de café já estão vazias e os pratos também não contêm nada senão as migalhas de um antigo bolo de trigo. Fico aliviada por ele me trazer a um lugar em que possamos comer coisas assim, mais simples, mesmo hoje tendo sido uma data especial.

Cebola me conhecia muito bem, o bastante para saber que eu não me sentiria confortável num lugar muito luxuoso, e não fazia questão disso também.

Como já tínhamos acabado a refeição, realmente não há nada que nos prendesse ali por ora.

- Não tem medo de ficar doente, certo? - Menezes me pergunta de repente.

Olho para ele com uma expressão confusa, observando-o mexer no bolso da calça em busca da carteira. Ao achá-la, procura entre os compartimentos de couro o valor necessário e em seguida retira uma nota, depositando-a em cima da mesa.

- Não.

Meu vizinho se põe de pé, oferecendo-me uma mão. Há um brilho aventureiro em seu olhar que não deixo passar batido.

- Vem comigo, Mô?

- O que está fazendo? - pergunto, mas também já estou me levantando e segurando sua mão estendida.

Ele sorri e não me responde, entrelaçando os nossos dedos para guia-me para fora. Acho que tinha lido a minha mente através do meu semblante, como em tantos outros momentos que mal pude perceber.

Me puxa pela mão até que estejamos debaixo de toda aquela água que caía do céu, rindo como duas crianças felizes pelo banho natural. 

Nossos corpos juntam-se o suficiente para deixar nossas bocas a centímetros uma da outra quando ele me segura pela cintura.

- Criando novas memórias. - responde depois de inexatos segundos, seus lábios molhados erguidos pelo sorriso reluzente que sustenta enquanto me olha.

Estou hipnotizada por eles, por ele, e não consigo continuar esperando pelo que ele pretende fazer. Antes mesmo que me dê conta do que estou fazendo, fico na ponta dos pés e seguro seu rosto entre as mãos, fechando os olhos automaticamente quando selo meus lábios nos seus.

Me lembro da primeira vez que nos beijamos, também estava um temporal do lado de fora da minha casa. Aquele dia foi mágico, e juro que não me sinto cafona dizendo isto. Sou mais interessada no sentir do que no pensar.

Sinto-me arrepiar quando seus dedos acariciaram a pele molhada do meu rosto, afastando algumas mechas que colavam-se em minhas bochechas para depositar um beijo ali, no canto da minha mandíbula próximo ao lóbulo da orelha.

Estou feliz, no sentido mais profundo que houver da palavra, e acho verdadeiramente que mereço alguns instantes da mais pura alegria assim. Nós dois merecemos.

Permito-me sorrir para aquela dádiva na natureza, e por mais que a minha roupa pese no corpo, me sinto mais aliviada enquanto me banho.

Chuva que molha os cabelos, chuva que lava a alma e manda embora os vestígios de dor em um coração fragilizado. Coração este que está se reestruturando aos poucos, me mantendo de pé dia após dia com a incumbência de não causar dor maior em meus familiares e amigos caso venha a falhar alguma vez; eles já passaram por tanta coisa, já sofreram tanto comigo, não seria justo me permitir desistir.

Rimos quando nos afastamos brevemente para olhar um para o outro; mas não demoramos mais que alguns segundos para voltarmos a nos tocar daquela maneira tão singular, tão especial. Sob a palma da minha mão, sentia seu coração tão pulsante quanto o meu. Eu o amava com cada pedacinho que havia em mim e tinha certeza que ele sentia o mesmo.

Pingos de chuva que vêm do céu e se misturam entre nossos lábios, oferecendo-lhes maior facilidade em deslizar uns sobre os outros e é impossível dizer que não há algo bastante poético sobre isso.

Desejo que chova. Que chova amor todos os dias, em todas as estações, em todas as manhãs; em todos os corações.


Notas Finais


Não sei vcs, mas eu tô vomitando arco-íris com estas cenas Casgali e Cebônica.😍
Ah sim, e eu responderei aos comentários do capítulo anterior em breve; não esqueci de nenhum. Beijinhosss!!!!


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