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História .my little squirrel season 2 ; minsung EM REVISÃO - Chapter 28 - My Universe


Escrita por: chanisteles

Notas do Autor


Attention: Woojin POV

Capítulo 29 - Chapter 28 - My Universe


Fanfic / Fanfiction .my little squirrel season 2 ; minsung EM REVISÃO - Chapter 28 - My Universe

Observei distraidamente Felix dar um abraço apertado em Changbin, que colocava uma nova fornalha de biscoitos na vitrine do outro lado do balcão da confeitaria, após ter pedido licença para ir ao banheiro há alguns minutos. Cutuquei com o garfo o resto de uma torta nova de maçã com canela que o mais baixo estava testando, me sentindo levemente enjoado. Não pelo sabor; Changbin não conseguia errar quando o assunto era doce, mesmo se ele quisesse, mas era difícil ter que comer cinco pedaços de torta diferentes, sem nem contar os biscoitos açucarados. Ainda por cima, eu estava sonolento por ter ido dormir tarde após o aniversário das gêmeas, e de toda a confusão com Jackson e Minho, o que me fez ficar rindo junto do casal por mais algumas horas antes de ir para o meu colchão na sala de estar. Era impressionante como tanta bagunça acontecia na nossa vida, e como tudo vinha de uma vez no mesmo dia, num turbilhão de brigas, risadas e lágrimas.

Felix sentou-se de novo ao meu lado com um sorriso simpático, e eu dei meu melhor para retribuir na mesma intensidade. Pensei em como o ruivo era o tipo de pessoa que você não conseguiria ver de cara fechada; sempre entusiasmado com tudo o que fazia, nunca deixando nenhum trabalho pesado ou adversidade permitir que abalasse o seu humor sempre alegre. Eu me esforçava muito para pensar como ele, mas nos últimos meses era complicado passar um dia inteiro sem ficar para baixo, seja por algo que eu tenha feito, dito ou até mesmo pensado. O que era como uma rocha densa sendo atirada contra mim toda vez que eu me pegava naquela situação, já que eu nunca havia sido assim, tão negativo e pessimista. Respirei fundo, vendo o mais novo pegar a sua prancheta e caneta em cima da mesa e anotar o nome da última torta no fim da sua folha. Ele havia recebido a missão de anotar tudo o que eu dizia em relação aos doces, formando um formulário que serviria para eleger as novas guloseimas que entrariam no cardápio do próximo semestre.

- Então, Hyung. Numa escala de um a dez, quanto você daria para essa torta? – Ele perguntou, e eu olhei para cima enquanto formulava uma resposta, já tendo ouvido aquela pergunta pelo menos umas dez vezes somente naquele início da manhã.

- 9.7, acho.

- Bem, esse foi bem mais baixo. – Ele anotou rapidamente, agindo como um verdadeiro pesquisador. – Na últimas três você deu nota 10, e alguns 9.9.

- Peça desculpas ao chefe por mim. – Respondi com um sorriso humorado, colocando o prato de lado. – Estava uma delícia, igual as outras, mas acho que alimentar um só cliente com doces a manhã inteira pode não ser uma boa forma de receber feedback.

- Acho que tem razão. Bem que eu disse pra ele que você poderia até ter diabetes!

- Não se preocupe comigo. O máximo que pode acontecer comigo é um leve desmaio. – Dei um tapinha leve em seu ombro, o tranquilizando ao mesmo tempo que o fazia rir. Seungmin apareceu bem naquele momento, trazendo consigo uma bandeja para recolher a quantidade anormal de pratos e talheres que amontoavam a mesa no canto do estabelecimento, com vista para a rua.

- Então, como está a pesquisa de campo? – Ele perguntou com um sorriso, ajeitando tudo rapidamente em cima da bandeja e se sentando ao nosso lado.

- Bem, eu acho. Se usarmos esse formulário, talvez quase todos os doces entrem. – Felix comentou, olhando distraidamente para a prancheta. Seungmin respirou fundo, ajeitando sua boina terracota, parte do seu uniforme.

- Lá vou eu ter que decorar todos os ingredientes, preços e lidar com mais clientes perguntando qual é o sabor.

- Changbin te faz decorar os ingredientes dos doces? – Perguntei, levantando uma sobrancelha, ao passo que o avermelhado concordou com os olhos arregalados, também incrédulo.

- Acredite, existem mais de dez tipos de farinha por aí e ele usa pelo menos metade nas receitas! – Ele comentou, o que me fez ficar realmente impressionado. Seungmin continuou contando suas penosas obrigações no trabalho, e lentamente eu fui parando de ouvir com total atenção, passando a divagar enquanto olhava pela janela. Pensei que queria ir para casa, brincar com Kevin e passear em algum parque, mas, ao mesmo tempo, apenas o pensamento daquilo me fazia sentir um vazio dentro do peito; algo me faltava. Era ainda pior quando eu admitia que algo estava perdido, pois eu imediatamente me lembrava dos meus amigos, e como eles fizeram de tudo para tentar preencher esse espaço durante aquelas muitas semanas. Era um ciclo de pensamento que me rondava como um bando de abutres, tão traiçoeiros quanto, esperando uma brecha para me fazer cair novamente naquele buraco escuro.

Voltei ao momento quando Felix me deu uma cutucada no ombro, me fazendo perceber que eu estava olhando para a janela com um olhar mais vidrado do que o normal.

- Terra para Kim Woojin. – Ele chamou com o cenho franzido. Olhei para ele meio confuso, mas com um sorriso. A discrepância entre o que eu pensava e como eu agia era tão grande que chegava até a ser engraçado. – Você está bem, Hyung?

Olhei para Seungmin, que também parecia confuso. Me estiquei na cadeira, olhando para o relógio na parede da confeitaria. Os ponteiros apontavam para um cupcake e um pedaço de torta, o que deveria dizer que já seriam mais de 11 horas. Afastei a cadeira, pegando uma mochila na cadeira do lado.

- Sim, só estava divagando um pouco. Acho que eu já tenho que ir, por falar nisso.

- Mas está tão cedo... – Seungmin fez um bico, e Felix concordou freneticamente. Apontei para o relógio.

- O cupcake diz que não. Eu adoraria ficar mais um pouco, mas Kevin já deve estar preocupado comigo e ele diz que gosta de almoçar junto. – Me expliquei, levantando-me da cadeira. O que eu disse não era mentira, mas eu omitia outras coisas, as quais precisava fazer com privacidade. Uma delas incluía comprar as malditas passagens para São Francisco Sem muita escolha, os dois tristonhos fizeram o mesmo e me deram um abraço de despedida. – Nos falamos mais tarde, tudo bem? Diga a Changbin que os doces estavam deliciosos mesmo.

- Ok... até mais tarde. – Felix e Seungmin disseram, acenando para mim enquanto eu saía pelas portas de vidro até a rua. O sol já estava quase no alto, e o calor iminente fez meu estômago revirar um pouco. Olhei para eles uma última vez e eu apenas consegui enxergar Seungmin em seu posto atrás do balcão, com um olhar meio ansioso; Felix havia voltado para dentro da cozinha. Respirei fundo, me sentindo mal por ter saído tão de repente e não ter prestado tanta atenção na conversa, mas não havia muito que eu podia fazer àquela altura, a não ser começar a andar até o ponto de ônibus mais próximo.

A viagem de volta foi silenciosa, e eu não fiz muito a não ser olhar pela janela ou desbloquear meu celular diversas vezes, só para desligá-lo novamente. Eu sabia que esperava algo, uma mensagem, uma ligação, ou qualquer outra coisa que me distraísse. Aquele sentimento ansioso ficava ali à espreita, apenas esperando o momento para me fazer olhar a tela com rapidez, mas logo depois me fazer afundar no assento, prometendo a mim mesmo que não olharia na próxima vez. O que será que Chan estaria fazendo? Era o que eu me perguntava sempre após desligar a tela. Já se fazia semanas desde a nossa última troca de mensagens, a última vez que eu me senti, de fato, quase completo. Eu conversava com ele durante a madrugada, quando em São Francisco ainda era de tarde. Ele nunca falava sobre si, a não ser “estou bem”, coisa que eu não acreditava nem de longe. Mas só de me comunicar com ele, de saber que ele estava mantendo contato depois de tanto tempo, que se preocupava... dormir era uma segunda prioridade todas as noites. Mas então ele parou novamente, e tudo pareceu voltar à estaca zero. Ele tomava quase todos os meus pensamentos, e minha imaginação vagava sobre ele, pensando no que ele estaria fazendo: trancado em seu escritório com o sintetizador sobre as pernas, folhas e mais folhas com partituras amassadas pelo chão que eram simplesmente obras de arte, mas que ele nunca pensava o mesmo? Em casa, vagando pelos programas de televisão com o olhar vago, a barba por fazer e garrafas vazias ao lado? No seu parque favorito sentado sozinho em um banco e querendo gritar a plenos pulmões? Ou até mesmo, algo crítico? As possibilidades eram infinitas, mas em todas elas eu queria estar lá com ele.

Quando cheguei no apartamento, vi que o carro de Minho já estava estacionado no local usual, logo abaixo de uma árvore. Subi as escadas rapidamente, abrindo a porta do apartamento com a cópia da chave que me deram. Quando abri a porta, todos estavam reunidos na sala de estar, com as gêmeas sentadas no tapete e o casal em sua frente com uma caixa de presente. Kevin se levantou com um sorriso enorme e correu até mim, me puxando pela mão.

- Papai, chegou bem na hora! Vem, vem! – Ele me levou até onde todos estavam e se ficou ao meu lado enquanto Minho colocava o presente com cuidado no chão.

- O que é, o que é? – As meninas entoaram com animação ao puxarem a caixa para perto.

- Abram com cuidado, é um presente muito frágil. – Han disse, em meio a sorrisos contagiantes, que me fez abrir um também. As gêmeas concordaram entre si e abriram a caixa com muito cuidado, mas assim que viram o interior, deram um gritinho histérico e começaram a pular.

- Um gatinho!! – Elas exclamaram, e todos bateram palmas. De dentro da caixa cheia de buracos quase imperceptíveis, a cabecinha de um filhote olhou para fora, dando um miado tímido. Tinha o pelo branquinho e muito felpudo, de olhos grandes e verdes, com as pupilas arredondadas. Minho se ajoelhou e tirou o pequenino da caixa, o colocando no colo.

- Ele estava na clínica para adoção, e eu pensei que seria um bom presente, já que estão bem grandinhas. – Ele disse, e as meninas se sentaram no chão, agora com lágrimas emocionadas nos olhos. A caixa foi colocada para fora do caminho e Minho deixou o filhotinho no chão. Ele ficou meio receoso, mas logo deu alguns passinhos desajeitados até as meninas, e ronronou no joelho de Eunchan. Elas começaram a chorar mais vigorosamente e começaram a fazer carinho no pequeno.

- E-ele agora é o nosso f-filho. – Jihye disse entre soluços, acariciando a cabeça do filhote.

- A n-nossa vida! – Eunchan completou com dramaticidade, o que fez todos rirem. Kevin se juntou a elas para conhecerem o filhote, enquanto os outros saíam para deixá-los mais à vontade. Minho se aproximou, com um sorriso orgulhoso.

- Era esse o gatinho que você me mostrou semana passada? – Perguntei, me lembrando do dia em que fomos até a clínica, e enquanto ele tratava de alguns assuntos com os funcionários, eu fiquei na ala de recuperação, olhando alguns dos animais que estavam passando por algum tratamento. Dentre aqueles, estava um filhotinho de apenas duas semanas com a patinha quebrada. Ele foi deixado em frente à clínica dentro de uma caixinha de papelão e Minho não pensou duas vezes antes de levá-lo para dentro e dar todos os cuidados necessários.

- Han estava com a ideia de dar um gato para elas e eu vi a oportunidade perfeita para aquele pequenino. Ele é muito dócil e vai criar amizade facilmente. – Minho disse, e eu concordei com um sorriso. Han aproximou-se, e eu pensei que ele poderia facilmente explodir de tanta alegria que emanava.

- O Han sabia que seria o melhor presente do mundo para as meninas! Elas estão mais felizes do que nunca!

- Você só tem ideias boas, Han. – Falei com um sorriso, também compartilhando daquele pequeno momento de felicidade. Ficamos observando as crianças monopolizarem o gatinho (cujo nome carinhosamente escolheram como Popo, o que trouxe de volta diversas memórias ao casal), oferecendo a ele petiscos e tentando colocá-lo em cima da almofadinha azul que seria a sua nova cama. Pensei que eram momentos como aquele que eu queria que se eternizassem, quando ninguém pensa em nada além de coisas boas, e nenhum comentário maldoso vinha à tona. No entanto, nada durava para sempre, como os anos já haviam me mostrado.

Após almoçarmos a comida deliciosa da sra. Ji (que cozinhou o suficiente para todos os moradores do prédio, provavelmente), me levantei junto de Minho para recolher a louça suja.

- Minho, posso usar o seu computador? – Perguntei casualmente enquanto colocávamos os pratos e talheres dentro da pia, mas ele parou onde estava e olhou para Han que estava embalando as sobras. Uma reação não muito usual, e a confusão só aumentou quando ele deu uma tosse falsa.

- O-o meu? Ah, bem... eu estou trabalhando em umas pesquisas agora e... – Ele travava repetidas vezes em sua fala, olhando para diversos pontos do cômodo.

- Eu tomo cuidado, mas tudo bem se não puder... Tem algo que eu não possa ver lá dentro? – Questionei, levantando uma sobrancelha, e Han imediatamente se levantou e chegou mais perto, como se estivesse prestes a me contar um segredo, mas alto o suficiente para que Minho pudesse ouvir.

- Sabe, Woojinnie, é que o Minho tem uns vídeos escondidos que—

- Ei, também não é assim! – Minho interrompeu bruscamente, com o sorriso mais amarelo do mundo. Mordi o lábio para não rir descaradamente e apenas terminei de colocar a louça em seu devido lugar.

- Tudo bem, eu posso usar meu celular. Só recomendo colocarem uma senha mais forte, se tem alguns “conteúdos” diferentes. Apenas “esquilo123” me parece bem óbvio.

- Obrigado pela dica, Hyung. – Minho agradeceu com a voz fraca, como se estivesse se esforçando para não ter uma crise ali mesmo. Mas ele logo se recompôs, adotando uma expressão animada, quase desesperada, se eu estava interpretando bem. – Mas para que se enfurnar dentro do quarto quando poderíamos sair para dar um passeio? Kevin poderia conhecer mais da cidade!

- Acredite, ele conhece os arredores com os olhos fechados. Além do mais, preciso fazer algo agora. Se quiser sair, poderemos mais tarde.

- S-sim, mas... – Ele tentou outra vez, e eu bufei alto. Por que estava insistindo tanto? Ele se calou quando viu minha expressão nada feliz. Han “interveio”, inibindo o clima quase tenso dentro da cozinha.

- O Han vai chamar o Woojinnie daqui a pouco, tudo bem? Não se preocupe. – Ele explicou, e eu respirei fundo, concordando e saindo da cozinha. Aquilo definitivamente tinha algo, Minho não se comportava daquele jeito, a menos que estivesse escondendo algo. Porém, honestamente, eu já estava muito cansado para me importar com aquelas besteiras. Já fazia dias que eu não dormia nem a quantidade de horas mínimas, e isso com certeza estava afetando meu humor; nem eu conseguia me irritar tão facilmente assim. Eu era um Woojin quase irreconhecível, e isso era o que mais me exauria.

Entrei no meu quarto e de Kevin, fechando a porta devagar e parando para suspirar. O cômodo de hóspedes, bem espaçoso por sinal, já estava sendo ocupado por nós dois a tanto tempo que eu já poderia chamar de casa. Porém, tudo era tão sóbrio quanto um quarto de hotel: as duas malas colocadas em cima do pequeno armário em um extremo do quarto, as duas camas com os lençóis sempre dobrados logo depois de acordar, sapatos, roupas e outros utensílios sempre organizados, do jeito que eu gostava que ficassem. Mas nenhuma foto, nenhuma decoração, nenhuma personalidade. Me deixava com um aspecto alheio, e de saudade da minha antiga casa. No entanto, quando eu pensava nela, não era na casa de duas suítes no centro corrido de São Francisco; era na pequena casa alaranjada logo ao lado da rua principal, perto de tudo e com um jardim só de grama alta e cactos. Foi naquela casa onde comecei a minha história, e era onde eu realmente queria voltar.

Antes de sentir o nó em minha garganta se formar, ouvi pequenas batidinhas na porta. A abri com um suspiro e me encarei com Kevin e um rostinho sonolento, as mãos esfregando os olhos. Ele me olhou com o rostinho pidão.

- ‘Tô com soninho, pai. – Ele disse e eu sorri, abrindo a porta e o trazendo para dentro.

- Então vamos dormir, garotão. Aqui. – O puxei para cima de sua cama, mas ele negou devagarinho.

- Quero dormir com o papai. – Ele sussurrou antes de abrir a boca para bocejar e eu instintivamente fiz o mesmo. O puxei para o meu colo e então nos deitamos juntos em sua cama com ele na borda, apoiando a cabeça em meu braço esticado. Ele puxou sua mantinha cuidadosamente dobrada por ele mesmo com estampa de animais da floresta e tentou cobrir a nós dois, o que funcionou apenas para ele, já que ele só conseguiu cobrir até metade das minhas coxas, mas eu apreciei o esforço. Ele se aconchegou e eu fiz minha parte o cobrindo de beijinhos e fazendo um carinho especial em seus cachos cor de mel, o fazendo sorrir e torcer o nariz, até que ele fechou os olhos e tão rapidamente adormeceu. Fiquei observando suas feições gorduchas por algum tempo; mesmo que não compartilhássemos do mesmo sangue, nem da mesma etnia, eu ainda daria a vida pelo pequeno como se ele tivesse sido feito de uma parte de mim. Éramos diferentes, mas a convivência me fazia perceber traços que compartilhávamos, principalmente quando se comparava à Chan: os lábios cheios, como eu sempre citava, as maçãs do rosto altas, o sorriso encantador...

Senti os olhos marejados pesarem e engoli as lágrimas, fechando os olhos e me entregando a um sono sem sonhos, apenas o silêncio preenchendo minha mente perturbada.

Acordei completamente desnorteado, como se um caminhão de carga tivesse passado por cima de mim e ainda por cima, dado ré. Meu braço formigava com a dormência, mas Kevin já não estava mais deitado nele; provavelmente acordara antes e fora lanchar com as gêmeas. O quarto já estava consideravelmente mais escuro, e a janela que dava para os fundos do prédio já deixava transparecer os mais alaranjados do fim da tarde. Me sentei e deixei a minha alma voltar ao corpo lentamente. Puxei o celular do chão e vi duas notificações de e-mail, apenas a mais recente mostrando o seu conteúdo na tela: era um e-mail da companhia aérea, me avisando que o pacote que eu estava pensando em comprar para voltar a São Francisco expirava naquele dia, e que se eu não me apressasse, perderia os assentos. Suspirei audivelmente, olhando o e-mail por longos segundos; como se minha mente já não fazia esses mesmos lembretes a cada cinco minutos. Apaguei a notificação e deixei que a outra transitasse até meu campo de visão. E então, eu quase me engasguei com saliva quando vi o e-mail do remetente: bangchan97@hot****.com. Era ele, finalmente.

O sono pareceu escorrer do meu corpo como água pelo ralo e eu abri a notificação o mais rápido que pude. No assunto do e-mail, lia-se: “quero concertar tudo”. No conteúdo, apenas um link, que eu rapidamente percebi ser de uma localização. Meu coração palpitava com tanta intensidade que eu pensava se não iria desmaiar se não me acalmasse, mas era impossível àquela altura. Só de receber aquela única mensagem já fazia nada mais importar, e o assunto... o que ele estaria planejando?

Saí em disparada do quarto, e vi todos sentados na mesa da cozinha descascando tangerinas. Passei direto e mal tive tempo de calçar meus sapatos antes de fechar a porta e descer as escadas em disparada. Nenhum deles disse ou fez nada para me impedir ou apenas perguntar por que eu estava saindo daquela maneira. Seu comportamento apenas me fez encaixar os pontos e deduzir que eles tinham algo a ver com aquilo; mas eu não queria voltar e perguntar com a calma necessária, coisa que me faltava e muito naquela hora. Eu apenas precisava ir até aquele lugar, naquele mesmo instante.

Parei na calçada, tentando recuperar o fôlego perdido na descida das escadas. Olhei de novo o e-mail com “mais calma”, percebendo que fora enviado há quase meia-hora atrás. Abri o link com os dedos trêmulos de adrenalina e olhei o bairro e a rua que a seta vermelha apontava. E eu soube exatamente que lugar era aquele. E então comecei a correr.

Algumas pessoas me olhavam com uma expressão assustada, provavelmente se perguntando por que eu estava correndo, ou então um olhar irritado e até mesmo resmungos altos quando eu me esbarrava nelas, mas eram a última coisa com a qual eu poderia me importar. Fui contando os quarteirões restantes a cada tomada brusca de ar que eu dava: cinco, quatro, três... dobrei em uma rua alternativa que eu ainda sabia depois de tantos anos sem visitá-la. Desviei de latas de lixo e caixas de madeira até reencontrar o céu aberto e quase completamente escuro novamente, onde eu finalmente parei para tentar me recuperar. Era uma praça, com rampas de skate pichadas e bancos quebrados, há muito tempo abandonada pelo prefeito, que desistira de reformar aquele mesmo ponto de novo e de novo. Quando eu ainda estava nos meus primeiros anos da faculdade, aquele lugar era o ponto de encontro de quase todos os adolescentes da vizinhança, que se reuniam com os seus penteados estranhos e skates personalizados com chamas e caveiras. Naquele momento, havia apenas uns quatro garotos sentados em cima de uma das rampas, fumando cigarro provavelmente escondido dos pais e rindo da minha cara ensopada de suor e se esforçando para recuperar o fôlego. O lugar designado era ali, mas ao mesmo tempo não era. Precisava andar mais um pouco até um ponto específico que apenas nós dois conhecíamos, que nós dois compartilhávamos.

Fui caminhando dessa vez, incapaz de correr mais alguns metros, passando pelas rampas e as barras de alumínio que já tiveram tempos melhores, sentindo o corpo inteiro vibrar de ansiedade com o que eu encontraria após mais alguns passos. Era um pico de energia que há tempos me faltava, mas também de medo e agonia. Passeei até chegar na ponta de um beco, me segurando na parede, com medo de olhar lá dentro. Era ali: o local do nosso primeiro beijo. Fora depois de um período, quando ele me obrigou a cabular aula pela primeira vez. Nunca me orgulhei daquele gesto, mas não podia negar que fora um ato libertador: os sorrisos inocentes e a sensação de rebeldia não saíam de mim, e eu me sentia invencível. E então ele me desestruturou por completo com seus lábios tocando os meus pela primeira vez, me colocando como seu dali em diante. Somente ao colocar meu pé ali, senti tudo aquilo voltar de uma vez num arrepio violento, que me deu forças para olhar dentro do beco.

- Ah, finalmente! Caramba, você veio correndo? Está todo suado... – Chan se desencostou de um caixote com agilidade e eu juro que precisei piscar com força mais de duas vezes para saber se eu não estava presenciando uma alucinação das mais realistas; ele estava vestido em um terno, mas não qualquer um; aquele que ele usou em nosso casamento, até com as mesmas pequenas flores no bolso do blazer, recriando o momento em que ele parecia o homem mais lindo que já pisara na terra. Em suas mãos, um belíssimo buquê de flores, com várias pétalas fazendo um pequeno montinho onde estavam seus pés. E o seu rosto... provavelmente foi a melhor parte para mim, por não ter nada de especial, além de estar exatamente igual: do jeito que ele era e do jeito que eu precisava.

 Ele se aproximou, e eu dei um passo para trás, numa mistura de sensações indescritível, mas que eram tão intensas que fizeram lágrimas grossas rolarem livremente pelo meu rosto. Era como se estivessem me partindo no meio com as mãos nas, mas essas preenchiam aquele vazio com algo que eu procurava a tanto tempo. Demorei um pouco para formar qualquer frase, e a que veio estava embargada e emotiva demais, quase inaudível.

- Por favor, me belisca... Não quero que seja um sonho. – Supliquei, e ele caiu na risada, mas também chorava. Seus cachos escuros balançavam com a pequena brisa e, por um segundo, eu tentei acreditar que não era um sonho. Que ele estava realmente ali, estava vivo, estava... apenas estava. E então ele me beijou. E eu soube que não era um sonho.

Meus braços o entrelaçaram com desespero, como se ele fosse de areia e pudesse apenas ir embora com as suaves rajadas de vento. Seus lábios quentes queriam chegar mais perto do que era possível, selando os meus ansiosamente e eu nunca me senti tão feliz com gestos tão simples. Não nos soltamos nem por um instante, numa mistura de suor, soluços e corações apertados.

- Eu honestamente morreria se não te visse novamente, Woojin. – Chan falou, e eu mal conseguia acompanhar com a minha mente. – Eu não consigo viver sem você, e eu vou concertar as coisas que deram errado.

Ele tentou se soltar para conseguir falar melhor, mas eu não permiti. Por que ele precisaria concertar algo se só o fato de ele ter feito toda aquela viagem já era a maior prova de todas que ele ainda se importava? Ele soltou uma risada que me aqueceu por dentro, agachando-se contra a parede e me segurando como se eu fosse um bebê em seus braços. Ele passava os dedos pelo meu cabelo e tentava me fazer parar de chorar enquanto falava.

- Depois que você foi embora, eu vi que as coisas não iriam se resolver se eu continuasse do jeito que eu estava; estressado, sozinho e muito, muito bêbado. – Ele começou a contar, a voz se esforçando para se manter firme. – Principalmente depois de falar com Dave Kim.

Arregalei os olhos inchados, mas não disse nada. Ouvir o nome daquele desgraçado era como sentir o seu toque nas minhas mãos novamente me fazia estremecer, e o medo e a raiva me consumirem. Me perguntei o que ele teria dito a Chan, e a maneira como ele havia distorcido as minhas palavras, ou apenas criado frases que melhor o conviessem.

- Ele me disse que você tinha tentando se jogar para cima dele e que estava indo embora pra valer. Por um momento eu até acreditei, mas então eu lembrei como todos diziam que ele era um tremendo mentiroso e, bem, meu celular quebrou um pouco mais que só a tela depois daquele “diálogo” com ele.

“Então, eu não pude mais falar com você, mas ficar sem celular me livrou de uma distração. Eu consegui mover toda a nossa vida de volta para cá nesse mês, desde uma nova casa até uma escola ótima para o Kevin. Procurei ajuda profissional e fiz a promessa de que nunca mais iria beber. Minho e os outros também me ajudaram muito com esse plano (espero que eles não o tenham estragado), e isso não teria acontecido sem eles.

Ele então puxou o buquê que havia caído no chão. Tive que me soltar, com o rosto vermelho e úmido, mas com mais calma que antes. Ele as entregou para mim quando ficamos de pé, com um maior dos sorrisos em seu rosto.

- Mas eu quero agradecer você, que me fez ver o que realmente me faltava, e que eu não posso nunca mais perder. – Ele completou, e eu tive que rir. Ele me olhou confuso. – O que? Muito clichê?

- Você se tornou a pessoa mais piegas que eu já conheci nessa vida. – Eu disse entre risadas, mas que eram tão legítimas quanto o nosso amor.

Fomos voltando devagar, vendo os últimos raios de sol coroarem as nuvens espaçadas pelo céu, sinalizando que seria uma noite estrelada. Quando estávamos nos virando para ir embora, ouvimos uma buzina de carro alta vindo do outro lado da rua. Nos viramos ao mesmo tempo e nos deparamos com a cena mais hilária de todos os tempos: todos os nossos amigos, as crianças, o sr. e a sra. Park, a sra. Ji e até mesmo o filhote Popo estavam parados na rua, com a van da confeitaria estacionada enquanto tocava a todo volume (sim, eles fizeram isso em público) “Careless Whisper”, com um enorme cartaz que todos ajudavam a segurar, escrito em letras garrafais:

“PARABÉNS POR FINALMENTE PARAREM DE PALHAÇADA E REATAREM!

QUE ISSO NÃO SE REPITA! ASS.: AMIGOS”

Os jovens que já estavam na praça começaram a rir e gravar aquela cena ridícula de tão engraçada que chegava a ser e nós dois mal chegamos a sair do lugar por não conseguir parar de rir. Eles não estavam muito diferentes. Mas um deles gritou “beijo, beijo, beijo” e eles foram repetindo, até se tornar uma ladainha que chegava a ser mais alta que a música em si. Limpei as lágrimas que se formaram no canto dos meus olhos, e olhei para Chan, que me encarava como se fôssemos apenas eu e ele naquele universo; como se fôssemos o universo um do outro. Nossos lábios se tocaram em um selar rápido, mas que poderia durar para sempre.


Notas Finais


Eu so a rainha em fazer palhaçada depois de um momento triste/emocionante, MAS ESSA CENA DELES COM UM BANNER ENQUANTO TOCA AQUELA MÚSICA DO SAXOFONE NÃO PODIA FICAR DE FORA AAAASSKSSKSKSKKSKSKSKSSKKSSKKS

Queria saber a reação de vcs nos comentários ent deixa um aí pra nossa equipe (eu) lermos e nos divertimos também! Muito obrigada por ler e até o próximo capítulo! (e dscp pela demora)


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