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História My Immortal - Literal Hell.


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Olá seres humanos que não desistiram de mim.
Eu sei que todo mundo provavelmente tá muito puto da vida comigo, por toda a minha demora e taus, mas realmente, não tem nada que eu possa fazer, além de deixar um aviso aqui:
Eu não posso mais garantir capítulos rápidos, porque tenho muita coisa acontecendo. Consegui uma vaga no melhor curso de inglês da minha cidade, com um prof britânico e tudo, e preciso me esforçar, pq me ofereceram a possibilidade de um intercâmbio. Nao posso deixar nada ficar no meu caminho, por isso vou me esforçar para atualizar as fics o mais rápido que der, mas espero q vcs entendam.
Mas não pretendo parar as fanfics, por mais q eu demore. Não quero colocar em Hiatus nem nada do tipo, só avisar que as coisas n vão ir rápidamente
Obg à aqles q não desistem de mim ♡

Capítulo 6 - Literal Hell.


- Lilian. - Ouvi uma voz doce me chamar. - Lilan, acorde.

Abri os olhos lentamente. O lugar estava escuro, mas eu senti uma forte dor na parte de trás da minha cabeça, e acabei soltando um gemido, fechando os olhos novamente.

- Lilian, você está bem? - A voz perguntou novamente.

Tomei coragem para abrir os olhos. Dei de cara com dois olhos azuis. Mas não eram frios como os de Andrew. Eram calorosos, e me traziam certo conforto.

- Ariel? - Perguntei, meio em dúvida.

- Sou eu, não se preocupe. - Tentei me levantar, mas estava muito fraca. - Aqui, deixe eu te ajudar. - Ariel me segurou, e então eu consegui me sentar.

- A-aonde estamos? - Encarei os olhos azuis e brilhantes dele. Seu cabelo ruivo estava bagunçado, mas ainda brilhava. Parecíamos estar em uma cela escura, e a única iluminação vinha das próprias asas dele, brancas e douradas. Era estranho vê-lo assim, de perto. Só o havia visto preso, com Marilyn e Andrew. Andrew. Oh, estaria ele atrás de mim? E o que Marilyn queria? Por que havia nos capturado?

- No inferno, Lilian. - Perdi o fôlego por alguns segundos. Não sabia o que dizer. - Não se preocupe, as coisas vão melhorar. Tenha fé. - Engoli em seco.

- Você está bem? - O encarei. Sabia que ele não estava bem, mas não sabia como falar com um anjo. Algo me fazia querer protegê-lo, o que era até engraçado. Tive essa sensação na primeira vez que o vi. Suas feições eram tão unicamente puras. Tão diferentes das de Andrew. Me sentia estranha falando assim com ele. Por algum motivo, eu não estava surpresa, nem mesmo intimidada com o fato dele ser um anjo. Estava simplesmente indiferente, mas de um jeito bom.

- Estou, Lilian. - Ele sorriu.

- Como você sabe meu nome? - Ele apontou para cima.

- Ele me contou. - Entendi o que Ariel quis dizer.

Falar com Ariel estava sendo uma sensação estranha. Parecia que nos conhecíamos havia muito tempo, o que não era verdade, logicamente.

- Lilian, infelizmente, não temos tempo para nada. - Seu tom se tornou sério. - Marilyn tem planos em relação a nós, e por mais que eu os desconheça, pode ter certeza de que não serão bons. Andrew provavelmente virá nos buscar, e sangue será derramado.

Engoli em seco. Não seria nada bonito ver Andrew bravo. Se ele fosse mais forte que Marilyn, até eu estava com pena do mesmo. Podia sentir se longe a crueldade de Andrew em seu sorriso sádico. Era óbvio e assustador.

- Por que ele quer você? - Arrisquei. Se eu fosse morrer logo, que fosse com um pouco de informação, ao menos.

- Lilian, essa é uma longa história a qual não temos tempo para. Mas tudo o que precisa saber é que eu conheci Andrew quando ele ainda era humano.

Minha cabeça girou. Andrew humano. Não era uma ideia fácil de se engolir.

- Há quanto tempo?

- Já fazem décadas. Andrew não tem mais humanidade nenhuma em si.

Fechei os olhos, passando as mãos pelo rosto e tentando processar tudo o que acontecia. Andrew humano. Ideia estranha. Mas o que importava agora, é que ele era um monstro, e eu não queria nem mesmo imaginar o que ele faria com Marilyn. No fundo, eu sabia que ele viria atrás de nós. Eu sentia.



Andrew


No dia seguinte, após deixar Lilian na banheira, confusa e envergonhada, eu havia resolvido muitas coisas essenciais. Vários detalhes da guerra que tínhamos por vir, como eles diziam, além de meus próprios problemas. Havia passado uma noite e um dia fora. Estava a caminho do castelo, e encontraria Frances à mesa, com um banquete servido. Como eu havia ordenado às escravas.

Em minha carruagem negra, o mundo parecia cada vez menos interessante pela janela úmida. Estava anoitecendo, as árvores passando rápido, iluminadas por uma simples luz pálida que escapava dentre as nuvens pesadas da chuva que prometia cair.

Meu mundo estava uma bagunça. Minha cabeça se tornava meu pior inimigo, e mesmo sendo imortal, sentia que estava matando a mim mesmo. Eu poderia manter minha mente em Lilian e em como as coisas estavam boas para o meu lado da guerra. Mas algo em mim se recusava a olhar o lado bom. Algo em mim me obrigava a reviver meu passado a cada maldito segundo, e colocá-lo no presente, colocá-lo no mal que eu mesmo causo.

Com essa guerra, milhares de crianças se tornariam órfãs. Não era essa a vitória que eu queria ter. Não havia um prêmio para mim. Nada do que eu fizesse traria algo que eu quisesse para mim, mas eu estava amarrado e amordaçado, com uma faca em meu pescoço. Não posso decidir por mim mesmo quem vive e quem morre, no fim.

Esse enorme jogo sádico era controlado por apenas um homem, que assiste tudo de cima. Vez ou outra, raramente, Ele mexe algumas peças, mas na maior parte do tempo, Ele apenas assiste em silêncio.

Passei as mãos por meu rosto, respirando fundo e pedindo algum autocontrole. Nada disso estava certo, não era para ser assim.

- Senhor Andrew. - Só percebi que havíamos chegado quando a porta da carruagem foi aberta.

Não disse nada, apenas desci, observando meu castelo. Estava feliz no barraco caindo aos pedaços no qual morava antes de tudo.

Sem me preocupar com as coisas que tínhamos para carregar, simplesmente desci e rumei para o castelo em passos largos. Dois guardas abriram as portas para mim, e eu não tardei em ir para meu quarto.

- Senhor Andrew! - Ouvi uma mais uma voz me chamar, e respirei fundo. Não queria perder a paciência tão cedo hoje. Me virei.

- O que quer, Marinne? - Perguntei, mas meu coração falhou uma batida assim que a vi. Marinne tinha o rosto coberto por lágrimas, soluçando. Era algo comum escravas terem algo como um colapso nervoso, mas elas nunca me mostravam isso. Algo estava errado. - O que aconteceu? - A agarrei pelos ombros imediatamente, e ela soltou um grunhido. - Marinne, o que aconteceu?! - Berrei.

- A srta. Frances… ela desapareceu. - Marinne passou a soluçar ainda mais, e eu senti o chão sob meus pés balançar. Não literalmente, mas aquilo me desestabilizou.

A soltei, passando as mãos pelos cabelos, caminhando de um lado para outro. Lilian não podia desaparecer. Eu precisava dela. O pânico subia por mim enquanto eu tentava raciocinar. Se ela morresse antes de um tempo mínimo, eu não duraria muito também.

Ela havia fugido? Não, isso não era possível. Alguém a havia capturado. Mas quem?

Abruptamente, parei.

Marilyn.

Haviam muitas pessoas e muitos monstros atrás de mim. Mas ele era o mais sorrateiro.

Sem hesitação, rumei em passos largos paras as masmorras. Se Ariel tivesse sumido também, já saberia quem é o culpado.

Desci as escadas úmidas e escorregadias de pedra rapidamente. O lugar fedia a ratos, carne podre, e outras coisas que não me atrevo a dizer. Eu não deixava as escravas limparem aqui. Não foi feito para ser bonito.

Mesmo sabendo que Marilyn era o culpado, eu precisava verificar.

Fui até a última cela, escura e fria, com uma enorme porta de bronze. Sem pensar duas vezes, segurei o metal com firmeza e empurrei o portão.

Dentro da cela, quatro correntes onde os pulsos e tornozelos de Ariel jaziam estavam arrebentadas e jogadas ao chão, junto com algumas penas e manchas de sangue.

Marilyn estava muito, muito encrencado.


Lilian


- Saiam! - Uma voz nada gentil me acordou. A cela não era nada confortável, mas o cansaço havia me dominado, e Ariel havia me convencido de que não era uma boa hora para estar cansada, então eu havia dormido. Por pouco tempo, suponho. Estava completamente dolorida e igualmente (senão mais) cansada. - De pé, agora!

Era Marilyn. Marilyn abria o portão pesado da cela com brutalidade, parecendo preocupado, e obviamente, bem estressado. Ariel me ajudou a levantar, enquanto eu sentia um calafrio por todo meu corpo. Marilyn não me causava boas sensações.

Dois guardas entraram na cela, ambos enormes, com o corpo completamente coberto por uma armadura de ferro negro. Sem uma palavra, eles agarraram os braços de Ariel, os prendendo atrás do corpo dele. Antes de ser empurrado para fora do local, ele me lançou um olhar que dizia claramente “tome cuidado”.

- Lilian. - Marilyn me chamou, ainda nada calmo. Eu tinha os olhos arregalados, a adrenalina claramente circulando pelo corpo. Eu não sabia o que deveria fazer. Se eu o obedecesse, estaria desobedecendo Andrew, o que não era nada bom. Mas, provavelmente, estaria salvando minha vida também. E qual seria a razão de temer Andrew se eu estivesse morta? - Venha comigo. Agora.

Sua mão fria agarrou meu pulso com brutalidade, e não tive outra escolha a não ser cambalear atrás dele.

- Para onde está me levando? - Questionei, trêmula, sabendo que provavelmente não obteria uma resposta.

- Espere e você verá. - Ele riu, sádico. Não ousei perguntar novamente, e Marilyn me arrastou por vários corredores imundos e úmidos. Por cada um deles, eu podia ouvir gritos e gemidos de agonia, a atmosfera pesada e o ar quente e abafado. O lugar era aterrorizante, e era como se um tipo de melodia mortífera tocasse dentro de minha mente, como um mau agouro.

Depois de muito andar pelo labirinto escuro de masmorras, chegamos a uma escadaria, e Marilyn continuou me arrastando por elas. No topo, enormes portas de alguma pedra negra, reluzente, que pareciam estranhamente líquidas se abriram espontaneamente em nossa presença.

Acabamos em um salão enorme, com piso do mesmo material que as portas e um lustre no teto alto em forma de abóbada como única iluminação. Nas paredes, de mármore, se não me engano, haviam pinturas realistas de vários acontecimentos bíblicos. A queda de Lúcifer, o êxodo, o dilúvio. Todas as paredes eram cobertas, e de alguma forma, as pinturas pareciam mudar de lugar toda vez que eu olhava, como se novas surgissem.

- Preste atenção. - Marilyn chamou minha atenção, me segurando pelo maxilar. Arfei pela dor, mas olhei nos olhos dele. - Eu tenho assuntos para resolver. Você vai ficar nessa sala, e não vai sair daqui por nada. Tanto porque eu estou te mandando ficar aqui, tanto porque estamos no inferno, e você não duraria um minuto. - Engoli em seco. - Estamos entendidos?

- Sim. - Respirei fundo, e ele me soltou.

Se dizer mais nada, Marilyn caminhou até as portas, que novamente, se abriram para ele. Quando se fecharam, sem som algum, todo o barulho exterior foi abafado. Não havia mais nada do lado de fora, era como se fosse o único lugar remanescente no mundo.

Olhei em volta. As pinturas e o lustre eram tudo o que a sala tinha. Fora isso, era completamente vazia. Sem muito o que fazer, caminhei pelo lugar, observando os desenhos. Traços precisos e realistas. Se eu olhasse por muito tempo, sentia que estava entrando nas pinturas, revivendo a história.

Meus olhos pararam em uma pintura da Torre de Babel. Eu podia ver cada detalhe, cada mínimo contorno. Por Deus, era como se eu sentisse o vento que soprava a areia aos pés da Torre.

Desviei os olhos. Era embriagante. Me sentia sendo hipnotizada, envolvida pela história. Caminhei mais pela sala, passeando os olhos por cada um dos desenhos. Até que vi algo novo. Algo que parou meu coração.

Andrew.

Corri até a pintura como se minha vida dependesse disso. Encostei a mão no mármore, trêmula. Era ele, só podia ser. De alguma forma, eu tinha certeza.

Essa pintura retratava três pessoas. Andrew estava diferente ali. Roupas sujas e gastas, o cabelo não parecia tão macio. Mas ainda era ele.

De joelhos, Andrew estava na frente de uma garotinha. Ele a mantia escondida em suas costas, de uma forma protetora. Na frente dele, de pé, Ariel. Ariel tinha uma lança de ouro em mãos, apontada para Andrew. Sua expressão era severa, sem um mínimo traço de compaixão.

A garotinha, que aparentava cerca de sete anos, tinha o rosto enterrado entre os cabelos de Andrew, mas algo me dizia que seus olhos eram azuis e gélidos. Seu cabelo era preto e ondulado, e suas roupas tão sujas quanto as dele.

Andrew estava chorando ali. Haviam lágrimas descendo por todo seu rosto, mas ele mantia os olhos no anjo, e era algo novo. Nunca o havia visto frágil assim, e por algum motivo, me era doloroso e injusto. As asas de Ariel se abriam no fundo, projetando uma sombra intimidadora, a promessa do fim.

Por que isso estava aqui? E qual é o sentido dessa pintura?

Era tão real que eu sentia a respiração acelerada de Andrew, ouvia os soluços da garotinha e a firmeza de Ariel, que ecoava como um som triste e vazio, sem sentido.

Mas como haviam chegado a esse ponto?


Andrew


Eu arrancaria os olhos dele sem pensar duas vezes.

Marilyn era o único capaz de ter feito isso. O único que poderia ter roubado Lilian e Ariel. E eu tenho meu próprios planos para os dois, por isso Marilyn não vai acabar bem.

- Andrew, meu amigo de longa data. - Uma voz rouca e rasgada, irônica e irritante soou atrás de mim. - A que devo a honra?

- Não tenho tempo para conversas, Danny. Preciso da sua ajuda.

- Peça a Alexandria. - “Peça a Alexandria” era a resposta que Danny tinha para qualquer pedido. Ninguém nunca entendeu realmente o que significava, mas haviam boatos. Todos achavam que era alguma mulher que havia mexido com ele em algum século qualquer. Para mim, ele era só mais um louco.

Estava em um bar. O bar de Danny, sendo mais específico. Danny não era um vampiro. Digamos que ele teve a chance de dar um mergulho na imortalidade, e agora se arrepende mortalmente disso.

- Daniel, eu não tenho tempo para nada. Você me deve um favor, estou cobrando ele agora.

Danny colocou a garrafa que tinha separado sobre seu balcão de madeira, antes mesmo de servir a bebida, me encarando com uma sobrancelha arqueada.

- É tão sério assim?

- Marilyn roubou Lilian e Ariel. - Soltei, de uma vez. Danny era confiável. Provavelmente, a única pessoa em quem eu realmente confiava, no mundo exterior.

- Está bem, eu te ajudo. - Respondeu, levantando as mãos e fazendo cara de entediado.

Alguns minutos depois, eu e Danny estávamos na frente do Castelo. No Inferno, novamente. Eu e Danny já tínhamos todo o plano em mente, e tudo deveria correr como programado. Era bem simples, na verdade.

Danny tem seus truques. Ele é um cara esperto, e sabe exatamente quando e como agir. Além de que, a imortalidade tem lá seus benefícios.

Danny conhecia todos os lugares melhor do que todo mundo, não havia um canto do mundo que ele não houvesse explorado, apenas alguns dos quais ele se recusava a mencionar, os quais preferia manter em segredo. O homem é o maior de todos os monstros, ele sempre dizia. Mas o que importava, é que ele sabia como entrar no Castelo sem ser notado. Ele havia nos levado aos campos de tortura, o chão banhado em sangue e o céu negro, gritos de agonia preenchendo eternamente o ar, que era abafado e quente, com cheiro metálico.

Repugnante.

De alguma forma, havíamos simplesmente passado por alguns corpos aqui, algumas portas suspeitas e muros nada familiares, e estávamos dentro. Era assim que funcionava com Danny. Eu nunca nem percebia o que ele fazia, não via a mágica acontecendo, apenas o seguia de olhos fechados e acabava aonde queria acabar.

Nas masmorras.

- A prioridade é Lilian. - Relembrei, pela milésima vez. Eu estava repetitivo até para mim mesmo, mas não podia permitir falhas. - Se ela estiver bem quando a encontrarmos, vamos atrás de Ariel.

- Sim, senhor. - Ironizou, como em todas as outras vezes. Danny era muito paciente. Admirava - e invejava - isso nele.

Não houve mais diálogo a partir dali; apenas ação. As masmorras eram imensas, e tínhamos muito o que procurar se quiséssemos encontrá-la ainda hoje.

Não era a primeira vez que Marilyn tentava me matar, de alguma maneira ou de outra. Ele já havia roubado outra como Lilian, com o sangue raro; já havia tentando arrancar meu colar de proteção e me deixar queimar na luz do Sol, e até mesmo enviar assassinos - os quais prefiro me referir como suicidas - para meu castelo, com o suposto propósito de arrancar meu coração do peito.

E então, você se pergunta, por que vocês pareciam amigos então? Bem, é um fato que, quando eu subi para o poder, muitas pessoas, naturalmente, desceram. E Marilyn era uma delas. Mas, alguns relacionamentos são obrigatórios, até que um dos lados morra.

Esse é o caso.

E esse é o motivo de eu ter inimigos naturais, os quais eu nunca havia feito nada propositalmente contra. Mas, é claro que um evento desencadeia outro. No fim - ou no começo, se assim preferir -, a culpa é minha.


Os corredores pareciam sem sentido algum, escuros e úmidos, com a promessa de que você nunca mais iria embora no ar. As paredes pareciam se fechar em torno de mim, e um ranger de dentes e gritos distantes pareciam ecoar no fundo da minha mente, me fazendo questionar aonde realmente estava.

Mas apesar de tudo, algo no fundo de mim,  uma sensação estranha, abaixo do umbigo, nas “entranhas”, me dizia o caminho. Como se um fio invisível amarrado ali me puxasse por entre toda aquela escuridão. Como se soubesse disso, Danny se mantia em silêncio, e dessa vez, era ele quem me seguia.

Muitas curvas depois, e eu carregava a sensação de que não chegaríamos a lugar nenhum com minha intuição misteriosa; mas acabamos chegando, sim, a algum lugar.

Duas enormes portas negras e reluzentes jaziam imponentes no topo de uma escadaria. Marilyn e seus truques. Aquele era um tipo bem específico de portas, que levaria a um tipo específico de sala. Nós não conseguiríamos entrar ali enquanto ele estivesse vivo.

Finalmente, eu tinha um motivo aceitável para desmembrá-lo. Quase sorri com o pensamento.

- Eu vou atrás dele. - Informei, enquanto Danny coçava a barba ruiva, uma sobrancelha arqueada. Me perguntei o que ele estava pensando, mas decidi manter para mim mesmo. Algumas coisas são melhores só em pensamento. - Você espera aqui. Depois que ele morrer, o castelo inteiro entrará em alarme. Fuja e leve Lilian com você, para o bar. Eu os encontro depois. - Danny demorou alguns segundos para responder, os dedos pela barba. Eu podia ouvir os fios de cabelo contra si mesmos e a pele, o som do sangue sendo bloqueado em alguns dos pontos em que ele tocava, a respiração calma e concentrada dele. Mas o que eu mais queria, era saber o que ele pensava.

- É, é um bom plano. - Disse por fim, como se não estivesse encarando o nada, e o louco fosse eu. - Nada melhor do que ficar sentado esperando você fazer o trabalho sujo. - Sorriu de lado.

- Cuide dela. - Apontei para ele, esboçando um sorriso, enquanto ele me olhava daquele jeito estranho, de quem sabia mais do eu jamais saberia. Era irritante.


O primeiro passo era encontrá-lo. E eu sabia que ele estava se escondendo. Era um rato, Marilyn. Apenas agia pelas sombras, mas nunca seria visto na linha de linha de frente.

Os corredores sempre seriam infinitos, mas eu sabia que conseguiria encontrá-lo. Marilyn era covarde, e eu podia sentir o medo. Era uma brisa engraçada, que me incentivava a continuar, empurrando mais, pressionando, ouvindo a pulsação acelerar, o sangue correndo mais rápido, a pele mais quente. Eu era o ponto fraco dele.

Eu sabia que ele estava assustado. Quase podia ouvir seus dedos tamborilando de um lado para outro, os olhos inquietos, espiando todos os cantos escuros onde eu poderia estar. Há lados bons em ser amaldiçoado pela eternidade.

Nesse momento, eu podia confiar em minha intuição. Virando curvas, suspeitosamente vazias. Marilyn tinha algum brinquedinho maior reservado para mim, dessa vez?

Depois de muito andar, mas uma escadaria apareceu. Porém, para baixo. Era enorme, ladeada por tochas, mas ainda assim, escura. Não podia ver onde o teto acabava, nem a escada. Mas, era ali o lugar, eu sabia.

Passei uma das mãos pelo cabelo, tentando manter a paciência e conter a vontade de arrancar o coração de Marilyn. Ele já havia causado problemas o suficiente.

Respirando fundo, desci as escadas olhando cuidadosamente em volta, esperando pelos truques. O que pretende, Marilyn?

Quando alcancei o fim, acabei num piso liso de obsidiana, que parecia reprimir a luz das tochas e deixar o lugar claustrofóbico. Não havia nada na sala. Apenas o teto que aparentava ser infinito - nunca duvide de nada quando estiver no inferno - e paredes vermelho-sangue. Mas o ar estava pesado, as paredes pareciam se fechar ao meu redor. Estava quente, muito quente e abafado, e era como se uma respiração tão quão incômoda como o ar estivesse diretamente em meu rosto.

Mas, apesar de tudo, eu sentia o medo. Marilyn estava perto, e esperava que essa sala não me deixasse encontrá-lo.

Pobre, pobre Marilyn.

Repentinamente, notei uma sombra passar por minha visão periférica. Me virei na mesma hora, mas não havia nada. Nem sons, nem sentimentos, nem medo. Apenas vazio.

Mais uma. Do outro lado. Me virei. Nada novamente. Sombras dançavam ao meu redor, desaparecendo quando meus olhos as encontravam, quando tínhamos um contato mais direto.

- Acha que sombras vão me impedir de te achar, Marilyn? - Murmurei, mais para mim do que para ele.

E, como se respondesse minha pergunta, senti um calafrio na nuca, como se a própria sombra me tocasse. Meu peito se apertou, numa sensação horrível. Uma dor imensurável, mas que não era física. Uma dor que eu conhecia muito bem. Fiquei estático. É o que eu havia sentido quando… Quando aquilo aconteceu. Não me atrevia a falar, nem mesmo pensar. Reviver o sentimento era dor o suficiente.

Então me lembrei de onde estava. Olhei em volta novamente, e as sombras pareciam mais nítidas. Eu podia vê-las por mais tempo. O que eram?

Senti o calafrio outra vez. A dor ampliada. Imagens passando por minha mente. Estavam me fazendo reviver os piores momentos de minha vida.

Eu deveria ter morrido ali. Só eu.

Balancei a cabeça, passando as mãos pelo cabelo. Aquilo não era bom. Tinha que sair daquela sala. Encontrar Marilyn. Imediatamente.


Lilian


Andy…”, ouvi um sussurro em minha mente, uma voz infantil. Andy? Quem era Andy? A garotinha na pintura? Encarei a imagem. Sem pensar, me ajoelhei diante dela, sentindo uma dor estranha e forte, um arrependimento que não era meu,,mas, sem dúvidas, era real.

Levantei a mão direita, trêmula e pálida, para me encontrar com a nova versão de Andrew na parede. “Andy…”. O sussurro novamente, na mesma voz, me fez parar. Era trêmula, como se estivesse prestes a chorar. Fazia uma pergunta silenciosa, mas que nunca seria respondida. Me pedia para continuar.

Meus dedos tocaram a parede fria, e antes que eu percebesse, o que sentia em minha mão era quente e humano. Meu coração se acelerou. Andrew, ajoelhado a minha altura, de frente para mim. Eu tocava seu peito. Ele não me encarava; mas sim alguém atrás de mim, com olhos assustados, cheios de dúvidas. Mesmo abaixados, ele era maior que eu, e mesmo com as roupas em trapos e o corpo sujo, eu me sentia inferior. Sua aura simplesmente me oprimia.

- Você fez suas escolhas, Andrew. - Uma voz forte e familiar falou atrás de mim. Me virei imediatamente. Não foi difícil perceber que eles não me viam. Mas assistir era o que eu mais queria. De alguma forma, eu sabia que o que eu presenciava ali era, na verdade, o passado, e que eu não poderia mudar nada. Mas, eu também sabia que aquilo era a chave para entender e, talvez, até consertar o presente o futuro. - Deveria ter deixado as coisas acontecerem segundo a vontade de Deus. Mortais não devem brincar com esse tipo de força. Especialmente mortais como você. - Me levantei, olhando tudo do mesmo ângulo em que fora pintado na parede da sala.

- Segundo a vontade de Deus? - Andrew apareceu ofendido, e sua voz ecoou, alta e clara por todo o local. Não conseguia distinguir onde estávamos. Parecia um infinito numa cor que eu nunca antes havia visto, mas que não queria atenção alguma. Tudo se mantinha focado em Andrew. A garotinha atrás dele, cujas juntas estavam brancas pela força com a qual apertava as roupas de Andrew, eu sabia que o encarava, implorando por esclarecimento. E o olhar de Ariel… não era o olhar que um anjo deveria ter. Frio e vazio, focado e fixo. - Se tivesse seguido a vontade de Deus, eu seria um escravo e minha irmã estaria morta! Que tipo de Deus causa dor e sofrimento?! - Os olhos de Andrew estavam brilhantes pelas lágrimas, e meu coração estava a mil. Eu só queria abraçá-lo e dizer que não era culpa dele. Encarei a garotinha. Irmã. Ela era a irmã dele… fazia mais sentido. Mas Andrew, como um escravo, era algo difícil de imaginar. Eu tentava colocar as peças da história juntas, mas simplesmente pareciam sem sentido. E era claro que eu havia perdido toda a história. De alguma forma, soube que esse foi o último momento dele como humano, antes de se tornar o que é hoje.

- Deus sabe o que é melhor para todos. - Ariel declarou, firmemente e sem hesitar. - Se tivesse vivido dignamente e com honra, teria direito ao descanso eterno. Mas terá de pagar pelo que fez. E sua irmã, também. Os inocentes pagam pelos pecadores. Os dois queimarão no inferno.

- Não, ela não! - Andrew a segurou com mais força atrás de si, que murmurava o nome dele, assustada. - Faça o que quiser de mim, mas ela não merece nada disso. Deixe-a viver em paz. É só uma criança, nunca esteve envolvida em nada do que eu fiz propositalmente e merece um lugar no paraíso. Até demônios poderiam ver isso.

Ariel semicerrou os olhos. Não sei dizer o que vi nos olhos dele. Não sei se foi hesitação ou admiração, mas sei que algo nele cedeu. Pelo que minha mãe me contava, Ariel era “o Leão de Deus”. Era aquele que lutava à frente e colocava em prática as ações mais sangrentas da existência. O que significava que ele era como um anjo da morte. Mas, era justo. Tão justo quanto o Diabo, dizia minha mãe. Seguia as ordens do Senhor tão empenhadamente quanto Satanás cumpria com um acordo, extremamente ao pé da letra, usando as palavras ao seu favor, mas sempre justo, à sua maneira. E tudo isso nos levava aos dois irmãos ajoelhados, o olhando com piedade, e impondo um argumento forte.

E, como se eu ouvisse seus pensamentos, eu soube que ele havia chegado a uma conclusão. As asas de Ariel se abriram ainda mais atrás dele, e sua expressão endureceu.

- Sua irmã poderá viver. - Declarou. A primeira lágrima desceu pela bochecha de Andrew, e a pintura começou a se formar. - A levarei para um lugar isolado do mundo, e ela servirá à grandes sábios por toda a eternidade. Apenas homens de honra vivem lá, e todo o conhecimento que o mundo já vislumbrou entra e sai de lá. Então, ela nunca mais poderá ir embora, mas poderá ser feliz. - A esse ponto, Andrew já soluçava. - Mas você… - Irá tomar o lugar de um demônio. Será um quase imortal. A luz do sol te queimará, e seu coração não mais baterá. Vai sentir a morte em vida por toda a eternidade, até que lhe mandem às cinzas. Você não irá para o inferno. Seu espírito vai reencarnar novamente como humano, e será para sempre atormentado. Você não terá descanso.

E nesse segundo, meus olhos capturaram a imagem. Era esse o segundo, exatamente nesse segundo, a pintura havia sido feita. As lágrimas de Andrew, as asas de Ariel, a garotinha soluçando… exatamente agora. O que também significava que o futuro era agora.

Foi em menos de um segundo, eu tenho certeza. Não consegui respirar, não tive tempo de piscar. Eu havia visto o que aconteceu, mas não consegui processar. Meu olhar estava vidrado, minhas mãos tremiam.

Olhando nos olhos de Andrew, Ariel tinha um punho afundado no peito de Andrew. Andrew estava imóvel, olhando para o braço ensanguentado adentrando sua pele.

- O-o quê? - A voz dele soou rouca. Mas não da forma como era normalmente. Estava fraca, e aquilo me machucou.

- Andy! - A garota gritou, tentando sair de trás de Andrew, mas de alguma forma, ele a manteve ali. Então… Andy era um apelido. Ele nunca me deixaria chamá-lo assim.

Andrew abaixou a cabeça, ficando ofegante.

- O que você está fazendo? - Sussurrou. Como ele ainda estava vivo?

- Transformando seu coração em pedra. - Ariel respondeu. - Você é um demônio agora. - Murmurou por fim, antes de retirar sua mão, manchada de vermelho.

Quase imediatamente, Andrew caiu no chão, é a garota começou a gritar. Ela o chamava, mas eu sabia que ele não acordaria tão cedo. Ela chorava, e eu sentia meu peito se apertar. Aquilo era triste e injusto, mesmo que eu não soubesse toda a história. Era só uma criança.

Então, os sons passaram a ficar distantes e abafados, e minha visão embaçada. Me senti puxada, mandada de volta à onde deveria estar. Não consegui entender nada do que acontecia, apenas sentir o chão frio sob mim.

- Você não deveria ter visto isso.


Andrew


Seja lá o que fosse aquilo, não faria bem para mim. Todas as minhas lembranças mais dolorosas, que eu lutava para enterrar o mais fundo que pudesse, simplesmente voltavam a superfície, arranhando meu peito e me rasgando de dentro para fora. Todo o desespero que eu escondia, mas não me permitia esconder, simplesmente me fazia tremer. A mesma questão de antes, a de sempre, a que eu não podia, sob hipótese alguma, fazer a mim mesmo, era a que mais se repetia, numa voz baixa e não humana, no fundo de minha mente. “E se eu tivesse feito diferente?”. Na única vez que havia confessado esse dilema interno para alguém, este havia me dito que eu tinha uma forma de resolvê-lo: perguntando à Alexandria.

Olhei em volta, pela sala, novamente. As sombras continuavam me rodeando, e minha mente ainda não estava no lugar. Mas só havia um jeito de parar. Um tanto trêmulo, levei a mão ao cinto. Meus dedos envolveram o punho frio da faca, é a desembainhei o mais rápido que consegui. Sem hesitar, e em um movimento fluido, a desci em meu ombro.

A lâmina adentrou a carne com um som estalado, e não pude segurar um ruído incômodo. Eu não morreria, mas sentia dor da mesma forma. O sangue frio escorreu por meu braço, e quase imediatamente, senti minha mente vazia. Aprumei o corpo  observando as sombras se dissipando.

E ouvi uma batida falhar.

- Está assustado, Marilyn? - Ironizei, falando alto. Ouvi o coração se acelerando. Simplesmente satisfatório, a forma como ele era um rato. Agarrei novamente o punhal, o puxando bruscamente e manchando o chão de sangue. - Deveria estar. Você não vai escapar dessa vez. - Soltei a faca no chão, com um ruído abafado, gotas de sangue se espalhando. Comecei a andar. - Posso sentir seu medo, Marilyn. Você não é um cara muito corajoso. Facilite as coisas e se entregue, ou eu terei de colocar este lugar à baixo. - Sorri de lado. Meus passos ecoavam no lugar, finalmente vazio. Ele realmente achou que apenas aquelas sombras seriam suficientes?

- Vai ser do jeito difícil? - Dei a última chance. Sem resposta. Suspirei.

Marilyn não era um demônio de sangue frio, e seu coração ainda batia. No momento, seu pulso estava tão acelerado, e o lugar estava tão silencioso que eu talvez o ouvisse mesmo se fosse humano.

Olhei para cada uma das paredes. Marilyn me via, de onde ele estava. Talvez ele achasse que eu não soubesse de qual delas ele estava atrás. Me aproximei da que estava bem em minha frente.

- Olá, Marilyn. - Ouvi o coração se acalmar um pouco, e tive que conter a vontade de rir.

Num movimento rápido, me virei de costas, e estendi a mão. O piso todo se desfez, revelando uma espécie de Câmara escondida. E, um Marilyn de olhos arregalados.

- Últimas palavras? - Ironizei, descendo e ficando na frente dele.

- Seu- Ele não pode terminar a frase. Minha mão adentrou seu peito, e senti meus dedos envolverem seu coração. Um movimento, e o tirei do lugar.

- Aproveite o inferno, de um ponto de vista diferente.


“Ela tinha um rosto saído de uma revista .Só Deus sabe, mas você nunca vai deixá-la. Sua balaclava está começando a se desgastar. Quando ela pega a arma dele, ele está implorando, ‘querida, fique, fique, fique, fique, fique’.
Vou lhe dar mais uma chance, nós vamos lhe dar mais uma luta. Disse mais uma frase. Eu vou saber?
Agora, se você nunca atirar, você nunca saberá, e se você nunca comer, você nunca vai crescer. Você tem um tipo bonito de rosto safado. E quando você está deixando sua casa, ela está implorando para que fique, fique, fique, fique, fique.
Vou lhe dar mais uma chance, nós vamos lhe dar mais uma luta. Disse mais uma frase. Vai haver uma revolta, porque eu conheço você.
Bem, agora que você tem a sua arma. É muito mais difícil agora, a polícia veio. Agora atire nele, se é o que você pede. E se você tirar sua máscara, vai descobrir que tudo está errado, errado, errado.
Agora todo mundo está morto e eles estão dirigindo para minha antiga escola. E ele tem a arma dele, ele veste o terno dele. Ela diz, ‘Querido, você parece tão legal’.”

The 1975


Notas Finais


Nao tá mt bom, mas vcs vao amar o próximo (espero ;-;)
Bjs 💙💀
*desculpem qualquer erro, me avisem se, ou melhor, quando acharem ♡


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