Os detalhes do exuberante lustre oval em formato de pétalas de flor sempre prendiam sua atenção. Nos primeiros meses se sentia frequentemente em um hotel de luxo, apesar de não ter frequentados muitos. Pega o celular sobre sua barriga que havia bloqueado a pouco e o desbloqueia novamente, rolando a tela inicial para encontrar a página de perfil com o sorriso radiante.
O seu sorriso radiante. Suspira deitando-se de bruços.
Começa a rolar a página que não era atualizada a algumas semanas. Ficando frustrada com o fato.
- Stalkeando de novo? - Ouve aquela voz ao seu lado e logo o corpo esguio se joga ao seu lado na grande cama - Estou começando a me preocupar com sua obsessão.
- Quantas vezes eu já disse para você bater antes de entrar?
- Eu já perdi a conta - Dá de ombros, puxando o celular das mãos de Lena em um movimento rápido - Por que simplesmente não envia uma solicitação de amizade para ela?
- Você está louca? - Tenta pegar o aparelho de volta - Kelly Olsen... Me devolva isso agora.
- Ai... - Reclama assim que recebe um puxão em seu cabelo - Toma - O devolve enquanto massageava o seu couro cabeludo - Você costumava ser menos agressiva.
- E você menos xereta.
- Só queria ver se havia atualizações.
Quem via a sintonia entre elas nesses momentos, mal poderia imaginar o tempestuoso início daquela relação. Em grande parcela, por parte da morena de olhos verdes. Escolher ir junto com James fora uma das decisões mais difíceis de sua vida. E apesar da “escolha”, não aceitou aquela situação tão bem assim. Nunca pode aceitar o Olsen mais velho como qualquer coisa que fosse, apesar de sempre ser apresentada como sua noiva.
E o visível asco que nutria pelo rapaz, fez a irmã dele se voltar contra Lena por não o aceitar. Não a culpava. Ela não conhecia suas razões. Porém... A partir do momento que ser tornou conhecedora de parte delas, virou uma de suas maiores aliadas dentro daquela casa.
- Já disse que posso descobrir o número dela com o Brainy se você quiser... - Lena não responde e a mulher continua - Uma ligação não faria mal a ninguém...
- Você não tem uma festa para ir? - desconversa.
- Andrea desmarcou. Parece que os pais dela irão usar a casa para um jantar de negócios - Se ajeita sobre a cama, jogando suas pernas por cimas das de Lena - Sou toda sua durante esse final de semana.
- Que sorte a minha - Diz ironicamente recebendo um tapa no braço, o que a fez soltar um riso fraco.
(...)
Sete meses antes - Ennis, Irlanda.
O homem sentia uma leve letargia o atingir quando foi dormir aquela noite. Mas a ignorou. Tentando focar apenas em sua esposa que lhe sorria docemente ao seu lado enquanto o ouvia falar sobre sua atitude com Lena e sobre a divisão de seus bens. Aquilo realmente soava como música para os ouvidos de Celeste.
Não demorou para que ele se entregasse ao sono, interrompido algumas horas depois. O mal estar lhe acometia enquanto encarava os olhos outrora doces, agora o fitando de forma assustadora, quase alegre.
- C-Celeste... Eu... Não me sinto... Bem.
A mulher se levanta, vestindo o seu hobby calmamente, caminhando em direção a porta.
- O-onde vai? Me ajude - Pede com pânico evidente em sua voz e uma dor que transcendia o seu estado físico naquele momento. Ela o havia dado as costas.
Antes de abrir o objeto, no entanto, ela se dá o deleite de ceder ao desejo atroz que aquela oportunidade lhe trouxe.
- Em algum momento... Você realmente considerou a hipótese de ter uma mulher como eu - Ri apontando para si mesma - Apaixonada por um verme como você?
Os olhos esbugalhados e agora marejados do homem fitaram os negros repletos de maldade enquanto ofegava com uma das mãos sobre o peito.
- Eu sinto asco por você... Pelo espécime de ser humano que é... Achou mesmo que pudesse amá-lo? Eu espero que apodreça no inferno - Gira a maçaneta - Ah... E antes que eu esqueça... Não se preocupe, a agonia deve passar logo - Sorri de modo sombrio deixando o cômodo.
- E então? - O homem do lado de fora pergunta.
- Pode ir chamar a doutora - Deposita um selinho em seus lábios - Estarei no escritório com Olsen.
(...)
- Ora, ora... Já está tomando posse antes mesmo de se casar? - Pergunta assim que adentra o recinto e dá de cara com o homem sentado na cadeira de couro de Ramsay, enquanto as pernas pendiam sobre a madeira a sua frente.
- Sou um homem precavido - Suspira jogando sobre a mesa uma pilha de papeis que estava em seu colo - Como foi com o velho Ramsay.
- Como o planejado - Senta-se na beirada da mesa fitando os papeis - Parece estar procurando alguma coisa...
- Apenas um documento que me pertence, nada demais.
- Por acaso seria um papel descabido e doentio com sua assinatura nele?
- Você o pegou? - Crispa os lábios.
- Não só peguei, como dei um fim a ele - Sorri - Não é porque abracei minha ambição que deixei de ter humanidade. Além disso aquela porcaria só tinha validade na cabeça doente do Lorde.
- A mesma humanidade que lhe fez acabar de atentar contra a vida de um homem?
- Com o veneno que você me deu... Não se esqueça desta parte.
Coloca o frasco envolto por um lenço, que só agora o homem notou que ela segurava, depositando-o sobre o objeto de madeira.
- Sua evidência.
- Não pense que não irá estar comigo no momento em que usar deste artifício.
Celeste engole a seco. Bloqueando qualquer sentimento de benquerança quanto a morena dos olhos verdes. Precisava pensar no dinheiro e no poder que ele lhe traria. Só o dinheiro importava naquele momento. Já havia feito tudo o que podia para livrar Lena das prisões que a vida lhe infringiu. Teria que confiar, que com James seria diferente.
(...)
Atualmente - Londres, Reino Unido
Lena segura seus livros sobre o peito, tentando protegê-los dos respingos que nem mesmo o enorme guarda-chuvas estava conseguindo conter. Se afasta da limousine prata a passos largos, alcançando a escadaria da mansão vitoriana.
Suspira irritada, enxugando seu material, tentando extinguir qualquer chance que eles viessem a se deteriorar.
Poderia passar o tempo que fosse, aquele clima sempre a deixaria irritada. Os céus daquela cidade se derramavam quase que religiosamente e a temperatura caia com frequência. O que só dava espaço para a melancolia dentro do coração de Lena sair.
Costumava gostar daquele clima antes dele carregar o peso de tantas lembranças.
Já se preparava para subir as grandes escadarias quando uma voz conhecida a paralisa no meio do caminho.
- Dia ruim?
Lena se vira, para encarar o homem a centímetros de si. Ele leva uma das mãos a bochecha esquerda da morena, no que deveria soar como uma carícia.
- Por que seria? - Se afasta de seu toque - Quando chegou?
- Hoje pela manhã e pela sua expressão. Quando está chateada ou estressada, uma rusga surge no meio da sua testa e seus olhos ficam opacos e distantes - Responde a encarando com intensidade.
A mulher se remexe desconfortável. Soltando um longo suspiro. Fala sério, ele havia olhada para ela por o quê? Uns cinco segundos?
- James...
- Eu sei. Desculpe. Eu estou esperando o seu tempo - Diz a contragosto - Mas é difícil me conter Lena... Eu presto atenção em cada detalhe seu.
Apesar de mais apaixonadas que aquelas palavras pudessem vir a soar, só conseguiam trazer incômodo para os ouvidos da morena. Como poderia sequer pensar em retribuir sentimentos pelo homem no qual a afastou de seu amor? Bem... Ele não a obrigou, mas sabia que Lena se veria sem escolhas diante da ameaça.
- Estou cansada...
- Claro - Dá um passo para trás - Conto com a sua presença hoje no jantar? Sua e de Kelly. Você a viu?
- Ainda está na faculdade. É semana de provas para nós.
Ele apenas acena com a cabeça e Lena segue seu caminho, podendo respirar aliviada assim que pode se trancar em seu quarto, jogando-se em sua cama.
Acabou cedendo ao cansaço físico e em boa parte mental que as provas a haviam causado. Amava estudar história com todas as suas forças. Mas as matérias daquele bimestre estavam exigindo bastante de seu psiquê.
Quando acordou já era noite lá fora e batidas ecoavam em sua porta. Logo Kelly surge com a habitual algazarra, acendendo as luzes e fazendo Lena ir para o banho.
Enquanto deixava a água quente adornar sua pele, Lena repassava os últimos meses em sua mente. Quando saiu de Ennis era quase uma criança. Tinha a mesma independência de uma. Fora chocante perceber o quanto dentro de uma caixa vivia.
E aprender a se virar fora dela, vivendo no mundo real foi um choque e tanto. É certo que Olsen lhe proporcionava muitas mordomias, mas ainda assim, havia aprendido a se comportar como uma adulta de sua idade deveria.
Achou que iria para uma segunda prisão. Mas acabou se surpreendendo com as atitudes de seu carcereiro. Ele queria que Lena fosse “alguém”. E a deixava “livre”. Claro que, com um poço de interesses por trás. Tinha horário para sair e para chegar. Motorista particular para lhe levar e buscar, apesar de já ter experimentado o transporte público algumas vezes, por influência da Olsen mais nova. E estava se tornando uma mulher independente da qual se orgulhava.
Apesar dos apesares.
Termina de se arrumar, descendo as escadas junto com a mais baixa que cantava baixinho, tentando imitar a coreografia de alguma música com as mãos. Lena ainda se perguntava como Kelly, com toda aquela pose e atitudes de adolescente na maior parte do tempo, poderia estar no ultimo semestre de psicologia.
O jantar transcorreu como sempre quando James estava em casa. Perguntando sobre a faculdade e recebendo uma explicação detalhada e animada da irmã. Muitas das informações ali a própria Lena desconhecia. Kelly estava longe de ser uma garota comportada como as histórias que elas contavam ao Olsen mais velho retratavam.
- O que é isso na sua mão? - Kelly muda o rumo da conversa rapidamente, fazendo Lena prestar atenção no corte que ia do meio ao fim da palma de sua mão.
- Ah... Isso? - Move a mão rapidamente, colocando-a em seu colo - Apenas um acidente... No hotel.
- Que tipo de acidente num hotel poderia resultar em um corte como esse? - Lena pergunta taxativa. Sabia que estava longe de ser tão simples. E em todos aquele meses ali, ainda não havia conseguido discernir se Kelly sabia ou não do verdadeiro rumo dos negócios de sua família.
- O tipo que vocês não devem se preocupar - Sorri calmamente, devolvendo o olhar inquisitório da morena.
(...)
Era sexta-feira. Lena estava sozinha em casa, ou pelo menos pensava que estava. Kelly estava na faculdade, refazendo uma prova a qual não havia ido muito bem. E James só Deus sabia por onde andava, na última semana era visível o seu comportamento mais agitado. Algo estava muito errado e isso estava dando nos nervos do homem que não conseguia disfarçar o seu estado. Até mesmo aos dons de Lena já havia recorrido, pedindo a morena que fizesse uma previsão, no entanto, fora pouco reveladora. Era tudo turvo demais. Duas forças o perseguiam, mas não fora permitido a Lena ver quem ou que quer que estivesse atrás do homem. Fazia muito tempo que não fazia previsões. Havia tentado bloquear aquele lado seu e a força delas parecia ter diminuído consideravelmente.
Lena já se preparava para voltar para seu quarto depois de ter feito uma refeição, quando sente a não em seu antebraço. Seu corpo é girado e ela logo sente o cheiro de álcool que vinha dele.
- Me solte – Exige com o coração acelerado – Mas ele ignora. As mãos grossas vão até a cintura de Lena trazendo para perto de seu corpo. Ela começa a tentar se soltar, mas Olsen era mais forte. Como que para impedi-la de tentar se desfazer de seus toques, a encurrala na parede, segurando seus pulsos e colando seus corpos.
- J-james...
- Só hoje. Por favor... – Sua voz sai rouca e a respiração já batia contra o rosto de Lena que se encolhe para o inevitável contato de suas bocas. Quando o homem tenta aprofundar o beijo, Lena acorda de seu transe, começando a se debater com mais veemência.
- O que pensa que está fazendo? – A voz de sua salvadora ressoa ao lad deles. Os livros que Kelly segurava vão ao chão e suas mãos de encontro ao irmão que se vê obrigado a soltar a mulher.
- Kelly... Não... Não é isso que está...
- Você está bêbado de novo? – Grita enquanto trazia Lena para trás de si em um gesto protetor – Sinceramente James... Eu não esperava isso de você. Em um desespero aparente ele se deixa levar pelas emoções e pela grande quantidade de álcool em seu sangue.
- Vocês... Vocês não fazem ideia do que se passa... Não fazem... – Negava com a cabeça – E você – Gruta apontando para Lena – Por que... – Uma lágrima solitária desce de seu rosto – Por que não pode simplesmente me amar? Eu fiz tudo... Tudo por você – Diz cambaleando para trás.
Lena estava paralisada e o nó já se formara em sua garganta.
O Olsen mais velho some no corredor e a morena se deixa soltar o ar de seus pulmões. Kelly a encara, limpando uma lágrima que descia em sua bochecha. Lhe doía ver que James estava sofrendo tanto. Mas também sentia muito por Lena.
- Você está bem?
A morena acena positivamente com a cabeça.
- Eu sinto muito. Nunca imaginei que james poderia... – Sua voz embarga.
Lena apenas nega com a cabeça.
- Tudo bem eu... Vou para o quarto.
Kelly agarra a mão da morena trazendo-a para si delicadamente.
- Eu não sei por que continua aqui... – A abraça – O que James fez para lhe manter presa a ele e sim... Mesmo não querendo me contar, sei que não foi algo bonito. Só... Saiba que estou do seu lado.
Já mais calma e depois de ter chorado por alguns minutos. Era estranho sentir a devoção de James em si e o ouvir quase que suplicar por não ter seus sentimentos retribuídos, havia feito Lena se sentir mal, de certa forma.
- Você fez tudo... Tudo errado – Sussurra para si mesma, tentando espantar qualquer sentimento de culpa, por mais mínimo que fosse, pegando o celular e se preparando para ter em sua dose de Kara Danvers e esperava que houvesse atualizações em seu facebook daquela vez.
Sorri para a foto de perfil que havia sido trocada. Como ela estava linda e sorridente. E só aquilo... aquelas pequenas doses de sua ‘presença’, traziam e vinham trazendo conforto ao seu coração durante aqueles meses.
Rola o feed ainda sorrindo, mas seu sorriso se desfaz assim que começa a contemplar as últimas postagens, sendo uma delas de Kara e outras sendo marcações em fotos dela com outra mulher.
Em uma delas Kara sorria e a outra lhe encarava também sorrindo. Pareciam... Não...
Não. Não. Não.
Na outra a garota beijava a bochecha de Kara e não olhava para a câmera.
E na primeira foto delas juntas, as duas pareciam estar em um café enquanto comiam donuts. Nesta a mulher olhava para a câmera e Lena pode ver os olhos azuis que lhe causaram um soco no estômago. Um gelo ruim se espalhou naquela região, as borboletas que vinham se mantendo vivas com as poucas migalhas que recebiam, se entregaram ao inverno daquela sensação ficando congeladas pela constatação... Kara havia seguido em frente.
Lena sente seus olhos arderem. Enquanto suas esperanças eram destruídas. Talvez estivesse errada em suas visões. Talvez não fosse para ser ou talvez tivesse apenas feito as escolhas erradas... E afastado o seu amor de si.
Sentia o peito arder entre a desesperança de ver Kara com outra e o pesar de não se arrepender de sua decisão. Fez o que fez para que pudesse protegê-la e daquilo jamais poderia se arrepender.
Mesmo que o preço a se pagar fosse tão doloroso.
Chorou por longas horas, por fim... Tomando uma decisão. Se deixando levar pelas emoções embaralhadas do momento.
Quando deu por si já estava com a mão levantada, pronta para bater na porta do quarto do homem.
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