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História My Immortal - This Is How I Disappear


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Hellooo
Demorei um pouquinho mais para posta esse capítulo, mas é que acabei indo viajar inesperadamente, e tive que dixar os toques finais para depois. E ainda assim, não está completamente revisado, então desculpem qualquer erro <3 (me avisem se - quando - acharem)
Espero que gostem, esse capítulo ficou meio... não sei, acho que vocês tem que ler pra entender akaodinoaisodln enfim, boa leitura sz
Ps FELIZ NATAL ATRASADO, e feliz aniversário pro nosso bebê ;u; nem acredito que ele já tem 27, to morrendo

Capítulo 7 - This Is How I Disappear


“And without you is how I disappear

And live my life alone

Forever now”

My Chemical Romance

 

- Você não de veria ter visto isso.

Me virei imediatamente ao ouvir uma voz rouca e rasgada, não familiar. Me dei de cara com um homem, talvez da idade de Andrew – ou a idade que Andrew aparentava ter -, ombros largos, cabelos e barba ruiva. Ele tinha os mesmos desenhos que Andrew pelos braços, e seus olhos azuis me encaravam com simpatia, e talvez certa pena. Ele me estendeu a mão.

- Se levante. Precisamos ir, e preciso te explicar algumas coisas. – Um pouco desconfiada, segurei a mão dele, que me ajudou a levantar. Ele a virou, deixando um leve beijo acompanhado de cócegas de sua barba. – Sou Danny. Prazer em te conhecer, senhorita Frances.

- Lilian, por favor. – Murmurei, ainda sem saber como reagir. Ele sorriu, simpático. – O senhor é um amigo de Andrew?

- Pode-se dizer que sim. E não seja formal, querida. Estamos todos no mesmo nível aqui. – Respirei fundo, aliviada e assustada ao mesmo tempo. Ele parecia um bom homem, mas não tinha boas experiências com os amigos de Andrew.

- Por que disse que eu não deveria ter visto... aquilo? – Hesitei um pouco em perguntar. Alguns homens aparentavam ser muito amigáveis, até que você fazia as perguntas erradas, e eles se estressavam.

- Ah, isso é assunto para uma vida mortal inteira, Lilian. – Ele sorriu de lado, começando a caminhar, fazendo sinal para o que acompanhasse. O que ele quis dizer? Que não é humano? Obviamente que não, idiota. Mas ele simplesmente não me parecia demoníaco, mas nem angelical, definitivamente. – Só saiba que Andrew não quer que ninguém mais saiba das histórias perturbadas que o trouxeram até aqui. Mantenha o que sabe em segredo, e talvez um dia, ele mesmo te conte.

- Mas... eu não entendo. – Não podia deixar de ser curiosa. Continuamos andando, e as mesmas portas escuras se materializaram na parede. Danny as abriu, me deixando passar na frente, e depois as fechando atrás de si, quando então desapareceram novamente. – O que aconteceu com a irmã dele? Ela está bem? E o que ele fez para ser punido dessa maneira?

- Eu não costumo responder tantas perguntas assim. – Danny sorriu, balançando a cabeça. - Normalmente, lhe diria a resposta mais óbvia: pergunte a Alexandria. Mas você ainda tem muito o que passar com Andrew, então acho que merece um pouco de alívio, ao menos para sua mente. Não se preocupe com a pequena Sarah. Ela está segura, com aquela que todos buscamos. – O olhei sem entender, mas ele se manteve em silêncio, conforme descíamos as escadas, o olhar fixo. – E o que Andrew fez, foi semelhante ao que eu fiz. Mas a diferença, é que ele queria o bem do próximo, e isso foi errado. Eu? – Danny fez uma pausa, um sorriso triste dançando em seus lábios. - Eu só pensei em mim mesmo. E esse foi meu próprio castigo.

Me mantive em silêncio. As palavras dele continuaram dançando por minha cabeça conforme adentrávamos o labirinto de masmorras, com lamúrias preenchendo o ar abafado e úmido, carregado de pânico. Agora, sentia a minha incerteza se misturando a de todos os prisioneiros ali, como se eu me tornasse um deles. Deveria eu me aprofundar numa história sobre-humana, a qual não cabe, em nenhum momento, à mim? Mas talvez, eu já seja parte de tudo, de um jeito ou de outro. Pois nada disso acabaria até estarmos todos mortos, e agora, eu havia me tornado parte de todo esse emaranhado. Até que a morte me levasse.

- Quem é Alexandria? – Tomei coragem para perguntar, olhando Danny pelo canto do olho, com medo de sua reação. Ele apenas deu um sorriso triste, manchado de muitas memórias, e seus olhos brilharam, trazendo algo mais antigo do que qualquer um poderia reconhecer.

- Uma mulher que conheci a muito, muito tempo atrás.

- Você a amou? – Danny se virou, me olhando surpreso, conforme chegávamos à mais uma escadaria, dessa vez, para uma saída.

- Palavras humanas não são suficientes para representar o que sentimos. Talvez, um dia, você entenda. Reze para que não. – Ele riu, uma risada rouca, com lembranças de miséria. Olhei para frente novamente, sentindo que tentava engolir uma pedra inteira.

Novamente, ele abriu as portas, deixando o ar quente entrar. O céu escuro e a areia vermelha – pareciam ser cacos de vidro e pedras quentes -, e os gritos de agonia eram o clássico do lugar, pelo que havia percebido. Tudo cheirava a enxofre, e meus olhos já lacrimejavam.

- Onde Andrew está? – Perguntei, minha garganta seca e queimando pelo ar simplesmente terrível.

- Ele está chegando. – Danny murmurou, olhando para escadaria pela qual subimos, e eu não gostei nem um pouco de seu tom e sua expressão.

Quase que respondendo à minha suposta premonição, vi seu contorno alto e magro subindo os degraus. Meu coração acelerou quando o vi melhor sob a luz negra. Um de seus braços estava completamente ensanguentado, como se o tivesse cravado dentro de alguém, e mais respingos de sangue cobriam seu rosto, pescoço, peito, todo o torso. E a manga de sua roupa preta estava rasgada, onde ele parecia ter um machucado. Conforme ele subia, pude notar uma corrente em sua mão. E enquanto ele a segurava firmemente, ouvi passos atrás dele.

Ariel. Completamente machucado – mais do que quando o encontrei na cela -, Ariel mancava, um machucado profundo a barriga, sangrando.

Andrew estava sério, e passou o olhar por nós dois, vendo como estávamos. Parecia quase que o contrário da cena na parede: agora, era Andrew que se erguia imponente, enquanto Ariel quase desmoronava em sua sombra. Na pintura, Andrew carregava um brilho nos olhos, algo inocente, esperança. Agora, pareciam opacos.

- O castelo já é seu? – Danny o olhou, calmamente.

- Definitivamente. – A voz de Andrew estava mais rouca do que o normal, talvez até mais grave.

- Então, vamos embora.

 

Nunca pensei que estaria tão contente de voltar para o quarto na torre do castelo. Andrew havia me mandando esperar ali, e acabei ficando sozinha com meus próprios pensamentos, enquanto ele e Danny falavam sobre alguma coisa.

Danny, o ruivo simpático havia me aconselhado a deixar o que eu sabia para mim mesma. Não tinha ideia de como manteria aquela onda de sentimentos para mim, pois no momento, eu só queria fazer perguntas, perguntas e mais perguntas. Eu precisava encontrar um jeito de saber.

Eu tamborilava os dedos na janela, observando o anoitecer lá fora. Pelo que entendi, o tempo passa diferente no inferno. Havíamos passado cerca de um dia lá. Os jardins continuavam tão lindos como sempre. Suspirei, olhando para trás de mim, sem nem mesmo saber o que estava pensando. E, assim, sem mais nem menos, como se meu corpo se movesse sozinho, eu me virei, e abri as portas do quarto.

O corredor estava vazio, o que facilitava as coisas. Andrew provavelmente não esperava que eu viesse a desobedecer suas ordens de ficar no quarto. Nem mesmo eu esperava. Foi simplesmente automático. Sem fazer nenhum som, pois estava descalça, me esgueirei até a sala onde eu sabia que os dois estavam. Por trás das portas duplas, podia ouvir vozes abafadas, mas não conseguia distinguir as palavras.

- Pois deveria estar contente! – Ouvi a voz abafada de Danny comemorar. – Finalmente, tirou Marilyn do mapa e tomou um castelo a mais. – Andrew murmurou alguma coisa em resposta, mas não era o que eu queria ouvir. Não era esse o assunto que me interessava.

Indo para outra direção, subi as escadas rumo ao quarto dele. Estava ousada hoje, e no fundo, sabia que isso poderia me custar caro. Mas, o que eu tinha a perder? Alguns corredores mais, e encontrei as familiares e imponentes portas escuras. Um calafrio me percorreu a espinha com as lembranças que me traziam, e preferi balançar a cabeça e ir direto ao assunto. Com uma coragem repentina, as empurrei, que deram espaço sem nem um único rangido.

Olhei em volta, engolido em seco. Era tarde demais para voltar atrás agora. Olhei encima da mesa, localizando o diário sobre a mesma escrivaninha de mogno. Com a capa marrom escuro, quase preto, de couro gasto e até meio chamuscado, e páginas claramente amareladas e velhas, o brasão de alguma família, provavelmente, e com a letra “B” era o atrativo na capa, esculpido em prata e com detalhes e floreios, com o verde se destacando. Era agora ou nunca. Parei para tentar ouvir vozes no corredor, e ao não ouvir nada, simplesmente o agarrei.

O abri ali mesmo, e olhei a primeira página. Numa escrita cursiva que daria inveja a lordes, havia uma mensagem:

“Que o homem que serás no futuro seja tão bom quanto o menino que crio no presente.

Coloque aqui tudo de mais importante em sua vida, bom ou ruim. Tudo o que vier a te mudar, moldar, destruir, completar, colorir, queimar e sufocar.

Com amor,

Mamãe.”

Senti meu coração apertar. O que era isso? Um presente da mãe dele, então? E quem era ela? Por que não havia aparecido na pintura, de maneira nenhuma? Como ela estava, hoje?

Ouvi uma voz. Duas vozes. Se aproximando. Pânico subiu por meu peito, a euforia tomou conta de mim, e eu nem tinha tempo de pensar. Imediatamente, com as mãos trêmulas, guardei o diário no lugar e corri para fora do quarto, deixando as portas abertas pela pressa, sem fazer nenhum som. Andrew não estava de bom humor, se ele me pegasse fora do quarto, seria o fim da minha vida. Eu corri muito, muito. Nem sabia para onde estava indo, mas de alguma forma, acabei na cozinha, o que era bom. Eu estava com fome. Parei, ofegante, o vestido amassado, mal conseguindo olhar em volta, simplesmente contente por estar viva a esse ponto.

- Lilian, o que houve? – Marinne se aproximou, preocupada. Respirei fundo, tentando encontrar energia para responder.

- Não é nada. – Tentei sorrir, mas é obvio que eu falhei miseravelmente. Eu estava morrendo por falta de ar no meio de uma cozinha, e é claro que eu estava perfeitamente bem. Me endireitei, me recompondo um pouco e tentando parecer normal. Talvez um pouco menos descabelada.

- Você não deveria estar no quarto? Se o Sr. Andrew a vir aqui, ele vai...

- Eu vou o que, Marinne? – Agora, estávamos encrencadas. Lentamente, nos viramos para trás, e se antes eu estava sem fôlego, agora eu já não mais respirava. “Ótimo”, pensei. “Ele me viu mexendo em suas coisas, e agora vamos todos morrer.” – Responda.

- Ah... – Marinne gaguejou, tão atônita quanto eu. – Não vai gostar nem um pouco.

- Que bom que alguém aqui sabe disso. – Ele se aproximou, e eu me encolhi, com medo do que viria pela frente. – Eu não mandei que ficasse em seu quarto? Por que sempre me desobedece? – Rugiu, o rosto a centímetros do meu, agarrando meu braço. Por um milésimo de segundo, meu coração voltou a bater com a conclusão de que ele não sabia. Pensei numa mentira o mais rápido possível.

- Ah... eu estava com fome. – Disse. Não era uma completa mentira. Eu só estava omitindo a parte importante. – Ia pedir alguma coisa para Marinne, porque você estava ocupado. – Murmurei a última parte. Seus olhos azuis enterrados nos meus me impediam de pensar direito, e eu tinha medo de deixar algo escapar.

Andrew me encarou mais um pouco, suspeito, antes de se afastar, respirando fundo e passando as duas mãos pelo cabelo. Só então percebi que prendia a respiração. Mas ainda não a soltei.

- Dessa vez, te dou um desconto. – Ele me olhou por alguns segundos, de um jeito estranho, que eu não conseguiria descrever. Contraditório, por assim dizer. – Mas o jantar já está sendo servido. Vá se arrumar. Pode esperar mais alguns minutos. – Engoli em seco ao perceber que seu humor normal, em outras palavras, seu mal humor já havia voltado, e assenti, dando um breve aceno para Marinne, correndo para meu quarto.

Mentalmente, a desejei sorte. Andrew sempre era muito duro com todas as escravas, mesmo que todas fizessem tudo impecavelmente bem. Seria Danny como ele? Meus olhos perderam o foco por alguns segundos ao se lembrarem das palavras do ruivo, e a minha resposta foi imediata. Não, ele era bem diferente. Danny era, sem dúvida, alguém com muito mais experiência de vida, por mais que sua aparência jovem não o revelasse. O mesmo acabava contando para Andrew. Mesmo que tivesse o corpo de um rapaz com seus 20 anos, algo me dizia que ele não era tão jovem assim. Não tão velho quanto Danny, podia dizer, mas seus olhos azuis carregavam mágoa de muito, muito tempo.

Danny havia sido muito gentil comigo, mas sentia medo de confiar. Eu simplesmente me sentia no meio de uma cova de leões, e eu era extremamente fraca. Não havia nada o que fazer, a não ser encará-los nos olhos e esperar que me devorassem. E depois de hoje, Andrew me deixara com muito o que pensar. Tanto pela sua imagem ao sair do castelo, quanto pelo diário, que simplesmente me parecia um imã, me puxando, me obrigando a abri-lo e descobrir os segredos por trás dos olhos azuis.

Já no meu quarto, dispensei as escravas que Andrew já havia mandado para me ajudarem, e comecei a me arrumar, completamente sozinha e perdida em pensamentos, deixando que meu corpo se movesse sozinho enquanto minha mente vagava.

Dentro da banheira, o cheiro de rosas dominando quase todo o banheiro, de uma forma estranhamente natural, eu passei uma das mãos pelo pescoço, sentindo o machucado. Já estava cicatrizando. Seja lá o que Andrew chamasse de remédio, funcionava. Toda vez que eu entrava na água, todos os meus músculos relaxavam e eu simplesmente sentia que conseguia respirar novamente. Quando seria a próxima vez? Sei que sempre me fazia essa pergunta, mas era aterrorizante. A lembrança de minhas veias em chamas, o formigamento se espalhando por minha pele, minha visão se embaçando, o pânico aumentando conforme o corpo dele, deveras maior do que o meu me subjugava contra o colchão, restringindo meus movimentos, me fazendo estremecer e bagunçar os lençóis, por puro desespero. Eu me lembrava de sentir minha vida se esvair de meu corpo por entre os lábios dele, e, se tivéssemos ficado um pouco mais ali, teria sido o fim.

Retirei a mão de meu pescoço rapidamente, pois era como se aquilo me trouxesse imagens e clarões do que aconteceu de volta a mente. E no momento, eu estava mais interessada no diário. Parei para me lembrar do que estava escrito na primeira página. A caligrafia curvada e feminina, da mãe dele. O que teria acontecido a ela? Meu peito se apertava ao imaginar o quão obscuro o passado de Andrew aparentava ser, e eu gostaria de um dia, poder ouvir dele, a história de sua vida. Mas temia que isso não fosse possível. Ele guardava muito rancor, e por algum motivo, parecia odiar até a mim, mesmo que eu nunca houvesse tido, realmente, intenção de magoá-lo ou algo do tipo.

Em pouco tempo, estava no quarto, onde as escravas insistiram em me ajudar dessa vez. Decidi não discutir, pois isso poderia prejudica-las com Andrew depois. Marinne não estava ali, o que me deixou nervosa. Me perguntei se ela estaria bem, ou se a havia colocado em problemas novamente.

O vestido escolhido para essa noite era diferente. Num tom de dourado, mas não brilhante. Não se descrever exatamente. Mas posso garantir que era absurdamente belo. Alguns detalhes nele pareciam ouro puro, e eu me senti uma verdadeira rainha. As empregadas queriam fazer mais uma dose de caprichos, mas eu estava com pressa. Não me sentia no clima para nada hoje, e mesmo com o vestido espetacular, tinha a sensação de que nada nunca agradaria Andrew.

- Você está linda, senhorita. – Uma das garotas disse, por fim, conforme eu saía do quarto. Agradeci baixo, tímida, conforme rumava para a sala de jantar; respirei fundo, me recompondo e me preparando para enfrentar o rançoso.

Conforme desci as escadas, pude ouvir as escadas. Um estranho alívio me dominou ao notar que Danny ainda estava aqui. Ele era bem mais simpático. Creio que só me notaram quando estava na metade dos degraus. Andrew numa ponta da mesa, com sua usual taça com o suspeito líquido vermelho, e o ruivo na outra, com apenas uma taça de vinho. Sim, eu o acho mais simpático.

- Frances! – Danny exclamou, se levantando da mesa quando eu chegava aos últimos degraus. – Achei que não viria. Estávamos falando de você agora mesmo, a propósito.

- Estavam? – Travei ali, no pé da escada, sem saber exatamente como reagir. Homens não me tratavam assim, tão... amigavelmente?

- Sim, sim. – Ele riu da minha expressão encabulada, me oferecendo o braço, que eu desajeitadamente tomei, o acompanhando até a mesa. – Está muito bonita, Lilian. – Danny puxou a cadeira para mim, bem ao seu lado esquerdo, na ponta da mesa. Andrew nos olhava, não muito contente, do outro lado, e eu senti um calafrio percorrer meu corpo.

- Obrigada. – Murmurei. Baixei o olhar para minhas mãos, pois Andrew me encarava, e eu nunca sabia o que fazer quando seus olhos azuis estavam em mim. O que ele queria dessa vez?

- Não fique incomodada pelo mal humor usual de Andrew, Lilian. – Danny brincou, começando a se servir, e só então reparei que a mesa estava cheia. – Sirva-se, sei que está com fome. A recepção de Marilyn provavelmente não foi muito calorosa. – Ele arqueou uma sobrancelha em minha direção, e eu assenti, me lembrando de tudo. Me servi também, mal prestando atenção no que estava comendo. Algum prato caro da classe alta, o qual nunca havia visto antes, não que isso importasse. No momento, apenas sentia falta das sopas de minha mãe.

Um silêncio constrangedor se instalou no local conforme eu e Danny comíamos, e só se podia ouvir o tintilar dos talheres contra os pratos, mas eu sentia o olhar dele me queimando, ainda que algo em mim conseguisse o ignorar. Talvez, o fato de minha mente estar a mil, tentando encontrar uma maneira de burlar as regras de Andrew e ler seu diário. Era algo errado, muito errado. Invadir os segredos de outra pessoa dessa maneira. Mas, o que era certo ali? No fim, eu era apenas comida para ele, e qual é a parte certa disso?

Mas então, pensei mais. Talvez, não fosse essa a maneira de resolver as coisas. Isso só o deixaria mais rancoroso. Talvez, ser sincera com ele e contar o que eu vi – por acidente, o desse mais confiança em mim. Mas por mais que eu pensasse, não conseguia imaginar uma reação boa vinda dele.

Mal havia notado, mas meu prato já estava praticamente vazio, assim como o de Danny. E minha cabeça, apenas parecia se encher mais. Suspirei ao terminar, tomando um pequeno gole da minha taça, o vinho doce era refrescante, simplesmente aliviando um pouco de toda a tensão em mim.

Quando coloquei a taça de volta à mesa, meus olhos se encontraram com os de Danny, que parecia curioso. Franzi o cenho, se entender exatamente sua expressão, e então, ele se levantou, olhando agora para Andrew.

- Bem Andrew, o jantar estava ótimo. Já vou subindo. Boa noite. – Andrew concordou com a cabeça, sem tirar os olhos de mim. – Boa noite, Lilian. – Danny murmurou, tomando minha mão nas suas e depositando mais um beijo meio pinicado pela sua barba, mantendo seus olhos nos meus, como se dissesse algo que não pudesse dizer. Por um momento estranho, senti que ele estava em minha cabeça, e podia ler meus pensamentos. Danny sorriu.

- B-boa noite. – Meu “boa noite” soou mais como uma pergunta, pelo fato de ele realmente parecer estar em minha cabeça agora. Estranho.

Sem dizer mais nada, Danny subiu as escadas, sozinho, provavelmente para seu quarto, me deixando à sós com Andrew, o que era o que eu menos queria no momento, por isso, me aprecei em educadamente me retirar.

- Eu também vou para meu quarto. Estou cansada, e já comi então- A voz grave de Andrew me interrompeu, e imediatamente, soube que estava em problemas.

- Você fica.

- Mas...

- Sem mas. – Cortou, levando a taça aos lábios. Toda vez que ele o fazia, eu não podia evitar um calafrio. – Venha aqui.

Lentamente, me levantei. Achei que acabaria tropeçando em meus próprios pés, mas de alguma forma, encontrei equilíbrio conforme caminhei até onde ele mandou. Parei exatamente ao seu lado esquerdo, e ele, mesmo me olhando de baixo, conseguia exalar uma superioridade quase perturbadora.

- Sente-se.

Puxei a cadeira, arrumando o vestido, olhando para minhas mãos em meu colo, como eu sempre fazia. Encará-lo era muito difícil. Eu me sentia transparente, nua em seu frente. Era como se eu nunca fosse conseguir mentir para ele.

- Agora, fale a verdade. – Seu tom era baixo, contido. Mas sabia que ele não hesitaria em me agarrar pelos cabelos a qualquer segundo. Ele era assim. – O que está escondendo?

- Não estou escondendo nada. – Murmurei, tomando minha decisão no momento. – Apenas não sabia quando e como te contar. – Andrew se levantou, ficando atrás da cadeira em que eu estava, apoiando suas mãos nos braços dessas. Eu podia sentir sua respiração controlada em minha nuca, e meu coração estava disparando.

- Me contar o que? – Questionou, a voz rouca em meu ouvido, me arrepiando.

- E-eu... – Esqueci momentaneamente como se falava. Ele me dava tanto medo, mas ao mesmo tempo, me causava algo mais. Algo que me tirava o fôlego e me fazia pensar coisas que eu não ousava assumir para mim mesma. – Quando Marilyn me prendeu, fiquei numa sala cheia de pinturas. Havia uma pintura sua lá, e quando eu me aproximei, eu simplesmente... vi. – Olhei as mãos de Andrew nos braços da cadeira. Suas juntas tencionando. Me encolhi também. Ele iria me culpar por isso?

- O que você viu? – Sua voz estava tensa, e eu o sentia como se construísse muros ao seu redor.

- Você, Ariel e... ela. – Murmurei. – Quando ele a levou. – Minha voz não passava de um sussurro. Ele respirou fundo, e eu senti vontade de gritar, apenas pelo medo. Num movimento repentino, ele virou minha cadeira, me fazendo arregalar os olhos. Fiquei frente à frente com seus olhos azuis, minhas costas completamente coladas à cadeira, conforme ele se aproximava, mantendo um olhar firme.

- Não pense muito nisso. – Seu tom foi surpreendentemente calmo. Soltei uma respiração um tanto forçada, tentando forçar meu coração à voltar ao seu ritmo normal. – Eu não sou mais esse garoto, deixe o passado para trás.

- O que quer dizer? – Não pude deixar de perguntar. Mesmo num monto desses, minha curiosidade é sempre insistente.

- Quero dizer que mudei. – Respirou fundo, ainda me olhando. Ele ia se levantar, mas as palavras saíram aleatoriamente da minha boca, como se meu desejo de conhece-lo fosse maior que minha racionalidade.

- De um jeito que sua mãe aprovaria? – Ele parou aonde estava, e eu arregalei tanto os olhos que achei que eles provavelmente sairiam de meu rosto. Senti vontade de me estapear até a morte. Era uma pergunta retórica, pois eu tinha aquela mensagem em minha mente, e isso somado a minha frustração diária com Andrew, não acaba bem. Ele se virou, e eu não consegui unir força para olhar em seu rosto.

- O que disse? – Seu tom era perigosamente calmo.

- Nada. – Engoli em seco, abaixando ainda mais a cabeça.

- O que mais você viu?

- Não vi mais nada. – Eu não estava mentindo. O pânico subia, e eu praticamente suava frio.

- Pare de mentir. – Ele esbravejou, entredentes, se aproximando novamente. – Seja honesta enquanto eu ainda estou paciente. – Respirei fundo.

- Seu diário. – Não tinha escapatória. Andrew fechou os olhos, como se contasse até mil. – Desculpe. Eu sei que não devia ter feito isso.

- Mas fez. – Ele praticamente rosnou, mas ainda num tom de voz baixo; só pude me encolher. – O que você viu?

- Só a primeira página. – Respondi, rapidamente. Isso pareceu acalmá-lo.

- Você não deveria ter feito isso. – Ele murmurou, o rosto próximo do meu, seus olhos contra os meus. Ele desceu um pouco, passando o nariz pelo meu pescoço, exatamente aonde havia me mordido, inalando. Respirei fundo. Ah, não. Repentinamente, ele agarrou meus pulsos, me colocando de pé. – Vai ter que pagar o preço.

Sem delicadeza nenhuma, ele me arrastou escada à cima, e eu não sabia o que dizer. Queria protestar, mas tinha medo de que isso piorasse as coisas. Ele não podia me culpar por estar entediada e curiosa, mas eu também não podia culpa-lo por ter seu espaço pessoal. Eu estava errada pelo que fiz, mas definitivamente não queria ser punida por isso.

Antes que eu tivesse tempo de formular minha mente, visualizei as portas escuras do quarto dele, e meu corpo imediatamente enrijeceu. Eu não estava nem um pouco a fim de entrar ali.

- Andrew, isso não é justo. – Reclamei, estacando na porta do quarto, tentando voltar atrás.

- Me parece bem justo, na verdade. Primeiro, porque você invadiu meu quarto e mexeu em minhas coisas, segundo, porque caso tenha esquecido, a igreja deu você para mim, e eu sou seu dono. – Ele se virou, me colocando contra a parede, arrancando um gritinho acidental de mim. – Mas, o que é justo para nós, não é mesmo? – Ele me encarou, surpreendentemente sorrindo de lado, os olhos com um brilho curioso no olhar. E então, a realização caiu. Independentemente dos motivos, a igreja tirou alguém importante de nós dois, alguém que daríamos a vida por. Alguém que demos a vida por.

- Nós somos iguais... – Murmurei, sem querer, pela primeira vez o encarando com a mesma intensidade. Sem sorrir, apenas surpresa.

- Não, nós não somos. – Seus olhos se entristeceram um pouco. – Você é pura e inocente. Os gatilhos que nos trouxeram até aqui são diferentes, querida. Você é o bem, eu sou o mau. – Ele levou seu nariz até meu pescoço novamente, dessa vez, o lado não machucado. Senti um arrepio, estranhamente me lembrando da primeira vez em que ele me beijara, no inferno. Por um motivo estranho, senti vontade que ele o fizesse novamente. Mesmo que fosse errado e contra a igreja. Por que algo tão bom era considerado errado? Exatamente por isso, idiota. Me bati mentalmente. Mas ainda assim, não fazia sentido. Se Deus nos deu prazeres em vida, por que não vive-los?

Andrew levou as mãos aos meus pulsos, levando-os acima de minha cabeça e os prendendo em uma mão, a outra, apertando minha cintura. Minha respiração acelerou. Andrew subiu um pouco, seus lábios roçando meu pescoço, então minha bochecha, próximos dos meus lábios. Me beije.

- Você não é mau. – Acabei falando. Estava falando muitas coisas imprudentemente hoje. Ele riu baixo em meu ouvido, e não havia um fio de cabelo meu que não tivesse se arrepiado.

- Ah, não? – Ele me olhou, irônico, descendo a mão que segurava meus pulsos suavemente por meu braço, sua pele fria eletrizante.

- Não. – Surpreendentemente, estava firme com minha afirmação. Mas na realidade, acreditava no que falava. – Você não é mau de verdade. É um pouco cruel, sim. – Ele arqueou uma sobrancelha. – Mas você apenas finge ser mau. Porque no fundo, você apenas... – Levei a mão ao seu rosto, ele parecia petrificado, as feições perfeitas me encarando como se eu fosse de outro mundo. No momento, ele era. Iluminado apenas pela luz da lua que adentrava as janelas, ele parecia um anjo. – Está triste. – Andrew continuou me encarando, suas joias azuis deixando transparecer algo que eu nunca antes havia visto. Algo diferente, um sentimento novo. Vida. Emoção. Mas então, tão rápido quanto chegou, como se algo estalasse dentro dele, isso tudo se foi.

- Eu não estou triste. – Esbravejou, tirando minha mão de seu rosto com brutalidade. – Isso é coisa de garotas. E você acha que não sou mau? – Andrew me apertou contra a parede, sua voz grave preenchendo todo o corredor, a rouquidão me rasgando quase que propositalmente. – Vou te mostrar como eu sou, então.

Dito isso, Andrew agarrou meus cabelos, me puxando com força para o quarto. Acabei gritando, pelo susto e pela dor. O que era esse surto repentino? Ele empurrou as portas, e uma rajada de ar frio nos recebeu. Ainda pelos cabelos, ele me empurrou para dentro do quarto, e eu acabei perdendo o equilíbrio com toda a força que ele usou, caindo no chão. Andrew fechou as portas com brutalidade atrás de si, me olhando como se eu fosse um nada. E no momento, era o que eu sentia. Minha respiração parecia presa na garganta, e eu sentia que não conseguiria deixar uma única palavra sair, por mais que quisesse gritar.

- Se levante. – Eu estava atônita. Meus olhos presos nos dele, mas eu me senti um animal em frente ao caçador. Não havia nem ouvido o que ele disse, apenas observava a figura dele, como se fosse um agouro. – De pé, agora! – Esbravejou, me agarrando pelos cabelos novamente e me colocando de pé. De relance, pude ver a enorme cama novamente. As mesmas cortinas negras de seda a escondia, coberta de veludo vermelho-sangue. Aterrorizantemente familiar. Mas, antes que eu pudesse observar a beleza catastrófica da mesma por mais tempo, Andrew já havia aberto espaço por entre as cortinas e me jogado em cima da mesma. E logo, estava sobre mim.

Aquela visão era perigosamente a que eu tive antes. Ele sobre mim, seus olhos azuis me devorando, e atrás, as cortinas negras cercando o mundo exterior, como se fossemos a única coisa válida. E para mim, nós éramos, nesse momento. Cada parte de mim que era tocada pelo corpo dele parecia entrar em chamas, por mais que ele fosse frio. Mas, Andrew não me deu muito tempo para pensar nisso.

Andrew passou a mordiscar meu pescoço, na pele dolorida próxima a ferida quase curada. Era doloroso, mas de alguma forma, bom ao mesmo tempo. Ainda assim, doía muito.

- Andrew... – Pedi, quando ele se aproximou mais. Ele me apertava contra a cama, tornando minha respiração, já irregular, quase inexistente. – Está machucando.

- Ah, é? – Murmurou, apertando minha cintura com força, me fazendo arfar. – Ainda nem começamos. – Ele colocou seu rosto em frente ao meu, me olhando... daquele jeito. – Se lembra quando te beijei, pela primeira vez?

- S-sim... – Aonde ele queria chegar?

- Você gostou? – Murmurou, roçando seus lábios nos meus, enquanto prendia meus pulsos novamente. Ele gostava de me imobilizar, percebi.

- E-eu... – Não consegui me forçar a dizer. É obvio que havia gostado. Havia sido incrível. Mas era contra a igreja. Tudo aquilo era contra a igreja. Eu não deveria tocar num homem assim. Por mais que minha mãe não tivesse tido tempo de me contar sobre essas coisas antes de adoecer, me lembrava claramente de sua voz doce me alertando sobre sedutores que me desviariam do caminho de Deus. Lembro de todas as missas, de tudo me falando para não seguir o caminho carnal. Não era um homem que me faria mudar de opinião. – Foi errado.

- Ah, foi. – Ele riu, indo ao lado não machucado do meu pescoço, me mordiscando enquanto descia uma de suas mãos lentamente pelo lado de meu corpo, me arrepiando, até parar em uma de minas cochas, a posicionando do lado de seu quadril, me apertando com força. Deixei o gemido escapar. – Mas sabe, quanto mais errado, melhor. Você não tem ideia do quão divertido é ver sua inocência sob cada uma das coisas que faço. – Ele me encarou, um olhar faminto. Mas, com uma conclusão que me fez sentir quase nua, não tive certeza se era por meu sangue. – Você adorou, não foi? – Senti sua respiração em minha orelha, me deixando sem palavras, conforme um frio na barriga se espalhava por todo meu corpo.

- Você é muito convencido. – Não sei de onde tirei coragem para dizer isso, porque mesmo que ele fosse, sim, convencido, ele estava certo; mas de qualquer forma, Andrew imediatamente me encarou, uma sobrancelha arqueada, um sorriso de canto ameaçando dançar em seus lábios.

- Eu, convencido? – Agora, ele tinha, sim esse sorriso malicioso, os olhos escuros. – Não querida. Sou apenas seguro de mim mesmo.

Antes que eu pudesse responder, Andrew agarrou minhas cochas, as envolvendo em seu quadril, pressionando sua pelve contra mim. Arfei, pelo movimento repentino, sem saber o que fazer, mas ele apenas sorriu do meu desespero.

- Posso fazer você responder minha pergunta à força, sabe disso, não? – Roçou seus lábios nos meus, seu hálito doce me embriagando, e eu só queria beijá-lo, por mais errado que fosse.

- Tente. – Desafiei. Isso também saiu sem querer. Mas de algumas maneira, ele pareceu gostar, pois esse foi o empurrão final. Finalmente, seus lábios se chocaram contra os meus, sem delicadeza nenhuma, mas ainda assim, de uma forma diferente de como foi no inferno. Tão selvagem quanto acontecera lá, mas ainda assim, havia uma vontade a mais ali. Ele não queria apenas meu sangue dessa vez, e eu não sabia o que pensar disso. Mas mal tive tempo de raciocinar, pois sua boca contra minha simplesmente era tudo o que existia. Eu não conseguia não retribuir aquilo, e mesmo assim, eu não queria parar.

Suas mãos deslizavam por todo o meu corpo, apertando minhas coxas, quadril e cintura, me dando leves beliscões vez ou outra. Ele sabia exatamente o que fazer para me prender no momento. Em pouco tempo, senti sua língua acariciando levemente meus lábios, com uma delicadeza surpreendente, e quase me perdi na sensação.

Repentinamente, ele agarrou minhas coxas com força, se posicionando melhor entre minhas pernas e forçando seu quadril contra o meu. Senti aquela mesma coisa entre suas pernas, e uma nova sensação, algo que me fazia querer a ele, e apenas ele. No susto com a velocidade que ele o fizera, acabei deixando um gemido escapar, e Andrew aproveitou a oportunidade para adentrar sua língua em minha boca, explorando cada canto dela. Não consegui mais me conter, e minhas mãos acabaram agarrando seus fios, os puxando na nuca. Ele deixou um gemido baixo e grave escapar, e eu pude sentir seu pescoço vibrar, me arrepiando.

Andrew nos separou, e quase o xinguei pela abstinência de seus lábios, mas então o senti mordendo levemente meu maxilar, no lado não machucado. Puxando levemente a pele, me fazendo arquear as costas. Era tão estranho, a mistura de medo e prazer que ele me dava. Tão próximo da minha pele, ele poderia me morder a qualquer segundo, e eu sabia que a dor era imensurável. Mas ele não o fazia, deixando tudo imprevisível, me dando um frio na barriga e me obrigando a ficar mais. Eu não poderia lutar contra isso, nem que quisesse.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, suas mãos foram ao meu vestido, e num único movimento, ele rasgou a parte de cima – a parte apertada. Acabei deixando um gritinho escapar, e ele apenas riu baixo, descendo o vestido por meu corpo, até retirá-lo completamente, para então, se posicionar sobre mim novamente. O contato era muito mais intenso assim, seus dedos frios contra minha pele quente simplesmente eram o paraíso, e eu não me lembrava de nada da igreja naquele momento. E mesmo que eu estivesse apenas de roupa íntima, ele já havia me visto nua. E nesse momento, eu tinha mais com que me preocupar. Poderia ficar com vergonha depois.

Ele desceu para meu pescoço, onde mordeu com um pouco mais de força, me assustando um pouco, fazendo um gemido escapar, ao mesmo tempo em que afundei as unhas em sua nuca, o fazendo gemer também.

- O que vai fazer? – Perguntei num sussurro, pois não tinha ideia de como nada disso funcionava. E tudo o que eu menos queria era que ele bebesse meu sangue, especialmente agora.

- Você sabe o que vem agora. – Murmurou, a voz rouca me arrepiando conforme roçava os lábios em meu pescoço. Sabia, mas não queria.

- Hoje não... – Praticamente implorei, ainda um pouco ofegante, minhas mãos mais suaves na nuca dele, sentindo seu cabelo macio conforme seu perfume me envolvia, me entorpecendo. – Por favor. – Ele tirou o rosto do meu pescoço para olhar para mim, e eu não recebi o olhar cruel que esperava. Parecia algo mais empático, e senti meu coração acelerar.

- Ajudaria dizer que não tenho escolha? – Ele encostou sua testa na minha, nossos olhos fixos, e eu não conseguia respirar.

- N-não? – Ele tirou suas mãos de minha cintura, as subindo para meu rosto, uma de cada lado, e então eu não tinha mais palavras.

- Não. – Murmurou, e de alguma forma, esse era o Andrew da pintura. – Ser quem eu sou por ter feito o que eu fiz custa caro. E no fim, você acaba tendo de pagar por isso também. – Fiquei em silêncio por alguns segundos, simplesmente sem acreditar. Ele realmente estava esperando uma aprovação minha? Eu não poderia discordar. Por razões óbvias, é claro, mas principalmente depois disso. Meu coração é fraco demais.

- Está bem. – Murmurei de volta. Como se contássemos segredos um para o outro. E de certa forma, era o que os olhos dele me diziam, ali. Não conte a ninguém que te disse isso. Eu sou mau, e você me odeia. Mas nós dois sabíamos a verdade agora.

Sem dizer mais nada, ele me olhou por mais alguns segundos, antes de retirar as mãos de meu rosto, e repentinamente, nos levantar, se sentando ajoelhado, me colocando em seu colo, uma perna de cada lado. Encarei fundo em seus olhos, um pouco assustada, tentando normalizar minha respiração. Da mesma forma que suas mãos deslizaram por minhas laterais, quase que naturalmente, agarrei seu cabelo, sedoso e perfumado. Senti seu nariz levemente pelo meu pescoço, e meu corpo tremeu levemente, mas tentei ser corajosa. Coloquei meu cabelo para o lado, abrindo caminho para ele. Andrew levantou os olhos, surpreso.

- O que há de tão diferente em você? – Sua mão acariciou minha bochecha novamente, e eu simplesmente queria que ele fosse assim o tempo todo. Mas de alguma forma. Sabia que amanhã o Andrew cruel que eu conheci desde o começo estaria de volta.

- O que quer dizer? – Ele manteve seus olhos nos meus por mais alguns segundos, antes de balançar a cabeça, olhando para baixo.

- Nada. – Enlaçou minha cintura, aproximando nossos corpos. Era estranho como eu adorava a forma como ele era frio, simplesmente em contraste perfeito comigo. Era bom ficar junto dele, assim. Andrew se aproximou de meu pescoço, e não pude deixar de enrijecer. Sua respiração contra minha pele era uma sensação ótima, mas eu sabia que o que viria a seguir, nem tanto. – Se você relaxar, dói menos. Tente não se mexer, assim só vai sentir o veneno, mas de um jeito diferente. – Murmurou, levando as mãos aos meus ombros, me acariciando. – Solte seu corpo.

Eu estava sem saber como reagir, ele nunca era assim comigo. Mas era reconfortante. Acabei fazendo o que ele mandou, enroscando os braços ao redor de seu pescoço e deixando que ele segurasse meu peso. Seu corpo frio se moldava perfeitamente ao meu, e a última coisa que senti foram seus lábios roçando meu pescoço novamente, antes de pontas afiadas.

Senti suas presas adentrarem minha carne, e acabei grunhindo. Meu corpo quis enrijecer, lutar contra isso, mas senti o toque dele se apertar ao meu redor, num abraço acolhedor, e me contive. A dor ainda era enorme, sem dúvidas, mas não como da outra vez, e eu logo pude sentir a queimação se espalhando pelo meu corpo. Mas dessa vez, era diferente, como ele havia dito. Respirei fundo, sentindo minha pele formigar. Era mais como um calor, invadindo até mesmo em minha alma, me impedindo de pensar. A única coisa que parecia evitar meu corpo de entrar em chamas, era a temperatura fria de Andrew. As presas dele foram um pouco mais fundo, e acabei soltando um som esganiçado, como um gemido. Ele agarrou meus cabelos, não de um jeito bruto, apenas da forma como eu fazia com ele. Eu podia ouvir, próximo a minha orelha, enquanto ele engolia longos goles do meu sangue, e os calafrios que subiam por meu corpo eram incontroláveis. Eu estava fraca, muito fraca com isso. Mas, para minha surpresa, de uma forma simplesmente repentina, ele retirou sua boca de mim.

Seus lábios estavam manchados, a boca entreaberta, os olhos brilhantes enquanto ele me encarava, ofegante. Eu não conseguiria me mexer, meu corpo estava pesado demais, e leve demais ao mesmo tempo. A única coisa que me impedia de cair eram seus braços. Um filete de sangue descia tranquilamente por sua pele de porcelana, no canto da boca.

- Está sujo aqui. – Murmurei, de alguma forma criando forças para mover meu braço, passando levemente o polegar por ali, observando, fascinada, os lábios rosados dele. Os limpei também, observando suas presas. Passei levemente o dedo por eles, tão macios. Observando minha curiosidade com silêncio e igual curiosidade, Andrew abriu um pouco mais os lábios. Bem de leve, encostei em uma de suas presas.

- Ai. – Murmurei, retirando rapidamente e levando o dedo machucado, que sangrava um pouco, à minha boca.

- Só isso? – Ele me olhou, arqueando uma sobrancelha.

- Como assim? – Respondi, meio grogue. Não sei quanto mais tempo aguentaria acordada.

- Não vai ficar com raiva de mim, ou dizer que me odeia ou que não aguenta mais? – O encarei, pensando.

- Não estou com raiva de você, e não te odeio. – Murmurei, me espreguiçando. De alguma forma, a mordida simplesmente não doía, apenas a queimação ainda estava no meu corpo. – E eu tenho que aguentar.

Andrew me encarou, como se eu tivesse vindo da lua. Mas eu não aguentaria muito mais tempo acordada. Sem muita noção de meus atos, simplesmente me soltei contra ele, deitando em seu peito. Ele pareceu ainda mais surpreso, como se fosse algo que ninguém nunca faria, mas acabou me aceitando ali. Aconcheguei minha cabeça na curva do seu pescoço, um pouco do seu cabelo me fazendo cócegas, enquanto sua temperatura parecia perfeita para me acalmar. Não pude evitar, e acabei caindo no sono nos braços daquele que aos poucos me matava. Nos braços do meu assassino.

 

“Algumas noite você mente, outras não, mas todas parecem iguais. Às vezes você deseja poder se tornar pedra e ser perfeito sempre. Eu, eu não posso me sentir assim, não mais. Na multidão sozinho porque ninguém quer conhecê-lo, eles querem? Não querem? Bem aqui, mas ninguém está vendo.

Aqui vem o homem invisível, que ninguém se vira para ver. Sou apenas outro tolo mudo que nunca vai ficar na história.”

Andy Black

 

 

 

 

 


Notas Finais


Espero que não esteja muito cocô de hipopótamo. E não, eu não sei porque sempre comparo meus capítulos com cocô de hipopótamo. Deve ser pior que cocôs normais. Ou não eifvjwepivn :v
Comentem o que acharam! Saber se estão gostando ou não, e no que posso melhorar sempre incentiva muito ^^
Obrigada por lerem <3


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