Ao finalmente chegar em sua casa, Izuku ainda tentava engolir tudo que havia acontecido na noite, a queda de All Might, a luta com All for One, a fuga dos vilões, e o resgate de Katsuki, foi muita coisa para uma única madrugada.
“Izuku?” Dizia Inko Midoriya, ao abrir a porta de seu apartamento, se deparando com seu filho, com capuz na cabeça e seus olhos com uma coloração preta, ao invés da seu comum brilho esmeralda.
“É... uma longa história...” Disse enquanto tirava as lentes e as guardava. “Eu tô com sono... não se preocupe em fazer almoço pra mim, não acho que eu vá acordar...”
“Ah... sim... claro... você viu na TV? O-o All Might, ele...”
“Eu vi... é bom ele não morrer, ou eu faço ele voltar como espírito amaldiçoado e mato ele eu mesmo...” Disse tranquilamente enquanto andava para seu quarto. “Boa... noite...?” Disse confuso.
“São sete da manhã...” Disse a mulher com uma pequena risada.
“Bom dia então...” Respondeu o garoto.
O garoto então seguiu para seu quarto, com passos pesados e cansados, sem se importar com o que vestia ou calçava, e simplesmente se jogou na cama, perdendo rapidamente a consciência até que sentiu sua cama se mexer.
“O que diabos...?”
“Izuku!” Era Gojo.
“Gojo? O que você tá fazendo aqui? (E por que eu não tô tão surpreso...)”
“Eu vim ver como você estava, mas você demorou pra chegar e eu acabei caindo no sono...”
“Na minha cama?”
“Eu não ia dormir no chão nem na sua cadeira... a cama era o lugar mais confortável!”
“Tanto faz... você pode pelo menos se levantar? Eu tô cansado...”
“Ah claro!” Disse se levantando. “Antes de você dormir, eu queria dizer que eu tô orgulhoso de você!”
“Hã? Por que?” Disse Izuku de maneira sonolenta.
“Por salvar o seu colega! Eu sabia que você não ia aguentar e ia acabar fazendo algo! Era disso que eu falava quando disse que você estaria ansioso!”
“Ah é...? Legal...”
“Você tá mais dormindo do que acordado né?” Perguntou o mentor, para ser respondido com um ronco do garoto. “E... ele dormiu... acho que é hora de ir!” Disse para si mesmo, antes de desaparecer do quarto, deixando Izuku descansar finalmente.
O resto da semana passou normalmente, as aulas haviam sido dispensadas e o diretor Nezu havia novamente ido a público para falar sobre o acontecido, Izuku e sua mãe assistiam a entrevista, quando ouviram alguém bater na porta.
“Eu atendo!” Disse Izuku se levantando do sofá, meio tropeçando e indo para a porta. “E-Eraserhead?”
“Eu estou aqui como professor... pode me chamar de Aizawa, posso entrar?”
“Pode sim! Eu preciso chamar a minha mãe ou é só comigo que precisa falar?”
“Isso, chame-a por favor... é um assunto importante...” Disse enquanto seguia o garoto.
“Pode se sentar, ela está ali na sala...” Disse Izuku para o professor, que andava calmamente pelo apartamento, seus passos não faziam nenhum barulho.
“(Então esse é o pai dele...)” Disse enquanto olhava uma foto de um homem de cabelos pretos e bagunçados e uma marca que parecia uma cicatriz perto da boca, em uma prateleira perto da mesa onde se sentava.
“A-Aizawa certo?” Perguntou a mulher, sendo respondida apenas com um aceno de cabeça. “Inko Midoriya, prazer em conhecê-lo!”
“Igualmente.”
“A que devo a visita inesperada?” Perguntou a mulher.
“Primeiramente, eu queria me desculpar por vir sozinho, mas a pessoa que me acompanhava pediu para não vir comigo especificamente aqui...”
“Eu nem imagino quem seja...” Murmurou Izuku.
“Sem problemas, eu imagino como deve estar uma confusão para vocês professores!” Disse a mulher, compreensiva, enquanto dava um tapa de leve na boca de Izuku.
“Agora que coloquei isso de lado... vou ser direto e explicar o por quê de eu estar aqui hoje, que é sobre os recentes ataques contra a nossa instituição e, como uma maneira de proteger os alunos, o diretor agilizou uma ideia que ele já vinha formulando há algum tempo, sobre os dormitórios no campus...”
“Sim... eu ouvi falar... eu acho uma ótima ideia! Ainda mais considerando os acontecimentos atuais, mas...”
“(Oh não... eu não esperava esse ‘mas'...)” Pensou Izuku.
“Eu não sei se eu estou pronta para confiar a segurança do meu Izuku para a Yuuei...”
“O que?!” Disse Izuku num tom mais alto do que gostaria.
“Foi a segunda vez que a Yuuei sofreu um ataque, e a terceira vez que o Izuku se machucou gravemente ferido... Aizawa, você viu os ferimentos dele?”
“Eu vi...” Mais do que isso, ele viu os machucados e não impediu o garoto de ir atrás de seus amigos, mesmo sabendo dos riscos que o garoto poderia correr.
“É por isso que eu quero que você me prometa... me prometa que o Izuku vai ficar bem na Yuuei, que vocês podem protegê-lo e que eu não preciso me preocupar mais com a segurança dele... porque honestamente... está difícil...”
O pedido da mulher era uma loucura, Aizawa sabia disso, mesmo para heróis em treinamento como Izuku, não seria possível prometer tal loucura, talvez agora entendesse o porquê de All Might não querer vir naquela casa... o adulto tirou alguns segundos para pensar em sua resposta, até que suspirou fundo e deu seu veredito.
“Eu... não posso prometer algo do tipo... seria loucura, a senhora deve imaginar, mesmo para uma escola cheia de heróis profissionais, o que a senhora me pediu é demais... no entanto... o que eu posso prometer é: nós vamos dar mais do que cem porcento de nós agora, nós iremos aprender com os nossos erros e trabalhar em cima deles, para a proteção dos alunos... se a senhora sequer cogitou em tirar o seu filho de nossa escola, eu peço particularmente para que reconsidere... por favor...”
A fala do professor deixou Izuku de queixo caído.
“O que você quer dizer com particularmente...” Perguntou Izuku.
“O seu senso de heroísmo e tendência ao auto-sacrifício são características invejáveis... hoje em dia é difícil achar alguém como você... e quando se acham, muitas pessoas acreditam que vocês são apenas inconsequentes ou suicidas, mas após ver e ouvir sobre tudo que você já fez Izuku Midoriya... não tem como eu não dizer que você vai ser um herói incrível... você já é um aluno incrível e, mesmo que não saiba, inspiração para vários alunos de sua turma...”
O professor agora havia se levantado da cadeira onde se sentava, de frente para os residentes da casa, e em seguida se curvou, para Inko.
“Então eu peço... não como professor, mas como futuro companheiro de profissão, senhora Inko Midoriya, confie seu filho aos meus cuidados e permita que eu o guie para que ele se torne o grande herói que eu vejo em seu futuro!” Disse num tom mais alto, surpreendendo os dois Midoriya’s na mesa.
“Você não devia se curvar para alguém pequena e sem importância como eu...” Disse a mulher com lágrimas nos olhos.
“Nunca diga que você não é importante só por levar uma vida simples... todos somos importantes dentro de nossas próprias vidas, nada me faz melhor que você só por ser um herói, se considerarmos as nossas vidas, a senhora que é verdadeiramente forte... criar um filho sozinha, vivendo tranquilamente nessa sociedade de hoje em dia... seu filho tem sorte de ter uma mãe como você...”
“Sim... eu tenho...” Disse Izuku.
“Izuku... eu... vou te confiar à Yuuei... mas eu quero que você também me prometa...”
“Eu prometo mãe! Não vou mais te preocupar!” Disse o garoto também com lágrimas nos olhos.
“(Parece que chorar é uma coisa de família... que coisa...)” Pensou o herói, deixando um leve sorriso aparecer em seu rosto. “Acho que eu acabei aqui... acabamos tomando mais tempo do que eu imaginava...”
“Acho que sim... mas ainda bem que tudo deu certo...” Disse Izuku, limpando as lágrimas. “Eu te acompanho sensei...” Continuou enquanto acompanhava o professor à saída.
“Agora eu só preciso saber quais alunos o All Might visitou enquanto eu estava aqui...” Disse suspirando enquanto esperava seu taxi.
“Então era o All Might que era pra ter vindo com você?” Disse Izuku tentando jogar conversa fora.
“Sim... mas eu não o culpo por não querer vir... eu soube sobre ele e sua mãe... deve estar sendo uma semana e tanto...”
“E como... eu ainda estou um pouco bravo com ele... mas é justificável ele esconder a sua identidade...”
“Se você está bravo... você nem deve imaginar como é sair se uma entrevista estressante apenas para saber que um grupo de alunos saiu para o resgate do aluno que havia sido sequestrado...” Disse num tom sarcástico.
“É... eu nem imagino...” Respondeu coçando a nuca. “Mas... sensei... o que você falou sobre mim...”
“Foi tudo verdade.”
“Até a parte de eu servir de inspiração para outros alunos?”
“Isso se encaixa em ‘tudo', é só começar a observar melhor as pessoas ao seu redor... oh, o meu taxi chegou.”
“Que conveniente...” Disse Izuku.
“Essas coisas acontecem...” Respondeu enquanto entrava no carro. “Te vejo na escola... tente ficar alguns dias fora de problema pelo menos...”
“Vou fazer o meu melhor...” Respondeu o garoto com uma risada. “Te vejo na escola!” Disse para o professor, que apenas acenou enquanto o carro partia.
“O Aizawa-sensei realmente confia em mim... acho que a partir de agora eu vou ter que corresponder às expectativas dele...” Disse para si mesmo, enquanto observava o veículo sumindo ao longe.
E tão rápido quanto chegou, o fim de semana se foi, e agora, os alunos estavam todos de frente para um prédio elegante, dentro do campus da Yuuei, não muito longe do edifício principal.
“Bem vindos, à Heights Alliance, a sua nova casa a partir de agora...” Dizia Aizawa no seu tom monótono de sempre. “Antes de qualquer coisa, eu queria deixar claro que se não fossem as circunstâncias atuais, eu já teria expulsado os cinco alunos que saíram para o resgate do Bakugo e os que sabiam do plano e não os impediram!” Continuou, agora sério.
“(E aquele papo de eu me tornar um futuro grande herói? Será que foi só pra convencer a minha mãe mesmo ou ele tá pagando de durão agora?)” Pensou Izuku.
“Saibam que vocês, que eu não vou citar os nomes porque sabem quem são, estão por um fio comigo... por isso, comecem a dar o seu Plus Ultra para ganharem de volta a minha confiança... agora deixando isso de lado, entrem e arrumem seus quartos, vocês têm esse dia de folga e, sobre os dormitórios, é o básico, lado oeste é o feminino e o leste o masculino, o primeiro andar é o andar comum, com banheiro e lavanderia...”
“Você disse...” Começou Mineta.
“Mas são separados por sexo... nem pense em nada inapropriado...”
“Entendido...” Respondeu o anão.
“Os quartos são do segundo andar em diante, tem um papel com os nomes e os quartos lá dentro, podem ir se arrumar agora...”
“Sensei!” Chamou Izuku.
“Diga...”
“O All Might tá na escola? Eu tenho que falar com ele!”
“Ah é... vocês ainda não conversaram... isso é inconveniente...” Disse o adulto, coçando o queixo. “Ele deve estar arrumando as coisas dele no dormitório dos professores, arrume o seu quarto e depois passe lá pra resolver seus ‘assuntos familiares'...”
“Certo!”
E com a deixa do professor, os alunos partiram para arrumar seus quartos, o que se provou ser uma tarefa cansativa.
“Ei, Midoriya, quer uma ajuda?” Dizia Iida, aparecendo na porta.
“Hã? Pode ser! Eu tinha mais coisas do que eu lembrava no meu quarto...” Disse coçando a nuca. “Deve ser bem o contrário de você, que já terminou...”
“Na verdade... em número de caixas, eu tinha bem mais... você tem que ver o tanto de óculos que eu tenho...”
“Eu nem imagino...” Disse Izuku, dando uma leve risada.
“Onde eu coloco isso?” Disse enquanto segurava uma katana embainhada. “Por que você sequer tem uma dessas?”
“Presente de natal!” Disse tranquilamente. “Um amigo meu de Tóquio me deu!”
“Entendi... que incomum...”
“Você conheceu ele se não me engano, no festival esportivo, o Yuuta, tem uma cara de quem não dorme... lembra?”
“Ah! Lembro! Enfim, onde eu coloco essa espada?”
“Hm... eu costumava deixar ela em um suporte em cima da minha cama, mas acho que tá cedo pra eu perfurar a parede desse quarto... pode deixar encostada atrás da porta por enquanto...”
“Certo!” Disse Iida enquanto deixava a arma no local desejado.
“Só falta mais uma caixa, se quiser pode descer pra área comum, ou ir ajudar outra pessoa... quando eu terminar eu tenho que conversar com o All Might...”
“Se você acha melhor assim, pode deixar! Se precisar de qualquer coisa é só chamar!” Disse antes de sair do quarto.
“Aham! Pode deixar...”
Izuku agora estava sozinho novamente, arrumando suas coisas, ele havia trocado sua roupa de cama do All Might em cima da hora, já que desde que descobriu a verdadeira identidade dele, somado ao relacionamento do herói com sua mãe, o garoto se sentia estranho dormindo em uma cama com cobertores do herói.
A solidão porém, não durou muito, já que logo sua porta foi aberta bruscamente por Katsuki.
“Aí! Nerd!” Gritava o loiro.
“Pois não?”
“Acho que isso é seu...” Disse enquanto entregava um par de óculos escuros.
“Oh! É o par que aquele maldito com fetiche de mãos tinha roubado!” Disse surpreso enquanto pegava os óculos da mão do colega. “Não precisava...”
“Eu sei... mas quando eu vi eles dando mole no balcão do bar daqueles desgraçados, eu lembrei de você falando de ter sido roubado... não me agradeça! Eu não fiz por você, eu fiz porque é certo...”
“Hã?” Disse erguendo a sobrancelha. “Como quiser... eu suponho que você não quer ajuda com o seu quarto, certo?”
“Só falta eu organizar minha coleção de shoujos...”
“Ah sim... você ainda lê Kaguya-sama?”
“Sim!” Respondeu antes de sair dali.
“(Eu nunca vou aceitar que ele só lê shoujos e comédias românticas...)” Pensava o esverdeado. “Quarto arrumado... acho que posso ir falar com o Toshinori... mas antes...”
O garoto então pegou um pequeno envelope em sua escrivaninha e se dirigiu ao quarto andar, mais precisamente para o quarto de Katsuki, e passou o envelope por baixo da porta, e saiu sem falar mais nada.
O garoto agora se dirigia ao dormitório dos professores, mas sem pressa, ele andava calmamente pelo campus, observando os detalhes, as inúmeras cerejeiras carregadas de folhas, os pequenos lagos, e é claro, os também inúmeros dormitórios.
Quanto mais o garoto andava, mais dormitórios pareciam aparecer de repente, ele já havia passado por uns cinco prédios e ainda via as placas mostrando que eram todos do primeiro ano.
Em alguns poucos casos, já tinham alguns alunos do lado de fora dos dormitórios, sentados em bancos sozinhos, ou conversando com um grupinho de amigos, quando finalmente estava chegando no dormitório dos professores, ele viu algo que o interessou.
Era o dormitório do terceiro ano, e tinha um trio de alunos do lado de fora, até aí tudo certo, mas o que chamou a atenção do garoto, foram os integrantes desse trio, pois eram basicamente um menino loiro e uma menina bonita de cabelos azuis, extremamente alegres e falando um monte e fazendo piadas, junto de um rapaz com cara séria e visivelmente desconfortável.
“Que curioso...” Pensava alto enquanto continuava seu caminho, sem perceber que o garoto loiro havia acenado para si, mesmo que não se conhecessem.
O garoto então, depois de alguns minutos de caminhada, finalmente chegou no dormitório dos professores, e de cara, percebeu ser bem maior que o dos alunos, o garoto tocou a campainha e foi atendido por Mic, é claro.
“HEY MIDORIYA BOY! COMO POSSO AJUDAR?” Gritava o loiro, pra nenhuma surpresa do garoto.
“Eu queria falar com o All Might... ele tá ocupado?” Dizia o garoto, tampando os ouvidos com os dedos.
“OH!!! ELE TÁ NO QUARTO DELE! VOCÊ VAI SABER QUAL É QUANDO PASSAR POR ELE, É NO TERCEIRO ANDAR!”
“Certo... valeu!”
O garoto então apenas seguiu as instruções vagas do professor e seguiu para o terceiro andar.
“(Ele disse que eu vou saber qual quarto é, o que ele quis dizer com...)”
Os pensamentos do garoto foram interrompidos quando ele entendeu o que o professor quis dizer, a porta do quarto de All Might tinha nada menos do que uma placa super chamativa, com a imagem do símbolo da paz, em uma pose sugestiva, exibindo os músculos.
“Imagina se esse cara fosse egocêntrico...” Disse de forma sarcástica antes de bater na porta.
“Já vou!” Gritou o loiro de dentro do quarto, dando um pulo para trás ao ver quem havia batido em sua porta. “J-jovem Midoriya! Em que posso ajudá-lo?”
“Olá All Might! Ou agora você atende por Toshinori? Temos muito o que conversar!” Disse com um sorriso assustador, enquanto fechava a porta atrás de si.
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