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História My Kind (Vercy) - Tentativas.


Escrita por: Semi-Harmonizer

Notas do Autor


EU VOLTEEEEEI EM TEMPO RECORD.
só pra desculpar pela demora do cap passado
então trouxe mais um
aproveitem
amo vcs
comentem
me digam o q acham

Capítulo 22 - Tentativas.


Pov Verônica.

Março, 1997.

Me mexi desconfortávelmente na cadeira da sala de espera do consultório. O Hospital Iglesias realizava tanto inseminação artificial como fertilização in vitro há alguns anos já. E, aqui estávamos nós. Eu e minha esposa. Na área ginecológica, maternidade e etc do hospital. Lucy apertava minha mão com certa força. Nós duas estávamos apreensivas.

— Estou nervosa — Lucy confirmou meus pensamentos em voz alta.

— É só a primeira consulta, amor — lembrei, tentando a confortar.

— Olha ao redor, Vê, só casais heterossexuais com problemas para engravidar — Lucy murmurou — E se a Dra não aceitar fazer o procedimento por sermos lésbicas?

— Meu bem, se fôssemos qualquer outro casal, poderíamos nos preocupar com isso — a respondi, despreocupada — Eu sou Verônica Iglesias, ninguém nesse hospital me diz não — dei ombros, vendo minha esposa rolar os olhos.

— Só não te xingo, porque seu nome pode ser muito útil — Lucy respondeu, me fazendo soltar uma risada baixa — Liguei para Amanda ontem — disse baixo.

Lucy havia ficado muito chateada pela mudança da sua irmã que aconteceu mês passado. O casamento no mês anterior havia sido incrível, mas a mudança, realmente abalou Lucy, principalmente porque uma semana antes, Larissa havia se mudado para a universidade, em outro estado.

— E então? — perguntei curiosa.

— Ela me disse que se eu não a ligar para estar aqui quando o bebê nascer, ela vem só para me matar — respondeu divertida, me causando uma risada — E, liguei para Larissa, as duas brigando para ver quem será a madrinha — completou, sorrindo largo.

— Assim vamos ter que ter gêmeos, para cada uma ser madrinha — brinquei, ouvindo s risada da minha esposa.

"Verônica Iglesias"

Meu nome foi chamado, obviamente porque eu marquei a consulta como se fosse apenas para mim, sabia que seria atendida mais rápida. E surpreendentemente, meu pai ainda não sabia sobre isso, e ninguém havia lhe contado que eu marquei uma consulta com a especialista em fertilização do hospital. Me levantei junto com Lucy, entrelaçando nossas mãos, caminhando até a sala. Dra Júlia Khelan nos olhou com um leve sorriso acolhedor enquanto nos sentavamos em frente sua mesa.

— Bom dia, Srta Iglesias — sorriu em minha direção antes de se virar para minha esposa — E Srta?

— Vives. Lucy Vives.

— Então, Iglesias, Vives, como posso ajudar vocês? — perguntou gentil, revezando o olhar entre nós duas.

— Queremos engravidar — Lucy respondeu por nós, sem soltar sua mão da sua.

O olhar da Dra Khelan foi tudo, menos surpreso, ela apenas sorriu em nossa direção, assentindo com animação. E sua reação, fez com que eu me sentisse maus confortável sentada ali.

— Bom, isso é ótimo — ela sorriu feliz — Porém, tenho que perguntar, como pergunto à todos casais. Vocês tem certeza disso?

Olhei para minha esposa, que tinha seus olhos castanhos em mim. O olhar brilhante por ansiedade e animação por tudo que iria acontecer.

Nós conversamos tanto durante esses três meses. Tendo certeza se era a hora certa para isso, se não estaríamos nos apressando. Mas então, decidimos oficialmente que era realmente isso que queríamos. Talvez estivéssemos apressadas, mas, funcionavamos assim.

— Sim, nós temos — respondi, tendo o olhar de aprovação de Lucy.

— Fico feliz de ouvir isso — Dra disse, com um sorriso genuíno — Então, querem fazer exames para ver quem está mais apta a engravidar ou já decidiram?

— Não vai precisar, Dra Khelan — Lucy respondeu, o largo sorriso no rosto — Vai ser eu.

Também discutimos muito isso. Eu nunca tive o interesse em ficar grávida, e sempre foi um sonho de Lucy. Então, a única discussão foi o fato que ela estava terminando sua residência agora, mas, segundo minha namorada, a residência terminaria em julho. Ela ainda teria poucos meses de gravidez se isso funcionasse. Então, sem problemas algum.

— Porém, serão os meus óvulos a serem fecundados — avisei, vendo só então o olhar surpreso da Dra — Queremos um filho nosso, e achamos que assim seria a melhor forma.

Não queríamos só um espermatozóide de um ser humano qualquer que fosse colocado em Lucy e apenas isso. Eu queria ter alguma participação, eu queria que essa criança fosse minha também. E Lucy teve os mesmos pensamentos que eu. S fertilização in vitro faria ser possível isso, retirarem meus óvulos, os fecundarem, para então serem colocados já fecundados em Lucy.

— Isso é lindo, posso notar quanto de amam — Dra Khelan disse, nos fazendo a olhar até meio surpresas.

Era raro contarmos sobre nosso relacionamento à pessoas que não eram nossos amigos, e, normalmente, não tínhamos boas reações, então, ter alguém, que nos admirava ou falava sobre como nosso amor era lindo, era revigorante.

Talvez o mundo pudesse mudar um pouco no fim das contas.

— Certo, mesmo assim, as duas terão que ser submetidas à exames, Verônica para vermos se seus óvulos podem ser colhidos, e Lucy, para sabermos se está saudável para ter uma gravidez tranquila — Dra disse, revezando o olhar entre nós, antes de olhar para os papéis em suas mãos, começando a anotar, antes de olhar para mim — Ok Verônica, primeiro é com você, é necessário injeções de hormônios horas antes do procedimento, e horários rigorosos e comprimidos e mais hormônios injetados, para que seus óvulos sejam retirados e estejam prontos para uma fecundação — Dra me informou e eu assenti concentrada, querendo que isso funcionasse — E então, só depois, preparemos Lucy para a receber esses óvulos.  Tudo bem?

— Claro — assenti rápido, sem conter minha ansiedade, o que fez Lucy sorrir carinhosa em minha direção.

— Nós temos muitas chances de sucesso, vocês são jovens e saudáveis, porém, se preparem para qualquer resultado — Dra Júlia orientou.

Mas nossa animação era demais para nos preocuparmos com qualquer coisa.

[...]

Abril, 1997.

— E então? Como está? — perguntei à Lucy, segurando sua mão, me apoiando na maca onde ela estava.

— É uma posição desconfortável — ela reclamou, me fazendo soltar uma risada — Sempre odiei exames ginecológicos.

— Hoje não é um exame — lembrei, com um sorriso de lado — Hoje é o dia que nosso filho vai entrar aí dentro — olhei para sua barriga, mesmo sabendo que nada estava ali.

— Estou ansiosa — admitiu, me fazendo voltar meu olhar para ela — Vamos ser mães.

— Você será a melhor mãe do mundo — juntei nossas testas, vendo seu sorriso em minha direção, aquele sorriso leve, apaixonado.

Eu amava aquilo.

— E, nós vamos dar todo amor à essa criança — completei, me afastando para a encarar melhor — Pra quando ela aprender a falar, ela dizer que somos as melhores mães do mundo — sorri largo, vendo minha esposa soltar uma risada baixa.

Fomos interrompidas quando a Dra entrou na sala, o procedimento era simples e por essa razão, poderia a permanência de um acompanhante. Lucy segurou minha mão mais forte, a anestesia não era geral, como foi a minha para a retirada dos óvulos no começo da semana, e a Dra disse que Lucy não sentiria nada enquanto injetavam os óvulos fecundados no colo do seu útero. Literalmente nosso filho sendo colocado ali.

Quando a Dra se afastou, sorri para minha esposa, quase rasgando minha cara, vendo seus olhos brilharem.

— Hey futura mamãe — brinquei, ouvindo o som baixo da sua voz.

(...)

Andei impaciente de um lado para o outro, encarando a porta do banheiro ansiosa. Respirei fundo mais uma vez, ajeitando a camisa xadrez que estava amarrada em minha cintura e olhando mais uma vez para a porta fechada.

— Lu? Abre a porta, amor — pedi, pela terceira vez e surpreendentemente, Lucy abriu. 
Encarei seu rosto apreensiva, mas ela apenas me puxou para dentro do banheiro. Três testes de gravidez em cima da bancada da pia, um do lado do outro.

— Eu não consigo ver! — minha esposa exclamou, apreensiva.

— Ei — toquei seu rosto carinhosamente, a fazendo olhar em minha direção — Se acalme ok? Vai estar positivo, nosso sonho vai estar realizado e vamos cuidar dessa gravidez para ter um filho lindo.

— E se for negativo? — Sua voz soou preocupada, mas eu apenas sorri.

— Vai ser positivo — prometi — Vamos olhar juntas.

Minha esposa concordou, abraçando minha cintura, nos aproximando juntas para olharmos.

O arrependimento atingiu meu corpo assim que encarei os três testes. Meus olhos incrédulos, logo se voltaram para Lucy, que se afastava devagar após ver o mesmo que eu.

Negativo.

Negativo.

Negativo.

— Lu? — chamei, a vendo erguer os olhos em minha direção.

Olhos marejados, as lágrimas começando a escorrer. Ela não me deu tempo, apenas saiu do banheiro, quase correndo de volta até o quarto. Encarei os testes mais uma vez, só para ter certeza, sentindo uma onda de fúria dentro de mim, peguei os testes, os tacando o mais longe que pude, os vendo bater na parede, caindo no chão molhado dentro do box. Encarei o teto, sentindo as lágrimas querendo descer, mas respirei fundo, saindo dali para ir atrás da minha esposa.

Lucy estava chorando, baixo, deitada na cama, seu corpo tremendo pelo choro. Meu peito se apertou.

Ela não estava grávida.

Não seríamos mães.

Havia dado errado.

As lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos também, mas mesmo assim, deitei na cama, atrás da minha esposa, meu braço abraçando sua cintura, a trazendo para mais perto, aproximando meu rosto de sua nuca, deixando um pequeno beijo ali, antes de me aproximar do seu ouvido.

— Está tudo bem, Lu — sussurrei, apertando seu corpo mais ainda, entendendo como aquilo estava doendo nela — Podemos tentar de novo daqui um tempo, ainda seremos mães — lembrei, a sentindo parar de tremer mas continuar a chorar e baixo — Vamos voltar à Dra Khelan, e ela vai nos orientar, ainda seremos mães — garanti, ouvindo seu choro diminuir — Mas até lá, eu estou aqui com você, estamos juntas — prometi, beijando sus bochecha.

Minha esposa não me respondeu, mas entrelaçou sua mão à minha que estava em sua barriga. Suspirei entre seus cabelos, ficando naquela mesma posição.

Foi apenas uma tentativa má sucedida. Iríamos superar.

[...]

Maio, 1997.

— Tem certeza que está bem, Vê? — Érica perguntou, se sentando ao meu lado no intervalo da faculdade.

— Não sei — admiti, cruzando meus braços, me escorando no tronco da árvore que eu estava sentada embaixo no campus.

— Lucy e bebê? — questionou, já sabendo o que atormentava minha mente desde o mês passado — Vero, sei que isso é muito importante e está te deixando chateada e preocupada, mas estamos terminando a faculdade, falta apenas menos de dois meses, tem noção?

— Eu sei disso, Érica, mas, simplesmente não consigo me animar — respondi, dando ombros — Faço 25 anos em duas semanas, e pela primeira vez eu nem consigo pensar em uma festa grande e extravagante, o único presente que queria era minha esposa grávida.

— Vocês vão conseguir, Vê, só precisam ter mais calma — aconselhou, e eu soltei um suspiro.

— Não é isso, andamos brigando esses dias — admiti, encarando o imenso campus à minha frente — E ainda tem meu pai, sabe que o primeiro procedimento foi feito praticamente de graça, quer dizer, totalmente de graça porque sou quem sou. Mas, papai não quer arcar com mais um procedimento, ele não autorizou.

— O quê? Mas achei que ele estivesse melhor, aceitando seu casamento — Érica disse surpresa, e eu sorri sem humor.

— Ele tolera, aceita que eu saía com Shane e que ele tenha contato com Lucy, a trata educadamente, mas, nem chamá-la de "minha esposa" ele consegue, ele se refere à ela como "amiguinha de Verônica" — expliquei, rolando meus olhos, esticando as pernas — Eu sei que é melhor do que brigas judiciais e Lucy desempregada, mas, mesmo assim, ainda é ruim — desabafei, sorrindo de leve ao sentir Érica me abraçando desajeitadamente.

— Fala com ele hoje, ele sempre diz que assim que se formar, o seu emprego vira oficial, com um salário correto e você vira sócia e participa ativamente de tudo, não é? — Érica perguntou e eu apenas assenti, confusa de onde ela queria chegar — Pede um 'adiantamento', e paga o procedimento.

— Você é um gênio! — exclamei animada, já me levantando.

— Mas agora? E a faculdade?

— As minhas aulas de hoje acabaram, você só tem porque teve notas péssimas — lembrei, rindo, me despedindo e saindo dali.

Praticamente corri até meu carro no estacionamento, dirigindo o mais depressa possível até o hospital. Cumprimentei algumas pessoas enquanto entrava e subia até a sala do meu pai. Sorri educadamente para sua secretária, antes de entrar na sala.

— Verônica? Mas que surpresa boa — papai disse sorrindo, com o olhar surpresa, se recostando na cadeira.

— Não sei se ainda vai achar boa — sorri sarcástica, me apoiando na mesa para o encarar — Por que não autoriza o procedimento para eu e minha esposa termos um filho?

O sorriso sumiu automaticamente de seu rosto, e eu quase sorri enquanto me afastava, e me sentava confortavelmente em frente sua mesa. Ele bufou, juntando as mãos as apoiando na mesa.

— Por que eu deveria autorizar, fazendo o hospital gastar mais 3 mil dólares, se o primeiro deu errado? — Ele questionou, me encarando friamente.

— E se soubesse como isso foi doloroso para Lucy e eu, não falaria tão friamente assim — respondi, séria, o vendo desviar o olhar — Eu quero uma família, não vou desistir, então, não seria mais simples apenas autorizar?

— Verônica, você nem trabalha oficialmente aqui, não irei autorizar — retrucou, começando a se irritar.

— Eu vou fazer isso, você querendo ou não. Aceite logo que eu estou criando minha família e que sim, é com uma mulher! — exclamei, deixando minha frustração vir à tona 
— Eu já faço demais deixando aquela mulher trabalhar aqui! — Ele respondeu, se levantando da onde estava.

— Então isso é um não? — perguntei, mantendo a calma e permanecendo sentada.

— Exato.

— Certo. Então, quero um adiantamento da minha herança — respondi o mais calma que pude, o vendo arregalar os olhos em minha direção.

— O quê? Verônica, não permitirei isso — Ele respondeu, ainda mais irritado, mas não me deixei abalar.

— Pelo amor de Deus, pai, eu não irei usar tudo, só quero os 3 mil para o procedimento e mais o necessário para as dispensas médicas da gravidez — expliquei, cruzando as pernas, o encarando sem me estressar.

— Mas Verônica, isso é...

— Ah pai, já chega — me estressei, rolando os olhos e me levantando também — Eu vou fazer o procedimento com Lucy, e dessa vez vai dar certo, então aceite de uma vez. Ela é minha esposa e futura mãe dos meus filhos, então, ou autoriza o procedimento, ou me dá o meu dinheiro.

Ele me encarou o mais profundamente que conseguiu, mas acho que em algum momento percebeu que era uma batalha perdida, por isso suspirou, se sentando na sua cadeira.

— Marque logo a consulta com a Dra, antes que eu mude de idéia — resmungou e eu sorri vitoriosa, já me preparando para sair da sala.

— Obrigada, pai — murmurei, e acho que quase vi um sorriso em seu rosto.

Desci até o andar da pediatria, saindo do elevador com o maior sorriso que você poderia encontrar. Cumprimentei algumas pessoas, procurando minha esposa de sala em sala, até a encontrar orientando um residente do primeiro ano a realizar alguns exames rápidos em duas crianças.

— Verônica? Hey — me cumprimentou um pouco surpresa.

— Iglesias? Verônica Iglesias? — o residente questionou, acabando por derrubar a bandeija com instrumentos — Ah meu deus, por favor, não conte ao seu pai! Eu só...

— Roger, cala a boca e pega logo isso — Lucy resmungou, e eu não evitei a risada, assim como as crianças que estavam ali.

— Mas ela, quer dizer ela...

— É, é, é filha do Dr Iglesias, dono daqui — me olhou com um leve sorriso, antes de rolar os olhos na direção dele — Grande coisa.

— Assim você me deixa mal, Lu — reclamei, a vendo soltar uma risada antes de começar a me empurrar para fora.

— Prepare as coisas e me espere Dr Smith — pediu, agora usando aquele tom profissional que eu achava absurdamente sexy — E, Hoodie, Anne, eu já volto ok? Tentem ser bonzinhos com o Dr Smith, tá?

Soltei um riso quando as crianças fizeram caretas para o Dr, o fazendo quase derrubar os instrumentos novamente.

— Ok, eu não lembro de ser tão desastrada como ele — Lucy comentou rindo quando já estávamos fora da sala.

— Só diz isso porque está no seu último ano — lembrei, a vendo dar ombros.

— Mas então, o que foi? Tá tudo bem? Por que não está na faculdade?? — perguntou, o tom levemente preocupado, me analisando de cima a baixo para ver se eu estava machucada.

— Se acalme, Lu, eu não tive as últimas aulas — expliquei, vendo seu rosto se aliviar — Então, vim aqui falar com meu pai.

— Sobre?

— Bem, sobre, você sabe o que, Lu — sussurrei, olhando rapidamente ao redor.

Ninguém do hospital (exceto Dra Bailey e os amigos de Lucy), sabia sobre nosso relacionamento, e queríamos continuar assim por um período, pelo menos até minha esposa ser contratada oficialmente como médica clínica pediatra, quando acabasse sua residência. Sabíamos que um relacionamento dentro do ambiente de trabalho não era bem visto pelo hospital, e um relacionamento homoafetivo era ainda mais 'errado'. Bom, pelo menos ainda, não era uma boa época para nos assumirmos em público para todos.

Minha esposa franziu o cenho, me empurrando até um consultório vazio, cruzando os braços ao me encarar.

— Por que foi falar com seu pai sobre isso? — exclamou, o tom de irritado me fazendo franzir o cenho.

— Porque como funcionária daqui, nós duas podemos nos tratar aqui para qualquer coisa, o nosso seguro cobre praticamente tudo e o que não cobre, como filha e herdeira desse hospital, meu pai cobre — lembrei, como se fosse óbvio, a vendo respirar fundo para se acalmar.

— Mas é seu pai, Verônica! Você sabe o que ele pensa de nós duas — Lucy disse, começando a passar a mão pelos cabelos, nervosa.

— Bom, prepare a cara de surpresa então, porque ele autorizou — informei, a vendo me olhar realmente surpresa — Eu esperava um pouco mais de animação.

— É que, eu — suspirou, negando com a cabeça — Você foi falar com James, e nem ao menos me avisou! — Sua voz soou chateada me fazendo franzir o cenho.

— E o que tem isso? — perguntei confusa, a vendo cruzar os braços.

— Nós não falamos sobre isso há semanas, você não me perguntou ser ainda quero ser mãe.

A encarei incrédula. Esse sempre foi o sonho da Lucy, ela sempre quis der mãe, era àquele tipo de mulher que sempre quis ter a sensação de ter um filho em seu ventre. O contrário de mim que nunca quis isso, ter um serzinho no meu útero não me parecia muito atraente, mas para Lucy, isso era lindo. Por isso, não evitei o choque com suas palavras.

— O quê? — perguntei só para ter certeza que ouvi direito. 

— Você não me perguntou se ainda quero ser mãe —  ela repetiu, me deixando ainda mais incrédula do que na primeira vez. 

  — Você quer? — perguntei, a encarando, tentando ver algum sinal de que ela me daria a resposta que eu queria ouvir, mas minha esposa se virou de costas de mim.

—  Eu não sei — confessou, soltando um longo suspiro — Eu não quero ter a decepção novamente, ou ir à Dra e descobrir que a gravidez não funcionou porque eu não tenho chances alguma de ficar grávida. 

— Lu — suspirei, me aproximando, a puxando pela cintura, a abraçando, apoiando meu queixo em seu ombro — Nunca saberemos o que deu errado se não voltarmos. E, não podemos desistir, não agora pelo menos.

— Bom, você diz isso porque não é quem vai ter óvulos já fecundados, já prontos em você e descobrir que eles simplesmente não quiseram ficar lá e se formarem! —  Lucy exclamou, se afastando, andando para longe de mim — Eu sou médica, Lucy, e sei que esse tipo de procedimento, essa fertilização tem praticamente chances nulas de dar errado, e o nosso deu, sabe todas as possibilidades para isso?

  — Não, não sei, e sinceramente, não quero saber — respondi curta e grossa a vendo me encarar irritada —  E preferia que você não soubesse, então, por favor, pense apenas com o coração e não com sua mente, Lu. Esquece todas essas coisas científicas, e tenha esperança — pedi, me aproximando novamente, sorrindo quando ela permitiu, me deixando tocar em seu rosto — Eu ainda quero aumentar nossa família.

— Eu também — admitiu, entre um suspiro, me abraçando — Mas eu não sei se aguento mais uma decepção.

— Eu vou estar lá com você, aconteça o que acontecer — prometi, beijando sua testa com carinho, a apertando em meus braços — Eu vou estar contigo — repeti, a vendo assentir quase imperceptivelmente, sorri, sem a soltar em momento algum.

[...]

Junho, 1997.

Segurei com força a mão da minha esposa, tentando passar confiança à ela, enquanto Dra Khelan lia alguns exames, nossos exames. Olhei para Lucy, a lembrando que estávamos ali.

— Ok, nós sabemos o motivo pelo qual a gravidez não aconteceu — Dra disse, e nós a olhamos com expectativa — Não foi nada com os óvulos de Verônica ou com seu útero, Lucy — nos tranquilizou, nos fazendo suspirar aliviadas — Na verdade, foi com o espermatozoide do doador — nos informou e eu não evitei de rolar meus olhos.

Somos um casal de mulheres, e biologicamente não podemos reproduzir, precisamos de um doador masculino. E nem para isso o homem foi capaz? Ah faça me o favor. 

— Porém, já descartamos esse doador, então, vocês terão que escolher outro, pelas características físicas, certo? — nos lembrou e eu me limitei a assentir — E, novamente, mais uma bateria de exames para as duas, vocês já sabem como funciona, e agora, eu realmente estou animada, tenho quase certeza que dessa vez irá funcionar.

— Eu espero que sim — Lucy sussurrou, apertando minha mão gentilmente e me olhando com esperança.

Saímos do consultório já com fichas de doadores nas mãos, e enquanto eu dirigia, já estava ouvindo Lucy comentar.

— Hm, esse aqui é alto, muito alto, cabelos escuros e olhos verdes, parece bonito, mas, nunca se sabe, não há fotos né  — Lucy disse, folhando as fichas, e eu batuquei os dedos no volante.

— Nossa filha será mais alta que nós e de olhos claros quando os nossos são castanhos? — perguntei, olhando rapidamente para Lucy com um sorriso irônico, a vendo rolar os olhos.

— Esse aqui é loiro e...

— Lu, seu cabelo é castanho claro, e no sol até parece loiro, mas sério? Uma filha toda loirinha, nada a ver conosco?

— Que tal, olha, esse aqui diz que é matemático, ela seria inteligente.

— Características físicas?

— Nasceu no japão, tem...

— Sério, Lúcia? Um filho descendente de japoneses?  Olha bem pra gente!

— Aí como você é exigente — Lucy reclamou, bufando e eu não evitei a risada alta — Tá, aqui, latino, 1, 72. Olhos castanhos, cabelos castanhos, E, segundo a ficha, não é tão malhado, mas é saudável.

— Latino? — questionou, um pouco indecisa a vendo me encarar incrédula.

— Tenho que te lembrar que meu pai era colombiano? — Lucy devolveu, quase como um desafio, quase querendo que eu reclamasse — E, amor, olha seu sobrenome, seus avós eram latinos, não eram? Nosso filho teriam nossas características.

— Faz sentido — ponderei por alguns segundos, parando em um semáforo e olhando com um sorriso para minha esposa — Latino então!

— Ótimo, podemos fazer os procedimento talvez daqui há algumas semanas  — ela declarou animada e eu sorri, entrelaçando nossas mãos, o que a fez me encarar.

— Eu te amo, sabe disso né? — declarei, a vendo me olhar com um leve sorriso.

— Sei — sussurrou, me inclinando para me beijar — E eu também de amo. 

[...]    

 Julho, 1997.

A beca estava realmente me incomodando, ainda mais no verão de Miami. Eu estava morrendo dentro daquilo. E a animação de Érica e Addison ao meu lado já estavam me irritando.

— Desfaz essa cara — Addison praticamente mandou e eu sorri sem vontade alguma, o que a fez rolar os olhos.

— Nós nos formamos! Poderia ficar mais contente, Verônica?  — Érica repreendeu, quase indignada.

— Eu estou feliz que finalmente acabamos isso tudo, mas lembrar que na segunda eu já começo s trabalhar, me entristece — reclamei, vendo as duas rolarem os olhos em sincronia.

— Amor?

Ouvi a voz doce e baixa da minha esposa, a sentindo me abraçar a cintura, e automaticamente sorri, dessa vez involuntariamente, a sensação plena de felicidade que sempre me atingia quando estava com ela.

— Agora ela fica feliz — ouvi uma das meninas resmungarem, mas apenas soltei um riso baixo.

— Me viu gritando quando você pegou seu diploma? — perguntou, saindo de trás para parar na minha frente, o sorriso largo e orgulhoso.

— Vi você e meu irmão praticamente fazendo um carnaval — respondi, rindo ao lembrar da cena.

— Acho que coloquei mais algo na lista pro seu pai me odiar, porque o jeito que ele me olhou, dessa vez fiquei com medo — Lucy disse, mas o tom em sua voz me fazia que era apenas uma brincadeira — E, de novo, parabéns, estou orgulhosa de você.

E mesmo que tudo que eu quisesse fosse um beijo, Lucy me puxou para um abraço apertado, e só se afastou quando ouvimos o grito animado do meu irmão caçula.

— Vero! Você se formou! — Ele disse animado, correndo e me abraçando.

Franzi o cenho para o quão grande ele estava, ele havia feito 10 anos no começo do ano, e esticado um pouco, fiz uma careta, eu gostava dele pequeno.

— Há, eu disse que me formava antes de você conseguir andar de bicicleta — provoquei, o segurando com um braço para bagunçar seus cabelos.

— Deixe seu irmão em paz, Verônica — a voz grossa do meu pai se fez presente.

Soltei Shane, ainda rindo, o vendo ajeitar a camisa que vestia enquanto nosso pai se aproximava, felizmente, sem minha madrasta. Papai sorriu, quase orgulhoso em minha direção e me abraçou apertado, sorri, encarando minha esposa por cima do ombro do meu pai, a vendo com um leve sorriso observando a cena. Meu pai se afastou, me encarando com os olhos felizes, o que eu não via há muito tempo - desde que nasci - quando olhava pra mim.

— Finalmente, poderá seguir junto comigo no Hospital, trabalhando juntos, até que tudo fique em suas mãos — Ele disse, esperançoso, quase ansioso.

— Esse é o plano — dei ombros, divertida, vendo que a única a rir foi Lucy, e mesmo com o olhar do meu pai, ela continuou a rir.

Por isso eu amava ela.

Após mais parabenizações, meu pai levou Shane para casa, Érica e Addison foram para alguma festa, enquanto eu e Lucy voltávamos para nosso apartamento. O caminho foi divertido, minha esposa estava animada, e até meio ansiosa, o que me deixou confusa.

— Ah, eu tenho um presente para você — Lucy declarou, enquanto eu já me aproximava e a puxava para mim.

— Que tal me dar um presente apenas na cama? — sugeri, abraçando sua cintura, já me inclinando para beijar seu pescoço.

— Hm, isso parece tentador — suspirou, envolvendo meu pescoço com as mãos — Eu juro que te dou o que quiser, mas só depois de abrir seu presente.

Ergui minha sobrancelha pelo duplo sentido de sua frase, sorrindo maliciosamente.

— Gostei disso — admiti, me afastando, ouvindo sua risada.

Lucy me puxou até nosso quarto, me fazendo me sentar na cama, antes de ir até o closet, voltando minutos depois.

— Espero que goste — ela disse, quase ansiosa e eu sorri pegando o embrulho de suas mãos.

— Vou gostar de tudo que vier de você — falei, docemente, a vendo sorrir bobamente em minha direção.

Porém, tive que segurar a decepção no olhar ao abrir e ver que era uma camiseta. Quer dizer, eu adorava camisetas, mas, bem, não costumávamos dar camisas, porque, oras, porque sempre foi um presente meia boca. Quer dizer, preferia ir junto com ela e fazermos compras.

— Wow, isso é, hm incrível amor! Obrigada — sorri o máximo que conseguia, vendo a camiseta preta dentro da caixa, ouvindo um riso baixo de Lucy.

— Veja a estampa, amor — orientou, praticamente sabendo o que pensei, soltei um suspiro.

Puxei a camisa para cima, vendo que a estampa era apenas uma frase em letras cursivas e em branco.

"Melhor mamãe do mundo"

Encarei a estampa confusa, virando para Lucy e quase rindo.

— Acho que pegou a errada, amor — brinquei, rindo de verdade.

Mas minha esposa apenas rolou os olhos, e ergueu a sobrancelha.

— Está certa. Lê de novo, Verônica — pediu, impaciente.

Rolei os olhos, encarando a camisa mais uma vez.

"Melhor mamãe do mundo."

Mas eu não sou mãe, como é...

Espera.

Encarei minha esposa novamente, os olhos arregalados, e ouvi sua risada alta.

— Deu certo!? — perguntei, praticamente pulando na cama para me aproximar dela.

Lucy não respondeu, apenas me mostrou três testes.

Positivo.

Positivo

Positivo.

— Meu Deus! Deu certo Lucy! — gritei, a puxando para um abraço, me levantando com ela em meus braços.

— Verônica! — ela gritou me fazendo a colocar no chão.

— Vamos ser mães, meu bem! — exclamei, sem conter a animação, a vendo sorrir largo.

— Vamos, Vê, vamos — respondeu, os olhos quase lacrimejando.

— Vamos ter uma família — sussurrei, encostando nossas testas, segurando em sua cintura.

— Na verdade, já somos uma família, e agora, estamos aumentando ela — Lucy me corrigiu — E, eu te amo Verônica, tanto tanto, que mal cabe em mim explicar a sensação de estar grávida de um filho seu.

— Eu que não posso te agradecer o suficiente por fazer isso, por mim, por nós — respondi, emocionada, apaixonada — Eu amo você — lhe dei um leve selinho em seus lábios.

E me abaixei, me ajoelhando em sua frente, levantando sua camisa delicadamente, e encostando minha testa ali.

— Ei você aí, você nem está formado ainda, e eu já te amo, incondicionalmente — sussurrei, deixando um beijo casto em sua barriga.

Ergui meu olhar, vendo os castanhos de minha esposa derramando lágrimas, sua mão tocou meu rosto, acariciando levemente e eu sorri, beijando a palma de sua mão. Lucy se abaixou, para me beijar os lábios com delicadeza e amor.

Enquanto ela me beijava e me empurrava contra o chão, e eu segurava em sua cintura, não podia deixar de pensar, que, tudo, tudo de bom que acontecia em minha vida, era graças à Lucy. Desde que a conheci, ela me fez enxergar o mundo de forma diferente.

Eu quis ser mãe, quis ter uma família somente depois de a conhecer. E agora, ela estava me dando isso.    


Notas Finais




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