História My Little Sweet - Se ficar,o bicho pega.Se correr,o bicho come.

Acordo me sentindo meio sufocada.Tento me levantar mas há um braço envolvendo fortemente minha cintura e estou com as costas prensadas sobre o colchão macio.Olho para o lado e vejo o rosto adormecido do Coringa.Cabelos revoltos e apontando para direções estranhas,boca entreaberta,deixando escapar um brilho metálico,devo admitir,ele parece ainda mais bonito dormindo.Normalmente,quando alguém dorme,essa pessoa parece vulnerável e doce,mas o homem ao meu lado parece um predador adormecido.Lindo,mas você tem o instinto primitivo de que não deve se aproximar.

Não me incomodo com as cicatrizes, com a boca carmim ou com as tatuagens.Todos temos imperfeições,tanto no exterior quanto no interior,mas muito preferem simplesmente mascará-las,enquanto ele parece ter uma preferência por ressaltá-las.É intrigante.

Então seu rosto se contorce com medo e ouço-o murmurar:

-Não...n-não.Não,papai!

Seu corpo estremece e ele começa a suar.Pesadelo.

-Por favor,pare! - sua voz parece desolada e com medo.Ele finalmente me solta e se encolhe em posição fetal,tremendo;parece a perfeita imagem da tristeza - Está me machucando!Mamãe! - ele grita e depois solta um soluço sofrido.

-Shhh,shhh - me aproximo e o abraço.No começo ele resiste e quase me machuca,mas depois começa a relaxar - Tranquilo,calminha.Eu estou aqui.

O porta range quando é aberta.A cabeça loira de Jonny aparece e ele nos encara.

-Ouvi os gritos e vim ver se ele 'tá bem.

-Ele sempre grita enquanto dorme?

-Às vezes,sim.Até mesmo estranhei que ele só tenha começado a gritar agora.Normalmente,uma ou duas horas depois que dorme,ele começa a ter esse sonhos e eu fico encarregado de vir acordá-lo.

-Por que você? - pergunto olhando em seus olhos.

-É porque ele ainda não me matou.Nos outros ele deu um tiro assim que tocaram nele.Sabe,ele dorme com um revólver em baixo do travesseiro.

-Oh - é tudo que consigo dizer.O Coringa voltou a dormir tranquilamente em meus braços.

-Bem,vou deixa vocês dois sozinhos,mas se precisar de ajuda é só gritar,senhorita Moritz.

-Pode me chamar de Leigh - digo com um pequeno sorriso.

-Acho melhor não - Jonny aponta um dedo para o Palhaço - É capaz de ele me acertar com uma barra de ferro no meio das pernas.

-Então...ok,né.

Ele acena e vai embora,fechando a porta.Olho para o homem em quem estou abraçada.Seu rosto voltou a ficar relaxado.As nódoas negras em seus olhos agora tem uma explicação:ele simplesmente não dorme,por causa dos pesadelos.Meu coração se aperta e eu me repreendo mentalmente por isso.Desde que o conheci,tenho me repreendido bastante;acho que é porque quando estou junto dele tudo parece certo,mesmo eu tendo consciência que é errado. É meio desgastante e cansativo ficar pensando nisso,então volto a dormir,como a bela covarde que sou, por usar o sono como um meio de fugir da minha mente.

                                                                                                     _ . . . _

Me espreguiço quando acordo pela segunda vez.O outro lado da cama está vazio e o relógio mostra que já passou das 13:30.Levanto-me indo em direção ao banheiro.Decido tomar uma ducha e tiro as roupas,entrando no box rapidamente.

Após o banho já me sinto mais desperta.Faço um bochecho com pasta de dente e ponho as roupas que usei ontem à noite.Quando vou para o quarto tomo um susto.

-Que merda,Coringa!Você é um maldito fantasma,por acaso? - pulei quase um metro quando vi o canalha sentado na cama.

-Ora,não me ouviu entrando?Tsc,tsc, você é um tanto distraída,não é,docinho? - seu sorriso cínico vai de orelha a orelha.

Reviro meus olhos e me sento na cadeira de balanço;decidi que não mencionaria o pesadelo.Agora percebo que tem algumas sacolas em cima da cama,assim como diversas caixas pelo chão.

-O que é tudo isso?

-Roupas pra você - diz ele,estendendo-as para mim.

-Mas porque comprou roupas pra mim? - pergunto confusa.

-Apesar de gostar muito de você usando minhas camisas,não pode andar por aí assim - explica apontando para as minha pernas nuas.Fico vermelha.

-Também quero que não core na frente dos outros - ele se aproxima de mim,pondo seus braços no encosto da cadeira - Você fica deliciosa demais com o rosto vermelho - sua boca encosta em minha bochecha em um beijo úmido.Seus lábios começam a trilhar um caminho lento até a minha boca - Um verdadeiro docinho - sinto seu hálito quente em meus lábios e ele contorna minha boca cuidadosamente com língua.Sinto minha garganta ficar seca e meu coração parece um beija-flor voando ensandecido dentro do meu peito.Estou embriagada pelo cheiro de café.

-Abra os olhos,docinho - nem percebo que os fechei.Isso acaba sendo um banho de água fria e percebo o que estava prestes a fazer.Me esquivo do seu rosto e passo por debaixo de seu braço esquerdo.

-Bem,já que você foi gentil ao ponto de comprar roupas pra mim,acho que devo olhá-las,né? - minha voz está meio tremida e um tanto rouca.Ele dá uma gargalhada.

-Claro,claro - ri enquanto se aproxima.

Abro as sacolas e despejo o conteúdo em cima dos lençóis.Diversas camisetas,calças,saias,casacos e vestidos se espalham sobre a cama.

-Quanto tempo eu vou ficar aqui? - indago surpresa com a quantidade de roupas.

-O tempo que eu quiser.

-M-mas e as minhas aulas?Meu primo?E a minha vida?

-Não me importo com isso - sua voz continua alegre enquanto procura algo entre as diversas compras.As sacolas e as caixas possuem o logo de marcas como:Louis Vuitton,Prada,Chanel,Dior,Gucci,Jimmy Choo,Dolce & Gabanna... Ele deve ter gastado uma pequena fortuna nisso - A há!Achei! - ele comemora estendendo três sacolas da Victoria's Secret. Abro-as e vejo diverso conjuntos de lingeries.

-Você comprou lingerie pra mim?Nem ao menos sabe o meu tamanho!

-Claro que sei.Além de ter um bom olho pra isso,verifiquei suas medidas na roupa íntima que você deixou no meu banheiro ontem - estou muito,muito vermelha agora;não acredito que ele mexeu na minha calcinha e no meu sutiã!

-Isso passou dos limites,Coringa.Não posso ficar aqui!Tenho que terminar minha faculdade!Tenho meu primo,minha única família,que neste momento deve estar cagando tijolos de preocupação! - falo exaltada.Sinto lágrimas pinicarem meus olhos,mas tento conte-las.

-Docinho,docinho,docinho - diz chegando perto de mim e tomando meu rosto em suas mãos - Já disse que não me importo com isso - ele limpa um lágrima fujona - Você é minha,então deve ficar ao meu lado.Não sairá da minha vista,de jeito nenhum,de jeito nenhum,de jeito nenhum - seu sorriso é loucamente amável.Dá um beijo em minha testa e se afasta.

-Bem,tenho que ir resolver umas coisinhas.Seja uma boa menina,ok?

Ele anda até a porta e abre-a,mas diz antes de sair:

-Só para você saber,docinho,não pode fugir de mim pra sempre.

Eu sei - É a única coisa que penso enquanto vejo seus cabelos verdes desaparecem porta afora.

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